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Categorias do método e do

pensamento marxiano

Síntese didática
Disciplina FHTM do SS III (UFRGS)
Profa. Thaisa Closs
Síntese didática a partir das seguintes referências
(leituras indicadas para a disciplina):
CLOSS, T. T. Fundamentos do serviço social: um estudo a partir da produção da área. Porto Alegre: PUCRS,
2015 (p. 188- 204).
CURY, Jamil. Educação e contradição. São Paulo: Cortez, 2000. (p. 21-52).
LESSA, S.; TONET, I. Introdução à Filosofia de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011. (p. 87-100).
MARTINELLI, Maria Lúcia. Notas sobre mediações: alguns elementos para sistematização da reflexão sobre o
tema. In: Serviço Social e Sociedade. N. 43, Ano XIV. São Paulo, Cortez Editora, 1993.
PONTES, R. N. A categoria de mediação em face do processo de intervenção do Serviço Social.
TONET. I. A ideologia alemã (introdução).
TONET. I. Cidadania ou emancipação humana?
ZACARIAS, I. R. A mediação da teoria e do método em Marx na formação profissional em Serviço Social. Porto
Alegre: PUCRS, 2017 (p. 32-92).
ZACARIAS, I. R.; PRATES, J. C.; CLOSS, T. T. Fundamentos do serviço social a partir de uma perspectiva
dialético-marxiana. In: BELLO, E. ET AL (Orgs). Direito e Marxismo, vol. 1. EDUCS: Caxias do Sul, 2014.
Complementares:
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2007.
MARX, K.. O capital. Vol I. Livro I. O Processo de produção do capital. Rio de Janeiro: Editora Bertrand do Brasil,
1989.
MARX, K. Trabalho estranho e propriedade privada. In: ANTUNES, R. A dialética do trabalho: escritos de Marx e
Engels. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
NETTO, José Paulo. Introdução ao método da teoria social. In: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências
Profissionais. Brasília: CFESS. 2009.
PRATES, Jane Cruz. Possibilidades de mediação entre a Teoria marxiana e o trabalho do Assistente Social. Tese
de doutorado. Porto Alegre, PUCRS, FSS, 2003. 2

Fundamentos do Serviço Social:
unidade e densidade das dimensões do pensamento marxiano

FILOSOFIA MATERIALISTA ▪ Central à competência teórico-


DIALÉTICA: metodológica do assistente social
▪ O ser social é histórico, ▪ A investigação como dimensão
permanentemente movimento, transversal ao exercício
dinamizado pela crítica de suas profissional
contradições. ▪ Apreensão da movimento e
▪ Pressupõe de forma articulada as processualidade da realidade, das
categorias da totalidade instituições, dos sujeitos
historicidade, contradição e individuais e coletivos
mediação na análise da realidade ▪ Pressupõe capacidade analítica e
a partir de um movimento de mediação, superando uma
investigativo que supera a leitura esquemática e formal do
aparência apreendendo as método dialético
múltiplas determinações da
realidade. 3
Fundamentos do Serviço Social:
unidade e densidade das dimensões do pensamento marxiano

▪ Central na compreensão do significado


▪ CRÍTICA DA ECONOMIA social contraditório do trabalho do
POLÍTICA: assistente social e do seu objeto /matéria
de intervenção
▪O reconhecimento da
centralidade do trabalho ▪ Reconhecimento da relativa autonomia e
como expressão e produção das estratégias construídas a partir da
humana e de que o modo de inserção em processos de trabalho
produção capitalista tem
como base fundamental a ▪ Desvendamento das desigualdades e
apropriação do trabalho resistências sociais a partir da
como forma de exploração e particularidade da formação sócio-
alienação do trabalhador. histórica brasileira e suas refrações no
cotidiano dos espaços sócio-ocupacionais

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Fundamentos do Serviço Social:
unidade e densidade das dimensões do pensamento marxiano

▪ SOCIALISMO CIENTÍFICO: ▪ Base para a compreensão dos


▪ Possibilidade de o modo de valores que fundamentam o
produção capitalista ser superado a projeto ético-político: liberdade,
partir de suas próprias emancipação humana, construção
contradições, bem como dos de uma nova ordem societária
sujeitos revolucionarem a si
próprios e a seu próprio cotidiano. ▪ Crítica à sociabilidade burguesa e
a afirmação de ações com uma
▪ Superação do caráter abstrato do direção social contra-hegemônica
trabalho e construção da
emancipação humana. ▪ Análise da dimensão
contraditória do Estado e das
políticas sociais

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O método marxiano

▪ O método marxiano caracteriza-se pela concreticidade e historicidade. Diz Marx:

▪ “Não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam, e tão


pouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí, chegar
aos homens em carne e osso, parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de
seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos
ideológicos e dos ecos desse processo de vida”.

▪ Parte-se da realidade humana, da práxis humana. Conforme ressalta Kosik a


realidade não se apresenta diante de nós de forma explícita preciso desvendá-la,
realizar um detour para superar a sua aparência.

▪ Ao complexo de fenômenos que constituem o ambiente cotidiano da vida humana


que, com sua “regularidade, imediatismo e evidência”, assumem um aspecto natural
e independente ao penetrarem na consciência dos sujeitos, Kosik os denonima de
“mundo da pseudoconcreticidade”.
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- PRIMEIRO CONTATO PSEUDOCONCRETICIDADE
COM O REAL (KOSIK, 2011)
- Intencionalidade - Plano do imediato
- Recorte de um objeto - Fenômeno e aparência
em uma totalidade

ABSTRAÇÃO
CONCRETO Movimento de détour, estabelecer
Apreensão da essência relações e mediações
e da coisa em si Buscar dados, investigar, historicizar
Síntese de múltiplas Captar as contradições e o movimento,
determinações situar no plano da totalidade
Totalização provisória
▪ A ABSTRAÇÃO é a capacidade intelectiva que permite extrair da sua
contextualidade determinada (de uma totalidade) um elemento, isolá-lo,
examiná-lo; é um procedimento intelectual sem o qual a análise é inviável – aliás,
no domínio do estudo da sociedade, o próprio Marx insistiu com força em que a
abstração é um recurso indispensável para o pesquisador. (NETTO, 2009, p. 20)

▪“O CONCRETO é concreto, porque é a síntese de múltiplas determinações, isto


é, unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como o
processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, embora seja o
verdadeiro ponto de partida e, portanto, o ponto de partida também da intuição
e da representação” (MARX, 2007, p. 256-257).

▪“DETERMINAÇÕES são traços pertinentes aos elementos constitutivos da


realidade (...) o conhecimento do concreto opera-se envolvendo universalidade,
singularidade e particularidade (NETTO, 2009, p. 20).
▪MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO EM MARX:
▪Apreender a matéria/objeto em sua estrutura e dinâmica, em suas múltiplas
determinações e relações

▪“O MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO, que precede o da exposição, destina-se a


“apoderar-se da matéria em seus pormenores, analisar suas diferentes formas de
desenvolvimento, e de perquirir a conexão íntima que há entre elas”
(MARX, 1989, p. 16).

▪MÉTODO DE EXPOSIÇÃO EM MARX:


▪Descrição do movimento do real, do objeto analisado em toda sua riqueza

▪“(...) descrever adequadamente o movimento do real. Se isto se consegue, ficará


espelhada, no plano do ideal, a vida da realidade pesquisada”
(MARX, 1989, p. 16).
O processo de exposição
▪ Segundo Kosik, o método de exposição, mais do que uma forma de apresentação, é
um método de “explicitação, graças ao qual o fenômeno se torna transparente,
racional, compreensível”.
▪ Diferentemente do início da investigação, quando a problemática ainda não é
suficientemente conhecida, a exposição já é resultado de uma investigação e de uma
apropriação sobre a matéria, logo tem um início mediato “que contém em embrião a
estrutura de toda a obra”.

▪ Por esta razão, Marx inicia O Capital, a partir da análise da mercadoria, célula da
sociedade capitalista, o “embrião de todas as contradições”, durante o
desenvolvimento da exposição irão sendo aprofundadas. Diz Kosik:

▪ “O início da investigação é casual e arbitrário, ao passo que o início da exposição é


necessário [...] sem um início necessário, a interpretação nunca é desenvolvimento,
explicitação [...]. O método de explicitação não é um desenvolvimento evolucionista,
é desdobramento, manifestação e “complicações” das antíteses, é desdobramento
da coisa por intermédio das antíteses”.
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As categorias
• Expressam o movimento contraditório da realidade, sendo, portanto, ontológicas
e por isso apreendidas e espelhadas no pensamento. Como destaca Marx:

• “quando se estuda a marcha das categorias econômicas e em geral qualquer


ciência social histórica, sempre convém recordar que o sujeito (...) se encontra
determinado na mentalidade quanto na realidade, e que as categorias, portanto,
exprimem formas de vida, determinações de existência” (grifos nossos).

• As categorias econômicas no pensamento marxiano apreendem as relações


inter-humanas, tratam das relações entre pessoas e classes, rompendo com sua
aparência e fetiche tal como tratadas na economia burguesa, que as apreende
como relações entre coisas.

• As categorias adquirem sentido se compreendidas de forma articulada.


• A articulação das mesmas à prática e à realidade concreta, historicizando-as,
consiste num movimento necessário e uma exigência teórico-metodológica, pois
do contrário perdem seu sentido dialético e se tornam esquemas formais.
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Contradição
• A contradição é uma categoria explicativa da realidade
• Apreendida como a “mola” propulsora que movimenta os processos sociais.
• Contradição significa uma negação inclusiva, opostos que se negam mas
que também se pressupõem...

“A contradição sempre expressa uma relação de conflito no devir


do real. Essa relação se dá na definição de um elemento pelo que
ele não é. (...) A contradição é destruidora, mas também criadora, já
que se obriga à superação, pois a contradição é intolerável. Os
contrários em luta e movimento buscam a superação da
CONTRADIÇÃO =
contradição, superando-se a si próprios.” (CURY, 2000, p. 30)”.
NEGAÇÃO INCLUSIVA
Ser e nada
• RECONHECER A CONTRADIÇÃO como motor do real é uma Vida e morte
dimensão constitutiva da competência teórico-metodológica e uma Capital e trabalho
condição necessária para conjugar os Fundamentos do Serviço Essência e aparência
Social na ação cotidiana; Trabalho abstrato e
trabalho concreto
...
Contradição
• A contradição que está na base da explicação da questão social, da natureza
assumida pelo trabalho na sociabilidade burguesa, da história como processo
no seu vir-a-ser engendrada pela práxis;
• É ela que permeia as relações sociais e o próprio desenvolvimento humano, é
seu acirramento que impulsiona mobilizações que podem resultar em
transformações sociais.

• contradição é a inclusão de diferentes aspectos e não a parcialidade ou


unilateralidade, não podendo ser apreendida como uma “barreira” no exercício
profissional... significa a pulsão conflitiva que poderá levar a importantes
superações...
• o tratamento dado ao conceito de contradição é dirigido ao processo de
conscientização que poderá levar aos desvendamentos necessários da
realidade social... desvendamentos que não se realizam somente pelo
profissional, mas na relação deste com a população, através de processos
reflexivos
Historicidade
• Esta categoria significa o movimento, a processualidade e a transformação
como elementos da realidade, da vida humana, dos fenômenos sociais,
movimentada por contradições.
• Apreender a articulação que existe entre as relações de materiais de produção e
as variadas formas de ideias, valores, normas e instituições que os homens
criam no decorrer do processo: o trabalho e não as ideias, é o fundamento da
vida social.

• Logo a realidade é radicalmente histórica e social, assim como os homens, que


se criam inteiramente e a si mesmos através da atividade coletiva.
• Destaca Marx: HISTORICIDADE =
O REAL EM PROCESSO,
Esta concepção de história consiste, pois em expor o processo real de
VIR A SER (DEVIR)
produção, partindo da produção material da vida imediata; e em
conceber a forma de intercâmbio conectada a este modo de produção e Captar a gênese,
por ele engendrada (...) como o fundamento de toda história, os processos
apresentando-a em sua ação enquanto Estado e explicando a partir ...
dela o conjunto dos diversos produtos teóricos e formas da Trabalho na construção
consciência... da realidade
Historicidade
• A categoria historicidade é fundamental para conhecermos uma realidade,
um fenômeno, as instituições e os próprios sujeitos... Significa o resgate da
gênese, das transformações ocorridas.

• Não se trata de buscar cronologias, mas sim apreender os fatos


significativos, o conjunto de fenômenos que aconteceram e movimentam a
conformação atual das instituições.

• Uma característica central da intervenção profissional do assistente social


é conhecer e apreender trajetórias singulares – sem desconectá-las do
contexto universal –, processo em que esta categoria auxilia na própria
abordagem profissional com os sujeitos.
• Em uma entrevista, a historicidade auxilia a identificar elementos
significativos da sua história de vida, a ênfase que atribui para certos
aspectos e processos vivenciados, como momentos significativos que
desvendam como essa trajetória se entrelaça com as expressões da
questão social, captando a percepção que os sujeitos têm da própria
realidade vivida.
Totalidade
“Totalidade não quer dizer todos os fatos e nem soma das partes.
(...) O conceito de totalidade implica uma complexidade em que cada
fenômeno só pode vir a ser compreendido como um momento
definido em relação a si e em relação a outros fenômenos. (...) A
totalidade, então, só é apreensível através das partes e das relações
entre elas” (CURY, 2000, p. 36)”.

• A análise concreta de uma situação, de um objeto, implica a sua


problematização de forma articulada, inter-relacionada com
diferentes aspectos, das determinações que estes têm um sobre
os outros. Implica, ainda, conhecer as “partes”, a relação que elas
mantém entre si, como uma enriquece de significado a outra, ou
TOTALIDADE =
seja, a compreensão de um todo articulado em movimento...
interconexão entre
• Não é possível conhecermos todos os aspectos de um dado múltiplos
fenômeno, de uma só vez. Mas podemos conhecer e desvendar os aspectos da
aspectos essenciais, os mais significativos para irmos obtendo realidade
uma compreensão mais ampla, sucessivamente.
Totalidade
• Assim, conhecemos por aproximação, construímos conhecimentos iniciais
que podem ser adensados, superados, ou seja, construímos totalizações
provisórias.

• Exemplo... conhecer um território, os sujeitos que nele vivem, privilegia-se


não só o espaço de vida, as condições de habitação, os serviços e políticas
públicas nele situados, mas também o modo de vida dos sujeitos, sua
cultura, seus valores, como se organizam no espaço e no cotidiano, que
relações mantêm com e no território, no espaço da cidade.

• Serão necessários vários contatos, várias aproximações... não se pode


apreender esse território desconectado do contexto societário... os vários
fatores apreendidos desta realidade do território não são aspectos isolados,
mas elementos que se interconectam e alteram o todo....
Mediação
• Significa a superação do plano da superfície da realidade, das
impressões rápidas.
• As mediações são reflexivas, um movimento do pensamento, do próprio
ser social diante da realidade.
• Ocorrem quando para intervir nessa realidade. articulamos os
conhecimentos teóricos.
• A mediação nos auxilia nas abordagens que estabelecemos com os
sujeitos, tendo em vista construirmos processos reflexivos.

“O conceito de mediação indica que nada é isolado. (...) Mas essa MEDIAÇÃO =
categoria deve ser ao mesmo tempo relativa ao real e ao pensamento. INSTÂNCIAS DE
Enquanto relativa ao real, procura captar um fenômeno no conjunto de PASSAGEM -
suas relações com os demais fenômenos e no conjunto daquela Permitem construir
realidade mais ou menos essencial. Concretamente isso só é possível relações, conexões e
através da historicização do fenômeno. (...) Enquanto relativas ao realizar o trânsito do
pensamento, permitem a não-petrificação do mesmo, porque o pensar singular para o
referido ao real se integra ao próprio real. O pensar não referido ao universal
real pretende-se a-histórico e neutro (CURY, 2000, p. 43)”.
Mediação
A categoria mediação é central no trânsito entre singularidade-particularidade-
universalidade (ver Pontes p. 13-18)
A particularidade é o espaço reflexivo-ontológico onde a legalidade universal se
singulariza e a imediaticidade do singular se universaliza = CAMPO DE MEDIAÇÕES

SINGULARIDADE – mundo da imediaticidade, das demandas institucionais dirigidas ao


assistente social – valorizar os dados empíricos do real como ponto de partida para
realizar a ultrapassagem da aparência

UNIVERSALIDADE - ultrapassagem do nível abstrato da singularidade e busca


aproximativa do plano da particularidade = aproximação com leis tendenciais históricas,
com as grandes determinações do ser social (relação capital-trabalho, relação Estado-
sociedade, lei da acumulação capitalista, políticas sociais) ... as quais precisam se
particularizar no plano real cotidiano do fazer profissional.

PARTICULARIDADE - Movimento em que as leis tendenciais capturadas na esfera da


universalidade tomam vida,se tornam presentes na objetividade da vida singular das
relações sociais cotidianas, dessingularizando-as e tornando-as relações particulares
dentro de uma totalidade social - reconstrução do objeto de intervenção profissional =
matéria profissional
Trabalho e alienação

Trabalho concreto
“Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza,
processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu
intercâmbio material com sua natureza. (...) Põe em movimento as forças naturais de
seu corpo, braços e perna, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da
natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza
externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica a sua própria natureza (...) O que
distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção
antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não
transforma apenas o material sobre o qual opera, ele imprime ao material o projeto que
tinha conscientemente em mira.” (MARX, 1989, p. 202)

Processo de trabalho
“Os componentes do processo de trabalho são:
1) a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho; 2) a matéria a que se aplica
o trabalho, o objeto de trabalho; 3) os meios de trabalho, o instrumental de trabalho
(MARX, 1989, p. 202)”.
Trabalho e alienação

Trabalho abstrato
“Assim, o trabalho objetivado no valor da mercadoria é representado não só sob o
aspecto negativo em que se põem de lado todas as formas concretas e propriedade
úteis dos trabalhos reais. Ele é agora, a redução de todos os trabalhos reais a uma
condição comum de trabalho humano, de dispêndio de força humana de trabalho.”
(MARX, 1989, p. 202)

“O trabalhador se torna mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua
produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria
tão mais barata quanto a mais mercadorias cria. Com a valorização do mundo das
coisas aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O
trabalho não produz somente mercadorias, ele produz a si mesmo e ao trabalhador
como mercadoria (MARX, 1989, p. 176)” .

Raízes da alienação:
propriedade privada dos meios de produção e divisão social do trabalho
Exteriorização:
Sujeito
energia mental
produtor
e física

CADEIA
PRODUTIVA
DO
TRABALHO

Objetivação: Realização:
o fazer como o fazer como
resultado processo

FONTE: PRATES, 2003


Cadeia produtiva e níveis de alienação

• não tem acesso • não define o


ao produto, não que produzir
se reconhece e nem como
naquilo que PRODUTOR produzir
produz PRODUTOR -

PROCESSO
PRODUTO DE
PRODUÇÃO

PRODUTOR PRODUTOR • trabalho


• substitui a – como fardo e não
- como auto-
cooperação pela OUTROS
competição, CONSIGO realização,
PRODUTO- submete-se a
estranhamento RES MESMO
exploração,
com o gênero
precarização
humano
Emancipação

• Para Marx a cidadania é parte integrante da emancipação política, sendo


esta essencialmente limitada
• O trabalho como ato originário do ser social

• EMANCIPAÇÃO POLÍTICA – tem seu fundamento nas relações econômicas:


a liberdade e igualdade formal – propriedade privada e venda da força de
trabalho como raiz da desigualdade
• EMANCIPAÇÃO HUMANA – forma de sociabilidade na qual os homens são
efetivamente livres – supõe erradicação do capital e a superação da
cidadania – trabalho livre e associado

• Para Marx (2009, p. 48), o “limite da emancipação política aparece logo no


fato de que o Estado pode libertar-se de uma barreira sem que o homem
esteja realmente livre dela, no fato de que o Estado pode ser um Estado livre
sem que o homem seja um homem livre”.
• Ou seja, esta emancipação é aquela que estabelece um patamar de liberdade
e de direitos que se dá por meio do Estado, que não transcende a
propriedade privada, cuja essência é o trabalho alienado, abstrato. Como
destaca Marx (2009, p. 64):

• “a aplicação prática do direito humano à liberdade é o direito humano à


propriedade privada” e, dessa forma, “toda emancipação política é a redução
do homem, de um lado, a membro da sociedade civil (burguesa), a indivíduo
egoísta independente; por outro, a cidadão, a pessoa moral” (Ibidem, p. 71).

EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E LIBERDADE:

• Trata-se de uma liberdade burguesa, limitada, que cinde o homem e o reduz


ao “cidadão”, afastando-o de sua dimensão humana genérica pois, se na
emancipação política o homem se liberta por meio do Estado, o limite desta
libertação é justamente o do próprio Estado, do seu caráter de classe e de
seu papel em assegurar a reprodução da desigualdade, a manutenção da
propriedade privada e no máximo atenuar a exploração, mas nunca superá-
la.
• Em direção radicalmente distinta, A EMANCIPAÇÃO HUMANA se efetiva:

• “somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e


se converte, como homem individual (...) em ser genérico, só quando o homem
tenha reconhecido e organizado suas forças próprias como forças sociais e,
portanto já não separa de si a força social sob a forma da força política”
(MARX, 2009, p.71-72).

• Essa emancipação afirma o horizonte da superação das condições concretas


de existência que tornam a cidadania, a propriedade privada burguesa e o
Estado uma necessidade, posto que constituintes da sociabilidade burguesa e
atreladas à emancipação política. Então, trata-se de uma emancipação que só
se realiza pela extinção do Estado – e não da luta por meio dele ou da
radicalização da cidadania - , pela constituição de uma sociabilidade fundada
no trabalho livre e associado.
Trabalho!
Orientações para o
trabalho individual e
coletivo no moodle

😉
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