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X encontro

anual da AIM







26 - 29 maio

Edição online




A AIM – Associação de Investigadores da


Imagem em Movimento
 surgiu da vontade
de reunir em Portugal, numa mesma
entidade representativa, um conjunto de
investigadores que têm em comum objetos
e temas de pesquisa.

Entre os objetivos da AIM, encontram-se a


promoção da investigação em áreas como
o cinema, a televisão, a arqueologia do
cinema, o vídeo, a Internet, entre outras;
assim como a promoção de encontros
científicos regulares e a edição da Aniki:
Revista Portuguesa da Imagem em
Movimento.

01 programa

Links e
02 informações
úteis

03 livro de
resumos







26 maio 27 maio 28 maio 29 maio

Abertura
10h00
Oficial

10h30-12h15 painel painel painel painel


A D G J

12h30-14h15 painel painel painel painel


B E H L

14h15-15h30 Pausa para almoço

Mesa- Conferência Conferência Assembleia-geral


Redonda Plenária Plenária e
15h30-17h15
Cinema e Susana de Lucia Tralli Encerramento
Educação Sousa Dias

painel painel
painel
17h30-19h15 C F
I

Apresentação e
19h30-20h30 Lançamento de
Prémios AIM
Livros




01

pro
gra
ma

26



quarta-feira
quarta-feira

9h45 Deepfake ou o insustentável


ilusionismo digital | Ricardo Nunes
Abertura do Secretariado (ICNOVA, Portugal)
Contactos: info@aim.org.pt
www.facebook.com/aim.org.pt Cultura visual, big data e cultural
analytics | Teresa Duarte Martinho
(ICS-ULisboa, Portugal)
10h00 Corpo encarnado, atenção e
Abertura Oficial do Encontro desterritorialização: Um espaço
cinematográfico para o sujeito
moderno | Tainá Xavier (UFF/UNILA,
Brasil)
10h30
- A3 | História do Cinema Português
Sala Zoom
12h15 Moderação: Sérgio Bordalo e Sá
- -
A1 | GT Teoria dos Cineastas (I) Contributos para uma história oculta
Sala Zoom do cinema português | Leonor Areal
Moderação: Maria do Rosário Lupi Bello (IHC-FCSH-NOVA, Portugal)
-
Percursos criativos na obra O impacto de O Pão de Manoel de
cinematográfica de Manuel Mozos | Oliveira | Paulo Miguel Martins (ISCTE-
Eduardo Tulio Baggio (UNESPAR, IUL / ESAD-IPL, Portugal)
Brasil) Metodologias para a construção de
A Poética de Woody Allen em relação uma história oral: Fricções, práticas e
a Federico Fellini: o diálogo discursos na construção de uma
intertextual entre Stardust Memories história das cineastas portuguesas |
e 8½ | Alexandre Silva Wolf (UTP/FAE, Érica Faleiro Rodrigues (CICANT-UHLT
Brasil) / IHC-NOVA, Portugal)

Mise-en-regard: A centralidade do
olhar no cinema de Céline Sciamma |
Daniel Oliveira Silva e Cybelle Mendes
(UBI, Portugal) 12h15
Dial M for Murch | Rui Ribeiro
(LabCom-UBI, Portugal)
-
12h30
A2 | GT Cultura Visual Digital (I) Pausa
Sala Zoom
Moderação: Marta Pinho Alves
-
A instabilidade do universo diegético:
cânone, reboot e subversão nos
franchises cinematográficos
contemporâneos | Francisco Merino
(LabCom-UBI, Portugal)
quarta-feira

12h30 O discurso vanguardista de Rogério


Sganzerla sobre o cinema brasileiro |
- Estevão de Pinho Garcia (IFG, Brasil)

14h15 Podemos falar em um cinema queer e


lésbico brasileiro na década de 1970?
-
B1 | GT Teoria dos Cineastas (II) | Maíra Tristão (UdK, Alemanha)
Sala Zoom
Pornochanchada: um capítulo
Moderação: André Rui Graça
brasileiro na sexploitation films | J.
-
W. Oliveira Júnior (FLUL, Portugal)
Glauber Rocha e a montagem de uma
História do Brasil | Bruna Carolina
Carvalho (UNIRIO, Brasil)

Autoria(s): alguns apontamentos


14h15
sobre a crise do autor e a Teoria dos -
Cineastas | Marcelo Carvalho (UTP,
Brasil) 15h30
Pausa para almoço
A estética dos games e a
representação no cinema: um olhar
sobre Parallel, de Harun Farocki |
Jamer G. Mello (UAM, Brasil)
15h30
-
B2 | GT Cultura Visual Digital (II) 17h15
Sala Zoom Mesa-Redonda
Moderação: Luís Nogueira Local: Zoom
- -
Imagens de um Brasil em suspensão Cinema e Educação
no filme Os Jovens Baumann | Ana Com: Elsa Mendes, coordenadora do
Maria Acker (ULBRA, Brasil) Plano Nacional de Cinema
Charlie Mancini, músico e compositor
Sleep Has Her House: realismo na era José António Moreira, professor e
digital | Julio Bezerra (UFMS, Brasil) investigador Universidade Aberta
Moderação: Ricardo Nunes (ESE-IPS)
Are you RECording? A produtora
online HitRecord e a criação O cinema e o seu objeto, o filme, têm
cinemática colaborativa | Marta Pinho servido como estratégica e instrumento
Alves (ESE-IPS, Portugal) pedagógicos para ensinar sobre
múltiplos temas, mas são em si mesmos
matéria de estudo, com incidência nos
B3 | História do Cinema Brasileiro seus textos e na poética, na sua
Sala Zoom gramática e nos seus modos de
Moderação: Miriam de Souza Rossini elaboração. Esta mesa-redonda
- discutirá diferentes modalidades de
O cineclubismo no Brasil: encontro e cruzamentos entre cinema e
contribuições para uma história | educação baseada no trabalho dos
Jorge Luiz Cruz (UERJ, Brasil) intervenientes.
quarta-feira

17h15 C2 | Cinema Brasileiro


Contemporâneo
- Sala Zoom
Moderação: Lídia Mello
17h30 -
Pausa Afetos e desafetos pela bandeira
nacional no cinema brasileiro
contemporâneo | Ana Caroline de
Almeida (UFPE, Brasil)

17h30 Apontamentos sobre a estética neon


do cineasta brasileiro Gabriel
- Mascaro | Cláudio Bezerra (UNICAP,
Brasil)
19h15
Vizinhança do Tigre e Baronesa:
deriva, fabulação, verdade e
C1 | GT Cinema e Educação memória | Rodrigo Guéron, Lucas
Sala Zoom Andrade e Ian Schuler (UERJ, Brasil)
Moderação: Elsa Mendes
-
A imagem em movimento enquanto
recurso pedagógico para o
desenvolvimento de competências
de autoaprendizagem em estudantes
do Ensino Superior | Sara Dias-
Trindade (CEIS20-UC, Portugal) / José
António Moreira (CEIS20-UC / UAb,
Portugal)

Cinema, educação e PNC: explorando


possibilidades nas redes sociais |
João Pinto (CIAC-UAlg, Portugal),
Teresa Cardoso (LE@D-UAb, Portugal)

Cinema e educação no
empoderamento de periferias:
desenho e análise de um panorama
ibero-americano | Pedro Alves
(CITAR-UCP, Portugal) / Mario Barro
Hernández (UNAM, México)

Possibilidades reflexiva e
emancipatória na análise das
representações da cultura escolar
no cinema | Rita Márcia Furtado (UFG,
Brasil)
27























quinta-feira
27 de maio

10h30 Entre filme, textos e


contextos: um estudo de 12h15
- recepção sobre Os
Mucker | Amanda Rosasco
-
12h15 Mazzini (JLU, Alemanha) 12h30
- Pausa
D1 | GT Outros Filmes (I): A cobertura mediática ao
filme The Irishman,
Sobrevivência e
produzido pela Netflix |
Resistência das Imagens
Jaime Lourenço
Sala Zoom
Moderação: Maria Ganem
(CIES/ISCTE-IUL / UAL, 12h30
Müller
-
Portugal) / Maria João
Centeno (ESCS-IPL / -
ICNOVA, Portugal)
14h15
Entre arquivos e histórias: -
Não é feitiçaria, é
quando o cinema vira E1 | Documentário
sinergia: a eterna
personagem | Theresa Sala Zoom
juventude de Sabrina |
Medeiros (UFJF, Brasil) e Moderação: Manuela
Pedro Curi (ESPM-Rio,
Christina Ferraz Musse Penafria
Brasil) / Marcela Soalheiro
(UFJF, Brasil) -
(PUC-Rio / ESPM-Rio,
Brasil) Mise-en-scène e
Inês: cinema, arquivo e cinematografia na
resistência | Thaís Blank construção da narrativa
(FGV-CPDOC, Brasil) e documental | Bertrand de
D3 | GT Cinemas Pós-
Patrícia Machado (PUC-Rio, Souza Lira (UFPB, Brasil)
Brasil) Coloniais e Periféricos (I)
Sala Zoom
Moderação: Michelle Sales Polifonia e dialogismo no
Sarah Maldoror, a documentário | Luiz
interseccionalidade de um -
O sinuoso percurso Adriano Daminello (UMinho,
olhar anti-colonial | Raquel Portugal)
Schefer (CEC-ULisboa / geopolítico de Queimada |
IHC-NOVA, Portugal) Rui Lopes (IHC-NOVA,
Portugal) Cinema documental:
Filmando o outro lado da
‘trincheira’ | Luísa Neves
Éramos em Bando:
D2 | Recepção e Cultura criação artística coletiva Soares (CEIS20-FLUC,
Mediática em tempos de pandemia | Portugal)
Sala Zoom Júlia Vilhena Rodrigues
Moderação: Francisco (CEIS20-UC, Portugal) Documentário brasileiro e
Merino as mulheres-personagens
- Distorções pós-coloniais | Karla Holanda (UFF,
Contributos da APP RTP na obra de Gabriel Brasil)
Arquivos para a Abrantes | Paulo Cunha
preservação da história (LabCom-UBI, Portugal)
da televisão portuguesa e
do cinema português | Imagens em branco e
Carlos Canelas (IPG, preto | Juliane Cavalcante
Portugal) (UNLP, Argentina) /
Clementino Jesus Junior
(UNIRIO, Brasil)
27 de maio

E2 | Espectatorialidade A cartografia da
Sala Zoom resistência brasileira em 15h30
Bacurau | Lorena
Moderação: Tainá Xavier
- Figueiredo (UnB, Brasil) / -
Dimensões da
espectatorialidade e
Fernanda Alves de Sá (UnB,
Brasil) 17h15
encarnações fílmicas no Conferência plenária
Cinema de Fluxo O Autor na periferia:
Sala Zoom
contemporâneo | Patrícia percepções acerca de O
Moderação: Mariana Liz
Black (NOVA, Portugal) Som ao Redor e
-
Inferninho | Gabriela
Susana de Sousa Dias
Um olhar impune: A Coutinho (UFPB, Brasil)
(Realizadora e Professora
violência escopofílica do
na Universidade de Lisboa,
espectador No Quarto da O profissional e o amador
Portugal)
Vanda | Ana Clara Pietroski no cinema brasileiro de
(NOVA, Portugal) baixo orçamento: Do arquivo oculto ao
atualizações pela arquivo exposto, da visão
(In)visibilidades de uma Economia da Dádiva | humana à visão não-
emergência: As imagens Miriam de Souza Rossini humana
de telejornais brasileiros (UFRGS, Brasil) / Rafael
na construção social das Sbeghen Hoff (UFAM /
desigualdades durante a UFRR, Brasil)
cobertura da epidemia de
Zika | Marina Saraiva,
Inesita Soares de Araújo e
17h15
Raquel Aguiar (Fiocruz,
Brasil) 14h15 -
Roots, The Next - 17h30
Pausa
Generations: a
representação da
15h30
experiência afro- Pausa para almoço
americana pós-guerra civil
na televisão | Edson Pedro
17h30
da Silva (USP, Brasil) -
19h15
E3 | GT Cinemas Pós- -
Coloniais e Periféricos (II) F1 | GT Outros Filmes (II):
Sala Zoom Descolonizar as Imagens
Moderação: Paulo Cunha Sala Zoom
- Moderação: Thais Blank
Encurtando o -
Antropoceno: Cura e Cronótopos em Transe:
refúgio em Bacurau | Olhares descolonizadores do
Liliane Leroux (UERJ, outubro equatoriano | Jorge
Brasil) / Michelle Sales Flores Velasco (Paris 3, França
(UFRJ, Brasil / CEIS20-UC, / UArtes, Equador)
Portugal)
27 de maio

The other paradigm of the As imagens gore.


gaze: challenging the Narrativas alternativas e
female body as a memética na política |
sexualized object. Ivana Bentes (UFRJ, Brasil)
Animality and animal
future in the films of
Carolee Schneemann, F3 | Mulheres no Cinema
Marina Abramovic / Laurie Contemporâneo
Anderson | Benjamin Léon Sala Zoom
(Université de Lille, França) Moderação: Érica Faleiro
Rodrigues
Imagem-malícia e -
perspectiva feminina em Viagem solitária: um
Tabu, Propriedade Privada estudo sobre liberdade
| Maria Ganem Müller feminina no cinema de
(ULisboa, Portugal) ficção contemporâneo |
Carlos Eduardo Fialho
O cinema das mulheres
(UFF, Brasil) / Tatiana
indígenas no Brasil |
Miranda (IBGE, Brasil)
Beatriz Rodovalho (Paris 3,
França)
Filmando cosmologias:
cinema e política em Los
silencios | Fabio
F2 | GT Narrativas Camarneiro (UFES, Brasil)
Audiovisuais
Sala Zoom As Amazonas do Cinema:
Moderação: Fátima Chinita Marta Nassar | Alexandra
- Conceição (Unicamp, Brasil)
Correntezas de Sereias e
Ofélias: Elena, os ritos de
passagem e a imagem de
si como busca | Márcio
Andrade (UERJ, Brasil) 19h15
Transições na montagem -
audiovisual: a elipse em
longas-metragens 19h30
brasileiros de Kleber Pausa
Mendonça Filho | Vinicius
Augusto Carvalho (ESPM
Rio, Brasil)
19h30
O buraco na tela: uma
narrativa do massacre de
-
Alcaçuz | Eduardo Prado
Cardoso (UCP, Portugal)
20h30
-
Apresentação e
Lançamento de Livros
Sala Zoom
28

sexta-feira
28 de maio

10h30 Paisagens espectrais:


Uma análise fílmica e
As imagens fabulares:
amizade e paisagens de si
- geográfica de Penúmbria
e El mar la mar | Rayman
em Rosa Azul de Novalis |
Haroldo Ferreira Lima (USP,
12h15 Aluy Virmond Juk (UBI,
Portugal)
Brasil)
-
G1 | GT Outros Filmes (III):
A paisagem poética na
Corpos poéticos, sujeitos
políticos
última trilogia de Patricio 12h15
Sala Zoom
Moderação: Beatriz
Guzmán | Silvana Mariani
(CEIS20-UC, Portugal) -
Rodovalho
-
James Benning:
12h30
Paisagem e ostranenie Pausa
Performatividade
(estranhamento) |
revolucionária da poesia
Fernando Brito (CIEBA-
visual de Ana Hatherly |
ULisboa, Portugal)
Mickaël Robert-Gonçalves
(LIRA-Paris 3, França) 12h30
Pioneiras da cine-dança: G3 | GT Cinemas em -
Deren, Menken e Arledge |
Bárbara Janicas (Paris 8,
Português (I)
Sala Zoom 14h15
França) Moderação: Mirian Tavares
- H1 | GT Cinema, Música,
Arte e vida em Céu Sobre Impacto das coproduções Som e Linguagem (I)
Água: o cinema grávido internacionais nos Sala Zoom
de José Agrippino de resultados artísticos e Moderação: Ivan Capeller
Paula e Maria Esther econômicos da -
Stockler | Cyntia Nogueira cinematografia lusófona O Tejo e o São Francisco
(UFRB, Brasil) (2009-2019) | Daniel Vidal como margens do
Mattos (ANCINE / FACHA, Atlântico: estudo
Discurso e retórica no Brasil) comparado das
ensaio audiovisual | Carlos expressões sonoras dos
Ruiz (CITAR-UCP, Portugal) O político, o social e a rios Tejo e São Francisco
representação das a partir da produção de
intimidades no cinema documentários sonoros |
brasileiro recente | Walcler de Lima Mendes Jr.
G2 | GT Paisagem e
Eduardo Paschoal de Sousa (UNIT, Brasil) e Juliana
Cinema (I) (USP, Brasil) Macêdo Dias (UFAL, Brasil)
Sala Zoom
Moderação: Ana Costa Intertextualidades Narrativas amplificadas: o
Ribeiro imagéticas no cinema uso criativo do som no
- propagandístico de Lopes cinema português | Tiago
A paisagem florestal no Ribeiro | Sérgio Bordalo e Fernandes (UBI, Portugal)
Novo Cinema Galego | Sá (INET-MD / FMH-
Iván Villarmea Álvarez ULisboa, Portugal) Verborragia silenciosa:
(CEIS20-UC, Portugal)
filmes sem som em 68 |
Leonardo Esteves (FCA-
UFMT, Brasil)
28 de maio

H2 | GT Paisagem e
Cinema (II)
Audiovisual e
apropriação: quando a 17h15
Sala Zoom
Moderação: Júlia Vilhena
estética elabora a
economia | Leandro
-
- Mendonça (UFF, Brasil) 17h30
Paisagem mutante: Pausa
Figurações da Ceilândia Apropriação e
nos filmes de Adirley transbordamento: do
Queirós | Aline B. Portugal documentário à instalação
imersiva | Lais Lara (UFF,
(UFRJ, Brasil)
Brasil) 17h30
Cinema na rua: Corpos
políticos e
-
performatividades na
cidade do Rio de Janeiro |
14h15 19h15
Tatiane Mendes (UERJ,
Brasil)
- -
I1 | GT Cinema, Música,
15h30 Som e Linguagem (II)
Sala Zoom
Paisagens interrogativas Pausa para almoço
de Brígida Baltar | Moderação: Carlos Ruiz
Fernanda Bastos (ECO- -
UFRJ, Brasil) Uma matula para uma voz:
a pluralidade vocal de
Grace Passô em Vaga
Se eu fosse uma
paisagem: Reflexões 15h30 Carne | Maria Altberg (PUC-
Rio, Brasil)
sobre arquivos familiares
| Ana Costa Ribeiro (UERJ,
-
Brasil) 17h15 As imagens e os sons
(memórias) imaginadas:
H3 | GT Cinemas em subjetividades propostas
Conferência plenária pela palavra lida e ouvida
Português (II)
Sala Zoom | Fernando Morais da Costa
Sala Zoom
Moderação: Filipa Rosário (UFF, Brasil)
Moderação: Jorge Luiz Cruz
-
-
Lucia Tralli O timbre do ciborgue:
Videodança e corpo
(Universidade Americana de som e música na
expandido: as propostas
Roma, Itália) construção de
cênicas de Analivia
identidades
Cordeiro | Beatriz Cerbino Studying Fandom (des)humanizadas no
(UFF, Brasil) Practices: a Gendered Re- cinema de ficção
Orientation científica ciberpunk |
António Lopes Ribeiro: a
André Malhado (CESEM-
câmara do poder do
NOVA, Portugal)
cinema português | Afrânio
Mendes Catani (USP,
Brasil)
28 de maio

I2 | Cinema & Política: Intermedialidade e afeto:


Aproximações estratégias de
Filosóficas engajamento na trilogia
Sala Zoom d’As Mil e Uma Noites |
Moderação: Marina Thalita Cruz Bastos (UFF,
Cavalcanti Tedesco Brasil)
-
Cinema e marxismo, Crise da maternidade:
pontos de fuga | Sérgio Representações no
Dias Branco (CEIS20-UC, cinema português de
Portugal) mulheres mães | María
Angélica Contreras (UBI,
O cinema de Zvyagintsev Portugal)
e a filosofia política de
Hobbes: Leviathan e as
imagens do poder e da
(in)justiça | Irene Aparicío
19h15
(IFILNOVA, Portugal) -
A orelha cortada de Van 19h30
Gogh, segundo Bataille, Pausa
como forma de corte no
cinema moderno. O caso
de Terra em Transe | Albert
Elduque (UPF, Espanha) 19h30
O cinema político
-
brasileiro contemporâneo
realizado por mulheres |
20h30
-
Lídia Mello (CEIS20-UC,
Prémios AIM
Portugal)
Sala Zoom

I3 | Cinema Português
Contemporâneo
Sala Zoom
Moderação: Iván Villarmea
Álvarez
-
Becoming Portuguese.
New Europes for Old in
Miguel Gomes’s Arabian
Nights | Hilary Owen
(University of Oxford /
University of Manchester,
Reino Unido)
29

sábado
29 de maio

10h30 J2 | Linguagem
Audiovisual
Fascinación, resistencia y
dignidad: la rostrificación a
- Sala Zoom
Moderação: Elisabete
ultranza en la obra de Ciprì
y Maresco | Joan Jordi
12h15 Marques Miralles (Tecnocampus-UPF,
Espanha)
- -
J1 | GT O Cinema e as A língua da poesia no
cinema: reflexão a partir de Censura ao cinema no
Outras Artes (I)
Pier Paolo Pasolini, espaço ibérico durante as
Sala Zoom
Tzvetan Todorov e Robert ditaduras | Ana Bela Morais
Moderação: Liliana Rosa
Bresson | Dária Salgado (CEC-ULisboa, Portugal)
-
Gesamtkunstwerk: A (CAUC, Portugal)
reunião das artes como
gesto de criação em Cinema experimental:
Ludwig: Requiem para um
Rei Virgem | Fátima Chinita
“tradição e talento
individual” | Ana Isabel
12h15
(ESTC-IPL / LabCom, Soares (CIAC-UAlg, Portugal) -
Portugal)
Narrativas audiovisuales de 12h30
As cabanas de Varda. lo cotidiano en primera Pausa
Produção de presença, persona | Jesús Ramé
sentido e López (URJC, Espanha)
arquissemelhanças numa
Webocumentário: da
perspectiva arqueológica
das mídias | Denise Costa playlist ao cânone | 12h30
Lopes (PUC-Rio, Brasil) Manuela Penafria (LabCom-
UBI, Portugal) -
Errâncias trágicas pelas
Cosmococas: o corpo
14h15
J3 | Teoria e História do
como linguagem nos quasi-
Cinema L1 | GT O Cinema e as
cinemas de Hélio Oiticica e
Neville d’Almeida | Gabriela Sala Zoom Outras Artes (II)
Freitas (UnB, Brasil) e Leonel Moderação: Sérgio Dias Sala Zoom
Antunes (UFRJ, Brasil) Branco Moderação: Diego Paleólogo
- -
Pinturas de luz itinerante: A ilusão óptica e o Em busca do gesto
uma abordagem a partir da movimento aparente dos perdido: o dispositivo do
poética híbrida do VJ dispositivos recreativos do tableau vivant nas imagens
Suave | Daniela Pinheiro século XIX | Maria Mire híbridas contemporâneas |
(LabCom-UBI, Portugal) (Ar.Co, Portugal) Nina Velasco e Cruz (UFPE,
Brasil)
A mise-en-scène da
sombra: modalidades Bill Viola: The Passions |
plásticas e efeitos André Arçari e Angela
dramáticos | Luís Nogueira Grando (LabArtes-UFES,
(LabCom-UBI, Portugal) / Brasil)
Fernando Cabral (LabCom-
UBI, Portugal)
29 de maio

Entre ficção e experiência: O figurino antes da


o ‘retorno do sujeito’ na figurinista: Uma proposta
fotografia contemporânea | para a reflexão crítica e
Teresa Bastos (ECO-UFRJ, autoria na produção de
Brasil) figurino no cinema
brasileiro e no cinema
Entre o cinema e a português | Nívea Faria
fotografia: a poética Souza (UNESA, Brasil)
intervalar de Letícia Ramos
| Victa Carvalho (ECO-UFRJ, 20 anos de Tônica
Brasil)
Dominante: reflexões a
partir de uma fotografia
L2 | Da Responsabilidade histórica | Marina
Cavalcanti Tedesco (UFF,
do Poder à Brasil)
Responsabilidade Ética
Sala Zoom Ponte entre linguagens:
Moderação: Irene Aparício pintura e cinema na
- produção de sentidos no
Gesto e poder: Reel/Unreel filme O Profissional |
| Célia Ferreira (ESAD.CR- Aline de Caldas Costa
IPLeiria, Portugal) (UESC, Brasil) / Andressa
de Souza Santos (UFOB,
A representação do poder
Brasil)
e o poder da representação
em Benny’s Video e
Brincadeiras Perigosas |
Liliana Rosa (IFILNOVA, 14h15
Portugal)
Billions: Teia de
-
personagens e foco 15h30
narrativo na construção da Pausa para almoço
primeira temporada |
Angélica Marques Coutinho
(FACHA, Brasil)

L3 | GT Cinema e
15h30
Materialidades -
Sala Zoom
Moderação: Ana Bela Morais 17h15
- -
O desenho como estudo Assembleia-Geral
formal sobre o &
enquadramento: dois casos Encerramento do
de estudo na direção de arte
Encontro
do cinema português |
Caterina Cucinotta (ICH-NOVA,
Portugal)
02
LINK
S
& inf
maç r o
ú ões
teis
links & informações úteis

- Programa -

Abertura Oficial do Encontro


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A1 | GT Teoria dos Cineastas (I)


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A2 | GT Cultura Visual Digital (I)
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A3 | História do Cinema Português
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B1 | GT Teoria dos Cineastas (II)


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B2 | GT Cultura Visual Digital (II)
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B3 | História do Cinema Brasileiro
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Mesa-Redonda
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C1 | Cinema e Educação
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C2 | Cinema Brasileiro Contemporâneo
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D1 | GT Outros Filmes (I)


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D2 | Recepção e Cultura Mediática
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D3 | GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (I)
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E1 | Documentário
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E2 | Espectatorialidade
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E3 | GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (II)
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links & informações úteis

Conferência Plenária

Susana de Sousa Dias


Do arquivo oculto ao arquivo exposto, da visão humana à visão não-humana
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F1 | GT Outros Filmes (II)


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F2 | GT Narrativas Audiovisuais
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F3 | Mulheres no Cinema Contemporâneo
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Apresentação e Lançamento de Livros


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G1 | GT Outros Filmes (III)


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G2 | GT Paisagem e Cinema (I)
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G3 | GT Cinemas em Português (I)
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H1 | GT Cinema, Música, Som


e Linguagem (I)
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H2 | GT Paisagem e Cinema (II)
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H3 | GT Cinemas em Português (II)
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Conferência Plenária

Lucia Tralli
Studying Fandom Practices: a Gendered Re-Orientation
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links & informações úteis

I1 | GT Cinema, Música, Som


e Linguagem (II)
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I2 | Cinema & Política: Aproximações Filosóficas
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I3 | Cinema Português Contemporâneo
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Cerimónia de atribuição dos Prémios AIM


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J1 | GT O Cinema e as Outras Artes (I)


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J2 | Linguagem Audiovisual
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J3 | Teoria e História do Cinema
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L1 | GT O Cinema e as Outras Artes (II)


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L2 | Da Responsabilidade do Poder
à Responsabilidade da Ética
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L3 | GT Cinema e Materialidades
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Assembleia-Geral e Encerramento do Encontro


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03

Livro

d
e
resu
mos

CP
CP
Conferência Plenária
Susana de Sousa Dias

Do arquivo oculto ao arquivo exposto,


da visão humana à visão não-humana
Susana de Sousa Dias
(Realizadora e Professora na
Universidade de Lisboa, Portugal)

Numa época em que as imagens já não são Susana de Sousa Dias é doutorada em
apenas objectos no mundo, mas matéria- Belas Artes (Audiovisuais) e Mestre em
prima do mesmo, esta comunicação Estética e Filosofia da Arte, tem o curso
interroga dois movimentos contemporâneos de Cinema (Imagem) da Escola Superior
com grande impacto na realização de de Teatro e Cinema.O seu trabalho
documentários: a criação de imagens cada explora a dialética da história e da
vez mais distanciadas do sensorium humano memória, questionando regimes
e a crescente disponibilização de objectos estabelecidos de visibilidade e
audiovisuais através da internet — alguns audibilidade com foco no arquivo. Os
anteriormente de difícil acesso, como os seus filmes foram exibidos em festivais e
depositados nos arquivos institucionais, exposições, como Berlinale, IDFA,
outros cuja função é serem imediatamente BAFICI, Documenta 14 (Keimena),
expostos_online. Berkeley Art Museum e Pacific Film
Partindo da experiência de realização de Archive, etc. Recebeu o Grand Prix
Fordlândia Malaise e da concomitante Cinéma du Réel e o Prémio FIPRESCI,
utilização de imagens de drone e imagens entre outros. Em 2012 criou um coletivo
do início do século XX disponibilizadas feminino que dirigiu o Festival
online, reflecte-se sobre as implicações Internacional de Cinema Doclisboa por
éticas e epistémicas das escolhas estéticas, duas edições, criando novas secções
formais e narrativas, e do papel da como Cinema de Urgência e Passagens
montagem na problematização das próprias (Documentário e Arte Contemporânea). É
imagens. professora da Universidade de Lisboa.
-
CP
Conferência Plenária
Lucia Tralli






Studying Fandom Practices: a Gendered
Re-Orientation
Lucia Tralli
(Universidade Americana de Roma, Itália)
-

How can the theories developed in the field Lucia Tralli is a gender and media studies
of gender studies help conceptualize scholar. Her main research focuses are
research topics in fandom studies? Is it grassroots media practices; the re-use of
possible to re-orient our point of view media images in audio-visual
towards fandom practices applying a productions; popular culture; celebrity
gendered_perspective? culture, and intersectionality in the
In the last years, we have witnessed a media. She has published papers and
growing interest in fan practices and their chapters on fandom, media and gender
progressive inclusion and acceptance within on several international academic
mainstream discourses about media. journals and books, and her first book on
Nevertheless, some practices - and their fan vidding as a gendered practice has
histories - have benefitted more public been accepted for publication by
recognition and praise whether others, Meltemi. She is currently Research
usually female-oriented, have not profited Fellow at the University of Naples
from the same open acknowledgment and Federico II, within a PRIN project on
have been scrutinized and silenced. Italian actresses and writing, and Adjunct
Focusing on the history of women-led fan Professor at AUR - The American
practice, vidding, and on some of the University of Rome, where she teaches
communities that had created and fostered Media and Gender and Introduction to
the first decades of this grassroots video- Visual Culture. She has extensively
remixing practice, we will explore how it is collaborated with Home Movies - Italian
possible to analyze these practices Amateur Film Archive in Bologna for
borrowing some concepts stemming from more than fifteen years, where she is
gender and queer theories. The objects at curating and organizing cultural projects
the center of these fields inhabit a space on the valorization of archival film
where identities, creative practices, politics, heritage. In 2020, she completed her
resistances and compliances, pleasures, and found-footage documentary, For Better or
desires are all inextricably connected. For Worse. Conversations with Sara (co-
From the history of women's fan practices to authored with Sara Iommi), about
"fangirls" peculiar affection towards specific women’s marriage imaginary in Italy.
media products, from remix as a gendered
technology to building and taking care of
virtual communities, we will focus on how a
gendered re-orientation of fan studies can
help to understand better the histories and
practices of a significant segment of media,
their fans.
-
A 26 maio
10h30 — 12h15
GT Teoria dos Cineastas (I)

A1
Percursos criativos na obra A poética de Woody Allen em relação a
cinematográfica de Manuel Mozos Federico Fellini: o diálogo intertextual
Eduardo Tulio Baggio entre Stardust Memories e 8½
(UNESPAR, Brasil)
-
Alexandre Silva Wolf
(UTP/FAE, Brasil)
Manuel Mozos nasceu em 1959, portanto,
-
era uma criança pequena quando estrearam
É uma prática bem conhecida usar o texto
o curta A Almadraba Atuneira (António
de outro, na práxis da construção de filmes
Campos, 1961) e os longas Dom Roberto
e roteiros, em busca de uma poética fílmica
(José Ernesto de Sousa, 1962) e Os Verdes
própria, que é frequentemente caracterizada
Anos (Paulo Rocha, 1963), considerados
nos estudos cinematográficos como
filmes pioneiros do Novo Cinema Português.
intertextualidade. É claro a partir desses
Como afirma Ana Catarina Pereira, Mozos
estudos que a presença desses intertextos
tem um lugar especial em uma “geração do
não deve ser entendida como mera
meio, situada entre os realizadores que
repetição, pois a partir de novos contextos,
consagraram o Novo Cinema Português e
o novo texto ganha significado original. Essa
os cineastas da geração mais recente”
possibilidade é baseada no dialogismo de
(PEREIRA, 2013:15). O objetivo da
Bakthin, que entende que todo homem
comunicação é, a partir da abordagem da
constrói sua linguagem a partir de diálogos
Teoria dos Cineastas e tendo em conta a
de outro e com outro. Kristeva cunhou a
condição do cineasta de integrar a “geração
palavra "intertextualidade", quando as
do meio”, identificar em sua obra de
vozes interagem em um texto, não tendo a
realizador cinematográfico os principais
voz do autor como a única. Woody Allen
percursos criativos. Para isso, será
tem um vasto trabalho que oferece muitas
considerada ainda a condição de um
possibilidades de análise. A pluralidade de
cineasta herdeiro dos cinemanovistas, que,
seu discurso nos permite pensar em seu
em alguns casos, foram seus professores
trabalho como um exemplo de
e/ou realizadores em filmes nos quais
intertextualidade aplicada ao cinema. Seus
trabalhou, seja como montador, assistente
filmes constroem uma rede significativa,
de montagem, anotador, etc. A hipótese é
composta de anúncios, lembranças,
de que a obra de Mozos apresente quatro
correspondências, deslocamentos e saltos
linhagens criativas principais: 1) A das
que fazem de sua narrativa um tecido de
ficções com protagonistas masculinos
fios cruzados, nos quais seus elementos
tipicamente lisboetas; 2) A dos
podem pertencer a muitos circuitos. Em
documentários voltados ao próprio cinema;
Stardust Memories (1980), Allen dialoga
3) A dos documentários sobre
intensamente com a obra 8½ (1965), de
personalidades da cultura portuguesa; 4) A
Federico Fellini. Este trabalho pretende
dos documentários a partir de imagens de
apresentar e analisar os diálogos
arquivo. Alguns dos filmes do cineasta
intertextuais do primeiro diretor com o
percorrem mais de uma dessas linhagens e
segundo, identificando o trabalho resultante
isso também será observado, bem como as
como um produto poético original.
possíveis influências formativas no campo
do cinema para a definição desses
percursos.
GT Teoria dos Cineastas (I)

A1

Mise-en-regard: A centralidade do olhar Dial M for Murch


no cinema de Céline Sciamma Rui Ribeiro
Daniel Oliveira Silva e Cybelle Mendes (LabCom-UBI, Portugal)
(UBI, Portugal) -
-

O artigo investiga a centralidade do olhar na Walter Murch começou a trabalhar como


obra da realizadora francesa Céline técnico de som nos filmes de Francis Ford
Sciamma a partir do seu mais recente filme, Coppola e George Lucas, no final dos anos
Retrato de uma Jovem em Chamas. 60. Desde então construiu uma sólida
Utilizando a metodologia proposta pelos reputação, também enquanto montador.
atuais desdobramentos da Teoria dos Autor de um livro especialmente dedicado
Cineastas, a investigação coloca o filme em ao tema - In the Blink of an Eye (1995) -
diálogo com as falas da diretora e com seus Murch tem sabido conciliar a reflexão
filmes anteriores para realçar que Sciamma teórica com uma prática exigente e sempre
concebe seu cinema em torno de uma inovadora da montagem: em 1996 ganhou
triangulação de olhares – o da protagonista, um Oscar pela montagem de The English
o da realizadora e o do espectador. Ao Patient, primeira premiação de sempre para
analisar como ela entende e caracteriza filmes montados em digital. Esta
cada um desses três vértices, o artigo comunicação aborda a metodologia de
propõe que a realizadora constrói sua trabalho de Murch e identifica algumas
narrativa a partir de uma ideia não de mise- particularidades técnicas e logísticas do seu
en-scène, mas de mise-en-regard, workflow: procedimentos e ferramentas de
colocando o olhar como questão montagem que operacionalizam conceitos
fundamental da criação e da recepção de um pensamento original sobre o cinema.
cinematográficas. E, em consequência, a
expressão mise-en-regard surge como
alternativa ou complemento a mise-en-
scène, ressignificando o papel do “olhar” na
teoria do cinema.
GT Cultura Visual Digital (I)

A2
A instabilidade do universo diegético: Deepfake ou o insustentável ilusionismo
cânone, reboot e subversão nos digital
franchises cinematográficos Ricardo Nunes
contemporâneos (ICNOVA, Portugal)
Francisco Merino -
(Labcom-UBI, Portugal)
-
O paradigma mediático contemporâneo De entre os pergaminhos da história,
postula um modelo de narrativa expansiva emerge no Antigo Egipto, uma das primeiras
que parece encerrar uma contradição descrições escritas de um episódio de
central. Por um lado, a transmediação, a ilusionismo, enquanto arte performativa.
valorização do narrative brand e a própria Estava lançada a vertente da prestidigitação
cultura de fãs estimulam o desenvolvimento que tinha como principal objetivo
de universos diegéticos coesos e em proporcionar atos de ilusão, fazendo crer ao
permanente expansão, assentes num público tratar-se de fenómenos mágicos,
cânone comum e distribuído por uma
sobrenaturais, impossíveis de serem
pluralidade de textos ou meios. O exemplo
exercidos pelo comum dos mortais. Datado
arquetípico desta tendência será o Universo
Cinemático Marvel, mas podemos encontrar de 1700 a.C., o Papiro de Westcar é um
a mesma fidelidade a uma certa ideia de símbolo de como, recorrendo a meios
cânone em grande parte dos franchises naturais, se aparentava desafiar as leis da
contemporâneos e também em obras física, procurando evidenciar poderes
menos convencionais, como Twin Peaks. extraordinários e projetar realidades
Por outro lado, esta tendência para inimagináveis. A afirmação dos ilusionistas,
inscrever propriedades e atributos estáveis frequentemente vistos como detentores de
ou canónicos num universo diegético é poderes supremos, impressionava quem
acompanhada por uma pulsão quase presenciava mirabolantes fugas de algemas
herética para a instabilidade e para a ou de camisas-de-forças. Quase dois
subversão. Franchises como Star Wars,
milhares de anos depois, à realidade
Alien, Terminator, Watchmen ou até filmes
quotidiana, complementada com todas as
como Joker parecem especialmente
alquimias das artes, nomeadamente,
condicionados por este paradoxo, um
conflito permanente entre os textos que cinematográficas, fotográficas, plásticas,
constroem o universo diegético e que pode digitais, surgem novas formas de iludir o
assumir formas muito diversas e ter público através de fakenews e deepfakes.
consequências distintas. Procuraremos Instrumentos de manipulação,
então identificar de que modo alguns destes desinformação e consequente
universos diegéticos preservam ciosamente condicionamento e intoxicação da opinião
o seu mundo possível, em contraste com pública, são o objeto da presente proposta
outros que se revelam mais favoráveis à que procura situar, fundamentalmente, a
subversão e à contradição. Tentaremos problemática da emergência dos conteúdos
também perceber a forma como a digitais falsos através das redes sociais.
actualização do cânone pode ser integrada
na própria diegese e a relação desigual e
até antagónica entre textos num mesmo
universo diegético.
A2
GT Cultura Visual Digital (I)

Cultura visual, big data e cultural Corpo encarnado, atenção e


analytics desterritorialização: Um espaço
Teresa Duarte Martinho cinematográfico para o sujeito moderno
(ICS-ULisboa, Portugal) Tainá Xavier
- (UFF/UNILA, Brasil)
A comunicação toma como ponto de -
partida um dos primeiros projectos O presente artigo busca avaliar, a partir de
apoiados na articulação com as engenharias um certo conjunto de reflexões sobre o
computacionais para estudar os fenómenos funcionamento da visão e das relações do
culturais em larga escala, as cultural corpo com o espaço na modernidade, as
analytics. O programa mencionado atribui- diferentes implicações do corpo e dos
se um lugar entre as humanidades e a sentidos no dispositivo cinematográfico.
computação social e confere atenção Nossa abordagem busca observar os
particular à cultura visual contemporânea, a efeitos da mudança de paradigma proposta
partir do que considera ser um observatório nos estudos de Jonathan Crary (2012; 2013)
único para o mundo social: as redes sociais em relação ao ponto de inflexão dos novos
mais frequentadas e os conteúdos que regimes de visualidade, marcados pela
albergam. Toma-se como ilustração o ascensão de um sujeito individualizado e
estudo da DeviantArt, que se caracteriza móvel, cuja atividade perceptiva integradora
como uma plataforma para artistas mobiliza o corpo como um todo, agora
reconhecidos e emergentes com a entendido como “encarnado”, em oposição
finalidade de expor, promover e partilhar as a uma concepção anterior, que o
suas obras no âmbito de uma comunidade marginalizava no processo do
artística. O trabalho das cultural analytics conhecimento. Se, como afirma Crary, um
(Yazdani, Chow and Manovich 2017) sobre novo regime de visualidade se constitui a
a DeviantArt, com o seu pendor partir do século XIX, mostra-se necessário
predominante para a quantificação e repensar o lugar do espectador
mensuração da evolução de aspectos como cinematográfico em posições teóricas
o brilho ou a dimensão das obras, vem consolidadas no campo do cinema. Através
reafirmar que as ciências humanas e sociais do exame de textos teóricos reunidos na
continuam a ter uma pertinência específica. coletânea A Experiência do Cinema,
Desde logo, para investigarem o que as organizada por Ismail Xavier, examinaremos
cultural analytics desaproveitam naquele as implicações das proposições de Crary
objecto de estudo. É o caso, por exemplo, sobre o as reflexões de V. Pudovkin, Hugo
da exploração dos temas e das Munsterberg, Maurice Merleau-Ponty, Edgar
interconexões entre imaginários da cultura Morin e Jean-Louis Baudry. Buscaremos
visual contemporânea que desaguam examinar como tais autores percebem as
naquele gabinete de curiosidades, digital e implicações do corpo na experiência com o
gigante: catálogos de moda, cartoons, dispositivo cinematográfico, entendendo os
filmes de animação japoneses, séries dispositivos como propõe André Parente,
televisivas misturando o género fantástico e “antes de qualquer coisa, equipamentos
o terror, entre outras peças. coletivos de subjetivação” (PARENTE, 2017:
16).
A3
História do Cinema Português

Contributos para uma história oculta do O impacto de O Pão de Manoel de


cinema português Oliveira
Leonor Areal Paulo Miguel Martins
(IHC-FCSH-NOVA, Portugal) (ISCTE-IUL / ESAD-IPL, Portugal)
- -

48 anos de ditadura e censura constituíram Em 1959, Manoel de Oliveira realiza o


uma terrível amputação na cultura documentário O Pão, uma encomenda da
portuguesa e em particular no cinema. Federação Nacional da Indústria de
Numerosos projectos cinematográficos Moagem. Nesse mesmo ano, o realizador
abortados ou proibidos constam dos afirma que “a fidelidade fotográfica e as
arquivos públicos existentes, na forma de imagens em movimento imprimem ao
cinema uma sensação de realidade tão
propostas, guiões, rascunhos, cartas,
persuasiva que esta autenticidade adquire
fotografias, artigos, etc. Analisando alguns
valor de ‘documento’, transformando o
destes documentos, procurarei levantar cinema num precioso arquivo histórico e
pistas sobre esse “cinema invisível”, informativo”. Acrescenta ainda que, quando
constituído de filmes imaginados por o documentário “for capaz de traduzir
diversos autores portugueses, como Manoel sentimentos e ideias, transmitir emoções e
de Oliveira, Manuel Guimarães, Paulo suscitar problemáticas, então ganhará força
Rocha, António da Cunha Telles, entre poética, afirmando-se como obra de arte
muitos outros. Todos esses filmes que intrinsecamente cinematográfica”. Assim,
nunca viram a luz fizeram parte das vidas Manoel de Oliveira neste documentário vai
destes criadores e dum substrato cultural não só registar artisticamente como se
que não podemos ignorar. Este artigo fabrica o pão, como também vai demonstrar
a validade de uma política concreta de
procura descobrir o que teria sido a história
produção desse alimento. Para isso, irá
do nosso cinema, se estes filmes pudessem
recorrer ao princípio de causalidade, que
ter-se concretizado. através da temporalidade apresenta os
factos em sequência, um após outro. Dessa
forma, o que aparece representado em
primeiro lugar dá um sentido ao que vem
posteriormente. As investigações de autores
como Larry Griffin ilustram de que forma a
aplicação de uma narrativa sequencial ao
cinema, reforça a compreensão da
mensagem, precisamente pela causalidade
temporal que imprimem às imagens. Nesta
comunicação analisaremos como O Pão é
um exemplo disso e como procura traduzir
uma iniciativa económica em ideias,
emoções e arte, marcando o modo como o
Cinema Novo irá abordar o
documentarismo.
A3
História do Cinema Português

Metodologias para a construção de uma


história oral: Fricções, práticas e
discursos na construção de uma história
das cineastas portuguesas
Érica Faleiro Rodrigues
(CICANT-UHLT / IHC-NOVA, Portugal)
-
Que metodologias utilizar para um registo e
uma análise da história oral contemporânea
com rigor científico? Esta comunicação será
baseada em vários anos de gravação de
história oral e interpretação de dados. Em
análise estarão quatro realizadoras
portuguesas e quatro filmes, e o modo
como se podem relacionar as gravações
contemporâneas realizadas pela
investigadora a estas realizadoras, com os
registos de história oral efectuados por
outros investigadores e os próprios filmes,
conjuntamente contribuindo para o
mapeamento do trabalho autoral das
realizadoras em causa. As realizadoras e os
filmes em observação serão os seguintes:
Noémia Delgado e Máscaras (1976), Solveig
Nordlund e A Lei da Terra (1977), Margarida
Cordeiro e Trás-os-Montes (1976), e
Manuela Serra e O Movimento das Coisas
(1979-1985). Esta análise recai, portanto,
sobre as cineastas pioneiras da realização
de cinema em democracia. Um dos
elementos particulares desta apresentação
é o facto de estes quatro exemplos se
distinguirem entre si, demonstrando o modo
como as cineastas portuguesas pós-
revolução construíram os alicerces do seu
trabalho: como realizadora independente,
como parte de um casal inserido numa
cooperativa e como realizadora
independente associada a uma cooperativa.
Será demonstrado como, nesta indagação
em particular, as hipóteses colocadas
através do método científico, após a análise
de dados, originaram resultados
inesperados.

B 26 maio
12h30 — 14h15
B1
GT Teoria dos Cineastas (II)

Glauber Rocha e a montagem de uma Autoria(s): alguns apontamentos sobre a


História do Brasil crise do autor e a Teoria dos Cineastas
Bruna Carolina Carvalho Marcelo Carvalho
(UNIRIO, Brasil) (UTP, Brasil)
- -
Conhecido como artífice do movimento do A relação entre a obra de arte e seu autor
Cinema Novo, o cineasta brasileiro Glauber adquiriu na modernidade uma feição quase
Rocha foi também um escritor e um leitor simbiótica. Em contraponto, as crises da
voraz. Esta comunicação percorrerá por modernidade põem em xeque a noção de
entre cartas, ensaios, artigos e entrevistas, sujeito e, consequentemente, a de autoria.
alguns livros e escritores que contribuíram Partindo desses pressupostos, esta
para as reflexões de Glauber sobre arte e proposta tem como objetivo problematizar a
política, especialmente as que atravessam o questão da autoria no âmbito da Teoria dos
filme-ensaio História do Brasil. Realizado em Cineastas. Recorreremos a três pensadores
1974 por Glauber ao lado do militante que, considerando o universo da escrita e
Marcos Medeiros, este longa inacabado é do cinema, questionaram a univocidade do
composto por uma montagem de sujeito/autor enquanto voz preponderante
fragmentos de filmes ficcionais e sobre a obra: Roland Barthes, Michel
documentários. Acompanha-o a narração Foucault e Pier Paolo Pasolini. Se a morte
de um percurso que vai desde a chegada do sujeito/autor em Foucault (2015)
dos portugueses na Bahia, em 1500, até os afirmaria a pluralidade dos discursos pelo
anos mais autoritários da ditadura militar. reposicionamento da função-autor, em
Aparentemente linear e pedagógico, o filme Barthes (2012) o autor seria resultado do ato
carrega em si alguns elementos que de criação (a linguagem “fala” pelo escritor);
complicam o seu pretenso didatismo. Um e em Pasolini (1982) um contexto polifônico
deles reside nas quebras de sua narrativa presidiria a subjetiva indireta-livre
que convidam ao desmonte da cronologia cinematográfica. Nos três pensadores a
anteriormente erigida; outro está na questão traz nuances para além do lugar
disparidade entre a narração do filme e as comum de um simples apagamento do
imagens que a acompanham, possibilitando autor. Mesmo que os termos “cineasta” e
ao espectador produzir outros sentidos para “autor” não sejam sinônimos – e que haja
a teoria acerca do país que o cineasta distinção evidente entre a Teoria do Autor e
deseja apresentar. Neste choque a Teoria dos Cineastas, como ressalta
anacrônico de imagens díspares, Glauber Cunha (2017) –, a questão da assinatura, da
dá-se à tarefa de escovar a história a autoria enquanto agente criador nomeado
contrapelo, conforme propôs Walter (seja o diretor, o roteirista, o fotógrafo etc.)
Benjamin, e revela o desejo de tocar uma perpassa a Teoria dos Cineastas e, desta
possibilidade de história a partir do forma, sua problematização se justifica.
inconsciente e de obras ficcionais. Tal Esta proposta se apresenta como um
análise será acompanhada pelas reflexões esforço em prol da leitura da Teoria dos
dos teóricos Ismail Xavier, Ivana Bentes e Cineastas a partir de questões acerca da
do próprio Glauber Rocha. crise da autoria.
B1
Teoria dos Cineastas (II)

A estética dos games e a representação


no cinema: um olhar sobre Parallel, de
Harun Farocki
Jamer G. Mello
(UAM, Brasil)
-
Este trabalho busca discutir, a partir do
método analítico e arqueológico
desenvolvido pelo cineasta alemão Harun
Farocki, algumas questões sobre as
condições de produção, distribuição e
consumo das imagens em um contexto para
além do dispositivo cinematográfico. A
pesquisa se debruça sobre a reflexão
teórica que o próprio cineasta constrói a
partir das mudanças processuais e
perceptivas proporcionadas por
transformações técnicas e novas lógicas de
criação e circulação das imagens em meios
electrónicos e digitais. O interesse de
Farocki é descrever teoricamente de que
maneira as imagens se repetem em
diferentes meios de produção e distribuição
técnica e estabelecer suas regularidades
epistêmicas (FOUCAULT, 2010). Em Parallel
(2014), Farocki convida o espectador a
seguir um processo de análise teórica e
comparativa com foco especulativo entre as
imagens dos jogos de computador e do
cinema. Assim, produz um estudo sobre as
imagens digitais ao explorar as condições
de visibilidade que se alteram no decorrer
do tempo, deduzindo algumas dimensões
epistemológicas e histórico-culturais das
formas visuais dos games. Este trabalho é
fruto de uma investigação mais ampla que
se debruça sobre o caráter teórico e
minucioso de análise das imagens
desenvolvido por Farocki, o que podemos
caracterizar como uma arqueologia da
cultura visual contemporânea a partir de um
pensamento moldado pelas teorias do
cinema.
B2
GT Cultura Visual Digital (II)

Imagens de um Brasil em suspensão no Sleep Has Her House: realismo na era


filme Os Jovens Baumann digital
Ana Maria Acker Julio Bezerra
(ULBRA, Brasil) (UFMS, Brasil)
- -
Os filmes de horror mais experimentais das Há uma dimensão primitiva e modernista
últimas duas décadas foram aqueles que em Sleep Has Her House. Scott Barley
exploraram as potencialidades do vídeo. A filmou tudo com seu Iphone 6,
experiência estética com o VHS, ou a concentrando-se em alguns elementos
simulação do mesmo, aborda sensações básicos: variações de movimento e luz,
diferentes se comparada às narrativas cores e sons, num processo de constante
digitais de aparelhos como smartphones,
figuração, a constituição de atmosferas,
webcams e câmaras de vigilância. A
tons e ritmos. As imagens e sons criam uma
memória é um aspecto importante nessas
imagens e o filme Os Jovens Baumann impressão de volume e densidade e
(2019), dirigido por Bruna Carvalho Almeida, parecem sofrer mutações como se
evoca ao debate um passado recente do estivessem sendo esculpidas. E tudo
Brasil, ou melhor, um país em suspensão. acontece em um mundo pós-humano ou
Hoje, a aparência do VHS não causa pré-humano. O realismo incorpora um tom
confusão entre ficção e documentário especulativo. O surrealismo está sempre por
desde que a estética foi absorvida por perto. A tela se torna uma espécie de portal
hábitos cotidianos (HELLER-NICHOLAS, para o tempo, espaço e fabulação de cada
2014). Porém, a estrutura da imagem e captura. É menos um retorno à natureza do
montagem se tornam estranhas em alguns que um retorno às coisas essenciais e à
momentos, o que contribui para a atmosfera
maneira como o cinema pode renderizá-las.
de horror. O ano em que o filme se passa,
O objetivo desta apresentação é investigar
1992, é emblemático para nossa história: o
os efeitos ontológicos da tecnologia digital e
primeiro presidente eleito após 25 anos de
ditadura, Fernando Collor de Mello, renuncia a noção de realismo em um diálogo entre
em meio ao processo de impeachment. Os Barley e Bazin – um desafio dado a crença
Jovens Baumann trazem a ambiência de de que a tecnologia digital quebrou o
desilusão e desesperança de um país em vínculo teórico-ontológico entre imagem e
suspensão – um lugar que nunca alcança o realidade. O cinema é um meio em
futuro porque não consegue restaurar constante mudança e a teoria está sempre
problemas do passado. Essas imagens se esforçando para alcançá-lo. É isso que
antigas não acessam uma memória nos esforçamos por fazer, revisitar o
nostálgica (HUYSSEN, 2014). O propósito é realismo de Bazin e a maneira como ele
causar desconforto e nos levar a uma pode intensificar a experiência de assistir a
sensação de suspensão, latência
um filme como Sleep Has Her House. O
(GUMBRECHT, 2010), conectando 1992 a
realismo para Barley e Bazin descreve uma
2019 – o Brasil do presidente Collor ao de
Bolsonaro. Assim, o arcaísmo do filme se atitude específica que um filme adota em
assemelha ao da política nacional no relação à base ontológica de seu meio e o
ambiente digital. que o Sleep Has Her House mantém como
seus fatos centrais: a natureza maleável de
seus elementos e procedimentos.
B2
GT Cultura Visual Digital (II)

Are you RECording? A produtora online


HitRecord e a criação cinemática
colaborativa
Marta Pinho Alves
(ESE-IPS, Portugal)
-
O novo cenário digital origina efetivas
transformações nas formas de elaboração e
difusão cinemática, evidenciadas pela
dilatação do número de participantes neste
contexto e pelo aumento dos canais de
circulação e exibição da obra fílmica. No
entanto, embora se possa admitir que o
modelo industrial dominante passa a ser alvo
de alguns condicionamentos e que necessita
de se adaptar às alterações que aparentam
estar em conflito com os seus modos de
operar habituais, é também notória a sua
capacidade de se adequar ao novo contexto.
Propõe-se, assim, que não ocorre uma
substituição, mas antes que a indústria
encontra forma de utilizar essas novas
práticas, construindo negócios sustentados
naquele que é considerado o ethos do
trabalho em rede e apropriando e
mobilizando o discurso que lhe é associado.
As ideias de colaboração e de
coautoria/coprodução passam a ser
exploradas por um número crescente de
empresas, com objetivos comerciais. Na
sequência disso, as várias iniciativas, que
são muitas vezes identificadas como
motivadoras de uma alteração das relações
de poder, significam antes uma migração
das convencionais estruturas de produção e
difusão de conteúdos para um novo
contexto, onde continuam, no entanto, a
exercer o seu papel habitual. A partir do
labor e da estratégia discursiva da produtora
colaborativa online HitRecord, a presente
comunicação propõe-se entender o
designado cinema colaborativo e os modelos
de negócios e relações laborais que se lhe
associam.
B3
História do Cinema Brasileiro

O cineclubismo no Brasil: contribuições O discurso vanguardista de Rogério


para uma história Sganzerla sobre o cinema brasileiro
Jorge Luiz Cruz Estevão de Pinho Garcia
(UERJ, Brasil) (IFG, Brasil)
- -
Pretendemos, com este trabalho, iniciar Entre 1968 e 1969, justamente no período
uma análise das atividades cineclubistas que abarca as exibições de O Bandido da
visando contribuir, junto com outros Luz Vermelha e A Mulher de Todos, Rogério
estudos, para uma história da experiência Sganzerla [1946-2004] progressivamente vai
das exibições audiovisuais fora do circuito aumentar o tom de suas críticas ao Cinema
comercial no Brasil, isto engloba
Novo até culminar em uma ruptura total. Do
principalmente os cineclubes e, também,
Manifesto Cinema Fora-da-Lei à entrevista
algumas TV’s comunitárias como a TV Olho
concedida ao Pasquim, passando por
e a TV Maxambomba, ambas no Rio de
Janeiro e, na medida do possível, dentro diversas entrevistas publicadas por jornais
destas atividades, apresentar informações de grande circulação, Sganzerla se
sobre as programações, as exibições e o deslocará da “disputa fraterna” para o
público. insulto agressivo. Simultaneamente a este
processo de rechaço ao Cinema Novo
ocorrerá um movimento de resgate da figura
de José Mojica Marins, o criador do
personagem Zé do Caixão. Em diversas
ocasiões, encontraremos em uma mesma
entrevista críticas severas ao Cinema Novo
e elogios extensos a Mojica. O primeiro será
tido como inautêntico e o segundo como
original, bárbaro e transgressor.
Compreendendo a passagem dos anos
1960 para os 70 como o momento da
ruptura de Sganzerla aos cinemanovistas é
possível refletir como Mojica reaparecerá
em seu discurso sobre o cinema brasileiro.
A partir de agora o Cinema Novo não é mais
o modelo e sim a filmografia “transgressora
e sanguinária” de Zé do Caixão. Sganzerla,
ao elaborar o seu discurso sobre o cinema
brasileiro assume uma postura tipicamente
vanguardista: rechaça o movimento que lhe
é anterior e cria uma tradição na qual
poderá utilizar como referência.
Objetivamos, portanto, analisar essa
construção discursiva justamente no
momento em que Sganzerla se lança como
cineasta de vanguarda.
B3
História do Cinema Brasileiro

Podemos falar em um cinema queer e Pornochanchada: um capítulo brasileiro


lésbico brasileiro na década de 1970? na sexploitation films
Maíra Tristão José Oliveira Júnior
(UdK, Alemanha) (FLUL, Portugal)
- -
Rita Moreira e Norma Bahia são duas Pornochanchada, uma mistura das palavras
realizadoras brasileiras que no auge da chanchada (filmes brasileiros de comédia de
Ditadura Militar, auto exilaram-se em New baixo orçamento) e porno (da pornografia), é
York onde produziram uma série de vídeos um gênero de filmes de comédia sexual de
enfatizando desigualdades sexuais e de baixo orçamento produzidos no Brasil entre
gênero. Lesbian Mothers (1972), poderia ser os anos 1960 e 1980 que teve um enorme
mais um documentário de entrevista, sucesso de público. Estes filmes faziam
entretanto, a primeira cena do filme segue menções eróticas, piadas de duplo sentido
por apresentar dois corpos femininos, e a exibição do corpo feminino com os
entrelaçando-se, beijando-se e tocando-se. enredos girando em torno de temas como
Uma câmera sensível acompanha os corpos virgindade, conquistas românticas e
trazendo uma perspectiva do female gaze adultério. Inicialmente estudadas como uma
(2011). The Apartament (1975), conta a exclusividade brasileira, por terem sido
história de uma taxista para quem o produzidas e tido seu maior sucesso
deslocamento diário é também o durante a ditadura civil-militar do país, as
deslocamento da sua identidade de gênero. pornochanchadas eram vistas como uma
She Has a Beard (1976), questiona a resposta irônica e alienante ao governo
elaboração identitária que recai sobre autoritário. Nos anos 2000, uma nova
corpos femininos: os pelos. Uma bailarina abordagem começou a ganhar visibilidade:
que decide não tirar a barba e, ao invés de esses filmes seriam uma forma de criticar
se excluir socialmente, aparece nas ruas ironicamente o governo e as estruturas
questionando os transeuntes sobre sua sociais, como o exército, a igreja, a família,
aparência conflituosa que transita entre a masculinidade etc., sendo “protegidos”
identidades de gênero marcadas. pelo grande sucesso de público. Os estudos
Analisamos a tríade de vídeos que de cinema identificam um gênero de cinema
compõem a série Living in New York, a partir mundial chamado sexploitation films, uma
da contribuição de Judith Butler (2017) e o categoria de filmes de baixo orçamento,
conceito de performatividade do gênero, feitos em diferentes países, com o mesmo
cuja crítica se estabelece ao modus tipo de enredos, estratégias de marketing e
operandi na constituição do gênero, além da linguagem cinematográfica das
problematização dos padrões normativos pornochanchadas. Aqui, analisaremos a
dos corpos e sexualidades. Assim como as relação entre as pornochanchadas e o
contribuições de Laura Mulvey (2011) para a sexploitation films de vários outros países,
realização de um female gaze, no qual tentando perceber se os filmes brasileiros
reivindica um contra-cinema. Essas duas fariam parte do mesmo gênero
teóricas nos forneceram as bases para cinematográfico, analisando ainda pôsteres,
pensarmos no pioneirismo de um cinema títulos e possíveis conexões entre
queer e lésbico realizado pela dupla. produtores.
C 26 maio
17h30 — 19h15
C1
GT Cinema e Educação

A imagem em movimento enquanto Cinema, educação e PNC: explorando


recurso pedagógico para o possibilidades nas redes sociais
desenvolvimento de competências de João Pinto
autoaprendizagem em estudantes do (CIAC-UAlg, Portugal)
Ensino Superior Teresa Cardoso
Sara Dias-Trindade (LE@D-UAb, Portugal)
(CEIS20-UC, Portugal) -
José António Moreira
(CEIS20-UC / UAb, Portugal)
-
A vertiginosa evolução das tecnologias Este texto constituiu uma reflexão sobre
digitais e o advento da web social propiciaram cinema e educação no contexto das redes
o surgimento de uma sociedade em rede sociais; surge de uma investigação doutoral
marcada por profundas mudanças na em curso sobre o Plano Nacional de Cinema
economia, estimulando o surgimento de (PNC), para compreender de que modo a
referida iniciativa governamental tem feito uso
novos paradigmas, modelos e cenários de
das redes sociais digitais online. Da revolução
aprendizagem. É precisamente um desses
tecnológica emerge uma sociedade em rede,
modelos - um modelo pedagógico para enquanto novo paradigma social, com
desconstruir imagens em movimento - que impactos no estilo de vida e no
pretendemos analisar, descrevendo o seu comportamento dos indivíduos, e ainda na
impacto nas competências de forma de aprenderem. O cinema, como arte
autoaprendizagem de 20 estudantes de audiovisual, sempre assumiu um papel
licenciatura, a partir da análise qualitativa das educacional na sociedade, mas encontra
suas percepções e narrativas. Os resultados agora novas possibilidades e caminhos para
mostram que este modelo pedagógico, cuja intervir, contando com públicos participativos,
arquitetura está ancorada nos princípios da que, além de recetores, também podem ser
aprendizagem ativa e colaborativa, da produtores de conteúdos audiovisuais no seu
quotidiano. Assim, as novas formas de viver o
autonomia, da flexibilidade e da interação
cinema influenciam as atividades
podem ter efeitos muito positivos sobre as
desenvolvidas pelo PNC e reforçam os seus
competências de autoaprendizagem dos objetivos educacionais. Parece inevitável a
estudantes do ensino superior nas diferentes relação educação, cinema e redes sociais,
dimensões consideradas: envolvimento e que vem incentivar a aprendizagem formal,
motivação para os conteúdos da disciplina; mas sobretudo fomenta a aprendizagem não-
empenho e dedicação no desenvolvimento formal, porque as pessoas aprendem cada
das atividades pedagógicas definidas, vez mais deste modo nas suas atividades
atenção/concentração e participação nas pessoais e profissionais. Como vivemos numa
atividades e nos debates realizados no sociedade tecnológica e audiovisual, em rede,
decurso das aulas. As implicações dos incorporando novos estilos de vida digital, a
resultados são discutidas não apenas do própria relação entre cinema e educação
ponto de vista da intervenção prática, mas também se atualiza, fruto de uma sociedade
cada vez mais ativa nas redes sociais online,
também em termos de investigação futura.
assumindo, portanto, novas dinâmicas
pedagógicas.
C1
GT Cinema e Educação (I)

Cinema e educação no empoderamento Possibilidades reflexiva e emancipatória


de periferias: desenho e análise de um na análise das representações da cultura
panorama ibero-americano escolar no cinema
Pedro Alves Rita Márcia Furtado
(CITAR-UCP, Portugal) (UFG, Brasil)
Mario Barro Hernández -
(UNAM, México)
-
O cinema é um poderoso meio de expressão As representações da cultura escolar no
e experimentação do real, com o condão de cinema se apresentam como
estabelecer espaços de alegoria e metáfora reconhecimento da escola como portadora
que problematizam a realidade (Jameson, de uma memória coletiva, representativa da
1995). Ao mesmo tempo que fomenta memória individual, singular e residual e que
cosmovisões e interesses partilhados, se constitui pelos aspectos que permeiam o
alimenta a construção e o desenvolvimento cotidiano desta. Nesse sentido, esse
de idiossincrasias. Enquanto questiona os trabalho tem como objetivo refletir sobre o
fundamentos do real, provoca a potencial pedagógico e estético das
sedimentação de conhecimentos, emoções e representações da escola no cinema e o
empirismos. E além de poder ser utilizado modo como estas contribuem para os
como veículo para discursos dominantes, estudos com ênfase na cultura escolar,
pode também conspirar a favor de explicitando as especificidades da escola
contraculturas e movimentos de resistência e como espaço formador e também como
dissidência (Sorlin, 1985). O cinema assume- espaço de memória, contribuindo para a
se, assim, como importante dispositivo para reflexão sobre o papel mesmo da formação e
o empoderamento de discursos, figuras, as possibilidades reflexiva e emancipatória
eventos e condições periféricas, potenciando das imagens fílmicas. Essa proposta é
a diminuição de fronteiras, a democratização sustentada tanto pela análise fílmica quanto
das oportunidades de participação cidadã e pela revisão de literatura que dialoga tanto
a emancipação da capacidade crítica com o campo cinematográfico quanto com
(Lipovetsky e Serroy, 2009; Rancière, 2010). os campos pedagógico e estético.
Com esta comunicação, pretendemos
enquadrar o cinema e a sua relevância
pedagógica no processo de valorização e
empoderamento de diferentes
marginalidades (geográficas, políticas,
económicas, sociais, culturais e/ou
humanas). Para isso, analisaremos diferentes
projetos situados no espaço ibero-americano
(sem intenção de exaustividade), delineando
um panorama atual da utilização da sétima
arte em contextos periféricos e educativos,
bem como um conjunto de recomendações
que poderão orientar futuras iniciativas neste
campo.
C2
Cinema Brasileiro Contemporâneo

Afetos e desafetos pela bandeira nacional Apontamentos sobre a estética neon do


no cinema brasileiro contemporâneo cineasta brasileiro Gabriel Mascaro
Ana Caroline de Almeida Cláudio Bezerra
(UFPE, Brasil) (UNICAP, Brasil)
- -
Durante a década de 2010, de todos os A luz neon é uma invenção da primeira
símbolos nacionais brasileiros - entre eles o década do século XX. Por conta do brilho
hino e a camisa canarinha da seleção de intenso e da variedade de cores foi
futebol - foi possivelmente o da bandeira prontamente adotada para fins publicitários. À
verde e amarela a que mais sofreu oscilações medida que se tornou mais barata e
no que diz respeito à sua relação afetiva com disponível, a luz neon alterou a paisagem de
a ideia de identidade nacional. As turbulências muitas cidades a partir dos anos 1920 em
políticas que afetaram o país nesses anos função dos letreiros chamativos dos
fizeram com que esse objeto fosse estabelecimentos comerciais. Las Vegas e
ressignificado, sendo gradativamente mais Los Angeles, nos Estados Unidos, são
associado a movimentos de direita e de exemplos emblemáticos. Um dos símbolos
extrema direita. Nesse período, o cinema mais notáveis do consumismo do pós-guerra,
brasileiro autoral catalisou o desconforto do o neon adquiriu status cultural ao ser
pensamento crítico com o uso e a absorvido pela pop art na década de 1960. O
apropriação desse símbolo que, tal como movimento artístico que se apropriou de
várias outras bandeiras e hinos, foram criados símbolos, ícones e produtos da cultura de
para forjar identidades nacionais durante a massa, sobretudo, do cinema e da
passagem de governos monárquicos para publicidade, adotou em sua proposta estética
republicanos. A partir de um pensamento a luminosidade intensa e o colorido excessivo
figural (BRENEZ, 1998) se pretende abrir o do neon. Presença kitsch em diferentes
tempo das imagens (DIDI-HUBERMAN, 2013) campos da arte pós-moderna, o neon tornou-
que surgem, para além da representação, se também uma expressão artística própria, a
quando estão em cena: a gigante bandeira neon art. A presente comunicação pretende
rasgada que faz sombra à cidade em Brasil discutir a construção de uma possível estética
S/A (2014), de Marcelo Pedroso; a bandeira neon pelo cineasta Gabriel Mascaro, a partir
revirada de cabeça para baixo em Branco Sai dos filmes Boi Neon (2015) e Divino Amor
Preto Fica (2015), de Adirley Queirós; a (2019). Entre outras coisas pretende-se
bandeira pintada na parede de uma casa em apontar que nessas duas obras o neon
um bairro violento e pobre em Baronesa aparece como um elemento estético-narrativo
(2017), de Juliana Antunes; a bandeira que traduz as ambivalências de tradição e
capturada pelo discurso neopentecostal em modernidade que perpassam, e de certo
Divino Amor (2019), de Gabriel Mascaro e, modo caracterizam, a realidade brasileira, no
finalmente, a bandeira que faz fundo a uma presente e no futuro.
criança da periferia vestida de homem-aranha
em No Coração do Mundo (2019), de Gabriel
Martins e Maurílio Martins.
C2
Cinema Brasileiro Contemporâneo

Vizinhança do Tigre e Baronesa: deriva,


fabulação, verdade e memória
Rodrigo Guéron, Lucas Andrade e Ian Schuler
(UERJ, Brasil)
-
Esta apresentação é parte da pesquisa que
estamos empreendendo sobre o cinema que
se desenvolveu mais ou menos nos últimos
quinze anos na periferia de Belo Horizonte,
seja porque seus autores nasceram nesta
região metropolitana, seja porque travaram
uma relação especial, ao mesmo tempo
artística e afetiva com esta. Vamos tratar aqui
especificamente dois filmes, A Vizinhança do
Tigre (Afonso Uchoa, 2014) e Baronesa
(Juliana Antunes, (2017). Em cada um deles,
guardando as devidas diferenças,
observamos um processo de aproximação
com a realidade a partir de dinâmicas
instauradas pelos diretores dos filmes entre
pessoas das localidades onde os filmes se
passam. Nestas dinâmicas, identificamos algo
como uma deriva, um devir criativo e um
processo fabulatório que não só trouxe uma
relativa horizontalidade ao processo criativo
do filme, como também permitiu uma potente
e singular aproximação com as histórias e as
realidades destas pessoas. É, pois, em meio a
estes processos, que os moradores locais são
selecionados para serem atores dos filmes -
eventualmente também co-roteiristas -,
sugerindo personagens e falas a partir das
vidas que vivem, viveram e/ou
testemunharam. Assim, mesmo considerando
a diferença entre os dois filmes,
observaremos o quanto os processos
criativos supracitados foram capazes de
produzir obras de grande singularidade e
força estético-política.
D 27 maio
10h30 — 12h15
GT Outros Filmes (I): Sobrevivência e Resistência das Imagens

D1
Entre arquivos e histórias: quando o Inês: cinema, arquivo e resistência
cinema vira personagem Thaís Blank
Theresa Medeiros e Christina Ferraz Musse (FGV-CPDOC, Brasil)
(UFJF, Brasil) Patrícia Machado
- (PUC-Rio, Brasil)
-

Cine São Paulo (2017) é um documentário Esta comunicação se debruça sobre o filme
brasileiro dirigido por Ricardo Martensen e Inês (1974, 19min), dirigido pela atriz e
Felipe Tomazelli. O filme conta a luta de um cineasta Delphine Seryg. Pouco conhecido e
homem para salvar o prédio centenário do nunca exibido no Brasil, o filme aborda a
antigo cinema de rua, numa pequena cidade prisão da militante Inês Etinne Romeu, que
do interior paulista. Na construção narrativa capturada em 1971 em São Paulo e
condenada à prisão perpétua, seria
do documentário, Seu Chico cede ao Cine
transferida no ano seguinte para o presídio de
São Paulo o protagonismo da história, através
Bangu no Rio de Janeiro, onde ficaria até
dos relatos sobre a história da sua família com 1979. Única sobrevivente do centro de tortura
o cinema. Destacamos, no variado acervo conhecido como Casa da Morte, Inês foi uma
utilizado na produção do filme, as narrativas testemunha chave no esclarecimento dos
pessoais de Seu Chico, bem como seus crimes cometidos pelo Estado brasileiro
arquivos pessoais em vídeo e registros da durante o período da Ditadura Militar. Ainda
família, que, cedidos aos diretores, ajudaram na década de 1970, quando Inês estava na
a rememorar a história do cinema, agora em prisão, a violência que sofreu foi encenada
ruínas. O uso de imagens de arquivos e por uma atriz no filme de Delphine Seyrig,
fragmentos de filmes antigos em depositado hoje no Centre Audiovisuel
documentários sobre os cinemas de rua é Simone de Beauvoir. Trabalhando com a
noção de “arquivos cruzados” (LINDEPERG,
recorrente, sobretudo quando a narrativa faz
2013), propomos resgatar o contexto de
uso dos relatos daqueles que foram parte da
produção do filme, os documentos usados
audiência desses locais. O exercício de
como fonte de informação e os modos como
rememoração torna-se estruturante quando essa história até então invisível foi narrada e
os entrevistados relatam suas idas aos montada. Para compreender o interesse por
cinemas, evocando lembranças dos filmes essa temática naquele momento,
que marcaram determinado momentos de apontaremos também a relação da
suas vidas. Assim como Cine São Paulo, realizadora com os movimentos do cinema
podemos citar outros exemplos de militante e feminista do período.
documentários brasileiros que seguem essa
mesma estrutura, como Cine Paissandu:
Histórias de uma Geração (2013), de Christian
Jafas e o curta-metragem Cine Vaz Lobo
(2016), do coletivo carioca Subúrbio em
Transe. Diante do exposto, esta comunicação
tem como objetivo discutir o uso de imagens
de arquivos pessoais na estrutura de
documentários com essa temática.
D1 GT Outros Filmes (I): Sobrevivência e Resistência das Imagens

Sarah Maldoror, a interseccionalidade de


um olhar anti-colonial
Raquel Schefer
(CEC-ULisboa, Portugal / UWC, África do Sul)
-

O cinema de Sarah “Maldoror”, primeira


cineasta a abordar as guerras de Libertação
dos países africanos de língua portuguesa
através do sistema de representação da
ficção, articula uma poética e uma política da
libertação. Inscreve-se na conjuntura do
Cinema de Libertação das décadas de 60 e
70, uma frente estética e política transnacional
unida em torno de um posicionamento
comum face ao cinema como instrumento de
representação e de transformação do mundo.
Através de uma perspectiva interseccional,
esta comunicação pretende examinar de que
maneira a filmografia de Maldoror subverte,
articulando um olhar poético e político sobre o
mundo em transformação, as categorias
identitárias, sociais, raciais e genéricas
associadas ao cinema hegemónico e, em
particular, ao cinema colonial. Se, no cinema
colonial, conceito dinâmico, o “colonial”
impregna os processos perceptivos e
cognitivos ligados à construção e à
organização do olhar cinematográfico e se
neste se articulam e formalizam categorias
dominantes de origem, classe, raça e género,
esta comunicação visa examinar de que
modo um olhar anti-colonial, africano, não-
dominante, negro, feminino e feminista se
afirma no cinema de Maldoror, vindo
questionar o próprio paradigma do cinema
anti-colonial. Se os estudos do cinema
colonial e anti-colonial se centram
preponderantemente sobre questões de
ordem histórico-política e cultural, esta
comunicação procura deslocar a análise para
um terreno estético-formal e de género.
Recepção e cultura Mediática

D2
Contributos da APP RTP Arquivos para a Entre filme, textos e contextos: um estudo
preservação da história da televisão de recepção sobre Os Mucker
portuguesa e do cinema português Amanda Rosasco Mazzini
Carlos Canelas (JLU, Alemanha)
(IPG, Portugal) -
-
Nesta comunicação procuramos abordar Durante a ditadura militar brasileira, foi
alguns contributos da APP RTP Arquivos para lançado o filme Os Mucker (Jorge Bodanzky e
a preservação da história da televisão Wolf Gauer, 1978), que retrata ficcionalmente
portuguesa e do cinema português. Deste a tragédia ocorrida na década de 1870 no sul
modo, serão assinalados e, posteriormente, do Brasil envolvendo uma seita religiosa
analisados diversos arquivos audiovisuais formada por camponeses. O grupo desafiou
disponibilizados pela referida APP, cuja as autoridades e seu massacre é pouco
aplicação foi lançada em março de 2019, que lembrado na história do país. Os jornais da
constituem marcos importantes da história da época expressaram diversas interpretações
televisão portuguesa e do cinema português. sobre o filme, incluindo uma curiosa de
A título de exemplo, no caso do cinema Glauber Rocha, que acreditava que o filme era
produzido em Portugal, evidenciam-se de extrema direita por ter sido co-produzido
diversos conteúdos audiovisuais, como pelo Instituto Goethe, o qual, na opinião do
sejam: entrevistas a realizadores portugueses; cineasta, estava a serviço da Cia (“Folha de
apresentação do panorama do cinema S.Paulo”, 27 de janeiro de 1979). Ao que
português em determinados períodos; parece, o conteúdo do filme, de contestação
abordagem aos métodos de produção de e de narração de histórias marginalizadas,
filmes vigentes em certas épocas; entre competiu com outros fatores externos ao
outros conteúdos audiovisuais relacionados filme durante a recepção. Assim, o interesse
com o cinema português. dessa proposta é guiado pela seguinte
pergunta: como a recepção de Os Mucker
está relacionada com o seu contexto histórico
e político? Para tanto, a metodologia envolve
a coleta e análise de textos sobre o filme que
foram publicados na imprensa brasileira em
1978-1979 e estão disponíveis hoje na
Hemeroteca Digital brasileira. Os métodos de
Janet Staiger em Interpreting Films (1992)
serão levados em consideração para análise.
A relevância dessa pesquisa se encontra na
possibilidade de analisar como contextos
políticos contribuem para a recepção fílmica,
mesmo quando o filme não se dirige
diretamente a eles.
D2 Recepção e Cultura Mediática

A cobertura mediática ao filme The Não é feitiçaria, é sinergia: a eterna


Irishman, produzido pela Netflix juventude de Sabrina
Jaime Lourenço Pedro Curi
(CIES/ISCTE-IUL / UAL, Portugal) (ESPM-Rio, Brasil)
Maria João Centeno Marcela Soalheiro
(ESCS-IPL / ICNOVA, Portugal) (PUC-Rio / ESPM-Rio, Brasil)
- -
A distribuição de filmes através de
plataformas de streaming, como a Netflix, tem Protagonista de mais de cem HQs, três filmes
crescido exponencialmente nos últimos anos. e cinco séries, Sabrina, a bruxa adolescente,
No âmbito da investigação de doutoramento é um exemplo de sinergia do mercado de
“Jornalismo de Cinema em Portugal”, entretenimento para o público jovem e, a cada
financiada pela FCT, procuramos conhecer as nova aparição, atualiza e complexifica sua
características da cobertura jornalística ao narrativa. A partir de O Mundo Sombrio de
filme The Irishman. O Jornalismo de Cinema Sabrina, produzida pela Netflix, este trabalho
constitui um objecto de estudo ainda por lança um olhar sobre este universo, a relação
explorar pelas ciências sociais e da entre suas múltiplas versões e o diálogo que
comunicação. Encarado como um subgénero estabelece com seu público na
do Jornalismo Cultural, o Jornalismo de contemporaneidade, considerando os
Cinema assume-se como um campo de debates acerca de adaptações e apropriações
sentido informativo, crítico e pedagógico. A em contextos sócio-políticos diversos, assim
presente comunicação procura, a partir da como a sobreposição e acúmulo de
análise de conteúdo aos artigos dos principais referências na Cultura Pop. A prática de
órgãos de comunicação social portugueses veicular um produto de entretenimento
(Público, Correio da Manhã, Jornal de através de múltiplas mídias, para explorar
Notícias, Diário de Notícias, Expresso e melhor diferentes mercados, destaca uma
Observador), programas de rádio (Cinemax e estratégia importante para a indústria cultural
A Grande Ilusão) e televisão (Janela no fim do século XX: a sinergia. Maira e Soep
Indiscreta, Cinebox e Cartaz Cinema) (2005) caracterizam os jovens como o
especializados em cinema, identificar as principal alvo da indústria do entretenimento,
características da cobertura mediática ao apresentando a juventude como um lugar de
filme produzido e realizado por Martin conflito ideológico que evoca questões
Scorsese e distribuído pela Netflix, The relacionadas ao poder em contextos locais,
Irishman. Desta forma, propomos analisar a nacionais e globais. Propomos que a
cobertura realizada a este filme, destacando o longevidade do universo de Sabrina é
enfoque, os géneros jornalísticos dominantes, sintomática das relações estabelecidas entre
os protagonistas destacados e o âmbito em os produtos da cultura massiva e o anseios
que o filme é mencionado, atendendo a que do público jovem. A personagem mantém-se
se trata de um filme distribuído unicamente alicerçada no repertório narrativo do texto
pela Netflix. fonte enquanto constrói interlocuções com as
referências do contexto adaptativo através de
dinâmicas que se desenham em um
movimento espiralado de manutenções,
trocas e atualizações (Soalheiro, 2014).
GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (I)

D3
O sinuoso percurso geopolítico de Éramos em Bando: criação artística
Queimada coletiva em tempos de pandemia
Rui Lopes Júlia Vilhena Rodrigues
(IHC-NOVA, Portugal) (CEIS20-UC, Portugal)
- -
Esta apresentação refletirá sobre as A partir da obra Éramos em Bando, criada
intersecções e apropriações políticas do pela companhia de teatro Grupo Galpão, em
cinema através do caso de Queimada (1969), parceria com o cineasta Pablo Lobato,
drama histórico sobre uma revolta de propõe-se refletir sobre a experiência artística
escravos nas Antilhas realizado por Gillo em tempos de confinamento. Dialogando com
Pontecorvo como um misto de filme militante outros trabalhos, discutiremos nessa
e épico de aventuras. Concebido como uma comunicação novas modalidades de
parábola do envolvimento dos EUA no percepção e de criação coletiva em tempos
Vietname e reciclando o argumento de um de pandemia, buscando perceber nelas “as
spaghetti western sobre a revolução mexicana forças (instáveis, em devir) das pequenas
(Robé 2014), Queimada confrontou-se com impressões, das atmosferas onde nada de
conflitos na rodagem na Colômbia e com a preciso é ainda dado, onde o pensamento
pressão da ditadura de Franco para que o apenas se ensaia, se deslocando levemente
enredo deixasse de ter lugar numa colónia da experiência” (Gonçalves, 2014).
espanhola, como inicialmente previsto. Da Discutiremos como a sensorialidade e o afeto
decisão de alterar a localização para uma determinaram uma virada epistemológica na
colónia portuguesa fictícia resultou uma arte e na estética contemporânea dos anos
inesperada dramatização das lutas de 2000 e vêm permitindo ao espectador novos
libertação que então decorriam em Angola, modos de fruição e interação. Veremos como
Moçambique e Guiné-Bissau, o que é os pequenos blocos de espaço-tempo,
especialmente notável pois embora Portugal – fragmentos efêmeros de gestos e sensações,
incluindo o seu espaço imperial – tenha arrancados do espaço íntimo da casa
marcado presença em dezenas de produções funcionam como lampejos de poesia e
europeias ao longo dos anos 60 e 70, as resistência em meio ao caos. No lugar de
guerras coloniais não tiveram praticamente narrativas cinematográficas convencionais,
expressão na ficção cinematográfica do que obedecem a uma lógica linear e causal,
período. No Brasil (onde chegou a ser visualizamos nessas obras contemporâneas
proibido), Queimada foi mobilizado para uma lógica do sensível, que divisam outros
evocar a história de escravatura desse país, modos de explorar as potências do tempo e
tendo-se também tornado num objeto de da imagem. Obras como essa do Grupo
análise recorrente no campo de estudos pós- Galpão nos levam a refletir também sobre as
coloniais (Davis 2000, Martin 2009). fronteiras e o que se passa entre os campos e
Examinaremos assim o modo como este caso as linguagens artísticas, dando a ver a
capta a tensão entre a economia política da potência poética de um cinema expandido,
produção, a semiautonomia do texto colocando em diálogo imagem, poesia e
audiovisual e a subjetividade da sua receção. performance.
D3 GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (I)

Distorções pós-coloniais na obra de Imagens em branco e preto


Gabriel Abrantes Juliane Cavalcante
Paulo Cunha (UNLP, Argentina)
(LabCom-UBI, Portugal) Clementino Jesus Junior
- (UNIRIO, Brasil)
-
A partir de A History of Mutual Respect (2010),
Gabriel Abrantes inicia uma itinerância das A partir de uma análise discursiva da
suas rodagens — Luanda, Costa Rica, Iguaçu, filmografia de diretoras e diretores negros
Amazónia e Haiti — cuja opção também contemplados em editais racialmente
obedece a questões políticas. Alexandre Melo orientados de fomento ao cinema brasileiro foi
(2010: 112) destaca a deslocação geográfica possível verificar como são projetadas as
nos filmes de Abrantes como tendo o “efeito questões identitárias quilombolas na tela
ideológico” de “proporcionar um grande. Num país onde 54% da população se
descentramento do ponto de vista, autodeclara preta ou parda, somente 2% das
potencialmente enriquecedor em termos 20 maiores bilheterias nacionais foram
políticos e narrativos”, que o afasta dos dirigidas e 4% roteirizadas por
“estereótipos colonialistas” divulgados “em e afrodescendentes entre 2002 e 2012. Ainda
por Hollywood, através de uma recriação (que segundo a mesma pesquisa realizada pelo
em muitos casos foi uma invenção mais do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação
que um reinvenção) em estúdio com imagens Afirmativa/Gemaa da Universidade Federal do
convencionais do exotismo longínquo”. Nesse Rio de Janeiro/UFRJ, “os negros aparecem
contexto, o próprio Gabriel Abrantes (Rua de em apenas 31% dos filmes. Quase sempre
Baixo, 2009: em linha) afirmara já que “Um caracterizados a partir de estereótipos
trabalho político é aquele que tenta imaginar o associados à pobreza e criminalidade”. Nos
mundo, distorcê-lo e pervertê-lo, para que títulos dirigidos pelo quilombola André dos
seja possível refletir moralmente sobre o que Santos é possível assistir como políticas de
o nosso mundo devia ser.” A partir das obras ação afirmativa voltadas para a produção
A History of Mutual Respect (2010), Liberdade audiovisual deram cartaz para o registro e
(2011), Baby Back Costa Rica (2011), Zwazo difusão de saberes de comunidades
(2012) e Taprobana (2014), o objectivo desta tradicionais afro-brasileiras, uma alternativa
comunicação será identificar e analisar os para garantir a presença de pessoas negras
“estereótipos colonialistas” e as distorções por trás e na frente das câmeras e de que
inventadas por Gabriel Abrantes nessas outros enredos sejam contados sobre elas.
narrativas, propondo reflexões sobre as Samba de Cacete: Alvorada Quilombola e
dimensões políticas e ideológicas do seu Marambiré, duas produções do mesmo
processo criativo e produtivo. cineasta, divulgam um modo de vida
decolonialista, anti-racista, autossustentável,
fundamentado em uma religiosidade não-
cristã e em favor das terras comunitárias. É
assim que o pensador quilombola Antonio
Bispo dos Santos caracteriza a cosmovisão
dos quilombos que no Brasil tem cerca de 3
mil grupos remanescentes.
E 27 maio
12h30 — 14h15
E1
Documentário

Mise-en-scène e cinematografia na Polifonia e dialogismo no documentário


construção da narrativa documental Luiz Adriano Daminello
Bertrand de Souza Lira (UMinho, Portugal)
(UFPB, Brasil) -
-
A partir da análise do documentário O Seu James Clifford, ao historicizar as descrições
Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira), de culturas no contexto da etnografia,
dirigido por Bertrand Lira (2019), discutiremos descreve como se deu a virada do
as estratégias de abordagem de sua narrativa, pensamento da escrita etnográfica após a
observando o uso das matérias de expressão década de 1960, quando a autoridade
do cinema na estruturação da sua mise-en- narrativa não está mais na pessoa do
scène, entendida aqui como o veículo da etnógrafo, mas é construída de modo
narrativa (Bordwell, 2008). No campo da dialógico e polifônico, em processo
narrativa documental, como na ficção, o colaborativo com os informantes. Essas ideias
diretor (metteur-en-scène) lança mão de remetem aos conceitos de polifonia presentes
diversos recursos ou esquemas de encenação nos escritos de Bakhtin, que desenvolveu
que definirão um certo estilo de abordar o suas teorias literárias no início do século XX. A
real. Nichols (2005) se refere a esse processo polifonia consiste na expressão de ideias por
como “a voz” de um filme, ficção ou muitas e diferentes vozes, dos vários sujeitos
documentário, relacionada ao estilo de um que se enunciam e interagem. Ao analisar o
realizador. No entanto, como o autor, romance polifônico de Dostoiévski, Bakhtin
reconhecemos as diferenças no tratamento afirma que a voz do autor não é colocada em
de um enredo ficcional e de uma abordagem uma distância autoritária em relação às vozes
documental. Neste gênero, a “voz” constrói dos personagens, ambas possuem valores de
uma perspectiva e revela o envolvimento do equipe. Isso também levaria a uma
documentarista com o mundo histórico que inconclusão do diálogo, uma vez que não
representa. No documentário em questão, cabe ao autor, ou a qualquer um dos
analisaremos os meios de representação, isto personagens, chegar a uma conclusão que
é, os esquemas estilísticos utilizados na sintetize as ideias discutidas. Considerando
estruturação da sua narrativa que, esses conceitos, pretendo identificar como a
destacamos, inclui a relação dialógica com os polifonia sugerida por Bakhtin está presente
personagens – inaugurada com o modo em alguns documentários e como o diálogo é
participativo/interativo do cinéma vérité compartilhado entre o cineasta e seu
francês. Além da encenação de situações informante.
para a câmera e a intervenção no real,
sobretudo quando o diretor propõe aos
sujeitos do documentário viverem situações
não experenciadas antes se não fossem
provocadas pelo diretor, o que imprime à
narrativa uma dubiedade que esfumaça a
fronteira entre os gêneros documental e
ficcional.
E1
Documentário

Cinema documental: Filmando o outro lado Documentário brasileiro e as mulheres-


da ‘trincheira’ personagens
Luísa Neves Soares Karla Holanda
(CEIS20-FLUC, Portugal) (UFF, Brasil)
- -

A relação entre quem filma e quem é filmado Esta comunicação vai analisar personagens
no cinema documental é um dos elementos femininas no documentário brasileiro dos
definidores na obra fílmica final, com um poder anos 1960 e 1970. A personagem feminina
influenciador que se estende desde a sua na primeira década quase sempre assume
criação à recepção e fruição por parte do papel secundário, vindo a ter maior destaque
espectador. Diferentes fatores podem a partir da década seguinte – mas de que
influenciar de forma determinante essa relação filmes e diretoras/diretores estamos falando?
com o Outro (tempo, aparato, poder, ética, Quais os contextos das duas décadas? Que
género, convicções, cultura, língua, etc.). interferência o feminismo provoca na
Quando o realizador opta por conhecer e dar a elaboração da personagem feminina? São
conhecer os antípodas das suas convicções essas questões que pretendemos discutir.
poderemos estar perante não simplesmente de Em praticamente todos os documentários
um exercício auto-performático de brasileiros dos anos 1960 não se veem
relativização e tolerância, mas sim no assumir personagens femininas relevantes, salvo
do cinema, enquanto ferramenta de criação e raríssimas exceções. É a partir dos anos
posição no mundo, que olha para o outro lado 1970 que as mulheres vão dirigir mais
daquilo que se crê por válido, para, através da documentários no Brasil. O aumento é
diferença, poder realizar uma reflexão mais exponencial, passando de 11 para cerca de
profunda sobre valores e certezas assumidas, 180. E, junto com esse aumento da
reforçando-as ou não. Para esta comunicação produção feminina, se verifica um interesse,
partir-se-á do exemplo do filme documental Of meticuloso por vezes, pelo sujeito-mulher. O
Fathers and Sons (2017) de Talal Derki, que esta comunicação propõe é sistematizar
realizador infiltrado nas fileiras e relações os contextos em que essas obras foram
familiares do Estado Islâmico na Síria, produzidas e, relacionando a questões de
analisando de que forma a ética, as raça e classe, verificar como as personagens
convicções, o tempo e as condições de femininas foram abordadas em filmes dos
produção foram elementos decisivos para este anos 1960 (feminismo apenas latente) e de
trabalho. Problematizando a relação meados dos 1970 (recrudescimento dos
estabelecida entre um realizador que procura o lemas feministas).
Outro que se define por contrário a si, e
valorizando os fatores que intervêm nessa
relação, olhar-se-á para a forma como as
ferramentas fílmicas e cinematográficas
poderão ser elemento primordial para uma
mediação do autor na construção da obra.
E2
Espectatorialidade

Dimensões da espectatorialidade e Um olhar impune: A violência escopofílica


encarnações fílmicas no Cinema de Fluxo do espectador No Quarto da Vanda
contemporâneo Ana Clara Pietroski
(NOVA, Portugal)
Patrícia Black
-
(NOVA, Portugal)
-
No início dos anos 2000 se consolida no A experiência estética do cinema nos
cinema de ficção autoral o que parcela da permitiu, desde sua gênese, desenvolver e
crítica francesa vai denominar como “estética explorar a escopofilia: o prazer intrínseco às
do fluxo”, ou como depois passou a ser pulsões do olhar investigativo do espectador.
designado, “cinema de fluxo”. Nele A obra, por sua vez, utiliza-se de processos
localizamos um movimento de primazia discursivos onde o corpo é diretamente
sensorial em detrimento da organização, onde colocado num campo político de submissão,
aspectos convencionalmente disciplinadores tornando o exercício cinematográfico um
do cinema, tais como a mise en scène, o sistema de poder impune e idôneo. Esta
conflito e até mesmo o conceito tradicional de proposta de comunicação tem por objetivo
plano, passam a ser substituídos por uma promover uma reflexão sobre a postura de
dinâmica de fluxo: um livre escoamento das domínio tomada pelo espectador em relação
imagens e sua potência como experiência ao corpo na obra cinematográfica, bem como
afetiva sob o espectador. À luz de teóricos compreender os mecanismos de poder e
brasileiros como Luiz Carlos Oliveira Júnior, alteridade desenvolvidos a partir da
Denilson Lopes e Erly Vieira Júnior, observação de uma narrativa. Neste estudo
discorreremos como o agenciamento da será analisada a obra No Quarto da Vanda
alteridade se dá nesta estética (2000), do realizador Pedro Costa, um
cinematográfica e com ela nasce um novo documentário/ficção que introduz o
modelo de incorporação fílmica para o espectador como observador direto e íntimo
espectador - algo distinto do que se via até dentro da narrativa e põe em foco os limites
então no cinema clássico ou moderno. da condição humana. Ao sustentar a
Utilizando como exemplo a obra Cemitério do supremacia do espectador voyeur, o filme nos
Esplendor (Apichatpong Weerasethakul, proporciona refletir de que forma as pulsões
2015), importa refletir não apenas o cinema de mais básicas da existência do olhar podem
fluxo e o seu conceito - ainda pouco tornar a escopofilia um ato de violência dentro
disseminado na teoria do cinema - mas como do exercício cinematográfico. Esta análise
este novo pacto de espectatorialidade será teoricamente amparada pela obra de
inaugura umas das principais bases Michel Foucault, a fim de relacionar as
relacionais entre imagem e sujeito no século estratégias políticas de poder social sobre o
XXI. Nela, o espectador deixa seu papel de corpo com o desempenho dominante do
regulador para se tornar um negociador, espectador ativo, bem como refletir de que
capaz de elaborar a convivência de múltiplos forma o cinema pode sustentar um sistema
signos, sensações e potências. efetivo de vigiar e punir.
E2
Espectatorialidade

(In)visibilidades de uma emergência: As Roots, The Next Generations: a


imagens de telejornais brasileiros na representação da experiência afro-
construção social das desigualdades americana pós-guerra civil na televisão
durante a cobertura da epidemia de Zika Edson Pedro da Silva
Marina Saraiva, Inesita Soares de Araújo e (USP, Brasil)
Raquel Aguiar -
(Fiocruz, Brasil)
-
Este trabalho busca investigar o papel das Em 1977, a exibição da minissérie Raízes,
imagens de telejornais na construção de produção televisiva baseada em um livro
sentidos sobre a emergência do vírus Zika no homônimo do jornalista Alex Haley,
Brasil e sua correlação com a síndrome estabeleceu-se como um importante
congênita. A partir da descoberta da relação fenômeno cultural nos Estados Unidos.
de causalidade entre o vírus e a microcefalia, Abordando o tema da escravidão através da
manifestação mais conhecida da síndrome, sobrevivência da afirmação ancestral africana
pretende-se observar a produção de sentidos por diferentes gerações de uma família, este
sobre a mulher e as desigualdades sociais e teledrama pioneiro e o livro em que foi
de gênero que atravessam o contexto da baseado estão diretamente relacionados com
epidemia. Tomou-se como objeto de análise a valorização da ancestralidade pelos afro-
os dois principais telejornais brasileiros – americanos e por um novo destaque do
Jornal Nacional, da Rede Globo, e Jornal da caráter étnico como marca identitária. Em
Record, da RecordTV –, no período de 11 a 1979, dois anos após a veiculação desta
28 de novembro de 2015, da admissão da minissérie, a rede de televisão ABC produziu
suspeita até a confirmação da correlação pelo uma sequela do teledrama original com o
Ministério da Saúde do Brasil. Como título de Roots, The Next Generations. Ao dar
referencial teórico-metodológico, adotou-se a continuidade à história dos ancestrais de Alex
teoria da produção social dos sentidos Haley e de sua própria trajetória pessoal na
segundo Pinto (1994) e Araujo (2002), que construção de sua saga, a narrativa abordou
consideram imagens como discursos. importantes eventos da história negra dos
Particularidades do telejornalismo são Estados Unidos, desde o período da
observadas a partir do entendimento de Reconstrução até a luta pelos direitos civis. O
condições de produção de Verón (2004) e de objetivo desta comunicação é apresentar uma
formas do silêncio de Orlandi (2015), além do reflexão sobre a memória histórica presente
jogo de visibilidades e invisibilidades nesta representação televisiva, apontando as
característico dos produtos televisivos e seu vinculações desta reconstrução histórica às
alto poder simbólico, conforme Bourdieu intenções discursivas de Alex Haley na
(1997). A perspectiva de modos de produção construção de sua obra.
de não-existência de Santos (2010) orientou o
olhar para as desigualdades. A análise em
perspectiva comparada permitiu identificar
dispositivos discursivos no estabelecimento
de sentidos dominantes sobre essa
emergência em saúde pública que evidenciou
vulnerabilidades sociais.
E3
GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (II)

Encurtando o Antropoceno: Cura e refúgio A cartografia da resistência brasileira em


em Bacurau Bacurau
Liliane Leroux Lorena Figueiredo e Fernanda Alves de Sá
(UERJ, Brasil) (UnB, Brasil)
Michelle Sales -
(UFRJ, Brasil / CEIS20-UC, Portugal)
-
No filme Bacurau (2019), observamos a forma O presente artigo tem como objetivo fazer
sofisticada e coletiva através da qual a uma reflexão sobre o filme Bacurau (2019),
população isolada recusa as reatulizadas dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano
formas com as quais o colonialismo e o Dornelles. A obra faz um recorte de um
imperialismo interno e externo seguem pequeno povoado brasileiro no interior do
extraindo valor dos territórios e das vidas. estado de Pernambuco, chamado Bacurau,
Haraway (2016), ao observar o estágio atual que misteriosamente some do mapa. Uma
da Terra, intitulado Antropoceno, convoca série de assassinatos começam a acontecer
para que façamos com que seja tão curto dentro da cidade por meio de ataques
quanto possível através da reconstituição de violentos e sádicos de estrangeiros. É nesse
“refúgios”. Percebermos Bacurau como cenário que se revela uma mobilização
resposta a esse convite na sinergia que traça coletiva de resistência, eixo principal para
entre a ancestralidade e o futuro, nas relações este artigo, permitindo-nos explorar conceitos
de gênero e sexualidade não totalmente de territorialidade e dispositivos sociais em
resolvidas mas bastante ampliadas, e no uso Deleuze e Foucault, que fornecerão chaves
blasé de tecnologias digitais. Nesta interpretativas para a reflexão. Diante da
comunicação, desdobraremos como entram construção narrativa do filme, nota-se tensões
em cena composições simpoiéticas (Haraway, e discussões sociais em diferentes camadas
2016) e (po)éticas (Silva, 2015) de de análise sobre a história decolonial
novas/velhas maneiras de lidar com a vida brasileira e o posicionamento de resistências
que reafirmam a ligação com a e rupturas micropolíticas, descortinando
ancestralidade, a terra, e o outro, que se fez assim as noções de poder, imperialismos,
presente também, em certa medida, no exploração e burguesia nacional que a obra
anterior Árido Movie (2005). Propomos pensar evoca. É no recorte da insurgência que o
Bacurau na chave de uma nova/antiga presente artigo pretende trabalhar. Buscamos
estética bastante visível no campo das artes e refletir sobre a potência cinematográfica para
que se relaciona com o Chthuluceno discutir a resistência como conceito e como
(Haraway, 2016), com o tecnoxamanismo prática, posicionando o contexto brasileiro
(Borges, 2015), com a cura descolonial decolonial e articulando a imanência de
(Rezaire, 2018), com um ancestrofuturismo vestígios estruturais, aliados às subjetividades
(Borges,2014), com um devir ameríndio das relações sociais através de uma
(Viveiros de Castro, 2015). A partir de cartografia, que assume transversalidades de
Bacurau, abordaremos cura e refúgio menos análises e também de multiplicidades de
como resistência e mais como recusa ao lado significado.
de pajés, curandeiras e bichas cangaceiras
gestadas nos poderosos sertões de nossos
(psico) trópicos.
E3
GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos (II)

O Autor na periferia: percepções acerca O profissional e o amador no cinema


de O Som ao Redor e Inferninho brasileiro de baixo orçamento:
Gabriela Coutinho atualizações pela Economia da Dádiva
(UFPB, Brasil) Miriam de Souza Rossini
-
(UFRGS, Brasil)
Rafael Sbeghen Hoff
(UFAM / UFRR, Brasil)
-
A essa comunicação interessa investigar O cinema de baixo orçamento se revela
como se dá a construção e aplicação do espaço de disputas e afirmações entre o
conceito de autoria no cinema no contexto amador e o profissional no campo do
de produção periférica, no qual se dá o audiovisual. Propõe-se discutir essas
cinema brasileiro, tendo como recorte o concepções a partir da história do cinema e
cinema produzido fora do eixo Rio de Janeiro das perspectivas de realizadores
– São Paulo, deslocado das grandes contemporâneos sobre os processos
produtoras, como as atuais produções produtivos de baixíssimo orçamento no
independentes nordestinas, configurando a cenário gaúcho. A atividade integra do
margem da periferia. Aqui compreendo a projeto de pesquisa Cinema Brasileiro e a
autoria como um conceito dispositivo Economia da Dádiva: o baixo orçamento
(AGAMBEN, 2009), que é capaz de articular como projeto político-estético, com
saberes e práticas, determinando formas de financiamento CNPq e Capes, realizado pelo
fazer e pensar o cinema, então proponho Grupo de Pesquisa em Processos
pensar o imbricamento do cinema autoral em Audiovisuais da Universidade Federal do Rio
relação a um cinema independente que hoje Grande do Sul (PROAv-UFRGS), sob
configura o cinema pós-industrial coordenação da profa. Dra. Miriam de Sousa
(MIGLIORIN, 2011), compreendendo assim Rossini. A pergunta motriz deste trabalho é:
um modo de produção que sustenta como o cinema de baixo orçamento
determinada autoria. Portanto a presente reconfigura as fronteiras entre amador e
apresentação busca analisar através dos profissional a partir do processo produtivo?
filmes O Som ao Redor (2012), de Kleber A resposta emerge dos encontros entre
Mendonça Filho e Inferninho (2018) de Guto realizadores e pesquisadores integrantes do
Parente e Pedro Diógenes uma das formas PROAv, que revelam múltiplos fatores de
em que a função-autor, nos termos de motivação e múltiplos processos produtivos
Michel Foucault (2000), se apresenta hoje na na cinematografia gaúcha contemporânea,
produção cinematográfica brasileira. De tal deslizando as fronteiras e “borrando” os
forma, veremos que a autoria requer ainda conceitos, seja por intencionalidades
certa postura política de desconstrução dos estéticas, seja por contingências políticas.
modelos tradicionais, ou melhor, industriais, Nesses termos, a Economia da Dádiva
de se fazer cinema, existindo e operando, de (MAUSS, 2003) aparece como uma
maneira atualizada no contemporâneo, explicação plausível e passível de
dentro da tensão entre tendência e qualidade atualização na cartografia do mercado e das
problematizada por Walter Benjamin (2017) - relações entre os agentes do campo
no caso específico deste estudo, tendência audiovisual.
autoral e tendência comercial.
F 27 maio
17h30 — 19h15
F1
GT Outros Filmes (II): Descolonizar as Imagens

Cronótopos em Transe: Olhares The other paradigm of the gaze:


descolonizadores do outubro equatoriano challenging the female body as a
Jorge Flores Velasco sexualized object. Animality and animal
(Paris 3, França / UArtes, Equador) future in the films of Carolee Schneemann,
- Marina Abramovic / Laurie Anderson
Benjamin Léon
(Université de Lille, França)
-

Durante once días de manifestaciones contra Performance, through the emphasis on the
el gobierno en Ecuador, los medios de human body does provide an opportunity to
comunicación tradicionales implementaron address the object-subject problem.
un “cerco mediático” que minimizaba la Certainly, these artists use their bodies that
magnitud de los acontecimientos que tenían are transformed into an instrument – and are
lugar en las calles. Durante la revuelta, then reduced to the status of a thing, one
solamente era posible ver lo que sucedía a might say. However, the bodies transcend
través de transmisiones en vivo a través de their objectification, which is transformed into
las redes sociales. Estas transmisiones eran a "new emancipated source material” (K.
lo suficientemente profesionales como para Battista). Based on this reflection, I would like
transmitir durante muchas horas sin to show a corpus where the traditional view
interrupción. ¿Quiénes estaban detrás de of the female body is reified through the
esas cámaras en medio de disputa? Esta presence of an animal that serves as a third
ponencia analiza el papel de los medios de eye. Far from being anecdotal, this presence
comunicación comunitarios y alternativos en puts the spectator at a distance in front of
las revueltas de octubre en Ecuador. Nos the physical gestures established in the
interesa conocer la contribución de la visual space. It’s the physically mobile
tecnología a la comunicación en sociedades presence of Kitch the cat in Carolee
fragmentadas social, política y Schneemann's famous Fuses (1968) where
económicamente, pero con un alto grado de the director films the love-making act with a
conectividad, como es la ecuatoriana. El modesty that moves it from the intimate to
papel que jugó la red en el enlace entre los the universal field of perception. But it’s also
movimientos espontáneos de jóvenes Marina Abramovic who confesses to a
urbanos, como el feminista, y los donkey the shocking anecdotes of her
movimientos ya instituidos como los existence in Confession (2010). Finally, it’s
movimientos de trabajadores y el movimiento Laurie Anderson's tribute to her deceased
indígena fue clave. Para esto, se analizará dog in Heart of Dog (2016). We look at
una serie de entrevistas a los protagonistas animals and animals look at us: a double
de este fenómeno, teniendo como hipótesis sense of a gaze and the need for a clear-
que las revueltas no estaban basadas en sighted and critical gaze, which is free from
acciones coordinadas, sino que simplemente prejudice and a certain anthropocentrism. In
se trataba de una confluencia de actos what way does the presence of the animal
similares que coincidían en el tiempo gracias within the performative gesture become a
al cruce de información en las mismas subversive and destructive strategy to fight
plataformas. Los medios de comunicación against women's objectification?
comunitarios que transmitían en directo por
internet y las redes sociales.
F1 GT Outros Filmes (II): Descolonizar as Imagens

Imagem-malícia e perspectiva feminina O cinema das mulheres indígenas no


em Tabu, Propriedade Privada Brasil
Maria Ganem Müller Beatriz Rodovalho
(ULisboa, Portugal) (Paris 3, França)
- -
Esta comunicação partilha a experiência de Os cinemas indígenas, reunidos por Barry
montagem do filme Tabu, Propriedade Barclay na categoria política de Quarto
Privada (8min, 2018), criado com imagens de Cinema, definem-se principalmente por sua
arquivo de cinegrafistas amadores em alteridade. Restituindo o ponto de vista que
viagem ao Taiti (Polinésia Francesa) nos anos falta (a “câmera em terra” – "the camera
1960. Os originais em 35mm e em película ashore" – como teoriza Barclay), os filmes
super8 foram passados a digital e cedidos indígenas podem fundar outros territórios de
para o filme pelo arquivo privado Ideias no cinema baseados em outras relações com a
Escuro. Ao me apropriar do material, imagem. No Brasil, emergindo no fim dos
procurei enfatizar tensões históricas anos 1980 graças ao trabalho do projeto
presentes no encontro dos turistas europeus, Vídeo nas Aldeias, o cinema indígena é
armados de suas câmaras, e dos nativos da majoritariamente masculino. No entanto, tal
ilha. A montagem tem como ponto de partida como na luta política, as mulheres indígenas
a identificação de uma sequência associada têm ocupado espaços importantes. A partir
ao conceito benjaminiano de imagem- do trabalho de cineastas como Pará Yxapy,
malícia, uma imagem reveladora do passado Sueli Maxakali, Célia Tupinambá, Natuyu
e do presente, capaz de evidenciar as Txicão, entre outras, esta comunicação
rupturas e intercessões da História, explora as potências poéticas, políticas e
redefinida por Georges Didi-Huberman como históricas do cinema indígena de mulheres.
sendo emblemática do mal-estar da Depois de considerar, aplicada a este
representação. Todo o filme desenrola-se em contexto, a própria leitura feminista por meio
torno desta sequência que retrata uma de uma abordagem descolonizadora (ou em
mulher taitiana a performar um banho para a um devir descolonizador), questionaremos
câmara. Passamos ainda pelo conceito como os filmes indígenas de mulheres
freudiano de tabu (da palavra polinésia ocupam e criam esses novos territórios,
taboo), sobre a ambivalência dos sentidos deslocando formas hegemônicas e
por um mesmo objeto ou ser: desejo e expandindo as possibilidades do cinema. O
repulsa, deleite e abominação. A perspectiva cinema indígena brasileiro propõe hoje
do filme define-se a partir de texto da filósofa indigenizar as telas. Nesse sentido, que
Djamila Ribeiro sobre lugar de fala da mulher caminhos para a indigenização propõem as
negra, indígena e oriunda de ex-colônias, mulheres? E ainda, como indigenizar o
numa tentativa de descolonizar o olhar sobre próprio olhar ocidental/hegemônico que se
os registos amadores. À base de tudo está a coloca sobre essa produção?
análise da socióloga P. Zimmermann, que
revela micropolíticas do imperialismo
expressas nos gestos de filmagem amadores
no estrangeiro.
GT Narrativas Audiovisuais

F2
Correntezas de Sereias e Ofélias: Elena, Transições na montagem audiovisual: a
os ritos de passagem e a imagem de si elipse em longas-metragens brasileiros de
como busca Kleber Mendonça Filho
Márcio Andrade Vinicius Augusto Carvalho
(UERJ, Brasil) (ESPM Rio, Brasil)
- -

Toda narrativa de vida compõe-se de Este trabalho examina a estrutura do código


reflexões que tecem o itinerário da de comunicação das transições espaço-
experiência e alimentam uma tensão entre o temporais em três longas-metragens
singular e o universal. Como um gênero brasileiros dirigidos por Kleber Mendonça
derivado das memórias, o autobiográfico Filho e editados em plataformas não lineares
fundamenta o desejo de consumir o ‘eu’ digitais: O Som ao Redor (2013), Aquarius
alheio, disseminando-se em formatos como (2016) e Bacurau (2019). Investigam-se as
biografias, autobiografias, cartas e diários. estratégias para comunicar, por meio da
No filme Elena (2013), o gesto autobiográfico constituição visual de hiatos, que
de Petra Costa parte da dificuldade da determinada sequência está em um ponto no
diretora em se desvencilhar da sombra em tempo ou espaço diferente da anterior.
torno do suicídio da própria irmã, Elena. Considera-se o uso das tecnologias digitais
Entre roupas usadas, páginas de diário e na pós-produção de conteúdos audiovisuais
arquivos familiares, a diretora ensaia um contemporâneos, com foco nos efeitos
olhar de dentro da irmã para elaborar a visuais de transição e nas questões de
própria imagem de si. Neste artigo, parte-se estética, cognição, ritmo e estrutura
do filme de Petra Costa para pensar as desenvolvidos na montagem das chamadas
relações entre as narrativas de si e do outro elipses. A motivação para esta investigação
na autobiografia (LEJEUNE, 1989; LANE, decorre da escassez de estudos que
2002; MACDONALD, 2013) e como eles relacionem a teoria com a prática de
podem levantar questões em torno dos construção destes recursos narrativos.
processos, poéticas e autorias na escrita Parte-se do entendimento da pontuação
cinematográfica (SAYAD, 2008; MARAS, visual como integrante da gramática fílmica,
2009; JOHANN, 2015). Busca-se pela perspectiva do arcabouço teórico-
compreender como, no filme Elena, Costa metodológico composto por Bordwell,
assume o autobiográfico como a própria Manovich, Martin, Metz e Salt. A análise do
imagem em processo, em que o corpus permitiu caracterizar estratégias de
documentário funciona como um espaço em constituição dos hiatos, identificando
que ela pode repetir a morte da irmã como aspectos de convergência e divergência nas
uma simulação para constituir a própria três produções de Mendonça Filho – no
trajetória. Nesses ecos entre morte e entanto montadas por profissionais
encenação como formas de falar de si, diferentes –, permitindo reflexões sobre o
procura-se pensar em como, ao nos narrar, uso dos efeitos de transição audiovisuais na
não nos representamos nem nos tornamos indústria cinematográfica brasileira
um sujeito a partir da narrativa, mas, pelo contemporânea.
contrário, nos simulamos.
F2
GT Narrativas Audiovisuais

O buraco na tela: uma narrativa do As imagens gore. Narrativas alternativas e


massacre de Alcaçuz memética na política
Eduardo Prado Cardoso Ivana Bentes
(UCP, Portugal) (UFRJ, Brasil)
- -

Esta comunicação pretende discutir Como caracterizar o regime de imagens e


aspectos narrativos e discursivos de um seus efeitos de verdade, efeitos de crença e
vídeo feito por detentos em Alcaçuz (RN, “narrativas alternativas” que emergiram na
Brasil), que narra o massacre de 2017 lá produção audiovisual durante as eleições
ocorrido, em resposta a uma reportagem para Presidente da República do Brasil em
feita pelo Fantástico, da TV Globo. Para 2018? Estamos vendo a emergência de
compreender as referências formais novos regimes de visualidade e de verdade
utilizadas pelos autores e também sua na produção audiovisual em forma de
interlocução com a televisão e o público da “memes”, mini documentários, e vídeos
internet, mobilizar-se-ão teorias fílmicas e da amadores que circularam nas redes sociais e
comunicação. Uma vez que o vídeo cita especialmente nos grupos de Whatsapp no
nominalmente o dominical de notícias da Brasil? Que tipo de retórica se produziu nos
Globo exibido três dias antes, é feita uma vídeos que ajudaram a eleger o candidato da
distinção formal e conceitual entre a matéria extrema-direita a presidente da república,
televisiva e a gravação feita por telefone Jair Bolsonaro? Análise de vídeos que
celular. Os pontos de vista e as autoridades circularam nas redes a partir de padrões de
eleitas em cada vídeo serão analisados com anonimato, autoralidade genérica, “imagem
vista a entender o efeito e o alcance de tais pobre” remix de arquivos, streamings e virais.
produções. Uma ideia mencionada no título A partir da co-evolução entre dispositivos
deste trabalho e registrada pelos membros tecnológicos e a produção de subjetividades,
do Primeiro Comando da Capital é um estéticas e linguagens, a pesquisa investiga
buraco no muro da cadeia feito à bala, cuja a seguinte questão: O discurso
representação materializa o massacre e toca antissistêmico na política se expressa, nos
na condição do aparato. O “buraco da casos a serem analisados, por imagens que
fechadura” que autoriza o olhar para o rompem com o sistema e regime das
espaço da interdição, neste caso, é feito às imagens da publicidade eleitoral, do
avessas: por aqueles raramente auto- jornalismo tradicional e do cinema. A fatura
representados. Discute- se, então, como as da imagem é a marca a “memética” (um
novas mídias inauguram discursos de campo teórico em construção) com suas
violência. Por fim, faz-se necessário abordar imagens editadas e montagens, as colagens
como o vídeo só se conclui como e memes, que servem de base para a
experiência na reação inflamada dos produção de fake news. Como essas
comentaristas do YouTube. A discursividade imagens utilizam a colagem, remixagem,
do criminoso espelha-se no ódio registrado adulterações e manipulações de toda ordem,
por escrito e a noção de interatividade para produzir um paradoxal “efeito de
confunde os de dentro da cadeia/tela com verdade” com alto poder de convencimento?
aqueles fora dela(s).
Mulheres no Cinema Contemporâneo

F3
Viagem solitária: um estudo sobre Filmando cosmologias: cinema e política
liberdade feminina no cinema de ficção em Los silencios
contemporâneo Fabio Camarneiro
(UFES, Brasil)
Carlos Eduardo Fialho
-
(UFF, Brasil)
Tatiana Miranda
(IBGE, Brasil)
-
Essa pesquisa analisa indícios da liberdade e A trama de Los silencios, longa-metragem de
autonomia feminina na contemporaneidade Beatriz Seigner, se passa em algum ponto no
através de viagens solitárias de mulheres. centro da América do Sul, entre Brasil,
Analisamos três filmes de ficção recentes na Colômbia e Bolívia. Em meio à paisagem
busca desses indícios: Comer, Rezar, Amar amazônica, o filme aproxima temporalidades
(Ryan Murphy; 2010), Livre (Jean-Marc distintas — presente e passado, mas
Vallée; 2014) e Juanita (Cark Johnson; 2019). também vida e morte —, a partir de dois
Comer, Rezar, Amar (2010) e Livre (2014) são personagens exilados (mãe e filho) que
filmes sobre mulheres que tentam resgatar buscam meios de sobrevivência ao mesmo
suas identidades através de viagens tempo em que procuram seus familiares (pai
solitárias, após passarem por experiências e filha), desaparecidos após um protesto.
pessoais de forte impacto emocional. Juanita Assim, Los silencios lida com a invisibilidade
(2019) narra a história de uma mulher negra, (dos parentes desaparecidos) e o
de meia idade, em busca da independência, silenciamento (dos que restaram) e, para
novos relacionamentos e o sentido da vida potencializar essa estratégia, cria um
através de uma viagem solitária. Os três rompimento entre o mundo dos vivos e o dos
filmes serão analisados através do método mortos. Trata-se de uma outra cosmogonia,
de leitura da narrativa e narração fílmica, mais próxima daquela dos povos originários
buscando indícios que nos conduza à do continente, em que o tempo histórico é
compreensão do termo “liberdade feminina” subvertido, e percebido não mais como linha
nas obras em questão. O feminismo reta, mas como uma espiral. Além disso, o
contemporâneo — chamado de 4ª onda — filme de Seigner dialoga com um dos traços
possui como pauta a luta por direitos iguais e estilísticos do cinema indígena brasileiro,
a autonomia da mulher. As mulheres como apontado por André Brasil e Bernard
retratadas nos filmes selecionados não são Belisário: o corpo-câmera, que se relaciona
ativistas do movimento feminista, elas se “não apenas com os objetos e fenômenos
inserem nesse contexto de 4ª onda porque visíveis, mas também com (...) agências
perseguem e vivenciam sua liberdade invisíveis”. (BRASIL; BELISÁRIO, 2016, p.
viajando sozinhas por um mundo ainda hostil 604) Ao fim, a forma fílmica de Los silencios
às mulheres. Pesquisar e analisar essas parece elaborar, a partir das características
experiências através do cinema permite aqui apontadas, uma espécie de “pedagogia
compreender os lugares do olhar feminino da resistência”, tocando em temas urgentes
sobre a liberdade e construção da identidade para uma América Latina que tem vivido
feminina na contemporaneidade. períodos de intensa efervescência social e
política.
F3 Mulheres no Cinema Contemporâneo

As Amazonas do Cinema: Marta Nassar


Alexandra Conceição
(Unicamp, Brasil)
-
O presente trabalho tem como propósito
revisitar as obras cinematográficas de Marta
Nassar, mulher, artista amazônida, brasileira,
de Belém-Pa, que realizou as seguintes
obras: Nayara, a Mulher Gorila (1992), Quero
ser Anjo (2001) e Origem dos Nomes (2005),
as quais analiso, neste momento, de forma
fílmica e estética. Estas 3 obras fazem parte
da minha tese, a qual integra um
mapeamento sobre a participação de
diretoras na história do cinema paraense, a
representação do imaginário amazônico e da
mulher, em obras selecionadas, entre elas as
de Marta Nassar. Seus filmes: Nayara, a
Mulher Gorila, obra com traços surrealistas,
que trata sobre sexo, corpo, mutilações e
metamorfoses, assuntos obsessivamente
tratados pelo surrealismo. Esta obra
percorreu vários festivais nacionais e
internacionais, sendo inclusive premiada;
Quero ser Anjo, que tem como aspecto
fundamental a presença do imaginário e do
lúdico; A Origem dos Nomes é a volta da
artista ao surrealismo, utilizando-se do
imaginário. Cabe ressaltar não apenas a
importância de suas obras para o cinema na
Amazônia e seus aspectos estéticos, mas
especialmente por ser uma mulher
amazônida produzindo em um meio
majoritariamente dominado por homens e
fora do eixo Europa-EUA e Rio-São Paulo.
Este contexto, por si só, já pode ser
considerado um êxito, por quebrar barreiras.
E se faz extremamente importante dar lugar,
reconhecimento e registro a estas mulheres.
Tendo em vista a busca por igualdade e
representatividade.
G 28 maio
10h30 — 12h15
G1
GT Outros Filmes (III): Corpos Poéticos, Sujeitos Políticos

Performatividade revolucionária da poesia Pioneiras da cine-dança: Deren, Menken e


visual de Ana Hatherly Arledge
Mickaël Robert-Gonçalves Bárbara Janicas
(LIRA-Paris 3, França) (Paris 8, França)
-
-
Com Revolução (1975), a artista e poetisa
Em 1945, Maya Deren filma um dançarino
Ana Hatherly ofereceu uma obra que
capaz de transpor, no impulso de um salto,
sublimava os muros da liberdade de Lisboa,
todos os limites espácio-temporais e
onde as expressões populares partilhavam o
barreiras sociais. Ela lança assim as bases
espaço com os cartazes dos partidos
da primeira cine-dança, que define como
políticos. Filmada em Super 8, essa obra
“uma dança tão intimamente ligada à câmara
eufórica enriqueceu o corpus já diversificado
e à montagem que ela não poderia ser
das práticas artísticas exploradas pela
executada como tal em outro lugar senão
artista. Se é possível analisar o trabalho de
neste filme”. No mesmo ano, duas outras
Hatherly durante os anos setenta – incluindo
cineastas propõem as suas visões pessoais
os outros filmes realizados até 1977 (Rotura)
da cine-dança através de dois filmes
e a sua participação no evento Alternativa
experimentais, que permanecem
Zero – através da influência do processo
relativamente desconhecidos e pouco
revolucionário, poder-se-ia também pensar a
comentados no campo dos screendance
capacidade da arte e, particularmente, da
studies: trata-se de Visual Variations on
performance para investir um “ser político”
Noguchi de Marie Menken, no qual a câmara
no tempo revolucionário, como o definiu
dança improvisando os seus deslocamentos
Ernesto de Sousa. Assim, a Revolução não é
num décor apenas habitado por esculturas
só a condição de criação, mas também o
abstratas, sem que nenhum corpo humano
pretexto para confirmar as ambições
identificável figure no ecrã; e de Introspection
plásticas da autora. Esta comunicação
de Sara Kathryn Arledge, onde as
concentra-se sobre o gesto político da
propriedades plásticas e virtuais dos corpos
performance nesse período histórico, a
dançantes são exploradas além dos limites
dimensão poética das imagens e a
do reconhecível através de efeitos especiais
circulação de Hatherly entre as disciplinas
nunca antes realizados. Esta comunicação
artísticas, revelando uma convicção já visível
tem o objetivo de mostrar de que maneira os
na transdisciplinaridade.
primeiros filmes de Marie Menken e de Sara
Kathryn Arledge constituem uma alternativa
radical à visão fundadora da cine-dança
inaugurada por Maya Deren em 1945 com A
Study in Choreography for Camera. Veremos
ainda que, desde os seus primeiros passos,
outras vias mais abstratas da cine-dança
começaram a ser traçadas por estas e outras
cineastas que não hesitam em questionar o
vocabulário coreográfico convencional e as
representações dominantes dos corpos,
investindo as imagens em movimento com
as suas sensações e visões particulares do
mundo.
G1
GT Outros Filmes (III): Corpos Poéticos, Sujeitos Políticos

Arte e vida em Céu Sobre Água: o Discurso e retórica no ensaio


cinema grávido de José Agrippino de audiovisual
Paula e Maria Esther Stockler Carlos Ruiz
Cyntia Nogueira (CITAR-UCP, Portugal)
-
(UFRB, Brasil)
-
Céu Sobre Água (1978), curta-metragem de Esta comunicação apresenta investigação
22 minutos em Super-8, foi o último trabalho original dedicada ao estudo dos elementos
artístico de José Agrippino de Paula (1937- retóricos e narrativos utilizados no Ensaio
2007), um dos nomes mais importantes e Audiovisual. Nos últimos anos, resultado dos
menos conhecidos do tropicalismo no Brasil. novos meios electrónicos e da internet, o
Autor de Panamérica (1967) e de outras Ensaio Audiovisual tem sofrido importantes
obras transgressoras na literatura, no teatro, transformações que refletem a expansão de
na dança, no cinema e na música, Agrippino uma prática que antes se encontrava limitada
realiza Céu Sobre água com a dançarina e ao género cinematográfico do filme-ensaio.
coreógrafa Maria Esther Stockler (1939- O desenvolvimento e o acesso às novas
2006), com quem manteve uma parceria tecnologias tem proporcionado uma enorme
artística e de vida ao longo de mais de uma abertura a novas formas de investigação.
década. O filme é produzido durante sua Prova disso é a recente aceitação do Ensaio
gravidez e os primeiros anos de vida da filha Audiovisual não apenas na academia, mas
do casal, Manhã, ao longo do período em também em galerias, museus, festivais,
que viveram entre Salvador e Arembepe, revistas digitais e outros meios de exibição e
logo após o autoexílio de dois anos em divulgação através da internet. A partir da
países da África como Senegal, Mali, Togo e pesquisa realizada a autores e académicos
Dahomey (Benim). Um filme de dança e, ao como Catherine Grant, Kevin. B. Lee,
mesmo tempo, um diário íntimo, com Komoda Haruko, Adrian Martin, Laura
registros das vivências do casal entre 1972 e Mulvay, Cristina Àlvarez, Laura Rascaroli
1978, antes e depois do nascimento de entre outros, esta comunicação explora as
Manhã, Céu Sobre Água é também um filme qualidades do Ensaio Audiovisual no que
processo, que se desdobra no tempo. respeita às dimensões do ensino, da arte e
Propomos aqui pensá-lo como um ensaio da investigação e das intersecções e
sobre a luz e a cor, que tem como eixo possibilidades que emergem da sua prática.
central o corpo grávido e os movimentos da Catherine Grant (2014) defende que “ a
dançarina e coreógrafa nas águas do Rio qualidade do Ensaio Audiovisual transforma
Caratingui. Integrando arte e vida, o curta- o cinema numa forma de pensamento
metragem valoriza as formas que surgem material na qual o pensamento sobre o
das cores e de sua vocação movente, cinema é feito através da manipulação dos
também encontrada na dança e no cinema. seus materiais”. A presente comunicação
Cruzando as fronteiras entre linguagens, pretende assim responder à seguinte
Agrippino e Maria Esther parecem fazer do questão: Será que as abordagens do Ensaio
ritual da criação artística, assim como o da Audiovisual podem alterar o paradigma de
gestação, o recomeçar de um mundo. como podemos fazer investigação e produzir
conhecimento?
G2
GT Paisagem e Cinema (I)

A paisagem florestal no Novo Cinema Paisagens espectrais: Uma análise fílmica


Galego e geográfica de Penúmbria e El mar la mar
Iván Villarmea Álvarez Rayman Aluy Virmond Juk
(CEIS20-UC, Portugal) (UBI, Portugal)
- -

A floresta, na cultura popular, é um espaço A presente comunicação tem como objetivo


de exclusão e de mistério, um lugar onde discutir e investigar a representação da
mora o outro, o não-humano; mas também paisagem nos filmes Penúmbria (Eduardo
pode ser um espaço de fugida e de Brito, 2016) e El mar la mar (J. Bonnetta e
libertação, um lugar a salvo do controlo J.P. Sniadecki, 2017), a partir de uma análise
social. Nesta altura, no entanto, quando a fílmica e geográfica. Penúmbria é uma curta-
maior parte da população mundial mora em metragem documental/ficcional, que utiliza
áreas urbanas, a floresta passou a ser, planos meticulosamente construídos de
sobretudo, um espaço de exploração paisagens urbanas em contraste com uma
económica e de lazer. O cinema, entretanto, natureza que castiga a arquitetura. Retrata
participa como arte e como discurso neste uma cidade costeira portuguesa abandonada
processo de transformação do significado por seus habitantes, entregue ao tempo e às
cultural deste ecossistema, que na última intempéries. O filme El mar la mar faz uma
década se tem convertido num motivo visual leitura poética e experimental sobre o
recorrente no Novo Cinema Galego: a Deserto de Sonora, na fronteira dos Estados
floresta pode ser um lugar abstracto que Unidos da América com o México. É uma
desorienta as personagens, como no início longa-metragem documental/experimental
de Arraianos (Eloy Enciso, 2012); um refúgio que retrata uma paisagem carregada de
para os espíritos dos antigos moradores da significados políticos e sociais, de conflitos
montanha, como acontece em Trinta lumes antrópicos e naturais. As obras possuem em
(Diana Toucedo, 2017); ou uma paisagem comum a ausência da figura humana
torturada pela silvicultura e pelos incêndios, enquanto forma durante a narrativa, assim
como sugere a estrutura cíclica de Costa da como o tom catastrófico e melancólico que
Morte (Lois Patiño, 2013) ou uma conversa carregam. No entanto, essa ausência acaba
sobre o sofrimento dos eucaliptos entre os por potencializar essa presença antrópica ao
protagonistas de O que arde (Óliver Laxe, ser colocada de forma espectral nas
2019). Nestes quatro filmes, as florestas paisagens culturais, ou de forma
funcionam como alegorias paisagísticas que extradiegética na voz off, que conduz a
devem ser interpretadas para perceber o narrativa sobre os espaços. Os filmes falam
sentido final destes trabalhos, pelo que o sobre lugares em conflito (internos e
propósito desta comunicação é analisar os externos), utilizando a paisagem como
significados implícitos e sintomáticos que elemento central e determinante. Partindo
uma nova geração de realizadores jovens e dos conceitos de paisagem, espaço e lugar,
urbanos está a construir a partir deste tipo este estudo busca debater sobre a
de paisagens com o intuito de retratar a representação da morfologia dos espaços
Galiza rural do século XXI. retratados nas obras mencionadas.
G2
GT Paisagem e Cinema (I)

A paisagem poética na última trilogia de James Benning: Paisagem e ostranenie


Patricio Guzmán (estranhamento)
Silvana Mariani Fernando Brito
(CEIS20-UC, Portugal) (CIEBA-ULisboa, Portugal)
- -

Embora o cinema de Patricio Guzmán quase Em 1916 o crítico literário russo Victor
sempre se proponha a realizar um exercício de Shklovsky publicou "Art as Device" que se
memória sobre os traumas causados pela constituiu na época como o verdadeiro
ditadura militar de Pinochet, a radical mudança manifesto do movimento formalista russo. No
estética em seus últimos filmes Nostalgia de la referido texto, Shklovsky desenvolveu um
luz (2010), El botón de nácar (2015) e La conceito que designou como "Ostranenie"
cordillera de los sueños (2019) abriu espaço (Estranhamento), o qual se tornou crucial nos
para uma maior subjetividade e estudos literários, e que posteriormente
experimentação poética. Nesta última trilogia, adquiriu relevância na investigação
a partir da inserção de imagens simbólicas e cinematográfica e nas artes visuais. Tal não é
de vastas paisagens da geografia chilena, o alheio ao facto de, no contexto da época,
diretor convida a refletir de forma mais "Art as Device" ter tido como ponto de
universal as relações de passado e presente. partida a narrativa literária oriunda da
Essa forma ensaística que entrelaça estética e tradição russa , por outro lado, ter
ética através de uma visão poética, embora rapidamente sido apreendido pelo
tematize a perda de sentido através da emergência do discurso cinematográfico e
representação dos traumáticos fatos pelos vários movimentos avant-guarde. Na
históricos, presta-se ao mesmo tempo como sua essência, o conceito de estranhamento
campo de experimentação para a construção em Shklovsky convoca-nos para a fruição da
de sentido. Essa comunicação abordará a obra de arte através de um processo de
ruptura estética ocorrida nesta última trilogia, "desautomatização" da percepção e de
procurando identificar de que maneira a tornar estranho o que aparentemente parece
escolha da paisagem como dispositivo ser vulgar. Proponho como objecto desta
condutor da narrativa contribui para uma maior comunicação a leitura de algumas obras de
imersão, contemplação e reflexão sobre os James Benning, nomeadamente 13 Lakes,
temas políticos abordados pelo diretor. Two Cabins e L.Cohen à luz deste conceito.
Benning, cineasta americano com mais de
40 anos de carreira, caracteriza-se pela
utilização da paisagem americana como
background para uma incursão de carácter
político e poético. Através da utilização da
longa duração dos planos e do som como
criador do fora de campo, pretendo analisar
esses dois aspectos da sua cinematografia à
luz do conceito de Shklovsky.
G3
GT Cinemas em Português (I)

Impacto das coproduções internacionais O político, o social e a representação das


nos resultados artísticos e econômicos da intimidades no cinema brasileiro recente
cinematografia lusófona (2009-2019) Eduardo Paschoal de Sousa
Daniel Vidal Mattos (USP, Brasil)
(ANCINE / FACHA, Brasil) -
-
Portugal e Brasil formam o eixo principal de Nos últimos anos, a produção do cinema
colaboração do mercado lusófono, cuja brasileiro foi ampliada, tanto em suas
integração vai além das políticas públicas de temáticas como nos agentes produtores das
financiamento ou do segmento de salas. A obras. Parece haver um conjunto de filmes,
estruturação de coproduções é um especialmente no período de 2012 a 2018,
mecanismo consagrado de gestão de risco e que tematizam o efeito de alterações
estratégia de mercado com impactos políticas, sociais e econômicas, ao longo do
positivos mensuráveis para os resultados tempo no país, mas por meio da
obtidos. A estruturação de um método e representação das intimidades e do comum.
indicadores para a observação e o O pano de fundo dessas narrativas pode ser
acompanhamento de tais resultados deve a esfera pública, mas é no íntimo que elas
começar na construção de premissas que ganham sua maior expressão. São muitos os
equilibrem aspectos econômicos e culturais temas que são abordados pelos filmes, mas
envolvidos. As premissas contemporâneas encontramos uma recorrência que os
dominantes são: primeiro, que a unidade conecta: a ideia da existência de um nível do
linguística é um fator favorável à circulação privado que impacta e é impactado pelas
da obra, rompendo uma barreira econômico- dinâmicas da convivência social. Há obras
cultural relevante; segundo, que os que tratam sobre a mudança de status social
resultados globais de obras frutos de da classe média alta, outras que discutem a
coproduções internacionais são esfera da individualidade por meio das
proporcionalmente superiores aos de obras identidades, como as questões de gênero e
produzidas e distribuídas a partir de um as raciais. Há ainda aquelas que levam a
único território; terceiro, que as coproduções uma ressignificação das intimidades e do
internacionais aumentam a visibilidade de comum, de situações familiares e de outras
obras de nicho nas mostras e festivais formas de se enquadrar as relações e a
especializados, impulsionando seus subjetividade dos contextos sociais e
resultados de acesso público e; quarto, que íntimos. O objetivo desta comunicação é
mostras e festivais são plataformas analisar esse conjunto de obras que parecem
impulsionadoras para a penetração e compor um mosaico das intimidades e
ocupação de um conteúdo nos demais subjetividades, ampliando o regime de
territórios. Procuraremos estabelecer e visibilidade e levando à tela grande outras
estruturar tais premissas para submetê-las à formas de narrar o cotidiano e novas
testagem estatística com base nos dados de histórias, muitas vezes centradas na
mercado disponíveis para os territórios aparente banalidade do dia-a-dia.
lusófonos.
G3
GT Cinemas em Português (I)

Intertextualidades imagéticas no cinema As imagens fabulares: amizade e


propagandístico de Lopes Ribeiro paisagens de si em Rosa Azul de Novalis
Sérgio Bordalo e Sá Haroldo Ferreira Lima
(INET-MD / FMH-ULisboa, Portugal) (USP, Brasil)
-
-
Lopes Ribeiro é uma figura incontornável do A comunicação busca em pistas deixadas
cinema português, tendo tido um papel por Michel Foucault (2012) potencialidades
multifacetado como realizador, produtor, estético-políticas da amizade no cinema
argumentista, montador e responsável pela brasileiro queer. Nesta chave, mais que um
locução. A sua carreira foi quase totalmente indício para se abordar a representação de
“modos de vida” LGBTQI+ no cinema ou
feita durante a vigência do Estado Novo,
documentar espaços de sociabilidade e
regime com o qual Lopes Ribeiro sempre se
relações extra-familiares, a amizade é tratada
identificou e do qual foi o cineasta ‘oficioso’. enquanto fértil plano de experiência para
No entanto, apesar de ter esta ligação quase discutir formas de realização coletivas e as
umbilical ao regime, Lopes Ribeiro viajou por poéticas possibilitadas por elas. Proponho
diversas vezes ao estrangeiro (ao contrário uma conversa com Rosa Azul de Novalis
do próprio Salazar), visitando os mais (2018), de Gustavo Vinagre e Rodrigo
importantes estúdios de cinema europeus Carneiro. Gostaria de evidenciar o roteiro
nos anos 20 e 30, situados em países com assinado pelos diretores em parceria com o
sistemas políticos muito diversos, como ator e personagem, Marcelo Diorio, os
França, Alemanha e a própria URSS. encontros, relações e trocas que tornaram o
Portanto, se por um lado o objectivo do filme possível em sua materialidade, bem
regime era dar uma imagem de um Portugal como pensar de que modo tais
agenciamentos deixam ver imagens de uma
“orgulhosamente só”, imune às influências
subjetividade gay metropolitana. Realizado
nefastas do estrangeiro, por outro, a
na contiguidade de um apartamento, o filme
construção dessa imagem foi feita por encena o universo fabular (DELEUZE, 1985)
alguém com óbvia inspiração vinda do de Diorio. Biografia e imaginação misturam-
exterior. A visão do Portugal do Estado Novo se no diálogo da personagem com a câmera
está presente em praticamente toda a e com o antecampo, e deixam ver as
filmografia de Lopes Ribeiro (inclusive nos relações de Diorio consigo, em constantes
filmes de ficção mais conhecidos, como O gestos de estetização de si (FOUCAULT:
Pai Tirano ou Amor de Perdição), mas esta 1988), e com o mundo, pensado por meio
comunicação debruçar-se-á em específico das relações estabelecidas com a família,
sobre os filmes de manifesto enaltecimento amantes e paixões estéticas, de corpos a
ao regime, na sua maior parte poetas românticos. Neste sentido, quero
documentários, e tentará verificar que deixar visível como os realizadores, amigos
de Diorio, fazem escapar uma fagulha da
diálogos estas imagens estabelecem com os
experiência LGBTQI+ brasileira ao apostarem
cinemas além-fronteiras nos quais Lopes
em um cinema queer feito de paisagens de si
Ribeiro se baseou. e imagens fabulares.
H 28 maio
12h30 — 14h15
H1
GT Cinema, Música, Som e Linguagem (i)

O Tejo e o São Francisco como margens Narrativas amplificadas: o uso criativo do


do Atlântico: estudo comparado das som no cinema português
expressões sonoras dos rios Tejo e São Tiago Fernandes
(UBI, Portugal)
Francisco a partir da produção de
-
documentários sonoros
Walcler de Lima Mendes Jr.
(UNIT, Brasil)
Juliana Macêdo Dias
(UFAL, Brasil)
-
Através das captações audiovisuais que No cinema português recente algumas obras
resultaram em seis documentários sonoros têm feito um uso criativo da sonoplastia que
do Tejo e do São Francisco, esse estudo rompe com as formas narrativas
comparado investiga o que permanece e o convencionais, onde o som servia apenas de
que se deixa transformar em forma de elemento “ilustrativo” para o que se via. De
expressão sonora, cultural e natural. O que entre vários exemplos possíveis, selecionei
persiste como tradição e continuidade ou o dois casos de estudo que, recorrendo a
estratégias relativamente distintas, exploram
que se quer, ou se deixa, ser transformado
a dimensão sonora para criar narrativas
foi uma questão norteadora da pesquisa que
alternativas ou antagónicas à narrativa visual:
de forma interdisciplinar dialogou com áreas em A Última Vez que Vi Macau (2012, João
e campos distintos de produção de Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da
conhecimento: ecologia, comunicação, Mata), a banda som constrói uma narrativa
estudos de linguagem em som, imagem e noir alternativa à estratégia documental e
cinema, antropologia, planejamento urbano e contemplativa das imagens; em Hospedaria
regional. Em termos práticos, a pesquisa de (2014, Pedro Neves), a câmara deambula
campo buscou alcançar desde percepções pelo interior de uma hospedaria desabitada
de impactos ambientais, como, por exemplo: do Porto enquanto a narrativa se vai
a presença de fábricas de celulose poluindo construindo no plano sonoro. A partir da
as águas, barragens estrangulando as águas análise da banda som destas duas obras, o
objetivo desta apresentação será refletir
dos rios e de seus afluentes, o assoreamento
sobre os processos de criação e produção
e desgaste da mata ciliar, até questões que
destas bandas som e a forma como, ao
passam por transformações urbanas e contrário da maioria das obras fílmicas,
culturais, como a resistência de tradições estruturam autonomamente o seu fio
locais, arte popular, feiras, danças, narrativo condutor e como contribuem para
celebrações, ritos religiosos e música, a vida um processo de ressignificação estética das
cotidiana em vilas e povoados que sofrem obras fílmicas. Para além de contribuir para a
com o êxodo de jovens em direção às valorização do papel do som numa obra
metrópoles, contrastes entre expressões de cinematográfica, esta apresentação pretende
ordem global e local. Todas essas questões também contribuir para o estado da arte do
foram percebidas e trabalhadas a partir de som no cinema português que,
um jogo de linguagem entre marcas sonoras frequentemente, é ignorado ou desvalorizado
e marcas visuais, propondo expressões de na produção historiográfica.
territorialização, segundo a ótica deleuziana.
H1
GT Cinema, Música, Som e Linguagem (I)

Verborragia silenciosa: filmes sem som


em 68
Leonardo Esteves
(FCA-UFMT, Brasil)
-
Maio de 68 motivou a produção de um
número significativo de filmes. De
documentários a ficções, passando por
experimentações radicais de linguagem,
muitos títulos buscaram entronizar em suas
argumentações (estéticas, inclusive) as
manifestações de forma a repercutir o
momento e algumas tendências analíticas
então em voga. Em um episódio no qual se
tornou célebre a expressão “prise de parole”
(Michel de Certeau) e a palavra assumiu a
dianteira nas manifestações visuais
(sobretudo na produção cartazes), viu-se
avolumar de forma contundente expressões
que valorizaram o propósito, muitas vezes
verborrágico, de discursar. O cinema não se
manteve alheio a isso e não deixou de dar
uma contribuição considerável para este
“monopólio das palavras” em filmes que, por
sua vez, abriam mão do som. Esta
comunicação pretende investigar uma
parcela muito particular dos filmes
silenciosos produzidos em torno do Maio de
68 como uma forma de discorrer sobre uma
“verborragia silenciosa”. Esta produção, no
epicentro da militância, mas, por outro lado,
na marginalidade das manifestações
valorizadas pelas, diga-se, formas mais
objetivas de fazer o discurso decolar,
exprimem um impasse. É a partir deste
impasse, do falar muito para tão poucos, que
se propõe argumentar sobre uma
“verborragia silenciosa”.
H2
GT Paisagem e Cinema (II)

Paisagem mutante: Figurações da Cinema na rua: Corpos políticos e


Ceilândia nos filmes de Adirley Queirós performatividades na cidade do Rio de
Aline B. Portugal Janeiro
(UFRJ, Brasil) Tatiane Mendes
- (UERJ, Brasil)
-

A partir dos filmes A Cidade É Uma Só? O objetivo do trabalho é entender o cinema
(2012), Branco Sai, Preto Fica (2014) e Era na rua em sua relação com a cidade como
Uma Vez Brasília (2017), todos de Adirley um espaço político criado a partir de
Queirós, interessa-nos pensar de que forma exibições que ocorrem no Rio de Janeiro.
a paisagem da Ceilândia varia entre esses Para tal, analisamos experiências de cinema
trabalhos, entendendo o cinema como um que ocorrem em meio à praça Tobias
dispositivo que não apenas representa os Barreto, no bairro carioca de Vila Isabel. As
espaços que filma, mas os inventa. Ceilândia atividades são iniciativa do coletivo de arte
é uma cidade-satélite de Brasília, capital do Cinevila, que desde 2016 ocupa a praça para
Brasil, cujo plano urbanístico que a construiu criar espaços de projeção fílmica e debate.
— conhecido como Plano Piloto — fez da Como contexto específico cabe analisar três
região tábula-rasa e expulsou os antigos sessões específicas do Cinevila: as minas
moradores da região. Assim nasce a CEI- narram, Mulheres daqui e acolá e Sessão
lândia, cidade que carrega no nome a Elas com os filmes Olmo e a Gaivota (Petra
exclusão que a instaura, pois CEI é a sigla Costa, 2014), Corpo Manifesto (Carol
para Campanha de Erradicação de Invasões, Araujo,2016), Baronesa (Juliana Antunes,
projeto que empurrou os habitantes para fora 2017), e o documentário Das Nuvens para
do Plano Piloto. A paisagem da Ceilândia é Baixo (Marco Antônio Gonçalves e Eliska
uma questão central para Adirley que, a cada Altmann, 2015) . Além disso, as sessões de
filme, reinventa esse espaço, seja cinema na rua contam com a exposição de
acompanhando os percursos cotidianos dos fotos de Viviane Laprovita e Ana Clara Tito,
personagens pelas ruas de terra, seja através que criam camadas diversas de significação
da memória do espaço marcada por muitas do feminino, nas falas, na escuta atenta e no
violências, seja como cenário de ficção compartilhar de emoções e sentido. Qual é a
científica e viagens no tempo. Ao multiplicar potência da comunhão de diferentes
as figurações da paisagem da Ceilândia, linguagens no espaço da rua, em meio à
Adirley reivindica-o como um espaço vivo, cidade? Dialogamos com o ideário de Judith
cuja resistência ao projeto urbanístico de Butler (2018) para compreender a reunião de
Brasília se dá através da fabulação e da corpos no espaço urbano como
construção de possíveis. solidariedades provisórias, “uma forma
imprevista de performatividade política que
coloca a vida possível de ser vivida” (2018:
24), oferecendo outras percepções de
espaço e tempo, deslocamentos de sujeitos
e sentidos que nos cabe investigar.
H2
GT Paisagem e Cinema (II)

Paisagens interrogativas de Brígida Baltar Se eu fosse uma paisagem: Reflexões


Fernanda Bastos sobre arquivos familiares
(ECO-UFRJ, Brasil) Ana Costa Ribeiro
- (UERJ, Brasil)
-

Por ter uma sensibilidade apurada para os O trabalho pretende analisar 18 rolos em
encantos do mundo, a artista visual Brígida 8mm de arquivos familiares da autora,
Baltar não precisa partir em expedições filmados entre 1953 e 1960 por seu avô, que
“wanderlust” para desfrutar do contato com fazem parte do material bruto do longa-
a natureza. Ao contrário, para ela basta olhar metragem Termodielétrico, em
em volta para perceber e revelar a nossa desenvolvimento. Através de articulações
imersão e o nosso pertencimento à natureza, entre Paisagem e Arquivo, pretende-se
da qual tanto insistimos em nos separar. questionar como as relações estabelecidas
Baltar não busca o paraíso idílico, ela cria o pelo avô da realizadora com as paisagens
seu paraíso particular com a natureza que se que filmava nos anos 50 repercutem na
oferece na vizinhança e no caminho, seja forma em que ela se relaciona com as
subindo em uma árvore à beira de uma via paisagens na prática do cinema
expressa da cidade para ler um livro mais contemporâneo. Nesse contexto, os
perto das flores rosadas, seja abrindo uma espectadores são convidados a recordar as
janela alternativa em sua casa para ver paisagens que compõem nossos
melhor a árvore do quintal, seja coletando, imaginários, herdados por nossas tradições.
em potes de vidro, a neblina e o orvalho da A pergunta “se eu fosse uma paisagem” tem
serra. Nesta comunicação investigamos a a intenção de nos levar a refletir sobre as
relação intensa que essa artista estabelece relações que nossas famílias e nossas
com a natureza, principalmente, a partir dos culturas tiveram com os espaços, por
vídeos Há um Lugar em uma Paisagem? e determinado período de tempo. Nesse
Algumas Perguntas, nos quais, por meio de sentido, a análise de arquivos familiares
um recorte no espaço, ou seja, da invenção pode revelar tanto as semelhanças quanto as
de uma paisagem, ela cria também um diferenças nos modos de percepção das
recorte de tempo, uma pausa para a paisagens através das gerações. A
contemplação – cada vez mais rara em comunicação terá a forma de uma
tempos funcionais, organizados pela performance poética, com a projeção dos
produtividade. Da contemplação, surgem as filmes em 8mm passando ininterruptamente
questões filosóficas – estéticas e existenciais enquanto se enuncia a fala. Assim, busca-se
– que ela divide com o espectador, ao inserir os espectadores numa experiência
mesmo tempo em que lhe oferece a cinematográfica expandida, onde a
possibilidade de estancar o fluxo das apreensão das imagens se une à escuta,
urgências para admirar uma porção de como em alguns experimentos dos Pré e dos
natureza. Pós-Cinemas. Se a artista pretende
identificar os estratos de paisagem que a
compõem, o público poderá fazer o mesmo
ao refletir sobre paisagens de suas próprias
memórias familiares.
H3
GT Cinemas em Português (II)

Videodança e corpo expandido: as António Lopes Ribeiro: a câmara do poder


propostas cênicas de Analivia Cordeiro do cinema português
Beatriz Cerbino Afrânio Mendes Catani
(UFF, Brasil) (USP, Brasil)
- -

Esta comunicação tem como foco o trabalho António Lopes Ribeiro (1908-1995), diretor e
desenvolvido para vídeo pela artista produtor português, foi homem de mil
brasileira Analivia Cordeiro. Pioneira de instrumentos no cinema, tendo também
propostas feitas para vídeo, especificamente trabalhado no rádio, na televisão e na crítica,
na relação entre tecnologia, dança e imagem além de escrever, traduzir e desenhar. Dirigiu
em movimento, seu trabalho M3x3 (1973) mais de uma centena de curtas e pelo
inaugura a produção de videodança no menos 10 longas (documentário e ficção).
Brasil. Este marco é fundamental pois Notabilizou-se pela produção de
evidenciou uma arte que só existe a partir do documentários oficiais, que enalteciam o
diálogo entre o movimento da câmera e o do Estado Novo. Pioneiro da televisão em
corpo. Com o advento de novas tecnologias Portugal apresentou, de 1957 a 1974, o
e de novos recursos visuais, a relação programa O Museu do Cinema, dedicado à
espaço-temporal das obras de dança difusão do cinema mudo. A presente
transformou-se, ganhando não apenas outro comunicação pretende acompanhar a
tipo de duração, como também a trajetória de António Lopes Ribeiro,
possibilidade de reconfiguração da cena e detalhando seu pioneirismo no cinema
do próprio corpo. A partir das propostas português, sua atuação como produtor com
artísticas de Analivia Cordeiro, como as estúdios próprios, suas direções de curtas e
apresentadas em M3x3 e em Carne III (2009), longas, bem como seus altos e baixos na
algumas questões surgem para se refletir atividade a qual se dedicou por décadas. A
acerca da produção da imagem em pesquisa se insere em projeto mais amplo,
movimento e da dança: É possível pensar em que venho desenvolvendo há cerca de uma
um corpo para além de sua materialidade dezena de anos, concentrada em
orgânica? Um corpo feito de luz e pixels? A comediantes e diretores brasileiros e
dança criada para a tela precisa guardar portugueses que atuaram nas décadas de
proximidade com seu entendimento mais 30, 40, 50, 60 e parte dos anos 70 do século
tradicional? Trata-se de pensar o corpo em passado.
movimento, qualquer que seja este corpo,
em relação à câmera, assim como o
movimento da própria câmera, de maneira
mais ampla e democrática. José Gil (2004),
ao se referir à dança contemporânea, aponta
que sua propriedade está em propor uma
“semântica, cujo nexo apresenta sentidos e
não significações”, o que nos auxilia ao
pensar nas novas experiências estéticas
produzidas na videodança.
H3
GT Cinemas em Português (II)

Audiovisual e apropriação: quando a Apropriação e transbordamento: do


estética elabora a economia documentário à instalação imersiva
Leandro Mendonça Lais Lara
(UFF, Brasil) (UFF, Brasil)
- -

Apropriação é um termo complexo que tenta A apropriação como prática artística do


dar conta de dois movimentos que parecem audiovisual vem sendo debatida no âmbito
ir em direções opostas, mas que no entanto do fazer do cinema e da arte
funcionam, na verdade, vinculados, como contemporânea, onde a noção de
um sistema; processo artístico e processo apropriação enquanto prática do fazer
político. A expressão “apropriar” remete-nos artístico coloca na balança questões como
a demasiadas possibilidades, tanto dos criação, autoria, originalidade e espaço de
processos de produção artística quanto aos circulação e distribuição das obras. Desta
seus usos. O ato de recortar na realidade maneira, o objetivo desta comunicação é
blocos de conteúdo para produzir outros abordar as práticas de apropriação e os
filmes está profundamente conectado ao ato fazeres do audiovisual, levantando questões
de apropriar individualmente a obra de de processos como ready made e found
maneira a gerar autoria, essa autoria para a footage. Alguns cineastas contemporâneos
economia criativa é o que gera valor. Assim, que realizam documentários vêm criando
a apropriação instaura um processo político, instalações em galerias e museus enquanto
procedimento este estritamente vinculado ao modo de exibição de suas obras. Neste
processo artístico. Esta é a forma de gerar sentido, propomos pensar estas práticas a
propriedade individual da obra, construindo partir da ideia força que chamamos de
o valor de uso e de troca através do artifício transbordamentos, onde não se aplica uma
de criar falsa escassez. Este trabalho fronteira fixa entre a arte visual e o cinema,
pretende articular as possibilidades da mas um transbordamento entre estes
autoria através de técnicas de apropriação fazeres. Esta porosidade nestas supostas
como as descritas acima. Pretendemos fronteiras, rompidas, geralmente se dão não
dialogar com o cineasta brasileiro Marcelo somente no processo de criação, como
Masagão para refletir sobre o processo do também, e principalmente, no espaço de
fazer cinema e o processo político e exibição e circulação das obras. Para tanto,
econômico a ser debatido em seus entraremos em diálogo com documentários
tensionamentos de autoria e propriedade. do cineasta brasileiro Cao Guimarães como
O Fim do Sem Fim (2001) e Atrás dos Olhos
de Oxaca (2006), no contexto de exibição na
exposição “Ver é uma Fábula” (2014. Itaú
Cultural). Os referidos documentários foram
exibidos em um espaço imersivo,
promovendo uma outra experiência de
cinema e de intervalo entre telas, esgarçando
a noção de transbordamento, tratando ainda
o documentário enquanto obra imersiva.
I28 maio
17h30 — 19h15
I1
GT Cinema, Música, Som e Linguagem (II)

Uma matula para uma voz: a pluralidade As imagens e os sons (memórias)


vocal de Grace Passô em Vaga Carne imaginadas: subjetividades propostas pela
Maria Altberg palavra lida e ouvida
(PUC-Rio, Brasil) Fernando Morais da Costa
- (UFF, Brasil)
-

No filme Vaga Carne (2019), dirigido (em Pretendemos tencionar as relações entre
parceria com Ricardo Alves Jr.) e memória, subjetividade e a construção de
protagonizado por Grace Passô, sons e imagens cinematográficas em
acompanhamos a jornada de uma voz que narrativas em primeira pessoa sobre o
tem o poder de transitar por diferentes passado. Para tanto, traremos as análises de
matérias. Novos e inesperados afetos são dois filmes, Blue (Derek Jarman, 1993) e a
adaptação de livro homônimo, Quase
conhecidos quando essa voz se vê presa a
Memória (Ruy Guerra, 2018). Ambos trazem
determinado corpo feminino. A colagem
narrações em primeira pessoa como
imperfeita entre a voz protagonista e o corpo ferramenta narrativa central, e nos convidam
ocupado traz um elemento de tensão que faz a partilhar, como espectadores, da
parte da história do cinema sonoro: o jogo subjetividade de seus narradores. As
entre dissimular e escancarar uma relações que se estabelecem entre telas,
descostura entre corpo e voz (seja por representações e espectador são instâncias
defeito técnico ou por opção estética). de trocas subjetivas, entre o arcabouço
Partindo da narrativa do filme, pretende-se referencial do espectador e as memórias dos
ainda investigar a potência da palavra personagens, sugeridas e representadas
enquanto voz que expressa singularidades. pelo cinema. A tela cinematográfica, assim
como a própria imagem, serão pensadas
aqui como representação das memórias
narradas, seja pelas suas presenças, seja
pelas suas ausências. As memórias dos
personagens são diferentemente propostas
nos filmes, da mesma forma que as
subjetividades de recepção que elas
agenciam. As ferramentas cinematográficas
em uso nestas narrativas serão fundamentais
para a fruição do processo espectatorial. A
relação entre memória contada e a
espectatorialidade subjetiva da narrativa
através da representação sua
cinematográfica possível: tela, projeção,
som, imagem. Diferentes formas de contar
narrativas de um passado lembrado que
produzem diferentes formas de
espectatorialidade da memória, resultando
em processos de recepção profundamente
subjetivos.
I1
GT Cinema, Música, Som e Linguagem (II)

O timbre do ciborgue: som e música na


construção de identidades
(des)humanizadas no cinema de ficção
científica ciberpunk
André Malhado
(CESEM-NOVA, Portugal)
-

No cinema de ficção científica ciberpunk, o


ícone do ciborgue é uma figura fundamental
porque encerra em si temas relacionados com
a tecnofobia. Em várias destas obras, o timbre
que muitos ciborgues emitem quando
comunicam é humanizado através de uma
musicalidade agradável ao ouvido, usando
diálogos gravados por um actor, a que são
aplicados filtros electrónicos. Assim, a sua
“voz” torna-se familiar, mas no caso de a obra
ter como géneros complementares o terror e o
mistério, a música procura contradizer esse
sentimento de tranquilidade, fornecendo um
contexto que provoca estranheza, através de
técnicas de escrita musical como a
dissonância, e parâmetros como a intensidade
sonora. Nesta comunicação procura-se
explorar os casos The Machine (2013, James),
Ex Machina (2014, Garland), The Manual
(2017,Magness) e I Am Mother (2019, Sputore),
onde são usados personagens ciborgues, com
o objectivo de demonstrar que, por um lado, o
timbre da sua voz humaniza-as, mas, por
outro, a música continua a inscrevê-los em
contextos de inquietação e desumanização,
favoráveis às narrativas distópicas e alienantes.
Para o efeito, parte-se dos trailers dos filmes
onde, através de alguns segundos de material
audiovisual promocional, introduz-se a
personagem de forma ambígua e complexa,
usando a música com a função de criar tensão
dramática, suspense e conduzir o espectador à
percepção de que a voz humanizada destas
personagens pode servir para ocultar uma
identidade perversa ou implacável.
I2
GT Cinema & Política: Aproximações Filosóficas

Cinema e marxismo, pontos de fuga O cinema de Zvyagintsev e a filosofia


Sérgio Dias Branco política de Hobbes: Leviathan e as
(CEIS20-UC, Portugal) imagens do poder e da (in)justiça
-
Irene Aparicío
(IFILNOVA, Portugal)
-

O encontro entre o marxismo e os estudos Numa referência possível a Thomas Hobbes


fílmicos como área científica, nas décadas (1588-1679) e à sua obra Leviathan ou
de 1960 e 70, foi incompleto e, talvez, Matter, Form and Power of a Common-
superficial, tendo em conta o seu potencial. Wealth Ecclesiastical and Civil (1651), o filme
Esse fértil cruzamento mal tinha começado homónimo de Andrei Zvyagintsev – Leviathan
quando terminou devido ao reverso daquilo (Rússia, 2014, 141m) – surge nos contextos
cinematográfico e filosófico como um reflexo
que o tinha propiciado — as lutas populares
sintomático das questões de legitimidade e
e revolucionárias, inicialmente, e o seu
verosimilhança das narrativas e das imagens
refluxo histórico, posteriormente. No entanto, do poder, da verdade, da moral e da religião
essa história é mais densa e ampla. Inclui, numa sociedade moderna, profundamente
por exemplo, os avanços na teoria e prática mediatizada e conturbada por sucessivas
do cinema criados pelos cineastas soviéticos crises políticas e sociais. Nesta breve
nos anos 1920 e 30. O diálogo entre o reflexão propomo-nos identificar e
marxismo e os estudos fílmicos manteve-se compreender o modo como a montagem no
apenas de maneira fragmentária, em cinema – e neste filme em particular –,
detrimento do cinema, mas também do amplifica e ilumina o debate sobre uma
próprio marxismo — entendido aqui como teodicea, nomeadamente a procura da
proposta filosófica de análise crítica e acção justificação de Deus e da demonstração
emancipadora, em estreita ligação com as racional da sua (co)existência em cenários
talvez demasiado humanos. Dito de outra
mudanças dialécticas do mundo. Nesse
forma, trata-se de evidenciar a intersecção
sentido, retomar este diálogo de modo mais
entre um conhecimento veiculado pela
profícuo e duradouro, só pode começar com filosofia política e uma prática do cinema, e
a constatação de que Karl Marx não propôs de compreender o modo como o cinema
uma teoria da arte. Por isso, falar numa revela e dissemina um entendimento próprio
estética marxista é tão equivocado no dos dilemas sociais, políticos e culturais na
passado como no presente. Esta contemporaneidade.
comunicação argumenta que a obra de Marx
permanece contemporânea para o estudo do
cinema como arte e fenómeno histórico-
social por três aspetos. Primeiro, as
hipóteses que abre para uma filosofia crítica
da arte. Segundo, o seu estímulo à
interrogação do cinema como produção
material e de consciências. Terceiro, as
reflexões que motiva sobre as relações entre
classe e sociedade, e hegemonia e
revolução.
I2
Cinema & Política: Aproximações Filosóficas

A orelha cortada de Van Gogh, segundo O cinema político brasileiro


Bataille, como forma de corte no cinema contemporâneo realizado por mulheres
moderno. O caso de Terra em Transe Lídia Mello
Albert Elduque (CEIS20-UC, Portugal)
-
(UPF, Espanha)
-
Em 1930, Georges Bataille publicou na Esta proposta de comunicação concentra-se
revista Documents seu texto “La mutilation no "cinema político brasileiro contemporâneo
sacrificielle et l’oreille coupée de Vincent Van realizado por mulheres", com o objetivo de
Gogh”. A partir da leitura que o historiador difundir filmes dirigidos, no período de 2011
das religiões Salomon Reinach fez do mito a 2019, pelas seguintes diretoras: Petra
de Prometeu, Bataille analisava os vínculos Costa/Democracia em Vertigem, 2019; Flávia
Castro/Deslembro, 2019; Susanna Lira/Torre
entre o vômito, a automutilação e o sacrifício
das Donzelas, 2018; Maria Augusta Ramos/O
religioso, porque em todos eles a pessoa
Processo, 2018; Beth Formaggini/Pastor
rompe com sua homogeneidade e perde Cláudio, 2017; Anita Leandro/Retratos de
uma parte de si própria. Nesta comunicação Identificação, 2014; Maria Clara Escobar/Os
quero explorar a automutilação sacrificial de dias com ele, 2014; Emília Silveira/Setenta,
Bataille como uma pauta de leitura para 2013; Tata Amaral/Hoje, 2011 e Isa Grinspum
alguns cortes de montagem no cinema Ferraz/Marighella, 2011). Filmes cuja
político dos anos 60 e 70, imagens nas quais temática engloba práticas repressivas do
o filme rompe com sua homogeneidade e Brasil durante os anos da ditadura militar;
opera-se a um desperdício energético, práticas que, infelizmente, têm retornado no
muitas vezes de forte carga violenta. Trata-se Governo atual. Pretendo dar visibilidade a
de uma lógica que o pesquisador Jean- este cinema, expor as devastadoras
Baptiste Thoret analisou no caso do New consequências do nosso passado na
realidade política do Brasil do tempo
Hollywood, com exemplos como The Big
presente, mostrando a diversidade dos
Shave (Martin Scorsese, 1967), mas que se
personagens e enfoques das diretoras na
encontra também em filmes europeus como cinematografia em questão, seja no
Week-end (Jean-Luc Godard, 1967). Meu documentário ou na ficção. No percurso de
caso de estudo serão as últimas imagens de pensar e difundir tal cinema, busco destacar
Terra em Transe (1967), que seu diretor o modo rizomático que os filmes se
Glauber Rocha definiu como “um vômito encontram e se potencializam.
contínuo”. Partindo do texto de Bataille,
quero explorar como os cortes violentos do
final do filme articulam voz, corpo e espaço,
e assim ver como representam o sacrifício do
poeta e releem o mito de Prometeu.
Proponho então uma análise que pense o
filme a partir de Bataille, e permita indagar
sobre a ideia de uma automutilação fílmica
através da montagem.
Cinema Português Contemporâneo

I3
Becoming Portuguese. New Europes for Intermedialidade e afeto: estratégias de
Old in Miguel Gomes’s Arabian Nights engajamento na trilogia d’As Mil e Uma
Hilary Owen Noites
(University of Oxford / University of Manchester, Thalita Cruz Bastos
Reino Unido) (UFF, Brasil)
- -

This paper explores the way in which Miguel A produção audiovisual contemporânea tem
Gomes’s 2015 film trilogy, As Mil e Uma buscado formas diferentes de tratar do
Noites/Arabian Nights, criticizes and resists visível e do enunciável, mudando as relações
the specific effects of EU transnational com o representável e consequentemente
austerity politics in Portugal, without suas formas de percepção. Nesse contexto a
recourse to reactionary nationalist intermedialidade se configura como um
formulations. Through his epic, six-hour conceito importante para elucidar as
series of Brechtian episodes which disclose relações existentes entre a produção de
the near universal impoverishment of the afeto e a narrativa fílmica. O percurso
Portuguese people, Gomes makes the lived proposto por esse texto parte das reflexões
experience of austerity stand in for the sobre “políticas da impureza” desenvolvidas
collectivity of the ‘nation’, such that any por Lúcia Nagib, atravessando o conceito de
manichean opposition of ‘national’ and dissenso apresentado por Jacques Rancière.
‘transnational’ remains contingent and As problematizações realizadas por Ágnes
deferred, while economics and class politics Pethö sobre intermedialidade nos auxiliam na
prevail. One of the principal cinematic means conexão entre intermedialidade, performance
by which he achieves this deferral is by e afeto. Através da análise da trilogia d’As Mil
playing with heterotopic spaces and e Uma Noites (2015), do cineasta português
heterochronic temporalities, exploiting to Miguel Gomes, é possível desenhar a
maximum effect the ‘Chinese box’ structure conexão existente entre dissenso e produção
of his Arabian Nights frame tale. In this de afeto, produzindo eventos afetivos-
process, Gomes’s ‘Portugal’ emerges as a expressivos na tessitura narrativa e
shifting, dynamic austerity signifier, a kind of desencadeando as potencialidades de
Foucauldian ‘crisis heterotopia within’ that engajamento sensório-sentimental na relação
can simultaneously metonymize broader, do espectador com a obra de arte. Através
transnational crisis experiences across desse percurso busca-se elucidar as
Europe. Aiming his films as much at his proximidades entre intensidades narrativas e
trans-European audiences and funders, as at as formas dissensuais, existentes em obras
his own countrymen, Gomes uses this críticas como a trilogia de Miguel Gomes. O
‘Portugal in crisis’, I will argue, as an attempt, engajamento sensório-sentimental
to suspend and de-articulate the capitalist desencadeado por essas obras está
leviathans of neoliberal ‘Europeanness’, and relacionado às potencialidades de produção
to gesture in the direction of new forms of de afeto que emergem do dissenso.
communitarian transnationalism that might
emerge from below..
I3 Cinema Português Contemporâneo

Crise da maternidade: Representações no


cinema português de mulheres mães
María Angélica Contreras
(UBI, Portugal)
-

O objetivo desta comunicação é analisar a


representação no cinema português das
mulheres como mães e a crise da
maternidade, especificamente nos filmes Os
Mutantes, de Teresa Villaverde (1998),
Tempo Comum, de Susana Nobre (2018), e
Daqui P'rá Frente, de Catarina Ruivo (2007),
por meio dos discursos da psicoanálise post-
freud desde a teoria fílmica feminista (Laura
Mulvey, Lee Yuen Kwan, Ann Kaplan e Emily
Jeremiah). As mulheres decidem não ser
mães, adiar a maternidade, interromper a
gravidez e / ou equilibrar a vida profissional e
o cuidado das crianças, num ambiente cheio
de pressões econômicas, culturais e sociais.
Todas essas decisões fazem parte da
maternidade das mulheres que encontram
outros tipos de barreiras que não se baseiam
apenas na "liberdade de decidir" onde esses
discursos entram em conflito. Há uma crise
na maternidade, onde as contradições dos
modelos tradicionais e as novas formas de
exploração das mulheres no mundo do
consumo e do trabalho acabam nunca
deixando de culpá-las por não estarem
suficientemente presentes. O paradoxo das
liberdades da mulher e a sua decisão de ser
(ou não) mãe é abordado desde a perspetiva
do cinema independente feito por mulheres.
Essas produções conseguem afastar-se do
discurso hegemónico de imagens vazias e
idealizadas de mulheres mães para mostrar
as barreiras e contradições das mesmas no
mundo pós-moderno.
J 29 maio
10h30 — 12h15
GT O Cinema e as Outras Artes (I)

Gesamtkunstwerk: A reunião das artes


J1
As cabanas de Varda. Produção de
como gesto de criação em Ludwig: presença, sentido e arquissemelhanças
Requiem para um Rei Virgem numa perspectiva arqueológica das
Fátima Chinita mídias
(ESTC-IPL / LabCom, Portugal) Denise Costa Lopes
- (PUC-Rio, Brasil)
Em 1921, Ricciotto Canudo escreveu o seu -
manifesto definitivo sobre as Sete Artes, no
Fracasso comercial e crítico de Agnès
qual o cinema é apontado como encontrando-
Varda de 1966, Les créatures passou 40
se em dívida para com as outras artes. Assim, anos esquecido até seu negativo ser
Canudo transpõe para o panorama audiovisual remontado como “parede” de Ma cabane
o conceito de Gesamkunstwerk, (ou “arte de l’échec, na mostra L’Île et Elle da
total”), de Richard Wagner, mas de modo ainda Fundação Cartier de Paris. Reciclado,
mais radical. Enquanto para Wagner a música, como ressurreição material na
apesar de subordinada ao drama, era a mais transcendência imanente do corpo fílmico
importante das artes existentes no seu tempo, exposto, promoveu uma
para Canudo essa arte era já o cinema, na “arquissemelhança” ao status originário do
medida em que podia conter e sintetizar todas dispositivo que fez desaparecer,
as outras. Para Wagner o objectivo final era a provocando uma nova engenharia de
unidade artística, ao passo que – em minha fruição das imagens, e diminuindo as
distâncias, analogias e dessemelhanças da
opinião – o Manifesto de Canudo lançou as
arte (Rancière). Varrida da sua ontologia
bases do hibridismo cinematográfico pós-
visível e dizível, a performance ficcional
modernista. Nesta perspectiva, em vez de se ganhou outra destinação mais potente e
coligarem em prol de um objectivo comum, plena de significações. Seu visitante foi
nalguns objectos artísticos, as diferentes convidado a entrar, montar e morar nas
formas de arte atentam umas contra as outras imagens. Situação que pode ter sido capaz
de modo a melhor manifestarem a natureza de agenciar “momentos de intensidade” e
artificial do todo, ou seja, a sua essência de “experiência vivida” e de engendrar
enquanto criação humana. Esta auto- efeitos de sentido e presença, ajudando na
reflexividade interartística é central ao discurso recuperação da dimensão espacial e
intermedial contemporâneo. Para ilustrar a corpórea da existência e da sensação de
minha posição centrar-me-ei numa categoria “estarmos-no-mundo” (Gumbrecht). Ao
inserir sua obra numa perspectiva
restrita de metafilmes: obras que são alegorias
arqueológica das mídias (Elsaesser), que
intencionais de arte e espectáculo,
serviram ao desejo de reprodução do
substituindo as histórias mitológicas de movimento ao longo dos tempos, Varda
Wagner pelo “mito do artista”. Interessam-me nos faz compreender ainda que o cinema é
as propriedades intermediais e interartísticas capaz de reaparecer sob novas
dos filmes em geral, mas ainda mais quando configurações, que diferentes dispositivos
as obras reflectem um discurso autoral por de exposição serão sempre possíveis e
parte dos seus autores. Irei, pois, abordar o que sua cabana não tem menos privilégio
filme Ludwig – Requiem para um Rei Virgem, do que o aparelho dos irmãos Lumière de
de Hans-Jűrgen Syberberg (1972), pensar e produzir cinema (Vancheri).
considerando o monarca Ludwig II como um Relativização importante na salutar
análogo do artista. Analisarei o modo, como contaminação do cinema com as artes
contemporâneas.
nesta obra em particular, as formas de arte se
fundem em prol de um discurso etnográfico
sobre a arte e o corpo social.
J1
GT O Cinema e as Outras Artes (I)

Errâncias trágicas pelas Cosmococas: o Pinturas de luz itinerante: uma abordagem


corpo como linguagem nos quasi-cinemas a partir da poética híbrida do VJ Suave
de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida Daniela Pinheiro
Gabriela Freitas (LabCom-UBI, Portugal)
(UnB, Brasil) -
Leonel Antunes
(UFRJ, Brasil)
-

Neste artigo investigamos as referências Este artigo traz reflexões a respeito do


encontradas principalmente nas leituras de hibridismo entre arte e tecnologia, através da
Hélio Oiticica sobre Nietzsche para a criação poética visual do VJ Suave no curta-
das obras híbridas e disruptivas da linguagem metragem Homeless, onde acontece o
cinematográfica das Cosmococas, elaboradas encontro entre desenho, cinema e projeção
em parceria com o cineasta Neville d’Almeida mapeada em uma interação em movimento
com as ruas da cidade. Com essas misturas
na década de 1970. Oiticica compreende o
de técnicas e linguagens, o artigo busca
cinema mais como processo do que como
discorrer sobre o processo criativo de VJ
resultado, mas de forma diferente da que Suave, ressaltado os desdobramentos na
propunha Godard. Para o artista, em Godard arte, ao compor com os novos recursos
há uma concepção de processo-evolução que contemporâneos como a projeção mapeada.
tenderia a um fim específico. Oiticica, VJ Suave é um duo de artista audiovisual
diferentemente, propunha um processo- brasileiro, onde possui trabalhos com arte e
mosaico, sempre em formação descontínua, tecnologia. O curta-metragem analisado
em constante experimentação, o que implicaria nesse artigo, Homeless, vai além da
na participação ativa daquele que experimenta produção audiovisual, pois o ato de
a obra com seu corpo. Em seus escritos há gravação do curta também é uma
clara influência do pensamento de Nietzsche. performance. O espectador pode assistir o
As noções de errância, do artista trágico e da filme em uma tela, como também na própria
gravação, junto ao espaço público. Os
experimentação se mostram importantes para
desenhos da animação são feitos à mão,
definir o movimento e o corpo como
depois digitalizados, para logo em seguida
possibilidades da constante experimentação serem projetados de acordo com a
de linguagem em suas concepções híbridas arquitetura do espaço urbano. Essas
entre instalação, performance, música, cinema experiências por meio de tais tecnologias
e fotografia. Para Oiticica, a descoberta do vão de encontro ao pensamento de Couchot
corpo levou à desintegração das velhas formas (1993), onde a hibridação, segundo o autor
de manifestação artística, realçando a vai acontecer entre o ato artístico e os
dimensão da música, principalmente do rock. procedimentos computacionais “[...] a partir
Segundo ele, Hendrix, Dylan e os Stones do momento em que se encontram
seriam mais importantes para a concepção numerizadas.” (Couchot 1993, 46). Dessa
plástica da criação do que qualquer pintor forma, através dessas misturas, alcança-se
novas aberturas e dilatações, onde as
depois de Pollock. Seriam verdadeiros artistas
diferentes linguagens artísticas são
trágicos no sentido nietzschiano e, portanto,
potencializadas pela contaminação e
dionisíacos — assim as experiências contágio das mesmas, ampliando o espaço
participativas nos quasi-cinemas das de experimentações poéticas.
Cosmococas.
J2
Linguagem Audiovisual

A língua da poesia no cinema: reflexão a Cinema experimental: “tradição e talento


partir de Pier Paolo Pasolini, Tzvetan individual”
Todorov e Robert Bresson Ana Isabel Soares
(CIAC-UAlg, Portugal)
Dária Salgado
-
(CAUC, Portugal)
-
Como refere Edgar Morin, podemos No debate que tenho mantido com Edgar
identificar duas linguagens que Pêra acerca do que se entende por cinema
correspondem a dois estados ou duas experimental, o realizador hesita (ou recusa)
formas de estar: o prosaico e o poético. em considerar na categoria a sua obra.
Entendidos num princípio dialógico, numa Segundo afirma, “um filme experimental
correlação que nos define, bipolariza e nos prescinde da lógica narrativa”; os seus filmes
atribui uma dupla existência – uma regida podem inverter, ou subverter a linearidade
pelo estado prosaico, que cobre grande narrativa, mas não abdicam da narrativa.
parte do quotidiano apoiando-se na lógica Mas se a qualidade do que é experimental
para perceber, raciocinar usando uma for tida como ensaio, tentativa de uso de
linguagem empírica, prática e técnica; a tecnologias, ou de elementos narrativos não
outra pelo estado poético, que utiliza a utilizados em obras anteriores; ou se
conotação, a analogia, a metáfora. Nesta “experimental” qualificar uma atitude de
reflexão apresentar-se-á uma abordagem à insubordinação relativamente ao tradicional
estrutura da semiótica da linguagem da ou instituído, talvez se possa olhar para A
poética visual, assim como a forma como Janela – Maryalva Mix (2001); ou Caminhos
comunica na relação entre conteúdo e Magnétikos (2018) como experimentalistas.
expressão, justificando-se nesta pesquisa Referindo-se simultaneamente a Alberto
obras do filósofo Tzvetan Todorov Poética e Pimenta e a Edgar Pêra (assim como à sua
Teorias do Símbolo, que apesar de se própria obra), Manuel Rodrigues afirma que,
situarem na compreensão da poética nos sendo o “trabalho com a língua [...]
estudos literários podem ser transpostas extremamente difícil porque está
para outras estruturas discursivas, como completamente entranhada em nós,” e
para esta proposta de estudo que se sendo necessário “ensinar desde muito cedo
relaciona com a linguagem dos discursos as crianças a rearticular a própria língua,
audio-imagéticos (sobretudo no filme, no perceber que ela é plástica, perceber que ela
vídeo e na vídeo-instalação). Não é é elástica, perceber que ela é uma matéria
pertinente identificar as semelhanças ou rica,” os dois concretizam essa atitude ao
pontos análogos entre estes discursos (o mesmo tempo de expressão artística e
verbal e o visual, mas sim entender os pedagógica. Pêra, assim como Pimenta e
principais aspetos diferenciadores da Rodrigues, estão, nas palavras deste último,
linguagem poética, o que se revelará “dispostos a sofrer a transformação que
fundamental no entendimento de uma outra acarreta mexer na plasticidade da língua.”
referência tão importante e imprescindível Será esta predisposição para transformar,
deste estudo que é o ensaio “Cinema de para deslocar, para modelar e re-modelar,
Poesia” do livro de ensaios Empirismo uma predisposição para o experimental na
Hereje, de Pier Paolo Pasolini (1972). arte?
J2
Linguagem Audiovisual

Narrativas audiovisuales de lo cotidiano Webocumentário: da playlist ao cânone


en primera persona Manuela Penafria
Jesús Ramé López (LabCom-UBI, Portugal)
(URJC, Espanha) -
-
La aparición de dispositivos de creación
No site do MIT Open Documentary Lab
audiovisual en la vida cotidiana ha (https://docubase.mit.edu/playlist/)
provocado que la realización de proyectos encontramos 30 listas vindas de profissionais
audiovisuales sea más sencilla. En este de criação de obras em suporte digital,
contexto aparece la posibilidad de que académicos e programadores culturais, com
colectivos, que de forma natural no os seus webdocumentários preferidos e as
abordarían procesos de expresión razões para as suas escolhas. Esta
audiovisual, puedan participar de la comunicação começa por abordar a questão
experiencia estética que supone la creación do cânone vs playlist para, em seguida,
fílmica. El carteo fílmico, el vídeo-diario y elaborar uma super-playlist onde se
otros discursos audiovisuales, que identificam os webdocumentários mais
podríamos enmarcar dentro de las narrativas votados. Alma, a Tale of Violence e Highrise:
Out my Window ocupam ex-aequo o primeiro
del yo, son herramientas que pueden facilitar
lugar, Bear 71, o segundo e, em terceiro
la expresión colectiva a través del lenguaje
lugar, igualmente em ex-aequo, Highrise:
cinematográfico. Estos microdiscursos One Millionth Tower; Question Bridge: Black
audiovisuales están dirigidos a la vida Males e Fort McMoney. Na compreensão das
cotidiana de sus protagonistas, pero nos razões para as escolhas verifica-se um
interesa la construcción de discurso que, discurso mais centrado no impacto da
pese a las miradas subjetivas, disuelve la história contada e na dimensão colaborativa
autoría. Desde de la pedagogía crítica y la do webdocumentário e menos nas
antropología visual, queremos llegar a lo que características da interface ou navegação
denominamos una antropología (audio)visual proporcionada, pelo que a interatividade é
sin autor. Un ejemplo claro son los trabajos entendida como estando ao serviço do
de alfabetización y creación audiovisual conteúdo mais estritamente documental das
colectiva que lleva a cabo el Colectivo obras digitais.
"Educar la Mirada". Queremos destacar dos
proyectos: La memoria de los objetos, que
trabaja con un grupo de mujeres de Leganés
(Madrid), con una media de 83 años, las
cuales, a través de objetos personales,
intentan recuperar su pasado, y el carteo
fílmico de este mismo grupo con el
alumnado de un colegio de este municipio.
Dos ejemplos que nos acercarán el
entendimiento de la autoeducación a través
de narrativas audiovisuales en primera
persona del plural.
Teoria e História do Cinema

J3
A ilusão óptica e o movimento aparente A mise-en-scène da sombra: modalidades
dos dispositivos recreativos do século XIX plásticas e efeitos dramáticos
Maria Mire Luís Nogueira e Fernando Cabral
(Ar.Co, Portugal) (LabCom-UBI, Portugal)
- -

A imagem em movimento é percepcionada Plínio, o Velho, defende na sua História


mediante uma ilusão óptica capaz de Natural que a arte da pintura terá começado
produzir um movimento aparente, aprendido através do exercício de contornar as
visualmente como uma alteração concreta e sombras. Esta ligação entre sombra, imagem
fluída. O modo como esta percepção é e representação conheceu ao longo dos
activada no âmbito da imagem cinemática, séculos diversas modalidades, com variados
não advém, segundo Jacques Aumont, do efeitos dramáticos. Na proposta que agora
efeito que conhecemos como persistência apresentamos, propomo-nos refletir sobre a
retiniana, por não ser esta a exclusiva forma como a sombra tem sido no cinema
característica da visão humana responsável um aspeto fundamental da plasticidade das
pela percepção das imagens em movimento imagens, com consequências narrativas e
a partir de uma cadência determinada de dramáticas múltiplas e fulcrais. Trataremos
imagens fixas. Participam igualmente, o de enunciar as suas modalidades (umbra,
efeito de mascaramento visual, e de modo penumbra e antumbra) e de analisar a sua
mais fundamental o efeito phi enquanto um presença e os seus efeitos em diversas
processo pós-retiniano. Contudo, terá sido o situações, géneros e movimentos (do
estudo das impressões luminosas na retina a expressionismo ao film noir, do filme de
impulsionar a investigação em torno da terror ao melodrama), recorrendo ainda, para
percepção do movimento, assim como a uma contextualização mais abrangente, a
sustentar cientificamente, ao longo do século exemplos da pintura, da fotografia ou da
XIX, a construção de inúmeros dispositivos ilustração. Daremos particular atenção aos
ópticos que experimentavam as casos em que a luz que produz a sombra se
possibilidades da imagem cinemática. encontra fora de campo, de modo a
Pretende-se, através desta comunicação, averiguar de que modo a mise-en-scène da
traçar uma pequena genealogia sobre o sombra pode ser colocada em paralelo com
modo como se foi compreendendo a síntese as ideias de cineastas como Hitchcock, que
do movimento e particularmente sobre os afirmava pretender dirigir a audiência mais
dispositivos que se construíram ao longo de do que dirigir o filme, ou de Tarkovsky, que
todo o século XIX. Os quais, nas primeiras falava de esculpir o tempo, sendo que nos
décadas deste século, são expressões interessa aqui, de forma análoga, refletir
materializadas da ciência óptica recreativa e sobre a ideia de esculpir a luz. Para tal,
permitem compreender que a imagem em alguns conceitos se revelarão operatórios: o
movimento surge disseminada por inúmeros plástico e o dramático, o positivo e o
aparelhos que dão conta de um contexto de negativo, a incompletude e a plenitude, a
efervescente inventividade. opacidade e a transparência, o evidente e o
secreto, o limite e o limiar.
J3 Teoria e História do Cinema

Fascinación, resistencia y dignidad: la Censura ao cinema no espaço ibérico


rostrificación a ultranza en la obra de Ciprì durante as ditaduras
y Maresco Ana Bela Morais
Joan Jordi Miralles (CEC-ULisboa, Portugal)
(Tecnocampus-UPF, Espanha) -
-

Los directores sicilianos Daniele Ciprì y O objectivo desta comunicação é comparar


Franco Maresco dieron forma a un universo os sistemas de censura ao cinema, em
propio que poblaron de criaturas especiales, Portugal e Espanha, durante o período das
ensimismadas, dementes, frágiles, sin ditaduras. A maioria da bibliografia existente
objetivos ni rumbo fijo, cuya mirada y pose analisa separadamente o que sucedeu em
remiten a una nostalgia hacia una realidad cada país ibérico, não existindo nenhum
extinguida. De sus atributos corpóreos, estudo comparado que permita conhecer de
destaca el rostro. Su belleza viril, tosca, forma aprofundada as relações existentes
agreste y perturbadora no corresponde al entre ambos, no que respeita à censura
canon mediante el cual los medios abordan cinematográfica, sendo que o caso espanhol
los rostros; no se ajusta a las exigencias del está muito mais estudado que o português.
buen gusto, el refinamiento y la virtud con los Esta comunicação pretende ajudar a suprir
que es necesario identificar los productos esta lacuna: quais as diferenças e
comerciales. Son, por lo tanto, rostros semelhanças entre os regimes políticos e
excluidos del mundo de la televisión, rostros culturais, no que respeita aos mecanismos
residuales que reclaman su dosis de de censura ao cinema, em ambos os países
identificación dignificante. Hablamos de ibéricos? Quais os critérios que regiam as
rostros que resisten y que retan al respectivas comissões de censura nos anos
espectador, cuya ausencia de máscara y referidos? Verificou-se uma maior abertura
desnudez huye de la homologación y aspira no final das ditaduras, ou pelo contrário, um
a simbolizar la propia condición humana. controlo mais apertado sobre o que era
Nos encontramos antes dos directores que censurado ou não? Estas são algumas das
apuestan por la rostrificación a ultranza perguntas às quais esta comunicação
como postulado estético y moral. propõe encontrar possíveis respostas.
L 29 maio
12h30 — 14h15
GT O Cinema e as Outras Artes (II)

L1
Em busca do gesto perdido: o dispositivo Bill Viola: The Passions
do tableau vivant nas imagens híbridas André Arçari e Angela Grando
contemporâneas (LabArtes-UFES, Brasil)
-
Nina Velasco e Cruz
(UFPE, Brasil)
-
Parto da percepção de que há uma “vontade O artista norte-americano Bill Viola (1951-) é
de movimento” generalizada nas imagens referencial para a imagem em movimento.
fotográficas/estáticas (gifs, boomerangs e Desde idos dos anos 1970 ele explora
vídeos de curtíssima duração como os características intrínsecas do meio, estando
stories do Instagram são o sintoma mais no círculo dos primeiros. Inicialmente, esta
visível desse fenômeno), assim como uma comunicação expõe questões sobre a
progressiva estaticidade das imagens em produção de Viola no que tange o modo
movimento (o slow cinema, o uso de câmera como a percepção videográfica constitui sua
lentíssima e as tomadas em pontos fixos no obra. Em seguida, são enfatizadas
cinema contemporâneo atestam essa problemáticas que surgem na pesquisa do
tendência). Esse fenômeno pode ser artista a partir da série The Passions (2000-).
investigado a partir do uso recorrente e Tal produção filmada marca tanto a inserção
atualizado da prática do tableau vivant nas do tempo na imagem, quanto a imagem em
imagens técnicas contemporâneas. A movimento, ou seja, no tempo atual. Viola
questão que levanto para esse artigo deriva reconhece um potencial valor em imagens
da percepção desse fenômeno articulado à do passado, como em pinturas pré-
questão do lugar do “gesto” na cultura renascentistas, góticas, flamencas e tardo-
contemporânea. Se partirmos do medievais, estudando-as e reincorporando-
pressuposto de que a mecanização as para compor seu corpo de obras. O poder
progressiva da modernidade, expressa cinemático de The Passions concentra-se na
também na produção de imagens técnicas, busca de uma natureza passional e uma
resultou no sentimento da perda do gesto, qualidade expressiva, historicamente
de que maneira a imagem em movimento presentes em imagens do passado. Nesse
pode vir a restituí-lo, como nos sugere sentido, consideramos a estrutura
Agamben? E como as atuais imagens associativa das imagens dialógicas presente
híbridas contemporâneas, entendidas como no Bilderatlas Mnemosyne (1922- 1929), do
entre-imagens (BELLOUR, 1997), reatualizam teórico alemão Aby Warburg (1866-1929),
essa questão? Iremos nos deter em bem como os desdobramentos da pesquisa
exemplos de algumas obras da artista warburguiana analisada pelo francês Didi-
Barbara Wagner, especialmente na série Huberman (1953-) e seu discípulo Philippe-
intitulada Faz Que Vai. Alain Michaud (1961-), este que por sua vez
interpreta o atlas enquanto uma elaboração
com traços cinemáticos. Para Michaud, os
painéis que compõe o atlas funcionam não
como quadros, mas como telas onde são
reproduzidos, na simultaneidade, fenômenos
que o cinema produz na sucessão.
L1
GT O Cinema e as Outras Artes (II)

Entre ficção e experiência: o ‘retorno do Entre o cinema e a fotografia: a poética


sujeito’ na fotografia contemporânea intervalar de Letícia Ramos
Teresa Bastos Victa Carvalho
(ECO-UFRJ, Brasil) (ECO-UFRJ, Brasil)
- -

Atualmente, cresce o número de trabalhos É expressiva a presença de trabalhos que


de artistas, estrangeiros e brasileiros, que retomam o dispositivo da câmara escura na
trazem como tema o “sujeito”: ou emprestam produção audiovisual brasileira mais recente.
seu próprio corpo à obra, seja ela audiovisual A utilização de câmeras pinhole, a projeção
ou teatral, ou encontram um outro corpo a de imagens em caixas pretas ou mesmo a
ela. Podemos dizer que o sujeito está no instalação de câmeras escuras em museus e
galerias de arte vêm se tornando práticas
centro da questão da arte contemporânea,
recorrentes para diversos artistas como
mas não a partir de um viés subjetivante ou
Dirceu Maués, Ana Angélica, Paula Trope e
psicológico. Colocar-se em tema, pautar-se Letícia Ramos. Diante dessa retomada,
como imagem são estratégias artísticas nossa proposta pretende indagar como a
reincidentes na fotografia que trazem à tona recuperação do dispositivo da câmera
um gênero secular, que aponta em sua escura pode contribuir para um pensamento
gênese o peso de uma tradição histórica, sobre o audiovisual na contemporaneidade.
mas que possui vitalidade para se Que questões históricas, visuais e subjetivas
reinventar: o retrato e o autorretrato. Seus estão em jogo quando a câmera escura volta
usos e convenções estiveram em sua maior à cena como grande produtora de diferença
parte associados a uma função biográfica e no contexto atual? Trata-se de um desejo de
identitária, como pode ser observado a partir nostalgia ou de uma releitura? A partir da
do modelo estético canônico do portrait construção de uma câmera pinhole
cinematográfica 35mm de 24 perfurações,
fotográfico do cenário oitocentista, mas suas
construída pela própria artista, Letícia Ramos
possibilidades estéticas contemporâneas
captura imagens panorâmicas da cidade de
apontam mais para um desejo de São Paulo. Trata-se do projeto ERBF –
experiência, que para uma função biográfica, Estação Radiobase Fotográfica (2010), que
associada a ele desde seus primórdios. O teve como objetivo capturar imagens das
objetivo desta comunicação é abordar este torres de celular. O resultado foi a realização
“retorno do sujeito”, de forma articulada ao de 5 filmes de 1 minuto de duração, em que
que Hal Foster propõe como retorno do real a experiência fragmentada e intervalar
a partir de trabalhos de artistas expressa a própria natureza da experiência
contemporâneos, mas privilegiando a da cidade. Sob essa perspectiva, cabe aqui
produção do fotógrafo brasileiro Eustáquio indagar quais desafios a câmera escura
Neves que, além de colocar o sujeito em apresenta no contexto da imagem em
questão, o traz a partir de movimento na contemporaneidade, tendo
em vista um efeito que privilegia o intervalo e
técnicas fotográficas e artísticas distintas,
as passagens entre as imagens..
proporcionando um jogo tanto das
materialidades experimentadas, quanto
friccionando as barreiras entre
o documental/ficcional/imaginário em sua
criação.
L2
Da Responsabilidade do Poder
à Responsabilidade Ética

Gesto e poder: Reel/Unreel A representação do poder e o poder da


Célia Ferreira representação em Benny’s Video e
(ESAD.CR-IPLeiria, Portugal) Brincadeiras Perigosas
-
Liliana Rosa
(IFILNOVA, Portugal)
-

Tomamos como objecto a obra do artista O que é o poder e como é que podemos
Francis Alÿs em especial o vídeo Reel/Unreel relacionar o poder e a violência? O poder e a
(Kabul, Afghanistan 2011, 19:32 min.) para violência são dois conceitos que caminham
ensaiar uma reflexão sobre gestos muitas vezes lado a lado, contudo, Hannah
cotidianos, inscrição e bio-poder. Em Arendt (1970) chama a atenção para as
Reel/Unreel um grupo de crianças brinca diferenças que os separam “O poder e a
guiando bobinas de filme entre as ruas de violência são contrários; quando um deles
Kabul. Bobinam e desbobinam metros de governa absolutamente, o outro está
película por um percurso acidentado. É ausente. A violência surge onde o poder se
real/irreal o gesto com que o artista encontra ameaçado, mas abandonado ao
imagina/regista, em que conduz e é seu curso próprio acaba no desaparecimento
conduzido pelas brincadeiras das crianças, a do poder.” (Arendt, 2014: 60). Visto isto, esta
cidade e o cinema. O jogo infantil, comunicação tem como principal objectivo
envolvendo ou não um grupo, aparece em analisar e abordar algumas questões
estreita relação com gestos ancestrais: relacionadas com a representação do poder
esconder, arrastar, puxar… correr, imobilizar. e da violência no cinema, em particular o
Esses gestos são executados em cinema de Michael Haneke, através das
circunstâncias variadas e repetidos em seguintes etapas: num primeiro momento,
diferentes trabalhos de Francis Alÿs, convocando os conceitos “poder” e
sugerem modos de inscrição estética no “violência” sob o ponto de vista da filósofa
cotidiano, afirmando a sua presença física Hannah Arendt; num segundo momento,
numa linha, um som, um reflexo. Na obra de enunciando, caracterizando e aplicando
Alÿs concretiza-se um arquivo de gestos alguns aspectos dos conceitos “poder” e
banais em relação com poderes que “violência” a um corpus de filmes do
perpassam cidades como Kabul, Jerusalém, cineasta Michael Haneke suficientemente
Londres ou a Cidade do México. Os gestos representativo para detectar tendências ou
do artista, ou das crianças, ou dos cidadãos padrões neste assunto, nomeadamente os
implicados na obra, retornam na sua filmes Benny’s Video (1992) e Brincadeiras
simplicidade em espaços e tempos que os Perigosas (1997). Finalmente, queremos
re-significam e possuem uma dimensão analisar como é que a representação do
estética que interessa compreender na sua poder e o poder da representação nos filmes
articulação ética e (bio)política. de Michael Haneke se coaduna com a
responsabilidade ética.
L2
Da Responsabilidade do Poder
à Responsabilidade Ética

Billions: Teia de personagens e foco


narrativo na construção da primeira
temporada
Angélica Marques Coutinho
(FACHA, Brasil)
-
A série norte-americana Billions foi criada por
Brian Koppelman, David Levien e Andrew
Ross Sorkin e estrelada por Paul Giamatti e
Damian Lewis. Exibida pelo Showtime a
partir de janeiro de 2016, teve cinco
temporadas ainda hoje disponíveis no Netflix.
Esta comunicação escolhe dois caminhos
para analisar a estratégia narrativa de
construção da história seriada em sua
primeira temporada. O primeiro é a teia de
personagens que estuda a relação dos
personagens principais ao longo do arco
narrativo. Em Billions, temos os
coprotagonistas Chuck Rhoades Jr.
(Giamatti) e Bobby Axelrod (Lewis) em
constante confronto representando,
respectivamente, o poder do Estado e o
poder do dinheiro sob as regras do
capitalismo norte-americano. Entre ambos,
Wendy Rhoades, mulher de Chuck e
psicóloga da empresa de Bobby, que
funciona como um espectador privilegiado
dividida entre as razões de ambos. O
segundo caminho é analisar como a
utilização do foco narrativo constrói a
surpresa ao manter o espectador alheio às
questionáveis decisões dos coprotagonistas,
em particular no caso de Chuck que não
apenas “trai” a confiança do espectador
como de outros personagens-aliados como
o pai Chuck Rhoades e o amigo Ira Schirmer.
Cinema e Materialidades

L3
O desenho como estudo formal sobre o O figurino antes da figurinista: Uma
enquadramento: dois casos de estudo na proposta para a reflexão crítica e autoria
direção de arte do cinema português na produção de figurino no cinema
Caterina Cucinotta brasileiro e no cinema português
(ICH-NOVA, Portugal) Nívea Faria Souza
- (UNESA, Brasil)
-

Na preparação de um filme, o desenho dos Como elemento fundamental da obra, a


cenários e dos figurinos é uma parte roupa é elemento importante do universo da
fundamental no desenvolvimento das ideias cena, ele mais um dos elementos relacionais
e nas materializações dos conceitos que o da construção cênica, fortalecendo a
realizador quer transmitir. A comunicação produção da imagem e apresentando
entre o realizador, o decorador e o figurinista significados importantes para a estória. O
(ou o diretor de arte) é um processo
estudo do figurino ainda é campo muito
importante na criação das materialidades e
recente, marcado pela escassa bibliografia
na passagem do argumento ao
enquadramento. Ao longo da uma existente direcionado ao cinema brasileiro e,
investigação sobre design e texturas no também, ao cinema português. Dessa
cinema português dos últimos 50 anos, maneira, esse trabalho busca percorrer a
associando os fatores acima descritos com pesquisa da história do figurino através de
os materiais encontrados, se pode chegar a uma análise comparativa, identificando
conclusão de que poucos diretores de arte diferenças e similitudes no percurso do
no cinema português têm tempo, orçamento figurino desde sua origem, no início do
e capacidade prática para usar o desenho no século XX. A partir de uma reflexão crítica
desenvolvimento material dos cenários e dos sobre o figurino nos dois países, será
figurinos de um filme. Nesta comunicação analisado neste trabalho desde o processo
vou-me debruçando sobre o trabalho de de produção das roupas que apareciam no
preparação de dois filmes onde os desenhos
ecrã antes mesmo de existir o figurinista
dos dois diretores de arte ganharam um
como profissional responsável nos créditos,
papel crucial no desenvolvimento conceitual
do filme: As mil e uma noites, de Miguel identificando autorias veladas, segmentadas
Gomes, com direção de arte de Artur ou, ainda, esquecidas em sua participação
Pinheiro, e As linhas de Wellington, de Valeria na narrativa. O objetivo deste trabalho é
Sarmiento, com direção de arte de Isabel pensar o figurino nos seus primórdios,
Branco. Vamos ver como, através da entendendo papéis, nomenclaturas e
ferramenta do desenho, conseguimos importância não só do vestir para o
detectar dois diferentes conceitos de audiovisual, mas de quem pensa e cria os
“direção de arte” no âmbito português. figurinos. Refletindo de que maneira o traje
Vamos também revelar, desta forma, uma ajuda a compreender que a inexistência do
parte da história do cinema que delimita profissional nos genéricos das obras, não
momentos diferentes de coautoria, exclui a existência da função. Ou seja, não
produção, cinema artesanal e cinema
ter um figurinista creditado não elimina o
comercial.
pensar no vestir para a cena.
L3 Cinema e Materialidades

20 anos de Tônica Dominante: reflexões a Ponte entre linguagens: pintura e cinema


partir de uma fotografia histórica na produção de sentidos no filme O
Marina Cavalcanti Tedesco Profissional
(UFF, Brasil) Aline de Caldas Costa
- (UESC, Brasil)
Andressa de Souza Santos
(UFOB, Brasil)
-

Em 2000, estreou no Montreal World Film O trabalho apresenta um exercício de leitura


Festival o filme brasileiro Tônica Dominante. de imagens em movimento que relaciona a
Dirigido por Lina Chamie, trazia pela primeira pintura ao audiovisual, mobilizando
vez na história do cinema brasileiro uma elementos de composição, direção de
mulher fotografando sozinha um longa- fotografia e direção de arte. O objeto deste
metragem de ficção. A pioneira foi Kátia trabalho é o filme O Profissional, dirigido por
Coelho, e, desde então, filme e fotógrafa são Luc Besson, lançado em 1994. Do campo da
sempre citados nos estudos sobre mulheres pintura, destaca-se a referência à teoria da
na direção de fotografia no Brasil. Por um forma e da cor de Kandinsky (1970; 2003;
lado, essa referência obrigatória é muito 2015), trazendo para a discussão a presença
importante, posto que foi necessário mais de e a produção de sentido por parte de
um século de cinema para que uma mulher elementos como o ponto, a linha, a direção
alcançasse tal posto, e a direção de do movimento, a distribuição de pesos
fotografia é, ainda hoje, uma das funções do visuais, a cor e suas combinações; também
processo de realização fílmica com menor se recorre a Arnheim (2015) a respeito da
número de mulheres em todo o mundo. Por percepção visual. Já no campo do
outro lado, ser um marco fez com que a audiovisual, destacam-se os estudos de
imensa maioria das aproximações a Tônica Aumont (2012), Mascelli (2010), Bown (2012),
Dominante tenha ocorrido a partir de um viés Bordwell e Thompson (2013) a respeito da
de gênero, e não da materialidade do filme. luz, do plano, da cor, da disposição dos
Isso se deu a despeito do trabalho de Kátia elementos no espaço cinematográfico, do
Coelho e sua equipe ter recebido dois figurino e dos cenários, dos movimentos e
prêmios importantes: Prêmio APCA – ângulos de câmera. No filme O Profissional, a
Associação Paulista dos Críticos de Arte de presença dos recursos de composição
Melhor Fotografia (2001) e Melhor Fotografia discutidos por Kandinsky é destacável, pois,
Kodak Vision Award / WIF - 2.º lugar. Nesta nos esforços para a produção de sentido,
comunicação, iremos nos dedicar a esta comparecem forças cooperantes ou
dimensão também histórica – mas não antagônicas que promovem tensão, emoção,
suficientemente estudada – de Tônica crise e vitória por parte dos diferentes
Dominante: sua fotografia. Para cumprirmos personagens. Tais sentidos são retratados
tal objetivo, nos valeremos da análise fílmica imageticamente por meio de padrões visuais
da produção, das informações contidas em elaborados através de recursos de
seu making of e de entrevistas que composição e direção de fotografia e de arte,
realizamos com a diretora de fotografia e a a exemplo da de penumbras ou luzes
diretora do filme. naturais, uso de lentes específicas, do uso
das cores nos cenários, figurinos e da mise-
en-scène.
v.9, n. 1 (2022)

A pesquisa histórica no cinema ibero-americano:


Perspectivas e desafios na era digital / Historical
Research in Ibero-American Cinema: Perspectives
and Challenges in the Digital Age / La investigación
histórica en el cine iberoamericano: perspectivas y
desafíos en la era digital

ed. Andrea Cuarterolo, Eduardo Morettin e


Georgina Torello

Chamada de artigos aberta até / open call for


submissions until:

15.07.2021

+ info

www.aim.org.pt/aniki
v1n1 – 01.2014 v1n2 – 07.2014 v2n1 – 02.2015
Dossiê ‘Cinefilia Digital’ Dossiê ‘Arte e Cinema’ Dossiê ‘Cinema Expandido’
Editor: Tiago Baptista Editor: Carolin Overhoff Ferreira Editor: Susana Viegas

v2n2 – 07.2015 v3n1 – 02.2016 v3n2 – 07.2016


Dossiê ‘Os Arquivos Fílmicos e a Dossiê ‘O que é o Cinema Dossiê ‘Outros Filmes’
memória: Documentos e Ficções ’ Português?’ Editoras: Sofia Sampaio, Raquel
Editor: Vicente Sánchez-Biosca Editor: Paulo Cunha Schefer e Thaís Blank

v4n1 – 02.2017 v4n2 – 07.2017 v5n1 – 01.2018
Dossiê ‘Paisagem e Cinema’ Dossiê ‘A Longa Duração’ Dossiê ‘Música e Som no Cinema’
Editores: Filipa Rosário, Iván Editor: Tiago de Luca Editor: Manuel Deniz Silva
Villarmea e Francesco Giarrusso

v5n2 – 07.2018 v6n1 – 01.2019 v6n2 – 08.2019


Dossiê ‘O cinema brasileiro na era Dossiê ‘O visionamento e a crítica de Dossiê ‘Teorias, práticas e ontologias
neoliberal’ séries de televisão’ do ator no audiovisual’
Editoras: Lúcia Nagib, Ramayana Editor: Sérgio Dias Branco Editores: Pedro Guimarães e Teresa
Lira, Alessandra Brandão Fradique

v7n1 – 01.2020 v7n2 – 07.2020 v8n1 – 01.2021
Dossiê ‘Mulheres e espaço no Dossiê ‘Teoria dos Cineastas: uma Dossiê ‘Festivais de cinema e os
cinema contemporâneo’ abordagem para o estudo do cinema’ seus contextos socioculturais’
Editoras: Mariana Liz e Marina Editores: Manuela Penafria, Eduardo Editoras: Aida Vallejo e Tânia Leão
Cavalcanti Tedesco Baggio e André Rui Graça


grupos

de trabalho
Cultura Visual Digital O Cinema e as Outras Artes

Responsáveis: Marta Pinho Alves; Luís Responsáveis: Liliana Rosa; Victa Carvalho;
Nogueira. Diego Paleólogo.

Cinemas em Português Cinema e Educação


Responsáveis: Jorge Luiz Cruz; Mirian Responsáveis: Pedro Alves; José António
Tavares; Leandro Mendonça. Moreira; Elsa Mendes.

Paisagem e Cinema Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos


Responsáveis: Filipa Rosário; Iván Responsáveis: Paulo Cunha, Michelle Sales,
Villarmea; Ana Costa Ribeiro. Liliane Leroux

Outros Filmes Cinema e Materialidades


Responsáveis: Beatriz Rodovalho; Responsáveis: Caterina Cucinotta, Ana Bela
Thais Blank; Maria Ganem Muller. Morais, Nívea Faria Souza

A Teoria dos Cineastas Cinema, Música, Som e Linguagem


Responsáveis: Manuela Penafria; André Rui Responsáveis: Carlos Ruiz, Érica Faleiro
Graça; Maria do Rosário Lupi Bello. Rodrigues, Ivan Capeller.

Narrativas Audiovisuais
Responsáveis: Fátima Chinita; Maria
Guilhermina Castro; Jorge Palinhos.

No sentido de melhorar a relação entre os membros e estimular as parcerias científicas, a Direção


da AIM determinou a possibilidade de criação de Grupos de Trabalho (GT) por parte dos nossos
membros. Esperamos que possam servir para agrupar os investigadores de acordo com os seus
interesses científicos e que daí resultem novas propostas científicas.

Como se adicionar aos grupos de trabalho?

Qualquer membro ativo (com as quotas regularizadas) poderá juntar-se a qualquer


grupo de trabalho existente na AIM. Para isso, deve aceder à Área de Membros,
procurar o grupo de trabalho pretendido e adicionar-se. O funcionamento de cada grupo
é da exclusiva responsabilidade dos seus coordenadores.

Qualquer dúvida ou sugestão escreva para: membros@aim.org.pt


Comissão de Honra
Abílio Hernandez Cardoso (UC), Afrânio Catani (USP, Brasil), Alberto Pena Rodríguez
(U. Vigo, Espanha), András Bálint Kovács (ELTE, Hungria), André Parente (UFRJ,
Brasil), Antonio Checa Godoy (U. Sevilha, Espanha), António Pedro Pita (UC), Carolin
Overhoff Ferreira (Unifesp, Brasil), Fernão Pessoa Ramos (Unicamp, Brasil),
Francisco Rui Cádima (UNL), Isabel Capeloa Gil (UCP), Ismail Xavier (USP, Brasil),
João Mário Grilo (UNL), José Manuel Costa (UNL), Leandro Mendonça (UFF, Brasil),
Lúcia Nagib (U. Reading, Inglaterra), Luís Trindade (U. Londres, Inglaterra), Malte
Hagener (U. Marburg, Alemanha), Manuela Penafria (UBI), Mário Jorge Torres (UL),
Massimo Canevacci (U. degli Studi di Roma La Sapienza, Itália), Mirian Tavares
(UAlg), Moisés de Lemos Martins (UM), Nélson Zagalo (UM), Paulo Filipe Monteiro
(UNL), Randal Jonhson (U. Califórnia, EUA), Tito Cardoso e Cunha (UBI).

Comissão Científica
Ana Bela Morais (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Carlos Natálio
(Faculdade de Ciências Sociais e Humana da Universidade Nova de Lisboa), Claudio
Bezerra (Universidade Católica de Pernambuco), Eduardo Baggio (Universidade
Estadual do Paraná), Elisabete Marques (Faculdade de Letras da Universidade do
Porto), Iván Villarmea (University of Santiago de Compostela), Mariana Liz (Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), Marina Tedesco (Universidade
Federal Fluminense),Marta Pinho Alves (Escola Superior de Educação - Instituto
Politécnico de Setúbal), Ricardo Nunes (Escola Superior de Educação - Instituto
Politécnico de Setúbal), Sérgio Bordalo e Sá (Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade de Lisboa), Wiliam Pianco (Investigador Independente)

Comissão Organizadora
AIM: Carlos Natálio, Catarina Maia, Elisabete Marques, Filipa Rosário, Francisco
Merino, Iván Villarmea Álvarez, Marta Pinho Alves.

Organização Local: Ricardo Nunes

Edição
AIM
 Maio de 2021

ISBN
978-989-54365-3-8

aim.org.pt
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