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FICHA TÉCNICA

DIRETORA
MAGDA GOMES DIAS

COLABORADORES
Claudine Pinheiro
Cristina Valente
Francisca Barreiros
Hugo Rodrigues
Joana Marques
Paulo Farinha
Renato Paiva
Sónia Morais Santos
Vânia Beliz

ARTE DESIGN: Sofia Mota

REVISÃO
Catarina Ortigão

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CURSO ONLINE
Joana Barreiros
cursos@parentalidadepositiva.com

MD & GK, Lda 6 semanas para transformares


NIF 513 823 751 a tua relação parental!
Redação:
Rua Manuel Pinto de Azevedo, 31 - Sala 11
4100-247 Porto
CUPÃO REDUÇÃO:
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ADOLESCENTES
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indiretos, em qualquer suporte e por quaisquer
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Parentalidade e Educação Positivas.

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ÍNDICE

EDITORIAL - PODER PESSOAL,


POR MAGDA GOMES DIAS 2|

ASK MUM 3|

NOTÍCIAS AVULSO 4|
A. COMO O COACHING PODE APOIAR OS ALUNOS
B. PORQUE É QUE O ÁLCOOL SÓ DEVE SER CONSUMIDO A PARTIR DOS 18 ANOS
C. FILME PATETA
6
A ESCOLHA DE BEATRIZ 4|

ENTREVISTA DANIEL SIEGEL 6|


AUMENTAR A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS
11|
11
CRISTINA VALENTE

AINDA É FIXE, DIZER-SE “FIXE”?


CLAUDINE PINHEIRO 12|

SEXUALIDADE
VÂNIA BELIZ 13|

CONSULTA DO ADOLESCENTE
16
HUGO RODRIGUES 15|

A VIDA DO ADOLESCENTE PARA ALÉM DA ESCOLA


RENATO PAIVA 16|

CRESCER 17
SÓNIA MORAIS SANTOS 17|

COMO PREPARAR A CHEGADA DA ADOLESCÊNCIA


DOS MEUS FILHOS & DICAS PARA SE APROXIMAR
DO SEU ADOLESCENTE 18| 18
QUANDO NÃO FOI BEM ASSIM QUE IMAGINÁMOS... 19|

EMPREENDEDORISMO E A ADOLESCÊNCIA -
PERFIL SAIR DA ZONA DE CONFORTO 22|

FORA DE CONTEXTO. 24|


24
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Magda Gomes Dias
EDITORIAL DIRETORA DA REVISTA

PODER PESSOAL
Aprender um desporto novo em idade adulta tem muito que O Daniel Siegel, que entrevistamos no especial desta
se lhe diga. Foi o que me aconteceu no ano passado quando edição, diz-nos que os adolescentes não são imaturos e
aprendi a fazer ski. E, como acontece, frequentemente, com que esta não tem de ser uma fase má. Pelo contrário, é
muita gente, passei o primeiro dia a aprender a travar, a man- um período muito importante da construção da pessoa.
ter-me de pé e a levantar-me com os skis nos pés (ou seja, a Quando conseguimos identificar o nosso poder pessoal
cair!). Não precisei de chegar ao final do dia para ter vontade e fazemos uso dele, percebemos melhor quem somos e
de desistir. Muitas vezes. Mas não podia ser – na manhã se- desafiamo-nos a ir mais longe. Sentimo-nos bem na nos-
guinte, lá estávamos nós para mais um dia nas pistas. A minha sa pele, confiantes, tendo, simultaneamente, a noção de
filha mais velha olhou para mim e deve ter percebido que eu es- que podemos continuar a aprender para que esse poder
tava com a sensação de que o dia ia ser longo. E que não tinha seja ainda melhor. Para isso precisamos de reorganizar a
vontade de repetir o dia anterior. Então perguntou-me: ‘Posso forma como olhamos para os nossos jovens.
ensinar-te, queres?’ Olhei para ela como se alguém tivesse
descoberto o que precisava sem que o tivesse verbalizado. Esta revista é exatamente sobre a fase absolutamente
Precisava que alguém me levasse pela mão e então disse-lhe incrível que a adolescência pode ser. Queremos mostrar-
logo que sim! E a magia aconteceu. te isso para que não tenhas medo dela. Mais, queremos que
Ela seguiu à frente e disse-me, simplesmente, ‘Faz como eu! ajudes o teu filho a descobrir todo o seu poder pessoal!
Confia em ti e em mim porque vou mostrar-te como é!”
Andámos o dia todo juntas. Ao fim de uma hora já me aguenta- Esperamos que gostes tanto de a ler como gostámos de
va em cima dos skis, já conseguia parar a meio de uma descida a fazer!
e começar a perceber porque é que tanta gente gosta deste
desporto. A minha filha usou todo o seu poder pessoal para Boa leitura!
mostrar o que de melhor tem nela. Soube ter a paciência para
me ensinar, para não me deixar desistir e de me ajudar a evoluir. Magda Gomes Dias

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ASK MUM
As tuas questões a Magda Gomes Dias
Créditos: Pau Storch

A minha filha de 3 anos está sempre a tirar coisas das mãos dos outros A minha sogra quer mandar na minha família. Quando estamos em minha
meninos. Não lhes pede, simplesmente arranca. A outra criança ou não casa, na dela ou noutro espaço, ela não consegue evitar fazer comentários
reage ou vem ao pé dela e arranca-lhe o brinquedo e tudo se pode tornar em relação ao meu filho de 5 anos e a desautorizar-me. Eu digo uma coisa e
num inferno. Como é que eu faço com que ela entenda que não o pode se ela não concordar diz logo «não ligues, que a tua mãe não sabe.»
fazer? Ana Marisa, 35 anos, Benavente

Eduarda, 28 anos
Esta pode ser uma questão delicada e a forma como lidamos com es-
tas intromissões pode ditar uma relação tranquila ou não. Gostava que
Aos 3 anos, todas as crianças estão a aprender a gerir os seus impulsos.
procurasse ver os comportamentos da sua sogra como aqueles de alguém
Ao mesmo tempo, vão desenvolvendo competências parentais que lhes
que não faz as coisas por mal, mas antes de alguém que, em princípio, quer
são ensinadas pelos adultos de referência. Por esse motivo, a primeira
ajudar não percebendo que por vezes não está a ocupar o seu espaço e o
coisa que lhe peço é que continue a fazer o que está a fazer: corrigir, re-
seu papel. Portanto, o primeiro ponto é procurar aceitar este aspeto. Pelo
petir e pedir para que repita o que acabou de lhe ensinar. O ideal é mesmo
que entendi do seu email, não tem por hábito responder e por isso mesmo a
treinar com ela em casa, ajudá-la a antecipar o desejo de uma próxima
sua sogra não saberá que esse comportamento a desagrada. É importante
vez. Pode sugerir que faça algo como “Estou a ver que queres usar a pá
que possa desenvolver competências de maior assertividade, descobrindo
que a Verónica tem na mão. Podes pedir-lhe e ver se ela empresta agora
exatamente o que a fere, o que deseja dizer-lhe e, acima de tudo, que tipo
ou depois.” No caso dela já ter tirado o objeto da mão da outra criança
de relação deseja ter com ela e que tipo de relação deseja que o seu filho
pode ajudá-la dizendo ‘Vejo que querias muito a pá da Verónica porque te
tenha com ela. Esse é o princípio de tudo. Se precisar, peça ajuda porque
esqueceste de lhe pedir emprestada. Podes dizer-lhe que gostarias de
realmente pode tornar tudo mais simples.
brincar com ela e verificar se ela não se importa. Vai lá falar com ela!
Com alguma insistência, treino e sem achar que isto é má educação, tenho
a certeza que a filha, à medida que vai crescendo e sendo ajudada, saberá
pedir o que precisa.

Contacte-nos para sessões de Coaching e Aconselhamento Parental


parentalidadepositiva.com | info@parentalidadepositiva.com

WORKSHOPS EM
EDUCAÇÃO E PARENTALIDADE
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POSITIVA
• PÓS-GRADUAÇÃO EM PARENTALIDADE
E EDUCAÇÃO POSITIVAS
• A AUTO-ESTIMA DA CRIANÇA
• COMPETÊNCIAS PARENTAIS
(APENAS PARA PROFISSIONAIS)
• CONFLITOS ENTRE IRMÃOS
• A QUESTÃO DA AUTORIDADE E
DA OBEDIÊNCIA
• A RESILIÊNCIA DA CRIANÇA
• EDUCAÇÃO POSITIVA 0-6 ANOS

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NOTÍCIAS AVULSO
A. COMO O COACHING PODE APOIAR OS ALUNOS
Santos da casa por vezes não fazem milagres. É aí que pode entrar o coaching. Os alunos do secundário,
do 11º e do 12º ano, de uma escola no Porto beneficiam já há 3 anos de um programa de coaching: ges-
tão das emoções, do stress e do trabalho. Nestas sessões confirmam como reagem à tensão que podem
ser os exames, organizam a forma de trabalhar aos seus ritmos e adotam melhores hábitos de vida:
alguns passam a deitar-se mais cedo, outros a alimentarem-se melhor e a trabalharem a concentração.

B. PORQUE É QUE O ÁLCOOL SÓ DEVE SER


CONSUMIDO A PARTIR DOS 18 ANOS
O motivo pelo qual o álcool não deve ser consumido antes dos 18 anos não tem apenas a ver com a matu-
ridade e liberdade de se poder fazer escolhas antes com o facto de o cérebro estar ainda em crescimen-
to e desenvolvimento. Na verdade, os teen years terminam aos 19 anos, mas o cérebro ainda não acabou
de ser formado. A lei que regula é o Decreto-Lei nº 106/2015 de 16 de junho, Artigo 1º), mas sabemos
que o acesso ao álcool é fácil: 85% dos jovens considera ser muito fácil obter bebidas. O álcool nos jo-
vens é mais elevado e começa cada vez mais cedo - beber tornou-se moda. É importante a sensibilização
para estas questões e é urgente que toda a sociedade atue para travar estes números.

C. PATETA O FILME
O filme Pateta conta-nos a história do Pateta e do seu filho adolescente Max. Durante o filme são
retratados diversos temas comuns na adolescência, desde o conflito entre pai e filho, os grupos de
amigos, o aparecimento de novos interesses, o ajustar expectativas, entre muitos outros. É um filme
divertido, para ver em família. Produzido em 1995 pela DisneyToon Studios. Pode encontrá-lo online.

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Todas as semanas aprofundamos temas ligados à parentalidade e à educação, partilhamos consigo
videos, estudos e no domingo fazemos a compilação dos mais vistos dessa semana no blog.
Para receber semanalmente mais informações siga-nos.

Escolha de...
Beatriz, 12 anos

Um dos livros que mais me prendeu do início ao fim. É


um romance cheio de fantasia, que fala sobre a ligação
entre uma leitora com o livro que ela adora. Achei
engraçado o livro ser escrito em conjunto - mãe e filha:
Samantha, filha da escritora perguntava-se o que
acontecia às personagens quando se fechava o livro...
E assim nasceu a ideia desta obra!

Bertrand Editora, março de 2017, 408 páginas


Entre as linhas.

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Daniel Siegel é médico, pediatra e
DANIEL SIEGEL psiquiatra americano que tem dedicado
a sua vida ao estudo do funcionamento
ENTREVISTA do cérebro. A Parentalidade + esteve
a conversar com ele antes do Natal e
focamo-nos no trabalho desenvolvido
a propósito do cérebro do adolescente.
Ficará surpreendido com as descober-
tas e as conclusões a que este autor
chegou. Vale a leitura!

Daniel, como é que se interessou por esta área


de conhecimento, ou seja, o cérebro, e porque
focou parte do seu trabalho aqui?

Sempre tive muito interesse em saber quem é


que somos enquanto seres humanos. Inicialmen-
te, formei-me em biologia e tinha um grande fas-
cínio pelo corpo e pelo cérebro, enquanto parte
do corpo. Entretanto, atraiu-me tudo o que diz
respeito à mente, que é diferente do cérebro, mas
que está relacionado e fiquei completamente
fascinado pela forma como as pessoas se desen-
volvem. Então, fui estudar psiquiatria e psiquia-
tria da criança e tornei-me investigador. O meu
objetivo é juntar todas as ciências e compreender
a natureza do que é ser humano. E foi assim.
O meu interesse no que diz respeito à adoles-
cência teve que ver com o facto de eu ter dois
adolescentes em casa e estar um pouco intrigado
com o que me diziam. Eu sentia que aquilo que me
diziam não devia ser bem assim, então comecei a
estudar e a escrever sobre este assunto.

Que idades têm hoje?

Hoje, têm 28 e 23 anos.

Isso leva-me à primeira questão. Então a ado-


lescência já não vai dos 13 aos 19 anos, mas é um
período mais vasto que isso? Onde é que ficam
os teen years?

Sim, os teen years vão dos 13 aos 19 anos, ou


seja, são idades que têm a palavra teen, mas a
adolescência é o período que vai desde a depen-
dência dos mais pequenos até à responsabilidade
que todos os adultos ganham. É um período que
encontramos em todos os mamíferos e que pode
ser complexo nos humanos. Há cerca de 150 anos,
a adolescência era muito curta. A puberdade, que

“A FASE DA ADOLESCÊNCIA TEM TUDO PARA SER INCRÍVEL E É UMA GRANDE


OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO PARA PAIS E FILHOS. NESTA ENTREVISTA,
DANIEL SIEGEL DESVENDA OS SEGREDOS E OS MITOS DA ADOLESCÊNCIA E
DEIXA-NOS DICAS PRECIOSAS PARA TORNAR ESTA ETAPA AINDA MAIS VALIOSA!”

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não é a adolescência, mas antes o amadurecimen- que acontece é que eles estão a remodelar o seu culturas, existe um ritual de passagem [de idades]
to do corpo, acontecia às raparigas por volta dos cérebro. Muitos também acham que é um período que é conduzido por pessoas que não são os pais,
seus 15 ou 16 anos e, por isso, poderiam casar-se de imaturidade, mas não é. É um período de são outros adultos de referência, membros da
por volta dos 18 anos. Tínhamos um período muito crescimento e de reorganização e que é mesmo comunidade em quem se possa confiar. Infeliz-
curto entre as duas fases: a idade mais infantil e a muito diferente de imaturidade. E, ao contrário mente, esta figura não existe na vida de muitos
idade adulta. Hoje em dia, a adolescência aparece do que se diz por aí, os adolescentes precisam jovens, o que é muito triste. Não há uma comuni-
com a puberdade e depende de uma série de fato- de nós nas suas vidas, precisam de adultos nas dade de adultos à volta das famílias em quem se
res, como a nutrição e a cultura. Atualmente, sa- suas vidas. Se continuarmos a reagir àquilo que possa confiar - pelo menos isso não se vê aqui
bemos que a adolescência é também um processo eles fazem em vez de agir de forma pró-ativa, por nos Estados Unidos. Vivemos uma altura terrível
da mente e que parece que acontece por volta exemplo, perderemos o vínculo com eles, e a coi- em que confiamos pouco uns nos outros, mas isso
da altura em que o próprio cérebro se começa a sa mais importante que podes fazer com os teus é compreensível porque, afinal, ouvimos tantos
remodelar. E por remodelar entendemos que o cé- filhos é manter o canal de comunicação aberto. casos de abuso.
rebro passa a usar o que já usava antes, fazendo
todas as ligações de que precisa. Os estudos que Que dicas nos pode dar no sentido de manter Dizem que é preciso uma aldeia para educar
temos é que esta remodelação pode acontecer esse canal aberto? uma criança, certo? Ao mesmo tempo, sinto que
antes dos 12 anos e pode durar até ao final dos muitos pais não recorrem a esse apoio porque,
1 - Como estavas a dizer há pouco, de forma
20 anos, pelo menos nos Estados Unidos. Digo para eles, a responsabilidade de se educar uma
pró-ativa. Devemos saber exatamente o que é a
isto porque a cultura também define o tempo que criança é, inteiramente, deles. E se não o conse-
adolescência;
dura a adolescência. guem fazer em condições, então isso quer dizer
2 - Refletir sobre a própria experiência. Escre-
que estão a falhar.
vi um livro que se chama Parenting from the
A dada altura, no seu livro Brainstorm, diz que a Inside-Out que nos dá as ferramentas, ajudan- Exato. Mas precisamos de o fazer para que os
fase da adolescência começa mais cedo do que do-nos a questionar sobre o que foi a nossa miúdos se possam tornar mais independentes, se
antigamente e explica que a nutrição, as expe- adolescência, a relação com os nossos pais, como sintam capazes de deixar a sua casa, onde se sen-
riências e, eventualmente, a própria educação é que mudámos ao longo dos tempos e o que tem muito protegidos e acarinhados. Há muitos
podem influenciar a precocidade. É assim? é que resta desse período de tempo que ainda motivos pelos quais esta fase existe. Um deles
pode estar a afetar a forma como exerço a minha é justamente este: para que os jovens possam
Sim, é isso mesmo!
própria parentalidade. Estas são questões que sair da sua área de conforto, do que é previsível
Um dos pilares da Escola da Parentalidade e podes colocar-te de forma pró-ativa. Todos os e certo. A natureza é, na verdade, fantástica.
Educação Positivas é a Parentalidade Pró-ativa, pais querem manter este canal aberto porque vai Durante este período, o cérebro do jovem procura
ou seja, antecipamo-nos aos acontecimen- desenvolver uma coisa que se chama presença, tudo o que é novidades e estímulos novos. Simul-
tos. Porque nos preparamos, temos uma ideia tornando-os capazes de estar disponíveis para taneamente, e ainda durante esta fase, o jovem
(estudámos, frequentámos ações) do que vai compreender a experiência interna de como foi vai ter aquilo a que eu chamo de um raciocínio
acontecer na fase seguinte do desenvolvimento ser adolescente e não apenas de responder aos muito positivo, ou seja, vai ver tudo por uma lente
dos nossos filhos. Nesse sentido, o que é que os seus comportamentos. muito positiva. Não quero dizer que não vejam o
pais de filhos que estão a entrar na adolescência negativo, mas porque há uma incidência muito
devem saber? Como se devem preparar? Quer dizer isso que também estamos metidos forte naquilo que são as novidades, então eles
no assunto - não tem apenas que ver connosco, vão considerar, com muito mais frequência, o que
Duas coisas - é muito importante sabermos que
pois não? é positivo. Por exemplo, numa determinada ativi-
devemos deixar de lado esses mitos para que a
verdade acerca da adolescência possa ser com- Exato, é isso exatamente! É uma ótima forma de dade perigosa, sabemos que há 30% de proba-
preendida. Esse é o primeiro ponto. ver as coisas. bilidade de as coisas correrem mal. Mas há 70%
Depois, devemos ver a adolescência de uma disso não acontecer. «Então, vamos lá, do que
forma positiva e esta forma é muito semelhante E quais são então os outros mitos? é que estamos à espera?», pensam eles. O mais
com a da Parentalidade Positiva. Eu chamo-a de certo é que algo de bom aconteça, afinal a pos-
Um deles está relacionado com as hormonas de sibilidade de correr bem é de 70% (é o que eles
‘Yes Brain’ e tem que ver com um desenvolvimento
desenvolvimento e o facto de causarem mais pensam). Isto é hiper-racional, eu ou a Magda, por
bastante pró-ativo e que se concentra naquilo
agressividade. Elas não causam mais agressivida- exemplo, não tomaríamos esta decisão, porque os
que a criança ou o adolescente é, verdadeiramen-
de - há apenas um aumento do nível das hormonas custos, caso algo acontecesse, seriam demasiado
te. À medida que vão fazendo a sua caminhada
no corpo. altos. Mas os adolescentes não pensam assim.
pela fase da adolescência, sentem que têm uma
O segundo mito tem que ver com a imaturidade Na verdade, eles estão na fase em que são mais
espécie de compasso interno que os guia, sobre-
- é um período de reorganização. Se tratares as fortes e mais saudáveis.
tudo na fase em que o seu cérebro está a sofrer
pessoas de forma imatura é assim que eles se
todas essas remodelações.
vão comportar. Mas se os respeitares tendo em
- Quererem estar muito tempo com os amigos o
conta essa tal reorganização que está a aconte- Sentem-se invencíveis, é isso?
que faz com que se interessem mais por eles do
cer, então eles farão mudanças que tu vais querer
que pelos pais; Não diria que se sintam invencíveis, é apenas que
apoiar.
- Experimentarem coisas novas sendo que os seus corpos estão muito mais fortes. Se tiver
Em terceiro lugar, muita gente pensa que a ado-
algumas delas são perigosas de ficar doente, é nesta altura que o corpo vai
lescência é um período que deve ser ultrapassado
- Saberem como é que as coisas são mas responder de uma forma espetacular. Contudo,
o mais rápido possível. Mas, na verdade, é apenas
quererem que sejam diferentes há maiores probabilidades nesta altura de eles
o oposto. A essência da adolescência deveria ser
terem um ferimento permanente ou de morrerem.
uma altura em que nos deveríamos demorar.
Estes são alguns dos pontos que são comuns Apesar de estarem bem mais fortes nesta altura,
Em quarto lugar, muitos acreditam que é uma fase
na adolescência e não apenas uma fase onde as a probabilidade de morrerem é muito maior por
em que os jovens se afastam dos adultos. Estes
hormonas estão mais descontroladas. É um mito causa das decisões que tomam. E não estou a
miúdos precisam de adultos nas suas vidas. É
pensar-se que a adolescência é apenas um perío- falar de suicídio, que é, também, elevado nesta
verdade que se afastam dos pais, mas precisam
do em que eles perdem a cabeça e ficam loucos. O altura. Por isso, quando os pais dizem que se trata
de outros adultos nas suas vidas. Em muitas

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de uma fase perigosa, é mesmo! É determinante 14 anos e a vida não tem sido fácil. Ele não nos coisas até muito importantes - sem que olhem
que os pais tenham as ferramentas certas para conta nada, está desafiante. Como é que os pais para nós. Uma das técnicas de comunicação nesta
poderem ensinar os seus filhos a estarem atentos podem voltar a criar uma ligação com este jovem fase é, justamente, não estarmos virados um para
às suas intuições, desenvolvendo um guia interno quando não fizeram o trabalho antes? o outro. Também podemos ir ao cinema e depois
para terem um estilo de vida saudável. falar sobre o filme e há a possibilidade, a seguir,
Bom, a primeira coisa a saber é que é mesmo mui-
de começarmos a falar sobre outras coisas.
to natural - nomeadamente no que diz respeito
Precisamos de estar, portanto, mais próximos e Também devemos estar atentos a alguns indícios
à fase mais inicial da adolescência - de querer
mais ligados. Como podemos promover esse tipo que nos revelam que o miúdo quer ficar ao pé de
afastar-se dos pais. É importante que os pais sai-
de pensamento e essa sensatez nos adolescentes? nós, como quando deixa a porta aberta. Podemos
bam que isso vai acontecer e é natural. Contudo, a
aproveitar essa oportunidade para nos sentarmos
adolescência também é uma altura em que temos
por perto a ler um livro. Não estou a dizer ao lado
Quando estamos atentos às sensações do nosso de estar atentos a certos aspetos comuns, como
deles, mas por perto. Finalmente, devemos evitar
corpo, abrimos um canal de comunicação podero- a depressão ou ansiedades, ou fobias sociais,
todo o tipo de julgamentos.
so. O nosso corpo tem 3 cérebros que nos ajudam preocupações com a entidade sexual e até
a isso. dependências. A adolescência é o período no qual
É quando eles se sentem seguros que conseguem
Temos um cérebro na nossa cabeça, mas, antes uma desordem psiquiátrica se poderá apresentar.
tomar as melhores decisões.
desse, temos um cérebro no nosso coração e ou- E isso não tem nada que ver com as hormonas de
tro nos nossos intestinos. O que me pareceu mui- desenvolvimento, mas com o facto de o cére- Sim, eu chamo a isso um estado «Yes brain».
to útil, para os meus adolescentes, mas também bro se estar a remodelar. É comum vermos mau
para todas as pessoas com quem trabalho, é que, feito, mau humor e alguma vulnerabilidade e não 5 coisas que não devemos fazer com os nossos
quando estão em contacto com o seu gut feeling percebemos que isso é uma depressão. Podemos filhos adolescentes.
(que em inglês quer dizer, literalmente, sensação descobrir uma preocupação com as relações
ou sentimento do intestino) ou seja, com os seus sociais e não vermos uma ansiedade social. Pode- 1. Tratar o adolescente como uma pessoa imatura,
intestinos (em inglês, gut), o seu coração conse- mos senti-los muito ansiosos em relação a outras louca e distraída, porque o adolescente vai atuar
gue sentir. Isto dá-lhes aquilo a que chamamos coisas, como conseguirem atingir certas notas na de acordo com isso.
intuição, guiando-os, mesmo que estejam numa escola e tantas outras coisas. Por isso a pergunta 2. Ter muito cuidado com o que sabe sobre o
fase de pensamento hiper-racional e com von- que nos devemos colocar é «Será que o meu filho desenvolvimento da criança, dizendo coisas
tade de fazer coisas perigosas ou tenham esse está a mostrar sinais sérios de um desafio difícil como «Ah, pois, é o teu cérebro que ainda está
impulso. Estes dois cérebros vão dar ao jovem de ultrapassar e que possa afetar a sua saúde a desenvolver-se.» Não faça isso porque é algo
aquilo a que nós chamamos de compasso interno, psicológica ou será que este afastamento faz extremamente humilhante!
que os guia de uma forma saudável e segura. Por parte e é natural?» Mas, mesmo que seja neces- 3. Evitaria, na medida do possível, ser reativo e
isso, quando falo de um compasso interno, isso sário, o mais importante é que possamos manter entrar em jogos de poder. Quando isso acontecer,
significa que estamos a falar destes 3 cérebros. as linhas de comunicação abertas. E quando digo procure reparar o que se possa ter quebrado.
isto, não estou a pedir que os forcemos a falar 4. Dizer coisas como «Não quero saber de ti».
E isto não pode ser feito num fim de semana ou connosco, apenas que possamos encontrar um Isso significa que eu não estou lá para ele. Não
durante as férias. Temos de trabalhar diariamente pouco de tempo para lhes dedicar. Quando vamos passaria esta mensagem.
neste sentido? a conduzir ou a caminhar, ou seja, quando não 5. Não seria superprotetor, uma vez que todos os
estamos frente a frente com o nosso adoles- adolescentes precisam de ganhar mais autono-
É como escovar os dentes! Queres que os teus
cente e não estamos a olhar um para o outro, mia e de correr riscos para que, quando saírem de
filhos tenham um bonito sorriso, saudável. Não
torna-se mais simples conversar sobre algo que casa, tenham, realmente, praticado. Se tiverem de
lhes dizes para escovarem os dentes uma vez e já
é importante. Quando vamos no carro e fazemos o fazer pela primeira vez (já fora da casa dos pais)
está! A higiene mental e estas práticas precisam
isto, podemos ficar espantados com a quantidade pode resultar em desastres como já vi.
de se tornar uma rotina na nossa vida.
de coisas que eles nos podem contar, algumas
Vamos imaginar que tens um adolescente de

8|
5 coisas que devemos fazer com os nossos filhos Talvez tenha havido duas coisas difíceis. Sou uma
adolescentes. pessoa que protege muito a família e os amigos -
talvez porque sou médico e alguém que trata dos
1. Começaria por amar verdadeiramente o meu
outros. Enquanto pai não podes fazer aos 15 anos
filho adolescente e recorde-se que os dias podem
o que fizeste aos 5 anos. Aos 15 anos, precisas
ser longos, mas os anos são curtos.
de lhes recordar de algo e deixá-los, dando-lhes
2.Faria uma reflexão interna acerca da minha vida,
o seu tempo, enquanto a uma criança de 5 anos
desenvolvendo um desenvolvendo o meu centro.
garantes que aquilo que disseste acaba mesmo
3.Sempre que houver uma rutura, que acontece em
por acontecer. Por isso, essa foi a parte difícil
qualquer relação, lembre-se de reparar, reparar,
- retirar o meu instinto protetor enquanto pai,
reparar. Isso é o mais importante, porque ajuda
mas também enquanto médico. E a segunda coisa
a ligarem-se de novo, mas também lhes serve de
mais difícil foi quando eles se sentiram prontos
modelo sobre aquilo que nos torna humanos, por-
para sair de casa. Amo-os tanto e adoro estar
que compreendem que também podem cometer
com eles. Foi duro chegar à conclusão que os dias
erros.
são longos, mas os anos são curtos e que o tempo
4. Analise como trata a emergente sexualidade do
deles em nossa casa tinha terminado. Temos de
seu filho porque a sexualidade é uma parte natural
respirar fundo, aceitar que estamos tristes de
da adolescência. Pode ser confusa, mas a maneira
vê-los partir, a sair do ninho e voar por eles. Isso é
como cada um de nós, adultos, lida com a própria
mesmo difícil.
sexualidade terá um impacto na forma como o
A parte positiva… foram tantas que é difícil
adolescente lidará com a sua sexualidade. É por
escolher. Mas uma das coisas é a alegria de vê-los
esta altura que eles definem a sua identidade se-
tornarem-se quem são, com eles próprios, com os
xual e, portanto, eu procuraria ser bastante aberto
amigos, em relação às suas paixões e às decisões
em relação ao facto de este ser um tempo de ex-
que tomam. A minha mulher e eu mantivemos
ploração e de desenvolvimento da sua identidade
uma linha de comunicação aberta com cada um
sexual. Aceite que isso não está no seu controlo.
deles e penso que correu muito bem, na fase da
5. Estude como o cérebro se remodela e coloque
adolescência, e, agora, nesta fase em que já são
de lado todas as teorias sobre as hormonas de de-
jovens adultos. É maravilhoso. Mesmo na altura
senvolvimento. Na verdade, a essência da adoles-
em que eles eram adolescentes, lembro-me de
cência tem que ver com a forma como mantemos
fazer longas caminhadas com eles, pegar no cão
jovem e ativa a nossa mente e as nossas vidas.
e ir passeá-lo e ter as conversas mais profundas
acerca daquilo que é a vida, o amor, a realidade. A
É uma fase desafiante!
adolescência é uma fase incrível para se refletir
Sim, e uma ótima oportunidade para que todos sobre as coisas. Sinto-me muito honrado porque
possamos crescer: eles e nós! eles são miúdos incríveis e por ser pai deles.
Mesmo agora, que estamos todos juntos de férias
O que é que foi mais incrível e também mais [a entrevista foi feita a 20 de Dezembro], deixo de
difícil para si, enquanto pai (e não enquanto lado a minha faceta de pai protetor e tratamo-
profissional) de dois adolescentes? nos como amigos. Fiz anos recentemente e eles
Daniel Siegel
escreveram-me um postal maravilhoso que
Tentei sempre separar a minha vida profissional PSIQUIATRA E AUTOR AMERICANO,
dizia «Foste um pai incrível e agora és um amigo
e o meu conhecimento daquilo que faço em casa. autor de vários livros como The Whole
incrível.» E é isso que eu espero que as pessoas
Acho que fiz um bom trabalho e a minha mulher e Brainchild e Brainstorm.
possam saber acerca da adolescência, justamen-
os meus filhos ajudaram-me muito.
te para ter esta experiência. É qualquer coisa!

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AUMENTAR A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS
por Cristina Valente,
Psicóloga, Coach
e autora

A Cristina Valente é psicóloga e é autora, entre outros, do livro «O que se passa na cabeça do seu filho adolescente?» Neste texto, parti-
lha connosco algumas informações e dados que nos permitirão envolver os nossos filhos na tomada de decisões e a serem mais responsá-
veis e conscientes em relação a elas.

HÁ ESTUDOS QUE REVELAM COMPORTAMENTOS POTENCIALMENTE


PERIGOSOS. A CRISTINA VALENTE DEIXA-NOS UM ALERTA E DICAS QUE VAIS
QUERER LER!
Todos adoraríamos que os nossos filhos vivessem uma adoles- idade aproximada, o risco de acidente aumenta 50%!
cência isenta de riscos. Sentimos medo e, por vezes, muito medo. • quando o passageiro do lado é uma rapariga, o jovem condutor
O medo é uma armadilha ardilosa. Leva-nos a pensar que quanto torna-se mais protetor e corre os mesmos riscos como se
mais medo sentirmos, melhores pais seremos. Nada de mais erra- estivesse a conduzir sozinho;
do. No que diz respeito à educação e à vida existem duas formas de • quando há mais passageiros igualmente jovens no banco de trás,
decidir: com base no medo ou com base no amor. os riscos de morte do condutor aumentam cerca de 40%!

Se já empresta o carro ao seu filho, para poder sair à noite ou para


Lá em casa, raramente faço de polícia, a não ser que surja algo
passear com os amigos da mesma idade, por favor, mostre-lhe todos
verdadeiramente preocupante…Prefiro (e os meus filhos também!)
estes dados. Faça o mesmo no caso de ele costumar viajar em carros
“vir à tona” apenas quando é necessário. Em vez de uma «mamã-he-
de outros amigos supostamente mais crescidos e responsáveis.
licóptero», sou mais uma “mamã-submarino”. Faço parte daquele
No sentido de trabalhar a questão dos valores e da forma como se
grupo de pais do tipo “negligentes benignos” que, no fundo, é uma
envolvem nas questões que lhes dizem respeito - em vez de os proi-
forma simpática de dizer que «ignoramos» os nossos filhos até ao
bir - aqui ficam 6 sugestões que vão facilitar a vossa relação e a responsa-
momento em que estes tentam fazer algo verdadeiramente excên-
bilização do seu filho:
trico, perigoso ou arriscado.
Exemplo disso é a segurança rodoviária. Trata-se, sobretudo, de
• Escreva acordos sobre a utilização do carro da família
uma grande preocupação dos pais de rapazes...e com toda a razão
• Vá de «pendura» dar uma volta com o seu filho para perceber as
(têm três vezes mais probabilidades de morrer de acidente, violên-
capacidades e a autoconfiança dele a conduzir (não abra a boca!).
cia e suicídio do que as raparigas)!
Na verdade, o risco não é, propriamente, um adolescente conduzir • Depois da viagem, dê-lhe dicas.
sozinho, o que é relativamente seguro. O problema surge quando • Envolva-o nas tarefas de manutenção e limpeza do carro
leva passageiros ao lado...que tenham a mesma idade e sejam do da família.
mesmo sexo do que ele! Por esse facto, é importante que os pais • Ajude-o a gerir o seu dia-a-dia com o auxílio das redes de
conheçam alguns dados relacionados com condução e adolescência. transportes disponíveis na sua área de residência.
Eis o que acontece quando um jovem conduz um carro:
• Comprometa-o a ajudar nas despesas de qualquer dano da sua
• quando viaja sozinho, consegue ter uma condução relativamente
responsabilidade e a envolver-se nas questões da reparação.
segura (mesmo que vá em excesso de velocidade, o que na
realidade até o torna mais atento e cuidadoso); • Convide-o para ser o condutor numa viagem de família ou
• quando há outro passageiro do sexo masculino no carro com apenas dos dois.

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AINDA É FIXE, DIZER-SE- «FIXE»?
por Claudine Pinheiro

NÃO TEMOS DE FALAR COM OS MESMOS CÓDIGOS


MAS DÁ JEITO DECIFRAR O QUE ANDAM
POR AÍ A DIZER.
Pelo visto, ainda pode ser, mas…tudo depende da zona em que os seus filhos vivem.
Nalgumas escolas do Porto, a palavra ainda é aceite como sendo atual, mas, por exemplo, noutros colé-
gios em Lisboa, um pai que pergunte: “Então o teu dia, foi fixe?” pode muito bem ser olhado de lado.
Para que se possa manter atualizado em relação aos termos que hoje parecem ser mais ou menos
consensuais, reunimos algumas palavras e expressões que estão na moda (pelo menos, por enquanto!)
e que pode já ter ouvido da boca dos seus adolescentes.
Há, obviamente, muita influência anglo-saxónica, bem como terminologia ligada às redes sociais, o
mundo onde os adolescentes (também!) vivem.

Beef – Um beef é uma polémica ou razão para haver algum tipo de luta ou discussão. Também pode
ser usado sob a forma de verbo em expressões como “Aquela malta que não beefe connosco” “Ou tás a
querer beefar?”

Buzz – É o «diz que disse» positivo. Equivale à notoriedade nas redes sociais. “O Instagram dele tem
muito buzz”.

Canhão – Em adolescentês, este termo pode ter um duplo significado. Pode equivaler a um charro na
frase «Aquele rapaz estava a fumar um canhão». Ou, então, designa uma pessoa com uma aparência
física desejável: «Bem, aquela miúda é grande canhão!»

Dabbing – ato ou efeito de fazer um DAB. Ou seja, assumir a pose em as pessoas apontam um braço
para cima em direção ao céu enquanto também inclinam a cabeça para o outro braço, semifletido sobre
o rosto. Tem a origem numa música rap, e o gesto fará referência a posturas no consumo de drogas.
Celebrizou-se nos festejos de desportistas e é nestes contextos de celebração social que se faz um
DAB: porque se marcou um golo ou porque se chega ao grupo de amigos em grande estilo.

Dica – É o termo em voga para designar uma opinião, ou uma “boca” / argumento numa discussão. «Vou
dar-te uma dica para não arranjares problemas: fica quieto no teu canto!»

Fixe – O equivalente a porreiro, cool, brutal, «ganda cena».

Hater – Aquele que destila ódio em tudo o que diz sobre um assunto ou pessoa. É o oposto de fã.

Troll – É aquele que trolla alguém na internet, ou seja, alguém que causa um comportamento que pre-
tende destabilizar uma página, ou descredibilizar o seu autor. O objetivo do troll é gozar com alguém,
expondo-o ao ridículo. Por isso, na internet não são pessoas muito bem vistas e talvez por isso também
se use o termo como equivalente a «cromo».

Sqn – Normalmente vem antecedido de um hashtag no final nas frases irónicas. Significa Só que não.
«Adoro brócolos. #sqn»

Yolo – You only live once – «Só se vive uma vez» e diz-se para sublinhar a importância de se viver cada
momento como se fosse o último.

Este último termo, provavelmente, faz recordar a expressão Carpe Diem, celebrizada no filme O Clube
dos Poetas Mortos (1989). E até apetece dizer
«No meu tempo, as citações cool eram em latim!...» Pois.

Claudine Pinheiro
MARKETER

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FALAR DE SEXUALIDADE:
MISSÃO IMPOSSÍVEL?
por Vânia Beliz

A EDUCAÇÃO SEXUAL É A ÚNICA FORMA QUE TEMOS DE PREVENIR SITUAÇÕES


PREOCUPANTES, COMO SÃO EXEMPLO: A VIOLÊNCIA SEXUAL E DE GÉNERO.

A puberdade e adolescência são períodos Estamos a falar de valores, de direitos, de com- bonitas, atraentes e convites constantes à sua
importantes do desenvolvimento da criança, preensão das temáticas de género, de prevenção sensualidade e emancipação. Elas e eles têm
mas também uma etapa de insegurança, medo e da violência e proteção pessoal, de promoção da ídolos bem diferentes daqueles que colávamos
ansiedade. saúde e bem-estar, do conhecimento do corpo e nas paredes do quarto, acompanham tudo o que
Crescer não é fácil e a forma como pais e crianças do seu funcionamento, do comportamento sexual fazem, o que consomem, desejam tantas vezes
lidam com este momento pode ser fundamental e conceitos de saúde reprodutiva. Falamos de ter as suas vidas.
para o desenvolvimento e bem-estar das crianças um conjunto alargado de temas, que mostra que A erotização está em todo o lado, assim como
e das famílias. sexualidade é muito mais que sexo. o apelo à sexualidade cada vez mais despida de
A puberdade é a primeira fase da adolescên- afetos, só por que é cool ou fixe. Está presente
cia, uma espécie de campainha que diz adeus à - Há um momento ou uma idade especifica para nas músicas que ouvem, nos blogs que visitam,
criança e abre a porta para a adultez. Os seus falarmos sobre estes temas com os nossos nos canais que seguem, nos jogos.
primeiros sinais surgem primeiro nas raparigas, filhos?
com o corpo a apresentar as primeiras mudanças, Não. Nós comunicamos constantemente com - Quem é que deve abordar primeiro, os pais ou
muitas vezes a partir dos 8 anos. os nossos filhos sobre sexualidade, através da os filhos?
Grande parte dos pais sente medo e ansiedade forma como nos relacionamos com eles e com o Os pais já começaram, mesmo que não se aper-
por verem os seus filhos sair da infância, mas meio, por exemplo. cebam, e, se forem mantendo um diálogo aberto,
este é um processo normal pelo qual todos Falar de sexualidade é muito mais do que falar poderá ser mais fácil os filhos virem falar com os
passamos e que faz parte do nosso crescimento e de sexo e esta é a maior dificuldade que temos pais sobre os temas mais delicados da sexuali-
ciclo de vida. Nas raparigas, assistimos ao desen- para que as famílias compreendam o que se dade, como o sexo. Se não houver espaço para o
volvimento mamário, ao aparecimento dos pelos pretende. A maneira como os pais cuidam das diálogo, eles aprenderão em outros sítios, com
púbicos e ao surgimento da menarca, primeira crianças, como fazem as suas tarefas, já é educar os pares, com o acesso às novas tecnologias…
menstruação; nos meninos, ao aparecimento dos para sexualidade. Não precisamos de falar de Não querer responder já não é solução, mas sim
pelos, à mudança da voz e à primeira semenarca, pénis e vulvas, pílulas e preservativos para falar um risco.
primeira ejaculação. de sexualidade. As últimas orientações da ONU
Em ambos há crescimento físico, com as meninas dão relevância, por exemplo, ao trabalho com - É preferível falarmos sobre as questões íntimas
a adotarem formas mais femininas e os rapazes a as questões de género, mostrando como estas ou oferecer-lhes outro género de bibliografia?
mudarem a sua estrutura. Surgem as incómodas são relevantes para a prevenção da violência. É Os pais precisam de estar conscientes que vive-
borbulhas, intensifica-se a transpiração, para não um trabalho que não deve assustar as famílias mos tempos muito diferentes e que a informação
falar das inúmeras mudanças psicológicas que porque, bem implementado, só pode proteger chega de todos os lugares. Não abordar os temas
deixam muitas famílias de mãos na cabeça. e capacitar as crianças e jovens para os desa- com eles é fechar a porta à oportunidade de os
fios de uma sociedade hipersexualizada. Numa educar nos seus valores, princípios e protegen-
Quando falamos sobre sexualidade estamos a sociedade cada vez mais sexualizada, as meninas do-os. Educar para a sexualidade faz parte desse
falar sobre o quê? recebem mensagens continuadas para serem desafio.

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Dependendo do relacionamento que exista, é tão impossível? A forma como nos relacionamos mudou comple-
normal que os filhos não se sintam à vontade para Recorra a livros e material lúdico para abordar tamente e estamos mais expostos do que nunca.
questionar os pais sobre a sua prática sexual ou as temáticas desde cedo, começando a partir Mas estão os nossos filhos preparados para es-
as dificuldades que sentem nas suas relações dos 3-4 anos com livros que abordem estes tas mudanças? E nós que os educamos? Estarão
íntimas. Mostre-lhes como podem ter acesso assuntos, como as diferenças entre meninos e conscientes da importância do consentimento
a informação segura, ajude-os a marcar uma meninas, a origem, o nascimento, na puberdade nos relacionamentos, do perigo do cyberbullying
consulta, leve-os a um especialista e não force com recursos que ajudem os filhos a compreen- do sexting?
temas para os quais eles podem não estar dispo- der as mudanças que irão surgir e mais tarde com Se não sabe do que tratam estes conceitos, é
níveis para falar, mas não deixe de os chamar à livros que os ajudem a conhecer melhor a sua muito importante que se informe e esclareça,
atenção quando algo lhe parecer desajustado e intimidade. para poder depois sensibilizar os seus filhos para
incómodo. Se existem coisas que o constrangem Apesar de a informação chegar à distância de as consequências de cada comportamento. Essa
não deixe de falar com eles sobre isso, ou corre um click, os jovens, continuam perigosamente será uma das missões das famílias. Se, no passa-
o risco de acordar de manhã, na sua casa, e ter desinformados. Exemplo disso são as dezenas de do, o nosso silêncio podia garantir o desconheci-
o namorado, ou namorada, do seu filho ou filha mensagens recebidas no mais recente espaço de mento, hoje, se não falar com eles acredite que
de roda da torradeira… converse sobre os seus aconselhamento em sexologia através do What- eles receberão toda a informação, muitas vezes
e os vossos limites e promova sempre o diálogo sApp, CONTROL TALK, que nos faz constatar que de forma errada.
positivo e construtivo. Será assim uma missão ainda temos muitos adolescentes em risco.

FICAM ALGUMAS DICAS SIMPLES COMO FALAR CONTROL TALK

COM OS FILHOS SOBRE SEXUALIDADE: Adicione este contato ao


WhatsApp: 934 059 910

1) Normalize a questão e tente saber a sua origem Serviço de aconselhamento em sexologia


disponível de segunda a sexta feira,
Não corra a punir a pergunta ou fazer um interrogatório sobre de onde vem tal disparate. Se o seu
das 18h às 20h
filho(a) pergunta é porque quer saber mais, aproveite antes para validar a questão perguntando por
Confidencial.
exemplo: Porque me estas a fazer essa pergunta hoje?
E não faça de conta que não ouviu a pergunta ou não o envie para o pai, avó, tio…

2) Tente saber o que ele/a sabe sobre o assunto


Desta forma vai perceber qual o seu conhecimento e o que pretende saber e poderá já ter um ponto
de partida para a resposta.

3) Responda de forma objetiva e de acordo com a compreensão da criança/jovem


Sem rodeios, seja objetivo. Aproveite a oportunidade para desmistificar e informar.

4) Confira se ele compreendeu a resposta


Depois da sua explicação, certifique-se de que a mensagem/explicação ficou apreendida.

Vânia Beliz
PSICÓLOGA

ES PORTO | 7 MARÇO | 18h30 - 22h00


RIÇÕ
INSC TAS
ABER parentalidadepositiva.com

GESTÃO DE CONFLITOS
ENTRE IRMÃOS

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O QUE É A CONSULTA DE MEDICINA
DO ADOLESCENTE?
por Hugo Rodrigues | Pediatra

A ADOLESCÊNCIA É MUITAS VEZES ENCARADA COMO UM «BICHO DE SETE


CABEÇAS», MAS ISSO NÃO É VERDADE. TRATA-SE DE UMA ETAPA NORMAL NA
VIDA DE QUALQUER PESSOA E É UMA FASE IMPORTANTÍSSIMA, NA QUAL AS
CRIANÇAS SE TRANSFORMAM EM ADULTOS.
Claro que neste processo há alguns sobressaltos, mas isso não quer dizer Relativamente aos problemas de saúde, os mais frequentes
que tenha de ser encarada como algo assustador. No entanto, pelas suas são os que se seguem:
particularidades, faz sentido que os profissionais de saúde estejam cada vez - Acne – é extremamente frequente e interfere com a imagem corporal,
mais atentos a este grupo etário, motivo pelo qual existe neste momento, que é um aspeto muito importante para os adolescentes;
em todos os hospitais, uma Consulta de Medicina do Adolescente, vocacio-
- Alterações menstruais – a puberdade traz consigo mudanças hormo-
nada para o atendimento dos jovens a partir dos 10 anos.
nais muito significativas e é habitual que, nos primeiros dois anos após
a primeira menstruação, os ciclos menstruais sejam muito irregulares,
Como funciona?
sem que isso tenha propriamente significado médico;
As regras de funcionamento variam um pouco de acordo com quem dirige
a consulta. No entanto, é frequente que haja momentos a sós com os ado- - Alterações do humor (ansiedade e depressão) – são muito frequentes
lescentes, em que os acompanhantes são convidados a sair. Isto prende-se e interferem de forma significativa com o bem-estar e desempenho
com o facto de ser fundamental respeitar a sua privacidade, garantindo a escolar e social;
confidencialidade sobre o que é conversado na consulta. No entanto, é sem- - Obesidade – é cada vez mais habitual ver jovens obesos na consulta
pre importante esclarecer de início que essa confidencialidade tem alguns e, nesta faixa etária, nem sempre é fácil controlar a situação (o ideal é
limites, nomeadamente se o adolescente revelar algo que coloque em risco prevenir durante a infância);
direto a sua vida ou a vida de terceiros. O objetivo de retirar os acompa- - Problemas osteoarticulares (dores nos joelhos, alterações da coluna
nhantes deve ser explicado na primeira consulta, garantindo que é entendido e dores lombares, por exemplo) – o crescimento acelerado na adoles-
por todas as partes. Não se pretende criar segredos, mas sim respeitar a cência implica muitas vezes alterações dos ossos, músculos e articula-
privacidade que o crescimento e desenvolvimento típicos da adolescência ções, que provocam dor e mal-estar (e, por vezes, tratamento médico
acarretam. adequado);
- Perturbações do comportamento alimentar (anorexia nervosa e
Quais os principais motivos de consulta?
bulimia) – apesar de não serem a causa mais frequente de consulta,
Depende muito das consultas, mas os problemas de comportamento e rela-
são problemas sérios e que podem revestir-se de uma gravidade muito
cionamento são provavelmente os mais frequentes. Com o desenvolvimento
significativa.
da sua personalidade, é necessário que surja alguma autonomia e indepen-
Estes são apenas alguns exemplos dos problemas observados, pois,
dência, com o natural afastamento dos pais. Não está em causa o quanto
na verdade, é uma consulta extremamente diversificada e que abrange
gostam uns dos outros, mas, claramente, a relação sofre um «abalo». Isso
diferentes áreas. O que se torna evidente é que, mesmo havendo um
nem sempre é bem percebido e podem gerar-se alguns conflitos e discus-
motivo muito bem identificado de consulta, os temas abordados vão
sões. Por vezes, ajuda ter um mediador externo e estas consultas acabam
sempre muito para além desse motivo, pois um dos grandes objetivos
por ser um bom local para fazer essa mediação.
é sempre aproveitar a oportunidade para fazer uma boa promoção de
saúde e prevenção de doença com o adolescente que está à nossa frente.
Isso são ganhos enormes, que vão fazer com que tenhamos adultos
mais saudáveis e felizes nos anos seguintes!
Hugo Rodrigues
PEDIATRA

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por Renato Paiva

OS ADOLESCENTES E O QUE HÁ PARA


LÁ DA VIDA ESCOLAR

HÁ VIDA PARA ALÉM DOS ESTUDOS - OS NOSSOS ADOLESCENTES TÊM VIDA DE


ESTUDANTE MAS HÁ OUTRAS ESFERAS QUE SÃO IGUALMENTE IMPORTANTES. AS
DO TEU ANDAM EQUILIBRADAS?
A adolescência em força costuma coincidir com escola, mas não em exclusivo. É importante por que tenho e do que sei faz mais diferença do
a entrada no ensino secundário. Nesta altura, os isso que possamos desconstruir a ideia de que a que o grau académico que se tem. Muito dessa
filhos iniciam um percurso em que os resulta- escola é O caminho. Todos conhecemos pessoas capacidade desenvolve-se em paralelo à escola.
dos escolares podem condicionar a entrada no respeitadas e influentes que não fizeram um Alunos que dedicam todo um período irrepetível
curso desejado e é comum os discursos e as percurso académico. Isso significa que o mesmo das suas vidas à escola estão a passar ao lado de
preocupações ficarem muito concentrados neste não dita, necessariamente, o sucesso, embora o experiências importantíssimas.
tema. Olhar de forma exclusiva e prioritária para discurso «Se não estudares não vais ser ninguém A escolaridade é obrigatória até aos 18 anos
a escola pode estrangular outras atividades, na vida!» não tenha sido totalmente extinguido em Portugal. Por esse facto, é fundamental que
interesses e necessidades pessoais. Com efeito, ou reenquadrado. Este reenquadramento passa a escolha de hobbies seja integrada na vida dos
neste período, os interesses paralelos dos filhos por explicar que as pessoas que têm um curso miúdos. Mas esta questão levanta sempre grande
ficam, maioritariamente, para segundo plano, ou superior têm, normalmente, empregos com uma angústia aos pais. A escola ou algo paralelo?
para quando há tempo. Entenda-se: quando há fé- remuneração superior, assim como uma maior Não havendo receitas mágicas a resposta recai
rias ou no pós testes! Mas, nesta fase, os jovens facilidade em encontrar trabalho. Mas muito num equilíbrio entre responsabilidade e o que lhes
têm também muitos caminhos para descobrir. mais importante do que o canudo, é o que se traga mais bem-estar e felicidade. O contexto que
É uma realidade física, hormonal, social, sexual, sabe fazer com a informação com que se ficou lhes provoque mais alegria, onde se sintam mais
entre tantas outras e que parecem ser tão ou ao tirar o canudo! Não importa a informação realizados, onde tenham melhor desempenho, onde
mais apelativas do que a escola. que se tem, importa saber o que fazer com ela. se sintam valorizados e apreciados pelo que fazem.
Pais atentos e preocupados, dedicam atenção à Esta capacidade em ser competente no uso do Isto também pode acontecer fora da escola.

ES
RIÇÕ
INSC TAS
ABER

COMPETÊNCIAS PARENTAIS
- PROFISSIONAIS Renato Paiva
PEDAGOGO

PORTO | 2 MARÇO | 10h00 - 17h00


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CRESCER
por Sónia Morais Santos

Fui uma adolescente terrível. Rebelde, louca por uma liberdade que não Porta-se lindamente, é uma ajuda incansável com os irmãos, tem uma adora-
tinha, com ganas de experimentar tudo o que a vida tinha para oferecer. ção pelo mais novo (que tem 3 anos), de quem toma conta com o desvelo de
Hoje, compreendo que muito daquilo que eu queria só queria por ser proi- um pai.
bido. A minha mãe tinha-me em rédea curta e quanto mais ela me prendia Por vezes, dá-lhe para a insolência. Mas para mim – que contava com um
mais vontade eu tinha de escapar. castigo divino por ter sido tão terrível – isso é o menos. (Também se pode
Hoje tenho 4 filhos. Quando tive o último quase pude ler no olhar da minha dar o caso de o castigo dos céus estar guardado para qualquer um dos outros
mãe um sorriso sardónico que dizia qualquer coisa como: «Vais pagar em filhos... vamos acreditar que não).
quádruplo tudo o que me fizeste passar». Senti um calafrio, confesso. Mas Ter um filho adolescente traz-nos várias coisas boas (e outras más, como o
enchi o peito de ar e pensei que talvez conseguisse fazer diferente. facto de nos sentirmos mesmo velhas: o quê? Tenho um filho no 11º ano???
O mais velho é adolescente (16 anos), outro entre a pré-adolescência e a Como???? Como, se eu me lembro tão bem de mim no 11º ano???). Entre as
adolescência propriamente dita (com 13) e os outros dois ainda são crian- coisas boas estão a cumplicidade, o companheirismo, o deslumbramento
ças. Não posso – nem vou – falar de cátedra porque aprendi que quando de vermos o modo como olham o mundo, como estão atentos às notícias e
cuspimos para o ar, geralmente, cai-nos em cima. Não acho que tenha opinam sobre Política Interna, Ambiente, Economia ou Religião, como inter-
soluções milagrosas, até porque já assisti a modelos de educação muito pretam o que os rodeia. Ultimamente, o grande desafio tem sido ouvi-lo com
parecidos com o nosso que deram asneira, e outros contrários ao nosso ideologias que estão muito distantes das minhas. Discutimos acesamente e,
que correram na perfeição. Aquilo que corre bem com um pode correr mal por vezes, desisto de argumentar porque me assustam os seus pensamentos.
com o irmão. A liberdade que se dá a um pode transformar-se num erro Por outro lado, acho que faz tudo parte deste processo de crescer. Crescer é
fatal com o outro. É um enigma indecifrável. Resta-nos fazer o melhor que rasgar com o que está para trás. É fazer diferente. Pensar diferente.
sabemos, adaptando a cada filho, e termos a capacidade de nos irmos
moldando às circunstâncias.

FILHA ÉS, PAI SERÁS - E AGORA COM UM ADOLESCENTE EM CASA, COMO É?


Até ver, a adolescência do meu filho tem sido um mar-chão. O rapaz E já que ele não o fez através de borgas malucas (pelo menos para já) ou
estuda, tem vários grupos de amigos (de escolas diferentes onde andou), indisciplina ou insucesso escolar, creio que esteja a fazê-lo ideologicamente,
uma namorada. Optámos sempre por lhe dar a chamada liberdade com pondo-nos à prova, ensandecendo-nos, fazendo-nos pensar que se está a
responsabilidade. Ou seja: ele tem carta branca para ir, dentro das regras transformar num ser diametralmente oposto a nós. Mais uma vez, prefiro ver
estabelecidas, e se algum dia as falhar sem uma justificação suficiente- o copo meio cheio e alegro-me apenas com o facto de ele saber que tem a li-
mente forte, acaba-se a liberdade (porque se acaba a confiança). berdade de pensar diferente de nós. Que possa pensar pela sua cabeça e ver-
O que isto provocou nele foi um certo desprezo por essa liberdade. Como balizar sem que ninguém lhe diga que é parvo (apesar de às vezes apetecer).
ela é um dado adquirido, deixou de ser um desejo frenético. Raramente Ter um adolescente é um exercício para o qual é preciso flexibilidade, jogo de
nos pede para sair à noite, o que a mim me causa alguma estranheza, por- cintura, destreza mental. Dá trabalho. Mas é absolutamente fascinante (pelo
que, como disse no início, tudo o que eu queria era sair. Os amigos vêm cá a menos, para já. Não esquecer que ainda me faltam 3).
casa, ele vai a casa de amigos, de vez em quando jantam fora, e é tudo.

Sónia Morais Santos


AUTORA DO BLOGUE COCÓ NA FRALDA

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COMO PREPARAR A CHEGADA DA
ADOLESCÊNCIA DOS FILHOS & DICAS PARA
SE APROXIMAR DO SEU ADOLESCENTE
A ADOLESCÊNCIA PODE SER A FASE MAIS ESPETACULAR DA VIDA DE UM JOVEM. AS DESCOBERTAS, AS CERTEZAS E INCER-
TEZAS, O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO, ASSIM COMO A AUTONOMIA E A LIBERDADE, SÃO O INÍCIO DE UMA ETAPA
INCRÍVEL. DEIXAMOS AQUI 5 PONTOS ESSENCIAIS PARA QUE O INÍCIO E O CONTINUAR DA ADOLESCÊNCIA POSSAM SER
VIVIDOS COM O MAIOR PRAZER.

PREPARAR A ADOLESCÊNCIA QUANDO SÃO ADOLESCENTES


1. Estar presente 1. Alinhar-se

Educar dá trabalho e os primeiros anos podem ser cansativos, já que Pode dizer ao seu filho que o almoço está na mesa via WhatsApp. Também
a fraca autonomia das crianças exige maior presença da nossa parte. pode colocar o CD favorito dele a tocar no carro sempre que o vai buscar.
Estar presente não é apenas saber dar a resposta às necessidades Esteja atento aos gostos dele. Que tal surpreendê-lo com uns bilhetes para
básicas, como mudar a fralda, confecionar as refeições ou dar o o concerto daquele grupo que ele tanto gosta? Vá com ele! Não tem de
banho. É brincar, interessar-se e contar histórias, por exemplo. gostar, mas partilha com ele aquilo de que ele gosta. Isso não tem preço!

2. Ficar por perto


2. Envolver os miúdos nas tarefas domésticas
O seu filho está a ver uma série na sala? Sente-se ao pé dele a ler um livro
Como é que vai querer que o seu filho se envolva nas tarefas domés-
ou a ver a série também. Não tem de falar sobre o que viu, mas a proximi-
ticas aos 6 anos se, com 2 anos, lhe pede para ir para a sala brincar
dade, em doses moderadas, só traz vantagens.
porque se pode magoar consigo na cozinha? Dê-lhe tarefas à sua
altura, seguras, mas deixe-o participar. 3. Tratar da saúde

Se ainda não o fez, marque uma consulta no médico de saúde e deixe-o


3. Sentir-se tido e achado
ir sozinho. Se for preciso, marque também consulta de ginecologia para
É nas tarefas domésticas que falei acima que ele se sentirá envolvido a sua filha. Os filhos estão a crescer e não é porque estamos a fazer de
e tido e achado. Mas também se sentirá quando lhe faz o seu prato conta que isso não está a acontecer que a vida não continua. Ensine os
preferido, lhe mostra fotografias de quando era mais pequeno e lhe seus filhos a cuidarem deles, dando-lhes autonomia e responsabilidade -
fala com meiguice. tratarem da saúde deles é um dos exemplos. E eles agradecerão, quando
forem maiores, pelos bons hábitos que ganharam consigo.
4. Limitar e possibilitar
4. Continuar presente
Os limites são determinantes para que a criança se sinta segura. Não
Este é um ponto não negociável. Podem ir comprar um gelado ao fim da
tenha nunca receio de os colocar, mas procure fazê-lo respeitando-o.
rua a pé e aproveitarem para pôr a conversa em dia. De um ano para o outro,
O seu filho é pessoa a 100% tal como você.
deixe-os planear as férias - vai ver que se envolvem muito mais e têm mais gos-
to. Deixe-os mostrar aquilo que cada um deles vale! Puxe pelo melhor que têm
5. Criar momentos de intimidade
5. Encontrar outro adulto de referência.
É bom passarmos tempo com os amigos e com a família mais alarga-
da, mas, se deseja manter um canal de comunicação que se prolongue É importante estarmos perto, mas, de vez em quando, eles precisam de
até na idade adulta, precisa de criar momentos de intimidade onde outro confidente. Um primo mais velho, um tio mais novo ou a mãe de um
apenas está presente a família de casa. Este ponto vai dar-lhe crédi- amigo. Ajude o seu filho a ter esse outro adulto que o guiará sempre que
tos no futuro, porque é aqui que se constrói a intimidade em família. ele precisar.

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QUANDO NÃO FOI BEM
ASSIM QUE IMAGINÁMOS…
por Rita Pais Marques e Magda Gomes Dias

É DA NATUREZA HUMANA CRIAR SONHOS, EXPECTATIVAS E IDEIAS QUE SERVEM DE INSPIRAÇÃO PARA CONSTRUIRMOS OS
NOSSOS DIAS. É INEVITÁVEL, POR ISSO, QUANDO SE PENSA EM TER UM FILHO, PENSAR NO FUTURO QUE LHE QUEREMOS
DAR E NO QUE VAMåOS RECEBER, NUMA IDEIA DE INTERCÂMBIO DE AFECTOS, EXPERIÊNCIAS E CONSTRUÇÕES.

É o lado positivo das expectativas que nos ajuda a fazer acontecer as coisas, e nos dá ânimo, criativi-
• Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e
dade e força. O lado negativo das mesmas pode criar desilusões e frustrações que se podem prolongar
Intersexo
pela vida fora.
http://ilga-portugal.pt/ilga/index.php

Educamos os nossos filhos para que sejam autónomos e se responsabilizem pela sua felicidade. À me-
• Associação de jovens LGBT e apoiantes
dida que vão crescendo, é fundamental que percamos o poder de decidir na vida deles - afinal é assim
https://www.rea.pt/
que tem de ser. Mas há decisões que podem ser mais difíceis de serem aceites porque não as contem-
plámos quando, na altura, criámos a tal ideia de futuro. A orientação sexual é um dos temas só que ela
não é uma escolha porque faz parte de quem o jovem é. Uma pessoa não escolhe ser homossexual, ela
• Associação de apoio e defesa dos direitos
aceita-se. Daí que dizer-se que se faz esta escolha para provocar ou porque está na moda seja uma das
das lésbicas em Portugal
justificações que muitos pais parecem encontrar para explicar as decisões dos filhos.
https://pt-pt.facebook.com/pg/ClubeSafo/
about/?ref=page_internal
Como todos, os jovens são pessoas com identidades próprias, com uma vida que lhes pertence e com
uma necessidade grande de serem aceites por aquilo que são, pelos seus gostos e decisões. Desejam,
• Associação de Mães e Pais pela liberdade de
sobretudo, serem aceites pelos pais. Quando as expectativas destes em relação aos filhos são desa-
orientação sexual e identificação de género)
justadas podem começar os conflitos, a sensação de frustração, tristeza e raiva.
poderá ser uma ajuda preciosa. Esta foi criada
por pais de filhos homossexuais, que senti-
Aceitar algo que não estava previsto é um processo. Aceitar a homossexualidade de um filho é aceitar
ram falta de apoio durante o seu processo,
uma parte da sua natureza. Nesse processo é importante que saibamos escutar e conversar, expondo
com intuito de ajudar outros pais
as nossas questões sem acusar e sem receios, aceitando que pode ser difícil. Mantemos assim aberta
No entanto, a associação Amplos
a porta da comunicação e da proximidade. Porque se trata de um processo de desconstrução das
https://amplosbo.wordpress.com/
expectativas, dos sonhos e do futuro imaginado, alguns pais poderão beneficiar de uma ajuda extra
para trabalharem as suas crenças e preconceitos que podem minar a relação parental e até conjugal. A
melhor ajuda que as famílias podem ter é recorrendo a instituições e associações que prestem infor-
mação fidedigna e séria.

Rita Pais Marques


PROFESSORA

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OS NAMORADOS CIUMENTOS CONTINUAM A
SER POTENCIAIS BESTAS – PASSE O TEMPO
QUE PASSAR
por Paulo Farinha*

[*Paulo Farinha é jornalista, violentos? A tentar controlar a vida e relações frequentado mais sessões de aconselhamento
sociais do outro? sobre violência no namoro. Outros já terão dado
editor executivo da Notícias Ma-
Naquela manhã de junho de 2013, depois de uma chapadas às namoradas. Outros já terão ido aos
gazine, a revista de domingo do pesquisa na internet e de alguns telefonemas, telemóveis delas à procura de alguma coisa. Ou-
Diário de Notícias e do Jornal de escrevi aquela que se tornaria a crónica mais tros já terão opinado sobre a roupa delas. Outros
Notícias, onde assina as crónicas badalada de sempre com o meu nome associado já terão pedido a password do e-mail delas. E
[https://www.noticiasmagazine.pt/2014/o- todos eles, esses e os outros, já terão achado que
“Vida em Comum”. Pode ser lido
teu-namorado-de-16-anos-nao-e-nervoso-e-u- tudo isto é normal.
aqui: www.noticiasmagazine.pt.] ma-besta-3/]. Nos dois anos seguintes – e ainda Mas não é. Não era há quatro anos e meio, não era
hoje, pontualmente, os ecos vão-me chegando antes disso, não é agora, não será no futuro. Que-
Numa manhã de junho de 2013, enquanto me pre-
– aquele texto foi debatido em aulas de educação rer dominar e subjugar e controlar alguém não é
parava para escrever uma crónica sobre família
para a cidadania, falado em colóquios, distribuído normal. E quanto mais cedo ajudarmos os nossos
e relações para a Notícias Magazine da semana
entre professores, partilhado entre pais. jovens a ver isso (pela educação, mas também
seguinte, disse à minha mulher que pensava
Fiquei a saber, pelo que li para escrever, mas pelo exemplo), mais cedo erradicamos a violência
atirar-me a um tema que andava a martelar-me
sobretudo pelo alcance que a crónica teve, que os doméstica e as relações abusivas.
na cabeça há uns tempos. Ia escrever uma carta
miúdos que hoje são identificados pelos profes- Precisamos de medidas mais severas para levar a
para um marido agressor. Uma coisa em jeito de
sores como potencialmente violentos no namoro cabo essa tarefa. Mas educar os filhos que temos
desafio, confrontativa, dedo em riste. Queria
são os mesmos que um dia mais tarde poderão em casa é um excelente primeiro passo. Até para
falar de chapadas, murros, gritos mudos, anos de
vir a ser agressores nas relações. Agressores, eles não se reverem em crónicas como estas.
silêncio, cumplicidade dos vizinhos, álcool, ciúme,
mesmo. Desses com chapadas, murros, anos de
filhos a assistir. Queria chamar os bois pelos
silêncio, cumplicidade dos vizinhos, álcool, ciúme ----------
nomes. Literalmente.
e filhos a assistir. A crónica O teu namorado de 16 anos não é
«Por que não fazes isso, mas para miúdos do
nervoso, é uma besta, foi originalmente publicada
oitavo ano?»
Claro que há aqui uma questão de género que não na edição impressa da Notícias Magazine a 23 de
A Sofia é enfermeira, especialista em saúde
pode ser assumida de forma leve, linear ou sem junho de 2013 e pode ser lida AQUI.
infantil e pediátrica, e trabalha numa Unidade
margem para dúvidas. Nestas idades, a violência
de Cuidados na Comunidade. Entre as muitas
no namoro não é tanto física e ocorre de rapazes
responsabilidades que tem, falar com jovens
para raparigas, mas também de raparigas para ra-
sobre temas relacionados com saúde está entre
pazes – e elas conseguem ser bem cruéis e impla-
as mais importantes. Ora, naquela semana tinha
cáveis, entre a manipulação que exercem sobre
sido contactada por uma escola que pedia uma
os namorados e o bullying que por vezes fazem
sessão de esclarecimento/educação para alunos
em grupo. No oitavo ano, os agressores não são
do oitavo ano sobre violência no namoro.
necessariamente os rapazes que fazem exercer
Eu repito. Violência. No namoro. Para alunos do
a sua força física. São também as raparigas que
oitavo ano. Oitavo ano! Falamos de miúdos com
fazem exercer os jogos psicológicos. E isso não
13/14 anos. E havia uma escola que identificava
é menos violento do que um apertão no braço. É
aqui um problema nos comportamentos destes
apenas uma forma diferente de violência.
rapazes e raparigas, a ponto de pedir uma sessão
de esclarecimento/ajuda a um profissional de
Passaram quatro anos e meio desde que essa
saúde. Havia ali qualquer coisa que não batia Paulo Farinha
crónica foi publicada e os namorados de 16 anos
certo na minha cabeça. Então mas esta malta JORNALISTA, E DIRETOR EXECUTIVO
que não são nervosos, são umas bestas têm hoje
começa já, com esta idade, a ter comportamentos DA NOTÍCIAS MAGAZINE
20 anos e alguns deles possivelmente já terão

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TESTEMUNHO
por isabel Pina

Descobri o blog da Magda quando fui mãe pela


2ª vez e senti necessidade de adquirir mais
apresentam sintetizados num modelo próprio, ou
seja num quadro de referência teórico necessário PRÓXIMAS DATAS
conhecimentos, além dos que já tinha, que me ao suporte de qualquer prática profissional.
permitissem facilitar a adaptação da mais velha A este aspeto acresce o fato de o modelo não
ao irmão mais novo. A consulta pontual deu lugar surgir de uma simples revisão e síntese biblio- Pós-Graduação em
à frequente, pelo interesse que foi crescendo em gráfica ao nível da Parentalidade e da Educação Parentalidade
saber mais sobre o que se apresentava ser uma Positiva, de anos de experiência onde o mesmo
filosofia de ser pai e mãe, com base no respeito foi sendo implementado e testado com vista e Educação
mútuo, alicerçada em estratégias objetivas, sim- à sua aplicabilidade não só junto de técnicos e
ples e práticas sem que nenhuma delas passasse profissionais da área, mas acessível a qualquer
pelo recurso a qualquer tipo de prática punitiva.
Quando a Magda avançou com a Pós-graduação
pai/cuidador.
Finalmente sendo esta uma pós graduação que
PORTO
recordo-me da ambivalência que senti entre a
vontade de aprender mais sobre o tema e de
não se encontra destinada a um público-alvo
específico, acaba por indiretamente ser uma
20, 21 e 22 Abril
melhorar a minha atuação enquanto mãe e a
necessidade quase imperativa de aliar estes
experiência igualmente enriquecida pela “ba-
gagem” pessoal e profissional que cada um dos
LISBOA
conhecimentos à componente profissional, pelo formandos traz para o grupo, através da partilha Setembro
investimento que lhe estava inerente. Profis- de experiências e conhecimentos que é propor- cursos@parentalidadepositiva.com
sionalmente, o conceito em si não era novo, cionada ao longo desta formação.
mas impunha-se outra questão: teria esta a pós Decorrido mais de um ano após o término da
graduação a componente científica e credível que pós-graduação e olhando para trás continuo a
me permitisse realizar esta conciliação? considerar que foi uma excelente aposta pois
Felizmente resolvi colocar preconceitos e continuo a aplicar nos dois contextos os conheci-
estereótipos de parte e arriscar. Tive o privilégio mentos que adquiri. Mais recentemente foi ainda
de fazer parte da 1ª edição da pós-graduação e com muito agrado que constatei a aplicabilidade
vivenciar a experiência de superar expectativas. prática do modelo em contextos de interven-
Pessoalmente e enquanto mãe, a pós-graduação ção psicológica junto de crianças com alguns
veio reforçar e contribuir para a melhoria das mi- diagnósticos de perturbação específica, o que só
nhas próprias competências parentais, conforme veio reforçar o que eu já antevia: todo o potencial
esperava. Profissionalmente foi uma agradável que o modelo encerra em si e que desafio quem
descoberta, constatar não só que efetivamente quiser saber mais a conhecer.
todos os conhecimentos transmitidos se encon-
tram assentes num conjunto de referências teóri- Isabel Pina
cas e bibliográficas sólidas, mas também, que se PSICÓLOGA E PSICOTERAPEUTA

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EMPREENDEDORISMO E
A ADOLESCÊNCIA - PERFIl

É comum dizer-se que um


adolescente não sabe o
que quer, pouco faz e que
não é ambicioso. Mas a
verdade é que todos os
miúdos têm capacidades
incríveis que merecem ser
exploradas e apoiadas.
É o caso do Rodrigo e do
Duarte, que se deixaram
ir e se apaixonaram pelo Rodrigo, lisboeta a viver em Londres. 20 anos.
Realização.
Duarte, lisboeta, 19 anos. Escrita e outros
projetos
que fazem atualmente. Por Escolheu Humanidades “um pouco por força da Duarte tem 19 anos e é lisboeta puro - nascido e
vezes, basta um pequeno indecisão” que tinha relativamente aos estudos e
pelo facto de não gostar de Matemática nem de
criado. Escolheu Economia no 9º ano, mas foi no
11º ano que descobriu a escrita. Foi no jornal Pa-
voto de confiança para que Ciências. Sempre gostou de escrever e de contar norâmico que teve o seu primeiro emprego como
possam ser mais empreen- histórias, de ler e de ver filmes. Foi no 11º ano
que descobriu o formato do guião (roteiro de
gestor de redes sociais e escritor/cronista.
Em 2017, altura em que já frequentava o curso
dedores e conseguirem cinema) e que passou a explorar a ideia de poder de Estudos de Cultura e Comunicação, decidiu
conquistar o seu lugar ao escrever para cinema. Apaixonou-se especifi-
camente por cinema quando fez o Foundation
concorrer a uma posição de crítico/jornalista na
revista musical online Punch Magazine, manten-
sol… ou, pelo menos, para Year na University of the Arts London em Artes e do-se aí até hoje. Nesse mesmo ano publicou o
lá caminharem! Audiovisuais. O que era para ser um ano de expe-
rimentação acabou por ser mais três, para fazer
livro Entre o Sono e o Sonho, uma coletânea de
poemas portugueses.
uma licenciatura em Realização Cinematográfica. Em 2018, deseja ir mais longe: ambiciona alargar
Sempre soube que queria regressar a Portugal - a e desenvolver projetos pessoais, como a foto-
vida de emigrante não tinha sido fácil e queria ga- grafia, marketing e apoio a causas sociais. Como
rantir um bom percurso quando chegasse a Portu- o Rodrigo, a “procissão ainda vai no adro” e estes
gal. Rodrigo desejava ser considerado como uma dois jovens ainda vão dar que falar.
pessoa criativa, capaz de desenvolver projetos. O
percurso ganhou nomes de referência e, no início
de 2018, lançou o projeto Vila Martel. O gosto pela
escrita e pelo cinema fundiu-se também quando
passou a escrever críticas para jornais online e
blogs especializados na sétima arte.

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QUANDO OS ADOLESCENTES SAEM
DA SUA DA ZONA DE CONFORTO
Por Joana Barreiros e Magda Gomes Dias

Aos 15 anos, Teresa inscreveu-se num programa de intercâmbio e realizou o 11º ano integrada numa
família austríaca. A vontade de aprender uma língua nova, conhecer uma cultura diferente e viver num
ES
sítio com neve e temperaturas baixas ditou a escolha do país. Também fez a vontade aos pais não indo RIÇÕ
para fora da Europa, mantendo a proximidade de segurança. Teresa é a primeira a sublinhar a impor- INSC TAS
tância de um programa desta natureza nesta altura da vida «pois permite desconstruir uma série de ABER
ideias, dar mais valor ao que se tem, crescer e, claro, ganhar casas em muitos lados».
Os pais não tiveram grande tempo para reagir. “Recordo-me que foi numa terça feira à noite. Disse-nos
que tinha um assunto para falar connosco e que tínhamos até sexta feira (dessa mesma semana) para
decidir, pois as inscrições terminavam nesse dia», conta a mãe. Apesar da surpresa inicial, Teresa pôde
sempre contar com o apoio dos pais. Este apoio reside «única e exclusivamente na maturidade dos
filhos e na confiança que neles depositamos», revela a mãe.
Talvez a maior barreira tenha sido mesmo a língua, porque a impedia de ter conversas ‘de café’. E isto
dava-lhe a sensação de que as pessoas não a conheciam em condições. Com o aumento do domínio da
língua, essas limitações foram desaparecendo.

Há amigos que ficaram para a vida e outros que lhe são ainda muito próximos. Com a família que a aco-
lheu fala frequentemente. No ano passado, apareceu de surpresa nos 50 anos da «mãe» (é assim que
se tratam neste intercâmbio). O mundo ficou, por isso, «pequeno demais», diz a mãe de Teresa.
Mas ela ganhou mais do que isto. «Aprendi imenso sobre mim, conheci-me melhor, fiquei mais autocon-
fiante, engordei bastante, mas chegava a um sítio e sentia-me mais segura”». Conta que, graças a uma A AUTO-ESTIMA
das amigas que fez e a uma situação que viveu, aprendeu a lidar melhor com as pessoas e a adaptar-se.
As diferenças entre países e culturas podem ser grandes e esta experiência foi determinante para se DA CRIANÇA E
livrar de alguns tabus e desconstruir algumas ideias. DO ADOLESCENTE
Apesar de também haver momentos mais duros, a confiança e as competências que desenvolveu e
o apoio dos pais foram muito importantes. A mãe segue a mesma linha de pensamento, acreditando
que este programa a ajudou a aprender a resolver os pequenos e grandes problemas do dia-a-dia, em
relação à escola, aos amigos, à família.
A Teresa falava com Portugal via Skype sempre que tinha necessidade. «Chegámos a estar sem nos
falar um mês! A nossa necessidade de a “ver” e de “falar” com ela passou para segundo plano». Este in- PORTO | 21 MARÇO | 10h00 -17h00
tervalo entre comunicações deveu-se a uma sugestão dos promotores do intercâmbio, para que exista
parentalidadepositiva.com
uma maior integração na nova realidade, sugestão esta que a Teresa decidiu seguir. O apoio dos pais
fortaleceu a relação e permitiu-lhe dar mais valor ao que tinha «cá», quer em relação à família como
também ao país, ao sol e aos afetos.
O regresso foi tranquilo. Na família, como o irmão mais velho disse, parecia que nunca se tinha ido
embora. A surpresa veio em relação aos amigos que a esperavam, em peso, no aeroporto. Estivera um
ano ausente, mas os laços continuavam fortes. «O que se ganha é universal», diz Teresa, via Skype, hoje
com 19 anos, no seu quarto que exibe a bandeira da Áustria, autografada por cada um desses amigos
que marcaram esta experiência inesquecível.

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FORA DE CONTEXTO
por Francisca Barreiros

Já longe das noticias, só à pequena ilha de Lesbos continuam a chegar cen-


tenas depessoas por semana. Juntam-se aos milhares que aí as esperam
em campossobrelotados. E eu, no Verão passado, decidir ir conhecê-las.
Queria ver para lá dasfotografias e saber mais do que as histórias que
saem nos media. Queria descobrir os seus nomes, ver-lhes as caras e ouvir
os seus sonhos. Se possível, auscultar-lhes os corações. E assim foi.

Chegada à ilha, conheci um dos campos de refugiados que aí existem, e


onde iria passar a grande parte dos meus dois meses. Chama-se Kara Tepe
e as crianças representam a maioria da sua população. Não falavam a mes-
ma língua que eu, mas as poucas palavras que foram aprendendo de inglês
foram suficientes para nos entendermos. Quando se reduzem as palavras,
descomplicam-se também as ideias e simplifica-se o coração. É bom.

Os seus sorrisos fizeram-me esquecer de onde vieram e os gritos e


gargalhadas abafaram as histórias mais tristes que trouxeram. Parecem
felizes e pergunto-me se são. A sua inocência traz-lhes pelo menos algum
descanso. Não sabem o que trouxe as suas famílias até ali e os dias ao sol
chegam até a ser animados.

Os irmãos mais velhos e os pais não têm mesma sorte. Sabem do que
fogem e que esperanças traziam no coração. Sabem o que deixaram para
trás. Sentem na pele que as condições em que se encontram são fruto da
indiferença de muitos, e que há pouca vontade de os receber neste novo
continente. Como os admiro! Obrigados a fugir das suas casas e detidos
na Grécia há meses, sem qualquer perspetiva de futuro, não deixam de
acreditar que vale a pena viver. As relações familiares são muito fortes e o
dever de cuidar do outro não se deixa abalar pelo futuro incerto.

Comi com famílias sírias, aprendi danças afegãs e falei em português com
muitos congolenses que passaram por angola. Percebi como o preconceito
desaparece quando conhecemos aquilo que até então era estranho. Tantos
nomes árabes que agora me trazem memórias boas em vez de associar
a terroristas. Tantas músicas que me fazem ter saudades em vez de cau-
sarem estranheza. Tantas histórias e sonhos tão parecidos com os meus,
apenas com uma grande dose de pouca sorte.

Sabia antes e sei agora que não há uma solução óbvia para esta crise de
refugiados.
Que não são (?) simples os muitíssimos desafios que com ela se levantam.
Mas não consigo deixar de acreditar, de forma também simples e óbvia,
que somos todos humanos e é-nos, por isso, inerente a mesma dignidade.
Se não perdermos isso de vista, a resposta que a Europa precisa de dar
não será tão complexa assim

Francisca Barreiros
ADVOGADA

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