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- O absolutismo parecia estar para durar, assente na ação repressiva das suas instituições e
aparelhos ideológicos: a Inquisição, a Real Mesa Censória e a Intendência Geral da Polícia.
▲ Uns e outros constituíam terreno fértil para a propagação dos ideais iluministas
introduzidos no nosso país quer pelos Estrangeirados (elite intelectual portuguesa que vivia no
estrangeiro) quer pelos Exilados (intelectuais, maçons, liberais fugidos às perseguições, que lá
fora fundavam publicações que depois enviavam clandestinamente para o país)
▲ Muitos deles acabaram por se filiar em lojas maçónicas¹ e juntar-se à luta pelo fim dos
privilégios, das desigualdades sociais, da intolerância religiosa, do fanatismo e da tirania.
Portugal recusou acatar as pretensões francesas² e por três vezes foi invadido, de 1807 a 1811.
O embarque da família real para o Brasil, que de colónia passou a sede de governo, permitiu a
Portugal preservar a integridade do Estado. ▲ Consequências das invasões: 1. Destruição e
devastação do país, que quatro anos de guerra, associados ao vandalismo e crueldade das
tropas francesas, dei xaram na miséria. 2. Perdas humanas e materiais (o património nacional
foi ou usurpado, com saques a mosteiros, igrejas e palácios, ou irremediavelmente destruído).
3. Domínio político e económico que, doravante, a Inglaterra passou a exercer sobre o país (na
sequência da ajuda que as tropas britânicas vieram prestar ao exército português).
Entre 1808-21, Portugal viveu na dupla condição de protetorado inglês e colónia brasileira.
Com efeito, D. João VI permaneceu no Brasil mesmo depois de afastado o perigo francês,
chegando a proclamá-lo reino em 1816, o O Marechal Beresford, presidente da Junta
Governativa e generalíssimo das tropas portuguesas, possuía plenos poderes. Confiou os mais
altos cargos
1. Abertura dos portos brasileiros, em 1808, ao comércio internacional, pondo fim ao regime
de exclusivo colonial. [Para além de nos fazer perder uma importante fonte de receitas, o fim
do exclusivo colonial foi um acontecimento desestruturador de toda a economia portuguesa: o
Brasil abastecia a metrópole de alimentos e matérias-primas a baixo preço, muitos deles
reexportados; em simul tâneo, funcionava como mercado de escoamento para a produção
nacional].
▲ Estes dois fatores resultaram num enorme prejuízo para a burguesia nacional, cuja fortuna
assentava no comércio com o Brasil realizado ao abrigo de vários protecionismos e exclusivos.
▲ Desta forma, a agitação revolucionária foi crescendo. No Porto, grande centro burguês e
mercantil, Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação, funda, em 1817, uma
associação secreta, o Sinédrio', que se propunha intervir politicamente logo que a situação se
revelasse propícia.
▲ Espanha, entretanto, tornara-se o centro de uma intensa agitação política. Neste contexto
Portugal passa a receber muita propaganda liberal (pasquins, panfletos, traduções da
constituição espanhola de 1812). A anunciada ida de Beresford ao Brasil, em março de 1820, a
fim de solicitar maiores poderes na repressão da agitação crescente, levou o Sinédrio a decidir-
se pela ação, tendo para isso aliciado importantes figuras militares cuja intervenção seria essen
cial à consumação da revolução. Revolução que eclodiu a 24 de agosto de 1820
O Vintismo
▲ A revolução de agosto, além da aclamação imediata na Cidade Invicta, obteve uma pronta
adesão de todos os municípios do país. Em Lisboa, uma sublevação, apoiada por populares e
burgueses, termina com o domínio inglês. Em setembro, os movimentos de Lisboa e Porto
fundem-se na Junta Provisional de Governo do Reino (JPGR), com Fernandes Tomás nos
negócios do reino e nas finanças. Coube ao novo governo organizar eleições para as Cortes
Constituintes [C.C.], com o objetivo de consagrar numa Constituição a nova ordem político-
ideológica.
▲Foi nas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes, reunidas desde 24 de janeiro de 1821,
que se elaborou o texto constitucional que formalizaria a ordem liberal em Portugal. Concluída
em setembro e jurada pelo rei em outubro de 1822, teve por base as constituições francesas e
espanhola [1812]. ▲ Princípios constitucionais (8). Reconhecia vários direitos aos cidadãos, tal
como o direito à liberdade, à segurança, à propriedade e à igualdade (perante a lei); Afirmava
a soberania da nação; Consagrava o sufrágio direto dos deputados por todos os homens
maiores de 25 anos e alfabetizados; Estipulava a separação tripartida e a independência dos
poderes; Consagrava o regime de monarquia constitucional; Declarava a religião católica
religião oficial; Não reconhecia quaisquer prerrogativas à nobreza e clero; Submetia o poder
real à supremacia das cortes legislativas (o rei podia sempre vetar uma lei (veto suspensivo);
nessa situação, o Congresso reapreciava-a, procedendo então a uma 2.ª votação; mas se esta
última decisão reunisse 2/3 dos votos a proposta seria sempre de promulgação obrigatória
pelo rei.) ▲ Demasiado radical e progressista para o seu tempo, a constituição de 1822 foi
essencialmente fruto do trabalho da fação mais radical dos deputados das Cortes
Constituintes, fação que deu origem ao vintismo ¹. ▲ Ao atacar e eliminar os privilégios
económicos, sociais e políticos nos quais se escudava a ordem nobiliárquica-eclesiástica, o
radicalismo vintista suscitou o ódio dos grandes da nação, que mais tarde viriam a engrossar as
fileiras da contrarrevolução absolutista.