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Marlene de Oliveira
Coordenadora
Belo Horizonte
Editora UFMG
2005
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C569
Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação /
Beatriz Valadares Cendón... [et al]. ; Marlene de Oliveira Coordenadora. - Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005.
Inclui referências.
ISBN: 85·7041-473-0
Ficha catalográfica elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogação da Biblioteca Universitária
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................4
CAPÍTULO I - Origens e Evolução da Ciência da Informação.............................................6
CAPÍTULO II - A Produção de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas....................24
CAPÍTULO III - A Ciência da Informação no Brasil ............................................................36
CAPÍTULO IV - Sistemas e Redes de Informação ..............................................................50
CAPÍTULO V – Formação e Atuação Profissional..............................................................81
CAPÍTULO VI – A Atuação Profissional do Bibliotecário no Contexto da Sociedade
Informação: os novos espaços de Informação..................................................................93
ANEXO A – Localização de Bibliotecas das Instituições Universitárias Federais e
Estaduais.............................................................................................................................102
ANEXO B – Escolas de Biblioteconomia no Brasil..........................................................106
SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................116
INTRODUÇÃO
Com a Revolução Industrial deflagrada em toda Europa e nos Estados Unidos, no final
do século XIX, a quantidade de informações registradas cresceu de forma assustadora, e
várias tentativas foram feitas para realizar um levantamento bibliográfico universal. A
iniciativa mais importante foi assumida pelos advogados belgas Paul Otlet e Henri La
Fontaine, que acreditavam poder solucionar o problema que era o de levar ao conhecimento
de cientistas e interessados toda a literatura científica e todos os produtos do conhecimento
gerados no mundo. Para isso, planejaram a criação de uma biblioteca universal a fim de
divulgar, em fichas, os dados bibliográficos relativos a todos os documentos indexados. A
biblioteca universal seria de referência dos produtos e não de reunião de acervos. Para
coordenar tais atividades foi criado o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), que começou
a criar ferramentas para registrar, de forma sistemática e padronizada, as referências dos
documentos.
Uma das primeiras preocupações do IIB era a de desenvolver um sistema de
classificação único, a ser adotado por todos na indexação dos documentos, uma vez que a
biblioteca universal seria uma biblioteca de referências. Assim surgiu a Classificação Decimal
Universal (CDU), que oferecia a possibilidade de tratar outros tipos de documento além do
livro e de outros produtos impressos. Outro fato relevante foi a elaboração, por Paul Otlet, do
conceito de documento, que passou a ser "o livro, a revista, o jornal, a peça de arquivo, a
estampa, a fotografia, a medalha, a música, o disco, o filme e toda a parte documentária que
precede ou sucede a emissão radiofônica. São amostras, espécimes, modelos fac-símiles e,
de maneira geral, o que tenha caráter representativo, com três dimensões e, eventualmente,
em movimento". Essa nova visão de registros de conhecimento modificou a atuação do IIB,
que foi transformado, em 1931, em Instituto Internacional de Documentação (IID), já com a
preocupação de fornecer meios de controle para os novos tipos de suporte do conhecimento.
Em 1938, esse instituto foi transformado em Federação Internacional de Documentação -
FID, órgão máximo da área, que permanece atuante até hoje.
O conceito de documento ampliou o campo de atuação dos profissionais da área ao
ultrapassar os limites do espaço da biblioteca e agregar novas práticas de organização e
novos serviços de documentação. Por isso, o Instituto Internacional de Bibliografia pode ser
compreendido como acontecimento importante na gênese da Ciência da Informação, do qual
brota a idéia de bibliografia como registro, memória do conhecimento científico, desvinculada
dos organismos como arquivos e bibliotecas, e de acervos. A idéia de criação da Biblioteca
Universal de Paul Otlet e Henri La Fontaine não foi implementada, mas a iniciativa deixou
como legado, para os profissionais de informação, novos conceitos, como o de documento,
de bibliografia e a Classificação Decimal Universal.
1
BUSH, As we may thing. Atlantic Monthly, p. 101-108, 1945.
usuários de informação; estudos do comportamento humano frente à informação a interação
homem-computador, dentre outros. Enfim, a recuperação da informação possibilitou o
surgimento dos sistemas automatizados de informação.
O trabalho com a recuperação de informações deu subsídio para o desenvolvimento
de inúmeras aplicações bem-sucedidas (produtos, sistemas, redes, serviços). Segundo
Pinheiro (1997), a evolução da recuperação da informação é vista como a grande
responsável, não a única, mas a mais forte, pelo surgimento da Ciência da Informação. Na
verdade, a Ciência da Informação progrediu para abarcar muito mais que a recuperação da
informação, mas problemas relacionados à recuperação estão presentes no seu núcleo.
É uma tarefa difícil precisar o surgimento de uma nova ciência, mesmo em se tratando
de uma disciplina científica recente, como é o caso da Ciência da Informação.
A ênfase nessa atividade que veio a se denominar Ciência da Informação deve-se ao
seu esforço para enfrentar os problemas de organização, crescimento e disseminação do
conhecimento registrado, que vem ocorrendo em proporções geométricas, desde logo após a
Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse sentido, a Ciência da Informação nasceu para
resolver um grande problema, que foi também a grande preocupação tanto da
Documentação quanto da Recuperação da Informação, que é o de reunir, organizar e tornar
acessível o conhecimento cultural, científico e tecnológico produzido em todo o mundo.
Um evento importante é apontado por Meadows (1991) para o desenvolvimento da
área. Segundo ele, a disciplina passou por uma acentuada evolução após a Segunda Guerra
Mundial, ocasionada pelo surgimento da Teoria Matemática da Informação, descrita por
Shanon e Weaver2 no final dos anos 1940. Essa teoria, adotada por muitas outras áreas,
explica os problemas de transmissão de mensagens através de canais mecânicos de
comunicação. O princípio de toda comunicação implica na transmissão de uma mensagem
entre uma fonte (emissor) e um destino (receptor) utilizando um canal. O emissor ou fonte
pode ser um indivíduo, um grupo ou uma empresa. O receptor ou destinatário é quem recebe
a mensagem. Esse modelo de comunicação, elaborado por engenheiros para comunicação
entre máquinas, não atendeu às necessidades teóricas da Ciência da Informação, uma vez
2
A teoria da comunicação de Claude Shannon e Warren Weaver foi descrita no Mathematical theory of
comunication.
que, ao se tratar de pessoas, o receptor é submetido a um fluxo de mensagens que chegam
de todos os lados, sendo necessária uma seleção para compreender aquelas que interessam
particularmente a um indivíduo. A contribuição da teoria para o desenvolvimento teórico da
Ciência da Informação foi pequena, mas importante para a sua história, uma vez que atraiu a
atenção para a necessidade de se definir claramente o caráter da informação com que os
profissionais da área se preocupavam.
A data de 1958 é assinalada como um dos marcos na formalização da nova disciplina,
quando foi fundado, no Reino Unido, o Institute of Information Scientists (IIS). Alguns autores
descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas especializadas (em indústrias
e outras organizações) e especialmente pela ênfase dada por estas à idéia de
documentação. Na indústria moderna houve uma crescente demanda de informação para
maior desempenho das organizações. Então, alguns cientistas qualificados se deslocaram
para a área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção com o intuito de estabelecer um
serviço de informação ativo para seus colegas. Eles se consideravam como cientistas da
informação, já que eram cientistas que pesquisavam para cientistas. Como a atividade se
expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para aqueles que optavam por
essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a se chamar ciência da informação. O
uso do termo cientista da informação pode ter tido a intenção de distinguir os cientistas da
informação dos cientistas de laboratório, uma vez que o interesse principal daqueles
membros era a organização da informação científica e tecnológica (Ingwersen, 1992). Os
membros denominados cientistas da informação eram profissionais de várias disciplinas que
se dedicavam às atividades de organizar e suprir de informação científica seus colegas
pesquisadores de P & D (Foskett, 1969; Meadows, 1991; Ingwersen, 1992).
Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com que o
computador afetou a estrutura dentro da qual a Ciência da Informação opera. Como outros
campos científicos de natureza semelhante, por exemplo, a Ciência da Computação, a
Ciência da Informação tem sua origem na esteira da revolução científica e técnica que se
seguiu à Segunda Guerra Mundial. Segundo alguns autores, como Saracevic (1992), as
novas tecnologias projetam-se sobre a Ciência da Informação da mesma maneira que o
fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, há consenso entre
estudiosos da Ciência da Informação de que ela está inexoravelmente conectada à
tecnologia da informação. A recuperação da informação, que teve papel importante no
surgimento da área, guarda em sua evolução as associações da ciência com a tecnologia da
informação.
Os avanços da informática desde a década de 1960 transformaram e estimularam as
atividades de armazenamento e recuperação da informação. Com a utilização do
computador, a Ciência da Informação passou a enfrentar novos desafios. Assim, da atividade
de recuperar informações emergiram novas questões a serem estudadas, necessidades de
novas conceituações e construções teóricas, empíricas e pragmáticas. O impacto dos
computadores e das telecomunicações 110 gerenciamento da informação foi tão grande que
hoje a Ciência da Informação e tecnologia da informação estão freqüentemente juntas 1101
discussão sobre o percurso da área.
3
Le Coadic esclarece que conhecimento (um saber) é resultado do ato de conhecer. ato pelo qual o espírito
apreende um objeto. Conhecer é ser capaz de formar a idéia de alguma coisa: é ter presente no espírito. Isso
pode ir da simples identificação (conhecimento comum) à compreensão exata e completa dos objetos
(conhecimento científico).
análise do fenômeno conduz a uma reflexão sobre a natureza interdisciplinar4, ou até
transdisciplinar5, da área, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade científica,
por outro, fragmenta-se ao abordar diferentes temáticas relacionadas ao binômio
informação/comunicação.
4
O termo interdisciplinaridade aqui empregado trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando um
novo nível de discurso, caracterizado por uma nova linguagem.
5
A transdisciplinaridade é o reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade, É
conseqüência normal da síntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida (Weeil,
1993).
6 O termo interdisciplinaridade, empregado aqui, trata da síntese de duas ou várias disciplinas, instaurando
nível de discurso, caracterizado por uma linguagem (Weeil, 1993).
busca de aproximação com outras disciplinas por parte da Ciência da Informação. Ao tentar
resolver problemas teóricos, a comunidade tem trabalhado em demasia 110S espaços
fronteiriços da Ciência da Informação. Dessa maneira, a busca da interdisciplinaridade, sem
muita reflexão, pode estar tornando-a vulnerável em vez de resolver sua fragmentação.
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VICKERY and VICKERY. lnformation science in theory and practice. London: Butterwa rdth s,
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Desde a Antigüidade até o final da Idade Média foram utilizados diferentes suportes
como base para o registro de conhecimentos: a pedra, o barro, a madeira, o linho, a seda, o
papiro, o pergaminho e o papel. Com a invenção da imprensa por Guttenberg, em 1452, e
seu desenvolvimento nos séculos seguintes, houve grandes modificações na produção, no
armazenamento e na difusão dos conhecimentos. Esse fato ocasionou o rompimento do
monopólio que a Igreja exercia na geração e guarda dos conhecimentos. Até então, o acesso
aos conhecimentos, assim como consultas a bibliotecas, constituía-se em privilégio da elite.
A criação de Guttenberg e o processo de fabricação do papel facilitaram, aos poucos, a
democratização dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior produção de
registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condição de maior importância à época.
A expressão "geografia do conhecimento" é usada por Burke (2003) para mapear a
produção de conhecimentos, notada mente dos séculos XVI. XVII e XVIII. Ele distingue a
distribuição espacial do conhecimento desde os locais onde foi produzido, descoberto,
guardado até onde era difundido. Naqueles séculos, os centros tradicionais eram os
mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e os hospitais.
Como produtores e divulgadores de conhecimentos, o autor cita também o laboratório, a
galeria de arte, a livraria, a biblioteca, o anfiteatro de anatomia, o escritório e o café. Esse
mapeamento do conhecimento exemplifica a visão do autor de que o conhecimento é visto
na sua forma plural e não só como atividade científica. Prosseguindo, Burke (2003) percebeu
a existência de conhecimentos também em ambientes de comércio, particularmente os
portos, que eram especiais na difusão de informações. Os habitantes dos portos se dirigiam
ao cais para conversar com marinheiros de embarcações recém-chegadas. Ali filam
encontrados cartas, mapas e globos, além de o local propiciar o intercâmbio de
conhecimentos. Dessa maneira, justifica-se a importância de Lisboa na história do
conhecimento dos séculos XV e XVI, derivada de sua posição como capital do Império
Ultramarino Português. O autor cita também Veneza como a mais importante agência de
informações dos primórdios do mundo moderno, por sua posição intermediária entre o
Ocidente e o Oriente.
Quando se refere à localização das bibliotecas, Burke (2003) cita a Itália e a França,
países onde se concentrava o maior número delas. Algumas cidades italianas, como
Nápoles, Florença, Veneza e Milão, abrigaram grandes bibliotecas. Roma hospeda
bibliotecas de diversas ordens religiosas, além da Biblioteca do Vaticano. Paris superava
Roma em quantidade de bibliotecas, principalmente no século XVII. Um guia de Paris,
datado de 1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os leitores entrassem "como um
favor" para consulta em suas coleções. Naquela época, teve início a formação de centros de
estudos nas principais cidades da Europa, o que contribuiu para o aparecimento de novas
bibliotecas, tanto universitárias como públicas. Esse fato coincide com o início da
formalização da atividade de pesquisa, ocasionando o surgimento das agências de fomento
à pesquisa naquele século.
Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturação da pesquisa científica,
os conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer significativamente. Com o
correr do tempo, a atividade de construção de conhecimentos expandiu-se para incluir
empresas, indústrias, área jurídica e outras, que passaram de consumidoras a também
produtoras de conhecimentos. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a
divulgação de conhecimentos tornou-se mais rápida, agilizando os serviços das bibliotecas.
No Brasil, as primeiras bibliotecas foram criadas por ordens religiosas. A ordem dos
Jesuítas foi a mais atuante. Em 1549, fundou a Companhia de Jesus, organização que
objetivava catequizar índios e colonos. Nas escolas daquela Companhia os padres criavam
bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores e mais numerosas. Fundaram escolas
e bibliotecas em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, no Maranhão, Pará e em
vários outros estados e cidades. Tais bibliotecas atendiam necessidades tanto de alunos em
seus primeiros aprendizados, como até de alunos de Filosofia, que equivaleriam aos das
Faculdades de hoje. As consultas não se restringiam aos alunos e professores das escolas,
mas eram possíveis a qualquer pessoa que justificasse o pedido. A Biblioteca do Mosteiro de
São Bento, em Salvador, Bahia, organizada no início do século XVI, formalizou atividades de
uma biblioteca pública (Moraes, 1979).
Com a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, pelo Marquês de Pombal, seus
bens foram confiscados, inclusive as bibliotecas. Os acervos foram selecionados e grande
parte enviada ao Colégio do Rio de Janeiro, o restante foi entregue ao bispo da Diocese.
Com isso, o conhecimento produzido por brasileiros e estudiosos daqueles colégios ficou
perdido. Outras ordens religiosas se incumbiram da educação dos brasileiros e criaram
colégios e bibliotecas para isso, como os franciscanos, Beneditinos e Carmelitas. Dentre as
bibliotecas mais relevantes, estavam as beneditinas. As abadias beneditinas tinham boas
bibliotecas e enriqueciam seus acervos por meio de compra e herança.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condições políticas, econômicas
e sociais da Colônia. Foi uma transformação radical no Rio de Janeiro, sua população
cresceu consideravelmente com a chegada de nobres, funcionários de muitas categorias,
comerciantes, burgueses ricos etc. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e, em
conseqüência, transformou a situação do livro e das bibliotecas. Junto com os tesouros do
Estado Português, como ouro, diamantes, pratarias e paramentos da Capela Real, vieram
também arquivos das repartições públicas, manuscritos da Coroa e do Infantado e a
Biblioteca Real da Ajuda. O acervo da biblioteca era composto de coleções ricas e versáteis,
como as primeiras edições portuguesas e espanholas, edições de clássicos portugueses e
espanhóis, coleção de folhetos, manuscritos, fotos, mapas e gravuras. A partir daí, a
biblioteca desenvolveu-se recebendo também doações e, principalmente, através da
obrigação do depósito legal, pela qual a biblioteca passou a receber um exemplar de tudo o
que é publicado em território nacional. Com o retorno da Corte Portuguesa à Europa, a
Biblioteca Real ficou desfalcada de parte de seu acervo, mas, mesmo assim, ainda
conservou uma parte valiosa. Com o advento da Independência, a biblioteca ficou
subordinada a uma repartição pública e passou a denominar-se Biblioteca Nacional (Moraes,
1979).
A primeira biblioteca pública surgiu, em Salvador, como expressão da sociedade. Um
senhor de engenho, Pedro Gomes Ferrão de Castelo Branco, planejou a biblioteca como
uma instituição para promover a instrução do povo. A Biblioteca Pública da Bahia foi a
primeira a ser fundada com essa característica de não contar com recursos do governo. A
experiência não deu certo e o governo passou a dar subsídios e outras bibliotecas públicas
floresceram em outras capitais e cidades importantes.
É importante ressaltar que a divulgação da cultura até a República já não estava
restrita às livrarias e bibliotecas dos conventos religiosos. No Rio de Janeiro funcionavam
vários institutos de estudos superiores criados pelo governo, como a Real Academia Militar, o
Laboratório Químico-prático, a Academia Médico-Cirúrgica, o Arquivo Militar e a Academia
Real dos Guarda-Marinhas. Essas organizações estabeleciam em seus estatutos a criação
de bibliotecas (Moraes, 1979).
Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criação de agências de
fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do conhecimento no
Brasil expandiu-se consideravelmente, não só pela produção dos brasileiros, mas também
pela compra de coleções para atender a essas novas organizações. Contudo, o número de
bibliotecas ainda é insuficiente para atender toda a sociedade.
O país não conta com estatísticas sobre os diferentes tipos de bibliotecas existentes,
mas é possível calcular o número de bibliotecas em instituições de nível superior, uma vez
que a autorização para o funcionamento destas depende exatamente da existência de
bibliotecas. Considerando-se o número de universidades federais existentes no país, estima-
se que o número de bibliotecas universitárias esteja em torno de 62. O Anexo A elenca
instituições universitárias federais e estaduais que, portanto, oferecem serviços
bibliotecários.
2.3 Conceituações
As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas são
oriundos da Ciência da Informação, em função de orientações comuns na resolução de
problemas. Assim, a biblioteca é uma coleção de documentos bibliográficos (livros,
periódicos etc.) e não bibliográficos (gravuras, mapas, filmes, discos etc.) organizada e
administrada para formação, consulta e recreação de todo o público ou de determinadas
categorias de usuários.
A biblioteca ou outra unidade de informação, aqui entendida como uma unidade que
trata de informação, desde a organização até sua difusão (base de dados, serviço de
informação especializada, centro de informação, telecentro, videotecas, mapotecas etc.),
pressupõe atividades bem características, por trabalhar a informação. Isso faz com que esse
tipo de instituição ou serviço ofereça serviços e produtos particularizados.
É importante salientar que os esclarecimentos aqui fornecidos sobre
bibliotecas/unidades de informação são gerais e presumem metodologias que podem ser
utilizadas tanto em bibliotecas tradicionais quanto em unidades de informações eletrônicas,
como as bibliotecas virtuais.
A biblioteca como uma organização pressupõe três grandes funções:
1) Função gerencial - administração e organização.
2) Função organizadora - seleção, aquisição, catalogação, classificação, indexação.
3) Função divulgação - referência, empréstimo, orientação, reprografia, serviços de
disseminação, extensão.
A função gerencial pressupõe gestão e políticas para a biblioteca/unidade de
informação para buscar o seu melhor desempenho. Conforme Guinchat e Menou (1994), a
gestão é o processo que dirige as competências e a energia dos indivíduos com a finalidade
de atingir um determinado objetivo. Motta (1997) sugere que uma boa gestão não se limita
ao domínio de técnicas administrativas, uma vez que a capacidade gerencial demanda
outras habilidades mais complexas: capacidades analíticas, de julgamento, de decisão e
liderança e de enfrentar riscos e incertezas. É também um conjunto de técnicas que
permitem tomar decisões racionais e colocá-Ias em prática para que todos os recursos do
organismo sejam empregados da melhor forma possível, visando a sua eficácia. Ainda
segundo os autores, as políticas são princípios gerais que ajudam a traduzir os objetivos em
ações, para preparar as regras de conduta que serão adotadas no momento da tomada de
decisões e da execução das atividades. Visto dessa maneira, toda biblioteca deve ter uma
gestão e políticas específicas nos seguintes aspectos: organização dos serviços, pessoal,
equipamento, recursos financeiros, serviços aos usuários, produção, interação com os
usuários e com a instituição a que está subordinada, intercâmbio com outros organismos e
outras unidades de informação (Guinchat; Menou, 1994).
A função organizadora aglutina atividades muito especializadas do profissional de
informação: selecionar materiais para aquisição, catalogar, classificar e indexar aqueles
materiais.
Antes de oferecer uma visão dessas atividades, torna-se necessário um entendimento
da representação dos documentos, feito em dois níveis. O primeiro é sobre a representação
física do documento, como a catalogação, e o segundo é sobre sua forma temática. A
representação temática inclui os processos de indexação e classificação, ou seja, diz
respeito ao(s) assunto(s) do documento.
Seleção e Aquisição - a seleção é uma atividade intelectual importante que deve ser
realizada com o responsável pelo tema tratado, com a participação dos usuários. Tanto a
seleção quanto a aquisição fazem parte de uma política de gestão da unidade e, por isso,
estarão condicionadas a elementos da política organizacional como: natureza dos serviços
prestados, orçamento, objetivos da unidade.
Catalogação - pode ser entendida como o trabalho de descrever a estrutura física dos
objetos ou documentos que fazem parte de um acervo ou coleção. Este trabalho pode se
desdobrar na elaboração de catálogos impressos ou on-line e ainda na chamada
catalogação na fonte, que consiste na inserção da descrição física do documento no próprio
documento. Os catálogos, por sua vez, se apresentam sob a forma de listas onde são
registrados e descritos fisicamente os documentos conservados em uma Biblioteca ou
Unidade de Informação. Geralmente são organizados alfabeticamente e apresentados em
uma ordem específica: por autor, assunto, local ou título.
A diferença básica entre catálogos impressos e catálogos on-line está no tipo de
suporte utilizado e, ainda, no processo de busca e recuperação da informação contida nos
mesmos. Os catálogos on-line oferecem várias vantagens no acesso à informação que os
impressos não têm, como a rapidez na busca, uma maior possibilidade de padronização das
informações etc.
Guinchat e Menou (1994) descrevem vários tipos de catálogos, dentre os quais,
destacam-se: catálogo dicionário, catálogos sistemático, cronológico, geográfico, topográfico
e coletivos.
Classificação ou ato de classificar pode ser entendido como um processo mental, por
meio do qual se dá a reunião de objetos em classes ou grupos que apresentam, entre si,
certos traços de semelhança ou, ainda, de diferença (Souza, 1950, p. 3). Na Biblioteconomia,
a classificação é a tarefa de descrever o conteúdo de um documento de onde é extraído o
assunto principal e, eventualmente, um ou dois assuntos secundários, os quais são
traduzidos para o termo mais apropriado da linguagem documental adotada na unidade de
informação.
A Biblioteconomia e a Ciência da Informação lidam, mais comumente, com a
classificação dos conhecimentos que estão registrados nos mais diversos suportes. Assim,
nas Bibliotecas e Unidades de informação, os documentos são classificados e agrupados
conforme os assuntos de que tratam. Para esta tarefa específica existem sistemas de
classificação bibliográfica que visam a organização de documentos, com o intuito de facilitar
o acesso dos usuários à informação contida em seus respectivos acervos.
Ao longo da história, surgiram vários modelos de sistemas de classificação. Os mais
estudados são a Classificação Decimal de Dewey - CDD, a Classificação Decimal Universal -
CDU e a Classificação Facetada de Ranganathan, entre outras. Como já foi mencionado, na
história do surgimento da CDU, as classes da Classificação Decimal de Dewey foram
utilizadas na sua construção, assim, ambas carregam a mesma filosofia. A CDU, segundo
Miranda (1996),"caracteriza-se como um instrumento de representação da informação e,
conseqüentemente, de organização do conhecimento registrado em sistemas de
recuperação da informação" (Miranda, 1996, p. 23).
Esse sistema é dividido em classes decimais, o que permite a inclusão de temas e
subtemas. As classes principais da CDU são:
0 Generalidades. Ciências e conhecimento. Organização. Informação etc.
1 Filosofia. Psicologia.
2 Religião. Teologia.
3 Ciências Sociais ... Direito. Administração etc.
4 Vaga.
5 Matemática e ciências naturais.
6 Ciências aplicadas. Medicina. Tecnologia.
7 Arte, Belas Artes. Recreação. Diversões. Esportes.
8 Linguagem. Lingüística. Literatura.
9 Geografia. Biografia. História.
Como podemos observar, a classe 0 é a mais geral das classes e é usada para
trabalhos sem uma limitação, por exemplo, enciclopédias, jornais, periódicos, e ainda para
algumas disciplinas especializadas, como Ciência da Computação, Biblioteconomia e Ciência
da Informação, Jornalismo. Tais sistemas buscam acompanhar os avanços do conhecimento
humano, contudo, as atualizações ainda são lentas.
Indexação - é uma das principais atividades desenvolvidas numa Biblioteca ou
Unidade de Informação. Consiste na descrição dos conteúdos dos documentos e possui
como principal objetivo a recuperação a informação desejada pelo usuário. Segundo
Guinchat e Menou (1994), esses conteúdos são expressos por meio de um vocabulário
oriundo da linguagem documental escolhida na unidade de informação. Essa tarefa tem
como desdobramento a construção de índices de termos, o que possibilita maior facilidade
de pesquisa ou consulta por parte do usuário.
Esta atividade era realizada essencialmente por seres humanos. No entanto com o
advento do computador, passou a ser desenvolvida por softwares capazes de reconhecer os
principais termos utilizados no corpo do documento e indexá-los, daí originou-se a chamada
Indexação automatizada.
A função divulgação é uma atividade fundamenta nas unidades de informação e, por
isso, deve ser sua principal preocupação. Ela consiste em comunicar ao usuário as
informações de que ele necessita e dependendo do procedimento, antecipar-se à pesquisa
do usuário, como, também, propor-lhe as possibilidades de acesso a estas
informações/documentos. As diferentes formas de atuação da biblioteca nesta atividade
englobam um conjunto de serviços a que se denominam Serviços de Disseminação.
Os Serviços de Disseminação em Bibliotecas e Unidades de Informação vêm ao longo
dos anos se fortalecendo, na medida em que os profissionais de Biblioteconomia e Ciência
da Informação passaram a perceber tais serviços como um elo a ser estabelecido entre os
usuários e os diversos serviços/materiais existentes e disponibilizados pela unidade de
informação. Esta ligação passou a ser fundamental para o bom desempenho das atividades
desenvolvidas em consonância com as políticas estabelecidas pela organização. Os serviços
de divulgação reúnem instrumentos como: referência, orientação ao usuário, empréstimo,
fornecimento de fotocópias e os serviços de alerta, que incluem os sumários correntes e a
disseminação seletiva da informação.
A Biblioteca é um organismo vivo a serviço da comunidade; nela, obtemos respostas
às nossas mais diversas indagações. O lugar de destaque que ela ocupa no mundo atual
decorre da importância que a informação tem para cada sociedade. Assim, a biblioteca
participa do aprimoramento intelectual, humanístico, técnico e científico de todos os
segmentos sociais.
REFERÊNCIAS
GOMES, Sonia de Conti. Bibliotecas e sociedade na Primeira República. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1983. 101 p.
MORAES, Rubens Borba. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos e Científicos, 1979. 195 p.
MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. São
Paulo: Record, 1997. 256 p.
REFERÊNCIAS
ALTBACH, Philip G. The role of journals in knowledge distribution in the Third World. New
York, 1980. (Texto mimeog.).
HERSHMAN, A The primary journal: past, present and future. J. Chem. Doc. v. 10, n. 1, p.
37-42, 1970.
7
O termo documento é usado no seu sentido mais amplo, não se restringindo apenas a textos, incluindo sons,
imagens ou quaisquer outros objetos informativos (Buckland, 1991).
um exemplo de um SRI não automatizado.
Devido às vantagens e facilidades que os SRls automatizados oferecem para busca
de informação, seu uso tem se tornado cada vez mais comum. Esses sistemas oferecem
maior número de pontos de acesso que os SRls não automatizados, podendo-se, muitas
vezes, pesquisar palavras-chave que aparecem em qualquer ponto do registro, inclusive no
resumo e no texto completo, quando estes estão disponíveis. Além disso, permitem realizar
pesquisas mais complexas, em que vários conceitos necessitam ser relacionados, pois pode-
se combinar grande número de termos de busca com lógica booleana, de maneiras que não
seriam possíveis nos SRls impressos. Permitem também fazer, rapidamente, buscas
abrangentes, cobrindo vários anos de publicações. Essas e outras facilidades representam
uma grande economia de tempo para o usuário, permitindo que uma pesquisa que poderia
tomar muitas horas de trabalho, se realizada manualmente, seja executada bem mais
rapidamente, com o uso dos computadores.
Fonte - Adaptado de LANCASTER, F. Wilfried. Information Retrieval Systems: characteristics, testing and
evaluation. 2nd. New York: Wiley Interscience, 1979.
8 São tidos como limitações desse teste (1) o fato de não ter sido considerada na avaliação da performance do
sistema a recuperação de outros documentos além do documento-fonte, fossem estes relevantes ou não; e (2)
o favorecimento de sistemas de recuperação baseados no uso de termos e não de conceitos, já que as
perguntas de busca foram derivadas dos termos utilizados nos documentos (ver Ellis, 1996).
9 No Cranfield I. foi especialmente criticado o uso de documentos-fonte tanto para derivar as perguntas como
para avaliar a efetividade da recuperação da informação, já que numa situação real o documento-fonte
geralmente não existe. Criticou-se também o fato de que a relação entre o documento-fonte e a pergunta de
busca era muito próxima (Ellis, 1996).
Foi também julgado o desempenho de cada linguagem em relação às medidas de revocação
e precisão, as quais foram criadas para uso nesse teste. A mais séria crítica à metodologia
do Cranfield II, mesmo tendo sido esta mais rigorosa que a do teste anterior, foi em relação à
obtenção dos julgamentos de relevância. Esses julgamentos representam uma área de
dificuldade, já que se constatou que podem ser influenciados por inúmeros fatores, tais
como: assunto, nível de dificuldade, estilo, ordem de apresentação do material, definição de
relevância empregada e características da pessoa que faz o julgamento (experiência,
conhecimento, inteligência, entre outros fatores).
Os testes Cranfield estabeleceram um marco na história da recuperação da
informação por terem fornecido o embasamento teórico dentro do qual a disciplina de
recuperação da informação se desenvolveu. Estabeleceram também o princípio de que a
argumentação sobre os méritos dos designs de esquemas de indexação ou classificação
para representação do conhecimento deve ter base empírica e experimental, em vez de
filosófica e especulativa, como era o caso anteriormente. Os procedimentos metodológicos
adotados nos testes Cranfield, com testes de sistemas de indexação, controlados em
laboratório usando-se coleções-teste, constituídas de um conjunto de documentos e
submetidas a perguntas de busca, e acompanhados de pressupostos relativos às
características do ambiente em que o sistema de recuperação da informação operava10
formaram uma tradição de pesquisa em design e teste de SRls.
Esses pressupostos constituem um modelo implícito de comportamento de busca de
informação que, devido a seu significado para essa tradição de pesquisa, é chamado de
modelo de recuperação da informação. Nesse modelo o usuário reconhece uma necessidade
de informação e vem ao sistema de recuperação da informação com um pedido de busca
baseado naquela necessidade. O sistema de recuperação compara o pedido do usuário com
as representações de documentos contidas no sistema. A tarefa do sistema é apresentar ao
usuário os documentos que melhor satisfazem a sua necessidade. O usuário examina as
representações dos textos apresentadas e julga a sua relevância. A intenção é que alguns ou
todos os documentos apresentados parcial ou totalmente satisfaçam a necessidade de
10
Os pressupostos dos testes Cranfield eram: (1) que a relevância é equivalente à similaridade com o tópico ou
assunto; (2) que a relevância de um documento é independente da relevância de outros; (3) que todos os
documentos relevantes são igualmente desejados; (4) que a necessidade de informação do usuário não muda;
(5) que o julgamento de relevância é binário, isto é, um documento é relevante ou não relevante; (6) um único
conjunto de julgamentos é representativo dos julgamentos de toda população de usuários e (7) a revocação é
conhecida (Ellis, 1886).
informação do usuário.
O modelo de situação de recuperação da informação implícito nos procedimentos dos
testes de Cranfield foi tacitamente aceito e empregado em pesquisas posteriores na área de
recuperação da informação. Esses testes forneceram as bases metodológicas para o
desenvolvimento da disciplina de recuperação da informação. Suas conclusões representam
os primeiros resultados científicos do campo. A abordagem para testar SRls foi empregada
como modelo para muitas outras avaliações experimentais e operacionais, criando um corpo
de trabalhos em problemas identificados dentro da estrutura teórica fornecida pelos testes.
Os resultados de pesquisas subseqüentes robusteceram as conclusões dos testes Cranfield,
reforçando o estado paradigmático do campo; além disso, serviram para orientar a
concepção dos serviços comerciais de fornecimento de bases de dados que surgiram em
seguida.
Uma continuação aprimorada da tradição de Cranfield é a iniciativa Text Retrieval
Conference (TREC), começada nos Estados Unidos, que, desde 1992, promove congressos,
estimula a pesquisa em recuperação da informação e fornece uma plataforma para que
pesquisadores testem seus sistemas e técnicas e as comparem com outros. Apesar de
existirem outras coleções-teste para recuperação da informação, TREC, contendo mais de
meio milhão de documentos, tem sido a mais usada. O tamanho da coleção-teste visa uma
aproximação maior dos testes com a realidade.
No final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, outros métodos de pesquisa para se
melhorar o desempenho dos SRls foram desenvolvidos. Ellis (1996) classifica-os nas
seguintes áreas:
• Pesquisa baseada em métodos estatísticos e probabilísticos;
• Abordagens cognitivas para a recuperação da informação, incluindo a modelagem
cognitiva do usuário;
• O desenvolvimento de sistemas especialistas intermediários como auxiliares na
recuperação da informação;
• A aplicação de conceitos e técnicas de inteligência artificial à recuperação da
informação;
• A recuperação da informação através do hipertexto.
O centro das preocupações da pesquisa estatística e probabilística é o desenvolvimento
de técnicas para indexação, classificação e elaboração automática de resumos, bem como a
busca automática. O primeiro sistema em que esse tipo de pesquisa foi testado foi o histórico
sistema SMART, de Gerard Salton. A partir dos anos 1990, essa tradição de pesquisa
passou a ser intensivamente continuada nas pesquisas para melhoria da recuperação da
informação da Internet, através dos mecanismos de busca. Já os anos 70 e 80 se
caracterizaram por uma mudança de ênfase, em que o interesse de pesquisa se dirigiu mais
para modelos cognitivos de modelagem dos usuários, nos quais os SRls pudessem se
basear, e no desenvolvimento de sistemas especialistas que intermediassem a busca. Um
dos mais conhecidos exemplos de proposta de sistema baseado em modelo cognitivo do
usuário é o Estado Anômalo de Conhecimento (em inglês, Anomalous States of Knowledge -
ASK), de Nicholas J. Belkin. Essa abordagem é criticada por ter gerado sistemas que não
foram além do estágio de protótipos, não chegando a se tornar operacionais ou comerciais.
Nesse mesmo período, vários sistemas especialistas foram criados para recuperação da
informação, embora tenham tido sucesso limitado, como, por exemplo, o CANSEARCH, para
a busca da literatura na área de câncer. Além dos sistemas especialistas, outras técnicas da
inteligência artificial como processamento da linguagem natural, redes semânticas e redes
neurais, têm sido exploradas na tentativa de aprimorar a recuperação da informação.
Cerca de 30% de toda a literatura publicada na Ciência da Informação se dá na área de
recuperação da informação (Jarvelin; Vakkari, 1993).
Enquanto, desde o final dos anos 1950, eram lançadas as bases para a pesquisa em
avaliação de SRls, as técnicas de armazenagem e recuperação de dados bibliográficos em
sistemas de computadores foram desenvolvidas durante os anos 1960.
Por volta de 1969, vários produtores de bases de dados criaram fitas magnéticas
contendo dados bibliográficos como produtos secundários na produção dos seus periódicos
de indexação e resumos. Muitas dessas fitas magnéticas eram adquiridas por grandes
organizações, como Shell Research Ltd. e ICI, e usadas em serviços internos de
disseminação seletiva de informação (DSI) ou buscas retrospectivas, que eram, naqueles
dias, feitos no modo off-line ou batch. Esse tipo de busca era alimentado no computador
através de conjuntos de cartões (batch) para processamento, junto com outras buscas que
se acumulavam. O resultado era impresso. Costumava haver demora da ordem de dias ou
semanas entre o recebimento do pedido de busca e o envio do resultado e não era possível
interação entre o usuário e o sistema. Os softwares usados para as buscas eram, em geral,
desenvolvidos internamente.
Embora predominassem naquela época os sistemas off-line, já no final dos anos 1950
e no início dos anos 1960 começam também os primeiros experimentos com sistemas on-
line de recuperação da informação. Lilley e Trice mencionam exemplos desses sistemas:
SAGE11 (1952-1957), na área de defesa aérea, SABRE12 (1962), para reservas de
companhias aéreas, e TlP13 (1964), um sistema desenvolvido no MIT para buscas
bibliográficas em uma coleção de 35 mil citações, na literatura de física. Nessa época, outras
organizações nos Estados Unidos começaram a se envolver na área de busca em bases de
dados. Em 1964, a lockheed Missiles Corporation demonstrou um sistema on-line, conhecido
como CONVERSE, para buscas na base de dados de sua biblioteca. Em 1965, a empresa
System Development Corporation (SDC), num projeto financiado pelo Advanced Research
Projects Agency (ARPA), do U.S. Department of Defense, se envolveu no desenvolvimento
de um sistema que permitiu a 13 organizações privadas e governamentais acessarem, via
telefone, um arquivo de 200 mil registros bibliográficos sobre tecnologia estrangeira. O
software para esse sistema se chamou ORBIT (Online Retrieval of Bibliographic Information
Time Shared). Também em 1965, a lockheed desenvolveu um outro software para ser
utilizado em uma coleção de cerca de 200 mil documentos da U.S. National Aeronautics and
Space Administration (NASA). Este software, conhecido como RECON (Remote Console), foi
baseado no próprio software de lockheed, que foi, então, renomeado DIALOG. A IBM
começou a se envolver nessa área e, por volta de 1966, iniciou o desenvolvimento de um
sistema de recuperação bibliográfica que deu origem ao seu sistema STAIRS (Storage and
Information Retrieval System).
Também nos anos 1960 surgiram os projetos cooperativos entre bibliotecas para
aquisição de documentos, compartilhamento de dados, desenvolvimento de padrões
comuns, catalogação cooperativa e comutação bibliográfica entre bibliotecas e centros de
informação. Esses projetos, com a adoção de métodos computadorizados nos anos 1970 e
1980, passaram a se responsabilizar pela criação e manutenção de grandes bases de dados
bibliográficos para apoio às atividades de processamento técnico e administração de
bibliotecas, mas que também podem ser pesquisadas pelo usuário final. A Ohio College
11
Semi-Automatic Ground Environmnt System.
12
Semi-Automated Booking and Reservation Enviroment.
13
Technical Information Project.
Library Center (OClC), criada em 1967, foi a primeira dessas redes de catalogação
cooperativa. As bases de dados geradas por essas redes, contendo registros no padrão
MARC (Machine Readable Cataloging), inicialmente eram oferecidas apenas off-line para
produção de fichas catalográficas pelas bibliotecas-membro. A partir da década de 1970, as
bases passaram a ser oferecidas também on-line, permitindo a busca e a modificação de
registros interativamente.
Os anos 1970 se caracterizam pela consolidação da recuperação interativa on-line e
dos serviços comerciais dos distribuidores de bases de dados que haviam sido
desenvolvidos na década anterior. Por volta de 1969, alguns desses sistemas experimentais
já estavam se tornando operacionais. O Space Documentation Centre, do European Space
Agency (ESA), adquiriu o RECON da NASA e começou a oferecer um serviço de
informações on-line, cobrindo várias bases de dados e servindo a 10 terminais em sete
países europeus. Na National Library of Medicine, a Abridged Index Medicus fornecia acesso
via SDC e rede de telefone a 100 revistas em medicina clínica. O sistema foi bem recebido
por bibliotecários da área médica e, em seis meses, cerca de 90 instituições passaram a
utilizá-la. Em 1971, o completo sistema MEDlARS on-line, ou serviço Medline, tornou-se
operacional. Tal serviço usou o software ElHllL (Lister Hill National Centrefor Biomedical
Communications), baseado no software ORBIT, do SDC. Em 1971 e 1972, os serviços on-
line começaram a ampliar o acesso aos seus sistemas.
O número de bases de dados existentes, inicialmente bastante restrito, cresceu
rapidamente. Para exemplificar, em 1972 havia apenas seis bases bibliográficas disponíveis
para o público; em 1992 havia quase 5.300, desenvolvidas por 2.158 produtores (Lancaster
et aI., 1993, p. 27). Essas bases de dados precisavam ser disponibilizadas para bibliotecas e
serviços de informação, através de distribuidores. Visando suprir essa demanda, três
principais serviços de comercialização e distribuição de bases de dados surgiram: DIALOG,
oferecido pela empresa Lockheed, ORBIT, oferecido pela System Development Corporation,
e BRS-SEARCH, oferecido pelo Bibliographical Retrieval Services. Para exempiificar, o
sistema DIALOG, da Lockheed, começou como um serviço comercial de busca em 1972 com
bases de dados do U.S. Office of Education (ERIC), U.S. National Technical Information
Service (NTIS) e o National Agricultural Library (AGRICOLA). O número de distribuidores
também se desenvolveu. Enquanto em 1978 havia apenas oito distribuidores comerciais nos
Estados Unidos, Hartley et al. (1990, p. 35) reportam quase 600 no final de 1988. Todos
esses desenvolvimentos resultaram na formação de uma grande indústria de distribuição de
SRls, a chamada indústria on-line, constituída por produtores, distribuidores e usuários de
bases de dados. Outras evoluções em sistemas de processamento on-line, software de
busca e capacidade de armazenamento de dados, bem como a existência de pessoas que
pudessem utilizar a tecnologia, fizeram com que a indústria on-line florescesse. Um outro
impulso ao uso mundial desses serviços on-line durante a década de 1970 veio com os
avanços nas telecomunicações e o estabelecimento de redes de comutação de pacotes
como TYMNET e TELENET, nos Estados Unidos. Os nós dessas redes apareceram na
Europa por volta de 1974 e, depois, no restante do mundo. Assim, no início da década de
1980, centenas de bases de dados bibliográficos estavam disponíveis on-line através de
serviços de distribuição de bases de dados, como o DIALOG, BRS, British Library Automated
Information Service (BLAISE), ESA e ORBIT.
No Brasil, os sistemas on-line começam a operar no final da década de 1970, com
acesso através de terminais de vídeo, telex ou microcomputadores, utilizando redes de telex
ou telefonia internacional. Com o desenvolvimento da INTERDATA, rede de comunicação de
pacotes da Embratel, esta passou a ser utilizada. O IBICT foi uma das primeiras instituições
brasileiras a utilizar o acesso on-line a bases de dados, tendo iniciado esse serviço no final
de 1977 em um Centro-Piloto, que tinha por objetivo avaliar as bases de dados para
selecioná-Ias e formar recursos humanos na área de pesquisa de bases de dados.
Inicialmente, utilizava o ORBIT e, depois, o DIALOG e o QUESTEL.
Os anos 1980 se caracterizam pela diversificação não só das bases de dados e
serviços de distribuidores, como também das tecnologias. Surgem os microcomputadores, os
CD-ROMs e Video-Discs como novas formas de armazenamento e distribuição de bases de
dados. Aparecem novos tipos de bases de dados, sistemas especialistas e front-ends para
os serviços de acesso às bases de dados. Essa época também se caracteriza pelo
desenvolvimento de catálogos on-line nas bibliotecas, um outro tipo importante de bases de
dados que veio se somar àquelas existentes. Esses catálogos contêm referências
bibliográficas de obras inteiras, como livros, anais de congressos ou periódicos e dessa
forma se diferenciam de outras bases bibliográficas referenciais que fornecem,
principalmente, referências bibliográficas dos capítulos de livros, trabalhos publicados em
anais de congressos ou artigos publicados em periódicos e que são versões eletrônicas de
índices de citação e resumo.
Nos anos 1990, as bases de dados se disseminaram de forma mais ampla.
Inicialmente, a divulgação da tecnologia do CD-ROM permitiu a dilatação do seu acesso por
instituições de países do Terceiro Mundo, ao evitarem os custos de telecomunicações. O
crescimento e a expansão da Internet e das publicações eletrônicas possibilitou novas
formas de acesso às bases e também o surgimento de outros tipos de SRls, como as
bibliotecas digitais, acessíveis via Internet, onde o usuário pode acessar o texto completo dos
documentos, e os mecanismos de busca da própria Internet. A Web, em si, pode ser vista
como um gigantesco SRI.
O início do século XXI é marcado pela explosão dos conteúdos em forma eletrônica.
Lyman e Varian (2003), em seu estudo "How much information", estimaram que no ano de
2002 foram produzidos cinco exabytes de informação14 das quais 92% estão armazenados
em forma eletrônica em meio magnético, ou seja, nos discos rígidos de computadores. Essa
explosão e variedade de formas em que a informação é oferecida faz com que o cenário
descrito seja uma simplificação da realidade da indústria on-line, volátil e em constante
mudança. Hoje o ambiente informacional é complexo, a fronteira entre os papéis das
diversas organizações e o tipo de informação que cada uma fornece já não são claros e
existem muitos tipos de bases de dados e empresas nesta arena.
A indústria on-line, no presente momento, tem sido marcada por joint ventures, fusões
e aquisições que resultam no surgimento de gigantes da informação, megaempresas que
atuam no ramo da informação. Em 2002, aproximadamente 2/3 das empresas de informação
fizeram associações estratégicas, 84% criaram novos produtos e serviços e quase todas
adicionaram novos conteúdos aos já oferecidos, tornando-se retrospectivas. Para
exemplificar, o American Periodical Series do ProQuest fornece hoje acesso a mais de 1.100
periódicos que começaram a ser publicados entre 1741 e 1900. A grande maioria dos
distribuidores de informação, hoje, cria o seu próprio conteúdo e tem as bibliotecas,
principalmente as universitárias, como o seu principal mercado. Tornou-se também comum
que eles façam ofertas especiais para fornecimento de seus recursos informacionais a
consórcios de instituições, como é o caso dos distribuidores de informação que têm contratos
com o Portal Capes. Com os novos desenvolvimentos tecnológicos que permitem a criação
de links entre as citações bibliográficas das bases de dados e o fornecedor de texto
completo, uma nova tendência é de que as bases bibliográficas, e mesmo catálogos de
bibliotecas que não fornecem links para o texto completo, deixem de existir. Outra tendência
é que os sistemas de busca tenham interfaces dirigidas ao usuário final e o aparecimento de
14
Quantidade de informação equivalente a 37 mil bibliotecas do Congresso.
serviços direcionados para esse usuário. (Tenopir et al, 2003)
Basicamente, existem duas formas de acesso aos SRls: remotamente, via redes de
comunicação de dados, ou localmente.
O termo on-line é usado, na literatura de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
para designar uma forma de acesso remoto aos SRls, via outras redes que não a Internet.
Nos sistemas on-line, que já existiam antes de a Internet ter se disseminado, um computador
de um centro de informações é usado para entrar diretamente em contato com o computador
hospedeiro das bases de dados. O termo on-line significa que tanto o computador do usuário
quanto o computador hospedeiro estão se comunicando no momento da busca. Embora
esses sistemas on-line já estivessem disponíveis desde o final dos anos 1960 e começo da
década de 1970, o seu uso não era disseminado em bibliotecas devido aos custos para
acessá-los através de ligações interurbanas ou internacionais. O surgimento das redes de
comutação de pacotes teve grande impacto sobre esse uso ao baixar substancialmente
esses custos. Esse tipo de rede é ativado pelo usuário apenas quando uma mensagem está
sendo enviada, não necessitando uma conexão permanente durante todo o curso da
comunicação. Foi após o aparecimento dessas redes que o mercado da recuperação on-line
se expandiu. Exemplos de redes de comutação de pacotes são a RENPAC e INTERDATA,
do Brasil, e TYMNET ou TELENET, dos Estados Unidos. O acesso on-line é a forma mais
rápida e eficaz de acesso às bases de dados. Nas bases on-line, as informações são
atualizadas mais freqüentemente que nas versões impressas ou em CD-ROM, garantindo o
acesso a informações mais recentes.
Entretanto, existem algumas desvantagens relacionadas ao acesso on-line. Além dos
custos de acesso, que, mesmo com as redes de comutação de pacotes, ainda são altos para
países como o Brasil. outro problema é a variedade dos sistemas, pois Os detalhes técnicos
de utilização e pesquisa nas bases de dados variam de distribuidor para distribuidor. Por
serem destinados a profissionais da informação, o uso dos sistemas pode ser complexo,
exigindo treinamento e experiência. Em geral, os usuários finais têm dificuldade em lidar com
eles. Além disso, a constante evolução da tecnologia de busca torna necessário que o
profissional da informação se atualize constantemente, estudando a documentação tanto do
sistema de cada fornecedor quanto da base de dados.
No final da década de 1990, os distribuidores de bases de dados começaram a utilizar
também a Internet para oferecer outra forma de acesso remoto às bases. O acesso via
Internet é similar ao on-line, mas, nesse caso, a rede utilizada para acesso é, obviamente, a
Internet, e o custo de telecomunicações é menor. Como no caso dos sistemas on-line, uma
vez acessado o sítio do fornecedor, é necessário o uso de senhas para o acesso e a
pesquisa. Entretanto, o usuário pode usufruir de alguns serviços grátis no site do distribuidor,
mesmo que não seja assinante.
O fornecimento de acesso às bases dos grandes serviços de distribuição de bases de
dados via Internet ainda é uma novidade em experimentação e, para o profissional da
informação, apresenta várias desvantagens. Ao contrário da conexão direta on-line, o acesso
através da Internet pode ser demorado, dependendo do tráfego na rede e do horário de
acesso. Normalmente os fornecedores disponibilizam um leque menor de bases de dados do
que o oferecido pelo acesso direto on-line. Além disso, a interface de pesquisa e o software
para busca geralmente fornecem recursos menos sofisticados que os dos sistemas on-line.
Entretanto, para os usuários brasileiros, essa nova opção de acesso remoto elimina um fator
limitante, que é o custo de comunicações.
Além do acesso remoto, existe a opção de acesso local aos SRls. Muitas das bases estão
atualmente disponíveis em CD-ROMs. Alguns exemplos dos produtores/distribuidores de
bases de dados em CD-ROM são University Microfilms International (UMI), OClC e
SilverPlatter. O CD-ROM tem a vantagem de oferecer um custo fixo por uso ilimitado e
eliminar as dificuldades relacionadas com o acesso remoto, por isso, é um meio de acesso
que tem tido grande penetração em países do Terceiro Mundo. Outra vantagem é a
simplicidade de sua interface de pesquisa, que visa o usuário final e elimina a necessidade
da presença de um intermediário que conheça o sistema. Entretanto, da mesma forma que
nos sistemas on-line, existe no caso dos CD-ROMs uma variedade de sistemas com
detalhes técnicos de utilização diferentes, o que representa um obstáculo para o usuário.
Outras desvantagens dos CD-ROMs em relação aos sistemas on-line são o menor número
de bases disponíveis nesse formato, informações atualizadas com menor freqüência que nas
bases on-line e recursos de busca menos flexíveis que nos sistemas voltados para o
profissional.
Alguns vendedores de bases de dados, como Ovid Technologies Inc. ou H. W. Wilson
Company, podem fornecer também fitas magnéticas com o conteúdo das bases de dados
para que sejam montadas localmente. Esse tipo de instalação exige grande capacidade de
armazenagem dos computadores. As bases de dados são adquiridas, processadas,
carregadas no sistema e disponibilizadas para toda a instituição, geralmente mediante senha
de acesso. Normalmente, são montadas junto com o catálogo on-line da biblioteca, como
bases de dados adicionais. No Brasil, esse método é pouco usado, pois apenas
recentemente sistemas mais sofisticados para automação de catálogos de bibliotecas têm
sido implantados.
Uma rede pode ser definida como "um conjunto de sistemas de informação e/ou
comunicação - descentralizados, intercomunicantes, formados por unidades funcionais
independentes, com serviços e funções inter-relacionados - cuja interação é presidida por
acordos de cooperação e adoção de normas comuns" (Vieira, 1994, p. 29). Em uma
definição menos restritiva, que será aqui adotada, Becker e OIsen (1968) consideram que
uma rede é uma interconexão de COisas, sistemas ou organizações e que, em uma rede de
informação, mais de dois participantes trocam informações para algum propósito funcional.
Uma característica das redes é a existência de uma organização formal e de propósitos
comuns de troca de informações.
Lilley e Trice (1989, p. 105) notam que a distinção entre redes e sistemas de
informação, às vezes, pode ser pouco nítida: de acordo com algumas definições, as bases
de dados MEDLlNE, AGRICOLA e ERIC seriam consideradas sistemas de informações,
mas, se esses sistemas estiverem organizados e servindo seus usuários on-line dentro de
certos padrões, serão considerados redes.
Há uma interminável discussão teórica dos termos redes e sistemas, muitas vezes
confundidos e utilizados como sinônimos, o que revela ser o trabalho em rede passível
de se constituir em sistema e vice-versa, ou melhor, essas formas de atuação não são
excludentes. (Pinheiro, 1990)
As redes normalmente são descritas através de sua classificação por categorias. Um
amplo sistema de classificação é fornecido por Becker em 1978, em um documento sobre
administração e estrutura de redes. Segundo ele, as redes podem ser categorizadas de
acordo com:
• Os sinais que enviam (digital ou analógica);
• Sua estrutura ou topologia lógica (centralizada ou tipo estrela, descentralizada ou
hierárquica);
• Seu foco institucional (rede de bibliotecas universitárias, públicas, de órgãos de apoio
à indústria);
• Sua funcionalidade (rede de catalogação, de comutação bibliográfica, de informações
referenciais);
• O assunto tratado (rede de informação para negócios, rede de informação agrícola);
• A área abrangida (estadual, regional, interestadual, nacional, internacional).
Quanto à sua funcionalidade, as redes são utilizadas para cooperação,
compartilhamento, intercâmbio e acesso remoto a informação, documentos ou recursos
computacionais. Através da participação em uma rede de serviços de informações, o usuário
pode obter o benefício do acesso socializado a uma variedade de recursos informacionais,
além de outros, como aproximação com os pares; já as instituições mantenedoras das redes
têm o benefício de racionalizar os gastos com infra-estrutura e acervo, evitando duplicação
de esforços.
Dentro desses objetivos funcionais, na área de Biblioteconomia e Ciência da
Informação os tipos mais comuns de rede são:
• Redes de serviços e de apoio institucional, que visam o compartilhamento de
dados, o desenvolvimento de padrões comuns e a comutação bibliográfica entre
bibliotecas e centros de informação. Aqui se incluem dois outros subtipos de redes, as
redes de catalogação cooperativa e as redes de comutação bibliográfica e envio de
documentos. Os participantes são, em geral, bibliotecas e centros de informação, que
as utilizam, por exemplo, para verificação de dados bibliográficos, serviços de
comutação bibliográfica, catalogação por cópia e aquisição. Redes desse tipo têm, no
seu centro, grandes bases de dados de registros catalográficos MAR C, criados e
compartilhados por várias bibliotecas associadas. Exemplos dessas redes são o
Bibliodata e OClC (redes de catalogação) e o Programa de Comutação Bibliográfica
(COMUT). Hoje essas redes têm assumido papéis semelhantes aos dos distribuidores
de bases de dados, fornecendo softwares de busca poderosos, produzindo CD-ROMs
e, mesmo, provendo acesso a bases de outros produtores, como é o caso da OClC.
• Redes de serviços de busca e recuperação da informação, que visam principalmente
a identificação e o compartilhamento de recursos informacionais. Elas podem, por sua
vez, se subdividir em outros tipos:
Um modelo genérico de funcionamento para esse tipo de rede prevê que os países ou
unidades membros da rede são responsáveis pela produção bibliográfica referente às suas
produções na área. Essas informações são coletadas por um centro regional que as envia ao
centro geral da rede, onde os dados são revisados e controlados para alimentar uma base
cooperativa de dados.
Essas redes geralmente cobrem campos de conhecimento científico e tecnológico.
Dentre elas se destacam aquelas desenvolvidas sob a coordenação e o apoio de
organizações das Nações Unidas e estabelecidas com base na cooperação internacional.
Citam-se como exemplos: o Sistema Internacional de Informação Nuclear (INIS), coordenado
pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e operante desde 1970; o AGRIS,
Sistema Internacional de Informação em Ciências e Tecnologia Agrícolas, coordenado pela
Food and Agriculture Organization (FAO); e o International Patent Documentation
(INPADOC), coordenado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).
Muitas dessas iniciativas nasceram dentro do UNISIST (sigla que significava
Universallnformation System for Science and Technology), um programa intergovernamental
da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
concebido no final dos anos 1960 e lançado no início da década de 1970, para cooperação
no campo da informação científica e tecnológica. O objetivo era estimular a criação de
sistemas nacionais especializados (agricultura, energia etc.) integrados a uma política
nacional de informação, compatíveis entre si e que permitissem a criação de sistemas
internacionais cooperativos.
Fora do âmbito das Nações Unidas, cita-se como exemplo de rede cooperativa o
Medical literature Analysis and Retrieval System (MEDLARS), da National Library of Medicine
dos Estados Unidos, que se estendeu ao mundo todo.
A seguir estão descritos alguns dos mais importantes exemplos dos sistemas e redes
de informação existentes no Brasil, com os recursos informacionais que fornecem.
É uma rede cooperativa de bibliotecas brasileiras que têm seus acervos representados
no Catálogo Coletivo Bibliodata, realizam a catalogação cooperativa e compartilham produtos
e serviços, visando a redução de custos, além de promover a difusão dos acervos
bibliográficos de suas instituições.
Destacando-se a base do Catálogo Coletivo Bibliodata, Iistam-se os principais
produtos oferecidos:
• base de dados Catálogo Coletivo da Rede Bibliodata;
• base de dados Catálogo de Autoridades (Nomes e Assuntos);
• CD-ROM para catalogação cooperativa;
• CatBib - Editor MAR C e gerador de produtos bibliográficos;
• documentação (manuais para uso dos sistemas: Rede Bibliodata; Autoridades,
CatBib, CD-ROM para Catalogação Cooperativa);
• fichas catalográficas e etiquetas;
• "Livro de Registro" de acervos locais.
4.8.1.2 COMUT
4.8.1.3 CNN
Algumas das áreas que se evidenciaram no controle bibliográfico desde os anos 1970,
se caracterizaram pela formação de redes nacionais cooperativas e pela participação em
redes internacionais, que forneceram apoio financeiro e técnico. A seguir, serão descritos
alguns dos principais exemplos, no Brasil.
Uma dessas áreas com posição privilegiada é a de informação em saúde, devido,
principalmente, às ações do Centro Latino Americano e do Caribe para Informação em
Ciências da Saúde (BIREME) e das bibliotecas da Universidade de São Paulo (USP). A
BIREME, ligada à Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), produz a base de dados
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), que cobre a
literatura médica da região a partir de 1982. Os dados que compõem a LILACS são resultado
de uma ação cooperativa de 23 países da América Latina e do Caribe, unidos em uma rede
da qual a BIREME é o órgão central. A base contém artigos de cerca de 670 revistas entre
as mais conceituadas da área da saúde e outros documentos, tais como teses, capítulos de
teses, livros, capítulos de livros, anais de congressos ou conferências, relatórios técnico-
científicos e publicações governamentais, atingindo mais de 350 mil registros. Como suporte
aos seus sistemas, a BIREME produz, também, o Tesaurus Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS). Fornecido em forma de base de dados, o DeCS contém o vocabulário
controlado utilizado para a indexação e recuperação de informação nas bases de dados
LILACS e MEDLlNE®.
Entre 1998 e 2001 a BIREME implementou a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
visualizada como a base distribuída do conhecimento científico e técnico em saúde
registrado, organizado e armazenado em formato eletrônico nos países da América Latina e
do Caribe. Através do site da BVS, usuários de diferentes níveis e localização podem
navegar no espaço de uma ou várias fontes de informação, independentemente de sua
localização física. As fontes de informação são geradas, atualizadas, armazenadas e
operadas na Internet por produtores, integradores e intermediários, de modo descentralizado
e obedecendo a metodologias comuns para sua integração na BVS. Entre as fontes de
informação disponibilizadas, além da L1LACS, estão as bases MEDLlNE, Literatura em
Engenharia Sanitária e Ciências do Ambiente (REPIDISCA). Administração em Serviços de
Saúde (ADSAUDE), Saúde na Adolescência (ADOLEC). Bibliografia Brasileira de
Odontologia (BBO).
Juntamente com a BIREME, o Centro de Informações Nucleares/ Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CIN/CNEN) foi um dos pioneiros na participação em redes cooperativas,
nacionais e internacionais, e na absorção de tecnologia para produção de bases de dados no
Brasil. Atualmente, a CNEN, através do CIN, incorpora a literatura brasileira à base de dados
internacional ENERGY, que abrange todas as tecnologias de energia. Essa cooperação se
dá através da participação do CNEN no Energy Technology Data Exchange (ETDE). Os
demais países que participam do ETDE incluindo sua literatura nacional na base Energy são
Alemanha, Canadá, Coréia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França,
Holanda, Inglaterra, Itália, México, Noruega, Suécia e Suíça.
Outro setor que se destacou desde os anos da década de 1970 foi o de informação
agrícola. A Bibliografia Brasileira de Agricultura, publicada pelo IBICT até 1978 e,
posteriormente, pela Biblioteca Nacional de Agricultura (BINAGRI), é publicada hoje em
forma eletrônica, através da base de dados Agrobase (Base Bibliográfica da Agricultura
Brasileira). Essa base é, atualmente, gerenciada pela Coordenação de Informação
Documental Agrícola (CENAGRI), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Cobre a literatura agrícola brasileira, técnico-científica e de extensão rural,
desde 1870 até o momento, contendo quase 200 mil referências bibliográficas. Seus dados
são usados para alimentar a base internacional AGRIS, mantida pela FAO, que reúne a
literatura dos países-membro nas ciências agrárias. Outro órgão atuante na área de
informação agrícola desde os anos da década de 1970 é a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), que produz o CD-ROM Bases de dados de pesquisa
agropecuária. O CD-ROM tem por objetivo a disseminação da informação agrícola,
produzida e colecionada pelas unidades de pesquisa da Embrapa e por outras instituições
agrícolas brasileiras.
Também dentro do modelo cooperativo, uma área que recentemente adquiriu novo
ímpeto foi a de informação desportiva. Criado em 1985, o Sistema Brasileiro de
Documentação e Informação Desportiva (SIBRADID) controla a produção nacional em
ciências do esporte, através de uma rede cooperativa. A rede funciona com uma unidade
central (sediada na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da
UFMG) e Instituições de Ensino Superior (IES) e de Pesquisa colaboradoras. A sua base de
dados (SIBRA), pesquisável via Internet, cobre a literatura em ciências do esporte, educação
física, fisioterapia, terapia ocupacional, lazer, recreação e afins. Contém o registro da
produção científica nacional (monografias, artigos de periódicos, capítulos de livros, anais de
congressos, dissertações e teses), inclusive traduções, a partir de 1985. A produção
científica dos demais países de língua portuguesa é alvo, também, do conteúdo da base, que
inclui dissertações, teses, relatórios de pesquisa, relatórios técnicos, livros, capítulos de livros
e artigos de periódicos.
Outro setor que recentemente recebeu impulso foi o de controle de teses. O IBICT
coordena o projeto da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), que busca integrar
os sistemas de informação de teses e dissertações existentes nas IES brasileiras, como
também estimular o registro e a publicação de teses e dissertações em meio eletrônico. Esse
sistema cooperativo integra, em uma única base de dados, referências bibliográficas
provenientes de 17 instituições de ensino superior. Sua base conta, no presente momento,
com cerca de 121.000 registros. Embora seja uma iniciativa importante, esse sistema tem
sua abrangência limitada. Não só há restrições quanto à cobertura das teses (que incluem
apenas aquelas produzidas por brasileiros), como as informações registradas referem-se tão-
somente à descrição bibliográfica do documento. Um grupo de especialistas está trabalhando
na viabilização da colocação dos documentos em texto completo no sistema. Com isso, o
usuário final. ao acessar a BDTD, poderá realizar, de forma unificada, buscas a informações
de teses e dissertações existentes nas diversas instituições consorciadas. Existindo cópias
em meio eletrônico dos textos integrais desses documentos, estas poderão ser acessadas a
partir de ponteiros de hipertexto que irão recuperá-Ias no servidor da instituição provedora da
informação. No caso da inexistência de versão eletrônica do documento desejado, o usuário
poderá solicitar cópia do mesmo por meio dos serviços de comutação bibliográfica, como o
COMUT. Em particular, o IBICT está promovendo a integração do Consórcio Brasileiro de
Teses e Dissertações à Networked Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD), uma
iniciativa internacional que disponibiliza textos completos e teses e dissertações publicadas
em instituições distribuídas em vários países. Dessa forma, a produção nacional de teses e
dissertações será também disponibilizada internacionalmente.
A Bibliografia Brasileira de Comunicação é publicada desde 1977 pela Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM). A INTERCOM,
juntamente com a Rede de Informação em Comunicação dos Países de Língua Portuguesa
(PORTCOM), produz também a base de dados PORTOA, publicada em CD-ROM. Os dados
dessa base são resultado da colaboração entre (1) o Serviço de Biblioteca e Documentação
da Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP), responsável pelo registro de monografias
que tenham sido enviadas à PORTCOM/INTERCOM ou adquiridas pela própria ECA/USP e
por toda a produção acadêmica gerada pelos cursos de graduação e pós-graduação nas
áreas de jornalismo, editoração, publicidade, propaganda, relações públicas, rádio, cinema e
TV da ECNUSP); e (2) o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), responsável pela coleta e registro das dissertações e teses defendidas de
1992 a 1999 nos programas brasileiros de pós-graduação na área de Comunicação, que são
os das seguintes instituições: Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (FCSCL),
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCIRS), Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP), Universidade Federal da Bahia (UFBA). Universidade
Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). UFRGS,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP). Universidade de Brasília (UnB), Universidade de Campinas (UNICAMP),
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e USP. Em 2002, em comemoração aos
25 anos da INTERCOM, é inaugurado o Portal de Ciências da Comunicação.
A informação jurídica é uma das poucas áreas que alcançou o estágio comercial, não
mais se limitando a iniciativas governamentais para seu controle e acesso. Um dos motivos
que podem ter levado a essa situação privilegiada é a peculiaridade desse tipo de
informação, mais dependente de fontes nacionais que as informações científicas e
tecnológicas. Dentro da política de descentralização do IBICT em 1986, a Biblioteca do
Senado, em parceria com o Centro de Informática de Processamento de Dados do Senado
Federal (PRODASEN), assumiu a responsabilidade pela edição regular da Bibliografia
Brasileira de Direito, editada anteriormente pelo IBICT Fornecida em forma impressa, on-line
e CD-ROM, a Bibliografia Brasileira de Direito compõe-se de referências bibliográficas de
monografias e artigos de periódicos, em português ou outros idiomas, editados no Brasil
desde 1980, e de artigos de jornais publicados no Caderno Direito e Justiça do Correio
Brasiliense, desde 1992. É alimentada pela Biblioteca do Senado Federal e por 15 bibliotecas
do Distrito Federal que integram a Rede Virtual de Bibliotecas - Congresso Nacional (RVBI),
antiga Rede SABI (Subsistema de Administração de Bibliotecas, iniciada em 1972).
A Rede SABI era um dos componentes do Sistema de Informação do Congresso
Nacional (SICON). O SICON se fundamenta na alimentação, processamento e manutenção
de bases de dados destinadas às atividades do Senado Federal e do Congresso Nacional,
englobando as áreas parlamentar, legislativa, orçamentária e administrativa. Entre as bases
oferecidas pelo SICON estão NJUR/NJUT (normas jurídicas). DISC (discursos). JURI
(jurisprudência) e MATE (matérias em tramitação nas casas do Congresso). O SICON
publica ainda o Thesaurus, um índice de palavras ou expressões que orientam a indexação e
as pesquisas nessas bases de dados. O Senado Federal produz também o CD-ROM
Legislação Republicana Brasileira, com uma coletânea dos atos normativos do período
republicano da história brasileira. O conteúdo desse produto abrange as normas jurídicas de
1889 até maio de 2002. A partir de 1945, além dos resumos, constam os textos integrais da
legislação citada. As fontes são publicações oficiais, como a Coleção de Leis do Brasil.
Dentre as redes de suporte do segmento industrial-empresarial citamos, como
exemplo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que forma
uma rede com objetivo de prestação de consultaria e informação empresarial para
organizações comerciais e industriais de pequeno porte. É responsável pela criação e
manutenção de várias bases de dados de informações bibliográficas de interesse para a
classe empresarial e bases de dados cadastrais de empresas e produtos. Outros exemplos
podem ser vistos em Cendón (2003) e Vieira (1994).
15
Anteriormente chamada Sistema Público de Acesso a Bases de Dados (SPA).
estrangeiras, podendo dar acesso a bibliografias sobre tópicos específicos e a listas de
periódicos nacionais que, às vezes, fornecem acesso aos seus textos completos ou resumos.
O site apresenta ainda vários portais informacionais focalizados em assuntos diversos.
No Brasil, outro portal na Internet que tem assumido a função de distribuidor de bases
de dados é o Portal Capes. Fornece para 129 instituições de ensino superior e de pesquisa
em todo o país acesso imediato à produção científica mundial atualizada, oferecendo textos
completos de artigos de mais de oito mil revistas internacionais, nacionais e estrangeiras, e
disponibiliza 75 bases de dados contendo resumos de documentos em todas as áreas do
conhecimento. O uso do Portal é livre e gratuito para as instituições participantes a partir de
qualquer terminal ligado à Internet e cadastrado no sistema.
4.9 Conclusão
REFERÊNCIAS
BECKER, J. Functions of existing networks: a reaction. In: KENT, A.; GALVIN, T. J. (Ed.).
Structure and governance of library networks. New York: Mareei Dekker, 1979. p. 86-89.
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LYMAN, Peter; VARIAN, Hal R. How much information-2003. Disponível em: http://www.sims.
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THORNE, R. G. The efficiency of subject catalogues and the cost of information searches.
Journal of Documentation, v. 11, p. 130-148, 1955.
A atuação do profissional da informação tem sido alvo de vários estudos. No que diz
respeito à legislação da área de Biblioteconomia, a Lei n° 4.084 de 30 de junho de 1962, que
regula o exercício profissional do bibliotecário, de certa forma tende a limitar tal exercício,
pois não acompanha as mudanças ocorridas no cenário profissional e não abre
possibilidades para o bibliotecário lidar com a informação nos diferentes suportes e contextos
(institucionais e sociais) em que a mesma passou a se apresentar. Daí a necessidade de se
repensar tal lei. Já o parecer CNE/CES n° 492/2001, da Lei de Diretrizes e Bases do
Ministério da Educação - MEC, pode ser considerado como um importante avanço no sentido
de mudar a visão restrita que a sociedade brasileira ainda possui acerca da atuação do
profissional bibliotecário. Isso porque, ao descrever as habilidades específicas de tal
profissional, é dito que compete ao mesmo:
• Interagir e agregar valor aos processos de geração, transferência e uso da
informação, em todo e qualquer ambiente;
• Criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos de
informação;
• Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza;
• Processar a informação registrada em diferentes tipos de suporte, mediante a
aplicação de conhecimentos teóricos e práticos de coleta, processamento,
armazenamento e difusão da informação;
• Realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e uso da
informação.
Nesta mesma linha, nos Estados Unidos, a Association of Independent Information
Professionals (2004) aponta possibilidades de atuação do profissional da informação nas
áreas de:
• Indústria e Negócios - no atendimento a empresários executivos que necessitam de
informações precisas, que os mantenham em nível de competição com outras
empresas. Estes podem ser considerados como clientes típicos e variam desde
proprietários de empresas de pequeno porte aos diretores das grandes companhias,
firmas de seguro e de investimento, agências de publicidade e relações públicas,
indústrias de manufatura e serviço. Muitos profissionais da informação descobriram
oportunidades novas em treinar seus clientes na pesquisa básica e no
desenvolvimento da Intranet, e, ainda, ao fornecerem serviços com valor agregado,
como a análise de resultados de pesquisa;
• Pesquisa Jurídica - no gerenciamento de bibliotecas ou unidades de informação
(públicas e/ou particulares) no campo jurídico, fornecendo informações sobre leis,
estatutos, andamento de processos, recursos ou argumentos informacionais que
podem ser utilizados por advogados de defesa e/ou acusação em um julgamento etc.;
• Saúde - no processamento de informações (utilização de descritores, metadados,
definição de linguagens de indexação e terminologias), desenvolvimento e
gerenciamento de Sistemas de Informação, como os Registros Eletrônicos em Saúde
e Prontuários Eletrônicos dos Pacientes, no gerenciamento de bases de dados
estatísticas e bibliográficas, por exemplo, sobre epidemias, cuidados com a saúde, no
fornecimento de informações que possam auxiliar médicos e enfermeiros no processo
de tomada de decisão, subsidiar políticas públicas na área da saúde e promover
programas de prevenção de doenças;
• Bancos e Finanças - na recuperação e análise de informações estratégicas e
competitivas determinantes para transações comerciais e financeiras de sucesso;
• Poder Público - em diversas instâncias, que vão desde a atuação em universidades e
centros de pesquisa até arquivos públicos e gestão de bancos de dados que incluem
documentos orçamentários, pesquisa sobre distribuição de renda, qualidade de vida
da população etc.;
• Ciência e Tecnologia - no fornecimento de informações para o embasamento e a
consolidação de pesquisas de profissionais de todas as áreas do conhecimento,
atendendo desde pesquisadores de Ciências Exatas até os de Ciências Humanas;
• Document Delivery ou Entrega de Documentos - na disponibilização e entrega em
domicílio de documentos on-line e/ou impressos (artigos, livros, pesquisas de mercado
etc.), obedecendo à fixação de tarifas. Este trabalho pode ser realizado de maneira
autônoma ou institucional. No segundo caso, o Brasil conta com a Bireme, o Comut e
o Scielo, entre outros.
Mesmo não se tendo clareza conceitual do que venha a ser informação, sabe-se que,
como afirmam Mota e Santos (2002), a informação, enquanto matéria-prima para o
desenvolvimento científico e tecnológico, tornou-se elemento essencial, considerado como o
diferencial competitivo de uma sociedade cada vez mais globalizada. Neste cenário, o novo
modelo econômico contribuiu significativamente para uma verdadeira mudança cultural no
que diz respeito às profissões. O mercado de trabalho torna-se cada vez mais competitivo, e
inúmeras são as exigências feitas àqueles que almejam conseguir um emprego e aos que
pretendem manter suas atividades profissionais.
O novo modelo econômico "introduz novas formas de gestão do trabalho e de
socialização dos indivíduos, valorizando a atuação em equipe, a interdisciplinaridade, o
aprendizado contínuo e atividades comportamentais". (Arruda, 2000, p. 24). Assim, o
profissional da informação precisa estar atento e ser cada vez mais atuante, não podendo,
em hipótese alguma, se acomodar frente às demandas que lhe são impostas. É necessário,
pois, que mais reflexões sejam feitas sobre a profissão, visando a capacitação e a
atualização constante dos profissionais, fazendo com que estes sejam capazes de, conforme
diz Baptista (2000), analisar as ameaças e transformá-las em oportunidades.
REFERÊNCIAS
DANTE, G. P. Perfil dei profesional de información dei nuevo milenio. In: VALENTIM, M. L.
(Org.). Profissionais da Informação: formação, perfil e atuação profissional. São Paulo: Polis,
2000. p. 91-106.
HJIZlRLAND, B. Library and information science: practice, theory, and philosophical basis.
Information Processing and Management, v. 36, p. 501-531, 2000.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.
MARTYN, J.; VICKERS, P.; FEENEY, M. Information UK 2000. London: British Library
Research and Development Department, 1993.
Várias análises (Lyotard, 1998; Tofler, 1980; Massuda, 1982; Kochen, 1983, entre
outras) consideram que a informação se tornou o principal elemento de produção,
modificando o comportamento das populações economicamente ativas e os fluxos de
investimentos nos países desenvolvidos. Por outro lado, essa nova configuração do processo
informacional pode acarretar problemas de acesso e uso de informações, principalmente
para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Este é o contexto onde está se
desenvolvendo a Sociedade de Informação.
Mas o que seria a sociedade da informação? De onde se origina este termo? Que
estágios são necessários para que uma sociedade receba esta denominação? Como a
biblioteca, enquanto instituição que trabalha com a informação, se posiciona nesse contexto?
Qual a função do bibliotecário na sociedade de informação?
Este texto objetiva responder a essas indagações, buscando com isso analisar a
função da biblioteca e dos bibliotecários no contexto da sociedade da informação, e, num
segundo momento, procurará identificar as novas tendências que estão surgindo em termos
de serviços e produtos de informação.
16
CRAWFORD. The origin and development on a concept: the information society. Buli. Med. Libr. Assoe. v. 71.
n. 4, p. 380-385, 1983.
informação. Esta rodovia da informação, ou infovia, será uma rede formada de cabos
telefônicos de fibra ótica que, uma vez conectada a supercomputadores, será capaz de
produzir e difundir imagens, sons e dados em altíssima velocidade. Essa super-rede de
computadores, uma vez completamente instalada, vai colocar todos em contato com tudo,
com efeitos formidáveis e imprevisíveis sobre as formas de trabalhar, aprender e se divertir.
Tudo isso será possível graças à união dos recursos computacionais com as
telecomunicações. Nessa união, cinco novas tecnologias têm-se destacado. São as
seguintes:
• Digitalização e dados (envio rápido de imagem e voz de forma barata e segura);
• Processamento paralelo (execução simultânea de trabalho por vários computadores.
Através desta tecnologia os computadores conseguem ser duzentas vezes mais
rápidos que os computadores mainframes tradicionais);
• ATM (tecnologia que transmite, com enorme velocidade, grandes quantidades de
informação);
• Fibras óticas (recebem um volume ilimitado de sinais à velocidade da luz);
• Decodificadores digitais (ainda não existem, mas a previsão é de que estes
aparelhos liguem o usuário com as informações do mundo exterior).
Bell, citado por Santos, 1989, elaborou um quadro explicativo sobre as mudanças sociais
provocadas pela sociedade de informação. Nele podem ser visualizadas as características
da sociedade de informação, ou sociedade pós-industrial (conforme denominação do quadro
de Daniel Bell).
REFERÊNCIAS
CRAWFORD, Susan. The origin and development on a concept: the information society. Bull.
Med. Libr. Assoc. v. 71, n. 4, p. 380-385, 1983.
CUNHA, Murilo Bastos da. Desafios na construção de uma biblioteca digital. Ciência da
Informação, Brasília, v. 28, n. 3, p. 257-268, set./dez, 1999.
Região Norte
Instituições Sigla
Fundação Universidade Federal do Acre UFAC
Fundação Universidade Federal do Amapá UNIFAP
Universidade Federal do Amazonas UFAM
Universidade Federal do Pará UFPA
Universidade Federal Rural da Amazônia UFRA
Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIR
Fundação Universidade Federal de Roraima UFRR
Região Nordeste
Instituições Sigla
Região Centro-Oeste
Instituições Sigla
Região Sudeste
Instituições Sigla
Região Sul
Instituições Sigla
Região Sudeste
Instituições Sigla
Região Sul
Instituições Sigla
Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto
FFCMPA
Alegre
Região Nordeste
Instituições Sigla
Região Sudeste
Instituições Sigla
Região Sul
Instituições Sigla
• ALAGOAS
• AMAZONAS
• BAHIA
• CEARÁ
• DISTRITO FEDERAL
• ESPÍRITO SANTO
• GOIÁS
• MARANHÃO
• MATO GROSSO
• MINAS GERAIS
• PARÁ
• PARANÁ
• PERNAMBUCO
• RIO DE JANEIRO
• SÃO PAULO
SOBRE OS AUTORES
Marlene de Oliveira é doutora em Ciência da Informação pela Universidade de
Brasília, Professora Adjunta da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de
Minas Gerais. Seus interesses de ensino e pesquisa estão voltados para as áreas de
Organização e Uso da Informação e incluem estudos de produtividade científica, uso e
usabilidade de informação e sistemas de informação. Desenvolve, como bolsista 2 do CNPq,
o projeto "Os grupos de pesquisa em Ciência da Informação: pesquisadores e produção
científica". Publicou "A investigação científica na Ciência da Informação: análise da pesquisa
financiada pelo CNPq". Perspectiva em Ciência da Informação, v. 6, n. 2, p. 1-20,2001,
dentre outros trabalhos.
Beatriz Valadares Cendón é doutora em Ciência da Informação pela University of
Texas at Austin (EUA) e professora da Escola de Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais. Seus interesses de ensino e pesquisa estão nas áreas de sistemas
e fontes de informação eletrônica: acesso, recuperação, avaliação e uso. Desenvolve o
projeto "Estudo do Portal Capes em universidades federais brasileiras" e é uma das
organizadoras e autoras do livro Fontes de informação para especialistas e profissionais.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
Maria Eugênia Albino Andrade é doutora em Ciência da Informação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e Professora Adjunta da Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais. Seus interesses de ensino e pesquisa estão voltados
para a relação entre informação, sociedade e indivíduos, organizações; para os sistemas de
informação, especialmente as bibliotecas escolares e universitárias, e o processo de
desenvolvimento de acervos. Desenvolve pesquisa sobre 'Avaliação do sistema de
informação Saúde em Rede". Publicou "A pesquisa científica em sala de aula: reflexões
sobre uma prática pedagógica. In: RODRIGUES, M. E.; CAMPELLO, B. S. (Org.). A
(re)significação do processo ensino/aprendizagem em Biblioteconomia e Ciência da
Informação."
Eliany Alvarenga de Araújo é doutora em Ciência da Informação e mestre em
Biblioteconomia. É Professora Adjunta IV do Departamento de Biblioteconomia e
Documentação - DBD, da Universidade Federal da Paraíba - UFPb, secretária-geral da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação - ANClB.
Seus interesses de ensino e pesquisa estão voltados para as temáticas de geração,
mediação e usos da informação; teoria da informação e usos e impactos da informação;
usabilidade de repositórios eletrônicos (bibliotecas digitais) e os impactos da informação a
partir do conceito da institucionalização. Publicou artigos de periódicos na área de geração,
transferência e uso de informação e tem realizado comunicações em eventos tratando da
mesma temática.
Guilherme Atayde Dias é doutor em Ciência da Informação pela USP e Professor
Adjunto I do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da UFPb. Seus interesses
de pesquisa estão voltados para repositórios digitais de informação, periódicos científicos
eletrônicos, web semântica e aplicação de software livre em qualquer atividade demandada
pelas organizações. Desenvolve pesquisas relacionadas à utilização do meio eletrônico
como um suporte para a disponibilização de publicações científicas. Possui publicações
sobre essas temáticas em diversos eventos da área.
Francisca Rosalina Leite Mota é doutoranda em Ciência da Informação pela Escola de
Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais e professora no curso de
Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação na mesma universidade. Seus
interesses de ensino e pesquisa estão voltados para gestão da informação e do
conhecimento. Desenvolve o projeto "Tecnologias da informação para gestão do
conhecimento no âmbito hospitalar". Publicou "Prontuário eletrônico do paciente: estudo de
uso pela equipe de saúde do Centro de Saúde Vista Alegre", dentre outros trabalhos.
DIDÁTICA
Coordenadores da Coleção
Márcia Maria Fusaro Pinto
Elizabeth Spangler Andrade Moreira
Câmara de Graduação
2. Fundamentos de Álgebra
[MATEMÁTICA] Angela Vidigal
Dan Avritzer
Eliana Farias e Soares
Hamilton Prado Bueno
Maria Cristina Costa Ferreira
Marília Costa de Faria
4. Princípios da Publicidade
[PUBLICIDADE] Gilmar Santos