Você está na página 1de 13

DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL DE

POSTES METÁLICOS DE ILUMINAÇÃO

R. Carneiro de Barros1, J. Mota Freitas2, J. Campos e Matos3 e A. Costa Lopes4

RESUMO

Este trabalho realiza uma síntese de procedimentos utilizados pelos autores no


dimensionamento estrutural de postes metálicos de grandes dimensões, utilizados na
iluminação de grandes recintos desportivos. O dimensionamento é realizado para as acções do
peso próprio e do vento sobre os postes, sendo dada uma ênfase muito especial sobre a
verificação da segurança à encurvadura nomeadamente pelo EC3. Como exemplo
emblemático de projecto, aplicou-se a presente metodologia aos postes de iluminação do
Estádio da Maia, no distrito do Porto.

1. INTRODUÇÃO

Os mastros metálicos em aço, habitualmente de inércia variável, têm sido utilizados


frequentemente como estrutura de suporte de torres e antenas de telecomunicação
(assegurando infraestruturas necessárias na actual sociedade da comunicação e informação)
para além duma utilização mais clássica como torres de iluminação em instalações
desportivas. Estas utilizações alcançam frequentemente alturas de 30 ou mais metros. Em
mastros muito flexíveis, é necessário estudar o comportamento dinâmico (incluindo
amortecimento) no modo fundamental devido à acção do vento, e também é muito importante
avaliar as contribuições de segunda ordem devido ao designado efeito P-∆ associado ao
comportamento e análise de situações de instabilidade estrutural (Barros1,2).
O domínio de aplicação deste estudo são os mastros metálicos de iluminação que
suportam projectores de luz, de secção fechada, circular ou poligonal, em que o raio dessa
secção varia linearmente com a altura. São encastrados na base, num maciço de betão, por
meio duma placa anelar de diâmetro médio igual ao da secção da base do mastro, fixada por

1
Prof. Associado Agregado, FEUP – Faculdade Engª Univ Porto, Deptº de Engenharia Civil – G 305, Porto.
2
Prof. Associado Convidado, FEUP – Faculdade Engª Univ Porto, Deptº de Engenharia Civil, Porto.
3
Aluno de Doutoramento, FEUP – Faculdade Engª Univ Porto, Deptº de Engenharia Civil, Porto.
4
Engº Civil (UP), CODIO, Porto.
chumbadouros distribuídos uniformemente ao longo do seu perímetro. As acções
consideradas de dimensionamento foram o peso próprio e o vento, tendo-se admitido que o
sismo e a neve são acções desprezáveis quando comparadas com as solicitações referidas.
Como aplicação efectiva deste artigo, realiza-se a verificação do dimensionamento dos postes
de iluminação do Estádio da Maia (da responsabilidade do segundo autor) com 48 metros de
altura (Fig. 1), os quais tinham sido considerados como aproximadamente cónicos. A
verificação através dos critérios de cálculo do EC3 é realizada através da utilização da secção
transversal real dos postes (poligonal) e adoptando princípios, metodologia e programa de
cálculo automático desenvolvidos e publicados internacionalmente pelo primeiro autor1,2.

Fig. 1 – Aspectos dos postes de iluminação do Estádio da Maia

2. PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Segundo Veitch3, apresentam-se algumas regras práticas para proceder ao pré-


dimensionamento dos mastros: O diâmetro mínimo no topo do mastro é de 150mm de modo a
permitir a fixação dos projectores; na base deverá ser adoptado um diâmetro não superior a
1m; a inclinação das paredes do mastro (taper), deverá situar-se num intervalo entre 0.012 e
0.020; a espessura mínima da secção transversal dos mastros, controlada por fenómenos de
encurvadura local, é de 3 mm (espessuras superiores a 12mm deverão ser evitadas).
Para realizar um dimensionamento racional deste tipo de estruturas é necessário
identificar e quantificar as acções a que se encontram sujeitas.

3. DIMENSIONAMENTO DO MASTRO

O dimensionamento do mastro baseia-se na verificação da seguinte desigualdade:


R
γ f ⋅S ≤ (1)
γm
A primeira parcela desta inequação corresponde às solicitações de cálculo (esforços
actuantes) enquanto que a segunda corresponde à resistência de cálculo (esforços resistentes).

3.1 Frequência própria e amortecimento estrutural

O cálculo da frequência própria da estrutura foi efectuado segundo o método de


Rayleigh utilizando a expressão do RSA, igualando a máxima energia de deformação à
máxima energia cinética.
Utilizando um programa de cálculo automático, calcularam-se os deslocamentos para
cada uma das 15 secções de subdivisão do poste de 48 m de altura (Tabela 1). Com os
somatórios das 2 últimas colunas, e pela expressão do método de Rayleigh, obtém-se:

1 3030, 02
f = 9,81× = 0, 792 Hz
2π 1200,80

1 1
T= = = 1, 263 s
f 0, 792

O valor obtido para a frequência, será utilizado na determinação da acção do vento.

Tabela 1 – Determinação da frequência própria


Secção F ( Kgf ) d (cm) Fi*di Fí*di2
1 944 0 0,000 0,000
2 1835 -0,4334 7,953 0,034
3 1730 -1,7236 29,812 0,514
4 1624 -3,8544 62,606 2,413
5 1519 -6,8079 103,408 7,040
6 1178 -10,5653 124,460 13,150
7 1090 -15,1736 165,427 25,101
8 1002 -20,6401 206,906 42,706
9 915 -26,8757 245,823 66,067
10 827 -33,7743 279,275 94,323
11 921 -41,208 379,471 156,372
12 787 -47,0073 370,120 173,983
13 750 -53,1624 398,753 211,987
14 713 -59,6939 425,478 253,984
15 347 -66,4242 230,530 153,128
∑ 3030,021 1200,802

O amortecimento do modo fundamental pode ser determinado a partir do decremento


logarítmico δ da vibração livre amortecida. Valores típicos do factor de amortecimento crítico
viscoso ξ (≈ δ / 2π) variam de 0.8% a 2.4%, isto é valores do intervalo [0.008; 0.024], sendo
os valores mais baixos (1% a 1.5%) adequados para respostas dos mastros na direcção do
vento e os valores mais altos (2% a 2.4%) adequados para respostas dos mastros na direcção
transversal à direcção de propagação do vento (Barros1,2).

3.2 Esforços Actuantes; Acção do peso próprio

O esquema estrutural adoptado para o mastro é o de uma consola encastrada na secção


inferior. A estrutura está essencialmente sujeita a uma combinação de duas acções. Estas são
o peso próprio e a acção variável vento. O peso próprio, gera apenas esforços axiais enquanto
que o vento gera esforços de corte e flexão. A estrutura fica, então, sujeita à flexão composta
e a esforço de corte. Foram elaboradas duas folhas de cálculo, em Excel, onde se efectuou
uma análise à flexão composta. Uma primeira análise foi realizada segundo o método
tradicional à custa do coeficiente de amplificação ou agravamento dos momentos flectores
(Freitas4)
1
P (2)
1−
Pcr
para o qual as tensões actuantes são calculadas pela expressão
N M 1
σ = + ⋅ (3)
A W P
1−
Pcr
Mas em mastros metálicos é muito importante o designado efeito de 2ª ordem (P-∆).
Perante as acções horizontais a estrutura deforma-se lateralmente, as acções verticais ficam
desalinhadas com a base encastrada o que origina momentos de 2ª ordem que irão agravar os
momentos devidos às acções horizontais. Assim, realizou-se uma segunda análise segundo o
EC3 à custa da metodologia já aplicada por Barros1,2 para uma análise à encurvadura. Para a
quantificação da acção peso próprio considerou-se, por simplificação, uma divisão por troços
da estrutura do mastro de 48 m de altura. O peso volúmico considerado foi de 78,5 kN/m3.
Uma parcela importante do peso próprio é relativa ao peso dos projectores. Admitiu-se uma
solicitação de 2 kN/m de altura do mastro para esta parcela.

3.3 Acção do vento

Em estruturas de grande altura, muito expostas ao vento, a quantificação correcta desta


acção é muito importante para o cálculo estrutural. No caso de mastros metálicos esta
quantificação é essencial! Os níveis de tensão introduzidos nas secções pela acção do vento
são muito superiores aos introduzidos pelo peso próprio.
A utilização de métodos racionais da bibliografia para caracterizar de um modo
prático as forças generalizadas do vento sobre os mastros, permite classificar as respostas
possíveis dos mastros como quasi-estática e como dinâmica. Em qualquer delas, as forças e os
deslocamentos generalizados associados dependem primordialmente do modo e frequência
fundamental, e do respectivo amortecimento. O comportamento quasi-estático dos mastros
ocorre segundo a direcção de propagação do vento, e é devido à sobreposição de uma pressão
(do vento) estática ou permanente com uma pressão de rajada não-permanente. O
comportamento puramente dinâmico dos mastros ocorre na direcção transversal à direccção
de propagação do vento, e é devido ao fenómeno aerodinâmico de partilha de vórtices (vortex
shedding) à velocidade de vento crítica (Barros1,2).
Considere-se a pressão devida ao vento Pi(t) em qualquer ponto ou nó i do mastro
metálico, determinada pela formulação de Vickery and Kao5, e expressa por:
1 dVi (t )
Pi (t ) = ρ (c d ) i Vi 2 (t ) + ρ (c m ) i ei (4)
2 dt
em que ρ é a massa específica volúmica do ar, Vi(t) é a velocidade horizontal do vento no nó i
no instante t, ei é a espessura do mastro no nó i , e (cd)i , (cm)i são respectivamente os
coeficiente de resistência (ou, drag) e coeficiente de massa adicional, no referido nó i.
Nas situações de vento habituais (excepto por exemplo no caso de tornados) o segundo
termo é desprezável face ao primeiro, e a pressão instantânea Pi(t) em cada nó i é expressa em
termos do valor médio de pressãoPi e de flutuações temporais de pressão pi(t) por:
1
2
1
2
[ 2 1
2
] 2
[ ]
Pi (t ) = Pi + pi (t ) ≅ ρ (c d ) i Vi (t ) = ρ (c d ) i Vi + vi (t ) ≈ ρ (c d ) i Vi + 2Vi vi (t )
2
(5)
Nesta expressão,Vi e vi(t) são respectivamente a velocidade média do vento e a flutuação da
velocidade do vento relativamente ao seu valor médio; o termo [vi(t)]2 foi desprezado face à
grandeza dos restantes elementos presentes na equação. Identificando os termos
correspondentes, obtém-se (Barros1,2):
1
→ Pi = ρ (c d ) i Vi
2
Pressão média (permanente ou estática)
2
(6)
1 Pi
Flutuação de pressão (instantânea ou dinâmica) → p i (t ) = ρ (c d ) i 2 Vi vi (t ) = 2 vi (t )
2 Vi
Mais uma vez estas expressões evidenciam que as pressões devidas ao vento, e as
correspondentes respostas das estruturas dos mastros, são uma sobreposição de parcelas
permanentes ou estáticas (associadas, por exemplo, a médias temporais horárias da velocidade
do vento) com parcelas de flutuações instantâneas ou dinâmicas (associadas a flutuações da
velocidade do vento).
A análise ao vento de postes altos de iluminação deve ser realizada segundo duas
direcções: na direcção paralela e na direcção transversal à direcção em que o vento actua.
Na análise da resposta do mastro segundo a direcção do vento separa-se a acção e a
resposta em duas componentes: componente permanente uma dependente da velocidade
média do vento (pressão médias estática) e outra componente não-permanente que considera
os efeitos dinâmicos das flutuações de pressão (pressão dinâmica). Alternativamente a nível
de projecto, e por intermédio do factor de amplificação designado coeficiente de rajada cr,
pode-se sobrepor a resposta permanente correspondente à pressão média com uma resposta
quasi-estática correspondente às flutuações de pressão dinâmicas (Barros1,2). Isto é:
p dinâmica = p estática c r (7)
Este factor de amplificação (coeficiente de rajada cr) é portanto um multiplicador das pressões
médias devidas ao vento, considerado frequentemente igual a 1.7 para estruturas de períodos
fundamentais de 2 a 6 segundos (e igual a 1, isto é não-activo, quando T1<2 seg.).
O Regulamento Português RSA analisa essencialmente a componente de pressão
estática, através da expressão:
p estática = w = 0.613 v 2 (8)
sendo v a velocidade de rajada do vento (m/s). Quanto ao coeficiente de rajada cr, pode ser
determinado por um conjunto variado de normas internacionais similares: recomendações de
projecto da APLE6, Régles NV68, entre outros. De acordo com as APLE6 , cr ≈ βδ em que β
é um factor de resposta (dependente do amortecimento no modo fundamental) e δ é um factor
de redução (dependente da altura H), representado na Fig. 2.
2.3 1 1 Decremento logarítmico = 0.05
2.2 2 Decremento logarítmico = 0.1
1.0
2.1 2 3 Decremento logarítmico = 0.2
2.0
0.9
1.9
Factor de resposta β

1.8
1.7 0.8
Factor de redução δ

3
1.6
1.5 0.7
1.4
1.3
0.6
1.2
H < 3 : δ = 1.0
1.1
H > 3 < 50 : δ = 1.0 - 0.006 (H-3)
1.0 0.5
0.9
0.001

0.01

0.1

0.8
2 3 4 5 6 7 891 2 3 4 5 6 78 91 2 3 4 5 0 20 30 40 50
n0 (Hertz) Altura (m)
Parâmetro de amortecimento
v (m/sec)

Fig. 2 – Factor de resposta β e factor de redução δ


Segundo as Régles NV68 o coeficiente de rajada é calculado pela expressão
c r = θ (1 + ξ τ ) (9)
sendo θ o coeficiente global (função do tipo de construção), ξ o coeficiente de resposta
(função do período T, do tipo de estrutura e do tipo de material) e τ o coeficiente de pulsação
(função da altura H a que se encontra a secção).

A resposta dinâmica do mastro na direcção transversal deve-se a um fenómeno, que se


manifesta para uma determinada velocidade do vento (velocidade crítica), designado de
partilha de vórtices ou turbilhões de Von-Kárman (“vortex shedding”). Estes turbilhões irão
provocar a vibração da estrutura numa direcção perpendicular à direcção de propagação do
vento. Se a frequência da partilha de vórtices for próxima da frequência fundamental da
estrutura poderão ocorrer oscilações em ressonância que produzirão grandes vibrações,
originando deformações e tensões elevadas na estrutura. A velocidade crítica do vento para
vibrações transversais ressonantes, induzidas pela partilha de vórtices, é:
f1 D
Vcr = (10)
St
em que St é o nº de Strouhal, variando com o nº de Reynolds no regime de escoamentos
possíveis, e assumindo habitualmente valores de 0.16 a 0.23 .
É difícil dimensionar um mastro de modo a que resista às forças induzidas pelo
“vortex shedding”. Esta dificuldade tem como origem a quantificação das respectivas forças.
Como tal, um dos métodos utilizados, é o de dimensionar o mastro de modo a evitar que este
fenómeno ocorra. O dimensionamento contra o “vortex shedding” baseia-se na determinação
de dimensões para o mastro tal que a condição de ressonância só se verifique para velocidades
do vento muito baixas onde a energia do vento é tão baixa que as deformações e as tensões
induzidas na estrutura não serão muito elevadas. Anteriores práticas universais de
dimensionamento e projecto de mastros metálicos, bem como simulações numéricas com
factor de amortecimento crítico ξ=1.6%, permitem concluir que limitando a velocidade do
vento crítico (gerador da partilha de vórtices) a 20% da velocidade média do vento de
projecto, as tensões nas bases dos mastros não serão controladas pela referida partilha de
vórtices (Barros1,2). Segundo Veitch3, uma vez que a força devida ao vento é proporcional ao
quadrado da velocidade, velocidades críticas inferiores a 20% da velocidade do vento são
seguras: a energia induzida pela acção do vento é relativamente baixa e portanto o fenómeno
de “vortex shedding” deixa de ser crítico uma vez que as tensões introduzidas serão baixas.
Para além de oscilações transversais por partilha de vórtices, os mastros de secção
circular podem também vibrar flexionalmente no plano das secções causando a sua
ovalização. A experiência e observações indicam que a condição de ressonância ocorre,
aproximadamente, quando a frequência fundamental de ovalização das secções é o dobro da
frequência de partilha de vórtices, o que permite calcular a velocidade crítica do vento
induzindo ovalização fundamental (Barros1,2) por:
f D t E
f ov = 2 f cr = 2 f1 ⇒ Vov = ov ≈ 2.5 f ov D = 438.5 (11)
2 St D
A variação superficial das pressões devidas ao vento em mastros, chaminés ou torres
cilíndricas circulares (Fig. 3) produz momentos flectores circunferenciais, a qualquer nível ou
altura do mastro. Os seus valores máximos por unidade de altura do mastro (em N.m /m), nas
zonas de sobrepressão e de sucção, são expressos em termos da pressão q do vento à altura
considerada (Zar e Chu7) por:
M max = 0.0785 q D 2 (na zona de sobrepressão, com tracções no interior)
(12)
M max = 0.0680 q D 2 (na zona de sucção, com tracções no exterior)

Vento

Fig. 3 – Pressões devidas ao vento em torno de mastros de secção circular

O valor limite recomendado para D/t é da ordem de grandeza de 250. Para valores
superiores é necessário utilizar anéis circulares enrijecedores (exteriores ou interiores),
evitando a ovalização e resistindo aos carregamentos locais.

3.4 Cálculo de Pcr ; Análise do efeito de 2ª ordem (P-∆)

A determinação do carregamento crítico do poste ou mastro de inércia não uniforme


pode ser realizada por métodos aproximados conforme mencionado em Timoshenko e Gere8,
Reis e Camotim9, Barros10 nomeadamente por métodos energéticos (quocientes de Rayleigh e
de Timoshenko), métodos das diferenças finitas com extrapolação de Richardson, método
directo por integração de uma forma aproximada de deflexão, método de Veitch para colunas
de inércia variável, bem como por várias disposições regulamentares (AS-1250, EC3, etc). Os
métodos energéticos e de deformada aproximada conduzem a valores por excesso, enquanto o
método das diferenças finitas conduz a valores por defeito.
Pelo método directo a expressão que permite calcular Pcr é:
E ⋅ y (l )
Pcr = (13)
l y( x)

0
I ( x)
⋅ x ⋅ dx

sendo E o módulo de elasticidade do aço (geralmente adopta-se o valor de 210 GPa), y ( x ) é


uma expressão aproximada adoptada para a deformada da estrutura e I ( x ) é o momento de
inércia na secção x a partir da base. Adoptaram-se as seguintes 2 expressões para y(x):

 x   x 
3
 x  4  x   x 
3

y1 ( x ) = 3 ⋅   − 4⋅  y2 = 3, 2 ⋅   − 2⋅  +  (14)


 2⋅l   2⋅l    2 ⋅ l   2 ⋅ l   2 ⋅ l 
Alternativamente a nível de projecto poder-se-ão seguir directivas regulamentares de
inclusão de cargas axiais equivalentes, de acordo com Veitch3 e com as normas australianas
AS-1250. Nesta perspectiva, determina-se a carga crítica de Euler Pcrit de encurvadura do
mastro com factor de adelgaçamento n, através das expressões:
log ( I B / I T ) π 2 EI T
n= Pcrit = P * (15)
log( DB / DT ) 4H 2
sendo P * obtido do ábaco de Veitch3. Considerar uma carga concentrada equivalente aplicada
no topo do mastro P″ definida, a partir da carga real aplicada no topo do mastro Preal e do
peso próprio médio do mastro qpp por unidade de comprimento, por P′′ = Preal + 0.3 q pp H .
Com esta carga equivalente determinar o factor de amplificação para quantificação do
efeito P-∆, e usar as equações de interacção de mastros metálicos reformulando as normas
australianas AS-1250 (Barros1,2).
A aplicação das directivas do EC-3 a mastros e colunas de inércia variável realiza-se
através de um modelo de análise válido em regimes elástico e elasto-plástico, designado de
método de Mendera, admitindo: um adelgaçamento linear dos mastros ou colunas de secção
rectangular ou circular; a não-ocorrência de encurvadura lateral por flexo-torção; e,
contraventamento da secção extrema de menor inércia, evitando instabilidades locais.
Neste método a carga crítica de instabilidade, que condiciona a capacidade resistente
média de mastros reais de inércia variável com adelgaçamento linear, é calculada a partir dum
momento de inércia equivalente Ie e do factor de comprimento efectivo de encurvadura.
Alternativamente esse valor da carga crítica pode mais rigorosamente ser determinado
por uma série de simulações da degradação da rigidez da torre ou mastro ao deslocamento
lateral, em função do factor de carga. O quociente Fx / dx , entre uma força horizontal Fx
aplicada no topo do mastro e o deslocamento horizontal dx na extremidade, pode ser
interpretado como uma medida da rigidez transversal do mastro, para cada valor do
carregamento axial N. Barros1,2 desenvolveu um programa em Fortran – Mastbuck – que
permite calcular o valor desta carga crítica. A Tabela 2 sintetiza a simulação realizada para
os postes de iluminação do estádio da Maia, de cuja regressão linear é possível definir a
variação da rigidez lateral com o factor de carga λ , através de:
Fx
≈ a + bλ = 57,241 − 42,849 λ
dx
Por extrapolação da regressão linear, λcr = 57,241/42,849 = 1.33588 e portanto Ncr ≈ 1336 kN.

Tabela 2 - Simulações para determinar carga crítica (Mastbuck) e sua regressão linear (Excel)

Fx (kN) P (kN) dx (m) Fx/dx (kN/m) l


10 1000 0.7134 14,0182 1
10 1100 1.0111 9,8902 1,1 15
Determinação da carga crítica
10 1200 1.7494 5,7162 1,2 y = -42,849x + 57,241
10
10 1300 4.6971 2,1290 1,3 R2 = 0,9855
5
5 1300 3.1112 1,6071 1,3
Fx / dx

10 1350 7.4336 1,3452 1,35 0


0 0,5 1 1,5
10 1400 -3.5919 -2,7840 1,4 -5
Parâmetro de carga
5 1400 -1.5578 -3,2097 1,4 -10
5 1450 -0.8945 -5,5895 1,45
2 1450 -0.3561 -5,6161 1,45

Os resultados numéricos da carga crítica do poste segundo os 3 métodos anteriores


estão condensados na Tabela 3. De acordo com os valores obtidos para Pcr e para P, verifica-
se que o coeficiente de amplificação ou de agravamento dos momentos flectores (equação 2)
assume nesta estrutura real o valor aproximado de 1,1 .

Tabela 3 – Valores de Pcr obtidos para o poste em análise segundo diferentes métodos
Método Pcr (kN)
Método directo Pcr = 1965,1 kN
y1

(Cálculo por integração) Pcry2 = 1435,5 kN


Método de Veitch3 Pcr = 1661,0 kN
Simulações por Mastbuck (Barros1,2) Pcr = 1335,9 kN
A carga limite de projecto do mastro à encurvadura Nd – incluindo o efeito P-∆ de 2ª
ordem, o peso próprio e as características de inércia variável – deverá no entanto ser calculada
com uma fórmula de interacção entre o esforço axial Nd e os momentos flectores secundários
(Md)sec. Estes são induzidos pelo esforço axial Nd num padrão de imperfeições iniciais eod
amplificadas pelo esforço axial do mastro. A fórmula de interacção utilizada para calcular por
tentativas a carga limite Nd, para determinada secção do mastro para a qual x∈[0,H], é:
Nd M sec . ( x)
+ d ≤1 (16)
N Rc ( x) M R ( x)
em que NRc(x)=A(x)fy/γM1, MR(x)=W(x)fy/γM1, sendo W(x) o módulo de flexão da secção A(x),
e o momento flector secundário em secções à distância x da base, é:
eod
M dsec . ( x) = N d ed δ ( x) = N d δ ( x) (17)
Nd
1−
N cr
em que δ(x) é o 1º modo de instabilidade e eod é a amplitude das imperfeições iniciais.
O mesmo programa Mastbuck desenvolvido por Barros1,2 permite em complemento
calcular o encurtamento axial associado a deformadas em equilíbrio, determina o 1º modo
normalizado de instabilidade δ(x) e posteriormente determina a carga limite de projecto à
encurvadura Nd do mastro ou poste de grande altura, segundo as normativas do EC3 e
utilizando a anterior equação de interacção.

3.5 Esforços Resistentes

O cálculo dos esforços resistentes baseou-se nas expressões de Brozzetti11 segundo as


recomendações do CECM. De acordo com estes documentos verificou-se que o mastro
analisado se enquadra na categoria de secção espessa, para a qual a tensão resistente é:
  σe  
0,6

σ k = σ e ⋅ 1 − 0, 4123 ⋅    (18)
  α ⋅ σ cr  
em que σ cr é a tensão crítica de Euler de um cilindro com um comportamento elástico
perfeito solicitado axialmente por uma carga de compressão
E t
σ cr = ⋅ (19)
(
3 ⋅ 1 −ν 2 ) r

sendo t a espessura da secção transversal, E o módulo de elasticidade do aço (considera-se,


geralmente igual a 210 GPa), R o raio da secção, ν o coeficiente de Poisson (adopta-se
geralmente o valor de 0,30), σ e a tensão limite de elasticidade do material, α o coeficiente
de redução avaliado com base em resultados experimentais (este coeficiente tem em
consideração as solicitações a que está submetido o mastro).

3.6 Classificação da secção transversal segundo o EC3 (Enfunamento)

Numa placa perfeita solicitada axialmente, quando se restringem os deslocamentos dos


bordos a instabilidade dá-se por um fenómeno designado por enfunamento. A zona central da
placa deforma-se por flexão induzida pela compressão axial, sem incrementos de tensão na
secção central. A placa após enfunamento resiste ainda a incrementos de esforço axial,
mediante a mobilização de tensões nas zonas próximas dos bordos. A rotura dá-se quando
estas tensões atingem o valor de limite elástico (Fig.4).

Fig. 4 – Distribuição de tensões na rotura e distribuição bi-rectangular equivalente

Na prática, em vez de ser utilizada uma distribuição de tensões real, define-se uma
distribuição birectangular equivalente de largura efectiva bef. Segundo o EC3 sómente em
secções da classe 4 (secções em que é necessário ter em conta explícitamente os efeitos da
encurvadura local na determinação da sua resistência à flexão ou à compressão) o fenómeno
de enfunamento é significativo. Neste caso o regulamento consagra também a utilização de
larguras efectivas para atender às reduções de resistência provocadas pelo enfunamento. No
caso do mastro em análise ser da classe 4, a área e o módulo de flexão a considerar no cálculo
das tensões actuantes deverão ser os efectivos.

Fig. 5 – Área e módulo de flexão efectivos, em compressão e flexão simples

Segundo o EC3, a expressão para o cálculo da tensão actuante será:


N sd M sd
σ sd = + (20)
Aeff . Weff .

3.7 Dimensionamento da placa de fixação ao solo e dos chumbadouros

A fixação do mastro à fundação em betão é realizada por meio de uma placa de apoio
em aço. O diâmetro desta é sensivelmente idêntico ao da secção inferior do mastro. Esta
placa, colocada sobre a fundação em betão, é ancorada por intermédio de chumbadouros
distribuídos uniformemente pela placa. Os esforços actuantes N (esforço axial) e M (momento
flector) são os calculados para a secção inferior do mastro. Estes resultam da acção conjunta
do vento (M) e do peso próprio (N). Segundo este método, para calcular as tensões máximas
de tracção nos chumbadouros e de compressão no betão da fundação, assemelha-se a secção
de base a uma secção de betão armado onde as armaduras são os próprios chumbadouros (Fig.
6).
Como o número de chumbadouros utilizado é muito elevado (raramente inferior a 36)
simplifica-se o problema assemelhando a secção de base a uma vírola fictícia de espessura ea
n Ar
ea = sendo n o número de chumbadouros utilizado, Ar a área resistente do chumbadouro
2π R
( = 0,8 × Achumbadouro , considerando o efeito da redução de secção) e R o raio da secção.
Fig. 6 – Placa de fixação dos postes ao solo

Na determinação mais expedita da posição do eixo neutro recorre-se a três ábacos para
100 ⋅ m ⋅ ea M
dimensionamento desta secção, a partir de parâmetros K = e ε = din. sendo
eb N ⋅R
m=Es/Ec o coeficiente de homogeneização (adopta-se geralmente o valor de 6 para acções de
curta duração), eb a largura da placa de fixação, M din. o momento flector na base do mastro
devido à acção dinâmica do vento e N o esforço axial na base do mastro devido peso
próprio. Os ábacos permitem determinar o valor do ângulo α (ângulo que define a posição do
σa
eixo neutro), um valor β e o valor de (sendo σa a tensão máxima no aço e σb a
100 ⋅ σ b
tensão máxima no betão) a partir de α e de m (Brozzetti12).
A primeira verificação a ser realizada é a da resistência do betão utilizado aos esforços

actuantes. A tensão máxima instalada no betão é dada por σ bmax = . A segunda
R eb
verificação é a da resistência da placa de aço aos esforços actuantes. A tensão máxima de
σ amax
tracção instalada na placa é dada por . O dimensionamento da espessura da base é
100 σ bmax
feito adoptando um modelo estrutural de uma consola com comprimento de eb /2 solicitada
por uma carga de valor σ bmax .
Os chumbadouros encontram-se submetidos a um esforço de corte e de flexão
composta. Em relação ao corte efectua-se a seguinte verificação:

φ2  128  M din .  
2

Vdin . ≤ ⋅ σ ub ⋅  n − ⋅   (21)
12  n  π ⋅ d ⋅ φ 2 ⋅ σ ub  

sendo Vdin. o valor da acção de corte actuante na base do mastro devida ao vento, φ o
diâmetro do chumbadouro, n o número de chumbadouros utilizados, M din. o valor do
momento actuante na base do mastro devido ao vento, d o diâmetro médio entre
0, 9 ⋅ f ub
chumbadouros, σ ub = , fub a resistência à tracção do chumbadouro e γ Mb o coeficiente
γ Mb
parcial de segurança.
Em relação à flexão composta, os chumbadouros traccionados terão de ser
dimensionados de modo a terem um comprimento que garanta a sua fixação ao betão. Para
tal, a seguinte relação deve ser verificada:
Fa = π ⋅ φ ⋅ Lb ⋅ f bd ≥ Ft (22)
sendo Ft a força de tracção que solicita os chumbadouros, Fa a força de arranque dos
chumbadouros, Lb o comprimento em profundidade dos chumbadouros e fbd o valor da
tensão última de aderência chumbadouro/betão.
Na fixação dos chumbadouros ao maciço de fundação e na colocação do mastro, deve
ser previsto um afastamento entre o maciço e a chapa de base do mastro. Este afastamento
não deverá ser superior a quatro vezes o diâmetro dos chumbadouros, a fim de evitar o seu
varejamento (Fig. 7).

Fig. 7 – Pormenor da fixação ao solo

Note-se que muitos mais pormenores de cálculo poderiam ter sido abordados,
nomeadamente os relativos ao dimensionamento do maciço de fundação e da ligação da
grelha de projectores, entre outros. As limitações de espaço impedem tais detalhes.

4. CONCLUSÕES

Este trabalho constitui uma aplicação de metodologias, já publicadas pelo primeiro


autor, ao projecto do segundo autor relativo aos postes de iluminação do estádio da Maia. É
baseado em relatório de aplicação técnica dos dois últimos autores ao referido projecto, e nas
comparações nele estabelecidas entre vários métodos e regulamentos que permitem clarificar
as especificidades deste tipo de dimensionamento. Assim este documento pode constituir uma
ferramenta útil de trabalho, já que inclui uma síntese dos elementos de cálculo necessários ao
dimensionamento de mastros e postes de grande altura, em muitas das suas vertentes.

5. AGRADECIMENTOS

Este trabalho insere-se parcialmente no âmbito do projecto com numeração provisória


POCTI-41999/ECM/P/2000 intitulado Projecto Económico de Pórticos em Aço (em re-
apreciação) ainda não aprovado, e submetido pelo primeiro autor à FCT em 2001.
Os dois últimos autores agradecem aos dois primeiros autores todo o empenho
realizado no processo de transmissão de conhecimentos durante 2001/02 no decorrer da
disciplina de Seminário de Estruturas 1. Agradecem muito especialmente quer ao Professor
Carneiro Barros pela ajuda prestada, pelo fornecimento de documentação e suas publicações
recentes e pelo uso do programa de cálculo automático ‘Mastbuck’, quer ao Professor Mota
Freitas pela clareza e objectividade da informação técnica facultada sobre o referido projecto
das torres de iluminação do estádio da Maia.

6. REFERÊNCIAS

[1] R.C. Barros, “Dimensionamento estrutural de mastros metálicos”, Vigésimo Congresso


Ibero-Latino Americano de Métodos Computacionais em Engenharia - XX CILAMCE
(e, 1st Brazilian Congress on Computational Mechanics), 16 págs., São Paulo, Brasil, 3
a 5 de Novembro de 1999.
[2] R.C. Barros, “Dimensionamento estrutural de mastros metálicos”, Revista Internacional
de Métodos Numéricos para Cálculo y Diseño en Ingenieria (RIMNCDI), Ed. E. Oñate
(España) e J.C. Heinrich (USA), Universitat Politecnica de Catalunya (UPC), Vol. 18,
Nº 3, pp. 351-365, Barcelona, September 2002 (submetido em 2000/01).
[3] R.J. Veitch, “The Design of Tapered Steel Lighting Masts”, AISC Journal, Steel
Construction, 16, No. 3, 2-16, New York, 1982.
[4] J.M. Freitas, “Barras comprimidas axialmente” e “Instabilidade elástica: varejamento de
barras comprimidas”, Apontamentos de Resistência de Materiais, FEUP, Porto, (s/
data).
[5] B.J. Vickery and K.H. Kao, “Drag of Along-Wind Response of Slender Structures”, J.
Structural Div., ASCE, 98, ST1, Proc. Paper 8635, 21-36, New York, 1972.
[6] APLE (Association of Public Lighting Engineers), “High Mast Lighting”, Technical
Report No. 7, London, 1976.
[7] M. Zar and S. Chu, “Chimneys”, Section 26, Structural Engineering Handbook, (ed.)
E.H. Gaylord and C.N. Gaylord, McGraw-Hill Book Company, New York, 1979.
[8] S.P. Timoshenko and J.M. Gere, “Theory of Elastic Stability”, McGraw-Hill
International Book Company, Auckland, 1982.
[9] A.J. Reis e D. Camotim, “Estabilidade Estrutural”, McGraw-Hill de Portugal, 2001.
[10] R.C. Barros, “Apontamentos sobre Instabilidade de Estruturas”, Conjunto de trabalhos
impressos e manuscritos de apoio ao Mestrado em Estruturas de Engª Civil, Secção de
Estruturas, Departamento de Engª Civil, F.E.U.P., Porto, 1999-2002.
[11] M. Brozzetti, “Vérification au voilement d’úne coque cylindrique de section circulaire
selon les recommandations de la CECM”, Revue Construction Métallique, Référence
STA-REG 1-87, 1987.
[12] M. Brozzetti, “Recommandations sur le calcul des structures de mâts d´éclairage de
grandes espaces”, Revue Construction Métallique, Nº4, 2000.

Você também pode gostar

  • Met Mcal 003 R00
    Met Mcal 003 R00
    Documento1 página
    Met Mcal 003 R00
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • Met Mcal 005 R00
    Met Mcal 005 R00
    Documento1 página
    Met Mcal 005 R00
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • Met Mcal 001 R00
    Met Mcal 001 R00
    Documento1 página
    Met Mcal 001 R00
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • PD 4009 15 PDF
    PD 4009 15 PDF
    Documento144 páginas
    PD 4009 15 PDF
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • Telhas 16 10 2018
    Telhas 16 10 2018
    Documento8 páginas
    Telhas 16 10 2018
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • PD 4001 32 PDF
    PD 4001 32 PDF
    Documento276 páginas
    PD 4001 32 PDF
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • FT TempridSC
    FT TempridSC
    Documento3 páginas
    FT TempridSC
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações
  • MB03 31 10 01 PDF
    MB03 31 10 01 PDF
    Documento4 páginas
    MB03 31 10 01 PDF
    Marcelo Alves
    Ainda não há avaliações