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Sumário
1. Introdução. 2. O trabalho educativo. 3. A
aprendizagem e suas diferenças. 4. A compe-
tência do Ministério Público do Trabalho para
investigação. 5. Conclusões.
1. Introdução
No ordenamento jurídico brasileiro, há
vários institutos relacionados à criança e ao
adolescente que buscam, primordialmente,
a consecução da proteção integral inaugu-
rada pela Constituição Federal e se encon-
tram enumerados no Estatuto da Criança e
do Adolescente – ECA.
Temos, para o caso específico de nossas
análises voltadas à questão do trabalho de
crianças e adolescentes, os institutos da
aprendizagem e do trabalho educativo, cada
qual com características próprias, que de-
notam a clara intenção legislativa de des-
vincular seus conceitos e aplicação.
Na prática, há muita confusão entre os
dois institutos sendo que, em alguns casos,
pretende-se, sob a designação de realizar
trabalho educativo, a plena garantia de di-
reitos trabalhistas e previdenciários, o que
ocorre na aprendizagem apenas, ou a mera
colocação de adolescentes no mercado de
Bernardo Leôncio Moura Coelho é Procu- trabalho, sob a chancela de trabalho educa-
rador do Trabalho – MPT/PRT 15a Região, Es-
tivo, quando apenas a aprendizagem pode-
pecialista em Interesses Difusos e Coletivos pela
Escola Superior do Ministério Público, Mestre rá fazê-lo sem burla aos princípios consti-
em Direito Constitucional pela Faculdade de tucionais de proteção integral.
Direito da UFMG, Docente da Escola Superior A doutrina e a jurisprudência também
do Ministério Público da União. se mostram vacilantes quanto a caracteri-
Brasília a. 42 n. 167 jul./set. 2005 39
zação dos institutos, confundindo mais ain- dos no trabalho educativo e sua aplicabili-
da as pessoas das entidades encarregadas dade dentro das normas de proteção ao tra-
da implantação de programas de apoio aos balhador adolescente insculpidas no inci-
adolescentes, prejudicando a adoção de so II, do § 3 o, do artigo 227, da Constituição
políticas públicas concretas para a correta e Federal, desvinculando os institutos da
sensata inserção de adolescentes no merca- aprendizagem e do trabalho educativo.
do de trabalho.
Nota-se, na doutrina, apego a conceitos 2. O trabalho educativo
ultrapassados e vinculados a legislações
revogadas que não se harmonizam com as O trabalho educativo foi criado pelo ar-
novas disposições constitucionais, inseri- tigo 68 do Estatuto da Criança e do Adoles-
das na moderna teoria da proteção integral, cente e, desde então, não foi regulamentado
preconizada pela Organização das Nações pelo Poder Executivo, gerando muitas in-
Unidas – ONU e adotada pioneiramente certezas quanto à sua correta aplicação.
pelo Brasil. Alguns trabalhos insistem na Nos termos legislativos, o trabalho edu-
manutenção da figura do trabalho do ado- cativo caracteriza-se como “uma atividade
lescente assistido, que não encontra guari- laboral em que as exigências pedagógicas
da na atual legislação, como demonstrare- relativas ao desenvolvimento pessoal e so-
mos no decorrer deste trabalho. cial do educando prevaleçam sobre o aspec-
A jurisprudência quanto ao tema segue to produtivo” (§ 1 o, do artigo 68).
tendência vacilante, ora enfrentando o Realmente, a sua compreensão vem di-
assunto sob o enfoque da proteção integral, vidindo os estudiosos quanto ao seu con-
ora enfrentando a questão sob o enfoque teúdo e alcance, alguns entendendo o tra-
assistencial, caracterizador da legislação balho educativo como mera forma de ocu-
já revogada pela Constituição Federal de par os adolescentes e outros como mera in-
1988. termediação de mão-de-obra, geradores de
Recentemente, em decisão histórica, o renda com o fito de minorar a situação fi-
Tribunal Regional do Trabalho da 15a Re- nanceira da família. Até mesmo sua qualifi-
gião enfrentou o tema em recurso ordinário cação foi infeliz, posto que a atividade de-
interposto pela Procuradoria Regional do senvolvida nesse programa não se qualifi-
Trabalho da 15a Região, dando provimento, ca como trabalho.
por unanimidade, para descaracterizar a Mariane Dresch (1997, p. 28), Procura-
atividade desenvolvida por entidade assis- dora do Trabalho da 9a Região – PR, lem-
tencial, que não se mostrava adaptada aos bra-nos que “muitos são os que questionam
novos conceitos de aprendizagem trazidos a própria constitucionalidade deste artigo
pela Lei n o 10.097, como também não pode- quando prevê a inserção no mercado de tra-
ria ser considerado trabalho educativo, nos balho sem o pagamento dos direitos traba-
termos do artigo 68, do Estatuto da Criança lhistas. Outros, defendem apenas uma re-
e do Adolescente. gulamentação do que seja trabalho educati-
O presente artigo busca, principalmente vo, vez que já previsto no ECA”.
a partir de nossa experiência prática de atu- Realmente, pela leitura do inciso II do §
ação como Procurador do Trabalho – Coor- 3 o do artigo 227 da Constituição Federal,
denador do Núcleo Especializado em Com- verificamos que o direito à proteção especi-
bate ao Trabalho Infantil e Regularização al abrange a garantia de direitos previden-
do Trabalho do Adolescente – e membro da ciários e trabalhistas para os adolescentes,
Coordenação Colegiada do Fórum Paulista havendo fundamento muito forte e consis-
de Prevenção e Erradicação do Trabalho tente para entender que a instituição de tra-
Infantil, desmistificar os conceitos envolvi- balho educativo conflita com a disposição