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» TEATRO GREGO: TBAGEOIA E COMEOIA Junito de Souza Brandáo
Capa João-Lauro
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FICXIÂ CATÂI.oGRÁFICÂ
C I P. Brasil. Catologdção-na loDte
Sínd,icato Nactonal dos Editores dE Lilros, B,J
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TEATRO GREGO:
TRAGÉDIA B COMÉDIA
2, Ediçáo
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Petrópolis
rst+, lltl 7.
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@ 1984, Editora Vozes Ltda.
Rua Frei LuÍs, 100
25600 Petrópolis, RJ
Brasil
Diagramaçáo
ValdecÍr Mello
SUMÁRIO
1. TRÂGÉDI.A, GR,EGA I
1.1 Tragédia grega: Dioniso ou Baco I
1.2 Métron e tragédia ll
1.3 Aristóteles define a tragédia ..... t2
1.4 Herói e desfecho 14
2. ÉSQUTLO l7
2.1 O teatro das catástrofes inevitáveis L7
2.2 Um guénos maldito 20
2.3 Duas leituras da Oréstia: a maldiçáo familiar na
THÉMIS (DIREITO ANTIGO) e na DÍKE (DIREITO
NOVO), e a teoria da ginecocracia, consoante Johann
Jakob Bachofen .... 22
3. SÓFOCI,ES 37
5. AR,ISTÓFANES 7L
5. I . Comédia Antiga . 7l
5.2. Aristófanes .... 76
5.3. As Rãs ... 78
5.3.1. Argumento .. 81
5.4. A tragédia é analisada no Hades 82
Juni.to Brand.ão.
7
1
TRÁGÉDIA GREGA
I
O segundo Dioniso, no entanto, não teve um nascimento
normal. Hera, ao saber dos amores de Zeus e Sêmele, resolveu
eliminá-la. Transf ormando-se na ama da princesa tebana, acon-
selhou-a a pedir ao amante que se apresentasse em toalo o seu
esplendor. O deus âdvertiu a Sêmele que semelhante pedido lhe
seria funesto, mas, como havia jurado pelo rio Estige jamais
contrariarlhe os desejos, apresentou-se-lhe com seus raios e
trovões. O patácio da princesa incendiou-se e esta morreu car-
bonizada. Sêmele se esqueceu de que um mortal somente pode
contemplar um deus com forma hierofânica e rráo epifÍlnica.
Na realidade, a princesa tebana não atentou para o rnana de
um deus! Zeus recolheu do ventre da amante o truto inacaba.do
de seus amores e colocou-o em sua coxa, até que se com.
pletasse_ a gestaçáo normal. Nascido o filho, Zeus
conÍiou_o
aos cuidados das NinÍas e dos SÍiriros do moíte Nisa. Lá, em
sombda gruta, cercada de frondosa vegetação, e em cujas pa-
redes se entrelaçavam galhos de viçosai viàes, donde pónaiâm
maduros cachos de uva, vivia feliz o filho áe Sêmelã. Certa
vez,. Dioniso colheu alguns desses cachos, espremeu_lhes as
frutinhas em ta4as de ouro e bebeu o suco errl compan]ria de
sua corte. Todos ficaram então conhecendo o novo néctar: o
vinho acabava de nascer. Bebendo-o repetidas vezes, Sátiros,
{inÍas_ e
D-ioniso. começaram a dançar ueitiguása*ente, ao som
dos cÍmbalos. Em-briagados ao detÍrio Uá[uico, todos caíram
por terra semidesfalecidos.
.
10
1.2. MÉTBON E TR,AGÉDIA
1t
EsquemaoEando:
MÉton (medlôa de cada um)
ATOB
+
nómosls (clúm6 dlvlno, castlgo pelg lnjustlç8 PrâtlcÊda)
I
áts (ceguelra dâ razão)
J
Molra (destlno cogo: puntção)
t2
inconsciente. Reproduz táo-somente reproduções exi§tentes, por-
quanto a matriz original, criaçáo divina e perfeita, bela e boa,
Íonte e razáo dos exemplares existentes neste mundo, encontra-
se na regiáo do eiilos, no mundo das idéias. DaÍ concluir Platáo
que a arte (a tragédia. . . ), sendo mimese, imitação, é técnica
imperfeita. A arte, alimentando-se da imitaçáo, vive nos domí'
nios da aparência e afasta os espíritos do alethés, da verdade,
sendo, por isso, intrinsecamente imoral.
Aristóteles separa argutamente a arte da moral com a
teoria da mimese e da catarse. A tragédia é a imitaçáo de real!
dades dolorosas, porquanto sua matéria'prima é o mito, em
sua forma bruta. Acontece, todâvia, que essa mesma tragédia
nos proporciona deleite, prazer, entusiasmo. Que tipo estranho
de prazer pode ser esse? Um deleite motivado por realidades
dolorosas? Mais: tais obras adquirem seu perfil pela história
de cenas dolorosas que tem um desfe
relatada
- umdascatálogo
cho, as mais vezes, trágico, infeliz. A tragédia é, náo raro,
a passagem da boa à má fortuna.
Ora, se o beto é equilÍbrio, ordem, simetria, proporção,
como se explicam esses assuntos dolorosos, essas paixões vio-
lentas, que andam múto longe dos tipos conhecidos de ordem
e proporção?
-paixões, A resposta náo é difícil com Árlstóteles. Todas
as todas as cenas dolorosas e mesmo o desfecho trá-
gicó são mimese, "imitação", apresentados por via do poético'
náo em sua natureza trágica e brutal: náo sáo reais, passam-se
num plano artificiat, mimético. Não são realidade, mas valores
pegados à realidade, pois arte é uma realidâde artificial'
Mimese que é, a arte não é moral, nem imoral, é arte
simplesmente...
Catarse, kdthnrsis, significa na linguagem médica grega, de
que se originou, purgaçáo, purificaçáo. Diz Aristóteles que a
tragédia, pela compaixão e terror, provoca uma catarse própria
a tais emoções, isto é, relativa exclusivamente ao terror e à
piedade e náo a todas as paixões que carregamos em nossa
alma. A matéria-prima da tragédla, como já se disse, é a mito-
logia. Todos os mitos sáo, em sua forma bruta, horríveis e,
por isso mesmo, atrágicos. O poeta terá, pois, de introduzir,
de aliviar essa matéria bruta com o terror e a piedade, para
torná-los esteticamente operantes. As paixões arrancadas assim
de sua natureza bruta alcançam pureza aúística, tornando'se,
na e:qrressão do Estagirita, uma alegria sem tristeza' Destarte,
os sentimentos em bruto da realidade passam por uma filtra'
l3
)
gem e a tragédia "purificada" vai provocar no espectador senfl-
mentos compatíveis com a razá"o. Assim poderá Aristóteles afir-
mar que a tragédia, suscitando terror e piedade, opera a purgação
própria a tais emoções, por meio de um equilíbrio que conÍere
aos sentimentos um estado de pureza desvlnculado do real vi-
vido.
74
em que se passa da felicidade à desdita eoét. 1453), mas tal
juízo náo o impediu de admitir o transe da infelicidade à Íeli-
cidade. (Poét. L45L a). O que é preciso é distinguir conllito
trógico lechado à desdita (Éd,ipo Rei, Antígona)
- da ventura
de situaçdo trdgi.ca da desventura à felicidâde (Alceste, Fà-
- Oréstia. . . ).
Ioctetes, Íon, Helena,
É que o trágico pode não estar no Íecho, mas no corBo
da tragédia. Chamâmos, por isso mesmo, tragédia. à peça cujo
conteúdo é trágico e náo necessariamente o fecho.
15