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A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS

NOVAS LINGUAGENS NA CONTEMPORANEIDADE

Anamaria Silveira1
RESUMO

O presente texto pretende dialogar sobre a produção do conhecimento em educação,


enfocando a problemática dos conceitos ensino/ aprendizagem, em busca de novas
linguagens para século XXI. O que se pretende é a aproximação de um paradigma de
educação que dê formação ao cidadão planetário, tornando-o capaz de reconhecer e
reconstruir sua emancipação político-educacional. O grande desafio consiste em levar para a
sala de aula um veículos utilizados na contemporaneidade, haja vista que a renovação do
ensino exige uma ação corajosa. No entanto, vale a pena enfrentar este desafio, pois muito se
espera da educação num país onde o saber é elemento importante no processo de mudanças
sociais. A escola possui a dimensão espaço-temporal necessária à concepção e à construção
da cidadania, aprendendo a aprender "conteúdos e conhecimentos", assim como vivenciando
"valores e sentimentos". A sociedade coloca em ação uma consciência crítica cuja reflexão e
criatividade conduz o despertar de uma conduta libertária, ampliando espaços de
entendimentos em busca da renovação de um novo tempo/ação.

Palavras - Chave: escola, novas linguagens, contemporaneidade, novas tecnologias.

INTRODUÇÃO

O tema propõe uma reflexão em torno de questões que nos levam a refletir
sobre as novas formas de reconstrução e reapropriação de saberes que se anunciam nesse
inicio de milênio: o que é ser leitor e escritor nesta nova era? Qual o papel da escola nesse
processo? Que conhecimentos devem ser desenvolvidos, visando à formação de nossos
alunos? Essas e outras questões estão no bojo dessa discussão, tentando compartilhar
preocupações e encontrar caminhos.
Ao se falar em produção do conhecimento, estamos nos referindo à pesquisa
como ponto de apoio para a busca de novas aprendizagens.

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Docente do Departamento de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Rondônia- UNIR
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O objetivo é reunir argumentos no intuito de contribuir para uma resposta,


ao menos parcial, às questões colocadas. Para tal, têm-se como referências alguns aspectos
apontados pelo pensador francês Edgar Morin (2000) em sua obra “Os sete saberes
necessários à educação do futuro”, além de outras reflexões feitas por educadores brasileiros,
com as quais tivemos contato em nossa experiência docente.
Essa reflexão encontra-se incipiente e, por isso, nossa advertência em não
tomá-la como pronta ou definitiva, permanece como desafio à complementação,
aprofundamento e a continuidade do diálogo sobre o tema.
Estamos em plena era das mudanças e transformações aceleradas e
complexas, aonde o conhecimento humano vem sendo modificado dia-a-dia e, para
entendermos o que está ocorrendo, precisamos contextualizar o nosso tempo, o tempo da
tecnologia, da informática, da robótica, da modernidade. Será que estamos preparados para
entender, digerir e transmitir esse “novo” conhecimento?
São tantas informações, linguagens e instrumentos tecnológicos que estão
transformando a sociedade: satélites de comunicação, fibras óticas, TV interativa, TV a cabo,
educação à distância, educação continuada, computadores cada vez mais avançados, discos
ópticos computadorizados com grande capacidade de armazenamento de informações. Falam
até em cibercultura, novas linguagens que o século XXI vem nos proporcionando.

A reconstrução do espaço escolar

No âmbito acadêmico, a atividade principal do docente está centrada no


papel do professor-pesquisador, direcionada para a socialização ou difusão do conhecimento.
Entretanto, isto não esgota e nem retira da escola e dos profissionais que nela atuam, a
responsabilidade sobre a produção do conhecimento que deve permear o trabalho de quem
ensina.
Não há como conceber, por exemplo, um professor que somente exerça o
ensino. Da mesma maneira, é muito difícil acreditar que alguém somente pesquise sem
socializar os resultados de sua busca. Acreditamos que há um nexo entre ensino e pesquisa e é
justamente aí que está situada à possibilidade da produtividade do docente. O perfil professor-
pesquisador ou o pesquisador-professor é aquele que concretiza esta produtividade, cada vez
mais necessária numa sociedade em crescimento.
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Para entender as mudanças que estão ocorrendo no mundo globalizado, há


necessidade de uma reconstrução não só do espaço imediato, mas também uma mudança de
paradigmas no próprio comportamento cotidiano das pessoas.
A construção do conhecimento é milenar, diria até que o conhecimento
surgiu juntamente com o aparecimento do próprio homem, embora haja quem diga que já
existiu alguém antes disso, com conhecimento avançado até para criar o próprio homem...
Deus.
Porém, o conhecimento acumulado ao longo da humanidade nos mostra que
a forma na qual o mundo se encontra não é possível seguir em frente. O avanço tecnológico e
científico progrediu tanto, que não somos mais capazes de absorver as informações que são
geradas no planeta, num único dia. É claro que o conhecimento clássico, aquele que está na
base da formação humana, precisa ser preservado e reproduzido, isto é, passado de geração
em geração.
Nesse sentido o conhecimento tem um começo, mas não sabemos se terá
fim. A sua construção se faz paralela aos acontecimentos produzidos e reproduzidos no
cotidiano.
Os conteúdos são conhecimentos sistematizados pelos homens por meio da
ciência, ou seja, os conteúdos são os conhecimentos científicos básicos para que os indivíduos
possam entender, informar-se e apropriar-se de um conjunto de habilidades, noções e formas
de pensar para agir na realidade. Todo saber é estratégico e, de certa forma, quem o possui,
domina.
Digamos que no início da humanidade a construção do conhecimento se deu
por meio de atos, linguagens e comportamentos dos seres humanos, que foram passando uns
para os outros no decorrer dos tempos.
Assim, quanto mais aumentava a população mundial, mais conhecimento se
acumulava, até que houve necessidade não só de registrar esses fatos, como também de
dividi-lo em partes. Nesse momento, surge a compartimentação das ciências, cada uma
levando para si parte desse conhecimento.
O avanço tecnológico, ocorrido em especial na segunda metade do século
XX, trouxe uma série de mudanças ao ensino.
Ao colocarmos a pesquisa como condição (responsabilidade) indispensável
da prática docente, a conseqüência decorrente é que a pesquisa, tanto para o docente quanto
para o discente, torna-se um princípio educativo referencial, uma vez que o professor não
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educa apenas com palavras, mas também pela postura revelada em suas atitudes ou no
conjunto de suas ações.
Esta coerência repercutirá no aluno que, por sua vez, decidirá a respeito de
querer ou não se tornar um sujeito crítico, criativo, conquistando sua autonomia intelectual. À
medida que o professor insere estas marcas no seu trabalho, ele abre possibilidades
significativas para a superação de práticas alienadas e alienantes como a pura cópia, a
imitação cega e submissa, enfim, a reles reprodução.
Isso significa que o trabalho docente em sala de aula deve ser realizado de
tal modo que o questionamento, a dúvida e a incerteza devem ser não só aceitos, como
também fomentados.
Atrevemos a afirmar que, se de um lado nunca tivemos tanto conhecimento,
tantas respostas prontas, fáceis e acessíveis sobre as questões que nos afligem, de outro, nunca
tivemos tanta alienação, ingenuidade e apatia.
Estabelecer a pesquisa como princípio educativo significa privilegiar a
construção e re-construção do conhecimento como processo central do ato educativo. Isso traz
implicações e responsabilidades, assim como o estabelecimento de uma postura de trabalho,
um “habitus” no tratamento metodológico das questões inerentes a produção do
conhecimento. Se observarmos a necessidade de avanços e buscas no ato educativo
perceberemos que o cotidiano escolar, apenas “parece” contemplar a pesquisa, o que na
realidade não ocorre. Urge deste modo, a reflexão sobre estes pontos para o estabelecimento
de uma nova práxis docente e discente.
A postura do professor diante dos desafios da produção do conhecimento
deve ser, em primeiro lugar, a do amor à sabedoria e a capacidade de inovar, tanto na sua área
de formação, quanto no sentido amplo da busca pelo conhecimento, conduzindo a
interpretação da cultura e da sociedade da época em que ele vive.
Isso significa que a atualização, o interesse em decifrar os enigmas postos
pelas questões que se passam na sociedade e a vontade de saber mais por amor ao
conhecimento, devem se constituir em inspiração e transpiração do professor. Este entusiasmo
deve estar estampado no rosto do docente, cujo ato educativo deve permear totalmente o seu
discurso.
Ao admitirmos que a dinâmica da sociedade implica em transformações
culturais, sociais, econômicas e políticas, é preciso que consideremos os efeitos (positivos e
negativos) destas transformações e que os coloquemos em questão. O professor, na condição
de intérprete privilegiado, difusor e produtor do conhecimento, é chamado a tomar posição
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diante dos fatos. Isso quer dizer que sua ação jamais será neutra no aspecto político. Por isso
mesmo, seu trabalho deve ter clareza quanto ao tipo de sociedade que ajuda a construir, ao
conjunto de valores que aspira. Além da dimensão política do trabalho docente ser tratada
com seriedade, é preciso que ele esteja comprometido com a “decência e boniteza” como diria
Paulo Freire, e também com a ética e com a estética.
O professor, numa relação armoniosa com o conhecimento, continua
vivendo a condição humana e, portanto, vive a fragilidade, a precariedade e precisa ser
consciente disso. É preciso que ele viva uma relação sadia com os seus semelhantes e com o
mundo que o rodeia. Esses aspectos, com certeza, apontam para um compromisso do
professor com a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Educação e novas linguagens: contribuições à produção do saber

Os conceitos de educação, modernidade, produção e conhecimento são


difíceis de serem descritos com exatidão, pois eles nos levam a diferentes significados, quer
sejam pela força das correntes de pensamento ou mesmo pela própria prática profissional, que
nos aproxima dos objetos e das relações de trabalho. Portanto, é importante alertar sobre o
cuidado conceitual, na hora de expressar o que estamos nos referindo, a fim de que as dúvidas
sejam poucas e mínimas.
Por educação entendemos não apenas o ato de educar, orientar, acompanhar,
nortear, mas também o de trazer de "dentro para fora" as potencialidades do indivíduo.
Embora essa tarefa seja também de responsabilidade da família, é no ato institucional que ela
toma forma, onde se destaca o dever do Estado como co-responsável pela formação integral
do cidadão, entendida como a aquisição de direitos e deveres por todos os membros da
sociedade. Nestes termos, cabe à educação a tarefa de transmitir e exercitar com os educandos
os direitos e deveres para o completo domínio da cidadania.
No entanto, ao confrontarmos com o problema universal da educação do
futuro, percebemos que existe uma inadequação cada vez mais ampla entre os saberes
compartimentados e os problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais,
multidimensionais, transnacionais, globais e planetários. Nessa inadequação, tornam-se
invisíveis: o contexto, o global, o multidimensional, o complexo. Para que a educação seja
pertinente, devemos torná-los evidentes.
O conhecimento das informações ou dados isolados é insuficiente. É preciso
situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido. É preciso
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recompor o todo e efetivamente conhecer as partes. O conhecimento deve enfrentar a


complexidade.
Há complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis constituídos
do todo, como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o efetivo. “Complexus”
significa o que foi tecido junto.
O desenvolvimento da era planetária nos coloca cada vez mais próximos aos
desafios da complexidade. Como conseqüência, a educação deve promover a “inteligência”
geral apta a referir-se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da
concepção global. A educação do futuro deverá ter o ensino centrado na condição humana.
Estamos vivendo na era planetária, como nos alerta Edgar Morin (2000). O
ser humano precisa se reconhecer em sua humanidade comum e, ao mesmo tempo, reconhecer
a diversidade cultural inerente a tudo que é humano. Conhecer o humano é antes de mais nada
situa-lo no universo, e não separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto,
para ser pertinente.
Quem somos? É inseparável de onde viemos? Para onde vamos? Interrogar
a nossa condição humana implica questionar primeiro nossa posição no mundo.
Vivemos no final deste século profundas mudanças científicas e
tecnológicas, cujo imperativo nos colocou não só questões práticas para nossa vida cotidiana,
mas também, nos levantou novas problemáticas. Algumas dessas problemáticas estão
relacionadas com novas linguagens tornadas operacionais pela tecnologia. Além disso,
estudiosos contemporâneos afirmam que estas transformações estão criando uma nova cultura
e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes.

Espaço escolar e tecnologia: é possível uma parceria?

A importância da técnica se multiplicou infinitamente, pois a evolução


científica permitiu que ela fosse incorporada praticamente em todas as esferas da cultura, no
pensamento e na produção de objetos técnicos. São historicamente conhecidos o
estranhamento e o desconforto que invenções técnicas geraram nas pessoas, como por
exemplo o uso da eletricidade, o telefone e o carro. Antes que uma nova tecnologia seja
interiorizada pelas pessoas, não é fácil conseguir compreender de forma clara o movimento
dessas mudanças e, mais ainda, antever seus efeitos, pois a cada novo sistema de comunicação
fabrica-se novos excluídos.
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O espaço escolar é atualmente baseado na cultura oral e no texto impresso,


de modo que incorporar ao seu cotidiano outras linguagens como a linguagem plástica,
gestual, televisiva, sinestésica, teatral, musical, às novas tecnologias, e outras, tem sido um
desafio. É como se a escola não olhasse para o seu entorno é como se "desconhecesse" que
vivemos em um universo de linguagens.
Linguagens nos constituem enquanto sujeitos históricos, imersos na cultura
do nosso tempo. Um tempo marcado pelas novas fronteiras da comunicação e acesso a uma
vasta gama de informações de forma rápida, múltipla, em rede, alterando a nossa relação com
o próprio tempo e espaço.
Pinto discorre a respeito do tema, afirmando que
É impossível ignorarmos a produção cultural moderna, com todos os avanços
tecnológicos existentes. Seja pelas qualidades positivas que possui e que oferecem
inúmeras possibilidades pedagógicas interessantes. Seja pela necessidade de lutar-se
pela sua democratização, estabelecendo com ela uma relação mais crítica, que se
reverta em maior qualidade de vida e de bens culturais para a população. Manter-se
distante da produção cultural contemporânea seria um erro, já que não há como
subestimar sua concreta existência em nossas vidas. ( PINTO, 1996, s.p.)

Torna-se urgente que a escola incorpore ao seu fazer pedagógico as


diferentes linguagens que estão postas no mundo, pois quanto mais abre para o aluno a
possibilidade do acesso a essas linguagens, mais o seu universo cultural se ampliará. Quanto
mais amplo for o entendimento do real, menos ameaçado ficará diante dos desafios
provocados pelas novas formas de comunicação.
A vida das crianças na pós-modernidade, está marcada pela leitura de
imagens e palavras que têm como suporte a mídia eletrônica (televisão, vídeo, cinema,
computador, etc.), provocando novas maneiras de ser leitor e escritor e novas formas de estar,
compreender e interferir neste mundo marcado pela cultura tecnológica. Na
contemporaneidade, somos convidados a realizar um tipo de leitura e de escrita que se torna
impossível apenas pelo uso do papel. Bignotto, por meio de suas palavras, nos elucida que

O leitor pode saltar de um trecho para outro de uma obra, por meio do recurso do
hipertexto, sem necessariamente seguir a ordem determinada pelo autor; pode pular
páginas, fazer aparecer notas (ou o seu desaparecimento) no mesmo plano do texto
principal. Quebra-se a noção de princípio e fim que a materialidade do livro
impresso sugere. Pode ler trechos de várias fontes, quase que simultaneamente; abrir
diferentes obras, em uma mesma tela (...) criando a possibilidade de "navegar" por
diversos textos e fragmentos de textos, escolhendo os rumos da leitura.
(BIGNOTTO, 1998, p.8)

Com relação à produção escrita, aquele que escreve, pode escrever e


reescrever um texto a partir de qualquer ponto: do fim para o começo, do meio para o fim, do
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meio para o início do texto ou criar um novo começo. A linearidade da escrita, tão marcada
pelo suporte do papel, se altera completamente. Pode-se, rapidamente, alterar o tamanho e
estilo das letras, sombrear, colorir, sublinhar trechos ou todo o texto, rearranjar parágrafos ou
mesmo escrever sem digitar, bastando apenas falar para que o computador, que disponha de
reconhecimento de voz, vá registrando o que é falado. As possibilidades se apresentam como
viáveis. Quem sabe, gerações futuras, tendo a tecnologia da informática como mediadora,
registrem sua história sem precisar escrever com a mão uma única letra?
Porém, no interior da escola, as crianças continuam sendo ensinadas por um
processo mecânico, que tem no treino, na repetição e na memorização, os eixos norteadores.
Com todas as informações a que têm acesso fora da escola, pelos mais variados meios de
comunicação, as crianças aprendem que só podem escrever o que foi "ensinado" pela
professora e terminam por reproduzir uma escrita "escolarizada", impossível de ser
encontrada fora do espaço escolar.
Escritas que não revelam a forma peculiar e singular de cada criança
perceber o mundo, se relacionar, expressar e se comunicar, explicitam o método de
alfabetização utilizado que faz com que crianças diferentes escrevam de uma forma bastante
homogênea, onde a linguagem "perde" a dinamicidade, a pluralidade, a vida.
Pode-se dizer que a escola, de um modo geral, vive um "tempo parado", um
tempo a- histórico e a- temporal ignorando. Nesse sentido é que Edgar Morin (2000) chama
atenção para o papel da escola no século XXI, afirmando que a era planetária, o atual
momento histórico em que vivemos, precisa situar a todos no contexto e planetário bem como
em sua complexidade. O conhecimento do mundo como mundo, é vital para desenvolver
uma nova forma de competência, que possa dar ao cidadão do novo milênio o acesso às
informações sobre o espaço planetário e como ter a possibilidade de articular e organizar as
informações, de tal forma que possa proporcionar a reforma do pensamento, uma reforma que
seja paradigmática e fundamental para a educação.
Para esse autor, a escola deveria ser um lugar privilegiado, onde os alunos
pudessem usar, praticar, refletir e discutir sobre as imagens, informações e saberes que as
linguagens da tecnologia produzem e veiculam. Como lidar com o excesso de informações a
que temos acesso hoje? Como separá-las em "úteis e proveitosas" ou "inúteis e perigosas"?
Tudo é educativo.... todos educam....a sociedade é uma grande agência
educativa. Seguindo esse raciocínio, a educação escolar encontra-se invadida por centenas de
mestres-educadores com diferentes linguagens e instrumentos pedagógicos; muitas escolas
têm utilizado a televisão e o vídeo como metodologias novas às aulas, dando oportunidade de
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garantir, na escola, espaços para que os alunos e professores aprendam a apreciar, analisar e
criticar as imagens e informações a que têm acesso através do uso das linguagens das
tecnologias, ampliando, assim as suas competências comunicativas.
No processo de troca das diferentes formas de ler, dizer, fazer, compreender,
aprender e ensinar que circulam entre os alunos e professores, é que a singularidade dos
sujeitos vai se constituindo. Sujeitos que avançam na construção e apropriação de novos
saberes a partir da troca, da relação e da interação com os outros e com o mundo, no espaço
da intersubjetividade. Vygotsky (1989) compreende que o papel do outro na elaboração do
conhecimento é de suma importância, haja vista que tais intermediações colaboram na
construção do conhecimento.
Não se trata apenas de utilizar a qualquer custo as tecnologias. Várias
escolas já as utilizam sem alteração significativa da relação ensino/aprendizagem que baseada
na transmissão de conhecimentos, permanece linear e impositiva, apesar do advento da
tecnologia.
À guisa de tais considerações, Pinto nos lembra que

[...] Cabe à escola preparar cidadãos para a "leitura" e "escrita" dos elementos que
constituem a linguagem audiovisual, não só numa perspectiva técnica, como
também em seu aspecto ético de divulgação de mensagens. É preciso educar para
uma interação crítica com a mídia audiovisual, onde desmistifique-se e se relativize
sua estética ilusionistas [...] (PINTO, 1996:10)

É necessário saber selecionar o que usar, como usar e para que usar,
principalmente quando se utiliza o computador nas salas de aula, incorporando no dia-a-dia da
escola as linguagens da tecnologia, que deve vir acompanhada de novos atores, educadores,
na produção e no tratamento dos conhecimentos , além de novas formas de apropriação dos
saberes. Pois o saber daquele que ensina, deve estar muito alem daqueles que aprende.
O mundo do ciberespaço nos aponta para as inovações das quais não
podemos mais desprezá-las. Inevitavelmente, a Internet tornou-se o veiculo de comunicação,
onde indivíduos e grupos navegam em busca de miríades de informações disponíveis,
dispondo de diferentes conhecimentos em rede.
Com a tecnologia do CD-ROM, as bases de dados multimídias interativos
on line pode-se ter acesso, de modo rápido e atraente, a vastos conjuntos de informação,
estando fora ou dentro da escola.
O convite é desafiador, face ao paradigma que ainda norteia o processo
ensino-aprendizagem em nossas escolas: o professor é colocado na posição daquele que
"possui" o conhecimento, e sua tarefa é "transmiti-lo" aos alunos. Embora já faça parte do
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discurso escolar de que não se aprende apenas na escola, a prática pedagógica revela a crença
presente no interior das instituições escolares, de que o estatuto do conhecimento passa pela
escolaridade.
O desafio da escola é grande, pois a incorporação das novas tecnologias no
seu ambiente já é um fato, a linguagem tecnológica já se faz presente não como apenas mais
um "instrumento pedagógico", mas como um meio facilitador de ensinar e aprender dando às
escolas uma chance de repensar e re-significar o processo de construção e apropriação dos
saberes.

Considerações Finais

Os impactos do computador e da Internet no sistema educacional brasileiro


são características centrais das novas tecnologias, e o sistema educacional não pode
desperdiçar essa oportunidade, mas sim, reconhecer os seus pontos fortes e canalizar seus
recursos para garantir uma escola de qualidade.
É meta da educação brasileira contribuir para o desenvolvimento completo
do indivíduo, a fim de evitar desajustes e exclusões. Por meio do sistema educacional, todos
devem receber uma educação de qualidade. É preciso ensinar, sobretudo, a diversidade
humana e estimular os alunos a desenvolver uma consciência a respeito das diferenças e do
multiculturalismo tão presentes na atualidade.
Os novos avanços científicos, as novas tecnologias e suas aplicações
práticas, têm aberto novas fronteiras para o conhecimento, levando a lugares inimagináveis.
As possibilidades de crescimento são infinitas, porém imprevisíveis e assustadoras. O limite é
estreito e os riscos são incomensuráveis.
Portanto, a educação ocupa lugar de destaque. Jovens e adultos deverão
estar cientes e sabedores a respeito dos fatos que os envolvem para terem a dimensão exata do
hoje e do futuro, de seus desafios, de seus direitos e de suas responsabilidades.
Atuar nas novas fronteiras do conhecimento é ao mesmo tempo
contemporizar a produção e a qualificação do trabalho, para dar conta das dimensões da
integração e da flexibilidade dos novos processos produtivos. As idéias que surgem com as
novas tecnologias exigem necessariamente a readequação do sistema educacional vigente.
Como está, não pode ficar! Mas há esperança. A humanidade está se
destruindo por conta da própria desumanização do trabalho na produção, juntamente com a
injustiça social, fome, miséria, corrupção, poluição do meio ambiente e dos desmandos
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políticos de toda ordem. O sinal vermelho está aceso e empurra para frente os descontentes e
acomodados junto à imensa multidão daqueles que buscam pelo mundo novo, pela utopia. E
aí as possibilidades da educação são imensas. Esse texto indica algumas pistas. Experiências
têm sido feitas em direção ao ensino participativo - o construtivismo é uma das mais
promissoras. São trincheiras e resistências da contra-corrente.

REFERÊNCIAS

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BIGNOTTO, Cilza Carla. O Computador e a leitura "natural". Leitura: Teoria & Prática,
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PINTO, Mônica Rodrigues Dias. Escola e Linguagens Contemporâneas: um desafio. Rio
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