Você está na página 1de 16

Poética modulada

AGUINALDO JOSÉ GONÇALVES

E
ste ensaio se inicia determinando os pro-
pósitos que o conduzirão: primeiramente
homenagear a Revista USP pelo seu qüin-
quagésimo número de produção crítica e
literária sempre preocupada em apreender
e apresentar o que há de mais relevante no pensamen-
to crítico da literatura nacional e internacional; de-
pois, dar continuidade a uma questão de estética ou
de poética que vem dominando nosso pensamento há
algum tempo: trata-se do procedimento de modula-
ção em arte e, especificamente, em literatura. Escre-
vemos sobre o assunto no número 81-82 do Bulletin
des Études Valéryennes (Université Paul Valèry,
Montpellier III), publicado em 1999, cujo dossiê es-
pecial foi Mallarmé / Valéry: Poétiques pelos cem
anos de morte de Stéphane Mallarmé. O ensaio deno-
minado Stéphane Mallarmé, Paul Valéry: une Pensée
Abstraite quis prestar uma homenagem ao pensamento

130 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


de algumas reflexões do poeta francês
correspondentes às idéias ressonantes
nos poucos fragmentos escritos pelo
pintor Paul Cèzanne ao também re-
AGUINALDO JOSÉ fletir sobre o processo de composição
GONÇALVES é professor
de Teoria Literária e de da pintura – a questão da modulação
Literatura Comparada da
Unesp – campus de São como terceira e última etapa do traba-
José do Rio Preto – e
autor de, entre outros, lho artístico. A correspondência entre
Transição e Permanência.
Miró/João Cabral: da Tela as idéias desses dois mestres da moder-
ao Texto (Iluminuras) e nidade aponta para uma questão deci-
Vermelho (Ateliê Editorial).
siva da poética contemporânea que
deita luz nas questões da criação artís-
tica. Mallarmé e Cézanne realizaram
uma obra modulada em alto grau e
sobre isso refletiram. Com isso have-
riam de iluminar o que estava por vir:
todo o trilhar do século XX, com suas
luzes e sombras indiscutivelmente fan-
tásticas que acabamos de vivenciar e
poético de Mallarmé que teve conti- que ainda ressoa em nossos ouvidos e
nuidade em Valéry tratando de uma em nosso corpo inteiro dele imbuído
questão extremamente cara ao com- e nele refletido, com os braços aber-
positor de Un Coup de Dés…: os as- tos, e com unhas enormes arranhando
pectos da modulação em poesia. Ao as paredes dos novecentos, por um
me dispor, portanto, à escritura des- lado, e, por outro, com unhas curtas,
te ensaio, voltei ao mesmo motivo, mas muito curtas, tentando arranhar os
agora tendo como objeto a poética de contornos dos últimos suspiros do
Marcel Proust anunciando algumas século XX. Enquanto isso, com olhos
conexões com a de Machado de Assis. baços e medrosos, pés trôpegos e asas
É evidente que nos referimos àquelas quedas, miramos a linha do horizonte
obras dos dois autores que atingiram nublada e profusa deste primeiro ano
alto grau de modulação; respectiva- do século XXI. Porém é daqui, do alto
mente: Em Busca do Tempo Perdido da colina deste século que, com os
e os cinco últimos romances de Ma- olhos firmes, mais uma vez volta-
chado de Assis. mos a cem anos e tentamos compre-
Portanto, a raiz deste ensaio está no ender esse fundamento estético nos
outro, inspirado em pontos esparsos valendo de dois contemporâneos de

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 131


Mallarmé: Marcel Proust e Machado de melhantes em obras diferentes; remetiam
Assis. Os procedimentos construtivos da ainda a percepções muitas vezes irônicas
obra de arte – e seja ela de qualquer natu- de personagens e trejeitos opostos de nar-
reza – passam por determinadas etapas sem rativas que se distinguiam muito e ao mes-
as quais o que se terá como resultado será mo tempo se pareciam ou se remetiam: o
alguma coisa que tende a querer ser arte espaço poético da narrativa de Machado de
mas que não cumpre seus intentos. Na ver- Assis e de Marcel Proust. Evidentemente,
dade, a noção de “arquitetura” que norteia diferenças fundamentais se impõem entre
o princípio de construção da obra de arte as duas narrativas: parágrafos curtos em
requer três etapas ou três níveis de elabora- um para longos períodos que se desdobram
ção que, olhando sob o prisma da represen- infinitamente, em outro; as diferenças de
tação, entenderíamos como três níveis ou vozes e modos narrativos que denunciam
três instâncias da mímesis. fluxos e intermeios de imagens distintas e
Na produção poética de Mallarmé é pos- desenhos de estilos singulares, cada um a
sível verificar esse procedimento estético sua maneira. Entretanto, não é semelhança
de maneira muito clara, apesar do grau de de estilos que nos tomam pelas mãos para
complexidade que o envolve. Como se sabe, olhar para esses dois grandes narradores
não é extensa a obra poética de Mallarmé. que foram coetâneos na passagem do sécu-
Seus poemas, sobretudo alguns so- lo XIX para o século XX. À la Recherche
netos, foram reescritos várias vezes antes du Temps Perdu é obra composta por sete
de serem publicados. Da mesma forma, volumes, que parecem criar um verdadeiro
quanto mais Paul Cèzanne evoluía na cria- meandro divagante, em que as águas entre-
ção de seus quadros, avançando no seu ama- meiam cada ilha, e cada uma delas nomea-
durecimento estético, mais deixava de va- da, individualizada (No Caminho de Swann,
riar nos modelos utilizados, retomando em À Sombra das Raparigas em Flor, O Cami-
cada quadro o motivo do quadro anterior, nho de Guermantes, Sodoma e Gomorra, A
buscando na enformação estética uma de- Prisioneira, A Fugitiva, O Tempo Redesco-
puração no ato de modular. berto), mas ao mesmo tempo voltando sem-
pre aos mesmos pontos, aos mesmos moti-
vos, como na música, e ressoando uma em
outra de modo tal que nos deixamos perder
pelas fontes da memória voluntária, a me-
COMPOR, REALIZAR, MODULAR: mória da lembrança, enquanto outros redu-
tos do imemorial parecem ressurgir do fun-
ALGUNS PROCEDIMENTOS do e se manifestar pelas sensações mais
recônditas do ser. Num brilhante ensaio
CONVERGENTES EM MARCEL denominado “Proust et les Noms”, parte de
Le Degré Zéro de l’Écriture suivi de
PROUST E MACHADO DE ASSIS Nouveaux Essais Critiques (1972), Roland
Barthes, após definir À la Recherche du
Jamais imaginara correspondências tão Temps Perdu como a “história de uma es-
profundas de formas e modos chegando a critura”, divide a obra como se se tratasse
me defrontar com correspondência de vi- de um drama em três atos: no primeiro,
são antes de penetrar mais intimamente na- enuncia-se a vontade de escrever; no se-
queles dois laboratórios de experiências gundo e longo ato enuncia-se a impotência
ficcionais e/ou miméticas. Nas primeiras de escrever; e, finalmente, depois de esca-
instâncias de leitura, sentia apenas certo par-lhe todas as esperanças, o narrador se
perfume a distância, alguns debuxos, al- depara com todo o poder de escrever.
guns arquipélagos de estilo que pareciam Barthes explicita o movimento narrativo
me remeter a nomes distantes em outros da obra, mostrando o paralelo entre o per-
romances, dos dois autores, sensações se- sonagem narrador Marcel e o narrador que

132 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


se vale de ingredientes da vida do autor de linguagem; do mesmo modo se constrói
para desenvolver a sua escritura ficcional: o universo proustiano, pertencente a uma
esfera essencialmente poética. Entretanto,
“On ne cherche pas ici à expliquer l’oeuvre é necessário que ambos os universos, o das
de Proust par sa vie; on traite seulement reminiscências e o do fato lingüístico, te-
d’actes intérieurs au discours lui-même (en nham o poder de constituir a essência dos
conséquence, poétiques et non objetos romanescos. O saber distinguir e
biographiques), que ce discours soit celui ao mesmo tempo relacionar o entrecruzar
du narrateur ou celui de Marcel Proust. dos dois discursos que formam a narrativa
Or, l’homologie qui, de toute évidence, parece-nos relevante para que se possam
règle les deux discours, appelle un compreender suas vozes. Discursos que
dénouement symétrique: il faut qu’à la encontraram nos procedimentos mais varia-
fondation de l’écriture par la réminiscence dos e conjugados da linguagem os cami-
(chez le narrateur) corresponde (chez nhos para que se fizessem emergir, com a
Proust) quelque découverte semblable, profundidade devida, as categorias da me-
propre à fonder définitivement, dans sa mória e as fabricações de espaços difíceis
continuité prochaine, toute l’écriture de la de se criar, a não ser pelos caminhos trilha-
Recherche” (loc. cit., p. 124). dos pelo escritor.
O laboratório inventivo de Machado de
Ainda para Barthes, os dois discursos, o Assis durou por volta de vinte anos (entre os
do narrador e o de Marcel Proust, são anos 60 e 80). Ele se constituiu dos variados
homólogos, mas não pontualmente análo- gêneros desenvolvidos pelo autor. Entende-
gos. Enquanto o narrador vai escrever, num mos não ter sido ao acaso o fato de ele ter se
ato futuro que o coloca na ordem da exis- exercitado em tantas formas de criar: as crô-
tência, Marcel Proust escreve, colocando- nicas, os contos, as poesias, o teatro com
se na ordem da palavra; o narrador se pren- características que jamais ousaria chamar
de a uma psicologia; Marcel Proust se mune de românticas; exercícios de crítica literá-
de uma técnica: luta com as categorias da ria, chegando até mesmo a realizar grandes
linguagem e não com as categorias do com- ensaios como é o caso de “Primo Basílio” e
portamento. Machado de Assis também “Espírito de Nacionalidade”.
desenvolve uma longa narrativa que, ape- A consciência de Proust sobre o valor
sar de não conferir receber, como em Proust, dos signos e do poder que possui o artista
um nome que conjugue todos os romances em metamorfoseá-los em signo estético
(refiro-me aos cinco romances escritos a manifesta-se, não apenas no efeito expres-
partir de 1881: Memórias Póstumas de Brás sivo de sua obra, mas também em várias
Cubas; Quincas Borba; Dom Casmurro; passagens em que mais declaradamente
Esaú e Jacó e Memorial de Aires), revela expõe suas idéias sobre arte e invenção.
uma notável relação que forma no conjun- Pode-se dizer que essa consciência coinci-
to da obra um verdadeiro périplo, marcado, de com seu modo de conceber o estilo, que
como em Proust, não com as categorias do se relaciona diretamente à visão: “o estilo
comportamento mas com as categorias da para o escritor como para o pintor é um
linguagem. Essas categorias da linguagem, problema, não de técnica, mas de visão”
em Machado, focalizam, sobretudo, o tra- (T. R., p. 142). E isso se concretiza pelo
balho do narrador; a dimensão discursiva caminho da própria arte que se fabrica e se
desenvolvida numa poética da retórica, por apresenta como único meio de leitura des-
procedimentos composicionais que passam sa inexorável condição. Essa crítica inter-
a gerar semioses ilimitadas por meio do na ao próprio trabalho poético-ficcional
que denominaríamos de figuras. O univer- talvez seja o ponto alto da conjunção cons-
so das reminiscências do narrador é da or- trutiva dos dois escritores. De uma manei-
dem das referências do mundo que se ra mais determinada, Machado de Assis
transmudam uma vez postas em condição desenvolveu um trabalho crítico mais defi-

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 133


nido. Em Marcel Proust as coisas ficaram rimentos intermináveis surtem resultados
um pouco mais difusas, voltadas para as positivos, mesmo havendo concomitância
realizações de pastiches, comentários me- de composições alquímicas. Trata-se de um
nos definidos enquanto crítica literária, procedimento que tem como objetivo apre-
prefácios que se tornaram textos ensaísticos ender os filamentos da existência em suas
e pequenos artigos em jornais. Mas, dife- dimensões tensivas, por meio do único ins-
rentemente de Machado, Proust realizou trumento de que dispõe a linguagem eleva-
alguns estudos sobre autores de sua predi- da à sua mais alta potência. À la Recherche
leção como foi o caso de Flaubert, Balzac, du Temps Perdu é areia movediça que nos
Baudelaire, Nerval, e demonstrou sua “ira traga, mas não nos mata, devolvendo-nos à
crítica” em relação a Sainte Beuve. Enfim, terra firme, alterados, mas com a sensação
podemos assinalar que ambos os artistas de termos aprendido um pouco mais sobre
possuem esse poder e essa competência nossa própria condição. Esses índices me-
crítica e eram genuínos leitores da tradição tafóricos utilizados para definir o estilo de
e de si mesmos. As forças do estilo são Proust parecem atuar como tratamento
cabais tanto no escritor francês, quanto no homeopático. É assim que também pensa
brasileiro. Elas operam por simetria nesse Roger Shattuk, para quem talvez seja me-
discurso, mas se trata de uma simetria dis- lhor ler Proust como se fosse um tipo de
tinta daquela dos ladrilhos e dos azulejos. cura homeopática ou uma iniciação a estra-
Em Marcel Proust o estilo denuncia uma nhos movimentos físicos e mentais de-
estranha simetria, constituída por arpejos senvolvidos por uma outra cultura. “Um
sintáticos e fricção léxico-semântica, ajus- compasso uniforme, vagaroso, sem a ten-
tes morfológicos de substantivos e adjeti- são de prazos estabelecidos, é mais con-
vos concretos, versos interditos que pare- veniente. Certos hábitos de pensamento
cem provocar efeitos raramente consegui- podem, assim, ser postos de lado, enquan-
dos pela poesia. Esse estilo vai deixando to outros são adquiridos. Isso pode levar
rastros na nossa memória vivencial e cultu- meses e até anos. A Busca cria uma esta-
ral por um processo remissivo, associativo. ção da mente fora dos limites temporais”
Nos romances de Machado de Assis, a for- (1985, p. 32).
ça do estilo também se manifesta numa Mas esses movimentos físicos e men-
relação de profunda simetria advindo de tais a que se refere Shattuk manifestados
efeito e não de lavor. A articulação por índices metafóricos podem ser vistos e
composicional, ou a motivação composi- lidos em muitas das passagens da obra de
cional para lembrar o formalista russo B. Machado de Assis. Seriam as “pérolas” de
Tomachevski, realizada na construção dos que fala Shattuk comentando o estilo de
cinco romances revela uma consciência Proust. À guisa de exemplo e realizando
arquitetônica da literatura que poderia ra- um procedimento crítico em diagonal, con-
ramente ser comparada com outro escritor vido o leitor a ler ou provavelmente a reler
que não seja Marcel Proust. Se a obra de esta conhecida passagem do romance Dom
Proust serviu a G. Genétte como maté- Casmurro extraída do capítulo “Olhos de
ria-prima para a elaboração de sua teoria, Ressaca”:
provavelmente a de Machado de Assis va-
leria do mesmo modo para criar outro de- “Deixe ver os olhos, Capitu.
senho teórico. Somente os jogos discursivos Tinha-me lembrado a definição que José
no que diz respeito ao foco narrativo nos Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e
cinco romances que vão de Memórias Pós- dissimulada’. Eu não sabia o que era oblí-
tumas de Brás Cubas a Memorial de Aires qua, mas dissimulada sabia, e queria ver se
já merecem um capítulo especial de um se podiam chamar assim. Capitu deixou-se
estudo desta poética. fitar e examinar. Só me perguntava o que
À la Recherche du Temps Perdu consis- era, se nunca os vira; eu nada achei extra-
te numa espécie de laboratório cujos expe- ordinário; a cor e a doçura eram minhas

134 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


conhecidas. A demora da contemplação assinalar os procedimentos poético-
creio que lhe deu outra idéia do meu inten- -discursivos articulados da primeira à úl-
to; imaginou que era um pretexto para mirá- tima palavra que compõem esse tecido
los mais de perto, com os meus olhos lon- que parece mais espesso que os cabelos
gos, constantes, enfiados neles, e a isto atri- de Capitu, que na verdade metaforizam
buo que entrassem a ficar crescidos, cres- os fios da literariedade nas mãos do narrador
cidos e sombrios, com tal expressão que… do romance. A obliqüidade ou a dissi-
Retórica dos namorados, dá-me uma com- mulação dos olhos de Capitu corres-
paração exata e poética para dizer o que pondem à própria obliqüidade ou dissi-
foram aqueles olhos de Capitu. Não me mulação do capítulo ou da própria litera-
acode imagem capaz de dizer, sem quebra tura, vista no seu movimento natural, ou
da dignidade do estilo, o que eles foram e seja, no seu movimento centrípeto, na
me disseram. Olhos de ressaca? Vá, de res- lúcida concepção de Northrop Frye. Ao
saca. É o que me dá idéia daquela feição pseudo-ironizar seu discurso como sen-
nova. Traziam não sei que fluido misterio- do “retórica dos namorados”, metapoeti-
so e enérgico, uma força que arrastava para camente o narrador entra para uma espé-
dentro, como a vaga que se retira da praia, cie de esfera mítica da linguagem, que se
nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, vale dos olhos mergulhados nos olhos de
agarrei-me às outras partes vizinhas, às ore- ressaca e vai construindo o que Proust
lhas, aos braços, aos cabelos espalhados denominaria de “metáfora precisa”, que
pelos ombros, mas tão depressa buscava as nada mais é que linguagem em alto grau
pupilas, a onda que saía delas vinha cres- de eficácia por ter atingido um alto grau
cendo, cava e escura, ameaçando envol- de modulação. Pois, além de ser compos-
ver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos to, é fundamental que o texto seja modu-
minutos gastamos naquele jogo? Só os re- lado, para recuperar aqui os princípios
lógios do céu terão marcado esse tempo de reflexão de Mallarmé e Cézanne.
infinito e breve. A eternidade tem as suas Durante a leitura, muitos são os momen-
pêndulas; nem por não acabar nunca deixa tos em que sentimos um pulsar distante
de querer saber a duração das felicidades e de sentimentos vagos e profundos, pró-
dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem- ximos daqueles que nos provocam a
aventurados do céu conhecer a soma dos música pura, mas com uma natureza pró-
tormentos que já terão padecido no inferno pria, que mobiliza nossa memória, não a
os seus inimigos; assim também a quanti- voluntária, mas a memória das sensações,
dade das delícias que terão gozado no céu de um viver não lembrado mas recorda-
os seus desafetos aumentará as dores aos do, ou de pontos imemorializados que pa-
condenados do inferno. Este outro suplício recem voltar trôpegos e indefinidos e, por
escapou ao divino Dante; mas eu não estou isso mesmo, determinantes.
aqui para emendar poetas. Estou para con- No que diz respeito a Proust, tem razão
tar que, ao cabo de um tempo não marcado, Shattuk quando diz que, tanto na tradução
agarrei-me definitivamente aos cabelos de como no original, Proust torna a maior
Capitu, mas então com as mãos, e disse- parte de seus leitores mais lentos. Essa
lhe, – para dizer alguma cousa, – que era lentidão atua como uma espécie de reedu-
capaz de os pentear, se quisesse. cação do leitor que não consegue encon-
— Você? trar a rápida fluência na maioria dos cha-
— Eu mesmo. mados romances “realistas” do século XX,
— Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim. nem encontrar os procedimentos narrati-
— Se embaraçar, você desembaraça depois. vos mais “atraentes” de frases curtas, por
— Vamos ver.” meio de técnicas mais originais, de outras
tantas invenções romanescas. O discurso
Não é o propósito deste texto analisar a proustiano é difícil e longo, entretanto,
narrativa de Machado de Assis, mas vale envolvente e claro.

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 135


personalle de l’esprit, la lecture tend à se
ESTILO E VISÃO EM MARCEL substituer à elle, quand la verité ne nous
apparaît plus comme un idéal que nous ne
PROUST pouvons réaliser que par le progrès intime
de notre pensée et par l’effort de notre
Até aqui, anunciamos algumas corres- coeur, mais comme une chose matérielle,
pondências entre o processo de invenção déposée entre les feuillets des livres comme
de Marcel Proust e o de Machado de Assis. un miel tout préparé par les autres et que
Quisemos anunciá-las como uma forma de nous n’avons qu’à prendre la peine
prenúncio crítico do que vimos desenvol- d’atteindre sur les rayons des bibliothèques
vendo num trabalho maior. Nas páginas que et de déguster passivement dans un parfait
se seguirão deter-nos-emos em alguns as- repos de corps et d’esprit” (1987, p. 73).
pectos do estilo modulado de Marcel Proust
até para melhor aclimatizá-lo junto ao pú- Marcel Proust antecipa, não apenas
blico brasileiro. nesta passagem, mas em todo o texto sobre
Os setenta e cinco anos de morte do a leitura, aspectos de suma importância que
escritor francês assistem a uma prolifera- seriam apenas discutidos de maneira mais
ção cada vez maior de publicações de sua sistematizada pelos teóricos da recepção
obra e de estudos a ela dedicados. Dentre as alemã. Aponta, como se pode notar, para a
várias hipóteses que poderiam justificar este necessidade de um dinamismo na leitura
fenômeno, uma parece decisiva: a obra de entre o leitor e o texto para que se operem
Marcel Proust constitui-se de um verda- as forças fundamentais para a mobilização
deiro sistema crítico-inventivo, em que se e crescimento interior do leitor. Ao mesmo
alinhavam outros tantos, por meio de um tempo critica a leitura passiva em que não
eixo mobilizador que suscita planos de sen- se dá o processo dialógico responsável pelos
tidos capazes de abarcar vários níveis de atos transformadores e propulsores do nos-
compreensão. Pode-se dizer que esse eixo so mundo particular. Durante toda a sua
atua como uma metáfora nublada na mar- obra, sua atitude crítica se manifesta por
cha das palavras proustianas, cujas raízes meio das personagens, como receptoras não
se expandem por camadas espessas e segu- apenas de literatura mas também das de-
ras, escondidas enquanto não flagradas, e mais artes, sobretudo a pintura. Sua visão
deslizantes ao se revelarem em relações de se esparge por todos os lugares de seu tra-
sentido amalgamadas na “arquitetura da balho de arte. É exatamente por isso que
imagem”, erigida com a força do universo não se pode fazer, principalmente dessa
verbal. Suas precisas vertentes têm tido o obra, espaço de explicações textuais, mas
poder de atingir as mais diferentes esferas espaço para o dialogismo, que fez parte de
de visão, os mais diferentes pontos de vis- seu processo de invenção e que lhe custou
ta. A abertura de seu compasso exige pas- todo o embasamento de sua concepção
sos de espera do leitor virtual. Vale, nesse sobre arte.
sentido, lermos um fragmento do próprio Os dois pólos da linguagem (a referen-
Proust, extraído de seu brilhante ensaio “Sur cialidade do discurso crítico e a poeticidade
la Lecture” que precede a edição francesa do discurso literário) encontram-se em ten-
Sésame et les Lys de John Ruskin: são permanente, mediados pela função
metalingüística. Ao mesmo tempo que
“Tant que la lecture est pour nous “exercitava” ou “arquitetava” sua obra,
l’initriatrice dont les clefs magiques nous mantinha-se integrado aos seus contempo-
ouvrent au fond de nous mêmes la porte râneos, atento para a visão dos mais proe-
des demeures où nous n’aurions pas su minentes críticos da época, mantendo na
pénétrer, son rôle dans notre vie est sua mira os artistas e os críticos mais repre-
salutaire. Il devient dangereux au contraire sentativos do passado. Sua posição sempre
quand, au lieu de nous éveiller à la vie foi de perquiridor, questionando e respon-

136 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


dendo, sem radicalismos, a toda a sorte de patamar de um juízo ou conseguia ler e
posicionamentos. Esse permanente exer- refletir dentro das mais diferentes dimen-
cício de “limpeza” conferiu-lhe uma gran- sões de uma obra. Demonstra, pelo seu pos-
de recompensa: jamais se deixou levar pe- tulado crítico, ter-se envolvido com tudo o
las águas da retórica fácil e cristalizada, ao que por ele passou, lendo Homero e
contrário, execrou-a de seu território e dela Virgílio; lendo Racine e Boileau; lendo
apenas se valeu como recurso paródico para Balzac e Stendhal; lendo George Sand,
a construção de sua fina ironia, seja na fic- Béranger, mas também George Eliot e
ção propriamente dita, seja nos ensaios Flaubert; lendo Hugo e Baudelaire, e as-
quase sempre permeados de invenção, es- sim, possuindo um pensamento
paço em que aponta com mais transparên- comparativista por excelência, soube esta-
cia para os descaminhos da crítica. belecer as medidas para cada juízo, perce-
O desmesurado e obsessivo respeito aos bendo os grandes valores, sem jamais,
cânones, marcado pela “correção gramati- mesmo em relação a eles, deixar de apontar
cal” e pela “linearidade semântica”, e o seus pontos frágeis na construção do estilo.
distanciamento do que é singular no estilo Acompanhava de perto as novas produções
– dois aspectos tão marcantes na maioria literárias e artísticas, tendo conhecimento
das produções e defendidos pela maioria das antigas, e era neste prisma que questi-
da crítica – foram o “pomo de discórdia” e, onava sempre as cristalizações mentais dos
ao mesmo tempo, o elemento instigador intelectuais da época, assentados em mo-
para a evolução do pensamento de Marcel delos que poderiam ser “funcionais” en-
Proust. Valendo-se de critérios bastante ori- quanto modelos, mas produzidos dentro de
ginais, deixando, na maioria das vezes, pontos de vista reduzidos. Sendo assim, ao
aparecer apenas a ponta afiada de sua arma invés de serem úteis para uma melhor
branca, voltou-se, ferozmente, contra o que elucidação das obras, afastavam ainda mais
considerava impertinentes posições críti- o público leitor dos reais meandros que
cas, ou métodos incorretos de letrados de fazem avançar os procedimentos artísticos.
renome, como foi o caso de Sainte-Beuve A linha mestra de Proust esteve sempre
e mesmo Anatole France. Esses e outros de voltada para dois (ou apenas um?) alvo:
notória fama acabavam exercendo no pú- perscrutar o interior das obras e reconhe-
blico e mesmo em escritores jovens que cer-lhes o que considerava estilo, verifi-
precisavam da sua aprovação, uma grande cando a intrincada conexão entre a obra de
e muitas vezes negativa influência, arte e a realidade que lhe serviu de
embasados em posicionamentos radicais e matéria-prima. Os parênteses acima que-
se valendo de um modelo retórico supera- rem ter voz: o movimento de penetração
do e equivocado. numa obra, via nuanças de seus recursos
Todavia, como já disse, Proust não era estilísticos, não implicaria buscar a natu-
radical. Sua inteligência mantinha-se nas reza da obra e nisso compreender sua cone-
asas da dialética que, como se sabe, é nada xão (dialética, é certo) com a realidade?
comum entre os mortais e é ao mesmo tem- Nessa indagação se encontra o núcleo da
po a base necessária para qualquer proces- mola propulsora de todo grande artista e de
so de mudança evolutiva em qualquer cam- todo genuíno crítico e nela Proust esteve
po do conhecimento. A ausência do pensa- mergulhado durante todo o tempo de sua
mento dialético interfere decisivamente no vida de escritor e de leitor das demais artes.
comportamento crítico. Os equívocos pro- A escritura de Proust realiza-se, aparente-
vocados no campo das artes e da literatura mente, por um coerente processo de asso-
por influências dessa natureza, escondidas ciações de idéias. No entanto, caminha por
na erudição e no comportamento autoritá- arquitetados meandros divagantes que
rio, acabam por definir visões de uma épo- mesclam suas impressões às formalizações
ca, que só mais tarde são desmascaradas. do raciocínio, negaceando pontos frágeis e
Marcel Proust conseguia ver e entender cada enfrentando situações delicadas, dentro de

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 137


um turbilhão de relações que consegue es- Neste caminho, cremos ser de relevante
tabelecer entre as mais diferentes idéias. significação intercalarmos a própria críti-
Isso se deve a um árduo exercício que de- ca de Marcel Proust, para que possamos ir
senvolveu com a linguagem, um exercício delineando seu pensamento e a fonte de seu
de aproximação da linguagem, para conse- estilo que foi magistralmente plasmado pela
guir ir, paulatinamente, rastreando a reali- forma essencial de sua criação. Em 1920,
dade, por meio das coisas e dos seres, feitos faltando portanto um ano para a sua morte
linguagem, e por ela resgatados em forma e estando já na fase madura, quase no final
de imagem. Foi assim que se efetivou essa da realização de sua obra maior, o escritor
produção. francês publica em La Nouvelle Revue
Um dos mais precisos ensaios sobre o Française o ensaio “A Propósito do Estilo
escritor francês foi escrito por Ernst-Robert de Flaubert” (1994, 65-85), em resposta a
Curtius – e o que é curioso – em 1925, antes um artigo de Albert Thibaudet. Logo de
mesmo de que saísse a público a maior parte início, temos a sua indignação (que é
de sua obra. Trata-se do livro Marcel Proust reveladora de uma consciência) frente ao
y Paul Valéry (1941), obra um pouco estra- fato de Albert Thibaudet ter considerado
nha (talvez inacabada), uma vez que o gran- Flaubert um homem sem muito talento para
de filólogo dedica 152 das 189 páginas a escrever. Com toda a sua fina ironia, Proust
Marcel Proust e apenas as restantes a Paul recebe e discute a afirmação como se fosse
Valéry. Curtius não precisou de ver o con- uma bomba desproposital que caísse sobre
junto da produção proustiana para enten- a Terra. Comparando as inovações de
der alguns filamentos que consideramos de Flaubert, como sendo tão revolucionárias
primeira ordem. Sua visão é intensa no que quanto as Categorias de Kant, passa, por
diz respeito aos aspectos do estilo em meio de recursos extraídos “do lado de
Proust. Um outro destaque das considera- dentro” do estilo do autor de Madame
ções do filólogo alemão presente no seu Bovary, a argumentar em favor desse estilo
excelente e iluminador ensaio consiste na- e de seu criador. Parece ainda ecoar nas
quilo que depreendeu no discurso prous- palavras de Curtius aquelas de Proust so-
tiano sobre a metáfora. Ao comentar uma bre o estilo de Flaubert. O que o fascinou
passagem para transmitir o estilo do autor em Flaubert foi exatamente o procedimen-
francês, assim se manifesta: to construtivo, o exercício exaustivo da-
quele escritor com a linguagem, em busca
“Esta passagem nos ensina ainda mais, com da expressão desejada. Para isso, era ne-
suas duas metáforas caracteristicamente cessário uma arquitetônica forma de nar-
escolhidas: as trocas de cor estão compara- rar, forma esta que Marcel Proust foi ela-
das com um crescendo musical, o contorno borando cuidadosamente. Se por um lado
das sombras com uma vegetação. Ambas Proust soube reconhecer a inovadora e
as metáforas servem para precisar o aspec- magnífica maneira de narrar de Gustave
to óptico do processo senso-espiritual des- Flaubert, soube também notar suas falhas,
crito. As metáforas são em Proust um meio ou, ao menos, aquilo que lhe faltou no es-
de alcançar uma visão completa, não se tilo. Antes de passar às considerações do-
oferece ao serviço de uma coloração emo- minantes do ensaio, isto é, às inovadoras e
cional do processo. São instrumentos de profundas maneiras de trabalhar os tempos
conhecimento. A consciência artística de verbais, os advérbios, a conjunção e outros
Proust exige do seu estilo o mesmo que o recursos, discute o fraco processo de cria-
sol produz na pedra: ‘une ténuité dans la ção da metáfora em Flaubert; a metáfora,
délinéation des moindres détails’. O estilo que para ele é o ponto fundamental para se
de Proust confirma a conclusão de conseguir a eternização de um estilo. Essa
Middleton Murry de que a metáfora é o “lacuna” no estilo de Flaubert será preen-
resultado da busca de um epíteto preciso” chida e cuidada na obra de Proust. Além da
(loc. cit., p. 58). brilhante forma de criação de metáforas

138 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


durante toda a sua obra, há vários momen-
tos em que a questão é discutida, não ape-
nas em termos de literatura mas em relação
a outras artes.
Em 1920, sua obra, ainda que sujeita a
vários reparos, estava quase concluída.
Muitos dos recursos que utiliza, ele os per-
cebeu em Flaubert de Madame Bovary e
sobretudo de A Educação Sentimental. E
são exatamente esses recursos inovadores
de Flaubert que serão malcompreendidos
pela crítica, sendo apontados como falhas
de estilo, como deslizes gramaticais. A
narrativa de Flaubert se apresentou ao lei-
tor (e com isso o chocou) de modo a isentar
o autor do objeto textual construído e ceder
ao próprio discurso a sua autonomia en-
quanto espaço semiótico, graças a uma
consciência e uma competência que lhe
favoreceram. Flaubert criava, assim, um
discurso intencionalmente singular. Essa
singularidade é gerada por uma nova for-
ma de justapor as palavras, de criar efeitos
de sentido, de construir sua sintaxe, a sin-
taxe de uma língua estranha. Evidentemen-
te, houve resistência a essa nova lingua-
gem, uma vez que ela inaugurava um siste- Machado de
ma verbal narrativo distinto de toda uma
Assis e Marcel
tradição. Como diz Proust, não é na cons-
trução de boas metáforas que reside o estilo Proust
de Flaubert, mas no tecido da sintaxe, no
andamento inusitado das construções, nas
ambigüidades do emprego do pronome
pessoal, etc.:

“Mas, enfim, a metáfora não é todo o estilo.


E não é possível, a quem quer que um dia
tenha subido sobre essa grande Esteira ro-
lante que são as páginas de Flaubert, em
deslocamento contínuo, monótono, morno,
indefinido, desconhecer que elas não têm
precedentes na literatura” (loc. cit., p. 67).

Ao falar da não-metáfora em Flaubert,


Proust consegue criar a mais definidora de
seu trabalho: “esteira rolante”. A articula-
ção interna da linguagem, os arranjos das
categorias de cada meio expressivo, na
busca da ampliação de seus limites – traço
condutor da modernidade –, geram uma
força diferente, uma convulsão das formas

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 139


que exigem do receptor uma postura men- tornando-se cada vez mais narrador no
tal diferente. São obras estruturalmente di- espaço do discurso ficcional, metafórico,
nâmicas e tematicamente estáticas que, preciso. Faz bem Curtius ao advertir que
como resultado, geram novas relações, dis- devemos interpretar essas posições de
tintas e muito mais intensas que os mode- Proust no sentido de que “a verdadeira crí-
los tradicionais. tica tende a descobrir os elementos for-
A “esteira rolante” utilizada para meta- mais da alma de um autor, e não suas opi-
forizar a narrativa de Flaubert caberia, em niões, nem seus sentimentos”. Tender à
certa medida, para caracterizar o próprio descoberta dos elementos formais da alma
estilo proustiano. Vale, neste contexto, ci- de um autor significa mergulhar nos ele-
tar outra assertiva de E. R. Curtius: mentos internos da obra, no seu estilo,
pactuando-se o máximo possível com a
“A primeira leitura de Proust produz uma metáfora do discurso artístico, para que
impressão estranha, mescla de encantamen- seja viável, uma vez recebida, que ela seja
to e de confusão. Sentimo-nos envolvidos bem percebida.
pela abundância de materiais em aparente Dentre as convergências entre os dois
desordem, extraviado num estilo prolixo e escritores uma se destaca: o fato de ambas
sinuoso em cujo ritmo não se descobre serem o que Paul Valéry denominaria uma
nenhuma lei; sente-se de uma vez atraído obra clássica.
como que pelo timbre de uma música nova Cremos ser pertinente ressaltar, ainda,
cuja harmonia não se consegue analisar; mais um aspecto dentre os vários discuti-
atraído a um universo de sedução tão ori- dos no ensaio sobre o estilo de Flaubert. Ao
ginal, que qualquer um se abandona em seus comentar – fato que ocupa grande parte do
feitiços” (loc. cit., pp. 14-5). ensaio – sobre o caráter inovador do uso do
pretérito imperfeito pela narrativa
Muito tem se esforçado a crítica, em flaubertiana, Proust diz o seguinte: “[…]
busca do “tempo de Proust”, entretanto, portanto, esse imperfeito, tão novo na lite-
muito se tem errado, buscando esse tempo ratura, muda inteiramente o aspecto das
na vida do escritor, nos seus hábitos, nos coisas e dos seres, como uma lâmpada que
lugares que freqüentava, bem como nas suas tenha sido deslocada, à chegada em uma
idiossincrasias. Além da incongruência de nova casa, a antiga, quando está quase va-
tais procedimentos críticos, pode-se consi- zia e que se está em plena mudança” (loc.
derar de extrema ironia que alguns críticos cit., p. 71). Essa idéia capta o verdadeiro
se valham, em pleno século XX, de méto- sentido da relação entre tradição e
dos similares àqueles utilizados por Sainte- modernidade, referindo-se a uma evolução
Beuve para analisar uma obra que surgiu do estilo. A nova casa e a antiga são a
pela negação do referido método. Todos mesma, e completamente outra marcada
esses elementos fazem parte do material pela poção metamorfoseante e mantenedora
utilizado para sua moenda inventiva, mas, do signo do estranhamento, da refração ar-
assim como outros ingredientes, tudo foi tística, capaz de mobilizar os elementos
metamorfoseado na sua obra em cristalizados. As formas artísticas de in-
“neblinadas metáforas”, fontes de sua “pre- venção são princípios composicionais ou
cisão”. A respeito de Flaubert, Proust ain- brechas que desvelam o olho clínico do
da ressalta a sua isenção no modo de narrar Homem feito artista, radar captador dos
e de descrever, assinalando que esse proce- retalhos da realidade. Ao dizermos reta-
dimento permite ao autor ir cada vez mais lhos da realidade pensamos nas condições
ao encontro do narrador e não do ser histó- básicas sem as quais nenhum trabalho ar-
rico Flaubert. Diríamos, em espelho, que o tístico pode se concretizar. Este consiste
que mais interessa para Proust, e nisso con- na consciência de uma meta a atingir que
siste toda a sua busca crítica, é liberar-se parte da superação das linhas de superfí-
cada vez mais daquilo que não é Proust, cie da realidade, “detrito da experiência”

140 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


para Proust, representado pelos signos
emblemáticos, cadaverizados pela con- PRESENÇA DE OUTROS SISTEMAS
venção. O trabalho ficcional de Marcel
Proust evolui num processo de metamor- NO ESTILO DE MARCEL PROUST
fose inventiva, primeiro de captação, de-
pois de destruição e finalmente de O discurso proustiano é um mundo que
remontagem ou tradução da realidade es- resguarda muitas moradas com seus nichos,
sencial. Seu princípio de composição, recantos sombrios, naves abertas e labirín-
conduzido pela intraduzível busca da For- ticas, como construções medievais. Exige,
ma do Tempo, faz-se forma espacial, pro- por isso mesmo, disponibilidade e exercí-
fusa enquanto movimento enlaçado nos cio do espírito, para que suas “chaves má-
entrecruzados nós das veredas da lingua- gicas” sejam encontradas. Se a grande
gem. “Este trabalho do artista, de buscar maioria da atenção crítica se volta para a
sob a matéria, sob a experiência, sob as obra principal, isto é, para os sete volumes
palavras, algo diferente, é exatamente o que compõem À la Recherche du Temps
inverso do que, a todo instante, quando Perdu, não se pode deixar de entender que
vivemos alheados de nós, realizam por sua essas contínuas, monótonas e infindáveis
vez o amor-próprio, a paixão, a inteligên- páginas travam interessantíssimo e coerente
cia e o hábito, amontoando sobre as nos- diálogo com outros escritos do autor e é por
sas impressões, mas para no-las esconder, meio desse diálogo que muitos fatores
as nomenclaturas, os objetivos práticos a determinantes da construção modulada de
que erradamente chamamos vida” (T. R., seu pensamento estético emergem ao lei-
p. 142). A busca sob e não sobre constitui tor, ou passam a ser melhor compreendi-
um universo que transcende a ele próprio dos. Marcel Proust viveu e produziu litera-
por ir, o máximo possível, nas profundezas tura num dos momentos mais efervescen-
do verdadeiro eu. Dizendo assim, tentan- tes da cultura ou do metamorfoseamento
do driblar a palavra-chave que define esta da cultura ocidental. Parece ter herdado com
obra: uma poética, no sentido de elevação a devida sagacidade dos gênios, ou melhor,
da potência da linguagem, sem atributos, parece ter sabido conduzir, de maneira
possuindo, portanto, a mais rigorosa pre- muito especial, a tocha olímpica da lingua-
cisão. É correto Roland Barthes ao definir gem, incendiando bosques da tradição e am-
À la Recherche du Temps Perdu como a pliando as veredas da modernidade. Seu
história de uma escritura. Esta história é o olho é similar ao da lanterna mágica; é o
estéril pretexto que vai deixando para olho de um genuíno mestre da modernida-
amanhã, sempre numa posição de adia- de crítico-inventiva, que soube, no seu
mento, uma possível obra literária. Entre- médio tempo de vida, perceber na devida
tanto, ao pairar no tempo, À la Recherche medida o movimento das coisas com que
du Temps Perdu, os signos deixam seus lidou. Isso quer dizer que, como já vimos,
rastros e estes apreendem o sentido da vida, Proust foi, antes de tudo, grande e versátil
na outra esfera do tempo. É sem sair do leitor. Leitor dos clássicos, leitor dos mo-
círculo que nasce a obra; ela resgata o dernos, leitor dos maiores e leitor dos me-
acento da verdade. Todavia, o resultado nores, leitor de literatura, mas, com a mes-
deste processo teve seu momento de ma argúcia crítica, foi um grande leitor dos
efervescência bem antes. Ele não surgiu outros sistemas artísticos, como da arqui-
ao acaso. Resulta de obras anteriores, de tetura, sobretudo a medieval, da pintura, da
um verdadeiro laboratório de experiênci- música, do teatro e, pelo resultado de sua
as literárias incluindo ensaios, pastiches e obra, mostra ter compreendido a profunda
ficção. As obras que o compõem são: Les homologia que se estabelece entre os vá-
Plaisirs et les Jours; Jean Santeuil; rios sistemas, fazendo com que convergis-
Pastiches et Mélanges; Contre Sainte- sem paro o meio expressivo de que se va-
Beuve e Essais et Articles. leu: a literatura.

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 141


Dito de outro modo, os vários sistemas mos o que uma nova forma de expressão
parecem ter auxiliado Proust, dentro dos pode conseguir dessa situação”. Ao des-
procedimentos expressivos que lhes são crever a passagem descrita por Proust de
próprios, na “fabricação” não da literatu- uma situação anteriormente imaginada por
ra, mas da “arte verbal”, capaz de dialogar, Curtius, o filólogo, ao invés de analisá-la,
o tempo todo, com as demais artes, no flu- continua tentando de maneira passional,
xo ininterrupto de sua narrativa. Esse valendo-se de imagens que possam res-
leitor privilegiado tornou-se um grande ponder os procedimentos desse estilo tão
crítico e foi no perímetro da crítica que marcante e original. E é dessa
construiu o seu sistema ensaístico-ficcio- “passionalidade” que emergem os pontos
nal. Sendo assim, crítica e invenção fulcrais a que aludi, na leitura de Curtius.
implicam-se e se opõem de tal modo na es- Dentre elas, destaca-se a aproximação que
critura deste artista, que se torna incon- ele faz do estilo de Proust com a pintura de
cebível a vã tentativa de se entender uma, Monet e a música de Debussy. Mesmo se
sem ter a devida consciência da outra e tratando de um ensaio tão antigo, um dos
vice-versa. Diríamos que Proust conseguiu primeiros de maior fôlego sobre o discur-
atingir o que se poderia chamar de precisa so proustiano, as relações associativas com
instabilidade do discurso. as demais artes se deram de maneira quase
Já seus primeiros estudiosos, mesmo instantânea. Curtius, evidentemente, não
que para criticá-lo, apontavam para esse aprofunda a análise, mas fornece elemen-
fenômeno de seu trabalho em que estabe- tos de entrada para aspectos de suma im-
lece as mais variadas relações de sentido portância, presentes no sistema de Proust.
por meio dos vários códigos artísticos. Mais tarde Muchel Butor realizará um bri-
Mais que a demonstração de uma erudi- lhante estudo sobre os três sistemas artís-
ção sobre o mundo da literatura e das ar- ticos (literatura, música e pintura), consi-
tes, os vários sistemas parecem compor a derando-os as três grandes vertentes que
unificação estética desse pensamento. Ao regem À la Recherche du Temps Perdu.
ver o processo de realização proustiano e Dentre os críticos modernos, gostaría-
penetrar nos meandros dos sentidos por mos de destacar uma obra das mais repre-
ele instaurados, torna-se quase imediata a sentativas que influenciou sobremaneira
associação que se processa entre esse uni- nossas abordagens críticas sobre o escri-
verso e aquele de Leonardo Da Vinci, que tor francês, no que diz respeito à constru-
serviu de mote ou de fonte inspiradora para ção de seu pensamento estético. Trata-se
Paul Valéry desenvolver um dos seus mais do ensaísta francês Luc Fraisse, autor de
completos e profundos ensaios sobre es- outros estudos fundamentais sobre Proust,
tética. Refiro-me ao Introdução ao Méto- mas que em L’Oeuvre Cathédrale – Proust
do de Leonardo Da Vinci. Gostaria tam- et l’Architecture Médievale, de 1989, pu-
bém de retomar Ernst-Robert Curtius, que blicado por José Corti, conseguiu realizar
num breve capítulo denominado “O Esti- um trabalho iluminador, dotado de uma
lo”, pertencente ao referido livro Marcel intensidade rara nas abordagens, princi-
Proust e Paul Valéry, revela sua forte palmente no que concerne às aproxima-
impressão pela habilidade de Proust ao ções entre o discurso verbal e os demais
lidar com a frase, com o epíteto e, sobre- discursos. O trabalho de Fraisse apresenta
tudo, com a metáfora. Ele se manifesta uma verdadeira arqueologia de À la
passional – algo interessante para alguém Recherche du Temps Perdu, marcada pela
com sua capacidade de explicar – com força da originalidade, uma vez que tenta
aquilo que o estilo do narrador revela. Cita demonstrar as correspondências entre a
uma grande passagem do texto proustiano obra verbal de Proust e a macro e
como se fosse impossível descrever o fe- microestrutura das catedrais medievais.
nômeno: “Porém deixemos que seja o pró- Como se fosse um dicionário arquitetôni-
prio Proust quem nos dê a resposta e veja- co, realizado inclusive por ordem alfabé-

142 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


tica, cada uma de suas partes corresponde A pintura não consiste, nessa obra,
a uma das partes de uma catedral medieval numa presença e sim numa espécie de
e, em cada uma delas, o pesquisador desen- elemento conjuntivo do teatro de signos
volve suas considerações críticas, articu- que o artista e ensaísta Marcel Proust in-
lando a estrutura da obra proustiana à es- ventou. Dir-se-ia que todo o processo
trutura dos elementos composicionais da articulatório de sua obra se desenvolve a
arquitetura. partir da própria ficção, ou melhor, o res-
No caso da pintura, a concepção de gate da vida se dá de dentro das obras ou
Marcel Proust se integra à sua concepção pelas reflexões advindas das obras de arte.
de museu. Torna-se praticamente impossí- E a pintura ocupa um lugar de destaque,
vel adentrarmos o universo verbal e/ou respeitada por sua natureza sincrética,
ficcional de Proust sem tentarmos compre- pelo simultaneísmo de seus elementos.
ender o universo semiológico que compõe O que se nota ao longo da narrativa
seu pensamento. Os sentidos de sua narra- proustiana é uma espécie de história sin-
tiva, ou os sentidos da teia que o escritor crônica da pintura posta numa condição
francês articula, com o pretexto de estar de movimento. É ilusório crer que se tra-
realizando uma escritura, advêm de proce- ta de uma visão de Proust sobre uma de-
dimentos variados, diríamos de uma espé- terminada escola de pintura, posição as-
cie de cruzamento de metáforas, que tem sumida por grande parte de seus críticos.
como fio condutor o signo da arte, lem- O que ocorre é uma manifestação crítica
brando sempre a feliz expressão de Gilles da parte do inventor-crítico Marcel Proust
Deleuze. Proust cria uma espécie de movi- em relação à pintura de todos os tempos.
mento de existências que se inter-rela- Selecionam-se obras e, conseqüentemen-
cionam, para que seja possível dar o verda- te, autores e não uma época específica.
deiro movimento à própria arte. Fez da arte Proust demonstrou na sua vida de inte-
signo dela mesma. Só assim conseguiu lectual, sobretudo nos últimos anos de
conjugar invenção e reflexão, ou vice-ver- sua existência, possuir verdadeira rejei-
sa. Mais ainda: as seqüências narrativas de ção por certas posições críticas sobre
À la Recherche du Temps Perdu são espé- pintura. Ele se vale da pintura como sig-
cies de simulacros narrativos que jamais no permeado de sentidos que entram em
poderiam ser enfabulados uma vez que a sintonia com os demais signos de seu
origem de seu fluxo não tem como discurso. Isso traz uma implicação
matéria-prima núcleos enfabulativos, mas determinante no conjunto de sua obra.
signos artísticos ou signos extraídos da É certo que há atualmente alguns estu-
própria condição da arte. É assim que os dos que se voltam para a manifestação
verdadeiros índices, os mais perspicazes da pintura no seu trabalho. Entretanto o
que podem nos conduzir às questões mais que queremos apontar não é a presença
decisivas da arte podem ser encontrados ou o levantamento de todas as manifes-
nessa crítica de invenção e não na grande tações plásticas ao longo de À la
maioria dos livros de história da arte. En- Recherche du Temps Perdu, mas o modo
tretanto, tal processo se apresenta imbrica- como o sistema plástico participa do
do e complexo e não pode ser resolvido, movimento dos sentidos nesta grande
criticamente, de maneira linear. Para que invenção literária. Ao longo da obra,
bem se compreendam determinados movi- são várias as formas de manifestação
mentos que conduzem aos efeitos mais do sistema plástico. Encerraria estas re-
decisivos da obra, é necessário que o leitor flexões dizendo que se Marcel Proust
tenha muito bem trilhado todos os percal- regeu tão magistralmente a palavra não
ços que o conduzem àquela condição de terá sido a palavra que norteou o dia-
leitor, não diríamos ideal, mas que tange- grama mental na fabricação de seu sis-
ncia o movimento de dialogismo com a obra tema poético. O seu norteador foi irre-
em questão. mediavelmente a imagem.

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 143


BIBLIOGRAFIA

BARTHES, R. “Proust et les Noms”, in ________. Le Degré Zéro de l’Écriture Suivi de Nouveaux Essais Critiques.
Paris, Éditions du Seuil, 1972, p. 121-34.
________. Crítica e Verdade. Trad. bras. de Geraldo Gerson de Sousa. São Paulo, Perspectiva, 1982.
BAUDELAIRE, C. “Critique d’art”, in Oeuvres Complètes. Texte établi, présenté et annoté par Claude Pichois. Paris,
Gallimard, 1976, tome II, pp. 351-775.
________. “Salon de 1845”, in Oeuvres Complètes. Texte établi, présenté et annoté par Claude Pichois. Paris,
Gallimard, 1976, tome II, pp. 351- 407.
________. “Salon de 1846”, in ________. Oeuvres Complètes. Texte établi, présenté et annoté par Calude
Pichois. Paris, Gallimard, 1976, tome II, pp. 415-96.
________. “Le Peintre de la Vie Moderne”, in ________. Oeuvres Complètes. Texte établi, présenté et
annoté par Claude Pichois. Paris, Gallimard, 1976, tome II, pp. 683-724.
BENJAMIN, W. “Sobre alguns Temas em Baudelaire”, in W. Benjamin et al. Textos Escolhidos. Trad. bras. de Atília B.
Fiori. São Paulo, Abril Cultural, 1975, pp. 35-62 (Os Pensadores).
BONNET, Henri. Marcel Proust de 1907 a 1914. Paris, Nizet, 1959. Apud Taeko Uenishi. Le Style de Proust et la
Peinture. Paris, Sedes, 1988.
BUTOR, M. “Les Sept Femmes de Gilbert La Mauvais, Autre Heptaédre”, in L’ Arc, no 47, “Proust”, 1971, pp. 33-45.
Apud J. Kristeva. Le Temps Sensible: Proust et l’Expérience Littéraire. Paris, Gallimard, 1994, (NRF éssais).
CLARAC, P. “Introdução do Editor Francês”, in M. Proust. Contre Sainte-Beuve: Notas sobre Crítica e Literatura. Trad.
bras. de Haroldo Ramanzini. São Paulo, Iluminuras, 1988, pp. 25-36.
CURTIUS, R.E. Marcel Proust y Paul Valéry. Buenos Aires, Editorial Losada, 1941.
DELEUZE, G. “Os Signos da Arte e a Essência”, in ________. Proust e os Signos. Trad. bras. de A. C. Piquet e R.
Machado. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1987, pp. 39-51 (4a ed. atualizada, 1987, Presses Universitaires de
France).
FRAISSE, L. L’Oeuvre Cathédrale: Proust et l’Architecture Mediévale. Paris, José Corti, 1990.
FRYE, Nortroph. “Introdução Polêmica”, in ________. Anatomia da Crítica. Trad. bras. de Péricles Eugênio da
Silva Ramos. São Paulo, Cultrix, 1973, pp. 11-36.
GALLIMARD, G. (Le gérant). La Nouvelle Revue Française. Hommage à Marcel Proust (1871-1922). Paris, Gallimard,
no 112, 1 er. janvier 1923 (nouvelle impréssion 1991).
GONÇALVES, A. “O Processo Holometabólico em Marcel Proust”, in M. Proust. Contre Sainte-Beuve. Trad. bras. de
Haroldo Ramanzini. São Paulo, Iluminuras, 1988, pp. 7-24.
KRISTEVA, J. Le Temps Sensible: Proust et l’Expérience Littéraire. Paris, Gallimard, 1994, (NRF éssais).
LESSING, E. Laocoonte – O sobre los Límites de la Pintura y la Poesia. Trad. do alemão, prólogo e notas de Enrique
Palau. Barcelona, Editorial Iberia, 1957.
MALLARMÉ, S. Oeuvres Complètes. Texte établi et annoté par Henri Mondor et G. Jean Aubuy. Paris, Gallimard,
1945.
PAINTER, G. Marcel Proust: les Années de Jeunesse (1871-1903). Traduit de l’anglais par G. Cattaui et R.-P Vial.
Paris, Mercure de France, 1966, pp. 348-9.
PROUST, M. À la Recherche du Temps Perdu. Paris, Gallimard, 1987-89.
________.Le Temps Retrouvé, in ________. À la Recherche du Temps Perdu: Albertine Disparue; Le Temps
Retrouvé. Paris, Gallimard, 1989, vol. 4, pp. 273-625 (Bibliothèque de La Pléiade).
________. No Caminho de Swann. 9 ed. Trad. bras. de Mário Quintana. Porto Alegre, Globo, 1973.

144 REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001


________. O Caminho de Guermantes. 3 ed. Trad. bras. de Mário Quintana. Porto Alegre, Globo, 1972.
________. À Sombra das Raparigas em Flor. 2 ed. Trad. bras. de Mário Quintana. Porto Alegre, Globo, 1973.
________. A Prisioneira. Trad. bras. de Lourdes Sousa de Alencar e Manuel Bandeira. Porto Alegre, Globo, 1971,
p. 135.
________. O Tempo Redescoberto. Trad. bras. de Lúcia Miguel Pereira. Porto Alegre, Globo, 1970.
________. Jean Santeuil. Trad. bras. de Fernando Py. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.
________. Sur la Lecture, in J. Ruskin. Sésame et les Lys. Traduction et notes de M. Proust. Paris, Éditions
Complexes, 1987, pp. 35-97.
________. Contre Sainte-Beuve: Notas sobre Crítica e Literatura. Trad. bras. de Haroldo Ramanzini. Pref. de
Aguinaldo José Gonçalves. São Paulo, Iluminuras, 1988.
________. “Sobre a Arte: para Jacques-Émile Blanche”, in ________. Nas Trilhas da Crítica. Trad. bras. de
Plínio Augusto Coelho. São Paulo, Edusp/Imaginário, 1994, pp. 41-63.
________. “A Propósito do Estilo de Flaubert”, in ________. Nas Trilhas da Crítica. Trad. bras. de Plínio
Augusto Coelho. São Paulo, Edusp/Imaginário, 1994, pp. 65-85.
________. “A Propósito de Baudelaire”, in ________. Nas Trilhas da Crítica. Trad. bras. de Plínio Augusto
Coelho. São Paulo, Imaginário, 1994, pp. 103-35.
________. “Lettre de 18 mars, 1908 à Robert Dreyfus”. Apud P. Clarac. “Introdução do Editor Francês”, in M.
Proust. Contre Sainte-Beuve: Notas sobre Crítica e Literatura. Trad. bras. de Haroldo Ramanzini. São Paulo,
Iluminuras, 1988, pp. 25-36.
RUSKIN, J. Sésame et les Lys. Traduction et notes de M. Proust. Paris, Éditions Complexes, 1987.
________. As Pedras de Veneza. Trad. bras. de Luís Eduardo de Lima Brandão. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
SAINTE-BEUVE, C. “Causéries du Lundi: les Contemporains de Sainte-Beuve”, in B. Lalande (org.). Paris, Larousse,
1953, tome 124, partie II (Collection Classiques Larousse).
SHATTUCK, R. As Idéias de Proust. Trad. bras. de Eliani Fittipaldi Pereira. São Paulo, Cultrix/Edusp, 1985.
UENISHI, Taeko. Le Style de Proust et la Peinture. Paris, Sedes, 1988.
VALÉRY, P. “Introduction à la Méthode de Léonard de Vinci”, in ________. Variété I. Paris, Gallimard, 1924, pp.
98-107.

REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 130-145, junho/agosto 2001 145

Você também pode gostar