Interpretação da crônica das vantagens de ser bobo
O estilo de Clarice Lispector acerca de fatos cotidianos é bem interessante, pois
ela consegue a partir daí nos fazer uma reflexão filosófica e existencial sobre nossa própria vida. Em relação à essa crônica, a autora nos faz perceber que rumo estamos levando em nossa própria vida, se estamos sendo os bobos ou os espertos. E quais as vantagens e desvantagens de ser cada um dos dois. Podemos citar, por exemplo, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, pois sua filosofia tem muito à ver com o sentido que a crônica nos passa. Nietzsche baseia sua filosofia, principalmente, no que ele chama de: Vontade de Potência. Clarice Lispector, mostra na crônica que o bobo é aquele que não segue as regras estabelecidas pela sociedade, e consegue, assim, ser original. Portanto, conseguindo tornar a vida uma obra de arte, ou seja, um sentido. A filosofia Nietzschiana é isso. Ele parte, principalmente, da filosofia ocidental começando com a metafisica de Platão, Sócrates e Aristóteles. E a partir daí tira um parâmetro sobre a moral e a existência humana. Nietzsche diz que antes da metafisica surgir, portanto, no período pré-socrático e Homérico, era a verdadeira vivência. Quando começou a surgir a metafisica na Grécia, também surgiu um pensamento racional. Esse pensamento racional, diz Nietzsche, é uma negação da vida – o que ele chama de niilista – aquele que age racionalmente diante das questões da vida é um negador. Ele nega os desejos, as vontades, os instintos e diversas outras coisas naturais e, sobretudo, coisas afirmadoras da vida. Essa é a vontade de potência, uma vontade criadora e afirmadora da vida. Onde afirma todos seus instintos, e além disso, sempre busca o aumento de sua vontade. Desse modo, Nietzsche faz diversas criticas ao mundo moderno e à moral convencional. Em relação a moral, nós podemos ver como ela seria um motivo de decadência segundo a sua filosofia. Pois, justamente a moral é que nos para, ela que não nos deixa fazer o que queremos. Logo, ela não nos deixa agir institivamente, e portanto, é uma negação da vida. Em relação ao mundo moderno, Nietzsche exemplifica o surgimento da ciência moderna com seu pensamento racional. Uma das famosas frases dele: “Deus, está morto”, como muitos devem pensar, não diz que Deus não existe, pois para morrer ele precisa existir. Em vez disso, na verdade, ela diz que a ciência e o pensamento racional matou o pensamento religioso. Isso quer dizer: no mundo moderno não precisamos mais de Deus para curar as doenças, entre outras coisas... A ciência o substituiu. Para Nietzsche, tanto a religião cristã que prega valores morais, e portanto a negação da vida, tanto o pensamento racional moderno que prega a racionalidade, logo, a negação dos instintos são coisas decadentes. Diante disso, Nietzsche cria um novo homem: o Übermensch, que em português quer dizer: “além do homem”. Esse Übermensch é um novo homem, pois para Nietzsche o homem sempre evoluiu, e logo, ele deve ser algo a ser superado. Este homem irá matar a moral e conseguir viver a vida pelos instintos. A partir daí Nietzsche também defende a arte, como Schopenhauer, sendo ela uma forma de Vontade de Potência, vontade criadora, e consequentemente, devemos ver a vida como uma obra de arte. Exemplificado o pensamento de Nietzsche, Clarice Lispector também prega os mesmos valores nessa crônica. Onde o bobo seria o Übermensch, portanto, aquele que vê a vida como uma obra de arte. Já o esperto, seria um negador da vida – niilista. Além dessa visão de Nietzsche, também podemos exemplificar a visão do filósofo francês Jean-Paul Sartre. Esse filósofo existencialista, prega uma originalidade acerca da nossa existência. Assim dizendo a frase: “A existência precede a essência”. Isso mostra que primeiro precisamos existir, e depois criaremos um sentido para a existência. Portanto, não existe uma essência imutável ao ser humano. Um livro, por exemplo, é ao contrário: A essência precede a existência. Isto é: primeiros pensamos no sentido do livro, como iremos fazer, quais ideias iremos colocar, etc... E depois criaremos ele, passará a existir. Já no ser humano, isso não existe. Ninguém nasce jogador de futebol ou advogado, não existe uma essência anteriormente da existência estabelecida. Portanto, nós criamos nós mesmos. Nós fazemos da vida o que queremos dela, dado que nós somos livres, logo responsáveis por tudo que fazemos. E isso, segundo Sartre, nos leva à angustia. “Estamos condenados a ser livres.” Além disso, sempre que tentamos nos encontrar em caixinhas do sentido existencial, estamos entrando em uma massa anônima chamada: má-fé. Não estamos agindo com originalidade, não criamos uma essência, e sim pegamos a essência de algo anteriormente estabelecido. Relacionando com a crônica de Clarice, nós podemos perceber essa originalidade acerca da existência do bobo. Ou seja, o bobo cria sua essência. Já o esperto entra na massa anônima do mundo moderno, e se encaixa nessa essência anteriormente estabelecida. Age de má-fé. – Cauan Elias.