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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

THAÍS MANHÃES RANGEL

A IMPLANTAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO NA JUSTIÇA DO


TRABALHO

CAMPOS DOS GOYTAVAZES


2020
1. Processo judicial eletrônico na Justiça do Trabalho

A instituição do processo judicial eletrônico no Poder Judiciário brasileiro se


materializou com a lei 11.419/2006, impulsionando o desenvolvimento da tecnologia
e informatização do Judiciário, viabilizando a criação de sistemas de processamento
e armazenamento de arquivos digitais, constituindo os autos digitais. É notório que
este foi um marco importantíssimo na história do Poder Judiciário, com o objetivo de
acompanhar o avanço da tecnologia e aperfeiçoar a efetiva prestação jurisdicional.
Através do acordo de cooperação técnica nº 73/2009 a Justiça do Trabalho
junto a outros órgãos se empenharam para desenvolver o sistema Creta Expansão,
que em 2010 com outro acordo de cooperação técnica nº 43, tal sistema passou a
ser denominado PJe. E ainda em 2013, com a Resolução n. 185 do CNJ, foi
instituído o PJe como sistema de processamento de informações e prática de atos
processuais. A partir disso aconteceram várias atualizações e medidas para o
aprimoramento do sistema.
Não há dúvidas que o PJe trouxe inúmeros benefícios e contribuiu
imensamente em vários aspectos da prestação Jurisdicional. Entretanto vale
ressaltar, que o sistema ainda não atende a todos, minoria, considerando que nem
toda sociedade brasileira acompanhou esse avanço tecnológico ou mesmo teve
condições para isso.
A morosidade, talvez um dos maiores problemas do Judiciário brasileiro, foi
diretamente beneficiada com o advento do PJe, reduzindo significativamente este
cenário, uma vez que alguns atos antes realizados, não são mais necessários ou
mesmo são realizados automaticamente pelo sistema, como podemos citar as
juntadas de documentos, contagens de prazos, cargas dos autos feitas por
advogados, numeração de folhas e entre outros muitas outras coisas que
protelavam o andamento do processo, além do fato de poder ocorrer atos em
qualquer hora do dia, e de qualquer lugar.
Outro aspecto muito positivo trata-se da economia processual, levando em
consideração o custo com materiais para se ter um processo físico, principalmente
com a utilização em grande escala de papéis.

2. Princípios norteadores da jurisdição e a compatibilidade com o processo judicial


eletrônico
Diante da implantação do processo eletrônico, devemos observar princípios
norteadores do Direito Processual e ainda do Direito do Trabalho, ressaltando que
nesse contexto alguns princípios trazem algumas problemáticas quanto a sua efetiva
aplicação ao novo parâmetro do PJe.
O princípio do devido processo legal, previsto na Constituição Federal, se
apresenta com uma nova roupagem nesse cenário de processo eletrônico,
utilizando-se dos mesmos procedimentos anteriores, porém de forma digital e com
algumas adaptações. Este princípio nada mais é do que a observância e o respeito
dos demais princípios e garantias. Entretanto, para alcançar o objetivo real deste
princípio atrelado ao processo eletrônico, deve ser implantado uma estruturas e
métodos que garantam aos operadores do direito, quanto às partes, a utilização
dessa nova tecnologia.
O principio da igualdade, também previsto na Constituição, assegura a todos,
sem distinção, o acesso a justiça, considerando que o PJe deve ser acessível a
todos. A grande problemática encontra-se no fato de que muitas pessoas não tem
acesso à internet, não possui noções de informática, e muitas vezes nem
computadores ou meios que possibilitem acessar o sistema, podendo também a
dificuldade ser encontrada por idosos e deficientes. Apesar disso, há uma
movimentação no sentido de disponibilizar cursos para aprendizado de acesso ao
sistema, minimizando uma parte do problema.
A duração razoável do processo, princípio constitucional, altamente
contemplado com o advento do PJe, considerado um avanço na questão da
morosidade jurisdicional, como já vimos antes, que é considerado um dos maiores
problemas no judiciário. Vale ressaltar que, é de suma importância esse princípio,
considerando a natureza alimentar dos salários e verbas trabalhistas, que são
tratadas pela Justiça do Trabalho.
O principio da economia processual, também já visto anteriormente como
ponto positivo dessa tecnologia, além da economia com materiais, os servidores que
antes realizavam atos meramente burocráticos, que não são mais necessários no
processo eletrônico, puderam ser realocados em funções diferentes, de modo a
proporcionar mais celeridade no âmbito processual.
A proteção ao trabalhador, princípio pelo qual o Direito do Trabalho busca dar
equilíbrio a relação jurídica entre empregado e empregador, considerando que o
trabalhador possui uma posição frágil em relação ao seu empregador em razão do
próprio contrato de trabalho onde institui uma relação de subordinação, de certa
forma, tal princípio não foi observado pelo PJe. O Sistema traz inúmeras dificuldades
quanto ao acesso pelo empregado, como assinatura digital, login, senha, acesso à
internet e outros.
O princípio do jus postulandi, nada mais é que, a possibilidade que a pessoa
tem de postular em juízo sem advogado, talvez o mais questionado com a
implantação do processo eletrônico. O referido princípio possui previsão na CLT,
mas apesar disso, indaga-se a efetiva aplicação deste na prática, conforme se
manifesta Renato de Souza Cardel em seu artigo:

“Acontece que, apesar do permissivo legal, além das dificuldades de


ordem técnico-jurídicas, considerando que as novas competências
trazidas pela EC nº 45/2004 incrementaram o processo do trabalho,
imprimindo maior complexidade aos feitos, o acesso ao Processo
Eletrônico possui uma série de requisitos, que aparentemente tornam
quase que impossível postulação e acompanhamento das ações, sem
patrono.”

O PJe-JT possui inúmeros requisitos para a distribuição eletrônica de uma


reclamação trabalhista, se tornando incompatível com o jus postulandi uma vez que
apesar de ter que possuir o acesso a internet e habilidades técnicas para utilizar o
sistema, há a necessidade de um certificado digital, além do cadastro na Justiça do
Trabalho, tornando excessivamente difícil para algumas pessoas o exercício do jus
postulandi.

3.Considerações finais

Portanto, conclui-se que o processo eletrônico é considerado um avanço nas


normas processuais, dada a necessidade do Poder Judiciário de aprimorar a
prestação jurisdicional e acompanhar a modernização diante do progresso da
tecnologia na sociedade, notadamente verifica-se a efetividade de tal instituto.
Apesar disso, alguns princípios são questionados frente a essa nova
realidade, principalmente quando se trata do acesso dos trabalhadores ao PJe-JT,
considerando a complexidade e custos encontrados nesse sistema, e ainda
descartado na prática o princípio do jus postulandi. Por se tratar de um instrumento
relativamente recente, encontra-se também uma resistência quanto a aceitação por
parte de alguns advogados, que apesar de possuírem a técnica processual, não esta
apto para manuseio desta tecnologia.
Apesar de questionado na prática, o jus postulandi não está teoricamente
revogado, até mesmo com posicionamento do STF nesse sentido, considerando
isso, um caminho de possível solução para esta temática seria a simplificação do
sistema, deixando facultativo, por exemplo, o uso certificado digital, considerado
maior obstáculo para os trabalhadores.
O PJe-JT é uma realidade necessária para o futuro em razão de diversos
fatores, contudo não deve deixar de observar princípios fundamentais assegurados
aos cidadãos, tendo que adequar os princípios à essa nova tecnologia.

Referências

https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/144333/2017_cardel_renat
o_processo_judicial.pdf?sequence=1&isAllowed=y

https://daniellixavierfreitas.jusbrasil.com.br/artigos/145366043/o-ius-postulandi-na-
justica-do-trabalho-e-o-pje-a-problematica-do-acesso-a-justica

https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-142/detrimentos-do-jus-postulandi-em-
face-do-pje/

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