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Se se sabe que viver é sem valor e que a própria busca por reconhecimento é
fuga daquela constatação, por que, mesmo assim, insistir em ser reconhecido? Por que
um filósofo ético-negativo quer ser reconhecido como tal? Se for um anseio
psicológico, isso quer dizer que há elementos irracionais que conduzem o
comportamento sem passar pelo crivo da razão negativa? Sendo assim, por analogia,
outros anseios psicológicos, tais como a vontade de ter um filho ou o desejo de abortar
uma gravidez indesejada também estariam isentos de análise moral?
A ética negativa não é também uma reação, uma forma simbólica construída
para escapar à condição humana intrinsecamente deplorável? Por ser uma filosofia
produzida por um ser terminal, não se trata de mais uma tentativa de pôr em ordem o
que não pode ser ordenado, ou melhor, de aplacar a dor da certeza da própria miséria?
Em caso positivo, ela se confundiria com as éticas positivas pelo menos na motivação
de sua existência?