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ADM. 131.

LOISE DA COSTA SANTOS

PERSPECTIVA ÉTICA DO UBUNTU


Filosofia Ubuntu e a ética africana

NITERÓI
2021
Filosofia e ética Ubuntu

“Uma árvore não pode fazer floresta.”


(Provérbio Bini, Edo.Nigéria)

Primeiramente, para se definir o que é filosofia ou ética Ubuntu é necessário saber


o que é filosofia africana.
Essa pode ser definida por dois critérios. Segundo Chimakonan 2020, a filosofia
seria africana se fosse produzida por africanos, sendo esse o primeiro critério. Porém o
segundo critério é mais utilizado e difundido. Pois apresenta uma maior profundidade no
tema. Uma filosofia africana se faz na medida em que o indivíduo se aceita no fundo cultural
e no pensamento africano, não importando se a questão abordada é africana ou se a
filosofia é feita por um. Ela se estabelece à medida que tem aplicabilidade universal e surgiu
do âmbito do sistema africano de pensamento.
Para o autor a filosofia Africana surge de modo diferente da filosofia ocidental,
surgindo por meio da palavra Onuma, que traz a ideia de frustração. Ela se fundamenta
nessa palavra pois, quando estudantes africanos, iam estudar em universidades europeias
eles eram ignorados, e nesse contexto, como uma forma de resistência alguns desses
estudantes e pesquisadores começaram a buscar uma forma de mostrar que eles também
detêm uma filosofia e conhecimento.
Essa filosofia se constitui de diversos métodos. O método da complementaridade,
em que diferentes elementos se somam e se complementam, o da conversação, onde
pessoas se juntam para dialogarem e produzirem conhecimento e o método comunitário
em que o Ubuntu se insere. Esse último carrega uma ideia de mutualidade, encontrada nas
expressões clássicas do ubuntu, onde mostra que “uma pessoa é uma pessoa através de
outra pessoa.” Ou conforme John Mbiti, “eu sou porque somos, uma vez que somos,
portanto Eu sou.” Os que empregam essa ideia desejam mostrar o conceito de
interdependência mútua.
Ela possui dois elementos principais que poderiam ser identificados como mais
íntimos e próprios da mesma. O primeiro bastidor do Ubuntu seria o chamado Placid
Tempels surgindo por conta do missionário - de mesmo nome - franciscano no Congo que
se tornou famoso pelo seu livro “ Bantu Phylosophy” ele produziu essa obra para contra
argumentar a obra de Levy Bruhl que tinha imputado aos africanos falta de habilidade
mental, sugerindo que essa deficiência se dava por eles serem negros. Em contrapartida,
Tempels argumentava que os africanos tinham uma cultura e uma filosofia própria, segundo
ele a filosofia Bantu. De acordo com Mogobe Ramose “A filosofia na África tem uma tarefa
e uma responsabilidade muito importante que é lutar pela razão, e filosofia deve começar
por este problema, dizendo que a razão está presente na África e que as pessoas usam a
razão. Todo o ser humano tem sua razão. “.
Já o segundo bastidor que pode ser identificado, é a própria cultura Bantu. Os
bantus estão nas áreas subsaarianas da África meridional, onde de certa forma são melhor
situadas economicamente acarretando assim em uma educação à frente dos outros países
do continente. Os povos étnicos indígenas da África Subsaariana são falantes da língua
bantu, abarcando locais como o Zimbábue (povo Shona), África do Sul (povo Zulu),
R.D.Congo (povo Luba) entre outros. Porém em cada local do continente o nome da
filosofia é diferente, todavia a designação mais utilizada habitualmente, origina-se do povo
Zulu.

Ao compreender a filosofia africana, os métodos da mesma e alguns bastidores do


Ubuntu é possível dar significado ao mesmo. Essa palavra pode ser traduzida como, “uma
pessoa é uma pessoa por causa ou através de outras pessoas” segundo MOLOKE, TUTU e
KHOMBA de 2011. Dessa maneira pode-se analisar que as pessoas não existem sem as
outras.
Cada um dos pesquisadores dessa filosofia possui uma ideia semelhante do
significado da palavra, porém com algumas distinções. Segundo Ramose ela pode
significar que, ser um ser humano é afirmar a sua humanidade, reconhecendo assim a
humanidade do outro e com base nesses aspectos estabelecer relações humanas entre
eles. Para Tutu, o Ubuntu reconhece que “Minha humanidade está presa inextricavelmente
ligada a sua”, dando ênfase assim na forma de tratar as pessoas com humanidade. Já para
a cientista Cornnel, o Ubuntu é o princípio africano de transcendência através do qual o
indivíduo é puxado para fora de si mesmo de volta para os ancestrais e para a frente em
direção à comunidade e ao potencial que cada um de nós tem”.
Essa sistemática africana possui várias máximas fundamentais, a primeira delas é
declarar que ser humano é afirmar a humanidade, reconhecendo assim a humanidade nos
outros e com isso estabelecer relações humanas. A sua segunda máxima é que na escolha
entre a riqueza e a preservação da vida deve-se optar sempre pela vida. Já a terceira
máxima é profundamente enraizada no princípio político africano tradicional, que diz que
o rei devia o status e poder associados a ele à vontade do povo.
Ao estabelecer o significado dessa filosofia é possível falar alguns pontos
principais da ética africana:
O primeiro deles é a humanidade e a fraternidade, pois segundo essa filosofia “Se
somos humanos somos irmãos, em um sentido amplo e abrangente da palavra irmãos.”
Para ela a humanidade não tem limite. Não existe o conceito de raça, cor ou religião, todos
somos humanos, logo somos unidos por isso.
O segundo ponto importante é a noção de bem comum, pois não há ser humano
que não deseja a paz, segurança, liberdade, dignidade, respeito, justiça, igualdade e
satisfação. Esses são bens intrínsecos a todo ser humano, por isso é chamada de bem
comum. Essa ideia para eles está ligada à noção de comunidade, portanto a sociedade
humana como tal. Esse bem é uma característica essencial da ética, adotada pela
sociedade africana comunitária, ou seja, não há como um está bem se todos os outros não
estiverem
Outras características são a ética social e não individualista. Segundo ela, o ser
humano é social por natureza. A ética individualista se concentra no bem-estar e no
interesse do indivíduo e dificilmente é considerado um pensamento moral africano. De
acordo com ensinamentos dos povos Bantus o homem não é uma palmeira que deveria ser
completa e para eles o braço direito Lava o braço esquerdo e o braço esquerdo lava o
direito, dessa forma não é possível viver individualmente em uma sociedade, e é
necessário que a ética social esteja atrelada a todos os indivíduos e não somente a um .
Em concordância com estes pontos citados anteriormente é possível ver algumas
aplicações práticas da filosofia Ubuntu na sociedade ocidental atual. Como por exemplo o
papel dele na construção da comunidade, na capacidade de incentivar o trabalho coletivo,
a construção de consenso, o potencial na mediação e conciliação de conflitos, e o impacto
na eficácia e na produtividade organizacional.

“Sua dor é minha dor, minha riqueza é sua riqueza. A tua salvação é a minha salvação.”

Desse modo eu vejo o Ubuntu, como uma filosofia muito bonita, que a ideia do coletivo
ultrapassa o individual, deixando de lado a competição e o egoísmo, muito presente nos
países europeus e americanos. O ubuntu vai muito além de uma ‘boa ação’, ele é um estilo
de vida, pensamento e se o coletivo não se juntar a essa forma de pensamento, não é
possível se ter o Ubuntu.

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