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Apontamentos-Cultura-Clássica revisados
Os poemas Homéricos
comete hybris (tudo aquilo que é excessivo). Na Odisseia, verifica-se uma evolução dos
deuses, onde estes apresentam uma posição mais distanciada dos homens, já não
aparecem diretamente, e são justiceiros. Segundo Kulmann, na Ilíada são as paixões dos
deuses que comandam o sofrimento dos homens, enquanto que na Odisseia esses
comportamentos são uma consequência do seu comportamento ético.
O Homem, nos poemas homéricos, aparece-nos sem uma clara noção de vontade e
livre-arbítrio, sendo assim um ser manipulável, especialmente pelos deuses. É um ser
precário, que não pode nada perante a divindade, mas que luta sem cedências pela glória
e excelência, que difere de poema para poema: tem espírito agónico. No caso particular
de Aquiles, é o herói máximo do poema. Fora preparado para praticar nobres feitos em
combate, mas também para conseguir impor-se à Assembleia, através da arte de
persuadir. O ideal da Ilíada não é apenas a coragem no combate, mas inclui já uma
componente intelectual. Na Odisseia, a aretê (conceito grego de excelência, ligado à
noção de cumprimento do propósito ou da função a que o indivíduo se destina) continua
a incluir a força, a coragem e a eloquência, mas o ideal amplia-se: passa a associar,
como é visível através do herói do poema, Ulisses, a astúcia e a habilidade em
desenvencilhar-se, em todos os momentos, das situações mais difíceis.
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A Ilíada e Odisseia, que se acredita que tenham sido escritas em meados do século
VIII a.C., remontam para acontecimentos passados em 1100 a.C., nomeadamente a
Guerra de Troia e o regresso da mesma. Apresentam semelhanças quer na linguagem
quer nos conceitos éticos, normas de convívio social e respeito pelos suplicantes e
hospedes.
Heitor e Páris, príncipes de Troia, vão numa expedição a Esparta e ficam alojados
no palácio de Menelau e Helena. Páris e Helena apaixonam-se e fogem para Troia (Páris
não respeita a Hospitalidade que lhe foi prestada por Menelau). Revoltados, juntam-se
os reis gregos, chefiados por Agamémnon (o rei mais rico), a fim de travar uma Guerra
com Troia. Acredita-se que a principal causa da guerra com Troia foi a sua posição
geoestratégica, que servia de barreira protetora à Grécia, pondo de parte a ideia de que a
guerra se iniciou por causa de uma mulher.
Na Ilíada vai estar presente, sendo este o tema principal, a história de duas
cóleras, ambas pertencentes a Aquiles. A primeira cólera de Aquiles é contra
Agamémnon, quando este lhe tenta tirar a sua escrava, Briseida. A segunda cólera de
Aquiles é contra Heitor, príncipe de Troia, quando este mata o seu companheiro de
guerra, Pátroclo.
Se por um lado a Ilíada conta a cólera, a Odisseia tem como tema principal o
Homem e a sua inteligência. Inicia-se com Telémaco, filho de Ulisses, onde este reúne
Assembleia para conseguir apoios para ir em busca de notícias do seu pai, e é nesta parte
do poema que se sabe o desfecho da Guerra de Troia, através do encontro entre
Telémaco e Menelau, na Lacedemónia. Conta-nos a história do regresso de Ulisses e dos
seus homens ao reino de Ítaca, e a forma como estes escapam, com inteligência e astúcia
(particularmente de Ulisses), aos obstáculos que lhes vão aparecendo no caminho.
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superlativação aos homens (aretê e timê). São também diferentes dos Homens na
imortalidade: são imortais (nascem e morrem), e não eternos (não têm início nem fim).
felicidade. “É melhor ser um escravo no mundo dos vivos, do que um rei no mundo dos
mortos” – Aquiles. Também nos poemas homéricos, o homem não apresenta uma
personalidade somática. As características emocionais e intelectuais são atribuídas a
órgãos e membros do corpo humano.
Páris, embora seja capaz de se bater em duelo com Menelau, é um tanto efeminado
e acolhe-se de preferência à proteção das paredes do seu quarto.
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Ájax, o guerreiro forte e persistente, mas que só vale pela força física; o próprio
escudo que trás, “alto como uma torre”, o singulariza como um homem de armas
primitivo. É o “baluarte dos Aqueus”, que caminha para a luta com um sorriso no rosto
aterrorizador.
Rei Príamo, digno e respeitado, é convocado como garantia dos juramentos que
precedem o combate entre Páris e Menelau. Sofre a dupla tragédia, como pai e como
chefe de Estado, de perder Heitor.
Helena, antiga rainha de esparta, que os anciãos de Troia admiram pela sua beleza
divina. Acusada como causa dos males que se vivem em Troia
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Já com Heródoto, este tem consciência de que a História, além de imparcial, deve
perpetuar o passado, exaltar os feitos gloriosos e encontrar as causas dos eventos.
História e literatura
Se não consegue colher informações, não recusa a tradição, mas nunca deixa de
lhe aplicar reflexão. Tenta sempre obter informação de pessoas fiáveis. Contrasta
versões de povos, sobre diferentes factos, para emitir sobre eles um julgamento. Com
Heródoto estamos ainda no plano da subjetividade, pois é o julgamento dele sobre
matérias que não são comprováveis, que vai fazer a sua obra. Heródoto reconhece essas
limitações, muitas vezes diz que não tem a certeza, ou que tem dúvidas. O narrador é
organizador, ou seja, gere a organização do texto. Faz analepses e prolepses para ir
buscar elementos que ocorrem noutras cidades ao mesmo tempo. Muitas vezes temos
Heródoto como um historiador omnisciente, em que consegue descrever as dúvidas, as
emoções, as preocupações dos intervenientes. O traço que nos dá a qualidade das fontes
é a avaliação que ele faz a essas fontes, duvidando às vezes delas. Ele conversa como
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avaliar essas fontes, por isso é que ele viajou muito, não usando apenas
a perspectiva grega. Ele utiliza métodos da vista e da audição, mas é a análise que
caracteriza a sua obra como historiografia. É no fundo é esta a inovação que Herótodo
vai trazer para a historiografia, a sua preocupação em avaliar a veracidade das suas
fontes, admitindo que o seu método te limitações.
O conceito de história em Heródoto não dizia respeito apenas ao passado, mas sim
à forma como se fazia esse estudo. Ele não vai relatar apenas tudo o que ouve, pelo
contrário vai investigar. O que implica ver, ouvir e julgar essas informações. É isto que
quer dizer história em Heródoto. Deste modo, Heródoto fica conhecido como o pai da
história. Ele quer descrever aquilo que qualquer historiador ambiciona: não só as
guerras, mas também as suas causas (aitia = causa). O discurso historiográfico começa a
formar-se. Pela primeira vez há um escritor que nos vai dizer que para fazer história é
necessário arranjar as causas de determinando acontecimento. Sem elas, não pode haver
corpo historiográfico. Vai nos dar a guerra dos persas, indo até às causas. Fala-nos da
política expansionista dos persas, da sua relação com outros povos, etc
Dario, pai de Xerxes, quer invadir a Grécia porque havia Cidades de Estado de
cultura grega que eram cidades clientes para os persas. Mas por um ímpeto nacionalista,
os atenienses convenceram as essas cidades a acabar com essa relação com os persas.
Atenas começa a fomentar revoltas nessas cidades. Dario organiza expedições políticas
para ver o que se passava. A guerra começa por um golpe político de Atenas, pois da
parte grega viu-se essa expedição de Dario um atentado à sua liberdade.
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O elemento de interpretação mais forte entre os gregos são os mitos. Para eles os
mitos eram explicativos. Dois séculos antes (de Heródoto) ainda permaneciam como a
explicação de factos reais. E é aí que Heródoto vai intervir seriamente, tornando-se no
primeiro autor a fazer a separação entre mito e história. Essa separação já estava latente,
e ele vai confirmá-la.
Heródoto recolheu várias fontes. A fonte mais importante para a invasão persa é a
obra Os persas, de Ésquilo. Ésquilo era considerado uma fonte privilegiada pois ele
combateu na Batalha de Salamina e acabou por escrever sobre essa batalha.
Evidentemente, Heródoto vai lê-o e vai transpô-lo.
As guerras medo-persas
Do outro lado do Mar Egeu, o Império Persa começa a avançar pela Turquia,
conquistando a Babilónia e a Líbia, e pondo em causa a estabilidade das colónias
gregas, que, a partir de meados 499 a.C. pedem ajuda às metrópoles e a outras cidades-
estado (primeira fase do conflito medo-persa). Em 494 a.C., Mileto resolve revoltar-se,
com o auxílio ateniense, contra o domínio persa.
Dario, rei da Pérsia, em jeito de punição, envia o seu exército para a Grécia
continental, iniciando-se assim as Guerras Medo-Persas, com a tomada de Bizâncio, em
492 a.C., cortando a comunicação dos gregos para o Mar Egeu. Ainda nesse ano, o
exército persa segue para norte do território grego, Trácia e Macedónia, sem grande
oposição, pois Atenas e Esparta não se conseguiam entender.
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O exército persa, agora com o rei Xerxes, avança para a Grécia central. Forma-se
uma aliança entre as cidades-estado, comandada pelo rei espartano Leónidas e 7 000
soldados gregos. Em 480 a.C., é escolhido o desfiladeiro das Termópilas como campo
de batalha, devido à sua vantagem geográfica. Os gregos ganham batalhas atrás de
batalhas, vencendo até os “imortais”. Efialtes desertou para o lado persa e informou da
passagem alternativa no desfiladeiro, o que leva à derrota dos gregos. Leónidas dispensa
os restantes soldados gregos, e luta apenas com os seus 300 espartanos para retardar o
avanço persa, contudo não saem bem-sucedidos e o exército persa avança, conquistando
cada vez mais território. Atenas é completamente destruída.
Ele vai falar do carácter grego através de discursos (inventados) para expressar
valores. Um dos discursos mais importantes é na Pérsia, questionando qual é o melhor
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Os Persas, de Ésquilo
Ésquilo conta-nos a história a partir do lado dos vencidos, e vai pegar na corte
persa, a seguir à derrota de Salamina, funcionando como um contrapeso da vitória da
Grécia. Quanto maior a derrota do inimigo, maior a vitória do outro.
Ele não entende a derrota como um resultado de embate de tropas. Zeus castigou
Xerxes porque este cometeu Hybris (excesso). A cultura grega orienta-se pelo valor
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contrário, medem agan (nada em excesso), o Homem deve ser médio, deve pautar-se
por seguir uma linha direita sem excessos. Os seus excessos são o grande exército. Mas
principalmente porque Xerxes para invadir a Grécia faz uma ponte no Helesporto, unir
dois continente que os deuses fizeram separados é uma sacralização absoluta, ele quer
fazer revogar a vontade dos deuses (e isso é Hybris. Um Homem que quer ser senhor de
todo o mundo conhecido comete Hybris. Depois foi a destruição de templos. Estamos
perante a percepção religiosa e tradicional e não histórica.
Para os Persas a guerra não foi nada de especial e arrasaram a Grécia. Outra
diferença tem a ver com a caracterização do próprio Xerxes. Em Ésquilo ele é um
homem que atua por impulso e entra numa empresa em que só podia sair derrotado. Em
Heródoto, ele é jovem e inexperiente, ele não quer invadir a Grécia mas
maus conselheiros levam-no a fazer isso. Ele tem sonhos que o alertam, mas porque os
seus conselheiros-mor querem invadir a Grécia por causas pessoais, ele é obrigado a
invadir. Outra diferença é a caracterização que Ésquilo e Heródoto fazem do pai de
Xerxes. Ele chama ao filho insensato e uma loucura à invasão da Grécia e dá concelhos
à mulher. Na historiografia Dário não era tão sensato assim, tendo invadido a Grécia
primeiro. Mas Ésquilo torna-o numa figura trágica, para ter algo com que contrastar
com Xerxes, vendo-o como um velho sábio.
Dario aparece na peça, o seu fantasma, a retaliar Xerxes, a dizer que tudo o que ele
fez foi a desgraça da Pérsia.
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A Grécia não tem um grande exército, contudo tem um exército que é capaz de
oferecer resistência.
Para a Pérsia, o facto de não haver chefe, era uma anarquia. Não haviam ninguém
para seguir, era o caos. Depois disto, a peça evolui rapidamente. Aparece um
mensageiro que nos vai contar a batalha de Salamina. Os persas perdem a batalha de
Salamina e os que se conseguem salvar vão refugiar-se na ilha de Psitália. Os gregos
estavam lá à espera deles e massacraram a juventude persa.
Xerxes é descrito como um rei jovem, inexperiente, que age sem as qualidades de
um rei (na visão dos gregos): eubolia - sensatez. E Dario vem novamente falar no
elemento divino. Onde os deuses o castigam pela sua falta de sensatez.
Os persas não tinham interesse nenhum da Grécia. Mais do que uma expedição
expansionista foi uma expedição punitiva. A Grécia era um país extremamente pobre, os
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Muito do que Ésquilo conta é história, mas foge à história quando envolve os
deuses. A retirada persa não foi imediata. Passado um ano ainda houve batalhas: Plateias
e Micales. Xerxes não retirou sozinho, levou milhares de homens com ele, a pedido dos
seus conselheiros.
Duas das omissões que Ésquilo faz é não mencionar que quem iniciou a batalha
com a jónia foram os gregos, e quando arrasaram a cidade de sardes, principalmente os
templos (ou seja, os gregos também foram excessivos). Omite também o facto de ter
sido Dario a iniciar as campanhas de expansão para a Grécia, apresentando-o como um
rei sensato.
No mundo grego houve sempre uma oposição entre Esparta (caracterizada pela
monarquia, combate terrestre e força física) e Atenas (descrita pela força naval,
democracia e força psicológica). Duas potências que funcionavam como satélites, tendo
relações privilegiadas com outras cidades.
Atenas reforça-se antes das guerras Medo-Persas, construindo uma frota poderosa
e formando a Liga de Delos, que tinha como principal objetivo precaverem-se contra
possíveis investidas persas, estando a hegemonia ateniense associada ao seu
desempenho aquando das guerras Medo-Persas. Esta agrupava cidades, em grande parte,
de origem iónica e com regimes democráticos. Do lado espartano, havia já a Liga do
Peloponeso, que englobava predominantemente estados dóricos e com regimes
oligárquicos. As guerras Medo-Persas levam o prestígio e o sentimento autocrático a
Atenas, achando-se a primeira potência e Esparta sente-se ameaçada.
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Em 445 a.C. fazem uma trégua de trinta anos, em que se comprometem a respeitar
e a não intervir no campo hegemónico de cada uma. Caso haja algum problema escolhe
um árbitro neutro para resolver o conflito pela via diplomática.
A partir de 440 a.C. inicia-se a guerra com os aliados, com o massacre de Samos
pelos atenienses. Esta situação repete-se várias vezes e com grande escravatura. As
cidades da Liga são completamente dominadas por Atenas.
A paz não dura mais de dez anos, devido a uma aliança comercial de Atenas com
Córcira (feitoria espartana) e começa realmente a Guerra do Peloponeso, que se pode
dividir em três fases:
-A primeira é de 431 a.C. a 421 a.C., em que há vários ataques, até que Esparta
invade Atenas em 431 a.C. Em Atenas, Péricles está no poder e vai delinear uma
estratégia defensiva, protegendo a população dentro das muralhas, porém são atacados
por uma peste, na qual morre o próprio Péricles. Criam-se duas fações em Atenas: em
volta de Nícias, que queriam uma abordagem defensiva, e Cléon, que queria um ataque
destruídos. Sobe ao poder Cléon. As batalhas seguintes não geram vencedores nem
vencidos, e Cléon assina uma trégua, de cinquenta anos, com Esparta.
-A segunda é de 415 a.C. a 413 a.C., quando a guerra recomeça. Atenas prepara a
invasão da Sicília, a sua frota é derrotada e o General Alcibíades é exilado. Começa
outra luta entre várias fações: os oligarcas (Sócrates e os seus discípulos), que não
querem a guerra por saberem o que vem com ela, e os democratas. A oligarquia ganha,
mas é retirada de cena pelos democratas, reiniciando-se de novo a guerra.
-A terceira é de 412 a.C. a 404 a.C., em que Alcibíades regressa a Atenas e ganha
uma série de batalhas. Esparta pede ajuda à Pérsia e é com o seu ouro que vão
reconstruir o exército e ganhar a guerra. Atenas rende-se em 404 a.C. e estabelece-se a
paz.
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É a ultima guerra que a Grécia vai travar, porque depois do seu fim, vai estar tão
enfraquecida que não vai conseguir fazer frente à potência da macedónia, com Filipe II.
Tucídides é o pai da história pragmática – a história que visa alertar para os erros
do passado para que eles não se voltem a repetir no futuro. É algo que ainda está muito
presente na nossa noção de história. Vai escrever para demonstrar os horrores da guerra,
para que os seus leitores percebam e evitem repetir os mesmos erros. A sua obra não é
uma ata dos acontecimentos. Tem um forte poder de persuasão, para que as gerações
futuras não cometam os mesmos erros.
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obra, o diálogo de Mélios, os habitantes da ilha de melos, que tentam ficar numa posição
neutral na guerra. Atenas não acha graça, invade a ilha e mata todos os homens e
escraviza todas as crianças. Estabelece que as normas e os comportamentos que as
cidades têm quando enfrentam um estado neutral. Isto é condenável, é um erro. Na
mesma forma, a um nível mais básico, ele diz que é impressionante como pessoas que
foram vizinhos e amigos a vida toda, quando estão em conflito denunciam esse mesmo
vizinho. E ao longo da obra são milhares os exemplos que ele dá. Toca também um
pouco na psicologia humana, uma espécie de análise comportamental.
Ele vai operacionalizar tudo isto por meio de dois tipos de técnica narrativa: erga
– descrição de factos e logoi – discurso. É através da conjugação dos dois, que se chega
à verdade, pois ele transcreve os discursos que são feitos, por exemplo em assembleia.
Descreve todas a reuniões tidas em assembleia, ou então narra um facto e comprova-os
com o discurso. Apesar de ser ateniense, vai descrever a guerra, como sendo causada
pelos atenienses, apesar de todas as oportunidades dadas pelos espartanos, a sua
ambição e ganância levaram a melhor.
Estamos numa fase em que os níveis de alfabetização são grandes e é isto que
permite a divulgação da obra. O objetivo da historiografia de Tucídides é que se
mantenha para sempre, para a eternidade.
Temos um modelo novo e historiografia, que se define por uma constante busca
pela verdade, pelo uso dos mecanismos especulativos da retórica que combinam
narração e discurso, erga e logoi. Isto permite-lhe ir além das causas aparentes da
guerra, distinguir as causas aparentes das reais. Aliado a isto, o seu entendimento do
comportamento humano leva-o a escrever uma história pragmática, mas que
simultaneamente capta aquilo que o historiador chama o devir histórico – o processo
histórico, a mudança dos acontecimentos.
1. Afastamento do mito
2. Busca da alternativa – rejeição da akoe (audição)
3. História contemporânea (conta a história que está a viver)
4. Intencionalidade pragmática
5. Erga + Logoi
6. “Legado para sempre”
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A Sicília era governada por tirania, aquele que Platão considerava o melhor
governo. Assim, vai tentar ensinar a sua teoria, preparando filosoficamente o tirano da
Sicília. É expulso da cidade e acaba num barco, vendido como escravo e posteriormente
resgatado. Depois disto, Platão vai fundar a academia: a maior escola filosófica, do
momento, na Antiguidade. A criação de uma escola fez com que os filósofos se
separassem, pela primeira vez, da cidade.
Vinte anos depois, Platão volta à Sicília, agora com outro tirano no poder,
Dionísio, o jovem. O filósofo, já com mais de sessenta anos, fez-se ao mar. Achava que
era uma boa altura para pôr a sua filosofia em prática. Ficou algum tempo na Sicília,
mas acabou por sair sem pôr as suas ideias em prática. Passado algum tempo, Díon, vai
tomar o poder da cidade mais importante da Sicília. Logo a seguir é morto e a sua corte
pede apoio a Platão, sobre o que fazer a seguir.
Platão, adepto da tirania, escreve uma carta onde diz que as cidades devem
abandonar a tirania e que o único modelo que garante a justiça são as leis, contradizendo
a sua teoria, que se alterou pela sua experiência de vida. Assim, passamos da teoria onde
o filósofo deve ser o único a governar (tirania), para uma perspetiva de que as leis são as
únicas pelas quais todos se devem reger.
Ideologia geral:
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A República
Nesta sua obra, Platão vai discutir os mais variados regimes políticos, tentando
chegar à melhor forma de governo.
A respeito da tirania, diz que é a mais bela forma de governo, porque é a única
que pode transformar-se facilmente numa sofocracia (governo dos sábios), sem o
problema da hereditariedade.
Por fim, da democracia, afirma que é o governo da multidão, do povo, o que ele
reprova completamente. É aquele regime que é mais criticado, por questões filosóficas e
sociológicas. Foi o povo que aprovou a execução de Sócrates, no seu julgamento.
Critica também o facto de só os ricos chegarem ao poder, tornando-se cada vez mais
ricos, espoliando os mais pobres, até ao dia em que estes se revoltam e começam a
stazis – o conflito entre cidades. Ele afirma que a democracia, tal como todos os
regimes, pode escolher constituições múltiplas. Mas normalmente todas estas
constituições são fracas, porque tendem a resvalar para a liberdade sem lei e autoridade
reconhecida.
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As leis
Platão vai propor um modelo de sociedade um pouco distinto. Ele acaba com os
grupos funcionais (legisladores, magistrados, guerreiros e camponeses) e vai propor um
modelo de sociedade organizada em quatro classes censitárias, ou seja, pelo património,
realçando que a pobreza e a riqueza não podia exceder determinados limites. Era uma
forma de equilibrar estas classes. Temos na mesma uma cidade de tipo comunitário,
igualmente regida para o bem, mas já como uma organização politica e económica
flexibilizada. É por isso que Platão, n’As Leis, repugna a sociedade aristocrática.
Aristóteles é o grande nome que vai emergir do quadro dos discípulos de Platão.
Era macedónio e foi enviado para Atenas para estudar na academia de Platão e vai ser
uma personagem fundamental no movimento de aproximação da Macedónia à Grécia.
Vai para Atenas com apenas 17 anos e, quando Filipe II da Macedónia toma Olinto, que
tinha o apoio de Atenas, regressa para a Macedónia, pois sempre se suspeitou que ele
era um espião.
seguindo mais ou menos a sua opinião, defendendo que cada cidade deve ser livre de
escolher o regime que mais lhe convier, afirmando que a mesma constituição não
interessa a todas as cidades. Em algumas cidades é melhor a democracia, noutras a
tirania. Afirma também que a mesma constituição não se deve manter durante muito
tempo, deve ser adaptada ao tempo em que se vive. Defendia também a politeia (mistura
entre democracia e oligarquia) como o meio justo entre as duas perversões opostas. Por
um lado, temos o poder de muitos, a democracia, quando há muitas vozes pode
escolher-se melhor, e o poder de poucos, a oligarquia, que, funcionando como árbitros,
podem controlar melhor a situação.
A ideologia do pan-helenismo
É neste quadro que vai surgir uma corrente ideológica, a que podemos chamar de
Panhelenismo, uma corrente ideológica, que visa a união da Grécia.
A Grécia continuava destruída e ainda havia o preconceito contra aqueles que não
nasceram gregos, nomeadamente os macedónios. A Pérsia continuava um grande
império, e este vai ser o inimigo em comum entre a Grécia e a Macedónia. Na
impossibilidade de se arranjar um Hégemon grego, devido ao esgotamento que existia
nas cidades, começou a ver-se Filipe da Macedónia como um possível candidato ao
cargo. Assim, formam-se duas fações em defesa do pan-helenismo:
Demóstenes – que passa a ver Filipe como o maior inimigo da Grécia. Deixa de
ser a Pérsia e passa a ser Filipe o principal alvo a combater. Demóstenes pretendia uma
união da Grécia contra a Macedónia. Era anti-Macedónia.
Como Demóstenes vence, Filipe toma a Grécia, mas toma-a como um plano. Não
a toma apenas pela conquista, mas com o intuito de se tornar um Hégemon porque
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precisa de tropas para invadir a Ásia. Filipe morre em 336 a.C. e a sua expansão
continua nas mãos de Alexandre.
Alexandre, ao contrário do que se pensa, não foi apenas um general. Foi também
um político extremamente importante. Vai ser o chefe que mais partido vai tirar desta
ideologia. Vai formar-se como chefe da Grécia, e começa por fazer um conjunto de
ações que, de certa forma, o iam legitimar como Hégemon. Primeiro escreveu à Grécia a
dizer que todas as cidades subjugadas, ou seja, que estavam sob uma tirania, eram livres
de se regerem por si próprias. Eram livres de escolher a sua constituição. Depois
reconstitui a cidade de Plateia, que estava completamente destruída. Devolveu os
despojos, os saques, retirados das cidades, a arte, as peças de ouro.
Alexandre tem como ideologia helenizar o mundo, mas à medida que foi fazendo
essas conquistas, optou por umas ideologias mais conciliatórias, a Grécia partilhava da
visão de que os gregos eram superiores aos bárbaros. Vai tentar uma fusão de culturas: a
cultura grega com as culturas orientais.
Ensinou grego aos nativos bem como as táticas militares gregas, ou seja,
instituiu um sistema central de educação destinado a instruir promissores
quadros orientais quer na língua, quer na arte militar dos vencedores.
A Cultura Helenística
A Grécia não era mais o centro cultural do mundo. Os principais centros da cultura
helenística foram Alexandria, no Egito, Antioquia, na Turquia, e Pérgamo, na Ásia
Menor.
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Menor, que juntavam elementos gregos com orientais, por exemplo na Ásia havia
colunas com Buda representado. O império helenístico teve necessidade de novas
tipologias (ginásios, teatros, grandes palácios e altares monumentais) que respondessem
à vontade de monumentalidade e às novas funções exigidas pela vida cultural e política
do Império. O gosto helenístico pelo conhecimento ditou a constituição de enormes
bibliotecas.
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