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AULA SOLIDÁRIA (PI) – SOCIOLOGIA

PROFESSORA: Gabriela Andraus

Assuntos abordados:

 WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo:


Companhia das Letras, p. 141-167, 2004.
 NORTH, D. Institutions, Institutional Change and Economic Performance.
Cambridge: Cambridge University Press, 1990. Resenha de: GALA, P.
A Teoria Institucional de Douglass North. Revista de Economia
Política, v. 23, n. 2, p. 90, 2003.
 NORTH, D. Para um país enriquecer: Entrevista [26 de novembro, 2003].
São Paulo: Revista Veja, edição 1830. Entrevista concedida a Monica
Weinberg.
 Filme Margin Call, Wall Street e Inside Job.

Ascese e capitalismo

 Conceito de ascese: prática religiosa ligada a um conceito de esforços,


renúncia do prazer e penitências como forma de chegar ao paraíso,
abnegação.
 Contextualização: Weber (1864 – 1920), Reforma Protestante (1517)
 Olhando para o passado para entender o presente.
 Países que prosperam economicamente x países que não prosperam
economicamente: por quê?
 Foco: Inglaterra.
 Qual era o diferencial do protestantismo em relação às outras religiões?

"Se deus vos indica um caminho no qual, sem dano para vossa alma ou
para outrem, possais ganhar nos limites da lei mais do que num outro
caminho, e vós o rejeitais e seguis o caminho que vai trazer ganho menor,
então estareis obstando um dos fins do vosso chamamento, estarais vos
recusando a ser o administrador de Deus e a receber os seus dons para
poderdes entregá-los pra Ele se Ele assim o exigir. Com certeza não para
fins da concupiscência da carne e do pecado, mas sim para Deus, é
permitido trabalhar para ficar rico."

 Qual era o objetivo das pessoas naquela época?

"(...) época em que o pós-morte era tudo, em que a posição social do


cristão dependia de sua admissão à santa ceia (...) [esses valores] foram
plasmadores decisivos do 'caráter de um povo'."

 Trabalho ascético como um instrumento: quanto mais o indivíduo trabalha


na profissão de sua vocação divina, mais ele “agrada” a Deus, e é assim
que se vai ao paraíso.

"A todos, sem distinção, a Providência divina pôs à disposição uma


vocação que cada qual deverá reconhecer e na qual deverá trabalhar, e
essa vocação não é, como no luteranismo, um destino no qual ele deve
se encaixar e com o qual vai ter que se resignar, mas uma ordem dada
por Deus ao indivíduo a fim de que seja operante por sua glória."

 A “ética protestante” é uma forma de conduta, é agir de acordo com os


valores protestantes para obter a salvação divina.
 E onde entra o “espírito do capitalismo”? Acúmulo de riquezas advindas
do trabalho, consumo.
 Características do trabalhador protestante: estímulo à produção,
restrições ao ócio, ao prazer e ao consumo.
 Paradoxo do ascetismo protestante: Com o aumento da riqueza e da
produção, havia um grande acúmulo de dinheiro. E o que fazer com esse
dinheiro? Como mover a economia se todo o dinheiro está guardado, se
todas as pessoas abnegaram do prazer e do consumo?

"Temo: que onde quer que a riqueza tenha aumentado, na mesma medida
haja decrescido a essência da religião."1

 “Desencantamento do mundo”: a ideia da fé protestante e do ascetismo


no mundo moderno desapareceu, sendo substituída pelo consumo.

11
WESLEY, J. Citação feita por Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo (ver
Bibliografia), p. 159.
 Ascetismo laico: o trabalho permanece como centro da lógica, porém, sem
o viés religioso. O ascetismo protestante dá lugar ao ascetismo laico, a
renúncia sem devoção a Deus e sem a busca pelo paraíso.
 Paradoxo: ainda está abrindo mão do prazer para alcançar o prazer lá na
frente. No entanto, o prazer passa a ser o direito de consumir. Há uma
inversão de valores.

A Teoria Institucional de Douglass North

 Contextualização: Douglass North (1920-2015).


 Países que prosperam economicamente x países que não prosperam
economicamente: por quê?
 Abordagem diferente, porém, complementar a de Max Weber.
 Olhando para o passado para entender o presente.

“O autor procura demonstrar como o crescimento de longo prazo, ou a


evolução histórica, de uma sociedade é condicionado pela formação e
evolução de suas instituições.”

 Qual o conceito de instituições de Douglass North? Instituições que criam


regras, leis, normas e organizações. Podem ser públicas (governo,
justiça/polícia, congresso) e privadas (escolas, igrejas). São formadas por
vários indivíduos e servem para que as sociedades não se desmantelem.
 Instituições são compostas de indivíduos racionais e capazes de se
autorregular. Os indivíduos possuem crenças e valores distintos entre si.

“Nos países de sucesso, teria havido um equilíbrio de poder entre as


monarquias e produtores que favoreceu a confecção de leis propícias ao
desenvolvimento do comércio e da indústria. Na Espanha e França,
principalmente na primeira, as leis e a organização institucional não teriam
contribuído para o florescimento de atividades economicamente
produtivas. Em geral, observamos nesses países, à época, uma
legislação protetora de monopólios — como o caso das Mestas na
Espanha — que não estimulava o surgimento de atividades rentáveis para
a sociedade como um todo.”
 Como as instituições definem seus valores e suas crenças?

“As instituições de um país são a síntese das crenças de seu povo.”

 Um grande avanço de Douglass North foi chegar a esse sistema de


instituições e definir que há um vínculo direto com a base de crenças e de
valores pessoais. É a chamada matriz institucional. Uma matriz
institucional eficiente será aquela capaz de estimular um agente ou
organização a investir numa atividade individual que traga retornos sociais
superiores a seus custos sociais. A chave para tal arranjo de sucesso está
em estabelecer um sistema de propriedade bem definido e acompanhado
de um aparato de enforcement eficaz.
 O que é mais relevante, as crenças ou as instituições? Não importa. Se
as pessoas formam as instituições, as instituições vão ter os valores das
pessoas.

Filmes

Inside Job, Wall Street e Margin Call: todos os três filmes têm em comum
a busca pela riqueza – num viés ambicioso e desesperado gerado pela
necessidade de consumo.

A ideia da riqueza e a ideia do consumo é o vínculo principal de Weber, e


isso se desenvolve como causalidade histórica como forma de conduta do
protestante. O cataclismo disso é o que Weber chama de paradoxo protestante,
quando a riqueza passa a pertencer ao homem e, gradativamente, o homem
esquece a fé protestante. Esse paradoxo leva ao ascetismo laico: o consumo é
a “nova salvação”, o destino da abnegação.

Os recursos são escassos, e se todo mundo quer consumir há


necessidade da implementação de regras. Essas regras são implementadas
pelas instituições, o elo entre Max Weber e Douglass North. Por que o governo
americano e o Banco Central não agiram durante a crise de 2008? Porque
aquele era o espírito da época, do consumo, de aumentar a riqueza e não
estabelecer limites. Os agentes da matriz institucional tinham como valores o
consumo, logo, a própria matriz também o tinha. Por que regulá-lo?

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