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E

Editor
AC
Estanislau Klein – ATLAS CULTURAL DO ACRE E DO ALTO JURUÁ (AM)

ATLAS CULTURAL
DO ACRE E DO ALTO JURUÁ (AM):
LOCAIS SAGRADOS, PEREGRINAÇÕES,
CRENÇAS, RITOS E FESTAS POPULARES

Estanislau Paulo Klein


Samora da Silva Klein

Erikis Fernando Pereira


Sílvia Souza Lima

EA C
Editor
Todos os direitos dessa edição pertencem ao
DR. ESTANISLAU PAULO KLEIN. Nenhuma parte
desse livro poderá ser reproduzida por qualquer meio
sem a autorização prévia do autor pelo e-mail
epkklein@gmail.com

Capa, Diagramação, Preparação do Texto,


Ilustração, Projeto Gráfico e Editoração
Eduardo de Araújo Carneiro

Revisão
Gleiciane Nunes de Souza

VERSÃO DIGITAL
_______________________________________________
K641a Klein, Estanislau Paulo
Atlas cultural do Acre e do Alto Juruá (AM): locais
sagrados, peregrinações, crenças, ritos e festas populares /
Estanislau Paulo Klein, Samora da Silva Klein, Erikis
Fernando Pereira e Sílvia Souza Lima. Rio Branco: EAC
Editor, 2021. 98 f.:Il.
ISBN : 978-65-00-21110-8
1. Atlas; 2. Religião; 3. Cultura; 4. Acre (Ac).
I. Título.
CDD: 200
_________________________________________

____________________________________

http://eaceditor.blogspot.com.br/
eac.editor@gmail.com
ATLAS CULTURAL DO ACRE E ALTO JURUÁ (AM):
LOCAIS SAGRADOS, PEREGRINAÇÕES,
CRENÇAS, RITOS E FESTAS POPULARES

Este atlas cultural apresenta locais sagrados,


peregrinações, crenças, ritos e festas populares no acre e
alto Juruá – AM. São indicados endereços e caminhos
desses locais e eventos, amplia conhecimentos
antropológicos da cultura popular regional, focando na
ordem simbólica que permeia grandes fenômenos sociais.
Reúne as principais informações geográficas para que
pessoas, empresas, instituições e setores do serviço
público conheçam melhor a cultura regional. Com esses
conhecimentos reunidos ampliam-se as possibilidades
para melhorias nos serviços relacionados ao fluxo de
pessoas do “turismo religioso”, bem como melhorar os
conhecimentos no setor educacional.
Esta publicação foi realizada com apoio
financeiro da Fundação de Cultura Elias
Mansour, Acre, considerando a Lei
Estadual Nº 2.312 de 23/10/2010 e
seguindo o Edital “Culturas Tradicionais e
Populares/2020, bem como a Lei Aldir
Blanc.
RESUMO

Este atlas cultural apresenta locais sagrados, peregrinações,


crenças, ritos e festas populares no acre e alto Juruá – AM.
São indicados endereços e caminhos desses locais e
eventos, amplia conhecimentos antropológicos da cultura
popular regional, focando na ordem simbólica que permeia
grandes fenômenos sociais. Reúne as principais informações
geográficas para que pessoas, empresas, instituições e
setores do serviço público conheçam melhor a cultura
regional. Com esses conhecimentos reunidos ampliam-se as
possibilidades para melhorias nos serviços relacionados ao
fluxo de pessoas do “turismo religioso”, bem como melhorar
os conhecimentos no setor educacional.

Palavras-chave: locais sagrados; ritos; peregrinações;


caminhos; ordem simbólica.
ABSTRACT

This cultural atlas presents sacred places, pilgrimages,


beliefs, rites and popular festivals in Acre and Alto Juruá - AM.
Addresses and paths of these places and events are
indicated, it expands anthropological knowledge of popular
regional culture, focusing on the symbolic order that
permeates great social phenomena. It gathers the main
geographic information so that people, companies,
institutions and sectors of the public service get to know the
regional culture better. With this knowledge gathered, the
possibilities for improving services related to the flow of
people from “religious tourism” are expanded, as well as
improving knowledge in the educational sector.

Keywords: sacred places; rites; pilgrimages; ways; symbolic


order.
SUMÁRIO

APRESENÇÃO 10

1. RIO BRANCO 13
Em reconhecimento da diplomacia 13
A tradição de São Sebastião em Rio Branco 16
Catedral Nossa Senhora de Nazaré 18
Santo Antônio da Capela, ramal do km 90 da 21
Transacreana
O caminho até Santo Antônio da Capela Ac -90 22

2. PORTO ACRE 24
A Igreja de ferro do seringal Bom Destino 29
A novena e festa popular da “Mão Poderosa” 30

3. XAPURI 34
Heranças lusitanas de invocar a proteção de São 34
Sebastião e os santos locais
São João do Guarani 36
Luiz, a alma milagrosa da Nova Amélia 38

4. ASSIS BRASIL 40
No caminho para o Bom Sucesso 40
Santa Raimunda do Bom Sucesso 41
Alma Milagrosa da Sebastiana, colocação Lua 44
Nova, seringal Icuriã
O caminho até Lua Nova, Icuriã 45

5. SENA MADUREIRA 46
Civismo, locais sagrados e um monumento 46
arquitetônico em uma “cidade moderna” no início
dos seringais
Presença da Ordem dos Servos de Maria 49
A primeira catedral do Acre 51

6. FEIJÓ
Igreja Matriz Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 54
Os irmãos Quinino 55
Maria da Liberdade: a menina Santa do rio Envira 56
A capela da Santa do rio Envira 58

7. TARAUACÁ 60
Atenção com o nome nativo 60
Novenário e festa de São Francisco 60
Festa de São José 62
Alma Milagrosa do igarapé Cujubim 62
O caminho para ir até o local da Alma de José 63
França

8. ALTO JURUÁ (AM) 64


Um lugar sagrado para São Francisco em São 64
Felipe, rio Juruá, atual Eirunepé
O novenário, festa e procissão de São Francisco 66
em Eirunepé
A representação teatral sobre São Francisco, o 69
santo dos pobres
Alma Milagrosa do Itucumã em Eirunepé 70
O caminho até a “Cruz Milagrosa do Itucumã” 71
A Alma do milagre das rosas brancas de Ipixuna 72

9. CRUZEIRO DO SUL 75
O nome cívico tem origem na observação dos rios 75
A demarcação do primeiro lugar sagrado para a 77
igreja
Novenário, festa e procissão em honra à Nossa 80
Senhora da Glória: um dos maiores eventos
populares do Acre
Adélia de Campos Sobral: a Santinha do Juruá 81
10. MÂNCIO LIMA 85
Seringais, colônias e cidade 85

11. PORTO WALTER 88


São João do Barro Alto 88
O caminho até a capela do São João do Barro 89
Alto

12. MARECHAL THAUMATURGO 91


Os Meninos Irmãos Santos de Nova Olinda e São 91
Sebastião
O caminho para chegar até Nova Olinda 93
Novenário, procissão e grande festa à São 95
Sebastião

REFERÊNCIAS 97
APRESENTAÇÃO

E
ste atlas complementa o livro intitulado
“Crenças, ritos, litanias e o sagrado na ordem
simbólica no Acre e região, com informações
geográficas, indicações de endereços e caminhos dos locais
de peregrinações, de rituais e festas. Todos os demais
conhecimentos e informações são oriundos deste livro, com
a finalidade de situar e localizar diferentes fenômenos
sociais. Os dois trabalhos têm o patrocínio da Fundação de
Cultura Elias Mansour - Acre, ampliando os conhecimentos
sobre as particularidades da cultura regional, com ênfase nos
antigos seringais.

Estas publicações ampliam os conhecimentos sobre a


cultura popular e pretende incentivar o turismo na região,
informando sobre locais sagrados, ritos e celebrações em
diferentes localidades, vilas e cidades, no Acre e Alto rio
Juruá, no Amazonas. Os conhecimentos antropológicos e
geográficos são importantes para pessoas e empresas
prestarem informações e conhecimentos para a organização
de viagens, hospedagens e oferta de alimentação, bem como
outros bens e serviços relacionados ao fluxo de pessoas em
peregrinações aos eventos religiosos, também denominado

10
“turismo religioso”. Eventos como os festejos de São João do
Guarani, em Xapuri, o grande novenário e festejo de Nossa
Senhora da Glória em Cruzeiro do Sul, bem com os
novenários e festejos do São Francisco, em Eirunepé, AM e
em Tarauacá, estão localizados e indicados como fenômenos
sociais e culturais importantes no turismo, com importância
sobre comércio, hotelaria, transportes e outros serviços.

Este trabalho localiza os fenômenos sociais relacionados


a crenças, ritos, súplicas, demarcação de lugares sagrados,
pedidos por graças com pagamento de promessas e
procissões que celebram Santos, expressando a ordem
simbólica entre grupos humanos no Acre e diferentes
localidades do Alto Rio Juruá. A principal finalidade é de
indicar localidades, vilas e cidades com seus locais sagrados
para onde seguem peregrinações, realizam-se ritos de
pagamento de promessas, novenários e festas populares. Na
busca desses locais, inicia-se a possibilidade de
compreender a criação e expressão da ordem simbólica em
diferentes fenômenos sociais.
Encontrar locais sagrados onde estão sinais dos santos
da floresta, a realização de novenários, bem como as festas
populares, serão uma oportunidade para a compreensão da
cultura local, bem como conhecer fenômenos sociais,

11
iniciados ainda no tempo dos seringais na Amazônia, nos
quais populações deram seguimento às tradições dos seus
locais de origem e também criaram elementos culturais
próprios nos lugares ocupados no interior dessa floresta. Por
muitas décadas, as famílias e comunidades vivenciaram suas
crenças, criaram ritos e celebrações que seguiram, mesmo
quando os seringais foram substituídos por outras atividades
econômicas.

Cartografia do Acre e região do Alto Juruá – AM. As


indicações de localidades, que seguem, têm em conta as
municipalidades e bacias hidrográficas.

Fonte: Pereira, 2021

12
CAPÍTULO I

RIO BRANCO

EM RECONHECIMENTO DA DIPLOMACIA

O núcleo povoado que originou Rio Branco foi dos


primeiros na região, iniciado em meados da década de 1880,
era conhecido por Volta da Empresa. A ordem social vigente
era dos senhores dos seringais, muitos com status de
coronéis, a antiga “Guarda Nacional”. Era uma sociedade
sem Estado nas terras com disputas por divisas. A primeira
autoridade brasileira instituída no Acre foi em 06 de maio de
1903, quando o General Antônio Olympio da Silveira,
proclamou, na localidade de Volta da Empresa, a ocupação
do “Território Septentrional do Acre” pela República
Brasileira. Na continuidade, o Decreto n. 5.188 de 07 de abril
de 1904, do Presidente Rodrigues Alves, oficializou o
Departamento do Alto Acre, do então Território Federal do
Acre, a localidade foi importante como sede de um governo
local, recebendo o nome de Rio Branco, em homenagem ao
diplomata brasileiro, José Maria da Silva Paranhos Júnior,

13
Barão de Rio Branco, que negociou o acordo de paz com a
Bolívia (BRASIL, 1904; CASTRO 2002).

Na imagem acima o brasão de Rio Branco, que


expressa a homenagem ao diplomata brasileiro empenhado
em importantes negociações diplomáticas. O globo com a
faixa transversal é o símbolo da diplomacia brasileira, o azul
com as ondulações representando a relação da cidade com
o rio. O escrito em latim expressa um pensamento do Barão
de Rio Branco, significando “Em todos os lugares tenha a
pátria na memória”, ou “Em todos os lugares lembro-me da
pátria”. Na parte alta está a representação da proteção, que
uma cidade significa para seus habitantes.
O primeiro agrupamento conhecido de pessoas
ligadas à Igreja, na Volta da Empresa, foi a Irmandade de
Nossa Senhora da Conceição, criada em 1904, com a
aprovação do Bispo de Manaus, quando da sua passagem

14
pelo Rio Acre. A liderança local que manteve a Irmandade
por muitos anos foi o Cel. Pratagí, encarregado de manter os
rituais de rezas da comunidade (PERTÍÑEZ, 2007).

Fonte: Fundação Elias Mansour, Rio Branco.

Fonte: Diocese de Rio Branco

Ícone de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, uma


representação celestial e de transcendência

15
O registro de imagem disponível é de 1906, quando foi
implantado o primeiro esteio da capela que, posteriormente,
tornou-se Igreja da Imaculada Conceição. A peça de madeira
para esse ato solene está visível na lateral direita, com uma
pessoa colocando o braço em torno da mesma. Firmar esse
esteio, sinalizador de um lugar sagrado foi uma solenidade
participada por 50 pessoas, entre homens, mulheres e
crianças.
Assim iniciou a comunidade paroquial da Imaculada
Conceição, nas proximidades do marco fundador da cidade,
que é a “Gameleira”. Mesmo não sendo mais a árvore inicial,
o marco é preservado e a Igreja tornou-se um local sagrado
no Segundo Distrito da cidade.

A TRADIÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO

O segundo lugar sagrado destinado para uma Igreja


em Rio Branco originou-se do pagamento de uma promessa
a São Sebastião, realizada por uma família local. A Diocese
de Manaus criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição
de Rio Branco em 1910, com o Padre José Tito sendo seu
Vigário. Esse Padre recebeu a doação de um terreno da Sr.ª
Josefina Spinosa Freire, que cumpriu uma promessa feita por

16
seu falecido marido. São Sebastião teria atendido o pedido
por um milagre e a retribuição pela graça seria doar esse
terreno, onde deveria ser construída uma Igreja em honra ao
Santo. Foi um terreno importante, que significou um
patrimônio considerável, na parte nova da cidade, onde, de
fato, foi construída a principal Igreja da cidade. Com o
cumprimento dessa promessa, a Paróquia Nossa Senhora da
Conceição de Rio Branco teve por muito tempo a Igreja de
São Sebastião como sua sede. Infelizmente esse marco da
cidade foi demolido.

Fonte: Fundação Elias Mansour

17
A imagem anterior é a da Igreja de São Sebastião,
localizada na Rua Epaminondas Jacome, ao lado da atual
entrada da galeria Meta. A torre foi um acréscimo realizado
quando a Prelazia do Acre e Purus assumiu a Paróquia de
Rio Branco a partir de 1920. Quando a Catedral Nossa
Senhora de Nazaré passou a ser a Igreja da sede episcopal
a Igreja de São Sebastião foi demolida, infelizmente.

CATEDRAL NOSSA SENHORA DE NAZARÉ

Fonte: Diocese de Rio Branco

O significado de Catedral na tradição cristã é de ser a


Igreja sede de um episcopado, originariamente o termo vem

18
de “cátedra”, a Cadeira a partir da qual o Bispo faz suas
pregações, ou seja, a igreja onde está a cadeira do Bispo.
Tratando-se de pessoas idosas, os bispos realizavam seu
ofício sentados em sua cadeira.
A sede da Prelazia do Acre e Purus localizava-se em
Sena Madureira, até o final da década de 1940, sendo
transferida para Rio Branco. Com a transferência da sede
episcopal foi necessária uma nova Catedral, considerando a
cidade sede do governo do Território Federal. A nova
Catedral representou uma mudança na Paróquia Nossa
Senhora de Nazaré, porém a mudança impactante da sede
demandou tempo (diocese de Rio Branco.org.br) em
15/01/2021.

Fonte: Pereira, 2021

19
A tradição da fé em Nossa Senhora de Nazaré é de
origem portuguesa, trazida para Belém do Para com a
celebração da festa do Círio de Nazaré, desde 1793. O início
da presença oficial da Igreja no Acre teve participação de
Padres Paraenses, posteriormente de Manaus, assim a
Paróquia da então Volta da Empresa foi em honra à tradição
luso-paraense. A data de celebração do círio de Nazaré 09
de outubro, com vários dias de festejo, de acordo com o
calendário de cada ano.
A Catedral Nossa Senhora de Nazaré de Rio Branco
tem importantes celebrações no seu calendário, destacando-
se a Festa do Círio de Nazaré e a procissão de Sexta Feira
Santa, com a encenação dramática da Paixão de Cristo.

Fonte: Diocese de Rio Branco

20
Representação de Nossa Senhora de Nazaré, a
imagem maternal da tradição lusitana e paraense para toda
a Amazônia. A beleza do manto expressa dedicação,
capricho, amor às tradições e proteção maternal.

SANTO ANTÔNIO DA CAPELA,


RAMAL DO KM 90 DA TRANSACREANA

Santo Antônio da Capela se refere a um homem, de nome


Antônio Machado, natural do Ceará, que veio ao Acre em
1900, com 20 anos de idade, e viveu em um seringal onde
hoje se localiza o Km 90 da Estada Transacreana, a partir de
Rio Branco, seguindo 17 quilômetros ramal adentro a partir
deste ponto. No tempo do seringal, a localidade tinha transito
pelo rio Antimary, e a sede do seringal onde Antônio
trabalhava situava-se no igarapé Itamaraty.
Santo Antônio da Capela foi um seringueiro que
trabalhava em serviços diversos, como cortar e beneficiar
paxiúbas, usadas em construções de casas. Era um trabalho
pesado, tanto a derrubada das palmeiras, quanto o
beneficiamento das peças e o transporte do interior da
floresta até os locais das construções. O Sr. Antônio foi vítima
de malária crônica, doença grave na região, sentia febre e
muita fraqueza, tornando o trabalho de cortar, preparar e

21
carregar a paxiúba um sofrimento. Um dia o Sr. Antônio não
voltou do seu trabalho e pessoas do barracão foram ao seu
encontro. Na baixada de um igarapé estava o pobre homem,
caído, com o grande feixe de paxiúbas sobre o seu corpo. A
febre, fraqueza, cansaço e grande peso nas costas vitimaram
o homem que não suportou o rigor do penoso trabalho e nem
conseguiu sair debaixo da sua carga. Estima-se que a data
da morte foi no ano de 1903.
Seu sepultamento ocorreu nas mediações de onde
trabalhava. Algum tempo após sua morte iniciaram-se as
preces pedindo graças por milagres. Muito suplicantes foram
atendidos em seus pedidos e o pagamento de promessas
foram se multiplicando. Uma capela foi construída na sua
sepultura e, devido a semelhança com o Santo Antônio da
Igreja, a sua distinção está no nome Santo Antônio da
Capela. A maior visitação no local e pagamentos de
promessas é no dia de Santo Antônio do calendário católico,
13 de junho.

O CAMINHO ATÉ SANTO ANTÔNIO DA CAPELA AC-90

O ponto de referência para informações sobre Esse


Santo é a comunidade católica da Vila Verde da
Transacreana, que tem atividades pastorais na região. A

22
localização do Km 90 na Transacreana é fácil. Nesse ponto
segue-se o ramal por 17 quilômetros até a Capela do Santo.
No verão regional (período de pouca chuva) o acesso pode
ser motorizado. A data de maior frequência de peregrinos é
em 13 de junho, dia de Santo Antônio, bem como 02 de
novembro, dia de finados.

Fonte: Pereira, 2021

23
CAPÍTULO 2

PORTO ACRE

Porto Acre teve seu início com a instalação da “aduana


boliviana”, em 03 de janeiro de 1899, recebendo o nome de
“Puerto Alonso”. A situação das divisas entre Brasil e Bolívia
estava sob o “acordo de Ayacucho”, com as autoridades da
recém-criada República distantes das ocupações dos
seringais da região. A criação da localidade foi uma iniciativa
boliviana, com as devidas solenidades, incluindo a invocação
de Nossa Senhora da Imaculada Conceição como padroeira
do lugar (KLEIN, 2018).

24
Na região de Porto Acre um grupo de pessoas com
senso de interesse público tomou a iniciativa de integrar o
Acre às terras do Brasil. Após vários acontecimentos
relacionados com as disputas pelas terras, formou-se a
Primeira Junta Revolucionária do Acre em 1º de julho de
1902, no seringal Caquetá, formada pelos Senhores Joaquim
Vitor, Rodrigo de Carvalho, José Galdino, Gentil Norberto e
Plácido de Castro.
A partir dessa junta iniciou-se a insurreição armada
contra a presença boliviana, sucedendo as seguintes
batalhas: ataque do Exército Acreano e tomada de Mariscal
Sucre (Xapuri), em 06 de agosto de 1902; Batalhas no
seringal Empresa, em setembro e outubro de 1902; Batalha
de Puerto Alonso, iniciada em 15 janeiro, e vitória brasileira
em 24 de janeiro de 1903, com o reconhecimento de Dom
Lino Romero da vitória brasileira (Id.; Ibid.).
Porto Acre tornou-se conhecida pela instalação de
uma repartição da então Receita Federal e ativação de um
seringal com sede local. A localidade foi distrito do município
de Rio Branco. Na elevação de Porto Acre para município o
seu brasão foi criado com símbolos muito expressivos,
conforme a imagem apresentada acima. No centro do Brasão
está representado o rio Acre com uma corrente rompida, em
referência ao corte da corrente que foi fixada de uma margem

25
a outra do rio e que impedia o transito de embarcações antes
da batalha do Puerto Alonso. O azul representa o céu da
liberdade e o verde, a floresta.
Em contraste com a cor verde estão simbolizados dois
fuzis que representam as batalhas do exército acreano. O
barrete frígio, um boné originário da antiga região da
“Phygia”, atualmente território da Turquia, representava a
honra para alguns heróis da Grécia antiga. Durante a
Revolução Francesa, em 1789, o mesmo barrete foi usado
pelos jacobinos na batalha da queda da Bastilha, em Paris.
A partir de então, esse boné representa a luta de
soldados pela república. No brasão do Porto Acre esse
barrete representa o sangue dos soldados que sacrificaram
suas vidas na guerra pela liberdade do Acre. A estrela
vermelha representa o “Estado Independente do Acre” e
também representa o sangue derramado na conquista deste
Estado. Na parte superior está representado um muro que
simboliza a cidade e que tem o significado da defesa para os
seus cidadãos.
Na base do Brasão está uma âncora, simbolizando a
cidade com tradição do transporte fluvial, ao rio Acre, que foi
a via de acesso para os seringais. Na âncora está uma faixa
com o nome da cidade, a data da sua fundação pelos

26
bolivianos e a data da conquista pelos brasileiros (KLEIN,
2018).

Fonte: Casa Oswaldo Cruz, FIOCRUZ

Fonte: Casa Oswaldo Cruz, FIOCRUZ

27
Nas imagens acima a vila de Porto Acre, a primeira
com a parte da beira rio e na segunda, o “platô”, onde se
localizava o prédio da “Meza de Rendas Federaes”, tendo ao
lado as residências dos funcionários federais. Os alicerces do
prédio da “Meza” estão, em grande parte, no local, tendo a
particularidade de serem em argamassa misturada com
pedaços de vidro, por ser o único material disponível, na
época, para aumentar a resistência do alicerce. Infelizmente
a erosão do barranco do rio Acre causou a queda do prédio.
A imagem é do final de 1911 (a 1912).

Fonte: Fundação Elias Mansour

28
A IGREJA DE FERRO DO SERINGAL BOM DESTINO

A tradição de recorrer ao São Sebastião em casos de


enfermidades graves foi seguida no seringal Bom Destino,
pelo seu primeiro proprietário, Sr. Joaquim Vitor. No início do
seringal, um dos filhos deste senhor estava muito enfermo,
foi feito um pedido de cura ao São Sebastião e a promessa
de se construir, no seringal, uma igreja especial em
homenagem ao Santo. Seria uma Igreja de ferro, com
encaixes sem parafusos e chapas galvanizadas, para durar
indefinidamente.
O pedido ao Santo foi atendido com a cura do enfermo
e a promessa foi cumprida, sendo que essa igreja deveria
perpetuar a promessa e a fé em São Sebastião (PERTÍÑEZ,
2007; KLEIN, 2018). Há pessoas que querem associar essa
Igreja à vitória da revolução acreana, porém a primeira razão
foi o cumprimento da promessa para alcançar a cura de um
dos filhos do dono do seringal Bom Destino.
Com a venda do Seringal para atividades de pecuária,
houve o abandono total da sua sede, com deterioração das
construções e crescimento de vegetação no entorno. Na
década de 1970, o Exército Brasileiro realizou manobras com
o treinamento de tropas naquela região, e um oficial viu que
a Igreja de Ferro estava abandonada. Essa constatação do

29
oficial originou um movimento para que a Igreja fosse
transferida para Rio Branco e reconstruída na área do quartel
do 4º BIS, no bairro do Bosque (Id. Ibid.).

Fonte: Pereira, 2021

A NOVENA E A FESTA POPULAR


DA “MÃO PODEROSA”

A festa e novena da “Mão Poderosa” é uma tradição


mantida pela Família Matos de Brito há mais de 250 anos.
Quando a família veio do Ceará para a região que hoje é
Porto Acre, trouxe consigo a tradição. O primeiro local da
festa e novena no Acre foi em uma das primeiras colocações
habitadas do seringal Bom Destino. No final da década de

30
1950, a família mudou para uma colocação do seringal
Caquetá, continuando com aquele costume tão antigo.
A distância entre essas colocações permitia que a
vizinhança da primeira localidade participasse no seringal
vizinho. No final da década de 1970, a família mudou
novamente, desta vez para o seringal Humaitá, na margem
de rio Acre. A tradição continuou e, mesmo com a distância
um pouco maior, a vizinhança anterior ainda podia
acompanhar os rituais. Para demarcar o lugar sagrado onde
se guardava o ícone, se construía uma capela para acomodar
o oratório da representação da “Mão Poderosa”.

Fonte: Pereira, 2021

31
As pessoas de redondeza sabiam do lugar sagrado.
Em 2019, o atual guardião da relíquia e continuador da
tradição residia no ramal do km. 31 da AC 10, próximo da Vila
do INCRA. Portanto, a festa e novena da Mão Poderosa está
na quarta localidade, na região de Porto Acre (FADISI, 2019).

A festa da “Mão Poderosa” inicia com a novena, no dia


15 de dezembro, pela reza do terço. Na noite de natal
acontece o rito solene com o estouro do foguetório, cânticos,
com muitas repetições da reza do terço da “Mão Poderosa”,
seguindo os pedidos dos pagadores de promessas. Muitos

32
pagadores de promessas usam túnicas ou outras vestes, de
acordo com suas promessas.
Para localizar a novena e festa da “Mão Poderosa” o
ponto de partida é a Vila do Incra, AC 10 de Porto Acre, seguir
no do ramal do Km. 31 até a residência da família Matos de
Brito. Tem trânsito fácil e o acesso pode ser uma caminhada
a partir da rotatória de entrada da Vila do Incra.

33
CAPÍTULO 3

XAPURI

HERANÇAS LUSITANAS DE INVOCAR A PROTEÇÃO


DE SÃO SEBASTIÃO E OS SANTOS LOCAIS

A tradição portuguesa de suplicar ajuda ao São


Sebastião em caso de enfermidades graves é mantida em
Xapuri, desde o início do povoado. As primeiras famílias que
formaram a localidade deram continuidade às tradições de
terem um oratório doméstico, rezas de terços e novenas ao
Santo, sendo parte da vida social. Em 20 de janeiro de 1902
a comunidade paroquial local assumiu o ritual público da
procissão ao São Sebastião, tornando-se ao longo do tempo
o novenário e festa popular mais participada na região.
A tradição segue com um rito cívico religioso em que
bandeiras e outros objetos sagrados indicam civismo e fé.
Promessas ao Santo são cumpridas, incluindo vestuários
apropriados como túnicas e o porte de objetos representando
graças alcançadas. A procissão segue pela cidade em um rito
solene, em diferentes atos de súplicas, cânticos, queima de

34
fogos e pagamento de promessas ao Santo padroeiro,
finalizando com uma missa solene.

Fonte: Diocese de Rio Branco

Para acompanhar o novenário, festejo e a procissão,


há muitas opções de transporte até a cidade. A partir de Rio
Branco há muitas opções de ônibus, lotações e taxis. As
hospedagens na cidade são disponíveis em hotéis e
pousadas, bem como contatar casas particulares, quando os
hotéis estiverem lotados.

35
SÃO JOÃO DO GUARANI

Esse Santo viveu nos seringais entre os rios Acre e


Iaco, no isolamento da floresta representa alento e força para
resistir as enfermidades, principalmente a malária.
São João do Guarani foi seringueiro no seringal Recife,
com sede no rio Iaco, sua colocação era no final desse
seringal, no sentido de quem se desloca do rio Iaco em
direção ao seringal Floresta, com sede no rio Acre, próximo
de Xapuri. Foi um homem afrodescendente, estatura
mediana, natural de Pernambuco, porém se sabe apenas o
primeiro nome e que sua morte aconteceu em 1906.
Uma forte febre, certamente malária, obrigou o Sr.
João sair de sua colocação e procurar ajuda em Xapuri. Com
a gravidade da enfermidade, fraqueza e a distância
percorrida, morreu sozinho na beira do caminho, perto da
colocação Guarani. A morte nessa localidade marcou o
nome: “São João do Guarani”.
Muitos seringueiros dirigiram suas súplicas à Alma do
São João do Guarani e foram atendidos em suas preces. Não
tardou para a localidade do Guarani tornar-se um lugar
sagrado, recebendo peregrinos no pagamento de suas
promessas, uma capela foi construída, posteriormente uma

36
Igreja, até formar-se uma comunidade que recebe visitantes
de muito longe.
Para chegar até o local sagrado do São João do guarani
o peregrino pode escolher o tradicional caminho a pé, saindo
do bairro Sibéria, em Xapuri, como muitos suplicantes fazem
no pagamento de suas promessas, a data mais apropriada é
24 de junho, dia de São João. Na paróquia de Xapuri e no
bairro Sibéria, logo na travessia do rio Acre há muitas
indicações para encontrar o caminho.

Fonte: Pereira, 2021

37
Na época do “verão”, o caminho permite transito de
veículos motorizados, segue-se a “Estada de Petrópolis” até
o caminho do varadouro do Seringal Floresta, permanecendo
nesta rota até o local do Santo. Pessoas novatas na região
devem pedir ajuda a um guia local, pois há grupos de
visitantes saído de cidades, muitos em transporte
motorizado. Nos dias de festejo, 24 de junho, haverá
oportunidades de contar com guias locais para indicarem o
caminho, bem como acompanhar grupos de peregrinos que
costumam percorrer o varadouro.

LUIZ, A ALMA MILAGROSA DA NOVA AMÉLIA

Luiz da Nova Amélia era natural do Ceará, de estatura


baixa, pele clara e cabelos louros. Pela cor dos seus cabelos
recebeu o apelido de “cairara”. Pouco se sabe do seu nome,
por isso a referência de Nova Amélia, o nome da colocação
onde residia, que ficava de recanto nos caminhos do seringal,
sendo pouco frequentada por vizinhos. Sabe-se que o
Senhor Luiz adoeceu de impaludismo, ou seja, malária
crônica. Em uma das passagens do comboio do barracão foi
providenciado um socorro para levar o Senhor Luiz até a
sede do seringal. O socorro chegou até a colocação, o

38
enfermo foi acomodado na rede e a caminhada foi iniciada,
porém, poucos minutos após, o enfermo morreu no caminho.
Foi uma hora triste: o moribundo dobrou-se sobre si, de tanto
sofrimento, conseguindo pedir apenas que o sepultassem
naquele local onde estava, debaixo de uma castanheira.

Na continuação, aquele lugar passou a ser visitado por


pessoas que depositavam ramos de arbustos próximos em
referência à Alma do Luiz da Nova Amélia, formulando preces
e pedidos por graças, formando-se a compreensão de que se
tratava de uma Alma milagrosa, pelo aumento gradativo de
suplicantes. Não demorou para o aumento das preces e
pedidos por graças, e, assim, iniciaram-se os ritos do
pagamento de promessas, com o depósito de objetos
representando partes enfermas do corpo que foram curadas
pela graça. No local da sepultura foi construída uma capela
coberta de palha e, alguns anos após, foi construída outra
coberta com folhas de zinco, indicando mais estabilidade.

39
CAPÍTULO 4

ASSIS BRASIL

NO CAMINHO PARA O BOM SUCESSO

Na imagem abaixo a Igreja matriz Nossa Senhora do


Perpétuo Socorro de Assis Brasil, um marco da cristandade
na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia. O nome inicial
de Assis Brasil foi de Seringal Paraguaçu, dos Irmãos Freire,
instalado no início dos anos 1900.

Fonte: Diocese de Rio Branco

40
No final da década de 1950 a localidade recebeu o
nome de Assis Brasil, em homenagem ao diplomata brasileiro
Joaquim Francisco de Assis Brasil, que foi membro do
ministério das Relações Exteriores, juntamente com José
Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, na
negociação do tratado de Petrópolis com a Bolívia.
Coube ao Presidente da República Rodrigues Alves
organizar o Ministério das relações exteriores, da então
República iniciante a ter um corpo diplomático capaz de
negociar a paz com os países vizinhos. Assis Brasil foi um
cumpridor das suas funções diplomáticas, colaborando para
a solução pacífica da disputa em torno das terras do Acre. A
vila foi elevada à categoria de município em 1976, no governo
Geraldo Mesquita (CIDADE; IBGE, ASSIS BRASIL).

SANTA RAIMUNDA DO BOM SUCESSO

Na tradição espanhola se conhece o São Raimundo


Nonato (que significa não nascido), que protege as mulheres
na gestação e no parto. A mãe de São Raimundo Nonato
morreu antes do seu nascimento. Na urgência do momento,
o menino foi retirado do corpo moribundo, conseguindo

41
sobreviver. Vir ao mundo nessas circunstâncias marcou esse
ser humano, que se dedicou a uma vida de santidade.
As informações sobre a Raimunda, que se tornou a
Santa do Bom Sucesso, são de 1901, quando o Padre
Francisco Barbosa Leite, de Lábrea, realizou seu casamento.
Posteriormente residiu no seringal Icuriã. Raimunda morreu
de parto, em 1909, a criança sobreviveu e pouco tempo após
foi levada por parentes para o Ceará, onde seguiu a vida.
No dia do falecimento Raimunda e seu marido, João
Moreno, estavam caminhando no varadouro, carregando
cargas nas costas, mesmo com o avançado estado de
gravidez. Com o peso e cansaço, a mulher sentou-se à
margem do caminho e o marido continuou a caminhada.
Mais à frente ele encontrou outras pessoas, com as quais
manteve uma conversa enquanto esperava a mulher refazer-
se do cansaço.
O marido demorou para retornar ao local onde a
mulher estava descansando. Quando lá chegou encontrou
uma situação de desespero: ela havia entrado em trabalho
de parto sozinha, porém, a fraqueza, cansaço e sofrimento
causaram a morte de Dona Raimunda. Foi uma morte
solitária, na beira do caminho, contudo a criança estava viva.
Com a história difundida, a mulher do sofrido e
desastroso parto recebeu o nome de Santa Raimunda do

42
Bom Sucesso. Relatos da região são de que uma Santa é
uma segunda pessoa de Deus, por ele ouvir as intercessões
e, assim, atender as preces dos suplicantes para seus
pedidos tornarem-se graças e milagres. Esses seres
humanos especiais fariam algo semelhante ao que fez Jesus
pelo sofrimento humano.
Na capela de Santa Raimunda as cruzes são o
destaque na cabeceira. A mais alta tem 1,5m, mas há outras
menores, em metal, bem como algumas em madeiras. Há
inscrições em língua espanhola, agradecendo a alma do Bom
Sucesso, demonstrando a presença de pessoas dos países
vizinhos, Peru e Bolívia, próximos do Bom Sucesso.

Fonte: Pereira, 2021

43
ALMA MILAGROSA DA SEBASTIANA, COLOCAÇÃO
LUA NOVA, SERINGAL ICURIÃ

A Alma Milagrosa da Sebastiana, da colocação Lua


Nova, é lembrada por uma história de violência e agressão
que causou sua morte. Repetidas vezes as pessoas da
comunidade do seringal Icuriã referiram que a violência
praticada por um vizinho parece mais chocante diante de
mulher dedicada à família, cuidando dos filhos e afazeres
domiciliares. Há a percepção de que uma mulher cumpridora
de suas obrigações com sua família deveria desencorajar as
iniciativas agressivas de um homem, porém não foi isso que
aconteceu.
Certo dia, o marido de Dona Sebastiana saiu para seu
trabalho de cortar e colher borracha, deixando a mulher
sozinha. O vizinho se acercou e tentou uma aproximação, na
tentativa de manter relações sexuais com Dona Sebastiana,
porém a mulher não aceitou a investida do homem. Diante da
negativa, ele tornou-se agressivo, matando-a, e, após o
assassinato, manteve relações sexuais com o corpo sem
vida. Com o retorno do marido, a cena foi chocante: o corpo
da mulher caído e ensanguentado, tendo perto a criança mais
nova, que a mãe procurou proteger.
Mesmo com as tentativas de socorro constatou-se que
o agressor desferiu duas facadas fatais nas costas,

44
ferimentos que várias horas depois da morte continuavam
sangrando.
A data desse assassinato foi em novembro de 1978. A
lembrança que permaneceu na vizinhança é de que
Sebastiana tornou-se uma Alma Milagrosa, seu nome
completo não é lembrado, sua idade foi estimada entre 25 a
26 anos. Poucos meses após a morte iniciaram-se os
pedidos por graças e milagres, além do pagamento de
promessas para a Alma Milagrosa da Sebastiana da Lua
Nova. O local da sepultura tornou-se local de peregrinação e
muitas cruzes foram fixadas, valas, fitas, fotos e as esculturas
de partes do corpo representando milagres foram
depositadas.

O CAMINHO ATÉ LUA NOVA, ICURIÃ

O ponto de partida para ir até Lua Nova é Assis Brasil,


seguir pela “Varadouro do Icuriã”, um caminho muito
conhecido na região, até a antiga colocação Primavera, logo
em seguida a colocação Altamira. A partir desse ponto o
caminho sai do varadouro principal, seguindo até a antiga
colocação Lua Nova, em marcha normal uma hora a pé. Toda
a viagem pode demorar um dia. Essa localidade está na área
do município de Sena Madureira

45
CAPÍTULO 5

SENA MADUREIRA

CIVISMO, LOCAIS SAGRADOS E UM MONUMENTO


ARQUITETÔNICO EM UMA “CIDADE MODERNA”
NO INÍCIO DOS SERINGAIS

O Decreto Federal 5.188 de 07 de abril de 1904, que


criou o Território Federal do Acre definiu a organização
administrativa em Departamentos, com suas Prefeituras.
Para administrar Departamento do Alto Purus foi escolhido o
militar Antônio José de Siqueira de Meneses para “Prefeito
Departamental”, em 14 de abril de 1904.
Para sediar a nova administração pública foi criada a
localidade de Sena Madureira, em homenagem ao militar
Antônio de Sena Madureira, um militar pernambucano que
participou da Guerra do Paraguai. Por algumas
conveniências a instalação não foi no rio Purus, como o nome
indica, e sim no rio Iaco, no seringal Santa Fé (BRASIL, 1904;
CIDADES. IBGE, 2020)

46
Fonte: Arquivo Nacional

Na imagem acima, a Prefeitura Departamental do Alto


Purus, em Sena Madureira, uma construção com bom
acabamento, destacando-se as grades de ferro fundido nas
portas, certamente de procedência inglesa.

Os trajes alinhados na hora do registro indicam a


oficialidade de uma repartição pública, que mesmo em clima
quente demandava o uso de paletós e gravatas, certamente
muito desconfortáveis

47
A primeira Igreja de Sena Madureira, foi uma construção
muito modesta, em madeira e poucos adornos.

Fonte: Pertíñez, 2007

A primeira sinalização de um lugar sagrado em Sena


Madureira foi uma pequena igreja integrada nas primeiras
construções da localidade. Em 1908, o Bispo Dom Frederico
Benício Costa, em visita pastoral, criou a Paróquia Nossa
Senhora da Conceição, já tendo sua Igreja sede, e nomeou
o Padre Antônio Fernandes da Silva como Vigário. Esse
Padre tornou-se conhecido na Paróquia, permanecendo até
1915 (KLEIN, 2007).

48
PRESENÇA DA ORDEM DOS SERVOS DE MARIA

Entre 1919 e 1920 houve uma mudança na organização da


Igreja no Acre com a criação da Prelazia do Acre e Purus,
que foi anterior à Diocese de Rio Branco. Para conduzir e
realizar a missão da então Prelazia o Vaticano encarregou a
Ordem dos Servos de Maria, que se estabeleceu em Sena
Madureira em 1920. Para sinalizar essa chegada foi
implantado o “Cruzeiro da Ordem dos Servos de Maria”, na
praça central da cidade (Id.; Ibid.).

Fonte: foto do autor

49
O “Cruzeiro dos Servos de Maria” é um marco bem
visível no Mercado mais antigo da cidade. O ícone também
representa a cultura italiana no Acre, através da presença de
Bispos, Padres, Irmãos e Irmãs, que muito contribuíram com
a população local. Abaixo, a imagem da segunda Igreja de
Sena Madureira

Fonte: Pertíñez, 2007

Com a criação da Prelazia do Acre e Purus foi construída


uma Igreja em alvenaria, mais acolhedora para receber a
população e representar a sede episcopal. A imagem
registrou um ritual para a Nossa Senhora das Dores.

50
A PRIMEIRA CATEDRAL DO ACRE

Fonte: foto do autor

Na imagem acima, a primeira Catedral do Acre, da


então Prelazia do Acre e Purus. A construção do edifício
demorou oito anos, sendo inaugurado em três de abril de
1938. Em tempos de escassez foram utilizados os tijolos da
primeira Igreja, que foi demolida. Para a solidez do prédio
foram utilizados os trilhos do “Bonde de Sena Madureira”, há
tempos desativado.
Na foto os trilhos são vistos interligando os arcos, os
mesmos artefatos estão no interior com a mesma finalidade.
O Padre empenhado na criação do projeto arquitetônico foi
Egídio Maria Rovolón, que também participou da construção,

51
sendo um projeto único na região, sinalizando uma
contribuição da cultura italiana.

Fonte: foto do autor.

A imagem mostra o interior da primeira Catedral do


Acre, um esmero da arquitetura. Foi um grande esforço para
a cidade realizar essa construção. Arcos bem estabelecidos,
lindos vitrais na parede posterior e os mosaicos desenhando
um piso primoroso.

52
CAPÍTULO 6

FEIJÓ

O início dos seringais do rio Envira foi no final da


década de 1880. A localidade onde está Feijó iniciou como
“Seringal Porto Alegre”, do Sr. Francisco Barroso Cordeiro, e
seu sócio, Sr. Antônio Tavares Coutinho. Em 1906, o primeiro
Prefeito do Departamento do Alto Juruá, Thaumaturgo da
Silveira, buscou afirmar sua administração no interior,
promovendo o “Seringal Porto Alegre” a categoria de “Vila”,
atribuindo o nome de “Feijó”, com sentido patriótico.

Fonte: Pereira, 2021

53
O Decreto federal n. 968 de 12 de dezembro de 1938,
elevou a Vila para a categoria de cidade e sede do município
de Diogo Feijó – Feijó AC, do então Território Federal. O
primeiro Prefeito foi o Sr. Raimundo Augusto Araújo (DOS
REIS, 1974)

IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA


DO PERPÉTUO SOCORRO

Oratórios e rezas de terços para a Senhora do


Perpétuo Socorro são parte das primeiras famílias dos
seringais. A comunidade da Vila de Feijó dedicou sua igreja
para esta Santa. Em 1934 a comunidade encarregou o
Coronel Francisco Barroso Cordeiro e sua esposa, Sr.ª
Josefina Ribeiro Cordeiro para coordenarem a construção de
uma nova Igreja Matriz.

Com isso as preces e festejos para a Santa


aumentaram. Abaixo, temos a representação de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, em estilo bizantino, um dos
ícones mais antigos da cristandade.

54
Fonte: Diocese de Rio Branco

OS IRMÃOS QUININO

Dentre os personagens desta região se destacam os


irmãos Luiz e José quinino, afrodescendentes do rio Envira,
coragem, força e muito trabalho.
O Senhor Luiz Quinino foi considerado o “Homem mais
forte do mundo”, pelo tamanho robusto e força física, tendo
capacidade de erguer um camburão de 200 litros de óleo,
carregar pesadas cargas nas costas, bom como ter
resistência para longos percursos no remo de canoas.
Pela robusta estatura não havia sapatos com tamanho
apropriado em lojas, por isso, para atender o seu tamanho,

55
um sapateiro local fabricava seus sapatos sob medida, mas
mesmo assim ele preferia estar descalço. O Sr. Luiz fazia
uma dupla com seu irmão José em muitas tarefas pesadas,
como trabalhos de estiva em embarcações no seringal
Califórnia, no rio Envira. (KLEIN, 2018)

MARIA DA LIBERDADE:
A MENINA SANTA DO RIO ENVIRA

Santa Maria da Liberdade do rio Envira, nasceu em


uma colocação no interior do Seringal Liberdade, às margens
desse rio, em 1895. Seu nome era Maria do Livramento
Sobralino de Albuquerque, filha de Antônio Sobralino de
Albuquerque e Maria Sobralino de Albuquerque. Esse
seringal se localiza acima de Feijó, a quatro dias de viagem
em embarcação média. A menina Maria da Liberdade era
franzina, de cabelos louros, muito zelosa consigo mesma e
mantinha suas vestes alinhadas.
Na casa da família Albuquerque aconteceu um
desastre por terem permitido que crianças tivessem acesso
às armas, que na região eram usadas para caça. O irmão de
Maria, em um gesto de brincadeira, apontou uma espingarda

56
em sua direção, desferindo um disparo sobre a menina,
acertando o lado esquerdo de seu peito, causando um
ferimento grave. Seguiram-se nove dias de agonia da menina
no leito de morte. Nos últimos suspiros, Maria conseguiu
dizer que perdoava seu irmão por ter acontecido uma
fatalidade.
A morte de Maria da Liberdade aconteceu em meio
aos festejos e reza do terço de Nossa Senhora, em 15 de
outubro de 1908. Em pouco tempo surgiram relatos de
moradores sobre preces atendidas pela alma milagrosa da
menina Maria. Acontecimentos extraordinários foram
considerados milagres atribuídos à criança. Assim, o lugar de
seu sepultamento passou a receber a visitação das pessoas
atendidas em seus pedidos por graças, que também
realizavam rituais de pagamento de promessas. A menina
passou a ser chamada de Santa Maria da Liberdade,
considerando-se o lugar do Seringal Liberdade.
Com o passar do tempo, houve a migração de famílias
do rio Envira para Feijó. Com isso, surgiu a possibilidade de
se construir uma capela para a Santa Maria da Liberdade
nesta cidade. Em 1975, um grupo de pessoas, junto com o
Padre Alberto Roberto Urban, iniciou a construção dessa
Capela da Santa do Rio Envira. Entre os nomes relacionados
pela Paróquia de Feijó das pessoas que colaboraram na

57
construção da Capela constam: Luiz Alipe, Francisca Alipe,
Quincas Moreira, Dona Lígia, Helena Moreira, Francisca
Abreu, Raimunda Abreu e dona Neném Nunes.
A localização da Capela é no chamado “2º distrito”,
saindo do centro e passando à antiga pista de aviação. A
pequena Capela inicial passou por várias ampliações e, em
2017, integrava uma comunidade Católica da cidade, com a
participação de muitas famílias. No dia 15 de outubro
acontece uma importante celebração na Capela da Santa
Maria da Liberdade.

A CAPELA DA SANTA DO RIO ENVIRA

A capela abaixo sinaliza o local do sepultamento da


Santa Maria da Liberdade, no rio Envira. Para chegar nesse
local o caminho é subir as águas desse rio, a partir de Feijó.
Dependendo da embarcação o tempo de deslocamento será
de três a quatro dias. Com embarcações velozes o tempo
pode ser de quatro horas.
A capela da Santa na cidade de Feijó integra as
comunidades da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, é de fácil acesso seguindo a partir da Prefeitura

58
Municipal, atravessando a antiga pista de aviões no segundo
distrito. A data de maior festejo é de 15 de outubro.

Fonte: Paróquia N. Sr.ª do Perpétuo Socorro, Feijó

59
CAPÍTULO 7

TARAUACÁ

ATENÇÃO COM O NOME NATIVO

A atual cidade de Tarauacá foi, inicialmente, o Seringal


Boca do rio Murú. Em janeiro de 1907, em uma solenidade
cívica a localidade passou a ser a patriótica “Vila Seabra”, em
homenagem a um político baiano. Em 1912 a vila tornou-se
a sede do Departamento do Alto Tarauacá. Posteriormente
foi adotado o nome Tarauacá, o mesmo nome do rio com
origem na língua de povos naturais, significando “rio dos
troncos”, ou seja, em alusão aos muitos troncos de madeira
que descem pelo rio quando há o aumento do volume das
águas no período chuvoso.

NOVENÁRIO E FESTA DE
SÃO FRANCISCO

O novenário e festa mais popular de Tarauacá foi


iniciado por um Senhor de nome Raimundo Eustáquio de

60
Moura, Seu “Mourinha”, na localidade “Colônia Marechal
Hermes”, atualmente integrada na cidade. Foi para pagar
uma promessa ao São Francisco por ter sido salvo, por
milagre, de um naufrágio no rio Murú. Inicialmente foi uma
cerimônia particular que se tornou pública em 1927.
Com o tempo, a participação popular foi aumentando,
até que, em 1933 o Senhor “Mourinha” construiu uma capela
nas proximidades de sua casa para abrigar os suplicantes do
Santo. O novenário e festejo continuou aumentando, até que,
em 1941, a Paróquia de Tarauacá assumiu o grande evento
religioso no seu calendário, celebrando os festejos na sua
sede, como de costume, no dia 04 de outubro. A localização
dos festejos é nas dependências da Paróquia no centro da
cidade.

Fonte: Pereira, 2021

61
FESTA DE SÃO JOSÉ

São José é o padroeiro da Paróquia de Tarauacá,


seguindo uma tradição oriundo do Nordeste brasileiro. O dia
do Padroeiro é 19 de março, celebrado com festa e novenário
na cidade.

ALMA MILAGROSA DO IGARAPÉ CUJUBIM

A Alma milagrosa do igarapé Cujubim se refere a um


homem por nome José de França, que foi um dos primeiros
seringueiros da região do rio Gregório. Nos primeiros anos de
1900, José de França foi morto por índios desconhecidos
enquanto cortava seringa. Os vizinhos deram por sua falta,
foram à sua procura e encontraram seu corpo. Devido ao
estado avançado de decomposição do cadáver, o
sepultamento foi no local onde estava.
Os vizinhos do Sr. José entenderam que a morte
violenta de um seringueiro trabalhador e o fato de o local
onde estava o corpo estar limpo, sem folhas e sem
vegetação, eram sinais de santidade. Após o sepultamento,
o local mantinha-se misteriosamente limpo, de folhas e
vegetação, e isso foi a primeira interpretação de milagre da

62
Alma Milagrosa de José de França. Seguiram-se as preces e
pedidos por graças para a Alma milagrosa, com as
promessas para retribuição, caso a graça fosse alcançada.
Suplicantes dirigiam-se até o igarapé Cujubim para
realizarem seus ritos de pagamento das promessas.

O CAMINHO PARA IR ATÉ O LOCAL


DA ALMA DE JOSÉ FRANÇA

O caminho indicado é a partir da ponte do rio Gregório


na BR 364, Tarauacá. A partir desse ponto seguir até a
embocadura do igarapé Apiurí, subir as águas até o igarapé
Cujubim, continuar subindo até o local da Alma milagrosa.
Em canoa ágil todo o caminho pode ser realizado em três
horas. A partir da entrada no igarapé Cujubim o trecho é
curto. Na localidade da ponte do rio Gregório na BR 364 há
possibilidade de contratar pessoas com canoas que
conhecem os igarapés da região.

63
CAPÍTULO 8

ALTO JURUÁ - AM

UM LUGAR SAGRADO PARA SÃO FRANCISCO


EM SÃO FELIPE, RIO JURUÁ, ATUAL EIRUNEPE

Na formação dos seringais do rio Juruá foi criado o


seringal São Felipe, nas proximidades da confluência do Rio
Tarauacá. Pelas características do volume de água do rio
Juruá até São Felipe a localidade tornou-se um ponto de
afluência de embarcações com cargas maiores, que nesse
ponto eram descarregadas e seguiam em embarcações
menores para os altos rios. Com o movimento comercial e a
necessidade de marcar a presença oficial do Estado São
Felipe tornou-se uma Intendência Municipal em 1905.
No início de São Felipe houve a continuação da
tradição brasileira de celebrar a festa e novena para São
Francisco, até que em 1908 se iniciou a construção de uma
Igreja dedicada para esse Santo. A modesta capela foi
elevada para a categoria de “Freguesia”, equivalente ao que
se conhece por paróquia, em 1909. Dois anos após essa

64
modesta freguesia tornou-se um ponto de apoio para os
Padres realizarem suas atividades pastorais para os altos
rios.

Fonte: foto do autor

65
A localidade mudou de nome para João Pessoa, por
influência de Getúlio Vargas. Posteriormente foi adotado um
nome nativo: Eirunepé, em alusão ao rio Erú, ali próximo, na
língua nativa “o velho” e igarapé, “o caminho das águas”. Em
relação às tradições com o Santo protetor, foi promovida uma
mudança em 2016, renomeando a Igreja Matriz para a
categoria de Santuário de São Francisco, realizou-se uma
remodelação e ampliação do edifício para receber a
comunidade em suas grandes celebrações.
Ao mesmo tempo, continua sendo a Igreja Matriz de
uma ampla paróquia, com comunidades no rio Juruá e vários
afluentes, bem como as comunidades dos bairros da cidade.
O SANTUÁRIO canônico significa atendimentos, por parte da
organização paroquial, de muitas pessoas que se dirigem ao
local para realizarem suas obrigações com o Santo.

O NOVENÁRIO, FESTA E PROCISSÃO DE SÃO


FRANCISCO EM EIRUNEPÉ

O festejo do novenário de São Francisco de Eirunepé


tem o tempo alto entre os dias 24 de setembro a 04 de
outubro, dia do Santo. Realizam-se ritos da tradição cristã,
com diferentes atos e símbolos. Um importante rito, seguindo

66
a tradição cristã e católica é a reza do terço, que remontam
ao início do seringal São Felipe, antes de ser uma vila.
Portanto, não há data precisa para se estabelecer o início das
tradições dos seringais. Seguiram-se rituais da cristandade
com fé em seus santos, como acontecia no nordeste
brasileiro.
Nos dias que antecedem ao festejo, as ruas laterais da
Igreja Matriz recebem um grande número de barracas para
diversos serviços, principalmente a oferta de comidas e
bebidas, bem como artesanato, vestuário e muitos outros
bens de uso geral. Ao lado da Igreja Matriz há um local amplo,
uma praça, para a realização dos rituais de preces, missas e
encenações, tudo ao ar livre. O interior do Santuário, a Igreja
Matriz, é utilizado para as preces ao São Francisco, algumas
missas, batizados e outras atividades.
O número de pessoas que procuram aproximar-se da
imagem de São Francisco é grande, e durante os dias do
novenário, a movimentação aumenta ainda mais. Muitos
pagadores de promessas, homens, mulheres e crianças,
vestem túnicas semelhantes às vestes do Santo, com o
cordão da cintura em destaque.
O cortejo foi seguindo pela rua principal da cidade,
tendo sempre em destaque o andor do Santo. As preces,
cânticos e mensagens, encabeçadas por um grupo mediante

67
os aparelhos de som, formou uma unidade ritual com o
cortejo seguindo pela cidade (Id.; Ibid.).
O trajeto da procissão, contornando a praça, devia ter
mais de 1000 metros. A maioria das pessoas portava uma
vela, muitos vestiam a túnica imitando as vestes do Santo,
também com o cordão de São Francisco, com ou sem os três
nós, que representam os votos de um monge. Grupos de
familiares ou amigos podiam ser vistos por proximidades das
pessoas. Enquanto a procissão seguia, muitos devotos
ficaram nas proximidades do Santuário.

Fonte: Pereira, 2021

68
A REPRESENTAÇÃO TEATRAL SOBRE SÃO
FRANCISCO, O SANTO DOS POBRES

A representação teatral sobre a vida de São Francisco


está incluída na programação do novenário de Eirunepé, em
duas ou três noites. São momentos de grande atenção do
público. O vestuário dos atores procura manter as
características da época do Santo. A apresentação segue
vários atos em cenários que indicam locais de
acontecimentos vividos por São Francisco.

O ator que o representa deve seguir uma dieta


especial restritiva para perder peso e aparentar fragilidade
atribuída ao Santo. As vestes usadas e a maquiagem
representam as características de um homem magro e frágil.

A encenação procura narrar parte da história dos


frades franciscanos, focando dificuldades na formação da
Ordem dos Franciscanos, tais como graves conflitos na
Igreja, onde os frades não eram bem-vindos. Na encenação
também se inclui a colaboração de Santa Clara de Assis e
outras mulheres na origem da grande família franciscana.

69
ALMA MILAGROSA DO ITUCUMÃ EM EIRUNEPÉ

A alma milagrosa do Itucumã se refere a um homem


que viveu nesse igarapé e, devido suas qualidades
humanitárias, bondade e generosidade tornou-se uma
entidade espiritual. O nome não é mais conhecido, sabe-se
que sua morte e sepultamento foi na colocação Santa Luzia.
A cruz no local originou o nome “Cruz Milagrosa do Itucumã”,
um marco sagrado em um igarapé distante, onde muitos
suplicantes pagam suas promessas. As embarcações,
pequenas e grandes, que se aproximavam do local, têm sua
marcha diminuída em sinal de respeito e deferência. Muitas
pessoas param para fazer suas preces ou pagar promessas
anteriores.

Fonte: Paróquia S. Francisco, Eirunepé, Amazonas

70
O CAMINHO ATÉ A “CRUZ MILAGROSA DO ITUCUMÔ

Para ir até essa localidade a referência e a cidade de


Eirunepé – AM, no rio Juruá. A confluência do rio Tarauacá
com o Juruá é nas proximidades da cidade. A distância de
subida do rio Tarauacá, a partir da embocadura, é de um dia
de viagem em embarcação média, até o igarapé Itucumã,
desse ponto a subida é de três horas de embarcação.
A localidade está no seringal Santo Antônio do
Itucumã. O tempo de deslocamento pode ser abreviado para
algumas horas ao se utilizar uma embarcação de maior
velocidade. Na cidade de Eirunepé, com tradição fluvial, há
muitas opções de embarcações para viagens locais.

Fonte: Pereira, 2021

71
A ALMA DO MILAGRE DAS ROSAS
BRANCAS DE IPIXUNA

Fonte: Pereira, 2021

Fonte: www.oestemais.com.br

72
A Alma do milagre das rosas brancas também é
conhecida como “Alma do Paraná Pesqueira”, um pequeno
afluente do rio Juruá, distante de algumas voltas do rio de
descida, a partir de Ipixuna – AM. Em vida, a pessoa que se
tornou essa Alma Milagrosa foi um rapaz de nome João,
residente em uma colocação do Paraná Pesqueira, distante
algumas horas de marcha do rio Juruá.
Na década de 1960, João era conhecido pelos
vizinhos como um rapaz de saúde muito frágil, apresentava
uma enfermidade de pele, que mesmo com algumas ajudas
na região não foi identificada e nem teve tratamento
adequado.
A enfermidade implicava em sofrimentos, feridas pelo
corpo, fraqueza e uma vida de recolhimento. No início da
década de 1970, a saúde de João agravou-se e ele morreu,
devido a essa enfermidade, com muitas feridas. O corpo foi
sepultado na colocação onde morava com sua família, no
Paraná Pesqueira. (Paraná é palavra Tupi que designa um
curso de água com a característica de ser espraiado e fluxo
lento).
Um fenômeno diferente foi percebido por quem
passava nas proximidades: um suave perfume de flores era
sentido nos arredores do local onde estavam os restos
mortais de João. Um dos vizinhos aproximou-se e teve uma

73
surpresa ao ver que uma linda e robusta roseira branca havia
nascido sobre a sepultura.
O aspecto muito diferente foi que ninguém havia
plantado essa roseira, era uma planta muito rara na região, e
vizinhos afirmavam que foi um milagre da Alma do Paraná
Pesqueira. O suave aroma e a linda roseira branca foram
considerados um milagre especial da Alma de uma pessoa
sofredora, que suportou suas dores em uma vida recolhida,
sem recursos para solucionar seu grande problema.

74
CAPÍTULO 9

CRUZEIRO DO SUL

É UM NOME CÍVICO COM ORIGEM


NA OBSERVAÇÃO DOS RIOS

A nomeação de Gregório Thaumaturgo de Azevedo


para Prefeito do Departamento do Alto Juruá foi m 14 de abril
de 1904 e a instalação da Prefeitura Departamental foi no dia
28 de setembro de 1904, com uma demora em relação ao
previsto inicialmente devido as longas distância percorridas
pela comissão de instalação. A localidade onde se deveria
firmar o novo marco do Estado brasileiro deveria ter um nome
marcante. A opção foi por um nome cívico e se buscou na
cultura popular do Juruá para criá-lo.
Havia a compreensão, entre os seringueiros da região,
de que nas localidades onde dois afluentes do rio Juruá
formavam uma foz, um em frente ao outro, havia um
“cruzeiro”, portanto, um “cruzeiro” tendo o Juruá como linha
central e as águas de dois afluentes, de um lado e outro. A
partir desse entendimento da população local foi criado a

75
nome cívico de Cruzeiro do Sul, em uma alusão ao cruzeiro
estrelado da bandeira brasileira (BRASIL, 1905; CASTELO
BRANCO, 1930).
A ata de instalação da Prefeitura Departamental do
Alto Juruá sinalizou a força da oficialidade do governo
brasileiro no ato. Os nomes do presidente da república e
todos os ministros foram mencionados. As autoridades de
destaque presentes foram: o Prefeito nomeado Gregório
Thaumaturgo de Azevedo, o juiz de direito nomeado para o
Departamento, o Promotor Público, O Escrivão, O Tabelião,
o Tenente Coronel da Guarda Nacional, O Comandante do
15º Batalhão de Infantaria, Oficiais do Exército e funcionários
da Prefeitura. Inicialmente, o marco da oficialidade brasileira
foi a localidade denominada por Thaumaturgo de Azevedo de
“Invencível”, na margem direita do rio Juruá.
A terra comprada para construção da nova Prefeitura
foi denominada de “Centro Brasileiro”, situada na margem
esquerda do Juruá. Nesse ato de fundação do Departamento
do Alto Juruá foi adotado o nome de Cruzeiro do Sul para sua
sede e foram oficializadas as escolas primárias “Visconde do
Rio Branco” e “Rodrigues Alves”.
As principais autoridades discursaram e foi lançada a
“Pedra Fundadora” do prédio da Prefeitura Departamental.
Nesse marco fundador foi inserida uma caixa metálica

76
contendo os discursos proferidos na ocasião da inauguração,
jornais e revistas contendo notícias sobre o Alto Juruá e
vários moedas e documentos considerados importantes para
a ocasião.
O ritual de instalação teve a exibição de evoluções
especiais da Companhia de Guerra, acampada nas
proximidades. A ata foi assinada por 101 pessoas, entre
autoridades e convidados ilustres; militares de patentes
menores e soldados não assinaram o documento (DE
PAULA, 1974).

A DEMARCAÇÃO DO PRIMEIRO LUGAR SAGRADO


PARA A IGREJA DE CRUZEIRO DO SUL

O início de Cruzeiro do Sul – AC não aconteceu como


a maioria dos seringais e localidades do rio Juruá em medos
da década de 1880. A criação dessa localidade aconteceu
posteriormente em um processo oficial do Estado brasileiro,
estendendo sua presença nessa terra distante.
A primeira demarcação de um lugar sagrado em
Cruzeiro do Sul foi do cemitério, com uma pequena e frágil
capela. No primeiro mapa planificador da cidade de 1906,
reservava-se uma quadra para a Igreja Nossa Senhora da

77
Glória, no local que se tornou conhecido como “Morro da
Glória”.
Essa indicação não teve continuidade e,
posteriormente, foi definido um terreno na “Praça Visconde
de Rio Branco” com a presença do Padre Raymundo de
Oliveira, representando a Diocese de Manaus. Mesmo com
muitos esforços, Cruzeiro do Sul continuou sem uma
construção da Igreja. Para demarcar o local sagrado
destinado para a Igreja de Nossa Senhora da Glória, realizou-
se um ritual, em vários atos, entre 31 de dezembro de 1913
e primeiro de janeiro de 1914.
O primeiro ato foi do Padre Constantino Tatevin, que
estava em visita pastoral, que organizou um grupo de
pessoas para escolherem um local bonito e central para a
construção da futura Igreja. Também foi encomendada uma
cruz em madeira de lei para ser implantada naquele local. No
dia 31 de dezembro, a cruz de cinco metros estava pronta e,
no início da noite, foi coberta de flores (KLEIN, 2019.A).
Mesmo com a solenidade a construção da Igreja foi
iniciada somente em 1916, quando o Padre Affonso
Donnadieu assumiu a Paroquia de Cruzeiro do Sul. Tratava-
se de uma modesta capela construída por uma irmandade
dedicada à Santa.

78
Fonte: Arquivo Nacional

Na foto acima a primeira Igreja de Cruzeiro do Sul, no


alto do “Morro da Glória”, no plano posterior às árvores, no
alto. Uma construção modesta, coberta de palha, que junto
com o novenário de Nossa Senhora da Glória reúne e
identifica pessoas com Cruzeiro do Sul.

Posteriormente foi construída a “Catedral de Madeira”


com três pequenas torres, que por muitos anos foi uma
referência de celebrações na cidade. A atual Catedral de
Nossa Senhora da Glória foi inaugurada em 1968.

79
NOVENÁRIO, FESTA E PROCISSÃO EM HONRA À
NOSSA SENHORA DA GLÓRIA: UM DOS MAIORES
EVENTOS POPULARES DO ACRE

O novenário, festa e procissão em honra à Nossa


Senhora da Glória tem sua origem em uma irmandade dessa
Santa incentivada pelo Padre Affonso Donnadieu em 1915,
quando assumiu a Paróquia de Cruzeiro do Sul. O primeiro
novenário e procissão foi realizado em 1916, coordenado
pelo então novo Padre e foi o marco inicial, seguido todos os
anos, em crescimento sucessivo de público e simbologia de
rituais.
O grande fenômeno social constitui-se em solenidades
religiosas, incluindo alguns símbolos cívicos em rituais
públicos, incluindo celebrações das Santas Missas, tudo
integrado nas atividades pastorais da Diocese de Cruzeiro do
Sul.
Em 2017, o Novenário iniciou no dia 05 de agosto. O
primeiro ato foi a ornamentação do andor de Nossa Senhora
da Glória, durante a tarde. Esta tarefa envolveu senhoras da
comunidade, que dedicaram sua atenção para preparar a
imagem da solenidade. Rosas brancas foram as flores em
maior número. Às 19h30min, o andor da Santa estava no
pátio da Catedral. Com a entoação do cântico de entrada
para a Santa Missa, quatro oficiais da Polícia Militar do Acre

80
conduziram o andor para o interior da Catedral, sendo
seguido pela procissão dos celebrantes da Santa Missa.
Na continuação, seguiu o rito da Santa Missa. Às
20h50min, a Orquestra do 61º Batalhão de Infantaria de
Selva estava posicionada no pátio da Catedral, onde, nas
proximidades, também estavam perfiladas as autoridades: a
Senhora representante do Governo do Estado do Acre, o
Secretário de Cultura do Município de Cruzeiro do Sul e a
Senhora Josefa Pôncio Maia (O Prefeito da cidade não
compareceu).
Em ato seguido, foi entoado o hino de Nossa Senhora
da Glória, enquanto se hasteava a Bandeira da Santa em
frente à Catedral. Em seguida foi executado o Hino do Estado
do Acre com o hasteamento da respectiva Bandeira, seguido
do Hino e Bandeira do Município de Cruzeiro do Sul. Ao final
dos hinos houve uma estrondosa queima de fogos.

ADÉLIA DE CAMPOS SOBRAL: A SANTINHA DO JURUÁ

Adélia de Campos Sobral foi uma pessoa acometida


por hanseníase, chegando ao estágio muito grave da
enfermidade. No início da década de 1940, foi uma das
primeiras pacientes a ser internada no leprosário de Cruzeiro

81
do Sul, que posteriormente tornou-se a Colônia Ernane
Agrícola. A gravidade da enfermidade, limitações em lidar
com os problemas e a ausência de assistência causaram
danos graves com mutilações na senhora Adélia.
Seu falecimento foi em torno de 1945 (data estimada).
Os pedidos por graças e milagres se multiplicaram,
principalmente entre indivíduos isolados no leprosário, bem
como na continuação da colônia Ernane Agrícola.
Um dos relatos de graças recebidas é do um homem
com um ferimento em um olho, que mesmo com assistência
de saúde recorreu à Santinha e foi curado. Três dias após o
pedido do milagre, o homem fez a higiene matinal do rosto,
com cuidado especial para o olho doente. Com os olhos
molhados, passou uma toalha leve sobre o olho afetado,
percebeu que algo aconteceu nesse momento, olhou sobre a
toalha e viu um pequeno objeto estranho no pano.
Olhou com mais atenção e viu uma pequena farpa de
madeira que causava todo o problema. Logo percebeu que
suas preces tinham sido atendidas, pois a farpa do olho foi
removida. A Santinha do Juruá ouviu seu suplicante em
sofrimento.

82
Fonte: foto do autor

Acima a sepultura de Adélia de Campos Sobral “ A


Santinha do Juruá”, assim está escrito em sua lápide, que
devido ao desgaste a foto está opaca.
A localização demarcada da “Santinha do Juruá” está
na cidade de Cruzeiro do Sul, bairro do telégrafo, rua do Pará,

83
na altura do número 1030. O acesso é fácil, em ruas
pavimentadas.

Fonte: Pereira, 2021

84
CAPÍTULO 10

MÂNCIO LIMA

SERINGAIS, COLÔNIAS E CIDADE

A atual cidade de Mâncio Lima tem suas origens


relacionadas com o Seringal Jaraguá, do Coronel Mâncio
Lima, e o Paraná Japiim, afluente do rio Moa. Japiim é
também o nome de um pássaro, assim se originou o primeiro
nome da localidade: “Vila Japiim”. Com o passar do tempo foi
adotado o nome de um homem atuante na dinâmica política
da região e que muito contribui para o desenvolvimento local.
Trata-se do Sr. Mâncio Agostinho Rodrigues de Lima,
um grande empreendedor na sua época, também lembrado
por seu animal de montaria: um cavalo branco, inconfundível
nos varadouros da região (KLEIN, 2019. B).
A cultura da cidade de Mâncio Lima tem uma tradição
de celebrarem ritos e litanias para dois Santos Tradicionais:
São Francisco e São Sebastião. Na formação da cidade
surgiram duas comunidades, cada qual identificada com um
dos Santos. A Igreja situada na praça da rua principal da

85
cidade é dedicada ao São Sebastião, com seu novenário,
festa e procissão em janeiro.

Fonte: Diocese de Rio Branco. São Sebastião

Fonte: cruzterrasanta.com.br. São Francisco

86
No bairro, conhecido por “colônia” se localiza a
comunidade São Francisco, com sua grande Igreja matriz,
igualmente com seu novenário, festa e procissão no mês de
outubro. São duas grandes celebrações populares que
reúnem pessoas de toda a região.

87
CAPÍTULO 11

PORTO WALTER

SÃO JOÃO DO BARRO ALTO

A Alma milagrosa de São João do Barro Alto é


frequentemente lembrada como Santa Alma do Barro Alto, ou
São João do Barro Alto, foi um dos primeiros seringueiros da
região, homem muito trabalhador, que adoeceu gravemente,
provavelmente de uma forte malária.
Os vizinhos iniciaram a viagem para procurar socorro
no barracão do seringal, porém, no trajeto, o enfermo não
suportou a febre e o sofrimento, morrendo no caminho. A
decisão foi sepultar o falecido no alto daquela terra, em uma
volta do igarapé, que parecia um lugar apropriado para o
descanso de um homem sofredor. A partir da demarcação do
local do sepultamento, todos que passavam na terra alta logo
lembravam do Senhor João, que lá descansava.
Não demorou e os suplicantes da Alma Santa foram
atendidos em seus pedidos, logo após, seguiram-se os ritos

88
para o pagamento de promessas e o local tornou-se um
ponto de peregrinações.

Fonte: Pereira, 2021

O CAMINHO ATÉ A CAPELA DO


SÃO JOÃO DO BARRO ALTO

O ponto de partida é a cidade de Porto Walter, a


viagem segue pelo rio Juruá, de subida, cerca de três horas,
em canoa motorizada, até a embocadura do igarapé Grajaú,
também conhecido por Barro Alto, localizado no antigo

89
seringal Grajaú. Ao entrar nesse igarapé, a subida continua
por mais duas horas. De longe se avista uma terra alta com
marcas de caminhos para subir até a capela do Santo. Em
Porto Walter muitas pessoas que conhecem bem essa
localidade, portanto há facilidade de transporte.

90
CAPÍTULO 12

MARECHAL THAUMATURGO

OS MENINOS IRMÃOS SANTOS DE


NOVA OLINDA E SÃO SEBASTIÃO

Na década de 1900 a 1910, sem data definida,


aconteceu o assassinato de dois meninos na localidade de
Nova Olinda, acima do ponto conhecido como “Restauração”,
seguindo no igarapé Machadinho. Dependendo do volume
das águas o acesso pode ser pelo igarapé São Luiz, ambos
integram a micro bacia do rio Tejo, em Thaumaturgo - Acre.
Sobre os nomes dos meninos não há certeza,
tornaram-se conhecidos como as “Almas Santas de Nova
Olinda”, com referência ao lugar dos acontecimentos.
Os dois meninos ajudavam o pai na limpeza de uma
estrada de seringa e também recolhiam a seiva das
seringueiras após o corte. No dia do acontecimento, um dos
meninos preparava a merenda e o outro foi recolher a seiva,
chamada de leite das seringueiras. Porém, enquanto
realizava o trabalho, sofreu um ataque de Índios. Aquele que

91
preparava a merenda ouviu os gritos do irmão e correu em
seu socorro, mas ao se aproximar também foi emboscado.
Entre os motivos de se atribuir qualidades especiais
aos meninos foi o fato de um dos corpos estar intacto muitas
horas após o acontecido, sem nenhum sinal de
decomposição e nenhum animal ou inseto o atacou. Esse
fato do corpo intacto, preservado dos animais e insetos após
três dias, foi interpretado como sinal de santidade.

Fonte: Pereira, 2021

Uma característica do lugar sagrado, onde estão os


restos mortais, é o fato de estar nas proximidades do igarapé,

92
sofrer alagamentos e, mesmo com o movimento das águas,
não ser afetado por erosão. A sepultura continua sem
alterações e preservada por anos no lugar em que a queda
de barrancos seria normal com mudanças nos cursos das
águas.

O CAMINHO PARA CHEGAR ATÉ NOVA OLINDA

A distância da cidade de Thaumaturgo até o local


demarcado dos dois meninos em Nova Olinda é medida, em
média, por cinco dias de viagem de canoa e mais uma
marcha a pé, dependendo do nível de água nos igarapés. Há
duas referências para encontrar o caminho até este local: os
igarapés São Luiz e Machadinho que são parte da bacia do
rio Tejo no Alto Juruá.
O caminho por água é, a partir do rio Juruá, subir o
Tejo, tendo como referência o ponto conhecido por
“Restauração”. Continuando a subida há um caminho pelo
igarapé São Luiz e outro pelo igarapé Machadinho, seguindo
até a localidade de Nova Olinda. Isso tudo quando o volume
de água permite o trânsito de canoas.
Há muitos nomes de igarapés na região, podendo ser
difícil para pessoas de outras localidades encontrarem o

93
caminho certo, daí a necessidade de buscar um guia, de
preferência em Thaumaturgo, que conheça os caminhos para
ir até Nova Olinda.

Fonte: FADISI

Acima o local sagrado dos Meninos Santos de Nova


Olinda. Dois cruzeiros indicam a sacralidade do local,
certamente colocados por pagadores de promessas, no alto
a capela. Na imagem se visualiza a pequena elevação de
terra do local do sepultamento, onde as pessoas estão

94
colocando as velas. Há um deposito de cera acumulada ao
longo do tempo.

Fonte: Pereira, 2021

A TRADIÇÃO DO NOVENÁRIO, PROCISSÃO


E GRANDE FESTA À SÃO SEBASTIÃO

A tradição luso-brasileira da procissão e novena para


São Sebastião foi levada para o Alto Rio Juruá, no início dos
seringais. Não há uma data precisa para indicar o primeiro
ritual dedicado para o Santo na localidade. Há muito o
novenário, procissão e festa para São Sebastião é um grande

95
evento religioso na cidade. Assim, no dia 20 de janeiro a
cidade está em festa suplicando a ajuda ao Santo padroeiro.
Outra tradição seguida nas comunidades do Alto Juruá
e a festa e reza do terço para Santa luzia, no dia 13 de
dezembro. São eventos sociais dedicados à Santa, na
maioria para cumprimento das promessas realizadas nos
pedidos por graças e milagres, sendo repetidos em muitos
locais, na comunidade paroquial da cidade, por exemplo, é
uma solenidade muito participada.

96
REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério de Relações Exteriores. Relatório de atividades


1904. (Disponível do Arquivo Nacional)

_________ . Ministério das Relações Exteriores. Relatório da Comissão


Mista – Brasileiro Peruana, 1907. (Disponível no CCSD da UFAC)

CASTELO BRANCO, José Moreira Brandão. O Juruá Federal.


(Congresso Internacional de História da América.) Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930.
(Disponível na Biblioteca do Seminário Maior São João Vianey da
Diocese de Cruzeiro do Sul.)

CASTRO, Genesco de. O Estado independente do Acre e J. Plácido


de Castro: excerptos históricos. Brasília: Senado Federal, 2002.

CIDADES. IBGE. Assis Brasil. Disponível em


<https://cidades.Ibge.gov.br> Acesso em 04/01/2021.

__________. Sena Madureira. Disponível em


<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/Senamadureira> Acesso em
04/01/2021.

__________. Xapuri. Disponível em


<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/xapuri/> Acesso em 04/01/2021.

97
DE PAULA, Eurípides Simão. A cidade e a história. In: Anais do VII
simpósio nacional dos professores universitários de história, 1973
Belo Horizonte. Anais. São Paulo. ANPUH, 1974.

DOS REIS. Josué Callandres. Arrolamento das fontes históricas de


Feijó. Acre. Faculdade de Filosofia, ciências e letras de São José dos
Campos. São Paulo, 1974.

FADISI, Faculdade Diocesana são José. Estudo da História


da Igreja do Acre, relatos de Porto Acre, 2018 e 2019.

KLEIN, Estanislau Paulo. As Contribuições da Igreja do Acre e Purus


Para a Ética Social. Rio Branco: EDUFAC, 2007.

__________. Porto Acre: cultura cívica e história. Rio Branco: EAC


Editor, 2018.

___________. A Igreja de Cruzeiro do Sul, afirmação da identidade e


da ética social no Alto Juruá. Rio Branco: EAC Editor, 2019, A.

____________. A cultura política no Acre: Estado, sociedade e saúde


pública. Rio Branco: EAC Editor, 2019, B.

PEREIRA, Erikis Fernando. Serviço Cartográfico: mapas de


localização. Rio Branco, 2021.

PERTÍÑEZ Fernández, Joaquim. História da Diocese de Rio Branco.


Rio Branco: Edição da Diocese de Rio Branco, 2007.

98
Prof. Dr. Estanislau Paulo Klein
É doutor em Saúde Pública pela
Universidade de São Paulo (2010),
Mestre em Antropologia pela Universi-
dade Federal de Pernambuco (1996) e
graduado em enfermagem pela
Universidade Federal do Acre (1986).

Erikis Fernando Pereira


Geógrafo formado na UFAC. É Técnico
no Centro Integrado de Geo-
processamento e Monitoramento
Ambiental (CIGMA) do Estado do Acre

Samora da Silvia Klein


É licenciado em ciências biológicas
pela Uninorte. Colaborador em
trabalhos de pesquisa na Embrapa e
Ufac. É professor e trabalha na
Secretaria Estadual de Cultura.

Sílvia Souza Lima


É licenciada em educação física pela
UFAC, é ex-bolsista do Programa de
Educação Tutorial, é autora e
coautora em artigos.
Esta publicação foi realizada com apoio
financeiro da Fundação de Cultura Elias
Mansour, Acre, considerando a Lei Estadual
Nº 2.312 de 23/10/2010 e seguindo o Edital
“Culturas Tradicionais e Populares/ 2020,
bem como a Lei Aldir Blanc.

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