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Rebelião:
(latim rebellio, -onis)
s. f. - Resistência violenta contra os agentes da autoridade ou contra a ordem de coisas estabelecidas.
2. Insurreição, revolta.
3. Insubmissão.
Guerra
A palavra "guerra", ensina a etimologia, procede do germânico werra (de onde virá
igualmente o war inglês), cujo significado inicial não era o de conflito sangrento, mas algo
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Curso: Sociologia e politica - Disciplina Política I: Filosofia Política Clássica
Docente Aldo Fornaziele
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mais na linha da discordância, que podia nascer de uma simples discussão verbal e chegar,
no máximo, a um duelo.
É possível que, em sua origem, também os termos latino, bellum, e grego, pólemos, que dizem respeito
a luta, tivessem um significado mais leve, equiparando-se a algo mais próximo de uma polêmica verbal
do que de um ato beligerante.
“Belo” vem do Latim BELLUS, “lindo, bonito, encantador”, usado na época clássica apenas para
mulheres e crianças, tendo uso pejorativo para homens. Pode vir do Indo-Europeu DW-EYE e ter relação
com BONUS, “bom” e BENE, “bem”. Família de palavrinhas contentes essa!
Blitz é palavra alemã que significa ráio, relâmpago. Juntamente com o substantivo masculino também
alemão "krieg", guerra (em alemão, guerra é masculino) consagrou-se nas artes militares durante a II
Guerra Mundial (1939-1945) através da locução "blitzkrieg", literamente "guerra relâmpago", mas que
exprime algo mais: ofensiva muito rápida e poderosa.
• Guerra político-ideológica- Pode ser considerada uma forma específica de guerra civil. Em
geral opõe grupos revolucionários ou partidos políticos distintos, ou estes grupos contra
governos, devido a divergências político-ideológicas. Entre os conflitos ocorridos na América
Latina, este é o tipo mais frequente.
• Guerra Revolucionária - é o tipo de guerra que ocorre durante uma Revolução ou que se
segue a uma revolução ou golpe de Estado, onde um dos lados em confronto tem a intenção
declarada de tomar o poder para modificar profundamente as estruturas políticas, econômicas
e/ou sociais de um país. Muitas vezes tornam-se guerras civis prolongadas, quando o grupo
revolucionário não tem condições políticas ou militares de tomar o poder. Ex: o período de 1918
a 1922 da Revolução Russa
• Youtube:
Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro [Parte 1 a 5 ]
http://www.youtube.com/watch?v=aP7PDWsVgUA
31 maço golpe militar
http://www.youtube.com/watch?v=ZgAQWDyWVm8
Black Panter
http://www.youtube.com/watch?v=0QZm_mquon4
(documentário: tempos rebelde 04 vídeos ) clique em viodeteca , na letra T , acesse a pg.02
http://tvescola.mec.gov.br
Queimada
http://www.youtube.com/watch?v=WUAZRz1vWVo
FONTES : http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=revolu%E7%E3o&id=2545,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra,
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/885444-rebeldes-rejeitam-definicao-de-guerra-civil-na-libia.shtml 12/03/2011
http://www.priberam.pt/dlpo/Pesquisa.aspx?pal=revolucion%c3%a1rio
http://origemdapalavra.com.br/pergunta/o-belo-e-a-guerra/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_dos_Panteras_Negras
http://dicionario.sensagent.com/Escravos/pt-pt/ALEXDC/
http://leonildoc.orgfree.com/enci/bobbio4.htm
MARCELO NINIO
ENVIADO A RAS LANUF (LÍBIA)
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Docente Aldo Fornaziele
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Nada irrita mais um rebelde líbio do que chamar a revolta deflagrada há três semanas
contra Muammar Gaddafi de guerra civil.
"Vocês estrangeiros não entendem o que está acontecendo aqui", diz Nabil Muftah, 32, empunhando
um fuzil Kalashnikov na entrada da cidade de Ras Lanuf, que neste domingo se converteu na fronteira
do território rebelde.
"O povo líbio está unido contra Gaddafi. Quem luta com ele são seus capangas e mercenários
estrangeiros".
O discurso se repete ao longo de toda a costa leste do país ocupada pelos insurgentes, dos gabinetes
do governo provisório aos campos de batalha. E desafia os indícios de que a revolta se transformou em
guerra civil.
Muftah era soldado de Gaddafi e trocou de lado quando os protestos contra o ditador começaram a ser
reprimidos com violência.
Mesmo admitindo que há militares como ele do outro lado do front, insiste em usar a palavra em árabe
para revolução, "thaura", para descrever o estado de guerra em que o país mergulhou.
Com a ajuda de desertores como Muftah, o levante contra Gaddafi foi equipado de armas obtidas de
bases militares. Soldados líbios lutam com soldados líbios, com armas do Exército líbio. Assim é a
"thaura", ou pelo menos parte dela.
"Uma guerra civil é definida pela luta entre civis do mesmo país", exalta-se Intisal Agili, do governo
provisório rebelde em Benghazi, a capital da insurreição. "Aqui é diferente. Uma revolução popular
contra um ditador cercado de mercenários."
O estado das armas é muitas vezes precário. Nas diversas barreiras rebeldes da estrada costeira
transformada em campo de batalha, é comum ver fuzis caindo aos pedaços, colados com fita isolante e
artilharia antiaérea com sinais de ferrugem.
O treinamento também deixa a desejar. "Aprendi a atirar há dois dias", diz o professor de ciência Riad
Elhamar, 35. "Deixei minha filha de um ano chorando em casa, mas todo sacrifício é válido para
liquidar Gaddafi."
A unanimidade anti-Gaddafi no leste é raramente quebrada. Numa atmosfera inversa ao período
anterior à revolta, quando ninguém ousava dar um pio contra o ditador, hoje os que o apoiam preferem
a discrição.
Mas alguns demonstram claro desconforto com a anarquia que predomina em algumas cidades. Sem
policiamento e com a fartura de armas nas mãos de civis, há registros de saques e roubos.
"Em breve as pessoas sentirão falta da segurança que tinham no tempo de Gaddafi", afirma um militar
da reserva.
Fonte : http://www1.folha.uol.com.br/mundo/885444-rebeldes-rejeitam-definicao-de-guerra-
civil-na-libia.shtml 12/03/2011 as 17:28 hs.
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Revoltas populares deixam na história e na consciência humana uma marca indelével, mesmo quando fracassam ou
são desonradas. Elas encarnam o momento, tão raro, em que a fatalidade se insurge, e o povo toma a dianteira
Já se passaram 220 anos da Revolução Francesa, mas seu corpo ainda se mexe. E isso apesar do próprio François
Mitterrand ter convidado Margaret Thatcher e Joseph Mobutu para o enterro, durante as cerimônias do bicentenário,
vinte anos atrás.
O ano da comemoração foi também o da queda do muro de Berlim, e Francis Fukuyama aproveitou o momento para
anunciar o “fim da história”, ou seja, a eternidade da dominação liberal sobre o mundo e o fim das possibilidades da
revolução.
Mas a crise do capitalismo questiona novamente a legitimidade das oligarquias no poder. O ar parece mais leve, ou
mais pesado, de acordo com as preferências. Evocando “os intelectuais e os artistas que clamam pela revolta”, o
jornal Le Figaro se aflige: “François Furet parece ter se enganado: a Revolução Francesa não acabou”.1
Outrora tida como expressão de uma necessidade histórica (Marx), como expressão de uma “nova era da história”
(Goethe), de uma epopeia iniciada pelos soldados da Revolução cantados por Victor Hugo (“Víamos esses pés-
descalços marcharem, soberbos, sobre um mundo fascinado”), a Revolução passou a ser vista apenas pelo sangue
nas mãos. De Rousseau a Mao, uma utopia igualitária, terrorista e virtuosa, teria pisoteado as liberdades individuais,
engendrando um monstro frio: o Estado totalitário. Depois a “democracia” triunfou, regozijando-se, pacífica, de
mercado. Herdeira também de revoluções, mas de outra ordem, à inglesa ou à americana, mais políticas que sociais,
revoluções “descafeinadas”.2
Na Inglaterra, um rei fora decapitado. Mas como a resistência da aristocracia foi menos vigorosa do que na França, a
burguesia não achou necessário fazer uma aliança com o povo para assentar sua dominação. Nos meios abastados,
tal modelo, sem “pés-descalços” nem “sans-culottes”, parecia mais interessante e menos arriscado que o da
Revolução Francesa.
Laurence Parisot, presidente do patronato francês, não trai o sentimento de sua base ao confidenciar a um jornalista
do Financial Times: “Adoro a história da França, mas não gosto muito da Revolução. Foi um ato de uma violência
extrema em virtude do qual ainda sofremos. Ele obrigou cada um de nós a escolher um lado”. E disse ainda: “Nós não
praticamos a democracia com tanto sucesso quanto a Inglaterra”.3
Abastados x proletários
“Escolher um lado.” Esse tipo de polarização social é lamentável quando, ao contrário, o melhor seria se todos se
mostrassem solidários às suas empresas, a seus patrões, à sua marca – mas permanecendo cada um em seu devido
lugar. Pois aos olhos daqueles que não as apreciam muito, o principal problema das revoluções não é a violência, um
fenômeno tristemente banal na história, mas a agitação da ordem social, coisa infinitamente mais rara, que intervém
no momento de uma guerra entre abastados e proletários.
Em 1988, em busca de um argumento arrebatador, o presidente George H. Bush repreendeu seu adversário democrata,
Michael Dukakis, um tecnocrata perfeitamente inofensivo: “Ele quer nos dividir em classes. Isso funciona para a Europa,
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mas não é para a América”. Classes, na América! Dá para imaginar o horror que tal acusação pode causar.
No momento em que a situação da economia americana parece exigir sacrifícios tão desigualmente repartidos como o
foram os benefícios precedentes, o atual locatário da Casa Branca resolveu desmobilizar urgentemente a cólera
popular: “Uma das lições mais importantes para se tirar desta crise é que nossa economia só funciona quando
estamos todos unidos”, declarou Obama. “Nós não temos por que ver um demônio em cada investidor ou empresário
que tenta ter lucro.”4 Como já era de esperar, Barack Obama não fará a revolução.
“A revolução é antes de tudo uma ruptura. Aquele que não aceita essa ruptura com a ordem estabelecida, com a
sociedade capitalista, não pode aderir ao Partido Socialista”, dizia François Mitterrand em 1971. Desde então, as
condições para a adesão ao Partido Socialista (PS) se tornaram menos draconianas, uma vez que não desencorajaram
nem o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, nem o da Organização Mundial
do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
A ideia de uma revolução regrediu também em outros lugares, mesmo dentro das formações mais radicais. A direita
se apossou da palavra, aparentemente ainda portadora de esperança, para fazer dela sinônimo de restauração, da
destruição dos direitos sociais conquistados a duras penas contra a “ordem estabelecida”.
A violência das grandes revoluções é, apesar de tudo, algo que reprovamos. Muita gente se ofende com o massacre
dos guardas suíços, por exemplo, quando da tomada do Palácio das Tulherias em agosto de 1792, ou com o da família
imperial russa em julho de 1918, em Escatimburgo, ou com o massacre dos oficiais do exército de Tchang Kai Tcheck,
liquidados após a tomada de poder pelos comunistas chineses em 1949. Mas melhor seria que não se tivesse ocultado
a fome durante o Antigo Regime por trás dos bailes em Versalhes, e dos dízimos extorquidos pelos padres. Ou as
centenas de manifestantes pacíficos de Petrogrado, massacrados no “domingo vermelho” de janeiro de 1905 pelos
soldados de Nicolau II; ou os revolucionários de Cantão e de Shangai arrastados ainda vivos para as caldeiras das
locomotivas, em 1927. Sem mencionar a violência cotidiana da ordem social que pretendíamos, em outros tempos,
colocar abaixo.
O episódio dos revolucionários queimados vivos não marcou somente aqueles que se interessam pela história da
China, ele é conhecido também pelos milhões de leitores da A Condição Humana, de Malraux. Pois, durante décadas,
os maiores escritores e artistas formaram coro com o movimento operário para celebrar as revoluções, o futuro que
clama por dias melhores. O que incluía o relato das tragédias, das ações da polícia política, o culto à personalidade, o
nepotismo, campos de trabalho forçado, execuções.
Irrupção da violência
Há 30 anos, no entanto, não se fala mais nisso, o que é até recomendável para se ter sucesso na universidade, na
imprensa e para brilhar na academia. “Aquele que diz revolução diz irrupção da violência”, explica o historiador Max
Gallo. “Nossas sociedades são extremamente frágeis. A maior responsabilidade daqueles que têm acesso à palavra
pública é prevenir contra essa irrupção.”5 Furet avaliava que toda tentativa de transformação radical era totalitária ou
terrorista, que “a ideia de uma outra sociedade se tornou quase impossível de ser pensada”. Sua conclusão: “Estamos
condenados a viver no mundo em que vivemos”.6 Um destino como esse concordava com as expectativas de seus
leitores, em geral protegidos das tempestades por uma existência agradável de jantares e debates.
A fobia das revoluções e seu corolário, a legitimação do conservadorismo, trouxeram à tona outras vozes além
daquelas de Gallo e Furet. Basta pensar nas escolhas dos meios de comunicação, incluindo o cinema. Há 30 anos eles
tentam afirmar que, fora da democracia liberal, não se encontra nada senão regimes tirânicos e a conivência entre
eles. A relevância dada ao pacto germano-soviético foi muito maior do que a outras alianças antinaturais, como os
acordos de Munique e o aperto de mão entre Adolf Hitler e Neville Chamberlain. O nazista e o conservador
comungavam, ao menos, no ódio aos setores populares. E o mesmo medo de classe inspirou os aristocratas de
Ferrare e os mestres das forjas de Ruhr quando resolveram apoiar a chegada ao poder de Mussolini e do Terceiro
Reich.7 É permitido relembrar isso também?
Nesse caso, vamos além. Léon Blum, ao teorizar brilhantemente sobre sua recusa a uma revolução de tipo soviético,
foi qualificado por um de seus amigos como “blanquismo ao molho tártaro”, em referência à doutrina do
revolucionário socialista Louis-Auguste Blanqui (1805-1881). Uma figura tão respeitada pelos defensores da virtude
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como Blum refletiu sobre os limites de uma transformação social na qual o sufrágio universal seria o único talismã.
“Nós não temos muita certeza de que os representantes e os dirigentes da sociedade atual, no momento em que
sentirem seus princípios gravemente ameaçados, não saiam da legalidade”, preveniu, em 1924.
De fato, transgressões desse gênero não faltaram desde então, do pronunciamento de Franco em 1936 ao golpe de
Estado de Pinochet em 1973, sem esquecer a derrubada de Mossadegh, no Irã, em 1953.
O chefe socialista Blum sublinhava que “a República não foi proclamada na França em virtude do voto legal, segundo
as normas constitucionais. Ela foi instalada pela vontade do povo que se insurgiu contra a legalidade existente”.
Invocado para desqualificar outras formas de intervenção coletiva (como as greves nos serviços públicos,
consideradas como uma tomada de reféns), o sufrágio universal teria se tornado o alfa e o ômega de toda ação
política. As questões que Blum colocou a esse respeito continuam atuais: “O sufrágio é uma realidade de fato hoje? A
influência do patrão e do proprietário não pesa sobre os eleitores, com a pressão do poder do dinheiro e da grande
imprensa? Todo eleitor é livre ao emitir seu voto, livre pela cultura de seu pensamento, livre pela sua independência como
pessoa? E, para liberá-lo, não seria preciso uma revolução?” Ele considera, entretanto, que o veredicto das urnas
desbaratou as pressões conjuntas dos patrões, do poder do dinheiro e da imprensa em três países europeus – Holanda,
França e Irlanda, países em que a maioria decidiu recusar a nova Constituição europeia, de corte neoliberal. Por essa
razão, ninguém o levou em conta.
“Nós perdemos todas as batalhas, mas éramos nós que tínhamos as melhores canções.” A observação, cujo autor
seria um combatente republicano espanhol buscando asilo na França após a vitória de Franco, resume, a seu modo, o
problema dos conservadores e sua lancinante pedagogia da submissão.
Dito de maneira simples, as revoluções deixam na história e na consciência humana uma marca indelével, mesmo
quando fracassaram, mesmo quando foram desonradas. Elas encarnam o momento, tão raro, em que a fatalidade se
insurge, em que o povo toma a dianteira. Por isso sua ressonância universal. Pois, cada um à sua maneira, os rebeldes
do Potenkim, os sobreviventes da Grande Marcha, os barbudos de Sierra Maestra, ressuscitaram o gesto dos soldados
revolucionários franceses, como sugeriu o historiador Eric Hobsbawm. “A Revolução Francesa revelou o poder do povo
de tal maneira que nenhum governo jamais será autorizado a esquecer que um exército improvisado de combatentes
não treinados foi vitorioso diante da poderosa coalizão formada pelas mais experimentadas tropas de elite das
monarquias europeias.”8
Parênteses revolucionário
Não se trata somente de uma “lembrança”: o vocabulário político moderno e a metade dos sistemas jurídicos do
mundo se inspiram no código que a Revolução inventou. E quem pensa no “terceiro-mundismo” dos anos 1960, pode
se perguntar se uma parte de sua popularidade na Europa não veio do sentimento de reconhecimento (no duplo
sentido do termo) que engendrou. O ideal revolucionário, igualitário e de emancipação do Iluminismo parece renascer
no Sul, em parte graças a vietnamitas, argelinos, chineses e chilenos que tiveram seu aprendizado no Velho
Continente.
O Império se enlameava e as antigas colônias pegavam o bastão. A revolução continuava. A situação atual é
diferente. A emancipação da China ou da Índia – e a afirmação de ambas na cena internacional – suscitam aqui e ali
curiosidade e simpatia, mas não remetem a qualquer esperança “universal” ligada, por exemplo, à igualdade, ao
direito dos oprimidos, a outro modelo de desenvolvimento, à preocupação de se antecipar às restaurações
conservadoras nascidas do saber e da distinção.
Se o entusiasmo internacional que a América Latina suscita é maior, é por causa da sua orientação política, ao mesmo
tempo democrática e social. Há 20 anos, uma determinada esquerda europeia justifica a prioridade que dá às
demandas das classes médias teorizando sobre o fim do “parêntese revolucionário”, sobre o desaparecimento político
das categorias populares. Os governos da Venezuela e da Bolívia, ao contrário, remobilizam estas classes populares,
provando-lhes que seu destino histórico não está selado, que, em suma, a luta continua.
As revoluções são raras, por mais que continuem sendo desejáveis. Elas supõem a existência de, ao mesmo tempo,
uma massa de descontentes prontos para agir, um Estado cuja legitimidade e autoridade sejam contestadas por uma
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fração de seus defensores habituais (em razão de imperícia econômica, descuido militar ou divisões internas que o
paralisam e em seguida o desconjuntam) e, enfim, a preexistência de ideias radicais que colocam em questão a ordem
social, extremamente minoritárias no começo, mas às quais poderão se somar todos aqueles cujas antigas crenças ou
lealdades foram desacreditadas.9
A historiadora americana Victoria Bonnell estudou os operários de Moscou e de São Petersburgo às vésperas da
Primeira Guerra Mundial. Como se trata do único caso em que esse grupo social foi ator principal de uma revolução
“exitosa”, sua conclusão merece ser reproduzida: “O que caracteriza a consciência revolucionária é a convicção de
que as suas demandas só podem ser atendidas pela transformação das instituições existentes e pelo estabelecimento
de outra organização social”.10 O que nos diz que essa consciência não aparece espontaneamente, sem uma prévia
mobilização política e agitação intelectual.
É o que se vê neste exato momento. A demanda dos movimentos sociais é primeiramente defensiva. A intenção é
restabelecer um contrato social considerado violado pelos patrões, proprietários de terra, banqueiros e governos. O
pão, o trabalho, a moradia, os estudos, um projeto de vida, não se trata ainda de um “futuro radiante”, mas a
“imagem de um presente despido de seus aspectos mais dolorosos”.11
Apenas depois, quando se torna patente a incapacidade das esferas dominantes de cumprirem as obrigações que os
legitimam no poder, e quando seus privilégios aparecem com toda clareza, por vezes é colocada uma questão para
além dos círculos militantes: a de saber “se os reis, os capitalistas, os padres, os generais e os burocratas conservam
ainda alguma utilidade social”.12 Só então se pode falar em revolução. A transição de uma etapa à outra pode ocorrer
rapidamente – dois anos em 1789, alguns meses em 1917 – ou não ocorrer nunca.
Há cerca de dois séculos, milhões de militantes políticos e sindicais, historiadores e sociólogos, examinaram as
variáveis que determinam a questão: a classe dirigente está dividida e desmoralizada? Seu aparelho repressivo
permanece intacto? As forças sociais que aspiram à mudança estão organizadas e são capazes de se entender? Em
nenhum lugar tais estudos foram mais abundantes do que nos Estados Unidos, onde se buscava frequentemente
compreender as revoluções, todas as suas consequências, tudo com o intuito de melhor esconjurá-las.
A confiabilidade desses trabalhos se revelou... aleatória. Em 1977, por exemplo, a maior preocupação era com a
“ingovernabilidade” das sociedades capitalistas. Por contraste, perguntava-se: por que a URSS é tão estável? As
respostas variavam: ora uma preferência dos dirigentes e da população soviética pela ordem e pela estabilidade; ora
uma socialização coletiva, consolidando com isso os valores do regime.
A natureza não cumulativa dos problemas a serem resolvidos dava ao partido uma margem de manobra; os bons
resultados econômicos contribuíam para a estabilidade buscada; um progresso do nível de vida; o status de grande
potência etc.13
O cientista político de Yale, Samuel Huntington, à época já imensamente célebre, concluía assim esse rol de índices
concordantes: “Nenhum dos desafios previstos para os próximos anos parece qualitativamente diferente daqueles
para os quais o sistema soviético já ofereceu resposta”.14
Todos sabem como a história termina.