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INTERPRETAÇÃO

TEXTUAL
Índice

Capítulo 1 - Principais erros de interpretação textual - Treinamento inicial.............................................. 3


Capítulo 2 - Principais Erros de Interpretação Textual - Fixação...............................................................5
Capítulo 3 - Níveis de leitura................................................................................................................................................6
Capítulo 4 - Textualidade.......................................................................................................................................................8
Capítulo 5 - Intencionalidade..............................................................................................................................................10
Capítulo 6 - Imparcialidade relativa..............................................................................................................................11
Capítulo 7 - Análise de texto opinativo.........................................................................................................................14
Capítulo 8 - Texto e intertextualidade...........................................................................................................................17
Capítulo 9 - Intertextualidade interna...........................................................................................................................21
Capítulo 10 - Intertextualidade externa........................................................................................................................22
Capítulo 11 - Intertextualidades interna e externa não se excluem..........................................................24
Capítulo 12 - Intertextualidade e Paráfrase...............................................................................................................26
Capítulo 13 - Intertextualidade em textos “híbridos”...........................................................................................27
Capítulo 14 - Progressão referencial (endófora)...................................................................................................32
Capítulo 15 - Progressão referencial (exófora).......................................................................................................34
Capítulo 16 - Intertextualidade interdisciplinar (parte 1)..................................................................................35
Capítulo 17 - Intertextualidade interdisciplinar (parte 2).................................................................................37
Capítulo 18 - O “nós” no texto...............................................................................................................................................39
Capítulo 19 - Sem “eu”, sem “nós”: o discurso gramaticalmente impessoal”...................................42
Capítulo 20 - Texto para análise, revisão e aprofundamento.....................................................................44
Capítulo 21 - Encadeamento entre parágrafos......................................................................................................46
Capítulo 22 - Texto para análise, revisão e aprofundamento.....................................................................48
Capítulo 23 - Interlocução explícita – Quebra de simetria............................................................................50
Capítulo 24 - Texto e definições metalinguísticas................................................................................................52
Capítulo 25 - Um olhar lírico sobre as narrativas..................................................................................................54
Capítulo 26 - Outro olhar lírico sobre as narrativas............................................................................................56
Capítulo 27 - Heterogeneidade discursiva................................................................................................................59
Capítulo 28 - Um pouco mais de heterogeneidade discursiva..................................................................62
Capítulo 29 - Texto dialético.................................................................................................................................................65
Capítulo 30 - Muito mais do que entretenimento – Textos híbridos para reflexão......................66

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INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Capítulo 1 - PRINCIPAIS ERROS DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - TREINAMENTO INICIAL

Mais uma vez o mundo se curva... mas não é no futebol.


Uma pesquisa sobre ajuda ao próximo em diferentes cidades do mundo dá o título de campeão
ao Rio de Janeiro

O leitor está cansado de más notícias? Quer uma boa? Lá vai: somos gentis. Os brasileiros, ou, pelo menos,
entre os brasileiros, aqueles que nasceram ou vivem na cidade do Rio de Janeiro, podem se vangloriar de
ostentar, com chancela acadêmica, o título de campeões mundiais de gentileza. Um estudo de pesquisadores
americanos sobre o comportamento das pessoas na rua, em face de alguém precisando de ajuda, em 23 cidades
de 23 países diferentes, deu Rio de Janeiro na cabeça. O estudo, levado a cabo por Robert V. Levine e Karen
Philbrick, ambos da Universidade Estadual da Califórnia, e Ara Norenzayan, da Universidade de Michigan, foi
engenhoso e minucioso.
O que se testou, em experiências realizadas durante cinco anos de pesquisa, foi o comportamento dos
transeuntes diante de três situações: um cego que tenta atravessar a rua; alguém com um problema na
perna, mancando fortemente, que deixa cair uma pilha de revistas e não consegue levantá-la; e alguém que
inadvertidamente deixa cair uma caneta do bolso.
Os cariocas passaram brilhantemente pelo triplo teste. Em 93% dos casos, tiveram reação positiva: ajudaram
o cego a atravessar a rua, o homem com problema na perna a recolher as revistas, e alertaram o que tinha
perdido a caneta do ocorrido. Em último lugar ficou Kuala Lumpur, capital da Malásia, com apenas 40% de
reações positivas. Nova York fez jus à fama de abrigar gente impaciente e mal-educada, e ficou em penúltimo
lugar, com 45%. Roma foi melhor, mas também não se mostrou grande coisa: 63% de reações positivas, e um
medíocre 16.º lugar entre as 23 cidades.
Roberto Pompeu de Toledo

ATENÇÃO: EM QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO, OS PRINCIPAIS ERROS EXPLORADOS PELOS AUTORES


DE PROVAS SÃO: EXTRAPOLAÇÃO (quando uma afirmativa vai além do que o texto afirma); RESTRIÇÃO
(quando uma afirmativa restringe o que o texto afirma) e CONTRADIÇÃO (quando uma afirmativa
contradiz o que o texto afirma).

Questão 01
A leitura atenta do primeiro parágrafo permite-nos afirmar que, segundo o autor:
(A) as notícias boas predominam na imprensa.
(B) o Rio foi uma das cidades de razoável desempenho na pesquisa de solidariedade realizada por ame-
ricanos.
(C) o Rio de Janeiro foi a única cidade brasileira inclusa na pesquisa dos americanos.
(D) Robert V. Levine e Karen Philbrick não participaram do estágio inicial da pesquisa.
(E) Robert V. Levine e Karen Philbrick são os pesquisadores que levaram a cabo a pesquisa americana.

Questão 02
Em relação aos resultados da pesquisa a que se refere o texto, é correto inferir que:
(A) o povo do estado do Rio de Janeiro é o mais gentil do país.
(B) todo carioca é gentil.
(C) a maioria dos cariocas são gentis.
(D) o povo paulista é frio.
(E) o carioca é o povo mais prestativo do país.
Questão 03
Ao interpretar um texto, o candidato tem de ser cauteloso: sua interpretação não pode extrapolar, restringir
ou contradizer o escrito. Tal cautela, entretanto, não deve inibir o “conhecimento de mundo”. O candidato
tem que se servir dele para perceber os implícitos, os subentendidos, conteúdos das entrelinhas, sem os
quais uma interpretação não é eficiente. Releia: “O leitor está cansado de más notícias? Quer uma boa? Lá
vai: somos gentis.”
A partir dessas frases que iniciam o texto, pode-se subentender alusão à seguinte realidade social:
(A) Os leitores, hoje em dia, só se interessam por más notícias.
(B) Em geral, as notícias fornecidas pelos jornais são más, isto é, aludem aos aspectos negativos do
cotidiano social.
(C) A nossa imprensa manipula as notícias, mostrando o que há de ruim, escondendo o que há de bom.
(D) Notícias más cansam os leitores, os quais também querem entretenimento, algo que represente
uma fuga da realidade.
(E) Ninguém é de ferro. Uma notícia boa de vez em quando cai bem.

Questão 04
Com a maneira como inicia o texto, dirigindo-se ao leitor, o autor deixa clara a seguinte intenção:
(A) Individualizar o leitor, a fim de que o texto ganhe ares de conversa íntima.
(B) Dar a ideia de que ele, autor, pode influenciar no transcurso diário do leitor.
(C) Lembrar ao leitor alguma relação de parentesco entre ele – leitor – e o autor.
(D) Dar um toque de formalidade ao texto, marcando a distância entre: eu/escritor; você/leitor.
(E) Generalizar o leitor, por meio de linguagem familiar, a fim de que o texto ganhe ares de uma conver-
sa informal.

Questão 05
Das frases abaixo, não exemplifica a linguagem conotativa:
(A) Em face de alguém precisando de ajuda, em 23 cidades de 23 países diferentes, deu Rio de Janeiro
na cabeça.
(B) Para fazer a função do cego, por exemplo, com bengala e óculos escuros, duas pessoas foram treina-
das.
(C) Roma foi melhor, mas também não se mostrou com ficha limpa.
(D) Se o leitor está sentindo um cheiro de Terceiro Mundo no ar, vá tirando o cavalinho da chuva.
(E) Mas ela se enfraquece quando se tem em conta o pelotão que vem logo a seguir.

Questão 06
“Um estudo de pesquisadores americanos sobre o comportamento das pessoas na rua, em face de alguém
precisando de ajuda, em 23 cidades de 23 países diferentes, deu Rio de Janeiro na cabeça. O estudo, levado
a cabo (...)”. No trecho transcrito, a substituição do artigo indefinido pelo artigo definido é coerente porque:
(A) no contexto apresentado, é indiferente o emprego do artigo, seja definido, seja indefinido.
(B) o artigo o , no caso, atualiza um item lexical, indicando identidade.
(C) o artigo “o” introduz um novo elemento no discurso, ao contrário do artigo “um”.
(D) o artigo indefinido sempre indefine; já o artigo definido sempre define.
(E) no caso em questão, o artigo “o” dá um novo valor semântico ao substantivo “estudo”.

ATENÇÃO: Em provas, o candidato necessariamente lida com os implícitos textuais. Implícito é o que não está
explícito e, portanto, provoca uma inferência autorizada pela mensagem textual.

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INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 07
Releia o título do texto 1: “Mais uma vez o mundo se curva...” Esse título permite ao leitor afirmar o seguinte:
(A) O mundo já se curvou pelo menos uma vez.
(B) O mundo já se curvou dezenas de vezes.
(C) O mundo se curvou pela última vez.
(D) O mundo nunca se curvou.
(E) O mundo nunca mais se curvará.

Capítulo 2 - PRINCIPAIS ERROS DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - FIXAÇÃO

Sem pena de morte, só noutra realidade

A pena de morte não pode ser vista como solução para a violência no Rio de Janeiro e noutros centros
urbanos. Sua adoção, entretanto, é um passo necessário para a reversão deste processo que aí está. Das duas
uma: ou pena de morte já ou megamudanças já.
A primeira diz respeito à ação repressora das autoridades. Já se assegurou acabar a violência no Rio em
três meses; já se falou em polícia inteligente; já se falou em Força-tarefa; tudo blá-blá. A promessa é sempre
a mesma: acabar com a violência. Mudam as propostas de meio de combate. No fundo, entretanto, nada
muda. O que se vê é o poder público subindo morros e adentrando favelas. Inclusive o discurso de que anos
e anos de violência não se vão acabar em um ou dois mandatos. Nisso, o tempo passa, governo sai, governo
entra, às vezes permanece, às vezes sai, mas continua, etc. E a violência está aí.
O mal maior está na própria estrutura policial. A corrupção está lá dentro. A cumplicidade, o interessado na
violência. Sair com armas, subir morros e penetrar favelas, tudo isso é um “círculo vicioso”, pois a verdadeira
batalha não é dos quartéis para fora, mas sim para dentro. Não apenas dos quartéis, mas também de estruturas
superiores. Não há como acabar com o tráfico, se os grandes financiadores estão vestidos de terno e gravata,
ocupando posições de extrema violência, por vezes eleitos pelo próprio iludido povo.
Outra mudança necessária diz respeito à ação social. O discurso político será sempre indiscutivelmente
evasivo, inócuo, demagogo, se não promover mudanças estruturais na educação. No que tange à educação,
o falecido Brizola idealizou o Ciep: retirar a criança da rua, colocá-la numa escola integralmente, dar-lhe
conhecimento, alimento e assistência, um sonho condenado. A sociedade espera até hoje por uma ideia melhor.
Igualmente imprescindíveis seriam as interações de saúde, esporte e trabalho. O poder público tem de levar
saúde às comunidades carentes, numa ação preventiva que envolve, por exemplo, o saneamento básico. O
esporte, já está provado, tem o mérito de direcionar a criança para outros ídolos que não os próprios traficantes
da localidade. E oportunidades de trabalho que resultam de investimentos sociais.
Um poder público austero, em busca de uma faxina interna a fim de eliminar o jogo “franciscano” do poder,
o “rabo preso”, o “toma lá, dá cá”. Uma polícia precisa na ação repressiva, bem preparada, inteligente. A volta
da escola pública de qualidade; não mais seria preciso pagar para se exercer um direito constitucional. Um
sistema público de saúde também atuante, próximo do cidadão. O incentivo aos esportes, a proliferação de
ídolos como Romário, Ronaldo, etc. Quanta utopia. Não devemos depender disso para tentar conter a situação
de violência. A pena de morte assusta, pois cutuca diversas ideologias, (re)acende polêmicas, mas é a menor
de todas as grandes e significativas mudanças que poderiam ser promovidas.
AS. Crônicas contemporâneas.

Questão 01
Após uma leitura atenta do texto, o que se entende do título “Sem pena de morte, só noutra realidade” está
expresso na seguinte alternativa:
(A) Não deve haver pena de morte numa realidade que não seja especificamente a do Rio de Janeiro.
(B) Não deve haver pena de morte na nossa realidade, isto é, apenas em outra.
(C) Não deve haver pena de morte sem que haja uma outra realidade.
(D) É preciso haver pena de morte, em centros urbanos como o Rio, ante a realidade vigente.
(E) É preciso haver pena de morte noutra realidade.
Questão 02
De acordo com as ideias veiculadas no texto, pode-se afirmar que, segundo o autor:
(A) Apesar do preconceito e das polêmicas em torno da pena de morte, ela é a efetiva solução para o
problema da violência nos centros urbanos.
(B) A pena de morte deve ser vista como parte de um conjunto de fatores – de segurança e de ação
social – simultaneamente necessários para se resolver o problema da violência social.
(C) A pena de morte não resolveu o problema da violência em nenhuma parte do mundo, constituindo,
inclusive, uma afronta a teorias religiosas e, por tudo isso, não deve ser adotada de forma alguma.
(D) A pena de morte é um instrumento que, se implantado, pode ajudar no combate à violência, pelo
menos enquanto outras mudanças – estruturalmente mais complexas – não forem implementadas.
(E) A implementação da pena da morte teria vários benefícios, dentre os quais o de acuar a violência no
Rio de Janeiro e noutros centros urbanos, prescindindo a sociedade da adoção de outras medidas de
prevenção.

Questão 03
O texto é do tipo:
(A) argumentativo.
(B) descritivo.
(C) narrativo.
(D) publicitário.
(E) técnico.

Questão 04
Pode-se afirmar que o autor defende a pena de morte:
(A) incondicionalmente, nas condições atuais.
(B) por pressão de grupos políticos.
(C) apenas em casos de crime hediondo.
(D) por acreditar ser ela a única solução possível no combate à violência.

Questão 05
Em termos estruturais, o roteiro que se verifica nos parágrafos do desenvolvimento está antecipado, no
primeiro parágrafo, pelo uso do seguinte termo:
(A) “pena”.
(B) “solução”.
(C) “adoção”.
(D) “processo”.
(E) “megamudanças”.

Capítulo 3 - NÍVEIS DE LEITURA

Você sabe o que são “níveis de leitura”? Isso mesmo. A pergunta pressupõe estágios de leitura. O ato de
“ler” deve ser compreendido a partir de estágios, já que, por exemplo, qualquer pessoa alfabetizada pode
ler um texto, o que não significa necessariamente entender o texto. Para entendermos melhor o assunto,
estabeleçamos quatro grandes fases da leitura.
Decodificação – A condição básica para a leitura é a possibilidade de decodificação, ou seja, capacidade
de entender os símbolos escritos, relacionando-os a seus devidos significados. Cada letra, por exemplo, é
um símbolo gráfico que integra o código da linguagem escrita. Para se ler um texto em língua portuguesa, é
preciso que o leitor reconheça as letras, as palavras e tudo o mais que daí decorre.

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INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Compreensão - O segundo estágio é a compreensão, ou seja, o leitor precisa captar a estrutura textual, o
gênero, a plataforma, a fim de alcançar o sentido geral do texto, a partir do qual se pode até fazer um resumo.
A compreensão textual está diretamente relacionada ao que se pode ver, ao que está explícito, ao que pode,
por exemplo, ser sublinhado.
Interpretação - Interpretar é um pouco mais do que compreender. A compreensão está diretamente
relacionada ao explícito; já a interpretação vai além do explícito. Interpretar requer a detecção dos chamados
pressupostos e implícitos textuais. Interpretar envolve também um permanente diálogo com o texto, a ponto
de o leitor poder concordar ou não com o que lê.
Retenção – O último estágio envolve a retenção de conhecimento. Uma leitura plena não se encerra com o ponto-
final do texto. As principais informações são mentalmente retidas pelo leitor, e isso fortalece seu acervo cultural.

Questão 01
“Em uma aula tradicional, era muito comum o professor pedir a algum aluno que realizasse a leitura de um
texto. Por vezes, o nervosismo dominava o aluno. Isso não o impedia de realizar a tarefa incumbida, mas,
nesse caso, a leitura ficava restrita ao âmbito da decodificação. Terminada a leitura, o aluno não era capaz
sequer de apontar o tema do texto que acabara de ler.”
Na situação descrita acima, pode-se afirmar que a leitura do aluno se restringiu à:
(A) decodificação
(B) compreensão
(C) interpretação
(D) retenção

Questão 02
“Certa vez, um homem parou o carro em frente ao sinal vermelho. A seu lado, sua mulher; no banco de trás,
a filha de cinco anos. Ela avistou, ao lado, pendurada à porta de uma loja, uma placa que dizia: “Garagem:
não estacione.” Ela leu e indagou:
— Pai.
— Sim, filha.
— Garagem não é para estacionar?
— Sim, claro, por quê?
— Olhe ali. (Apontou para a placa)
Na situação descrita acima, pode-se afirmar que a leitura do aluno se restringiu à:
(A) decodificação e compreensão.
(B) compreensão e interpretação.
(C) interpretação e retenção.
(D) retenção e decodificação.

Questão 03
“A família já estava no avião, e os últimos preparativos para o voo já ocorriam. A filha no colo da mãe, o marido
ao lado, a aeromoça, de costas para a cabine dos pilotos e de frente para os passageiros, fazendo sinais de
orientação. Acima dela, uma placa: na primeira linha, ‘não fume’; na segunda linha, ‘no smoking’. A menina
leu a placa e indagou:
— Mãe, onde fica o “smoking”?
É óbvio que a leitura da menina apresenta, em algum ponto, um equívoco. O equívoco está relacionado a
que âmbito de leitura? Justifique.
Capítulo 4 - TEXTUALIDADE

A palavra é a ferramenta básica para se construir um texto, mas um texto não é um amontoado de palavras.
Não mesmo. Existe uma lógica na organização. Tanto para produzir um texto quanto para interpretá-lo, é
preciso que alguns aspectos sejam levados em consideração. Vamos vê-los a partir de agora.
A coerência – Por definição, coerência envolve ligação, nexo e harmonia entre os segmentos de um texto.
A coerência está mais no âmbito semântico do que no estrutural. A harmonia semântica entre as palavras é
o primeiro grande passo para a harmonia entre as orações; a harmonia semântica entre estas é o primeiro
grande passo para a harmonia entre os períodos; a harmonia semântica entre estes é o primeiro grande passo
para a harmonia entre os parágrafos. Assim, passo a passo, constrói-se um texto coerente.
A coesão - Por definição, coerência envolve ligação, nexo e harmonia entre os segmentos de um texto.
Calma. É isso mesmo. Não estranhe. A definição básica é a mesma de coerência. Isso mostra que “coesão”
e “coerência” são “irmãs”, formam um conjunto que, quando alinhado, confere ao texto elegância, lógica e
clareza. Se a coerência está mais no âmbito semântico do que no estrutural, a coesão, ao contrário, está mais
no âmbito estrutural do que no semântico. A coesão envolve o bom uso dos recursos gramaticais: pronomes,
artigos, preposições, conjunções, etc.
A intencionalidade – Todo texto – explícita ou implicitamente – veicula a intencionalidade de seu autor. Para
isso, ele se esforça por contabilizar o que escreve e como escreve com o efeito que quer produzir no leitor.
A aceitabilidade – Ao escrever um texto, a intencionalidade de seu autor deverá levar em conta a expectativa
do receptor. Pode ser que a intenção do autor seja a de surpreender, levar o leitor à reflexão. Com isso, ele,
autor, pode prever que o leitor vá ter uma postura reacionária. Nesse contexto, o autor, ao prever isso e para
preservar sua intencionalidade, deverá ter muito cuidado, a fim de que se efetive não só a aceitabilidade da
leitura, mas também – se possível – a concordância.
A situacionalidade – Todo texto precisa estar adequado ao contexto sociocomunicativo em que efetivamente
é produzido.
A informatividade – Quanto menos previsível um texto, maior a curiosidade do leitor. A informatividade
– como o nome já sugere – corresponde ao conjunto de informações, o qual deve apresentar um equilíbrio
e perfeita consonância com a intencionalidade e a aceitabilidade.
A Intertextualidade – Não há texto sem intertextualidade. Todo texto dialoga com outro(s), quer presentes,
quer ausentes.

Questão 01
Leia com atenção o texto a seguir:
Cama. Chinelo. Banheiro. Vaso. Descarga. Pia. Escova. Pasta. Água. Toalha. Quarto. Corredor. Cozinha. Café.
Pão. Manteiga. Corredor. Quarto. Banheiro. Chuveiro. Toalha. Escova. Pasta. Água. Toalha. Quarto. Armário.
Roupa. Sapato. Relógio. Carteira. Celular. Corredor. Sala. Chaveiro. Porta. Elevador. Carro. Cinto. Partida. Rua.
O texto acima é ou não coerente? Justifique.

Questão 02
“Existem fatores de textualização que funcionam como contextualizadores do evento comunicativo.
Eles agem juntos, a fim de manter o entendimento e situar o leitor no espaço em que se dá a comunicação.
Diante disso, os fatores de contextualização desempenham um papel muito importante no estabelecimento
da coerência”.
(KOCH e TRAVAGLIA, 2015, p.84).

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INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Assinale o que for correto quanto ao que se afirma a respeito desses fatores.
(A) A coesão é um aspecto textual que tem por finalidade primar pelas boas relações semânticas e
estruturais, a fim de que o texto ganhe unicidade, identidade e individualidade.
(B) A situacionalidade é um fator que estabelece uma relação dialogal entre o texto que se lê e outros
textos na mente de quem lê.
(C) A intertextualidade estabelece os parâmetros que norteiam os interesses do texto.
(D) A informatividade consiste no bom uso de conectores e de referenciadores, a fim de que o texto
ganhe logicidade.
(E) A coerência é o fator que propicia a interpretação textual, sendo necessário, para isso, o bom uso de
conectores lexicais, sobretudo as conjunções, sem as quais o texto tende sempre a ser truncado.

Questão 03
Leia com atenção o texto a seguir:
Era quase meia-noite, e as luzes da casa se mantinham acesas. Isso era necessário, pois o Sol fora embora
havia cerca de meia hora naquela noite de Natal. Sobre a mesa, a feijoada era o prato principal. E alguns doces
sortidos: maria-mole, farofa, pé de moleque, pizza, suspiro, abacate, cocada, doce de coco e muito vatapá.
O assunto era a ansiedade das crianças; afinal, outubro logo chegaria e ansiavam pelos presentes, dos quais
os livros eram sempre os mais pretendidos, em detrimento de aparelhos eletrônicos, como celulares, bolas
de futebol e bonecas.
O texto acima é ou não coerente? Justifique.

Questão 04
A casinha da minha infância distante no tempo, mas tão próxima na mente. Casinha antiga, amarelada
na cor e amarelecida do sol, álbum de tantas recordações, de tantas lembranças, de tantas cenas. No meio
do terreno, cheia de árvores em volta: mangueiras, coqueiros, caramboleiras (que carambolas gostosas),
mamoeiros, laranjeiras, um pequeno sítio. Palco de minhas fantasias infantis, cenário mais íntimo das minhas
pluralidades. E a rede? Elo entre uma das mangueiras e um dos coqueiros, em meio à passarada cantante.
Aquele balanço. Quanta saudade. Saudade infinda.
No texto acima, predomina o seguinte tipo de composição discursiva:
(A) Descrição.
(B) Narração.
(C) Notícia.
(D) Dissertação.
(E) Receita.
Capítulo 5 - INTENCIONALIDADE

Intenções por trás das palavras

Muitos escritores, cientistas e formadores de opinião usam e abusam de nossa confiança. Sutilmente nos
enganam para defender os próprios interesses. É o que em epistemologia chamamos de “a agenda oculta”.
É assustador o número de filmes de Hollywood que têm uma agenda oculta, e como caímos como uns patos
acreditando em tudo. Eu sempre desconfio da agenda oculta de escritores, colunistas e pseudocientistas. É a
primeira coisa que tento adivinhar. Ele, ou ela, está querendo me dizer exatamente o quê? Que bronca carrega
na vida? Ele é separado, foi um dia traído, multado, preso ou ludibriado?
Quanto mais velhos ficamos, mais percebemos quanta agenda oculta existe por trás de quase tudo o que
é escrito hoje em dia no Brasil e no mundo. É simplesmente desanimador.
Salman Rushdie, o autor de Versos Satânicos, ao responder recentemente sobre o motivo para preferir
escrever ficção a livros técnicos, afirmou: “Na ficção pegamos o leitor desprevenido.” Desprevenido significa
sem a vigilância epistêmica necessária para perceber o que o escritor está tentando fazer. É mais fácil uma
feminista radical escrever um livro de ficção em que todos os personagens masculinos são uns calhordas do
que escrever um livro de sociologia dizendo que “todo homem é um canalha”, o que resultaria em processo
judicial. Por isso, prefiro sempre artigos que apresentam tabelas, números e outras informações concretas
em vez de “ideias”, opiniões e indignações. É justamente isso que editores de livros no mundo inteiro nos
aconselham a evitar, porque senão “ninguém lê”, o que infelizmente é verdade.
Mas é justamente isso que deveria ser lido.(...) Infelizmente, somos uma nação que idolatra quem faz
parte da academia de letras, aqueles bons de papo, que escrevem bem, e não aqueles que pesquisam bem
ou calculam com rigor científico. Ignoramos solenemente os que fazem parte de nossa Academia Brasileira
de Ciências, que descobrem a essência do que ocorre na prática, as causas de seus efeitos, os que usam o
método científico de análise. O último acadêmico de ciências nem sequer foi noticiado pela imprensa brasileira.
“Imortais” no Brasil são aqueles bons de bico, que nos seduzem com belas frases e palavras, por isso somos um
país do “me engana que eu gosto”. Nosso descaso com ciência, estatísticas, equações, dados, números, análise
científica é a causa de nosso atraso. Porque não nos preocupamos com ciência, viramos o país da mentira.
Se não mudarmos nossa mentalidade, se não nos preocuparmos em detectar a agenda oculta de todos
aqueles que nos pregam alguma coisa, pagaremos caro pela nossa falta de vigilância epistêmica. Seremos
sempre presas fáceis dos que falam bonito e escrevem melhor ainda.
Stepen Kanitz

Questão 01
Pela estrutura e conteúdo, a melhor definição para esse tipo de texto é:
(A) narrativo didático, pois ensina o poder que as palavras têm.
(B) expositivo preditivo, pois antecipa consequências futuras do comportamento atual do brasileiro.
(C) argumentativo polêmico, pois apresenta ideias que defendem uma posição contra outras possíveis.
(D) descritivo informativo, pois informa características dos “imortais”, de um lado, e dos cientistas, de outro.
(E) dissertativo normativo, pois visa dar normas de conduta aos leitores.

Questão 02
A principal ideia defendida no texto é a de que:
(A) a falta de senso crítico torna as pessoas vítimas fáceis de falsos discursos.
(B) o homem de ciência tem mais valor que o homem de letras.
(C) pessoas que fazem uso da linguagem têm que ter cuidado para não ser mal-interpretadas.
(D) em qualquer texto, os números deveriam aparecer, a fim de que ganhasse confiabilidade.
(E) há uma “agenda oculta” também nos filmes de Hollywood.

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INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 03
Num texto pode haver muitas vozes. Quanto às vozes presentes no texto lido, só é incorreto afirmar que:
(A) de forma genérica, faz-se presente a voz dos escritores.
(B) de forma específica, faz-se presente a voz do escritor salman rushdie.
(C) a voz predominante no texto é a dos cientistas em geral.
(D) ficcionistas também têm voz no texto.
(E) a voz veiculada por meios cinematográficos também marca presença no texto.

Questão 04
“Ele é separado, foi um dia traído, multado, preso ou ludibriado?”. Dentre os particípios destacados, aquele
que não apresenta sentido de passividade é:
(A) separado.
(B) traído.
(C) multado.
(D) preso.
(E) ludibriado.

Questão 05
“Quanto mais velhos ficamos, mais percebemos quanta agenda oculta existe por trás de quase tudo o que é
escrito hoje em dia no Brasil e no mundo.”
A ideia predominante entre as ações presentes no segmento sublinhado é:
(A) tempo.
(B) proporção.
(C) comparação.
(D) conformidade.
(E) adversidade.

Capítulo 6 - IMPARCIALIDADE RELATIVA

Defender a tese da notícia como construção da realidade e não como um espelho já rendeu algumas
discussões acaloradas com colegas de profissão que não conseguem entender – ou se recusam a refletir sobre
– esta história “de inventar a realidade”. De fato, ninguém inventou a violência no Rio de Janeiro, os escusos
envolvimentos do Presidente Michel Temer, as polêmicas decisões de Gilmar Mendes, etc. etc. Por que, então,
insistir na tese de que a imprensa inventa, cria, constrói uma ou várias realidades a partir de suas narrativas?
Assim como não há uma verdade capaz de dar conta da totalidade de um fato ou de uma situação, não há
também possibilidade de uma pessoa, por mais bem intencionada que seja, dar conta de descrever o que vê
de forma inocente. As narrativas são sempre híbridas no sentido de que se constituem em uma teia de outras
narrativas que tomam forma no discurso de quem as produz. O discurso da imprensa chega à sociedade sob
o manto da imparcialidade, da verdade e da objetividade. São discursos produzidos por seres que não olham
de fora a realidade, como observadores privilegiados, mas, antes, se encontram inseridos nela com todas as
subjetividades que os compõem.
Ao falar de objetividade, seria interessante levar em conta o contexto em que ela surgiu como um atributo
do jornalismo e destacar que não se pretendeu, ao evidenciá-la naquele momento, negar a subjetividade.
Nelson Traquina, pesquisador português, fala no seu livro Teorias do jornalismo (Editora Insular, 2005) que a
objetividade surgiu no fim do século 19 como um antídoto para os males que o jornalismo sofria, como perda
de credibilidade. Assim, a objetividade se constituiu como uma série de procedimentos capazes de assegurar
o exercício do jornalismo com credibilidade. [...]
Nelson Traquina diz que o novo jornalismo passou a viver, então, uma espécie de ritual estratégico, o culto
dos fatos, ancorado no pensamento positivista reinante na época. A notícia passou a ser produzida regida
pelos fetiches da objetividade e da imparcialidade. A imagem do comunicador neutro e desinteressado surgiu
como ideal para configurar a atividade que se mostrava ao mundo como o espelho da realidade. Essa forma
de encarar a objetividade em oposição à subjetividade pode levar a crer que os fatos são descritos tal e qual
ocorreram.[...]
O jornalista, diante de duas versões de um mesmo fato ou diante de mais de uma possibilidade de
abordagem, pode optar por narrar as duas e se isentar de possíveis ataques à sua parcialidade. Ele, de certa
forma, lava as mãos e usa o argumento de que foi objetivo e ouviu os dois lados da questão. Essa imparcialidade
é impossível, pois ao apresentar determinados aspectos da realidade sob a forma de notícias, o jornalismo
constrói novas realidades e novos referentes. A noção de verdade, tão cara ao jornalismo, está ligada à ideia
de uma realidade que está pronta em algum lugar e que pode ser apreendida utilizando-se os critérios da
imparcialidade e da objetividade. Ocorre que, ao buscar informações na imprensa diária, o cidadão comum
nem sempre se dá conta de que as informações que recebe foram lidas, recortadas e selecionadas. É impossível
separar a realidade de sua produção.
Outro argumento em favor da tese da notícia como construção é a falta de neutralidade da linguagem, que
não pode funcionar como transmissora direta de significados. No jogo de sombras que se faz na imprensa, a
verdade surge por um ângulo específico que traz imbricada em sua narrativa uma série de outras verdades
subjetivas do sujeito que narra. Acho no mínimo curioso acreditar e defender que um jornalista se despe
de tudo que é e acredita para se lançar à observação neutra da realidade. Jornalistas não são observadores
neutros ou passivos; eles são sujeitos ativos na construção da realidade.
Marcilene Forechi

Questão 01
A tese defendida pela autora é:
(A) A notícia não é o espelho da realidade.
(B) A notícia não é uma invenção da realidade.
(C) A notícia não é uma criação da realidade.
(D) A notícia não é uma construção da realidade.
(E) A notícia não tem compromisso com a realidade.

Questão 02
Constituem argumentos, na defesa da tese da autora, exceto:
(A) São discursos produzidos por seres que não olham de fora a realidade.
(B) As narrativas são sempre híbridas, tomam forma no discurso de quem as produz.
(C) No jogo de sombras que se faz na imprensa, a verdade traz verdades subjetivas do sujeito que narra.
(D) Ninguém inventou a violência no Rio de Janeiro e as polêmicas decisões de Gilmar Mendes, etc. etc.
(E) É impossível separar a realidade de sua produção.

Questão 03
No primeiro parágrafo do texto, encontram-se pistas que podem levar o leitor a concluir que a autora é uma:
(A) jornalista.
(B) repórter da Rede Globo.
(C) advogada.
(D) política.
(E) historiadora.

12
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 04
Assinale a alternativa em que a expressão destacada esteja sendo usada em seu sentido denotativo.
(A) Assim, a objetividade se constituiu como uma série de procedimentos capazes de assegurar o exercí-
cio do jornalismo com credibilidade.
(B) O discurso da imprensa chega à sociedade sob o manto da imparcialidade ...
(C) ... uma espécie de ritual estratégico, o culto dos fatos, ancorado no pensamento positivista ...
(D) A notícia passou a ser produzida regida pelos fetiches da objetividade e da imparcialidade.
(E) Ele, de certa forma, lava as mãos ...

Questão 05
Dos títulos propostos abaixo, o mais adequado ao texto é:
(A) Onde começa e termina o trabalho do jornalista?
(B) A realidade é falsa.
(C) Invenção da realidade: meta do jornalismo.
(D) Jornalismo: retrato (im)parcial da realidade.
(E) A mentira é a máscara da verdade e vice-versa.

Questão 06
Percebe-se, no primeiro parágrafo, o que se confirma na leitura integral do texto: uma das funções de linguagem
– centrada no código – ganha ênfase. Trata-se da função:
(A) emotiva.
(B) apelativa.
(C) metalinguística.
(D) referencial.
(E) fática.

Questão 07
“São discursos produzidos por seres que não olham de fora a realidade...” O termo destacado desempenha
a função semântica de:
(A) substituir.
(B) modificar.
(C) quantificar.
(D) qualificar.
(E) conectar.

Questão 08
“[...]ao evidenciá-la naquele momento, negar a subjetividade.” O termo destacado desempenha a função
semântica de:
(A) substituir.
(B) modificar.
(C) quantificar.
(D) qualificar.
(E) conectar.
Questão 09
“[...]o jornalismo constrói novas realidades [...]” O termo destacado desempenha a função semântica de:
(A) substituir.
(B) modificar.
(C) quantificar.
(D) qualificar.
(E) conectar.

Questão 10
“[...] já rendeu algumas discussões acaloradas [...]” O termo destacado desempenha a função semântica de:
(A) substituir.
(B) modificar.
(C) quantificar.
(D) qualificar.
(E) conectar.

Capítulo 7 - ANÁLISE DE TEXTO OPINATIVO

Água mole em pedra dura

Não há como ser um policial íntegro – inteiramente íntegro mesmo – sobretudo aqui, onde a estrutura
social é marcada pela corrupção.
Se a ponta do iceberg resistir, não há garantia de que não haverá ilicitude no processo. Um policial da rua,
por exemplo, flagra um motorista embriagado. Este – por hábito social tão forte quanto o de pechinchar – dá-
lhe uma cantada: “Como podemos resolver isto?”, “Quebra essa pra mim.”, etc. E o policial acaba ...
Não. Resiste. E, por desacato à autoridade (o embriagado desrespeitou e xingou), leva-o à delegacia. Chega
o delegado. Conversa vai, conversa vem. E o delegado pensa, e pensa, e coça a cabeça. Pensa em aceitar, está
perto disso e acaba resistindo. “Eu vou ao Eduardo. Até ao Bolsonaro, se for preciso.” A tentativa de intimidação
não colou. Desacatado, mandou o escrivão registrar tudo. Entra um advogado no circuito. Conversa daqui,
mais um pouco dali. Nada. Até então, nada. O tempo passa, e nada. Nada mesmo. Onde se interrompeu a
corrente? Quando ela foi interrompida? Quem a interrompeu? Talvez lá no outro extremo.
Aquele policial da rua torna a flagrar o motorista embriagado; tão embriagado que não o reconhece. “Vamos
resolver isto aqui.” O policial, sim, o reconhece: fica cismado, interrogativo, tenta lembrar-se do ocorrido,
do desfecho, mas segue o procedimento. “Conheço o Dudu”, argumenta o embriagado. E o policial acaba ...
Não resiste. Assim é esta cidade, talvez o maior palco de corrupção deste país, nestes tempos cada vez
piores de propinas e rachadinhas.
AS. Crônicas contemporâneas

Questão 01
Em um texto, tem-se o seguinte, em linhas gerais: o implícito é de responsabilidade do autor; a inferência é
de responsabilidade do leitor. A inferência está diretamente relacionada à fase da “interpretação” (capítulo
1) textual. Nas alternativas abaixo, que afirmativa resulta da interpretação textual?
(A) Um motorista embriagado é flagrado por um policial.
(B) O autor, ao usar o advérbio “aqui”, refere-se à cidade do Rio de Janeiro.
(C) O motorista foi detido por desrespeitar o policial.
(D) O motorista usou, por mais de uma vez, estratégias de intimidação.
(E) O advérbio “sobretudo” (primeiro parágrafo) tem o mesmo sentido de “principalmente”.

14
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 02
A intencionalidade é o “motor” da criação textual. Após uma leitura atenta do texto, pode-se concluir que a
intencionalidade está diretamente relacionada
(A) ao entretenimento, usando-se uma narrativa de natureza ficcional.
(B) à informação, já que aspectos de novidade e de denúncia são explorados.
(C) à defesa de um ponto de vista, ao encontro do qual o autor espera que os leitores vão.
(D) à defesa de uma linha de raciocínio, cuja conclusão é irrefutável pela exposição de dados oficiais.
(E) à descrição de uma situação que ocorre diariamente em várias cidades do Brasil.

Questão 03
O título do texto reproduz, parcialmente, certo adágio popular que tem como ideia prioritária no texto:
(A) A perseverança.
(B) A resistência ilimitada.
(C) Os limites da razão humana.
(D) A quebra da resistência.
(E) A fé.

Questão 04
O primeiro parágrafo é constituído de um único período, que apresenta basicamente:
(A) a tese desacompanhada de qualquer argumento.
(B) a tese acompanhada de um argumento.
(C) a antítese acompanhada de um argumento.
(D) um questionamento reflexivo e indagador.
(E) uma pequena narração ilustrativa.

Questão 05
Julgue as afirmativas abaixo acerca das ideias veiculadas no texto:
I O autor afirma que todo o estado do Rio de Janeiro é marcado significativamente pela corrupção.
II O autor sugere que, em se tratando de estado de Rio de Janeiro, apenas a cidade do Rio de Janeiro é
marcada pela corrupção.
III O autor sugere que a corrupção ocorre não só no estado do Rio de Janeiro.
IV O autor sugere que a corrupção chegou a um nível de irreversibilidade no Brasil.
O número de afirmativas corretas é igual a:
(A) 0.
(B) 1.
(C) 2.
(D) 3.
(E) 4.
Questão 06
A substituição proposta (para segmentos do segundo parágrafo) que gera erro gramatical ou incoerência
semântica é:
(A) Se a ponta do iceberg resistir, ...
Caso a ponta do iceberg resista, ...
(B) ..., não há garantia de que ...
..., não há garantias de que ...
(C) Um policial da rua, por exemplo, flagra ...
Certo policial da rua, digamos, flagra ...
(D) Este, por hábito social tão forte ...
Este, por causa de um hábito social tão forte ...
(E) E o policial acaba ...
E um policial acaba ...

Questão 07
Para defender sua tese, o autor se vale de uma sequência:
(A) inteiramente dissertativa, estabelecendo relações de causa e efeito por meio de uma série de consi-
derações pessoais.
(B) narrativa, envolvendo uma situação hipotética que deve ser entendida como reprodução de fato
frequente.
(C) expositiva, pois descreve um fato real, devidamente calcado em diversas pesquisas de opinião e em
estatísticas criminais.
(D) inteiramente descritiva, pois o autor dá o retrato de uma situação sem fluxo temporal.
(E) inteiramente formal, com linguagem nem sempre acessível ao cidadão comum.

Questão 08
Releia: “Não. Resiste.”
Essa parte do texto só pode ser plenamente entendida se o leitor detectar os implícitos. Reescreva-a, em um
único período, explicitando os fragmentos em elipse.

Questão 09
Releia: “Não resiste.”
Essa parte do texto só pode ser plenamente entendida, se o leitor detectar os implícitos. Reescreva-a, em um
único período, explicitando os fragmentos em elipse.

Questão 10
“...; tão embriagado que não o reconhece.”
A conjunção destacada liga dois segmentos com valores semânticos respectivos de:
(A) causa e efeito.
(B) efeito e causa.
(C) intensidade e modo.
(D) modo e proporção.
(E) intensidade e condição.
16
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Capítulo 8 - TEXTO E INTERTEXTUALIDADE

Há várias concepções – no âmbito da Linguística textual – de intertextualidade, mas aqui o que nos interessa
é o sentido básico de “diálogo entre textos”. É muito comum o autor de um texto, ao escrevê-lo, recorrer a
outros. Um bom exemplo é o texto a seguir. Vamos ver?
Ismália

Emicida

Com a fé de quem olha do banco a cena


Do gol que nós mais precisava na trave
A felicidade do branco é plena
A pé, trilha em brasa e barranco, que pena
Se até pra sonhar tem entrave
A felicidade do branco é plena
A felicidade do preto é quase
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
“Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei”
O abutre quer te ver de algema pra dizer:
“Ó, num falei?!”
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ismália, Ismália, Ismália, Ismália
Ismália, Ismália

Quis tocar o céu, mas terminou no chão


Ela quis ser chamada de morena
Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena
A raiva insufla, pensa nesse esquema
A ideia imunda, tudo inunda
A dor profunda é que todo mundo é meu tema
Paisinho de bosta, a mídia gosta
Deixou a falha e quer migalha de quem corre com fratura exposta
Apunhalado pelas costa
Esquartejado pelo imposto imposta
E como analgésico nós posta que
Um dia vai tá nos conforme
Que um diploma é uma alforria
Minha cor não é uniforme
Hashtags #PretoNoTopo, bravo!
80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo
Quem disparou usava farda (Mais uma vez)
Quem te acusou nem lá num tava (Banda de espírito de porco)

Porque um corpo preto morto é tipo os hit das parada:


Todo mundo vê, mas essa porra não diz nada
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
“Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei”
O abutre quer te ver drogado pra dizer:
“Ó, num falei?!”
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália, Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
Primeiro cê sequestra eles, rouba eles, mente sobre eles
Nega o deus deles, ofende, separa eles
Se algum sonho ousa correr, cê para ele
E manda eles debater com a bala que vara eles, mano
Infelizmente onde se sente o sol mais quente
O lacre ainda tá presente só no caixão dos adolescente
Quis ser estrela e virou medalha num boçal
Que coincidentemente tem a cor que matou seu ancestral
Um primeiro salário
Duas fardas policiais
Três no banco traseiro
Da cor dos quatro Racionais
Cinco vida interrompida
Moleques de ouro e bronze
Tiros e tiros e tiros
O menino levou 111
Quem disparou usava farda (Ismália)
Quem te acusou nem lá num tava (Ismália)
É a desunião dos preto junto à visão sagaz (Ismália)
De quem tem tudo, menos cor, onde a cor importa demais
“Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar

18
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

No sonho em que se perdeu


Banhou-se toda em luar
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar
E num desvario seu
Na torre, pôs-se a cantar
Estava perto do céu
Estava longe do mar
E, como um anjo
Pendeu as asas para voar
Queria a lua do céu
Queria a lua do mar
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar”
Olhei no espelho, Ícaro me encarou:
“Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei”
O abutre quer te ver no lixo pra dizer:
“Ó, num falei?!”
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
Ismália
(Quis tocar o céu, terminou no chão)

A produção acima é de Emicida, rapper, cantor e compositor brasileiro, considerado uma das maiores
revelações do hip hop do Brasil. No texto, percebe-se facilmente a intertextualidade, quando o autor
incorpora, por exemplo, o poema “Ismália”, do poeta simbolista Alphonsus Guimarães. A incorporação
está graficamente demarcada por aspas e vai do verso “Quando Ismália enlouqueceu” até o verso
“Seu corpo desceu ao mar”.
Nem sempre, contudo, a intertextualidade se constitui de forma desvelada. A letra musical de Emicida
intertextualiza o poema “Ismália” – os títulos são os mesmos -, que, por sua vez, já intertetualizara o
personagem Ícaro, da mitologia grega.
Questão 01
Levando em conta a intencionalidade textual, especifique a temática do texto.

Questão 02
Releia: “A felicidade do branco é plena / A felicidade do preto é quase”
Sob um ângulo estritamente estilístico, observa-se nessa passagem um jogo de oposições. Que nome se dá
a essa figura de linguagem?

Questão 03
Releia: “Olhei no espelho, Ícaro me encarou: /’Cuidado, não voa tão perto do sol / Eles num guenta te ver
livre, imagina te ver rei’ / O abutre quer te ver de algema pra dizer: /’Ó, num falei?!’ ”
a. Quanto à linguagem, o texto se apresenta em nível formal ou informal, adequado ou inadequado?

b. Qual é o referente dos pronomes “Eles” e “te”?

Questão 04
Releia: “80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo”
Explicite o que o autor quis dizer ao distinguir “pela alva” e “pele avo”.

Questão 05
Em “Ismália”, é possível perceber – dependendo do conhecimento de mundo do leitor – outras intertextualidades.
Uma delas está relacionada ao fato de o “eu lírico” se olhar no espelho. Isso remete a outro mito.
a. Que mito é esse?

b. Em “Ismália”, há certa subversão do mito. Explique isso.

20
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Capítulo 9 - INTERTEXTUALIDADE INTERNA

Brigas e brigas perdidas

Fiquem todos lealmente avisados: o texto de hoje corre o risco de ser um tsunami de entretantos e
outrossins. Falta de assunto sério dá nisso: colagem descarada de assuntinhos.
Já ganho um parágrafo registrando que surfo na contramão da onda propriamente dita ao atribuir gênero
masculino a tsunami. Sou voz solitária nessa opção, ou quase isso: tenho apenas a companhia do Houaiss,
único lexicógrafo a abrir verbete para a grande onda.
Outrossim (bem que avisei), acaba de me ocorrer que talvez encha algum espaço voltar aos vícios de
linguagem de que tratei semana passada, no ano passado. Faria até algum sentido, nestes dias de troca de ano,
quando que usamos fartamente uma palavra francesa que até hoje não encontrou equivalente em português;
sequer teve a grafia aportuguesada. E melhor assim: seria com certeza mais dolorosa uma ressaca de reveiom.
Mas deixemos como lançado à arena o tema das relações com outros idiomas e falemos um pouco sobre
o problema do lugar-comum, palavra ou frase que, por muito repetida, perde força e valor. O combate a esse
hábito preguiçoso tem apenas um senão: o lugar-comum todo mundo entende. Tudo bem, desde que isso
não seja defesa da preguiça verbal.
Em geral, o remédio é o bom senso. Exemplo: por que obsessivamente escrever que cidadãos são
“submetidos a cirurgia”, em vez de informar singelamente que foram operados? E por que sempre dizer que
pessoas foram “encaminhadas” para tal lugar? É um cacoete e é vago demais: ela foi aconselhada a ir? Levada
para lá? Voluntariamente ou não? O leitor tem direito a saber o que de fato aconteceu.
Detalhes? Claro. Mas de detalhes é feita a vida — observação perfeitamente idiota, aqui mantida apenas
como gesto de humildade e lembrete de que nenhum de nós está a salvo de derrapar no estilo. A propósito,
súbito temor: já não será lugar-comum falar mal dos lugares-comuns?
Vamos em frente, que a linguiça está quase cheia. Outro erro comum é o mau uso da combinação entre
substantivo e adjetivo. Exemplo notório e antigo é o da “espiral inflacionária” (fenômeno que há algum tempo,
graças a Deus, deixou de frequentar as notícias econômicas). O problema aí era tratar substantivo como
adjetivo e vice-versa. “Espiral inflacionária” seria uma espiral com forma de inflação — mas a expressão era
usada para definir inflação com forma de espiral.
Confesso que já briguei muito contra o que me parece ser um abuso da metonímia (salpicar no texto
expressões que quase ninguém entende ajuda a manter a sempre rentável farsa da erudição). É o caso de
“liderança”: deveria ser apenas a qualidade de quem é líder. Acontece que os políticos e a mídia tacaram a
metonímia nela e passou a ser também sinônimo de líder propriamente dito. O idioma não ficou mais rico
com isso.
Enfim, arrasto-me para o final retumbante: na linguagem como na vida o que importa é batalhar, pouco
importa a escassez de triunfos. Ficaria melhor ainda se alguém acreditasse.
Luiz Garcia

Questão 01
É comum se falar em intertextualidade interna quando texto e intertexto são do mesmo autor, ou seja, quando
o autor usa um texto para fazer referência a outro texto escrito por ele mesmo. Transcreva a passagem em
que se evidencia a intertextualidade interna.
Questão 02
O autor usa o texto para falar da construção do próprio texto, o que remete o leitor à seguinte função da
linguagem:
(A) Emotiva.
(B) Conativa.
(C) Poética.
(D) Fática.
(E) Metalinguística.

Questão 03
Palavras que, ao longo do texto, confirmam o campo semântico sugerido pelo título Brigas e brigas perdidas são:
(A) contramão – remédio – políticos.
(B) lexicógrafo – lugar-comum – cidadãos.
(C) reveiom – hábito – cacoete.
(D) arena – combate – batalhar.
(E) detalhes – humildade – Deus.

Questão 04
Não está de acordo com as opiniões do autor:
(A) Há divergências quanto ao gênero da palavra “tsunami” em língua portuguesa.
(B) Condenar o emprego de lugares-comuns tem no mínimo um aspecto negativo.
(C) O bom-senso deve orientar que expressões feitas valorizam ou não o idioma.
(D) Há certo abuso no emprego de metonímias no universo político retratado pela mídia.
(E) Na vida, a conquista de triunfos é importante.

Questão 05
No período de abertura do texto, o sinal de dois-pontos poderia ser substituído, mantendo-se a correção
gramatical e o sentido original, pelo seguinte conector devidamente antecedido de vírgula:
(A) à medida que.
(B) pois.
(C) por que.
(D) portanto.
(E) para que.

Capítulo 10 - INTERTEXTUALIDADE EXTERNA

Texto 1

Pra que mentir

Se tu ainda não tens


Esse dom de saber iludir?
Pra quê? Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir
Se tu ainda não tens a malícia de toda mulher?
Pra que mentir se eu sei que gostas de outro que te

22
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Diz que não te quer?


Pra que mentir tanto assim se tu sabes que eu sei que
Tu não gostas de mim?
Tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero ou por teu amor fingido.
Pra que mentir
Se tu ainda não tens a malícia de toda mulher?
Pra que mentir se eu sei que gostas de outro que te
Diz que não te quer?
Vadico e Noel Rosa

Texto 2

Dom de iludir

Não me venha falar na malícia de toda mulher


Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é
Não me olhe como se a polícia andasse atrás de mim
Cale a boca, não cale na boca notícia ruim
Você sabe explicar, você sabe entende, tudo bem
Você está, você é, você faz, você quer, você tem
Você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir
Não me venha falar Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é
Não me olhe como se a polícia andasse atrás de mim
Cale a boca, não cale na boca notícia ruim
Você sabe explicar, você sabe entender, tudo bem
Você está, você é, você faz, você quer, você tem
Você diz a verdade e a verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir
Caetano Veloso

Questão 01
Caetano Veloso compôs “Dom de iludir” décadas depois de Vadico e Noel Rosa terem composto “Pra que
mentir?” A intertextualidade – diálogo entre textos – concretiza-se, no caso, com o diálogo entre os eu líricos.
Explique como se processa isso.

Questão 02
Transcreva do texto 1 algum verso com evidente marca de oralidade.
Questão 03
Releia: “Tu sabes que eu te quero / Apesar de ser traído / Pelo teu ódio sincero ou por teu amor fingido.”
Nos versos acima há a concorrência de duas figuras de linguagem: quais são elas? Justifique sua resposta

Questão 04
Transcreva do texto 2 um verso que apresente antítese.

Questão 05
Releia: “Você está, você é, você faz, você quer, você tem / Você diz a verdade e a verdade é o seu dom de
iludir / Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir”
a. O que o eu lírico quis dizer, nessa passagem, com as afirmativas em relação ao interlocutor?

b. No último verso, de que maneira o eu lírico vê o fato de a mulher mentir?

c. Gabarito: O eu lírico alude à posição do homem, protegido pelo histórico machismo social. No últi-
mo verso, o eu lírico se defende e declara o ato de mentir como uma necessidade, ante uma socie-
dade machista.

Capítulo 11 - Intertextualidades interna e externa não se exclueM

Atenção... ao se falar de “geração anfetamina”, como fiz na última coluna, é bom ter-se cuidado com as
generalizações. Não se pode estigmatizar toda uma geração tomando o todo pela parte e o desvio pela norma.
Nem todo jovem moderno usa droga e, entre os que usam, nem todos são viciados, muito menos traficantes.
O uso recreativo é mais comum do que o consumo dependente, e um não leva obrigatoriamente ao outro,
embora seja um processo de alto risco: mesmo simples experimentações podem alterar metabolismos e criar
uma química que a vontade dificilmente controla. Além do mais, no começo, antes de (re)produzir sofrimento e
morte, as drogas dão prazer: desinibem, soltam freios, liberam desejos reprimidos. Daí a sedução que exercem.
Dito isso, é sempre bom repetir o que é óbvio, mas que a gente esquece: as drogas não são causa, são
efeito. Combatendo apenas as consequências e só com repressão policial, como em geral se faz, não se resolve
o problema. No fundo, sabe-se muito pouco delas, as drogas, e deles, os jovens. O psicanalista João Batista
Ferreira, que profissionalmente os conhece bem, usa o mito do Éden para definir o adolescente como a criança
que foi expulsa do paraíso. “Mas enquanto a criança leva dez anos para amadurecer, o adolescente leva dez
dias” – em meio a uma revolução dos hormônios. “E não adianta tentar silenciá-los, porque o corpo vai gritar.”

24
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Constatamos essa turbulência corporal e psicológica, e percebemos que ela os deixa perdidos, mas resistimos
a achar que a desorientação não é só deles, mas também nossa. “Falamos muito em desajuste”, observa João
Batista, “mas o desajuste é muito mais nosso do que deles, que hoje sabem muito mais coisas do que os pais
e os professores, estando mais inseridos no mundo da globalização. A cabeça jovem está preparada para a
tecnologia, o computador, a internet, o celular, iPod.” Assim, a autoridade do saber não funciona sobre eles,
nem o moralismo, nem as ameaças de que o vício destrói os neurônios, faz mal à saúde etc. O psicanalista
diz que as ameaças “não os movem nem os comovem mais”: vivem num mundo sem garantias onde até a
água está ameaçada de extinção.
PS. Melhor do que tudo o que eu disse é ver Meu nome não é Johnny, um filme excelente que ensina mais
sobre as drogas e os jovens urbanos do que qualquer tratado ou lição.
Zuenir Ventura. O Globo. Acesso em 23 de dezembro de 2020.

Questão 01
O segmento do primeiro parágrafo que constata uma intertextualidade interna é:
(A) “Atenção... ao se falar de “geração anfetamina”, como fiz na última coluna, ...”
(B) “... é bom ter-se cuidado com as generalizações.”
(C) “Não se pode estigmatizar toda uma geração tomando o todo pela parte e a norma pelo desvio.”
(D) “Nem todo jovem moderno usa droga e, entre os que usam, nem todos são viciados, muito menos
traficantes.”
(E) “O uso recreativo é mais comum do que o consumo dependente, e um não leva obrigatoriamente ao
outro, embora seja um processo de alto risco:...”

Questão 02
Nas primeiras linhas do texto, o autor faz uma advertência em relação ao perigo que pode haver:
(A) nas generalizações, julgando o todo pela parte, o que implica percurso indutivo.
(B) nas generalizações, julgando o todo pela parte, o que implica percurso dedutivo.
(C) nas particularizações, julgando a parte pelo todo, o que implica percurso indutivo.
(D) nas particularizações, julgando a parte pelo todo, o que implica percurso dedutivo.
(E) nas generalizações, julgando o todo como parte, o que implica percurso dialético.

Questão 03
A voz popular e consensual também pode compor a polifonia de um texto e, de certa forma, a intertextualidade
externa. É o que acontece, por exemplo, na seguinte passagem:
(A) “Dito isso, é sempre bom repetir o que é óbvio, mas que a gente esquece:...”
(B) “as drogas não são causa, são efeito.”
(C) “No fundo, sabe-se muito pouco delas, as drogas, e deles, os jovens.”
(D) “O psicanalista João Batista Ferreira, que profissionalmente os conhece bem, usa o mito do Éden
para definir o adolescente como a criança que foi expulsa do paraíso.”
(E) “ ‘Mas enquanto a criança leva dez anos para amadurecer, o adolescente leva dez dias’ – em meio a
uma revolução dos hormônios.”

Questão 04
Um texto é constituído de várias vozes (polifonia). A respeito das vozes presentes no texto ao lado, é incorreto
afirmar que:
(A) a voz predominante é a de Zuenir Ventura.
(B) no segundo parágrafo, há exemplo da voz popular, afirmativa tida como senso comum.
(C) na estruturação argumentativa do texto, menos importante que a voz popular é a do psicanalista
João Batista.
(D) por meio de certa intertextualidade, a voz bíblica também se faz presente.
(E) também certa voz cinematográfica se faz presente.
Questão 05
As aspas presentes na linha 1:
(A) sinalizam discurso direto.
(B) indicam denominação.
(C) expressam ironia da parte do autor.
(D) denotam eufemismo.
(E) dão à expressão um significado diferente do que o tradicional.

Questão 06
As aspas presentes no segundo parágrafo:
(A) sinalizam discurso direto.
(B) indicam denominação.
(C) expressam ironia da parte do autor.
(D) denotam eufemismo.
(E) dão à expressão um significado diferente do tradicional.

Capítulo 12 - INTERTEXTUALIDADE E PARÁFRASE

Os diferentes estilos

Narra-se aqui, em diferentes modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um
homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem
da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.
Estilo interjetivo - Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem
desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!
Estilo colorido - Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, uma via
de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela,
casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.
Estilo reacionário - Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tiveram nesta manhã de hoje o profundo
desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) um
dos bairros mais elegantes desta cidade, como se já sabe não bastasse para enfear aquele local uma sórdida
favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio.
Estilo preciosista - No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua a Estrela-d´Alva, o
atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena,
deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.
Estilo Nelson Rodrigues - Usava gravata cor de bolinhas azuis e morreu!
Estilo sem jeito - Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de Rui e o estro de um Castro Alves, para descrever
o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimentos são
capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que
senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever, mas
o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.
Estilo feminino - Imagina você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha´s, legalíssimo, e dormi de tarde. Com o
Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também
querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como a Teresa, o
Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te
contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa.
Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror a gente morta!
Paulo Mendes Campos

26
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 01
A intenção prioritária do autor do texto é:
(A) expor uma diversidade de temas.
(B) variar informações.
(C) apresentar reescrituras de um mesmo tema.
(D) dividir uma narrativa em capítulos.
(E) tocar o leitor de diversas formas.

Questão 02
Nos estudos da Retórica, dá-se, em geral, o nome de Circunlóquio ao rodeio de palavras, caracterizando
inobjetividade do autor, ainda que este, em nenhum momento, se perca do que quer explanar. Dentre os
“estilos” de Paulo M. Campos, o que melhor exemplifica uma circunlocução é o:
(A) reacionário.
(B) colorido.
(C) sem jeito.
(D) feminino.
(E) preciosista.

Questão 03
No texto de Paulo Mendes Campos, apresenta interlocução explícita o estilo:
(A) interjetivo.
(B) reacionário.
(C) Nelson Rodrigues.
(D) feminino.
(E) preciosista.

Questão 04
E você? Qual é o seu estilo? Gostaria de fazer a sua paráfrase? Como seria?

Capítulo 13 - INTERTEXTUALIDADE EM TEXTOS “HÍBRIDOS”

Sabemos que os textos podem ser verbais, não verbais e híbridos. A intertextualidade não se restringe aos
textos verbais. Veja só.
Texto 1
Questão 01
No conjunto textual acima, a temática principal é:
(A) a escravidão histórica.
(B) o dominio da tecnologia.
(C) a tecnologia a serviço do homem.
(D) a ameaça ao meio ambiente.
(E) a solidão propositada pelas redes sociais.

Texto 2

Questão 02
No conjunto textual ao lado, o intertexto é uma tradicional história infantil, conhecida como:
(A) Cinderela.
(B) Branca de Neve.
(C) A bela adormecida.
(D) A pequena sereia.
(E) Pinóquio.

Texto 3

28
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 03
Lendo-se linhas e entrelinhas presentes no texto ao lado, só não é correto afirmar que:
(A) há intertextualidade com o evangelho bíblico.
(B) explora-se a linguagem figurada.
(C) a linguagem está de acordo com o público a que se destina.
(D) a função apelativa está evidenciada pelo uso de vocativos.
(E) analogias são exploradas na capa.

Texto 4

Questão 04
A charge mostra um posicionamento do chargista contrário à redução da maioridade penal.
Assinale a opção que indica o componente da charge que não colabora para a expressão desse posicionamento:
(A) A desproporção de tamanho entre o policial e o menino.
(B) A diferença qualitativa das armas dos personagens.
(C) A designação de “arma” dada à atiradeira.
(D) A utilização pelo policial de meios desproporcionais à situação.
(E) O emprego de reticências após o título, obrigando o leitor a uma reflexão.

Questão 05
Sob o ponto de vista do chargista, assinale a opção que indica o detalhe gráfico inadequado para a caracterização
visual dos personagens:
(A) O policial é extremamente gordo, o que colabora para uma sensação de despreparo para a função.
(B) O fato de o rosto do policial ser extremamente grande produz o efeito de brutalidade e agressão.
(C) O detalhe de o chapéu do policial ser extremamente pequeno marca também suas limitações de
inteligência.
(D) As mãos levantadas do menino fazem com que seu pequeno corpo apareça parcialmente, mostran-
do fragilidade e pobreza.
(E) A circunstância de, mesmo rendido, o menino manter a atiradeira em uma das mãos indica o desres-
peito dos cidadãos pelas autoridades policiais.
Texto 5

Questão 06
Na tira do texto 6, a técnica gráfica utilizada é a de mostrar a cena:
(A) de longe para perto.
(B) de perto para longe.
(C) do todo para as partes.
(D) das partes para o todo.
(E) de baixo para cima.

Texto 6

Questão 07
O humor da charge se estrutura com base em:
(A) uma metáfora.
(B) uma metonímia.
(C) um pleonasmo.
(D) uma silepse.
(E) uma catacrese.

30
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Texto 7

Questão 08
A charge acima produz humor apoiada numa figura de linguagem expressa graficamente, figura essa denominada:
(A) metáfora.
(B) metonímia.
(C) hipérbole.
(D) pleonasmo.
(E) catacrese.

Questão 09

A compreensão de um texto envolve os seguintes conhecimentos prévios: o conhecimento do sistema


inguístico, ou seja: os vários níveis da organização linguística utilizados na compreensão e produção de
enunciados (vocabulário, formação e flexão de palavras, organização dessas palavras em estruturas mais
complexas – sintagmas, orações, períodos); o conhecimento da organização textual diz respeito à forma
como a informação é organizada para atingir o objetivo comunicativo pretendido em cada gênero textual; o
conhecimento de mundo, construído ao longo das experiências de vida, é decisivo no processo de apreensão
do sentido, por meio das inferências despertadas pelas informações veiculadas pelos textos.
Para entender a tirinha, entre os conhecimentos prévios, o leitor deve ativar seu conhecimento de mundo.
Essa ativação se faz por meio de:
(A) depreensão das características próprias do gênero textual tirinha com base nas informações gráficas.
(B) identificação das regras de concordância verbal e nominal para recuperar as relações sintáticas inter-
nas aos enunciados.
(C) observação do vocabulário utilizado pelas personagens para reconhecer palavras primitivas e formas
derivadas.
(D) realização de inferências para entender o caráter humorístico da fala final de Mafalda, que revela
sua descrença em um mundo melhor.
(E) reconhecimento das características narrativas do gênero textual tirinha, que conta uma conversa
entre Mafalda e a mãe.

Capítulo 14 - pRoGRESSÃo REFERENCIal (ENDÓFoRa)

Não se faz uma plena interpretação textual sem alguns conhecimentos básicos. À coesão estão relacionados
vários conceitos, dentre os quais o da referenciação. A coesão referencial é o processo de construção de um
texto em que elementos referenciadores (fazem uma remissão textual) têm como alvo os referentes (alvos
da remissão textual). Calma!!! Tudo isso parece difícil, mas, na prática, é muito fácil. Vamos por partes.
Antes de tudo, lembremo-nos de que texto é tudo o que pode ser lido. Basicamente, um texto é verbal,
quando nele há somente palavras; é não verbal, quando nele há somente imagens; e híbrido, quando nele
há, concomitantemente, palavras e imagens.

Aviso
Para acessar o interior da
loja, é necessário o uso de
máscaras.

Texto verbal Texto não verbal Texto híbrido


Em se tratando de texto verbal, do geral ao particular, pode ser uma sequência de parágrafos; cada parágrafo,
uma sequência de períodos; cada período, uma sequência de palavras. Tudo isso envolve o tecido textual, que,
quando bem articulado, permite a compreensão e a interpretação. Esse processo envolve, inevitavelmente,
ligação entre as partes. E é aí que começamos a falar em coesão.
Dentre os mecanismos de coesão textual, um destaque especial deve ser dado aos termos da língua que
têm a função particular de fazer referenciação, isto é, remetem a algum outro elemento.

Observe:
Nicette Bruno faleceu em dezembro de 2020. Ela era uma das mais queridas artistas do país.

No caso acima, quando você leu o pronome Ela, automaticamente sua memória textual o remeteu ao
nome Nicette Bruno. O pronome, então, fez o que chamamos de referenciação, ele é o referenciador; “Nicette
Bruno” é o referente.
Remissão intratextual (para dentro do texto) – Endófora

No exercício da linguagem, o falante usa constantemente termos que fazem referência a outros termos
do próprio texto para assim tecer a “teia” do texto. Nessa referência, ele obtém uma relação de sentido entre
esses dois termos, que são:
1) o termo (o referenciador textual) que faz referência ao outro;
2) o termo (o referente textual) ao qual o outro se refere.

32
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Fixe: o referenciador faz a referência; o referente sofre a referência.

Essa remissão textual pode ser feita de várias formas. Predomina o uso de pronomes e de expressões
nominais equivalentes. Quando a referência é feita a algum elemento situado em parte anterior do texto,
ocorre a anáfora, cuja função é recuperar (atualizar) semanticamente um elemento que já estava no texto.
Quando a referência aponta para frente, ocorre a catáfora, cuja função é sinalizar um termo que ainda vai
aparecer no texto. Noutras palavras, a anáfora tem essência retrospectiva; a catáfora, prospectiva.

Joe Biden está feliz. Em visita à Flórida, ele foi mais uma vez homenageado. Lá, ninguém esquece
a biografia do Presidente. Nem mesmo ele, o ex-presidente, o polêmico Donald Trump.

Questão 01
Responda:
a. O nome Joe Biden serve de referente anafórico a que termos?

b. Que outro termo serve de referente anafórico?

c. Que termo serve de referente catafórico?

Leia: “O presidente Bolsonaro voltou a fazer declarações polêmicas. Ontem, afirmou que não permitirá que
as pessoas se vacinem sem assinarem um termo de responsabilidade. Isso suscitou críticas de vários setores.”

Questão 02
A anáfora pode ser feita também por elipse. No texto acima, há verbos cujos sujeitos não estão na superfície
textual da mesma oração. Quais são eles?

Leia: “Os casos de Covid-19 no Rio voltaram a subir. O aumento se deve – segundo os especialistas – às
flexibilizações do isolamento social, o que favorece a proliferação do vírus.”

Questão 03
A anáfora pode ser feita por nominalização de um termo anteriormente expresso. Aponte um caso presente
no texto acima.
Questão 04
Ainda em relação ao último texto, aponte um caso de anáfora por hiperonímia.

Capítulo 15 - PROGRESSÃO REFERENCIAL (EXÓFORA)

Na interlocução, um emissor (primeira pessoa: locutor, enunciador) se dirige a um receptor (segunda


pessoa: interlocutor, enunciatário). Esses “agentes” do discurso são marcados por palavras ou expressões
referenciais, que são basicamente: os pronomes pessoais de primeira pessoa, para o emissor; os pronomes
pessoais de segunda pessoa e as formas de tratamento, para o receptor.
Tais palavras têm função exofórica (também chamada dêitica ou díctica), isto é, fazem referência a elementos
que estão fora do texto, ou seja, na situação de discurso.

Atode Comunicação

Mensagem
Emissor
Texto Receptor
Locutor
Enunciado (discurso) Interlocutor
Enunciador
Referenciação/Endófora: Enunciatário
Enunciação
anáforas e catáforas.

Entendendo o quadro.

O ato de comunicação é necessariamente a comunhão de três ingredientes básicos:


aquele que comunica (que pode ser chamado de emissor, locutor ou enunciador);
aquilo que é comunicado (que pode ser chamado de mensagem, texto, discurso ou simplesmente enunciado);
aquele que recebe a mensagem (que pode ser chamado de receptor, interlocutor ou destinatário).
Vimos que as relações entre as ideias e expressões no universo intratextual (dentro do próprio texto) são
chamadas de endofóricas, seja por meio de retomadas (anáforas), seja por antecipações (catáforas).
Sempre que houver uma situação comunicativa qualquer, a função dêitica será ativada automaticamente.
A partir daí, serão dêiticas:
expressões de primeira pessoa, pois têm como referente o enunciador;
expressões de segunda pessoa, pois têm como referente o enunciatário;
expressões temporais que tenham como referência ou parâmetro básico o momento da enunciação;
expressões espaciais que tenham como referência ou parâmetro básico o local da enunciação.

Questão 01
No ano passado, a pandemia acuou o mundo. Tanto aqui quanto nos EUA e na Europa, muitas rotinas
foram alteradas em vários sentidos. Muitas autoridades brasileiras não enxergaram com clareza o problema de
imediato, o que agravou a situação. Eu não perdi ninguém próximo, mas perdi quem vocês perderam; afinal,
quando um indivíduo perde a batalha para uma doença, de certa forma toda a sociedade perdeu para ela.

34
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Há, nesse texto, um conjunto de palavras e expressões cujo significado depende da enunciação, ou seja, da
situação em que o texto foi produzido. Entre as alternativas abaixo, aquela que indica um termo que não
está nesse caso é:
(A) “No ano passado”.
(B) “aqui”.
(C) “Eu”.
(D) “vocês”.
(E) “ela”.

Questão 02
As formas “este”, “esse” e “aquele”, bem como suas flexões, indicam a posição dos seres no espaço e relacionam-
se às pessoas do discurso. “Este” indica proximidade de quem fala (primeira pessoa), “esse” indica proximidade
do interlocutor (segunda pessoa) e “aquele” assinala distanciamento em relação às duas primeiras pessoas..
Com base nisso, complete:
_______________ celular lá na loja, embora seja o dobro do preço d__________ em suas mãos, é menos
valioso do que __________ na minha mão.

Questão 03
As gramáticas tradicionais aconselham, em geral, o padrão de se empregar este (e variações) para o tempo
presente, isto é, o em que ocorre a fala, aquele (e variações) para o tempo passado distante e esse (e
variações) para tempos não distantes, mas não presentes. Há de se ressaltar, contudo, que, dependendo do
contexto, passado e futuro imediatos também podem ser referenciados com este (e variações). Com base
nisso, identifique a frase em que está indevido o uso dêitico do demonstrativo.
(A) Já são quase oito horas, e ainda estou pensando no sonho que tive nesta noite.
(B) Daqui a muitos e muitos anos, a sociedade será inteiramente automatizada; é difícil imaginar aquele
tempo.
(C) Estamos em junho; não sei quando, mas ainda viajarei neste ano.
(D) A Semana de Arte Moderna gerou ecos por toda a década de 20 do século XX. Naquela época, os
meios de divulgação ainda eram precários.
(E) Neste material, há muitas informações sobre interpretação textual.

Capítulo 16 - INTERTEXTUALIDADE INTERDISCIPLINAR (PARTE 1)

Juro que nunca entendi muito bem este casamento: Capitalismo e Democracia. É claro que ambos
precisariam encontrar um parceiro diante da impossibilidade de tocarem suas vidas sozinhos. O Capitalismo é
um sistema econômico e depende de um regime político que o mantenha de pé e lhe permita ganhar dinheiro.
Já a Democracia é apenas uma boa moça que necessita de um sistema que a sustente e pague suas despesas.
Digamos que o Capitalismo entrou em um desses sites de relacionamento de casais e deu de cara com a
Democracia.
– É com essa que eu vou! – berrou o Capitalismo.
Casaram-se, e, como acontece nos casamentos, os primeiros anos foram de juras de amor eterno. Com
o tempo, porém, as crises começaram a pipocar. O Capitalismo sempre foi um tipo instável, temperamental,
sem princípios sólidos, que gosta de caminhar sobre suas próprias regras. A Democracia, por um momento,
chegou a pensar que ele só se casara com ela para desfrutar do seu ideal de igualdade.
Tiveram dois filhos, a Bolsa e o Mercado. A Bolsa saiu ao pai, um temperamento ciclotímico e um
comportamento cheio de altos e baixos que provocou uma crise monumental em 1929 e quase levou o casal
à separação. O Mercado, filho querido, cresceu e passou a tomar conta dos negócios do pai. Ganhou fama e,
sempre que surgia um problema, gritava: “Deixa que o Mercado resolve!” Às vezes, o Mercado metia os pés
pelas mãos, o pai entrava em crise, e logo chamavam a mãezona.
Nos primeiros anos do século passado, a dupla – Comunismo e Totalitarismo – instalou-se na casa ao lado,
separada por um muro, e passou a infernizá-los. Não havia um dia que não aparecessem na janela para xingar
os vizinhos. Foram mais de 70 anos de difícil convivência, uma guerra surda (chegou a ser fria). Até que, no
final dos anos 80, o muro veio abaixo. Sua queda expôs a indigência da casa desmascarando as bravatas da
dupla (que se mudou para uma casinha no interior de Cuba). O Capitalismo soltou foguetes.
Não demorou muito, em 1997 – menos de 10 anos após a queda do muro – Bill Clinton, o afilhado preferido
do Capitalismo, alertou o padrinho para não ir com tanta sede ao pote.
– Eu quero é mais! – bradou o pai do Mercado, sentindo-se dono do mundo.
Não deu outra: jogando solto, sem ter que dar satisfações a ninguém, o Capitalismo perdeu a noção de
limite e acabou mergulhando em uma crise existencial que parece não ter fim. A Democracia achou que
deveria alertá-lo para o descontrole das finanças do casal.
– Você não se mete! – disse ele. – Você não entende nada disso!
Hoje ele respira por aparelhos. Uma junta médica reunida em Davos para diagnosticar seus males admitiu
que, para recuperar a saúde (e o prestígio), o Capitalismo teria que promover mudanças profundas no seu
comportamento. Sua mulher tenta ajudá-lo:
– Você precisa ser mais humano, mais solidário, mais preocupado com o meio ambiente. Deixar de pensar
tanto em dinheiro, ser menos ganancioso...
– Como? – reagiu ele, certo de que não vai morrer. – Se eu mudar em tudo que estão me pedindo, vou
deixar de ser o Capitalismo! É isso que você quer? É isso?
A Democracia não respondeu. Virou-lhe as costas e saiu resmungando:
– Eu devia ter me casado com o Socialismo!
Carlos Eduardo Novaes (texto com adptações)

Glossário
ciclotímico: que tem ciclotimia, ou seja, indivíduo sujeito a alterações de humor, de comportamento.
Lembremo-nos – em linhas gerais – de que, na análise do discurso (texto), dá-se o nome de endófora ao
emprego de expressões que remetem a atenção do leitor a elementos presentes na própria superfície textual.
Tais elementos são chamados de referentes e, dependendo da sua posição, fala-se em anáfora ou em catáfora.

Veja só:
Juro que nunca entendi muito bem este casamento: Capitalismo e Democracia. É claro que ambos
precisariam encontrar um parceiro diante da impossibilidade de tocarem suas vidas sozinhos.

Observemos que o pronome “este” tem função catafórica, já que a expressão “este casamento” tem como
referente o segmento “Capitalismo e Democracia”. Aliás, observe que esse mesmo referente é que dá caráter
anafórico ao pronome indefinido “ambos”.
Com base nisso, releia:
O Capitalismo é um sistema econômico e depende de um regime político que (1) o (2) mantenha de pé e
lhe (3) permita ganhar dinheiro. Já a Democracia é apenas uma boa moça que (4) necessita de um sistema
que (5) a (6) sustente e pague suas (7) despesas.

Questão 01
Identifique os referentes anafóricos dos seguintes pronomes:
a. que (1) ____________________________
b. o (2) ____________________________
c. lhe (3) ____________________________
d. que (4) ____________________________
e. que (5) ____________________________
f. a (6) ____________________________
g. suas (7) ____________________________
36
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Pressuposto é uma informação implícita sem a qual um enunciado fica sem lógica. Na superfície textual,
o pressuposto é sinalizado por algum marcador de pressuposição. Se alguém diz “- Finalmente vai chover!”,
o termo “Finalmente” favorece a pressuposição de que a chuva era esperada, anunciada ou desejada.

Questão 02
Imagine-se em um restaurante. Você está com um(a) amigo(a). Na mesa ao lado, há um casal. Você não os
conhece e, mesmo involuntariamente, acaba ouvindo a conversa e começa a fazer inferências, detectando
pressupostos. O diálogo protagonizado pelo casal está abaixo. Aponte, ao lado de cada fala, o(s) pressuposto(s).
— Eu não queria voltar aqui. ________________________________________
— Achei melhor, minha faculdade é ao lado. ________________________________________
— Você, mais uma vez, pensando só em você. ________________________________________
— Não fale assim. ________________________________________
— Faz um mês hoje. ________________________________________
— Eu sei. Quero voltar. ________________________________________
— Eu não mais confio em você. ________________________________________
— Ela não significou nada. Ela foi um erro. Acabou. ________________________________________
— A fila anda, meu bem. No meu caso, você foi o erro. ________________________________________

Questão 03
Voltemos ao texto principal. Releia: “Juro que nunca entendi muito bem este casamento: Capitalismo e
Democracia.” Essa frase de abertura do texto cria como pressuposto o seguinte:
(A) Não há possibilidade de convivência entre Capitalismo e Democracia.
(B) O casamento Capitalismo e Democracia vive uma crise prevista.
(C) A fim de se preservar a Democracia, não pode haver Capitalismo.
(D) A fim de se preservar o Capitalismo, não pode haver Democracia.
(E) O mal da Democracia e do Capitalismo é o Socialismo.

Capítulo 17 - INTERTEXTUALIDADE INTERDISCIPLINAR (PARTE 2)

Questão 04
Releia o primeiro parágrafo: “Juro que nunca entendi muito bem este casamento: Capitalismo e Democracia.
É claro que ambos precisariam encontrar um parceiro diante da impossibilidade de tocarem suas vidas
sozinhos. O Capitalismo é um sistema econômico e depende de um regime político que o mantenha de pé
e lhe permita ganhar dinheiro. Já a Democracia é apenas uma boa moça que necessita de um sistema que a
sustente e pague suas despesas.”
Todas as afirmativas abaixo estão certas, exceto:
(A) O primeiro período apresenta uma frase opinativa que pode, com correção e coerência, ser reescrita
assim: “É-me inconcebível o casamento do Capitalismo com a Democracia.”
(B) A expressão “É claro”, no segundo período, tem caráter opinativo, equivalente a “É notório”, “É
indiscutível”, etc. Tais expressões são modalizadoras.
(C) O terceiro período fornece explicação parcial para afirmativa feita no segundo.
(D) O quarto período fornece explicação parcial para afirmativa feita no segundo.
(E) O segundo período fornece explicação para o comentário opinativo presente no primeiro.
Questão 05
Releia o segundo parágrafo: “Digamos que o Capitalismo entrou em um desses sites de relacionamento
de casais e deu de cara com a Democracia.” A forma verbal “Digamos”:
(A) está no imperativo e, por isso, expressa ordem.
(B) instaura uma ambiência hipotética no texto.
(C) fortalece o caráter denotativo de toda a linguagem textual presente.
(D) inicia um pensamento fantasioso sem vínculos com a realidade.
(E) tem caráter passado e, por isso, causa certa distância da realidade presente.

Questão 06
Releia o quarto parágrafo: “Casaram-se, e, como acontece nos casamentos, os primeiros anos foram de juras
de amor eterno. Com o tempo, porém, as crises começaram a pipocar. O Capitalismo sempre foi um tipo instável,
temperamental, sem princípios sólidos, que gosta de caminhar sobre suas próprias regras. A Democracia por um
momento chegou a pensar que ele só se casara com ela para desfrutar do seu ideal de igualdade.”
Nessa passagem predomina um recurso muito comum em textos argumentativos. Tal recurso está identificado
na alternativa:
(A) analogia.
(B) proporção ideológica.
(C) citação.
(D) contraposição de ideias.
(E) definição.

Questão 07
Releia o quinto parágrafo: “Tiveram dois filhos, a Bolsa e o Mercado. A Bolsa saiu ao pai, um temperamento
ciclotímico e um comportamento cheio de altos e baixos que provocou uma crise monumental em 1929 e
quase levou o casal à separação. O Mercado, filho querido, cresceu e passou a tomar conta dos negócios do
pai. Ganhou fama e, sempre que surgia um problema, gritava: ‘Deixa que o Mercado resolve!’ Às vezes, o
Mercado metia os pés pelas mãos, o pai entrava em crise, e logo chamavam a mãezona.”
Quanto às relações coesivas presentes no quinto parágrafo, todas as afirmativas abaixo estão corretas, exceto:
(A) O sintagma nominal “dois filhos” tem caráter catafórico, pois seu referente textual vem logo depois.
(B) O termo “pai”, em “A Bolsa saiu ao pai” é sinônimo contextual de “Capitalismo”.
(C) O termo “que”, em “e um comportamento cheio de altos e baixos que provocou uma crise monu-
mental em 1929”, é pronome relativo e retoma o referente “altos e baixos”.
(D) O termo “mãezona” retoma a “Democracia”.
(E) Na passagem, as aspas simples demarcam o discurso direto do “Mercado”.

Questão 08
Releia o sexto e o sétimo parágrafos:
Nos primeiros anos do século passado, a dupla – Comunismo e Totalitarismo – instalou-se na casa ao lado,
separada por um muro, e passou a infernizá-los. Não havia um dia que não aparecessem na janela para xingar
os vizinhos. Foram mais de 70 anos de difícil convivência, uma guerra surda (chegou a ser fria). Até que, no
final dos anos 80, o muro veio abaixo. Sua queda expôs a indigência da casa desmascarando as bravatas da
dupla (que se mudou para uma casinha no interior de Cuba). O Capitalismo soltou foguetes.
Não demorou muito, em 1997 – menos de 10 anos após a queda do muro – Bill Clinton, o afilhado preferido
do Capitalismo, alertou o padrinho para não ir com tanta sede ao pote.

38
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Quanto às relações discursivas e semânticas presentes, todas as afirmativas abaixo estão corretas, exceto:
(A) O pronome em “infernizá-los”, l. 37, e o termo “os vizinhos”, l. 39, têm o mesmo referente.
(B) Há referências implícitas a fatos históricos que marcaram a humanidade no século XX.
(C) A sequenciação temporal presente é uma das responsáveis pela coesão sequencial.
(D) Na linha 42, o pronome possessivo retoma o termo “muro”, presente na linha anterior.
(E) Pressupõe-se que o Capitalismo , em Cuba, recepcionou com euforia a referida “dupla”.

Questão 09
Releia: “Não demorou muito, em 1997 – menos de 10 anos após a queda do muro – Bill Clinton, o afilhado
preferido do Capitalismo, alertou o padrinho para não ir com tanta sede ao pote.
— Eu quero é mais! – bradou o pai do Mercado, sentindo-se dono do mundo.”
Faz-se uma afirmativa equivocada em:
(A) O termo “o padrinho” retoma anaforicamente “Bill Clinton”.
(B) Os termos “pai do Mercado” e “o padrinho” são sinônimos contextuais.
(C) Os termos “Capitalismo” e “pai do Mercado” são sinônimos contextuais.
(D) O Capitalismo tem pelo menos dois afilhados.
(E) Mesclam-se linguagens denotativa e conotativa na passagem transcrita.

Questão 10
A criatividade do texto está calcada sobretudo:
(A) no processo de personificação de regimes e sistemas econômicos.
(B) na presença de diálogos.
(C) na mescla de discursos dissertativo e narrativo.
(D) na mescla de discursos dissertativo e descritivo.
(E) na ausência de pronomes que incluam o leitor no texto.

Capítulo 18 - O “NÓS” NO TEXTO

Num texto, a primeira pessoa do plural reflete, em geral, uma das seguintes
situações:

1ª) Trata-se de plural de modéstia: o autor de um texto pode, por modéstia ou por motivo similar (divisão
de responsabilidade), empregar a primeira pessoa do plural: nós no lugar de “eu, nosso no lugar de meu” etc.
Ex.: “Este material do Pensi é feito com o maior carinho, na maioria das vezes em noites insones. Nosso
trabalho é compensado, contudo, quando vemos o aluno entender cada uma destas aulas.”
2ª) O autor representa um grupo ou classe: nesse caso, a primeira pessoa do plural é usada para indicar
que o grupo ao qual o autor pertence.
Ex.: Notícias como a venda de sentenças tendem a macular cada vez mais o Poder Judiciário. Entretanto, é
preciso que a opinião pública não nos veja de forma negativa, pois não se pode estender ao todo aquilo que se
restringe a alguns. Nós somos os primeiros a nos indignarmos com esse comportamento de alguns. O Poder
Judiciário precisa preservar sua imagem de dignidade, construída ao longo de séculos de história brasileira.
3ª) O autor inclui o leitor em seu texto: nesse caso, a primeira pessoa do plural pode se revezar com
vocativos ou referências diretas ao interlocutor.
Ex.: Não sei você, leitor, mas sempre que vou ao cinema, o filme é um com pipoca, e outro sem pipoca. É
uma dobradinha consagrada por gerações e gerações: cinema e pipoca, sem falar no refrigerante e algo doce,
do tipo jujuba. Não vamos quebremos essa tradição.
4ª) O autor inclui o leitor e o não leitor: nesse caso, as afirmações transcendem o nível da leitura, atingindo
um grupo que envolve um universo muito maior do que o que encapsula a relação autor-leitor.
Ex.: Há muito que, no Brasil, vivemos uma espécie de oligarquia. Se não é aquela oligarquia explícita
e sistematizada de outras épocas, mas uma outra consentida por outro sistema. Passam anos, décadas,
atravessou-se de um século para outro, mas continuamos a ver um Sarney, um Barbalho etc.

Questões de Treinamento

“Mal do século”. Lemos e ouvimos a respeito quando, ainda nos bancos escolares, professores de Literatura
declamam poemas ultrarromânticos, (des)encantando alunos, dependendo do caso. Coisas do passado. Hoje
o mal é outro. Ele é uma doença diagnosticável mas de cura impossível e abrangente.
A modernidade tem questões complexas. Como, por exemplo, lutar contra um suicida disposto a morrer?
Como lutar contra a morte – tão previsível – que surge, imprevista, do nada, numa bala perdida ou num acidente?
O incomum está cada vez mais comum. E cadê Deus? Onde estava Deus, por exemplo, no 11 de Setembro?
As questões atuais isolam o homem, enchendo-o de um vazio, ausência de perspectivas, niilismo.
A globalização tende a tratar a todos como um grupo, tende a eliminar demarcações, mas, na verdade,
nossa individualidade nunca foi tão sentida, percebida.
Como lutar contra a solidão? Não falo da física, mas da interior, aquela da qual procuramos fugir sempre,
mas... Por mais que viremos as costas, ela está sempre à nossa frente. Tão visível que se torna invisível, tão
comum que se torna incomum, tão evitada que se torna companhia permanente.
AS. Crônicas contemporâneas.

Questão 01
O emprego da primeira pessoa do plural em “lemos e ouvimos” inclui:
(A) apenas os autores do texto.
(B) apenas o autor do texto e os leitores do texto.
(C) o autor e os brasileiros em geral, tenham ou não ido à escola.
(D) apenas os leitores do texto.
(E) autor, leitores e brasileiros escolarizados em geral.

Questão 02
A alternativa que apresenta a melhor sugestão de título para o texto é:
(A) Enfim, o Apocalipse!
(B) Solidão – essência humana.
(C) Antes só do que mal acompanhado.
(D) Quando a solidão é construtiva?
(E) O homem contemporâneo e a solidão.

Questão 03
“...(des)encantando alunos, dependendo do caso.”
Nessa passagem, os parênteses foram utilizados para passar ao leitor a ideia de:
(A) negação.
(B) ação contrária.
(C) adição.
(D) retificação.
(E) ratificação.

40
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 04
A alternativa em que a locução destacada foi substituída de forma adequada por um vocábulo correspondente é:
(A) “professores de Literatura” – literários.
(B) “Coisas do passado” – passadas.
(C) “ausência de perspectivas” – panorâmica.
(D) “sempre à nossa frente” – frentista.
(E) “cada vez mais comum” – comunista.

Questão 05
O autor do texto estiliza o paradoxo, procurando neutralizar a oposição semântica de palavras. Assinale o par
de palavras que, no contexto dado, não é um exemplo dessa estilização:
(A) “doença” X “cura”.
(B) “previsível” X “imprevista”.
(C) “incomum” X “comum”.
(D) “enchendo” X “vazio”.
(E) “visível” X “invisível”.

Questão 06
“Por mais que viremos as costas, ela está sempre à nossa frente.” (l. 21-21)
Nessa passagem, a primeira oração tem valor de:
(A) proporção.
(B) causa.
(C) concessão.
(D) comparação.
(E) tempo.

Questão 07
“Não falo da física, mas da interior, aquela da qual procuramos fugir sempre, mas...” (l. 19-21)
A sequência que mais adequadamente poderia substituir as reticências na passagem destacada é:
(A) não dá.
(B) só de vez em quando conseguimos.
(C) só conseguimos isso, com muito esforço.
(D) sem êxito.
(E) como um monstro, ela nos domina açoitando-nos o corpo inteiro que, estafado, fica exaurido ao chão.

Capítulo 19 - SEM “EU”, SEM “NÓS”: O DISCURSO GRAMATICALMENTE IMPESSOAL”.

A SUBSTÂNCIA DO AMOR

Na definição do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), ele é “pão maravilhoso que um deus divide e
multiplica”. Para James Joyce (1882-1941), um dos maiores gênios da literatura moderna, “tudo é incerto
neste mundo, exceto ele”. Na frase do parachoque de caminhão, ele é simplesmente imortal. Não importa o
momento histórico, tampouco o prestígio literário de quem o decanta, o amor de mãe é sempre celebrado
como o mais sublime dos sentimentos. Mas o que explica afeto tão singular?
Com certeza não se trata de uma invenção de homens para subjugar o sexo feminino, como defendeu a escritora
Elisabeth Badinter no livro Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno. Para além de todos os fatores culturais
que o refinaram, o amor de mãe é uma questão bioquímica, movida a oxitocina. Produzida no cérebro, essa substância
estava associada, até vinte anos atrás, a dois importantes processos fisiológicos envolvidos na maternidade – as
contrações uterinas no momento do parto e a liberação de leite durante a amamentação.
Hoje, já se sabe que a oxitocina também atua no cérebro materno de modo a fortalecer os laços de carinho
com o filho, os cuidados básicos e de proteção. Basta uma mulher olhar para o seu rebento que o cérebro
dela se enche de oxitocina. Se houver contato físico entre os dois, os níveis da substância vão às alturas, diz o
neurocientista Renato Sabbabatini, professor da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp.
Com os avanços nos estudos da neuroquímica e o progresso dos exames de imagem, os últimos estudos
sobre o tema têm revelado que a importância da oxitocina vai muito além do berçário. As relações de amizade
e do amor romântico também são alimentadas por oxitocina. Em mulheres e homens, ela é a substância do
amor em todas as suas formas. Produzida no hipotálamo, a molécula da oxitocina ativa as áreas relacionadas à
afetividade, ajudando a fortalecer os vínculos de afeição. Ela está, ainda, associada à produção de dopamina, o
neurotransmissor responsável pelo controle do sistema de recompensa. Quanto maior a produção de oxitocina,
mais intensa será a síntese de dopamina. Ou seja, maior será a vontade de repetir determinada experiência.
No caso do sexo, imediatamente depois do orgasmo, os níveis de oxitocina sobem, em média, 40% – o que
favorece a conexão emocional entre os parceiros. Se ele vai ligar ou não no dia seguinte, já é outra história.
Naiara Magalhães

Questão 01
No primeiro parágrafo, o texto traz várias definições de amor materno. Essas definições ajudam a reforçar:
(A) o fator cultural desencadeador do processo bioquímico envolvido na maternidade.
(B) o preconceito contra a exaltação poética do amor materno.
(C) a hipótese de que o amor de mãe corresponde a uma criação humana.
(D) a unanimidade a respeito da superioridade desse amor.

Questão 02
Na definição do escritor francês Victor Hugo, presente no primeiro parágrafo, há um processo de linguagem
figurada chamado:
(A) metáfora.
(B) hipérbole.
(C) personificação.
(D) eufemismo.

Questão 03
O projeto argumentativo do texto defende uma tese a respeito do amor materno. Essa tese tem como contra-
argumento as ideias que relacionam:
(A) contato físico e nível de oxitocina, de Renato Sabbatini.
(B) amor materno e mito, defendidas por Elisabeth Badinter.
(C) contrações uterinas e oxitocina.
(D) sexo e dopamina.

Questão 04
Segundo a linha argumentativa presente no texto, defende-se precisamente a seguinte ideia:
(A) A oxitocina é a substância responsável exclusivamente pelo amor materno.
(B) A oxitocina é substância responsável pelos sentimentos humanos.
(C) A oxitocina é um tipo de alimento ainda não comercializado.
(D) A oxitocina é substância biológica associada às emoções positivas do ser humano.

42
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 05
O texto mostra que a atuação da oxitocina não se restringe ao amor materno. Para mostrar essa amplitude,
a autora utiliza o recurso da:
(A) repetição do termo “oxitocina” ao longo do texto.
(B) seleção de voz de autoridades científicas.
(C) comparação – funções cerebrais e coeficiente de inteligência.
(D) gradação – amor materno, amizade, amor romântico e sexo.

Questão 06
Pronomes auxiliam na progressão argumentativa. No primeiro parágrafo do texto, o pronome “ele”, repetido
várias vezes, tem um mesmo referente. Que referente é esse?
(A) Parachoque de caminhão.
(B) Amor de mãe.
(C) Escritor francês.
(D) Momento histórico.

Questão 07
Mantendo-se a correção gramatical e o sentido original, o segmento “Com os” (abertura do último parágrafo)
pode ser substituído por qualquer um dos segmentos abaixo, exceto:
(A) Graças aos
(B) Apesar dos
(C) Em virtude dos
(D) Devido aos

Questão 08
“Hoje, já se sabe que a oxitocina também atua no cérebro materno de modo a fortalecer os laços de carinho
com o filho, os cuidados básicos e de proteção. “(l. 20-23)
A passagem acima apresenta uma relação de causa e efeito que só não é respeitada na seguinte alternativa:
(A) Os laços de carinho com o filho se fortalecem, porque a oxitocina atua no cérebro materno.
(B) Como a oxitocina atua no cérebro materno, os laços de carinho com o filho se fortalecem.
(C) A oxitocina atua no cérebro materno, porque os laços de carinho se fortalecem.
(D) Devido à atuação da oxitocina no cérebro materno, os laços de carinho com o filho se fortalecem.
Capítulo 20 - TEXTO PARA ANÁLISE, REVISÃO E APROFUNDAMENTO

O Mito da Caverna

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão
aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer
sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para
os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-
obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros – no exterior,
portanto – há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte
fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo
tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo
da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os
homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas.
Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem
que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a
fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado?
Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira.
Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e,
deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do Sol, e ele ficaria
inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam
as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a
sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e
que somente agora está contemplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão,
contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros
zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas,
tentariam fazê-lo espancando-o e se, mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair
da caverna, certamente acabariam por matá-lo.
Extraído do livro Convite à Filosofia, de Marilena Chaui

Questão 01
É correto afirmar que, na abertura do texto, a forma verbal “imaginemos”:
(A) confere ao texto um caráter fictício e irônico.
(B) deixa clara a ideia de que nada, no texto, tem a ver com a realidade.
(C) remete à ideia de que, no texto, qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
(D) responsabiliza o leitor por quase todo o percurso do texto.
(E) instaura, por meio de aspecto ficcional, uma analogia com certa visão da realidade.

Questão 02
O primeiro período do texto pode ter sua impessoalidade discursiva acentuada adequadamente com a
seguinte reescritura:
(A) Imagine uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, ...
(B) Imaginam uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração,...
(C) Imagine-se uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, ...
(D) Imagino uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, ...
(E) Imaginem-se uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, ...
44
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 03
Não é correto inferir que:
(A) o mito da caverna faz parte das indagações filosóficas de platão.
(B) o texto 1 intertextualiza ideias.
(C) o discurso de platão se mistura, no percurso textual, ao discurso da autora do texto 1.
(D) a alienação é pelo menos um dos elos entre o mito da caverna e a realidade social.
(E) o desfecho dado pela autora do texto 1 contraria a intenção artística de Platão.

Questão 04
Leia: Mesclam-se passagens descritivas e narrativas no texto, que, por defender um ponto de vista, também
tem natureza dissertativa.
De certa forma o leitor se aproxima do hipotético prisioneiro libertado, já que, quando este descobre a verdade,
aquele também é conduzido a refazer determinada visão.
Independentemente da intenção da autora, o leitor que conhece o evangelho bíblico pode estabelecer pontos
de contato entre a biografia de Jesus Cristo e o desfecho hipotético do texto 1.
Estão corretas as afirmativas:
(A) apenas I e II.
(B) apenas I e III.
(C) apenas II e III.
(D) I, II e III.
(E) apenas I.

Questão 05
O texto remete o leitor ao seguinte adágio popular:
(A) A ignorância é a mãe de todas as doenças.
(B) Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
(C) As aparências enganam.
(D) A união faz a força.
(E) De boas intenções o inferno está cheio.

Questão 06
O Mito da Caverna tematiza prioritariamente:
(A) a relação de oposição entre senhores e escravos.
(B) a diferença cultural entre os povos.
(C) a deformação da realidade.
(D) o livre-arbítrio de raciocínio.
(E) a verdade como condição para a felicidade.

Questão 07
Leia: “Há muito tempo que aquele homem de barba não sai da caverna.”
Uma inferência autorizada pelo contexto criado é:
(A) O homem de barba já saiu da caverna em momento anterior à enunciação.
(B) Há pelo menos um outro homem também de barba.
(C) Há pelo menos uma outra caverna no local da enunciação.
(D) O homem de barba está prestes a sair da caverna.
(E) Há pelo menos um outro homem que também, há muito tempo, não sai da caverna.
Questão 08
“Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem
silenciá-lo(1) com suas(2) caçoadas, tentariam fazê-lo(3) espancando-o(4) e se, mesmo assim, ele(5) teimasse
em afirmar o que viu e os(6) convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo(7).”
Na passagem destacada, os pronomes que têm o mesmo referente textual são:
(A) (2), (6) e (7).
(B) (1), (3), (4), (5) e (7).
(C) (1), (4), (5) e (7).
(D) (1), (2), (3), (4), (5) e (7).
(E) (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7).

Questão 09
“Os demais prisioneiros zombariam dele, mesmo que ele insistisse na verdade.”
Trocando-se “zombarão” no lugar de “zombariam”, a forma “insistisse”:
(A) teria de permanecer, para garantir correção gramatical.
(B) poderia permanecer, garantindo correção gramatical.
(C) teria de mudar para “insista”, a fim de garantir correção gramatical.
(D) teria de mudar para “insistira”, para dar a noção exata de um fato passado anterior a outro fato
também passado.
(E) teria de mudar para “insistirá”, a fim de se obedecer ao paralelismo verbal.

Questão 10
A forma “Imaginemos” na abertura do texto apresenta em si, no plano semântico, a ideia de suposição. Ao
longo do texto, o recurso verbal que mais enfaticamente preserva tal ideia é:
(A) o estabelecimento de várias relações de causa-efeito.
(B) a sequenciação narrativa em vários pontos do texto.
(C) uma série de períodos compostos por subordinação.
(D) a presença de formas verbais no futuro do pretérito do indicativo e no modo subjuntivo.
(E) a presença de perguntas de caráter retórico.

Capítulo 21 - ENCADEAMENTO ENTRE PARÁGRAFOS

Em um texto de natureza opinativa, os chamados elos paragrafais (conjunções, preposições, denotativos,


locuções correspondentes etc.) são essenciais à coesão, à coerência e, consequentemente, ao entendimento
do texto. Se bem usados, o trabalho do leitor fica facilitado.
Basicamente, um parágrafo pode se ligar a outro por adição (ampliação), por restrição, por oposição, por
comparação, por exemplificação etc.
Vamos treinar. Leia o texto abaixo com atenção.
(1) Parafraseando Piaget, a criança é ingênua, pura e indefesa. Além disso, sua predisposição é a de confiar.
Daí, o responsável poder fazer dela o que quiser, o que pretender.
(2) Não só o responsável, mas a sociedade como um todo. Ninguém nasce predisposto a formar uma
sociedade, mas sim a integrá-la. Cada indivíduo tende a seguir o que já está em vigor, o que já é padrão,
parâmetros herdados antropológica e socialmente.
(3) A sociedade, portanto, em sua condição bloco, tem responsabilidade decisiva na formação de
personalidades. Brecht: “Que se eduquem as crianças, para que não seja necessário castigar os adultos.»
(4) De tudo isso advém uma reflexão: os maiores traficantes brasileiros não nasceram traficantes, não
nasceram adultos, não nasceram grandes. Também eles foram ingênuos, puros e indefesos. Também eles
confiaram. Por que, então, transformaram-se em marginais?
46
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

(5) Não basta a família por si só. Não basta a escola por si só. Não basta a saúde por si só. Talvez baste tudo
isso: família, escola e saúde. Presença do poder público. Onde estávamos nós, enquanto sociedade, quando
uma criança ingênua, pura e indefesa se transformou num marginal?
(6) O leitor poderá indagar: isso tudo é muito bonito e olê, olê, olá. Blá. Blá. Blá. Tudo isso é até comovente
quando pensamos em pessosas que se marginalizam porque não têm amparo do Poder público. Mas e os
adolescentes de classes avantajadas que se matam em boates ou em acidentes de trânsito? E os políticos
grandalhões, alguns dos quais já nasceram ricos? E certos juízes, meu Deus, juízes?
(7) Quanto aos adolescentes, nem sempre os pais são culpados; por vezes, as más companhias, o excessivo
valor ao álcool, etc. Quanto aos políticos e aos juízes, bem, veja bem, às vezes ninguém, além do indivíduo
em si, é culpado. Trata-se de má índole, falha de caráter.
AS. Crônicas contemporâneas (texto adaptado)

Questão 01
Parte 1 – Encadeamento entre parágrafos. Qual é o sentido prioritário do:
a. segundo parágrafo em relação ao primeiro? _______________________________________
b. terceiro parágrafo em relação ao segundo? _______________________________________
c. do quarto parágrafo em relação ao terceiro? _______________________________________
d. do quinto parágrafo em relação ao quarto? _______________________________________
e. do sexto parágrafo em relação ao quinto? _______________________________________
f. do sétimo parágrafo em relação ao sexto? _______________________________________

Questão 02
Parte 2- Encadeamentos internos. Qual é o sentido prioritário dos seguintes encadeadores?
a. “Além disso” (1º parágrafo) _____________________________________________
b. “mas” (2º parágrafo / 1ª ocorrência) _____________________________________________
c. “mas” (2º parágrafo / 2ª ocorrência) _____________________________________________
d. “portanto” (3º parágrafo) _____________________________________________
e. “para que” (3º parágrafo) _____________________________________________
f. “também” (4º parágrafo) _____________________________________________
g. “Por que” (4º parágrafo) _____________________________________________
h. “então” (4º parágrafo) _____________________________________________
i. “Talvez” (5º parágrafo) _____________________________________________
j. “Onde” (5º parágrafo) _____________________________________________
k. “enquanto” (5º parágrafo) _____________________________________________
l. “até” (6º parágrafo) _____________________________________________
m. “quando” (6º parágrafo) _____________________________________________
n. “Mas” (6º parágrafo) _____________________________________________
o. “e” (6º parágrafo) _____________________________________________
p. “ou” (6º parágrafo) _____________________________________________
q. “Quanto” (7º parágrafo) _____________________________________________
Capítulo 22 - TEXTO PARA ANÁLISE, REVISÃO E APROFUNDAMENTO

Do mundo ficcional à realidade cotidiana

As narrativas míticas e os contos literários podem nos ajudar a refletir, por um outro prisma, sobre a nossa
realidade circundante. Os mitos de Narciso e Don Juan são exemplos disso.
Narciso era um jovem de grande beleza. Se beleza é, de fato, fundamental para despertar o desejo, Narciso
era o homem mais desejado de todos. As jovens desejavam-no e queriam-no para si, mas ele não queria
nenhuma delas. Na verdade, elas nada significavam para ele. Amor e paixão eram sentimentos que Narciso não
possuía por ninguém. Nem mesmo o grande amor de Eco, a mais linda e encantadora das ninfas, o comoveu.
Narciso tinha uma trajetória marcada pela insensibilidade, indiferença, frieza e descaso com o amor. Amar, para
ele, significava submeter-se ao domínio da pessoa amada. Esse jovem conseguiu viver muito tempo pensando e
agindo dessa forma. Certo dia, ao se debruçar sobre as águas cristalinas de um lago para matar sua sede, Narciso
se encontra consigo mesmo ao se apaixonar por sua própria imagem refletida nas águas do lago.
É importante frisar que Narciso se apaixonou por sua própria imagem pensando ser um outro. Como
sempre abraçamos quem amamos, ele tentou abraçar quem via no lago e desapareceu no espelho das águas
que o refletiam.
Assim sendo, é possível dizer que esse mito não é uma história de amor por si mesmo. Quando nos amamos,
estamos abertos para amar e ser amados pelos outros. O mito de Narciso era, antes, uma história da falta de
amor por si e pelos outros. Seu mundo era vivido como o refúgio do orgulho e o reino do egocentrismo. Na
verdade, ele vivia fugindo de si.
Don Juan de Marco, outro personagem lendário, diferentemente de Narciso, era um grande galanteador,
sedutor e misterioso que encantava as mulheres com suas táticas, estratégias e malícias da conquista. Ele
era um jovem extremamente belo. Sua beleza era quase irresistível ao desejo das mulheres. A beleza de Don
Juan atraía olhares, mas era o desejo que fazia as mulheres dele se aproximarem. A beleza é a promessa do
prazer. O prazer é a insinuação da felicidade e esta, a contemplação do paraíso desejado. Mas beleza por si
só não gera amor, atração ou sedução. Sedução se faz com coisas mínimas, discretas e quase imperceptíveis.
No jogo que envolve toda conquista, a beleza de Don Juan era apenas mais uma das cartas que ele sabiamente
usava. Ele contava com artes e artimanhas de seduzir e envolver as jovens que quisesse, ele era irresistível.
Portanto, tinha mulheres em profusão. Não se conhecem relatos que ele tenha sido seduzido pelos encantos
de alguma “sereia” ou flechado por Cupido.
Essa emblemática figura mítica despertava amores, mas não conseguia amar uma única mulher com
exclusividade. Ficava com todas, mas não tinha nenhuma. Don Juan tinha o dom da conquista, mas não a arte
de reconquistar, por vezes seguidas, a mesma pessoa. Seu desejo era este: ser desejado constantemente. Ele
construía, com isso, certo sentido existencial a partir desse estilo de viver.
Ao que parece, Dom Juan buscava desesperadamente valorização, reconhecimento e aprovação de si
próprio de uma forma que não conseguia realizar ou obter por si mesmo. Demonstrava, com isso, ser um
eterno insatisfeito, vazio de emoções, sentimentos e sentido de uma vida em comum, compartilhada.
Narciso e Don Juan são personagens de nossa história. Essas emblemáticas figuras estão metamorfoseadas
e presentes em nossa realidade circundante. Narciso é o emblema da pessoa medrosa; Don Juan, do ser
carente. O novo homem emergente é um ser individualista que se pretende autosuficiente, egocêntrico,
sensual e festivo, mas que está perdendo a fórmula de alimentar seus afetos. Na verdade, estamos diante
de sujeitos que fogem constantemente de si mesmos (Narciso), seres atraentes que conquistam e ficam com
todas, mas que não se entregam a ninguém (Don Juan) e, ao mesmo tempo, por seres que vivem vazios e
perdidos na multidão anônima. Nosso mundo está repleto de seres medrosos, carentes, confusos e solitários
como os personagens dos quais falei.
Mitos do individualismo moderno. Texto adaptado.

48
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 01
Polifonia é o aproveitamento da fala de outra pessoa (ou mesmo da nossa), em outro tempo, num novo texto.
Os fragmentos a seguir foram extraídos dos dois primeiros parágrafos do texto. Em que fragmento a polifonia
remonta a uma ideia consagrada no cotidiano?
(A) “As narrativas míticas e os contos literários podem nos ajudar a refletir, por um outro prisma, sobre a
nossa realidade circundante.”
(B) “Os mitos de Narciso e Don Juan são exemplos disso.”
(C) “Narciso era um jovem de grande beleza.”
(D) “Se beleza é, de fato, fundamental para despertar o desejo, Narciso era o homem mais desejado de
todos.”
(E) “As jovens desejavam-no e queriam-no para si, mas ele não queria nenhuma delas.”

Questão 02
As formas nominais referenciais constituem recursos de coesão no tecido textual, podendo ser anafóricas(o
termo substituto, em geral um pronome, vem depois do referente) ou catafóricas (o termo substituto, em geral
um pronome, vem antes do referente). Com base nisso, assinale a alternativa com erro de análise discursiva:
(A) “As jovens desejavam-no e queriam-no para si, mas ele não queria nenhuma delas.” / Função anafó-
rica, cujo referente é “jovens”.
(B) “Nem mesmo o grande amor de Eco, a mais linda e encantadora das ninfas, o comoveu.” /Função
endofórica, cujo referente textual é Narciso.
(C) “... Narciso se encontra consigo mesmo ao se apaixonar por sua própria imagem refletida nas águas
do lago.” / Função anafórica, cujo referente textual é Narciso.
(D) “...quem via no lago e desapareceu no espelho das águas que o refletiam...” / Função anafórica, cujo
antecedente é “lago”.
(E) “Seu desejo era este: ser desejado constantemente.” / Em relação à segunda oração, o pronome
destacado tem função catafórica.

Questão 03
Identifique o referente de cada segmento destacado abaixo:
a. “As narrativas míticas e os contos literários podem nos ajudar a refletir, por um outro prisma, a nossa
realidade circundante. Os mitos de Narciso e Don Juan são exemplos disso.”

b. “Amar, para ele, significava submeter-se ao domínio da pessoa amada. Esse jovem conseguiu viver
muito tempo pensando e agindo dessa forma.

c. “Assim sendo, é possível dizer que esse mito não é uma história de amor por si mesmo.”

d. “A beleza é a promessa do prazer. O prazer é a insinuação da felicidade e esta, a contemplação do


paraíso desejado.”

e. “Narciso e Don Juan são personagens de nossa história. Essas emblemáticas figuras estão metamor-
foseadas e presentes em nossa realidade circundante.”
Questão 04
Em que alternativa não se percebe interferência opinativa do autor do texto?
(A) “As narrativas míticas e os contos literários podem nos ajudar a refletir, por um outro prisma, sobre a
nossa realidade circundante.”
(B) “As jovens desejavam-no e queriam-no para si, mas ele não queria nenhuma delas.”
(C) “É importante frisar que Narciso se apaixonou por sua própria imagem pensando ser um outro.”
(D) “Como sempre abraçamos quem amamos, ele tentou abraçar quem via no lago e desapareceu ...”
(E) “Assim sendo, é possível dizer que esse mito não é uma história de amor por si mesmo.”

Questão 05
Em que alternativa não se percebe interferência opinativa do autor do texto?
(A) “Quando nos amamos, estamos abertos para amar e sermos amados pelos outros.”
(B) “Na verdade, ele vivia fugindo de si. E quem foge de si não se entrega a nada e nem a ninguém.”
(C) “A beleza é a promessa do prazer. O prazer é a insinuação da felicidade e esta, a contemplação do
paraíso desejado.”
(D) “Mas beleza por si só não gera amor, atração ou sedução. Sedução se faz com coisas mínimas, discre-
tas e quase imperceptíveis.”
(E) Não se conhecem relatos que ele tenha sido seduzido pelos encantos de alguma sereia ou flechado
pelo cupido.

Capítulo 23 - INTERLOCUÇÃO EXPLÍCITA – QUEBRA DE SIMETRIA

Quem espera, cansa

O que você está esperando? Seja lá o que for, dinheiro, riqueza, uma vida melhor, um bom trabalho, trate
de se mexer e de dar início ao esforço que lhe compete na conquista dos troféus que deseja. As coisas podem
chegar até àqueles que esperam – nos ensina Abraham Lincoln –, mas são somente as sobras deixadas por
aqueles que lutam.
Será que entendi direito ao ouvir você dizendo que vai começar assim que tiver tempo para isso? É esta
a sua mentira predileta, a da falta de tempo? Ah, sim, eu sei que o termo usual é “desculpa predileta”, mas,
como aprendi noite dessas numa palestra, toda desculpa é uma mentira disfarçada. Também não precisa fazer
beicinho e cara de choro e me dizer “magoei”, que isso eu também já sei. Quem foge da sua própria verdade
é assim mesmo: magoa à toa.
Será que é falta de tempo ou é falta de vontade, de vergonha na cara? Será que é falta de tempo ou é falta
de energia para lutar, para ir em busca do que você quer, se é que sabe o que quer. Você sabe para onde quer
ir? Você sabe aonde quer chegar? Se não sabe, se nada está fazendo para isso, não reclame se não chegou.
Seja inteligente, responsabilize-se por onde você está, caso contrário tem grande chance de ir parar em outro
lugar, à margem de qualquer outro caminho, em outra direção.
No grande roteiro da sua vida, você faz parte da solução ou faz parte do problema? Está do lado da causa ou
do lado do efeito? Prefere ser trator ou gosta mesmo é de ser estrada? Seja sincero e me conte bem baixinho aqui
ao pé do ouvido: o que é mais importante para você? Dinheiro ou tempo ocioso? Comodidade ou comodismo?
Agora que já sabe que se encontra onde está por sua única e exclusiva responsabilidade, escolha um destino
e comece a agir na direção desejada. Poder é querer. E, antes que você resolva fazer beicinho de novo, eu
repito: a única forma concreta de poder é querer, e não o contrário, como normalmente nos ensinam, como
se fosse necessário poder para querer. Lembre-se de que o maior obstáculo à mudança está dentro de você
mesmo e que nada em sua vida melhora até você mudar.
Não se contente em apenas ter um futuro, como faz a maioria, que este caminho está muito congestionado.
Escolha um destino, junte-se aos “pré-destinados”, pequeno grupo que avança por um amplo caminho, bem
pouco concorrido, mas muito bem sinalizado na direção do sucesso. (...)
José Carlos Flesch

50
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 01
O texto acima explora características dos textos publicitários, dentre as quais sobressai a função conativa,
apelativa, cheia de estratégias de argumentação, na tentativa de persuadir o leitor. No texto, só não constitui,
essencialmente, uma dessas estratégias de coação:
(A) o emprego do imperativo.
(B) a insistente quebra de assimetria, por meio de perguntas que criam um clima dialogal no texto.
(C) o emprego do tratamento “você”, criando um clima de familiaridade na relação autor/leitor.
(D) a pressuposição do autor em relação ao comportamento do leitor.
(E) a divisão do texto em parágrafos bem definidos e coesos entre si.

Questão 02
“Ah, sim, eu sei que o termo usual é “desculpa predileta”, mas, como aprendi noite dessas numa palestra,
toda desculpa é uma mentira disfarçada.” Pelo raciocínio do autor, infere-se que “desculpa predileta” é um
caso típico de:
(A) eufemismo.
(B) metáfora.
(C) personificação.
(D) hipérbole.
(E) metonímia.

Questão 03
“Seja inteligente, responsabilize-se por onde você está, caso contrário tem grande chance de ir parar em
outro lugar, à margem de qualquer outro caminho, em outra direção.” Na passagem destacada, o recurso
da reiteração lexical é utilizado pelo autor para reforçar a ideia de desorientação. Tal recurso está ligado
prioritariamente a um:
(A) substantivo.
(B) adjetivo.
(C) pronome.
(D) verbo.
(E) artigo.

Questão 04
Releia: “Seja sincero e me conte bem baixinho aqui ao pé do ouvido: o que é mais importante para você?
Dinheiro ou tempo ocioso? Comodidade ou comodismo?” Assinale a afirmativa em desacordo com o texto:
(A) “Comodidade” tem ideia relacionada a conforto, realização.
(B) “Comodismo” tem ideia relacionada à acomodação.
(C) “Comodidade” tem ideia relacionada à sorte.
(D) “Comodismo” tem ideia relacionada à inércia.
(E) “Comodidade” tem ideia relacionada à conquista.

Questão 05
Assinale o único fragmento em que não há marca evidente de interlocução:
(A) “O que você está esperando?”
(B) “As coisas podem chegar até àqueles que esperam – nos ensina Abraham Lincoln –, ...”
(C) “É esta a sua mentira predileta, a da falta de tempo?”
(D) “No grande roteiro da sua vida, ...”
(E) “Também não precisa fazer beicinho e cara de choro e me dizer ‘magoei’, ...”
Questão 06
“Será que entendi direito ao ouvir você ....”
O termo destacado reaparece, com o mesmo valor gramatical e sintático, em:
(A) O homem direito não desrespeita as leis.
(B) O direito de um cidadão não pode ofender o de outro.
(C) Fiz Direito com você.
(D) Ela ficará no meu lado direito.
(E) Não segui direito as recomendações da bula.

Questão 07
A organização das ideias no quarto parágrafo está calcada prioritariamente em:
(A) comparações.
(B) oposições.
(C) explicações.
(D) finalidades.
(E) proporções.

Questão 08
Ainda em relação ao quarto parágrafo, a passagem que, na estratégia de persuasão desenvolvida pelo autor,
apresenta aproximação espacial entre autor-texto-leitor é:
(A) “No grande roteiro da sua vida, você faz parte da solução ou faz parte do problema?”
(B) “Está do lado da causa ou do lado do efeito?”
(C) “Prefere ser trator ou gosta mesmo é de ser estrada?”
(D) “Seja sincero e me conte bem baixinho aqui ao pé do ouvido: ...”
(E) “Dinheiro ou tempo ocioso? Comodidade ou comodismo?”

Capítulo 24 - TEXTO E DEFINIÇÕES METALINGUÍSTICAS

O dilema das definições

A ciência estabelece que funções antes consideradas universais, como “sujeito” e “predicado”, são mais
arbitrárias do que se imaginava.
Você já deve ter ouvido estas definições muitas vezes: “Sujeito é aquele de quem se diz algo.”, “Predicado
é aquilo que se diz do sujeito.”, “Objeto direto é aquele que sofre a ação.”, “Objeto indireto é aquele que se
beneficia da ação.”
É possível até que você use essas definições quando bate aquela dúvida sobre concordância ou regência,
não é? No entanto, apesar de correntes, elas não têm fundamento científico, afinal são muito anteriores ao
nascimento da ciência da linguagem (mais precisamente, 2 mil anos anteriores!). Além disso, por remontarem
à Grécia antiga, são definições muito mais filosóficas do que linguísticas e absolutamente centradas na língua
grega, sem qualquer consideração pela estrutura de outras línguas.
Pode-se dizer que foram uma tentativa legítima (principalmente considerando-se a época em que foi feita)
de explicar fatos linguísticos, mas que está longe de ter sido bem-sucedida.
O fato é que a análise de línguas empreendida na primeira metade do século 20, aliada à coleta de dados
e ao estudo comparado de um número extraordinário de idiomas de várias partes do mundo, resultou na
derrubada de muitos dogmas da gramática.
Um exemplo foi a sintaxe translativa de Lucien Tesnière, publicada em 1959 no livro Éléments de Syntaxe
Structurale, a qual demonstrou que o único termo essencial da oração nas línguas ocidentais é o verbo....

52
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Primeiro, nem todo verbo exprime ação. Afinal, que ação é expressa por “ser”, “estar”, “ter”, “dormir”?
Em segundo lugar, o sujeito só pratica a ação se o verbo estiver na voz ativa; na passiva, o sujeito sofre a ação.
Aliás, há verbos supostamente ativos que não expressam ação realizada, mas sofrida: é o bebê que pratica a
“ação” de nascer ou é a mãe que pratica a ação de parir? (Não por acaso, em inglês, “nascer” é to be born,
literalmente, “ser parido”.) Logo, essa definição de sujeito é, no mínimo, capenga.
Quanto à ideia de que o sujeito é aquele sobre quem se declara algo, Marcos Bagno, da Universidade
de Brasília, questiona: na oração “Nesta sala cabem trinta pessoas”, o sujeito é “trinta pessoas”, mas não se
declara algo sobre as pessoas e sim sobre a sala.
Tudo isso ocorre porque os conceitos de sujeito e objeto dados pela gramática foram tomados de empréstimo
da filosofia: para os gregos, há uma realidade objetiva (em si, independente de qualquer julgamento) e uma
subjetiva (tal qual vista por nós).
Nesse sentido, o objeto é a realidade natural, inerte, impotente e inconsciente, e o sujeito é o ser humano,
único capaz de tomar consciência da realidade ao redor e de agir sobre ela. Daí a ideia de que sujeito é quem
pratica ações e objeto, quem as sofre ....
Em resumo, aquelas funções que aprendemos nas enfadonhas aulas de análise sintática são de natureza
meramente convencional. É por isso que a fala popular simplifica as regências, elimina preposições desnecessárias
e diz “assistir televisão”, “atender o telefone”, “responder a pergunta”, “visar um objetivo”, e assim por diante. E
também põe na voz passiva verbos que, segundo a gramática normativa, são transitivos indiretos: “O programa
foi assistido por milhares de pessoas”, “Todas as perguntas foram respondidas”, “O objetivo visado por nós é.”.
Aldo Bizzocchi

Questão 01
Com base somente nos dois primeiros parágrafos do texto, o autor:
(A) informa o leitor de que as definições são filosóficas e linguísticas, com maior peso para a primeira.
(B) informa o leitor de que as definições não são filosóficas, mas linguísticas.
(C) informa o leitor de que as definições são filosóficas e não linguísticas.
(D) deixa claro que as definições não são científicas porque são filosóficas e não linguísticas.
(E) resolve a questão das definições porque não se embasa na ciência.

Questão 02
O pronome “elas” (terceiro parágrafo) refere-se:
(A) a “essas definições.”
(B) a dúvidas nas definições.
(C) à concordância e à regência.
(D) a possibilidades de dúvidas nas definições.
(E) ao que está fora do texto.

Questão 03
A expressão “essas definições” (terceiro parágrafo) refere-se:
(A) às definições somente de sujeito e predicado.
(B) às definições científicas.
(C) a quando bate aquela dúvida sobre concordância ou regência.
(D) às “definições de sujeito, predicado, objeto direto e objeto indireto.”
(E) às definições filosóficas e não linguísticas.
Questão 04
A expressão “No entanto” (linha 8) pode ser substituída, alterando o significado da frase, por:
(A) entretanto.
(B) porquanto.
(C) todavia.
(D) porém.
(E) contudo.

Questão 05
Dentre as questões linguísticas, o texto também apresenta discussão sobre a linguagem culta e a linguagem
informal. Qual das alternativas expressa essas linguagens, respectivamente?
(A) “Assistir à televisão” e “visar a um objetivo”.
(B) “Atender o telefone” e “responder a pergunta”.
(C) “Responder à pergunta” e “assistir à televisão”.
(D) “Responder a pergunta” e “visar um objetivo”.
(E) “Visar a um objetivo” e “atender o telefone”.

Questão 06
No início do texto, o autor usa o termo “você” primordialmente com a seguinte intenção:
(A) Criar clima dialogal.
(B) Dar um tom de distância e respeito ao leitor.
(C) Conferir tom formal à relação com o leitor.
(D) Sugerir certa indiferença ao tema.
(E) Atribuir tom imperativo ao texto.

Capítulo 25 - UM OLHAR LÍRICO SOBRE AS NARRATIVAS

Dilema

Quando criança, a queda de um muro gerou um trauma. Passou a ter medo mórbido de altura. Como não
queria ser zoado pelos amigos, mascarou isso tanto quanto pôde. Quando tinha de subir alguma ladeira ou
escada para brincar com os amigos, suava de tensão, tremia de medo, mas persistia por segredo.
A mãe, no entanto, sabia. Ele precisou lhe contar quando, já adolescente, ela lhe pedia que a acompanhasse
até à feira. Cortava-se um bom caminho subindo uma pequena ladeira. E, quando o faziam, ela sentia sua
mão tremer na dela. A partir daí, ela passou a poupá-lo. – Não vá pela Rua T, porque lá tem ladeira. Ao pé do
ouvido – pois ninguém podia saber—, frases desse tipo ela lhe dizia.
O tempo passou. Ele ficou adulto, mas a criança que caiu continuava dentro dele. Porque sempre quis
isto, tornou-se advogado. E como tal, vez por outra ia a prédios públicos e privados. Nunca se aproximava de
varandas ou sacadas. Em vias públicas, aguardava o momento oportuno, mas jamais usava passarelas. Alegava
sempre a necessidade de se exercitar a paciência, a busca do equilíbrio, mas dentro dele ...
Graças ao infortúnio de uma relação, pôde conhecer melhor a melhor amiga da ex. Eles sempre se
entenderam. Já que não mais era pecado, iniciaram um namoro. Resolveram casar. Ele não queria cerimônia;
ela, a Igreja da Penha. Caramba! Logo lá?! Teve de contar-lhe. Compreensiva, aceitou. Casaram no chão mesmo.
Logo tiveram uma filha. Já na fase escolar, pediu-lhe uma visita ao Cristo. — Vamos, papai: todos os meus
amigos já foram. Por favor, papai, por favor. Conversou com a mulher e decidiu que já era hora de enfrentar
aquilo: não era justo que a filha herdasse um medo tão infantil, um medo que era seu, só seu. Ele caíra do
muro; era hora de o muro cair dele. Foram.

54
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Não foi fácil, contudo. À medida que subiam, a menina saltitava; a mulher administrava; ele sofria feliz.
Suava de medo, mas continuava de alegria por ver a filha feliz. Chegaram ao pé do Cristo. Ele não suportou
a vertigem. Alegando cansaço, sentou-se e teve vontade de descer aquilo tudo de gatinho. Como não podia
se esconder da filha, tinha de esconder a luta. Sorria. Era de nervoso, mas sorria.
Hora de ir. Já lá embaixo, gritava para si mesmo em silêncio: nunca mais volto. Nunca mais. Basta uma vez.
Já superei. Está bem assim. A filha, entretanto, ainda saltitante, agarrou-se às suas pernas e disse: — Brigada,
papai. Foi o dia mais feliz de minha vida. Você é o melhor pai do mundo. Te amo, te amo. A gente pode vir
de novo amanhã?
Sem titubear, agachou-se, abraçou a filha e, olhando seus olhinhos, respondeu: — Claro, minha vida, claro.
Por amor, o muro ruía.
AS. Crônicas contemporâneas

Questão 01
Quanto à tipologia, a melhor classificação para o texto lido é:
(A) argumentativo.
(B) expositivo.
(C) narrativo.
(D) descritivo.
(E) informativo.

Questão 02
Classifica-se como discurso direto a fala direta do personagem, tal qual ela se expressou. Um exemplo de
discurso direto presente no texto é:
(A) “Quando criança, a queda de um muro gerou um trauma.”
(B) “A mãe, no entanto, sabia. Ele precisou lhe contar quando, já adolescente, ela lhe pedia que a acom-
panhasse até à feira.”
(C) “– Não vá pela Rua T, porque lá tem ladeira. Ao pé do ouvido – pois ninguém podia saber –, frases
desse tipo ela lhe dizia.”
(D) “Caramba! Logo lá?! Teve de contar-lhe. Compreensiva, aceitou. Casaram no asfalto mesmo.”
(E) “Não foi fácil, contudo. À medida que subiam, a menina saltitava; a mulher administrava; ele sofria
feliz.”

Questão 03
Classifica-se como discurso indireto a fala do personagem filtrada pelo narrador, ou seja, o narrador diz o que
o personagem falou. Um exemplo de discurso indireto presente no texto é:
(A) “Passou a ter medo mórbido de altura. Como não queria ser zoado pelos amigos, mascarou isso
tanto quanto pôde.”
(B) “Quando tinha de subir alguma ladeira ou escada para brincar com os amigos, suava de tensão, tre-
mia de medo, mas persistia por segredo.”
(C) “A mãe, no entanto, sabia. Ele precisou lhe contar quando, já adolescente, ela lhe pedia que a acom-
panhasse até à feira.”
(D) “O tempo passou. Ele ficou adulto, mas a criança que caiu continuava dentro dele.”
(E) “Em vias públicas, aguardava o momento oportuno, mas jamais usava passarelas.”
Questão 04
Classifica-se como discurso indireto livre a fala do personagem quando misturada à fala do narrador. O leitor
atento percebe que a fala é do personagem, mas não há marcas gráficas (travessão, aspas, itálico, etc.) que
a identifiquem. Um exemplo de discurso indireto livre presente no texto é:
(A) “Alegava sempre a necessidade de se exercitar a paciência, a busca do equilíbrio, mas dentro dele ...”
(B) “Graças ao infortúnio de uma relação, pôde conhecer melhor a melhor amiga da ex. Eles sempre se
entenderam.”
(C) “Já que não mais era pecado, iniciaram um namoro. Resolveram casar.”
(D) “Ele não queria cerimônia; ela, a Igreja da Penha. Caramba! Logo lá?!”
(E) “Já na fase escolar, pediu-lhe uma visita ao Cristo. – Vamos, papai: todos os meus amigos já foram.
Por favor, papai, por favor.”

Questão 05
Quanto aos mecanismos de referenciação presentes no segundo parágrafo, reescreva abaixo todos os pronomes
pessoais, apontando-lhes os referentes.

Capítulo 26 - OUTRO OLHAR LÍRICO SOBRE AS NARRATIVAS

A vida não é uma comédia romântica

Homem e mulher se conhecem numa sala de espera de médico. Ela, grávida; ele, esperando a mulher, que
consulta com o médico. Ele oferece a Caras que estava lendo:
– Quer dar uma olhada?
– Acho que essa eu já vi. É nova?
– Bom, é deste século...
Os dois riem. E se apaixonam. Dessas coisas. Destino, química... Quem explica essas coisas? Se apaixonam, pronto.
Mas não caem nos braços um do outro. Mesmo porque a barriga dela, de sete meses, não permitiria. Ficam apenas
se olhando, atônitos com o que aconteceu. Pois junto com o amor súbito vem a certeza da sua impossibilidade.
Como uma ferida fazendo casca em segundos. E como nenhum dos dois é um monstro de frivolidade, e como a
vida não é uma comédia romântica, é uma coisa muito séria, e como eles não podem largar tudo e fugir, trocam
informações rápidas, para pelo menos ter mais o que lembrar quando lembrarem aquele momento sem nenhum
futuro, aquela quase loucura. Sim, é o primeiro filho dela. Menino. E a mulher dele? Está consultando o médico
porque a gestação complicou, o parto talvez precise ser prematuro. Também é o primeiro filho deles. Filha. Menina.
Que mais? Que mais? Não há tempo para biografias completas. Gostos, endereços, telefones, nada. A mulher dele
sai do consultório. Ele tem que ir embora. Dá um jeito de voltar sozinho e perguntar o nome dela. Maria Alice. E o
dele? Rogério! Rogério! E sai correndo, para nunca mais se encontrarem.
Mas se encontram. Três anos depois, na sala de espera de um pediatra. Ela chega com uma criança no
colo. Ele está lendo uma revista. Talvez a mesma Caras. Os dois se reconhecem instantaneamente. Ele pega
a mãozinha da criança. Pergunta o nome. É João Carlos. Caquinho.
– Ele está com algum...
– Não, não. Consulta normal. Ele é saudável até demais. Hiperativo. E a de vocês? O parto, afinal...
– Foi bem, foi bem. Ela está ótima. Se chama Gabriela. Só veio fazer um checape. Eu não posso ficar lá
dentro porque fico nervoso.
56
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

E declara que não houve dia em que não pensasse nela, e no que poderia ter sido se tivessem saído juntos
daquele consultório, anos atrás, e seguido seus instintos, e feito aquela loucura. E ela confessa que também
pensou muito nele e no que poderia ter sido. E ele está prestes a pedir um telefone, um endereço, um
sobrenome para procurar no guia, quando a mulher sai do consultório com a filha deles no colo e ele precisa
ir atrás, e só o que consegue é um olhar de despedida, um triste olhar de nunca mais.
Mas se encontram outra vez. Dois anos depois, na sala de espera de um pronto-socorro. Ele com a mulher,
ela com o marido. Ele leva um susto ao vê-la. O que houve? É o Caquinho. O cretino conseguiu prender a
língua numa lata de Coca. Ele se emociona. A mulher dele não entende.
De onde o marido conhece aquele Caquinho? E aquela mulher, que está perguntando se aconteceu alguma
coisa com a Gabriela? Não foi nada, Gabriela só bateu com a cabeça na borda da piscina e está levando alguns
pontos. E nem a mulher dele nem o marido dela entendem por que, ao chegar a notícia de que o Caquinho
só ficará com a língua um pouco inchada, os dois se abraçam daquela maneira, tão comovidos. Depois, em
casa, ele se explica: — Solidariedade humana, pô.
A história não precisa terminar aí. Rogério e Maria Alice podem continuar se encontrando, de tempos
em tempos, em salas de espera (dentistas, traumatologistas, psicólogos especializados em problemas de
adolescentes, etc.) até um dia ela sair do quarto de hospital onde está o Caquinho, que teve um acidente de
ultraleve, e avistá-lo na sala de espera da maternidade, e perguntar: – A Gabriela está tendo bebê? E ele fazer
que sim com a cabeça, com cara de “para onde foram as nossas vidas?”
Veríssimo.

Questão 01
A respeito dos processos coesivos verificados no primeiro parágrafo, não têm o mesmo referente textual:
(A) “Homem e mulher”(l. 1) e “se” (l. 1).
(B) “mulher” (l. 1 – 1ª ocorrência) e “Ela” (l. 2).
(C) “Homem” (l. 1) e “ele” (l. 1).
(D) “mulher” (l. 1 – 1ª ocorrência) e “mulher” (l.1 2ª ocorrência).
(E) “Caras” (l. 2) e “que” (l. 2).

Questão 02
“Os dois riem. E se apaixonam.” A respeito dessa passagem, é incorreto afirmar:
(A) Tem valor anafórico a expressão “Os dois”.
(B) A segunda oração se liga à primeira por meio de anáfora que envolve elipse do termo sujeito.
(C) Embora não seja lógica, há certa relação de causa e efeito entre as duas orações.
(D) A conjunção “e” mistura valores de consequência, adição e adversidade, dificultando a explicação do
que aconteceu.
(E) O pronome “se” integra o verbo.

Questão 03
“Os dois riem. E se apaixonam. (1)
Dessas coisas. Destino, química...(2)”
O percurso de ideia do segmento (1) para o segmento (2) corresponde a um percurso:
(A) do específico para o geral.
(B) do geral para o específico.
(C) da causa para o efeito.
(D) do abstrato para o concreto.
(E) do espiritual para o material.
Questão 04
“Quem explica essas coisas?” Essa pergunta é do tipo retórica, pois sua resposta, de tão óbvia no desenvolvimento
das ideias do autor, não é explicitada no contexto. Tal resposta é:
(A) Nem Deus.
(B) Ninguém.
(C) Talvez.
(D) Alguém.
(E) Qualquer um.

Questão 05
A ideia de reciprocidade está em todas as passagens destacadas abaixo, exceto:
(A) Homem e mulher se conhecem...
(B) E se apaixonam.
(C) Mas não caem nos braços um do outro.
(D) Ficam apenas se olhando.
(E) E como nenhum dos dois é um monstro...

Questão 06
Observe: “Mesmo porque a barriga dela, de sete meses, não permitiria.” Os vocábulos destacados funcionam
no contexto com os seguintes e respectivos valores semânticos:
(A) Concessão e causa.
(B) Inclusão e causa.
(C) Afirmação e causa.
(D) Inclusão e afirmação.
(E) Causa e afirmação.

Questão 07
Compare:
Se eles tentassem um abraço, a barriga dela não permitiria.
Eles não tentariam um abraço, mesmo que a barriga permitisse.
As orações destacadas têm, respectivamente, os seguintes valores semânticos:
(A) Condição e comparação.
(B) Condição e consequência.
(C) Condição e concessão.
(D) Concessão e finalidade.
(E) Tempo e finalidade.

Questão 08
“Como uma ferida fazendo casca em segundos. E como nenhum dos dois é um monstro de frivolidade,...” Os
valores semânticos respectivos dos conectores destacados são:
(A) Comparação e comparação.
(B) Causa e causa.
(C) Causa e comparação.
(D) Comparação e causa.
(E) Conotação e denotação.

58
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 09
Quanto à tipologia, predomina no texto uma:
(A) descrição.
(B) narração.
(C) dissertação expositiva.
(D) dissertação argumentativa.
(E) fábula.

Questão 10
“E sai correndo, para nunca mais se encontrarem. / Mas se encontram.”
O sexto parágrafo se liga ao quinto por uma ideia prioritária de:
(A) adição.
(B) oposição.
(C) comparação.
(D) tempo.
(E) espaço.

Questão 11
Nos últimos parágrafos, vozes se misturam ao discurso do narrador. A identificação equivocada da voz está
na alternativa:
(A) “O cretino conseguiu prender a língua numa lata de Coca.” – Marido de Maria Alice.
(B) “De onde o marido conhece aquele Caquinho?” – Mulher de Rogério.
(C) “E aquela mulher, que está perguntando se aconteceu alguma coisa com a Gabriela?” – Mulher de Rogério.
(D) “Não foi nada, Gabriela só bateu com a cabeça na borda da piscina ...” – Rogério.
(E) “O que houve?” – Rogério.

Capítulo 27 - HETEROGENEIDADE DISCURSIVA

Resposta a uma moça 50 anos depois

Outro dia, escrevendo sobre meu passado, falei de uma menina da Urca que, de longe, eu considerava minha
namorada, Silvinha, moreninha de olhos verdes. Dias depois, recebi um e-mail assim: “Meu amigo Arnaldo, Lisonjeada
fiquei ao ler sua coluna de 29/06, por me ver citada em suas reminiscências. Hoje, com 46 anos de casada, com dois
filhos e dois netos, entristece-me pensar que a meninada atual não pode ter a infância livre e despreocupada que
tivemos e, portanto, não terá as lembranças das peripécias próprias de cada fase. Ah, bons tempos! Agradecendo
as citações, deixo aqui um saudoso abraço. Hoje, sou a ‘grisalhinha’ de olhos verdes. Silvinha.”
Fiquei emocionado com o e-mail e agora respondo.
Querida Silvinha,
Hoje, mais de 50 anos depois, vou dizer o que sentia por você. Você foi o que eu imaginava o que seria uma
namorada. Você despertou em mim um tremor novo, a primeira emoção do que mais tarde vi que chamavam
“amor”. Em uma tarde cinzenta, em frente ao portão de sua casa, eu senti uma alegria inesquecível como se
tudo ali estivesse no lugar perfeito: a brisa leve da tarde, a paz da rua, o silêncio sem pássaros, você encostada
no portão marrom do jardim, e, não sei por quê, senti uma felicidade insuportável, como se ouvisse o calmo
funcionamento no mundo. Percebi confusamente que ali, no teu sorriso, ou olhos, ou boca, estava a explicação
do sol filtrado em listras entre as folhas da árvore, e a perfeição do som agudo que tirei da folha de fícus
enrolada como uma flautinha vegetal, instrumento que hoje os garotos não conhecem mais.
Esse foi um momento que me ficou nos últimos 50 anos. Depois, uma brincadeira também esquecida:
“casamento japonês”, onde se escolhia uma menina a quem se perguntava: “Pera, uva ou maçã?”; você disse
“uva” e eu beijei timidamente seu rosto, sentindo-me, em seguida, a voar por cima do seu jardim, vendo as
casas da Urca lá embaixo. E, assim, você ficou de namorada oficial de minha infância imaginária.
Não sei por quê, Silvinha, sempre tive fascinação por meninas que me deixavam arrebatado e com medo
ao mesmo tempo, sempre de algum modo as meninas que me atraíam me pareciam inatingíveis, etéreas,
como se fossem destinadas a outros e não a mim... e essa impossibilidade aumentava meu fascínio de pierrô.
Aliás, devo te confessar hoje, 50 anos depois, que você não foi a única. Márcia corria de bicicleta pela
pracinha e só tinha olhos para o Porcolino e olhava com desdém sorridente para minha tentativa de alcançá-
la na bicicleta, e eu via suas pernas sob a saia que ventava, e a bicicleta parecia deixar um rastro de cometa
de Márcia.
Não conversamos nunca, Silvinha, você nem soube que era minha namorada secreta, e vivemos esse meio
século em mundos diversos. Você deve ter sido feliz, com filhos e netos, seguindo a trilha natural que saía do
seu jardim, enquanto eu tive um caminho mais torto talvez, sempre meio fora das coisas que eu via acontecer.
Tenho inveja das estradas largas e sadias e talvez eu tivesse sido mais feliz, se tivesse feito a Escola Naval
como meu pai queria, e hoje fosse um orgulhoso almirante comandando cruzadores pelos mares do meu
Brasil. Mas não posso me queixar de nada, casei várias vezes, tive duas filhas e um filho maravilhosos, chorei
muitas vezes de dor de corno e de desentendimento, mas não posso me queixar, pois, além do que vivi, vejo
hoje que as memórias são tão sólidas quanto as realidades, que muitas vezes se esvaem mais rápido que
aquelas. Você, de quem nem lembro o rosto, ficou como uma primeira sensação do que chamam de amor. E
como diz o poeta: “...as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão...”
Beijo tardio, do Jabor
Arnaldo Jabor

Questão 01
No primeiro parágrafo do texto, o autor utiliza recursos para contextualizar seu texto, a fim de que o leitor
possa entendê-lo. Dos recursos utilizados pelo autor, só não se pode falar em:
(A) intertextualidade.
(B) polifonia.
(C) citação.
(D) transcrição.
(E) definição.

Questão 02
Num texto, é comum o emprego de expressões que só podem ser entendidas a partir de informações
extratextuais: são expressões dêiticas. Na linha 1, por exemplo, a expressão “Outro dia” só pode ser plenamente
entendida se o leitor souber quando o texto foi escrito. Nas alternativas abaixo, transcrevem-se do primeiro
parágrafo outras expressões semelhantes, exceto:
(A) “de longe” (l. 2).
(B) “Dias depois” (l. 4).
(C) “de 29/06” (l. 5).
(D) “Hoje” (l. 6).
(E) “atual” (l. 8).

60
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 03
A presença do vocativo “Querida Silvinha” indica o seguinte gênero textual:
(A) Informe.
(B) Lembrete.
(C) Convocação.
(D) Carta.
(E) Comunicado.

Questão 04
De “Hoje, mais de 50 ....” até “...os garotos não conhecem mais.”, predominam os seguintes tipos de composição
discursiva:
(A) Descrição e narração.
(B) Descrição e dissertação.
(C) Narração e dissertação.
(D) Argumentação e descrição.
(E) Argumentação e narração.

Questão 05
Assinale a afirmativa em desacordo com o texto:
(A) Silvinha foi a primeira namorada de Jabor.
(B) Jabor acredita que Silvinha não sabia que ele a venerava.
(C) Silvinha sabe que Jabor não se lembra, com perfeição, da infância.
(D) Silvinha não foi a única paixão de Jabor.
(E) Jabor não se lembra de Silvinha com perfeição.

Questão 06
Quanto à interlocução trabalhada no texto de Jabor, assinale a afirmativa correta:
(A) No primeiro parágrafo, o leitor é genérico, com referências explícitas a ele.
(B) A partir do Vocativo “Querida Silvinha”, o interlocutor é genérico, pois qualquer leitor pode ler a
carta de Jabor.
(C) No texto de Silvinha, Arnaldo é o interlocutor, embora generalizado.
(D) O texto destinado a Silvinha tem interlocutora específica, embora possa ser lido por qualquer leitor.
(E) A carta de Jabor é indevidamente aberta, isto é, deveria ser remetida especificamente a Silvinha.

Questão 07
“Aliás, devo te confessar hoje, 50 anos depois, que você não foi a única.” Mantendo-se o sentido original, esse
trecho pode ser reescrito, em nível culto, da seguinte forma:
(A) Aliás, devo te confessar hoje, 50 anos depois, que não foi a única.
(B) Aliás, devo-lhe confessar, hoje, que, 50 anos depois, você não foi única.
(C) Aliás, devo confessar-lhe, hoje, 50 anos após você não ter sido a única.
(D) Aliás, devo-te confessar hoje, 50 anos depois, que tu não fostes a única.
(E) Aliás, devo confessar-te hoje, 50 anos depois, que não foste a única.
Questão 08
Fixe:
Instante da narração é o instante em que se narra; instante da narrativa é o instante em que ocorrem os
fatos narrados. Veja só:
“Hoje, em setembro de 2012, resolvi contar, quase 50 anos depois, o que me ocorreu aos 5 anos de idade,
a mais remota reminiscência que guardo na memória. Eu estava em meu quarto ...”
Instante da narração: setembro de 2012.
Instante da narrativa: quase 50 anos passados.
Na narrativa de Jabor, a passagem do tempo é marcada por diversos recursos. Assinale a alternativa em que
não se evidencia a distância temporal entre o instante da narração e o instante da narrativa:
(A) “Esse foi um momento que me ficou nos últimos 50 anos.”
(B) “Depois, uma brincadeira também esquecida: ‘casamento japonês’, onde se escolhia uma menina a
quem se perguntava: (...).”
(C) “E, assim, você ficou de namorada oficial de minha infância imaginária.”
(D) “Aliás, devo te confessar hoje, 50 anos depois, que você não foi a única.”
(E) “Não sei por quê, Silvinha, sempre tive fascinação por meninas que me deixavam arrebatado (...)”

Questão 09
“(...), como se ouvisse o calmo funcionamento do mundo.” Nesse excerto, predomina a seguinte figura de
linguagem:
(A) Metáfora.
(B) Hipérbole.
(C) Enálage.
(D) Hipálage.
(E) Personificação.

Capítulo 28 - UM POUCO MAIS DE HETEROGENEIDADE DISCURSIVA

Medos e a dialética do cotidiano

A menina precisava descer a ladeira para ir à escola. A mãe lhe disse que não tivesse medo, pois aqueles
tiros logo parariam. Ela sabia que, se tivesse medo, a filha o herdaria. Era preciso não sentir medo. Seu medo
era o de sentir medo. – Confie em Deus ...
Minirretrato do cotidiano de muitos centros urbanos. A violência fazendo vítimas sociais e psicológicas.
Pelo menos três grandes fobias têm, neste ainda princípio de século, caracterizado as mentes intelectualizadas.
Uma é a “homofobia”, no sentido de aversão ao semelhante, isto é, da mesma espécie. Antropofobia. Medo
do outro. Misantropia. O indivíduo, nesta sociedade competitiva e selvática, modernização urbanizada da
seleção natural, com toda a cadeia alimentar que lhe é peculiar, assombra-se com o próximo. A dramaticidade
do cotidiano, em que se mesclam diferentes tipos pessoais da mesma espécie, cria no consciente da selva a
necessidade de se estar em alerta, posicionando-se para fugir, defender-se, reagir ou atacar. Na cadeia, pode-se
reconhecer a impotência ante o adverso, a restrição, a possibilidade de combater ou a vantagem oportunista.
Também a monofobia é marca de nossos dias. A vida atribulada exige a atenção ao exterior. A selva urbana é
o nosso habitat. A atenção tem de haver. Este sistema alucinante cria o medo do outro, mas é preciso estar em
contato com o outro. É preciso criar motivos para a antropofobia. Quando não há monofobia, a misantropia vira
caso patológico de alto grau. A monofobia equilibra, empurra para fora, num complexo de forças sorrateiras,
invisíveis, disfarçadas nos sorrisos e vestimentas do cotidiano. Uma gangorra: como é difícil o equilíbrio.
A excessiva vivência do exterior gera o distanciamento do indivíduo de si mesmo, autodesconhecimento
que gera despreparo na relação com as fobias mais naturais do ser humano. Desse despreparo vem talvez
o maior dos medos: a tanatofobia. Existem centenas e centenas de religiões que apontam a morte como

62
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

uma espécie de passagem: seja para o céu, seja para uma outra vida, seja para um outro estágio, etc. Ainda
assim, o medo. O que acontece realmente quando se morre? A pluralidade de respostas não gera uma única
convincente, o que justifica a tanatofobia.
Não há como viver sem medos, mas talvez haja como conviver com eles sem deixá-los se transformar em
nenhum tipo de patologia. A menina da ladeira tem medo do marginal, não das pessoas e do mundo; tem
medo de ficar sem companhia, não (de ficar) sozinha consigo mesma; tem medo do tiro, não exatamente da
morte. A consciência do medo pode inclusive gerar o medo do medo, o que também pode ser patológico. O
ateu não se livra da crença por não crer na existência de Deus, pois ele crê na inexistência de Deus. Da mesma
forma, não se pode tentar viver sem medo, pois isso revelaria medo do medo. O medo é necessário. O medo
é freio que precisa, porém, ser freado para que cheguemos com vida à morte.
AS. Crônicas contemporâneas(Texto adaptado)

Questão 01
Quanto à tipologia textual, a melhor classificação para o texto é:
(A) Descritivo.
(B) Narrativo.
(C) Argumentativo.
(D) Injuntivo.
(E) Científico.

Questão 02
Quanto às referenciações presentes no primeiro parágrafo, pode-se afirmar que têm o mesmo referente os
termos da alternativa:
(A) menina – mãe – Ela.
(B) menina – filha – Seu.
(C) mãe – Ela – Seu.
(D) ladeira – escola – filha.
(E) medo – o – Seu.

Questão 03
“Da mesma forma, não se pode tentar viver sem medo, pois isso revelaria medo do medo.” Das palavras
abaixo, a que tem o mesmo significado da expressão destacada é:
(A) Nictofobia.
(B) Fotofobia.
(C) Fobofobia.
(D) Batmofobia.
(E) Ombrofobia.

Questão 04
Predomina no parágrafo 3 a seguinte função de linguagem:
(A) metalinguística.
(B) referencial.
(C) conativa.
(D) emotiva.
(E) fática.
Questão 05
“Pelo menos três grandes fobias têm ...” (segundo parágrafo). As fobias a que se refere o autor nessa passagem são:
(A) Homofobia – antropofobia- misantropia.
(B) Homofobia – antropofobia – monofobia.
(C) Antropofobia – misantropia – monofobia.
(D) Homofobia – monofobia – tanatofobia.
(E) Antropofobia – monofobia – teofobia.

Questão 06
Releia: “A dramaticidade do cotidiano, em que se mesclam diferentes tipos pessoais da mesma espécie,
cria no consciente da selva a necessidade de se estar em alerta, posicionando-se para fugir, defender-se,
reagir ou atacar. Na cadeia, pode-se reconhecer a impotência ante o adverso, a restrição, a possibilidade de
combater ou a vantagem oportunista.”
Atentando-se para as construções paralelas presentes, pode-se afirmar que.
(A) fugir está para reagir assim como defender-se está para atacar.
(B) fugir está para defender-se assim como reagir está para atacar.
(C) fugir está para reconhecer a impotência ante o adverso assim como atacar está para a vantagem
oportunista.
(D) defender-se está para reagir assim como atacar está para fugir.
(E) defender-se está para a possibilidade de combater assim como reagir está para reconhecer a restrição.

Questão 07
A palavra “indivíduo” aparece algumas vezes no texto. O valor semântico de seu prefixo só não se repete em:
(A) inclusive.
(B) inexistência.
(C) invisíveis.
(D) incréu.
(E) incrível.

Questão 08
A respeito do emprego dos pronomes relativos, assinale a opção correta.
(A) O pronome relativo “que” admite ser substituído por “o qual” e suas flexões de gênero e número.
(B) É correto colocar artigo após o pronome relativo “cujo” (cujo o mapa, por exemplo).
(C) O relativo “onde” expressa lugar, mas pode ter como referente uma ideia temporal como, por exemplo,
em “Foi linda toda a década onde conheci você.”
(D) O pronome “cujo” é invariável, ou seja, não apresenta flexões de gênero e número.
(E) O pronome relativo “quem”, assim como o relativo “que”, tanto pode referir-se a pessoas quanto a
coisas em geral.

Questão 09
“Nesse caso, quanto maior o número de teorias ..., pior para o intelectualizado.” (l. 87-90)
A relação semântica prioritária entre os segmentos sublinhados é:
(A) proporcional.
(B) comparativa.
(C) condicional.
(D) temporal.
(E) causal.

64
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 10
“Desse despreparo vem talvez o maior...” (l. 43) Está incorretamente flexionado no presente do indicativo o
verbo da seguinte alternativa:
(A) Vimos de vez em quando aqui. (vir)
(B) Intermedeio estas negociações. (intermediar)
(C) Entretenho-me com poucas coisas. (entreter-se)
(D) Vós pondes as coisas onde não deveis. (pôr)
(E) Requero meus direitos por meio deste ofício. (requerer)

Capítulo 29 - TEXTO DIALÉTICO

Os opostos não se excluem

Não há dúvida de que o ser humano tem uma essência que o diferencia das outras espécies. Afinal, é o
único ser que busca significado para a vida, que pensa em si mesmo e se ocupa com questões como de onde
veio (antes de nascer) e para onde vai (após morrer). Essa natureza humana é imutável. Também não há dúvida
de que cada indivíduo tem sua essência, algo que o diferencia dos demais exemplares da mesma espécie. E
essa natureza individual? Seria imutável?
Por um lado, há o determinismo, uma teoria filosófica que afirma que as escolhas e ações humanas não
acontecem devido ao livre-arbítrio, mas por relações de causalidade. Todos os acontecimentos ocorrem
devido ao decurso natural, por uma causa específica, e devem de fato acontecer. Tal teoria foi impulsionada
pelo filósofo/cientista Demócrito (séc. IV a.C.).
Por outro lado, há quem defenda a teoria do livre-arbítrio, sobretudo existencialistas como Jean-Paul
Sartre (séc. XX), filósofo francês. O pensamento existencialista defende, em primeiro lugar, que a existência
vem antes da essência. Significa que não existe uma essência humana que determine o homem, mas que ele
constitui a sua essência na sua existência. Essa construção da essência se dá a partir das escolhas feitas, visto
que o homem é livre. Nessa condição na qual o homem existe e sua vida é um projeto, ele terá de escolher
o que quer ser e efetivar sua vontade agindo.
Uma análise equilibrada talvez leve à conclusão de que determinismo e livre-arbítrio não se excluem. É
certo que cada pessoa é influenciada por traços hereditários. Também é irrefutável a ideia de que o meio
ambiente exerce força determinadora sobre o comportamento do ser humano. Isso tudo, porém, não anula,
em muitos aspectos, a possibilidade de o indivíduo fazer escolhas. Por mais difícil que pareça, ele pode
contrariar tendências hereditárias e influências comportamentais, sendo agente parcial do seu destino. Vê-se,
portanto, que a natureza humana não pode ser tida como imutável, embora isso não signifique acreditar em
sua mutabilidade irrestrita. O indivíduo é coautor do seu destino, o que lhe retira a condição de espectador
de efeitos, condição paradoxalmente positiva – porque propicia certa isenção de culpa – e negativa – porque
gera certa sensação de impotência –, mas não lhe concede a condição de onipotente, devendo, pois, buscar
o equilíbrio entre determinismo e livre-arbítrio.
AS. Crônicas contemporâneas

Questão 01
Julgue cada afirmativa abaixo como certa ou como errada , levando-se em conta as ideias e as estruturas
linguísticas trabalhadas no texto.
1. A tese do texto aparece já no 1º parágrafo. (C) (E)
2. O assunto do texto aparece já no 1º parágrafo. (C) (E)
3. O texto tem natureza social, e o motivador é uma ocorrência social que
aparece no 1º parágrafo. (C) (E)
4. O texto é dissertativo argumentativo. (C) (E)
5. O texto tem caráter didático e, por isso, nele há muitas instruções. (C) (E)
6. No 1º período do texto, a substituição de “das” por “de” não manteria
o sentido original. (C) (E)
7. No 2º período do texto, a supressão do termo “único” manteria o sentido
geral da passagem. (C) (E)
8. No 2º parágrafo, a substituição de “há” por “existe” manteria a correção
gramatical. (C) (E)
9. No 2º parágrafo, a substituição de “devido ao” por “devido o” manteria a
correção gramatical. (C) (E)
10. Depreende-se que o 2º e o 3º parágrafos se relacionam por certo
jogo antitético. (C) (E)
11. Toda tese pressupõe uma antítese. (C) (E)
12. Se levarmos em conta a tese do 2º parágrafo, temos de levar em
conta sua antítese no 3º. (C) (E)
13. Se levarmos em conta a tese do 3º parágrafo, temos de levar em conta
sua antítese no 2º. (C) (E)
14. No 4º parágrafo, o autor encaminha o perfil dialético textual, ensejando
uma síntese. (C) (E)
15. No 5º parágrafo, corrobora-se o raciocínio dialético do 4º. (C) (E)

Capítulo 30 - MUITO MAIS DO QUE ENTRETENIMENTO – TEXTOS HÍBRIDOS PARA


REFLEXÃO

Texto 1

Questão 01
A última fala de Haroldo estabelece uma tese de base opositiva. Explicite-a.

Texto 2

66
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Questão 02
A última fala de Mafalda estabelece uma tese de base opositiva. Explicite-a.

Texto 3

Questão 03
Em termos lógicos, o raciocínio de Calvin pode ser considerado uma falácia. Por quê?

Texto 4

Questão 04
O efeito de humor da tirinha acima se deve:
(A) à postura desobediente de Mafalda diante da mãe.
(B) à resposta autoritária da mãe de Mafalda à pergunta da filha.
(C) ao uso de palavras em negrito e cada vez maior do 2º ao 4º quadrinho.
(D) ao fato de aparecer apenas a fala da mãe de Mafalda e não sua imagem.
(E) aos sentidos atribuídos por Mafalda para as palavras “títulos” e “diplomamos”.
Texto 5

Questão 05
O humor da tirinha é provocado, principalmente:
(A) pela ambiguidade da palavra “regime”.
(B) pela frustração demonstrada pela garota.
(C) pelo fato de a menina medir o globo.
(D) pelo emprego do pronome de segunda pessoa.
(E) pela inadequação da expressão “dê certo”.

Texto 6

Questão 06
A tira explora certa oposição e privilegia um de seus extremos. Qual é a oposição e qual é o extremo evidenciado?

68
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KOCH, I. G. V. (2002). Desvendando os segredos do texto. São Paulo, Cortez.
____________. (1989). A coesão textual. São Paulo, Cortez.
____________. &ELIAS V. M. (2006). Ler e compreender. São Paulo, Contexto.
____________. & TRAVAGLIA, L.C. (1989). Texto e coerência. São Paulo, Contexto.
MASIP , V. (2001). Interpretação de textos. São Paulo, EPU.
SANTOS, A. & SOARES, A. C. (2018). Linhas e entrelinhas. Paraná, Alfacon.
MAINGUENEAU, D. (2008). Análise de textos de comunicação. São Paulo, Cortez.

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