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Sêfer

HA’MASKILIM
O livro dos iniciados

Iº Grau – Aprendiz
Malchut – Olam Ha’Assiah

Alef Yaakov

Direitos da publicação da Academia Merkabah.


São Paulo - 2020
Segundo Livro
“A Fundação”
Cap. 1
Sefer Ha Maskilim – O Livro dos Iniciados ‫בס’‘ ד‬
Alef Yaakov

Pomar
de Romãs
Desde o princípio da transmissão da Tradição Primordial com
Adam, Chanóch, Matusalém, Noach, Shem, Avraham, Yitschak,
Yaacov, Iossef até Moshé, nosso mestre e sua transmissão até os
tanaítas e os amoritas, o Sagrado sempre foi estudado por meio de
quatro níveis de entendimento, que são explorados de acordo com a
qualidade intelectual e a sensibilidade espiritual de cada indivíduo. Ao
que isso se assemelha? Havia uma princesa de uma província
desconhecida que gostaria de casar-se com o filho do Rei. O
casamento aconteceu e no momento das núpcias, o filho do Rei
olhou para ela e percebeu que ela estava adornada com um belo
vestido de púrpura e pedras preciosas, um colar com os sete metais
preciosos, uma máscara e uma coroa de ouro; e ele teve de despi-la
por completo e retirar um a um dos seus adornos para então poder
deitar-se com ela.
Igualmente, a Divina Presença se enfeita com os adornos para
esconder sua beleza do profano e não ser reconhecida pelo ímpio em
todo o seu esplendor, por isso, o vestido, o colar, a máscara e a
coroa. Afinal, o que é a Torá? É um pomar de romãs. E o que é um
pomar de romãs? O desdobrar infinito de Sua doçura e beleza
através dos séculos. Está escrito (Tehilim 1:2-3): “(...) sua plena
satisfação está na Torá de Elohim, e na Sua Torá medito, dia e noite!
Ela [a Torá] é como a árvore plantada à margem de águas correntes:
dá fruto no tempo apropriado e suas folhas não murcham; tudo
quanto realiza prospera!” - Portanto, o que é a Torá? É a Estrutura
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que outrora fora completada em Avraham e revelada para a
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Comunidade de Israel com Moshé, nosso mestre.
A Torá é a Estrutura? Ao que isso se assemelha? O Rei
gostaria de enviar uma mensagem para os seus servos que outrora
foram enviados para uma província muito distante, no entanto, ele
não pode correr o risco que a mensagem fosse corrompida no
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Neste sentido, refere-se a sefirá de Chéssed na Árvore das Vidas.
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Este termo é utilizado na Cabalá para classificar Malchut.

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caminho ou que pessoas mal intencionadas consigam acessar o seu


conteúdo completo, desta forma, ele envia um arauto de sua maior
confiança e uma carta contendo narrativa, indicação, comparação e
segredo, todos eles devidamente codificados de modo que apenas os
seus servos que conhecem a sua linguagem tem a capacidade de
decifrar.
Nesta carta está a Torá escrita [narrativa], o arauto é
responsável pela transmissão Oral [indicação e comparação], e a
Cabalá [segredo] está codificado na narrativa. O Rei lacrou o segredo
de tal forma que revelá-lo não seria uma tarefa fácil, demandando um
tremendo esforço de seus servos. Estes quatro níveis de
entendimento são conhecidos pelo acróstico de PRDS [Pardes –
Pomar]:

Pshat (‫ )פשט‬- Simplista - análise literal de um versículo ou


passagem.
Remez (‫ – )רמז‬Sugestivo - sentido tipológico, que alude ou
exige uma exposição ampliada do sentido literal através de
indicações.
Drash (‫ – )דרש‬Demandado - método midráshico, por
comparação, ocorrências e parábolas.
Sod (‫ – )ס ֹד‬Oculto - sentido místico ou metafísico da passagem,
geralmente uma inspiração ou revelação alcançada cabalistas.

O PRDS, Pshat [narrativa] - Remez [indicação] - Drash


[comparação] - Sod [segredo] é compreendido por dois princípios e
um que decide entre eles: a balança do mérito, a balança da
responsabilidade e a língua do decreto que decide entre eles. De
acordo com o mérito de recebimento e a responsabilidade do adepto
em relação ao Sagrado, e isso inclui a sua devoção e sua intenção ao
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inclinar sua alma para a Torá, aquele que é yodeha taalumot lhe
revelará o Seu tesouro precioso quando o mesmo souber, com a
língua do decreto, expressar o louvor do Teu Nome.
Ou seja, pacientemente o aprendiz deve conquistar o mérito, a
responsabilidade e a circuncisão da língua através de parar de usá-la
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Yodeha Taalumot (hebraico: ‫יודע תעלומות‬, significado lit. “Aquele que conhece os
Mistérios”) são as duas últimas palavras do cântico Ana Bekoach.

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para matar e aprender a usá-la para criar e por estes meios [de ação]
o aprendiz conquista a confiança de D‟s que começa a revelar, de
acordo com sua capacidade de discernimento, os Seus caminhos que
são misteriosos, doces e de boa sorte. O aprendiz irá, pela simples
lógica, sugerir que se comece o estudo pela via da narrativa e então,
adquira o conhecimento das indicações e comparações para só então
estudar o segredo. No entanto, esta via é questionável por aqueles
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que foram definidos como SePhaRDi , definidos com o mesmo
acrônimo PRDS, porém, com as letras permutadas para SPRD.
Por que eles foram chamados com esse nome? Porque o
costume SePhaRDi estuda primeiro o Sod [segredo] e depois a Pshat
[narrativa] - SodPshatRemezDrash. Mas, como podem compreender
o segredo sem a narrativa? As razões pelas quais se cumpre as
mitsvot não são apenas pela sua moral intrínseca, mas por motivos
espirituais, tesouros sagrados escondidos e guardados para aqueles
que adquirem similaridade de forma com D‟s. Se compreende o
segredo antes da narrativa quando se vive a experiência do segredo
diariamente.
Existe um conto hagádico da tradição que revela a santidade
que existe nos Palácios Celestiais e como pode ser arriscado
introduzir-se neles sem o devido mérito. Assim está escrito (Talmud
Hagigah 14b): “Os rabinos ensinaram: Quatro entraram no Pardes.
Eles eram Ben Azzai, Ben Zoma, Acher e Akiva. Akiva disse-lhes:
Quando você chegar ao lugar de pedras de mármore puro, não diga:
„Água! Água!' porque se diz (Tehilim 101:7): „Aquele que fala
inverdades não se colocará diante dos Meus olhos.‟" - Ben Azzai
olhou e morreu. Quanto a ele, está escrito (Tehilim 116:15): "Preciosa
aos olhos de D's é a morte de Seus piedosos.” - Ben Zoma olhou e foi
ferido. Quanto a ele, está escrito (Mishley 25:16).: 'Você encontrou
mel? Coma o quanto você precisar, para que você não fique cheio e
vomite.‟ - Acher cortou as plantações. Rabi Akiva entrou em paz e
saiu em paz.
E existe ainda outra versão da lenda encontrada no Zohar 1,
26b e Tikunei Ha‟Zohar 40, que acrescenta à história: “O antigo Saba
(um homem velho) levantou-se e disse (para Shimon bar Yochai):
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Sefardita (em hebraico ‫ספרדים‬, sefaradi; no plural, sefaradim) é o termo usado para
referir aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha.

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"Rabi, rabi! Qual é o significado do que o Rabi Akiva disse aos seus
alunos: Quando você chega ao lugar de pedras de mármore puro,
não diga 'Água! Água!' para que não se coloquem em perigo, pois se
diz (Tehilim 101:7): “Aquele que fala inverdades não ficará diante dos
Meus olhos” - Mas não está escrito (Bereshit 1:6): Haverá um
firmamento entre as águas e ele separará entre a água (acima do
firmamento) e água (abaixo do firmamento)? Se a Torá descreve a
divisão das águas em superior e inferior, por que deveria ser
problemático mencionar essa divisão ou até mesmo recordá-la na
visão mística? Outrossim, uma vez que existem águas superiores e
inferiores, por que Rabi Akiva os avisou: "Não digas: Água! Água!”?
O Luzeiro (um título para Shimon bar Yochai) respondeu:
"Saba, é apropriado que você revele esse segredo que os chevraya
(círculo de discípulos de Rabi Shimon) não entenderam claramente."
O antigo Saba respondeu: "Rabi, rabi, Lâmpada Sagrada.
Certamente as pedras de mármore puro são a letra yod - uma do yod
superior da letra alef, e uma do yod inferior da letra alef. Aqui não há
impureza espiritual, apenas pedras de mármore puro, então não há
separação entre uma água e outra, elas formam uma unidade única
do aspecto da Árvore das Vidas, que é o vav no meio da letra alef.”
Interessante notarmos que a experiência do PRDS não se trata
exclusivamente de aprendizado/comunicação entre professor e aluno
ou algo meramente explicativo pela lógica, mas, trata-se de uma
experiência de visão mística e verdadeira ascensão espiritual do
discípulo para uma província desconhecida, onde ele transcende
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todos os limites de sua consciência. O cabalista Moshe Cordovero
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se aprofunda em sua obra magna Pardes Rimonim , naquilo que foi
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Moses ben Jacob Cordovero (hebraico: ‫קֹורדֹובֵירו‬ ְ ‫ )משה‬ou Moshe ou Moshê e
também Moisés Cordovero; Foi um rabino e cabalista galileu de Safed; Nascido em
1522; Morreu em 25 de junho de 1570. Pertencia a uma família espanhola,
provavelmente de Córdoba devido ao nome "Cordovero". Depois de ter estudado
literatura rabínica sob a orientação de Yosef Karo, Cordovero, aos vinte anos de idade,
foi iniciado por seu cunhado Salomão Al -abi nos mistérios da Cabalá, no qual ele logo
se tornou uma autoridade reconhecida. Foi uma figura central no desenvolvimento
histórico da Cabalá, líder de uma escola mística no séc. XVI em Safed, Israel. Ele é
conhecido pelo acrônimo Ramak (hebraico: ‫)רמ"ק‬.
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Pardes Rimonim (que significa “Pomar de Romãs") é um texto principal da Cabala ,
composto em 1548 pelo místico judeu Moses ben Jacob Cordovero em Safed, Galiléia.
Safed do séc. XVI viu a sistematização teórica das visões teosóficas cabalísticas

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explicado pelo Zohar sobre o que Rabi Akiva ensinou aos seus
discípulos que pretendiam subir a Montanha Sagrada. Assim está
escrito (Pardes, Shaar Arachei HaKinuim, sv Mayim): “O significado
da exortação de Rabi Akiva é que os Sábios não devem declarar que
existem dois tipos de água. E que não há [dois tipos de água], pois
estaria causando uma separação [no Reino Divino, onde todas as
coisas estão unificadas].
Este é o significado de "não diga 'água! água!'" - não diga que
existem dois tipos de água, para que você não se coloque em perigo
por causa do pecado da separação. Por isso o velho fez duas
perguntas, ambas verdadeiras perguntas: "Haverá um firmamento
entre as águas” (Bereshit 1:6) - Assim, há dois tipos de água e uma
separação entre eles. Neste caso, não parece ser permitido referir-se
a dois tipos de água? Ainda mais problemático é que a própria Torá
afirma: "Ele deve separar entre águas e águas" - a água acima do
firmamento e a água abaixo do firmamento - esta é uma separação
completa. O velho fez uma segunda pergunta: “As águas são na
verdade de dois tipos: água acima do firmamento e água abaixo do
firmamento [em rios, lagos e mares]. Por que então Rabi Akiva os
exortou a não dizer „água! água!‟ para que não se ponham em
perigo?" Pelo contrário; deve ser permitido mencionar dois tipos de
água, pois isso não é pior do que a linguagem usada pela Torá, e
esta também é a situação de fato! Ora, o Rabi Shimon não desejava
explicar esse assunto ele mesmo; ele queria que seus discípulos
ouvissem do velho.
O velho explicou que cada uma das pedras de mármore [da
visão mística ao subir a Montanha Sagrada] representa a letra yod.
Como explicamos em outro lugar, isso significa um yod no início e um
yod no final, de acordo com a explicação mística de "Eu sou o
primeiro e o último" (Yesha‟yahu 44:6). O primeiro yod representa
Chochmá, e o segundo yod representa Malchut, que também é
Chochmá de acordo com a explicação mística da luz que retorna de
baixo para cima [o segredo da dissolução e coagulação] chamada
Ohr Chozer. O yod superior é o yod do Tetragrammaton (yod-he-vav-

anteriores. Pardes Rimonim foi a primeira exposição abrangente da Cabalá Medieval,


embora seu esquema racionalmente influenciado tenha sido substituído pelo
subsequente esquema mitológico de Isaac Luria de Safed do séc. XVI.

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he), enquanto o yod inferior é o yod do Nome Alef-Dalet-Nun-Yod. O


último é o conceito de "águas femininas" (Mayim Nukvin) e o primeiro
imprime o conceito de "águas masculinas" (Mayim Dechurin).
Elas são chamadas de "águas femininas" porque recebem de
baixo, da execução dos mandamentos, do despertar debaixo. Por
meio do seu esforço o iniciado tem a capacidade de afetar os mundos
superiores para que a luz brilhe e envolva-os, como em um palácio.
Assim, a luz que é produzida [pelo cumprimento dos mandamentos] é
[como] um rei em seu palácio. Essas também são as chaves para os
aspectos internos e externos. O aspecto interno é a luz do
Tetragrammaton, que sem dúvida desce como a yashar de cima para
baixo. O aspecto externo da manifestação são os retornos
[coagulação]. Esse é o significado da declaração em relação às
sefirot "de baixo para cima e de cima para baixo", conforme explicado
em outro lugar. Isso é representado pelos yods superior e inferior da
letra alef. Este também é o segredo do entrelaçamento (shiluv) dos
dois Nomes - Yod-Alef-He-Dalet-Vav-Nun-He-Yod - com o yod
superior no início e o yod inferior no final.
Esses dois yods são mencionados na passagem como "pedras
de mármore puro". Cada um dos yods é uma pedra porque seu
formato é redondo como uma pedra. É chamado de "mármore"
porque o mármore é geralmente branco, o que indica o atributo de
rachamim (misericórdia ou compaixão). Nesse sentido, também é
semelhante à água [que representa a bondade, pois é o elemento do
atributo da sefirá de Chéssed]. Agora, como esses dois yods são o
aspecto da compaixão, assim como a água, que é chamada de
"águas da bondade", eles são chamados de "mármore", como
acabamos de explicar. Também podemos explicar isso por meio da
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[ciência de] tzeruf : A sefira de Chochmá é chamada de yesh - "ser"
[já que é a primeira sefirá imanente], soletrada yod-shin em hebraico.
7
Tzeruf (hebraico: ‫צרוף‬, significado lit. “permutação”) é o método de permutação
cabalística que envolve combinar as letras de uma palavra, nome ou frase hebraica,
incluindo os pessuqim (versiculos) da Torá, quantas vezes suas letras permitam. Este
método é utilizado tanto como meio de colocar intenção em suas meditações como
também para adquirir novos horizontes de interpretação para aquele versículo [por
exemplo] em específico. O Tzeruf é o pássaro que se esconde no Kan ha'Tzipor (Ninho
do Pássaro) ao leste do Gan Éden, sussurrando os segredos ocultos da Torá aqueles
que tem ouvidos para ouvir e olhos para ver.

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O Chochmá inferior [isto é, Malchut] é chamado de shai [shin-yod - as


letras idênticas, mas na ordem inversa]. Quando as duas palavras
são combinadas, elas formam a palavra shayish - Shin-Yod-Shin
("mármore").
O yod é Chochmá, a fonte, e o shin é a emanação de seus
ramos [ou seja, a ramificação em sefirot de acordo com a explicação
mística de Ohr Yashar]. Malchut é chamado de shai de acordo com a
explicação mística da luz que se inverte (Ohr Chozer). Quando essas
duas palavras se unem, eles são chamados de "puros", pois há vários
tipos diferentes de água [mencionados na Torá]; uma delas é a nidá -
que se refere as águas da impureza [porque são usadas para
purificar uma pessoa depois que ela foi contaminada pelo contato
com os mortos. Água de uma fonte viva é misturada com as cinzas
da novilha vermelha e então aspergida sobre a pessoa impura].
Separação e divisão são mencionadas em relação a este tipo de
água, como será explicado.
Essas águas [das pedras puras] de mármore são
completamente puras e pertencem a Atzilut [Reino das Emanações,
como veremos mais à frente]. "Eles são a letra yod - um yod superior
da letra alef (...)" Já explicamos acima que o Nome Yod-Alef-He-
Dalet-Vov-Nun-He-Yod tem os aspectos superior e inferior de
Chochmá [representado pelos dois yods] e seis letras intermediárias,
aludindo à letra vav [que tem um valor numérico de 6]. Observe que
os yods superior e inferior do alef são unidos por um vav diagonal.
Isso simboliza Tiféret [a sefirá central da Árvore das Vidas, atributo da
Beleza e da Harmonia], que se ramifica em seis extremidades [tiferet
é a sefira central das seis sefirot de Zeir Anpin]. O vav está situado
entre os yods para se juntar a eles. Ou seja, através de Tiféret, a filha
[Malchut] é capaz de ascender.
É por esta razão que Rabi Akiva os avisou para não dizerem
que aquelas duas pedras de mármore estavam separadas uma da
outra, D'us não o permita, pois isso não é verdade. Ao contrário, o
firmamento entre eles, que é Tiféret, na verdade os une. Não há
separação a não ser em um lugar de impureza espiritual como nosso
mundo, assim está escrito, “para separar entre o impuro e o puro”
(Vaicrá 11:47). Mas em um lugar de pureza - pedras de mármore
puro - "não diga 'água! água!". Isso é o que o velho estava
explicando.

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Outra explicação que lhe trará mais clareza sobre o mistério do


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Pomar está em Rashi, o qual não necessitamos de apresentações ,
onde ele diz que o Rabi Ben Azzai morreu ao olhar para a Divina
Presença e sua morte foi um deleite ao Sagrado, pois não foi como
se ele não suportasse, porém, ele se entregou completamente ao
êxtase profundo e anulou a sua existência por completo. Contudo, o
mal de Ben Zoma foi perder a sanidade, diferentemente de Ben
Azzai, a visão mística do Palácio do Rei foi muito para que ele
pudesse suportar, entre eles este era o rabino que talvez tinha menor
experiência com a mística da carruagem apesar de conter um rico
conhecimento sobre outras áreas como a halachá.
O terceiro [Rabi Acher] “cortou as plantações”, e Rashi explica
que ele se tornou um herege e passou a crer na existência de mais
deuses. Ao que isso se assemelha? O camponês visita o palácio do
Rei, e o mesmo é um local inacreditável e exuberante, com adornos
de pedras preciosas e muito brilho e esplendor, de uma magnificência
nunca imaginada antes por ele, em verdade, ele sequer imaginava
que seria possível existir um ambiente tão perfeito. No entanto, ao
observar, ele percebe que todos os nobres e membros da corte do
Rei têm vestes reais, e até parecem o próprio rei. Em sua ilusão, ele
pensa haver mais do que um Rei [não é possível que apenas um rei
tenha o domínio sobre tanta beleza] - O Rei percebe sua ignorância e
o expulsa de seu palácio [isto se refere a perder o mérito do Mundo
Vindouro]. Rabi Akiva, em contraste com todos eles, tornou-se aquele
que „entrou em paz e saiu em paz‟.
Outra pergunta natural que se faça é: existe um método para
conseguir entrar em um estado de consciência capaz afastar a mente
da sua humanidade pueril e subir até a morada do Santíssimos?
Bem, Rashi explica que os rabinos ascenderam aos Céus utilizando o
Nome Divino. Ou seja, os rabinos certamente utilizaram-se de
técnicas da Cabalá. Os sábios da tossafot questionam em seus
comentários sobre o Talmud e dizem que “os quatro sábios não
subiram literalmente, mas pareceu-lhes que subiram”, por outro lado,
o Rabino Louis Ginzberg escreveu que a viagem ao paraíso "deve ser
tomada literalmente e não alegoricamente".
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Vide „O Recebimento‟ - cap.4 - A Tradição.

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São diferentes as opiniões, porém, veremos se podem ser


conciliadas. Para Rashi, de fato os rabinos utilizaram de técnicas
[cabalísticas] com o Nome Divino para subirem aos céus. Em
seguida, os tossafistas dizem que eles não subiram literalmente, o
que também é correto afirmar, pois a experiência mística ocorre por
meio da expansão da consciência e [certamente] não é uma
experiência corpórea. O corpo está irremediavelmente preso, limitado
e obstruído por medos, traumas e cargas emocionais que foram
aglutinadas com o tempo no coração de todas as pessoas. Porém,
quando estamos falando de revelação mística, estamos falando de
um processo que acontece fora do estado de consciência vulgar e
fixo do dia-a-dia - e isso implica em uma experiência extracorpórea.
Agora, o fato de não ser uma experiência corpórea não diz [em
nenhum grau] que não seja uma experiência verdadeira e de uma
beleza e ciência incomparáveis com qualquer coisa que possamos
contemplar no estado de vigília. Ou seja, a afirmação do Rabino
Louis também é correta ao dizer que a experiência do Pomar não
deve ser tomada alegoricamente, mas sim literalmente, pois é uma
experiência que não se trata de alucinação ou condução hipnótica,
mas, algo que está para além da nossa limitada narrativa e que só
deve ser compreendida por aqueles que exploram estes estados
alterados de consciência.
Igualmente, é suficiente para você saber que o Pomar de
Romãs é a própria Estrutura da Criação e manifestação do Nome
Divino em todos os mundos e, subir a Montanha Sagrada é
equivalente a revelar os diferentes atributos do Pomar, experiência
essa que deve ser buscada como se procura o ouro e a prata. Outras
perguntas nos vêm em mente, mas a principal para resolvermos
neste momento é: Como este Pomar foi criado, formado e se fez vivo
em todos os mundos e qual é a sua influência/relação com nossa
existência? Essas e outras perguntas serão respondidas nos
capítulos seguintes, onde vamos adentrar para dentro dos mistérios
do Pomar e revela-lo de acordo com aquilo que é apropriado para
essa obra.

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