A religião cristã, durante o final do Império Romano, apresentava-se como uma doutrina muito simples, servindo-se apenas da revelação divina e de condutas morais. Santo Agostinho, antes de tornar-se Santo, percebeu essa simplicidade — como diversas outras pessoas da época. Ele achava o estilo de escrita bíblico deveras trivial e mal fundamentado comparado à prosa de Cícero, a qual ele tanto admirava. Dessa maneira, o cristianismo tornou-se alvo fácil de críticas baseadas na razão e na lógica por parte dos romanos. Estes que, aliás, foram influenciados fortemente pela cultura helênica, baseada, claro, na filosofia grega. Ou seja, o cristianismo — uma religião da revelação e não uma filosofia — estava em más condições nos olhos dos romanos — crentes em filosofias racionais. Por isso, desenvolveu-se modos de defesa do cristianismo, com o intuito de sobreviver em meio aos romanos. A principal defesa foi buscada justamente no próprio adversário: os filósofos gregos, helênicos, e seus contemporâneos romanos. Agora havia o dever de conciliar as verdades reveladas com ideias filosóficas puramente racionais. Assim, padres da igreja reuniram-se para alcançar essa conquista, produzindo a chamada filosofia Patrística. Em um primeiro momento, os padres limitaram-se apenas ao elogio do cristianismo e sua defesa de que a doutrina não era oposta às verdades racionais do período helênico. São Justino (séc. II), Clemente de Alexandria (séc. II e III) e Orígenes (séc. III) defendiam esse movimento. Em contrapartida, havia os apologistas latinos que reagiram negativamente em relação à ideia de conciliar a religião com a razão. Eles continuaram defendendo a revelação cristã, efetivamente, fundamentada na fé, sem a razão. Tertuliano (séc. II e III) é um dos exemplos de defensores desse movimento. Santo Agostinho, um dos principais participantes da Patrística, senão o principal, foi um dos maiores no quesito de conseguir conciliar a fé e a razão. Logo, perpetuando a filosofia dentro da teologia e, também, perpetuando o espírito divino da religião no coração daquela população através da especulação lógica e racional.
— Cauan Elias. — Bibliografia: “Santo Agostinho, Os Pensadores”, José Américo Motta Pessanha, Abril Cultural, 1980.