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A M Alex Pandolfo

VIRTUDES – Vencendo as Paixões

Introdução

“Vencer minhas paixões levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao


vício, eis o que viemos aqui fazer”.

Quando da nossa iniciação nesta Loja, na segunda Prédica, nos foi perguntado pelo
Segundo Vigilante: - Sr Fulano de Tal, que entendeis por virtude? Prontamente respondemos
com nossas respostas até então profanas. Então o Segundo Vigilante complementou: É a
disposição da alma que nos induz a praticar o bem.

Isto posto, o Orador também nos questionou sobre o que pensávamos ser o vício; e
após nossas respostas ele completara: É o oposto da virtude. É o hábito desgraçado que nos
arrasta para o mal... É para nos elevarmos acima dos vis interesses que atormentam o vulgo
profano e “acalmarmos o ardor das paixões” que nos reunimos neste Templo. Templo este
que possui quatro cantos e lembram as quatro virtudes cardeais: a Temperança, a Justiça, a
Coragem e a Prudência. Essas virtudes, além de outras, formam o homem-maçom, e o seu
estudo juntamente com a prática habitual é um dos quatro degraus que nos separam do Oriente,
em Loja.

Portanto, através desta prancha dou seqüência à lapidação da “minha Pedra Bruta”, ou
melhor, lapidar-me.

Virtude – Vencendo as Paixões

Para a Maçonaria as paixões são as tendências do ser humano contrárias às doutrinas


morais que ela ensina. Por isso, simbolizando o homem profano como uma Pedra Bruta dá
como principal tarefa ao Aprendiz Maçom o “desbaste da Pedra Bruta”, o que em outras
palavras significa que ele, antes de tudo, deverá aprender a “vencer suas paixões”. Este é o
principal e indispensável trabalho de todo maçom que, compreendendo as verdadeiras
finalidades da Ordem, procura lançar-se no caminho do aperfeiçoamento moral.

A virtude, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que
constituem o homem de bem. Ser bom, caridoso, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do

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homem virtuoso. Infelizmente são acompanhadas quase sempre de pequenas falhas morais que
se desmerecem e enfraquecem. Aquele que faz alarde de sua virtude não é virtuoso, pois lhe
falta a principal qualidade: a modéstia. E tem o vício mais oposto: o orgulho. A virtude realmente
digna desse nome não gosta de se exibir; ela é sentida, mas se esconde no anonimato e foge da
admiração das multidões. Todos os homens de bem, maçons ou não, devem ignorar que são
virtuosos, devem deixar-se ir pela corrente de suas santas inspirações e praticar o bem com total
desinteresse e completo esquecimento de si mesmos.

Às vezes, a palavra virtude designa o conjunto de normas de conduta que se reconhece


como válidas sendo vista como sinônimos de moral, de ética.

Mas vou ater-me ao sentido fundamental. É na passagem do sentido moral que se


encontra o essencial da noção de virtude.

O homem, de fato, se define por um conjunto de virtualidades ou tendências. A virtude


moral é que permite ao homem realizar essas virtualidades, ou seja, tender à perfeição.

A palavra latina "virtus", significa homem. E o contrário de virtude é vício, isto é, o que
desvia o homem de si mesmo e, que no sentido original, seria "um elemento mau que altera a
sua essência".

A virtude, assim compreendida e praticada, é nosso principal norteador em loja. Todo


maçom não deve imitar o homem que se coloca como modelo e se gaba de suas próprias
qualidades para todos os ouvidos tolerantes. Essa virtude com ostentação esconde, muitas
vezes, uma multidão de pequenas mesquinharias e odiosas fraquezas.

Em princípio, o homem que exalta a si mesmo, que ergue uma estátua à sua própria
virtude, aniquila por essa única razão, todo mérito efetivo que possa ter. Compreendo muito bem
que o homem que faz o bem sinta no fundo do coração uma satisfação íntima, mas, uma vez
que essa satisfação se exteriorize para provocar elogios, degenera em amor-próprio. A virtude
do homem deve ser avaliada não pelo que ele fez de extraordinário, mas pelo que ele fez de
comum.

As principais virtudes são sete, três delas teologais (referentes à relação do homem com
Deus) e quatro cardeais (que norteiam a conduta na vida). As virtudes teologais são a Fé, a
Esperança e a Caridade. As cardeais são: Temperança, Justiça, Coragem e a Prudência.

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De forma sucinta, vamos apreciar algumas dessas virtudes. Podemos observar que elas
quase sempre caminham juntas, raramente apresentam-se isoladas.

As Virtudes Teologais

Essas três virtudes são chamadas de teologais porque elas não são produtos de um
hábito, pois o homem não as adquire através do seu próprio esforço. Alguns textos ensinam que
"Elas são essencialmente sobrenaturais, pois, além de serem dons divinos, elas se dirigem a
Deus nos seus atos.”

A Fé não pode ser adquirida pela simples vontade do homem: "Não podemos crer, ou
seja, praticar atos de Fé, sem a graça de Deus. A fé é uma virtude sobrenatural pela qual –
apoiado na autoridade de Deus – cremos nas verdades que foram reveladas".

A Esperança, como o próprio nome diz, é um ato de aguardar e não de tomar


providências e manipular. "A esperança é uma virtude sobrenatural pela qual confiamos em que
Deus nos dará a glória mediante sua graça e nossa correspondência a ela."

A Caridade é uma virtude sobrenatural pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas –
por quem Ele é – e ao próximo por amor a Deus. É tida como a virtude primordial, a maior de
todas. A Caridade é um sentimento ou uma ação altruísta de ajudar o próximo sem buscar
qualquer tipo de recompensa. Amor ao próximo; bondade; benevolência; compaixão; é um
sentimento que pode ter dois sentidos, o sentimento para si mesmo e ao próximo.

As Virtudes Cardeais

A Coragem é a virtude que no meio das dificuldades assegura a firmeza e a constância


para praticar o bem. Trata-se de uma habilidade ímpar para enfrentar, com serenidade e
domínio do medo, os perigos que se apresentam do decurso da vida. Ela proporciona ao
indivíduo a aptidão de avaliar uma gama de possibilidades para vencer as adversidades. A
coragem inspira o indivíduo a agir com perseverança e determinação em face de todas as
situações e circunstâncias.

A coragem é a virtude que dá à nossa vontade a energia necessária para vencer os


obstáculos que nos atrapalham na prática do bem. Devemos agir; ter coragem é manifestar

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espírito de iniciativa, alegria na realização do dever de estado, perseverança no combate contra


nossas paixões: o orgulho, o egoísmo, a raiva, a sensualidade, etc. Praticando os atos da virtude
da coragem, conseguiremos vencer as paixões, fugir dos vícios e das ocasiões de vício que nos
chamam com tanta força para o mal.

Os vícios contra a virtude da coragem se manifestam em nós do seguinte modo:

 Acanhamento - quando a pessoa não se decide a fazer o que deve, fica sempre na
dúvida: é certo ou errado, devo fazer assim ou de outro modo, e acaba não
fazendo o que deve.
 Covardia - quando a pessoa foge da sua obrigação por medo.
 Respeito humano - é uma espécie de covardia que nos leva a não agir
corretamente por medo das zombarias.
 Temeridade - quando uma pessoa se expõe sem necessidade ao perigo e à morte
(falsa coragem).

A Justiça é a virtude que nos inclina a dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido, tanto
individual como socialmente. Porém, não basta que os homens tenham entre si um
relacionamento de justiça. A vida na sociedade é muito complicada e foi preciso se organizar um
governo que ajudasse os homens a viverem juntos numa mesma cidade, num mesmo país. Por
isso, a virtude da justiça vai também atuar no relacionamento dos homens com o governo, quer
ele seja um prefeito, um guarda de trânsito, o presidente ou um rei. Os homens devem obedecer
às leis estabelecidas pelas autoridades, enquanto que a autoridade deve atuar de forma igual
para com todos, ajudando os bons e castigando os maus.

Devemos também considerar que quando cometemos um pecado contra a virtude da


justiça, em certos casos, não basta o arrependimento e a confissão. Nós lesamos o próximo
tirando dele um bem material que lhe pertence. Devemos, então, fazer o possível para devolver
aquele bem, de modo a restabelecer a justiça ferida pelo nosso ato. É o que se chama de
restituição.

A Prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir – em todas as


circunstâncias – nosso verdadeiro bem, escolhendo os meios justos para realizá-lo. Prudência é
a virtude que nos ajuda a escolher. Não se trata de escolher coisas fúteis e bobas. A Prudência
nos ajuda a escolher os meios adequados para realizar o bem e vencer o mal.

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Mas, como o contrário da virtude é o vício, podemos pecar contra a Prudência de dois
modos:

 Por falta de prudência - é o vício da imprudência, que pode ser por: precipitação -
agimos sem refletir ou descuido - refletimos no que vamos fazer mas fazemos mal
feito.
 Por excesso de Prudência – astúcia: ser prudente no mal, nas coisas erradas, –
cuidados excessivos com a vida material: dinheiro, vaidade, comprar muitas
coisas, etc.

A Temperança significa equilibrar, colocar sob limites, moderar a atração dos prazeres,
assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporcionar no uso de bens criados. A
virtude da Temperança vem completar o quadro das quatro virtudes cardeais. Ela é o freio da
nossa alma. A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais,
quer eles sejam: comida, bebida, sono, diversão, conforto, etc. Ela nos ensina a usar essas
coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada. Ela nos ensina que certos atos
são reservados a certas situações.

Também o conforto da vida moderna pode nos levar a pecar contra a Temperança.
Reclamamos do calor, reclamamos do frio, não queremos nos levantar da cadeira nem para
pegar um copo d'água, sempre achamos algo que nos desagrada nas coisas e nas pessoas. A
virtude da Temperança nos ajuda a esquecer um pouco tudo isso e pensar mais em ajudar, em
trabalhar, em vencer seus próprios defeitos.

Além das virtudes supracitadas, existem outras não menos importantes, que simplificarei
abaixo para simples conhecimento.

Autoconfiança. Esta virtude pode ser conquistada mediante o desenvolvimento de


recursos e habilidades que proporcionam competência, segurança e tranqüilidade no decurso da
vida. A pessoa autoconfiante é prudente e equilibrada, de tal sorte que procura agir sempre com
cautela.

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Benevolência. É uma qualidade que dispõe o indivíduo a praticar o bem, podendo


acrescentar generosidade, gentileza e simpatia. Para tanto, é preciso renunciar a sentimentos de
hostilidade e egoísmo.

Contentamento. É uma virtude que promove alegria e bem-estar. Proporciona o poder de


enfrentar adversidades, sem aflição, com serenidade e jovialidade, porque capacita o ser
humano a adaptar-se a tais situações, e a mudar suas atitudes diante delas.

Desapego. É uma virtude que capacita o indivíduo a ver os fatos e situações com
imparcialidade, com isenção de ânimo. A pessoa que consegue desapegar-se de suas próprias
idéias e opiniões, livre de preconceitos, é capaz de agir com justiça.

Determinação. Firmeza e perseverança são duas aliadas desta virtude. Ela permite ao
indivíduo progredir, a ter sucesso em todos os seus empreendimentos, pois não tolera preguiça,
desalento, falta de ânimo. Não importam as circunstâncias ou obstáculos, a presença desta
virtude capacita o ser humano a concluir sempre todas as tarefas a que se programou.
Determinação é uma virtude necessária para assimilar as demais virtudes e para livrar-se de
todas as negatividades.

Disciplina. É ordem, organização, aceitação de preceitos e normas. O próprio Universo é


obediente a uma ordem implacável, caso contrário não poderia existir. Para assimilar e manter
esta virtude o indivíduo precisa corrigir, moldar e aperfeiçoar seu caráter. Terá também que
abominar hábitos nocivos, como rebeldia e inconformidade. Na ausência da disciplina, a vida
torna-se impossível.

Empatia. Significa colocar-se no lugar do outro, em sua própria pele. Ver as coisas sob
sua perspectiva. Compreender seus motivos. E, então, poder aconselhar com acerto e
coerência.

Estabilidade. Significa coerência, responsabilidade, constância. Esta virtude não admite


rigidez, mas requer flexibilidade e adaptabilidade. Assim, a confiança é desenvolvida e a
convivência humana torna-se harmônica e duradoura.

Generosidade. Significa desprendimento, liberalidade, altruísmo. A pessoa dotada desta


virtude aprecia verdadeiramente os outros, e presta a ajuda necessária sem esperar nada em
troca. Ela também promove o fortalecimento das relações, a paz no contexto social.

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Honestidade. Este dom suscita a necessária confiança entre as pessoas. Em todos os


atos da vida, a citada qualidade deve estar sempre presente. Por outro lado, sua carência
provoca as mais nefastas conseqüências.

Humildade. Mesmo sendo possuidor de múltiplas virtudes, o indivíduo pode ainda


abarcar mais uma, a humildade. Significa modéstia, compostura, ausência de vaidade.
Simplicidade na maneira de se apresentar. Comedimento na forma de referir-se a si próprio. A
pessoa pode conhecer sua força e poder, e apesar disso, não precisa jactar-se perante os
outros.

Paciência. Ser paciente significa ser calmo, sereno e equilibrado. Denota controle sobre
desejos e emoções. Afasta o desespero e a aflição. Possibilita pensamentos e julgamentos
imparciais e objetivos.

Precisão. Esta qualidade proporciona clareza e perfeita definição. Na presença de


exatidão, os pensamentos, palavras e ações serão apropriados a cada circunstância. A virtude
em questão possibilita a habilidade de fazer as coisas de forma correta. Graças ao autocontrole,
paciência, serenidade, conhecimento de causa, este dom pode prosperar, trazendo benefícios
incalculáveis ao progresso e bem-estar.

Sabedoria. A conquista da maturidade proporciona o surgimento da sabedoria. Esta


virtude confere o poder de controlar impulsos e reações, ter uma visão de águia, reconhecer a
verdadeira intuição, ser previdente. A pessoa que conquistou o poder da sabedoria é capaz de
agir de forma correta, em todas as circunstâncias, com base em conhecimentos vastos, em sua
longa experiência, na própria realidade. Pode-se observar o perfeito equilíbrio de todos os
poderes e talentos quando a sabedoria está presente.

Enfim, a virtude é uma graça que desejo a todos os irmãos. No entanto, mais vale poucas
virtudes com modéstia do que muitas com orgulho. Foi pelo orgulho que a humanidade se
perdeu sucessivamente, e será pela humildade que deverão um dia redimir-se.

Apêndice

Um dos sermões do padre Antônio Vieira, grande escritor português que viveu no Brasil,
começa com uma frase que me parece terrível, porque verdadeira, que diz: “O peixe apodrece

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pela cabeça”. Ele apodrece da cabeça para o resto do corpo. E, hoje, realmente vivemos um
apodrecimento dos valores, da dignidade, das virtudes, da civilidade, da ética.

Vejamos nós que se fizermos uma profunda reflexão sobre o tema iremos nos deparar
com uma sociedade em ruína, senão vejamos as organizações que deveriam ser a reserva da
moral, da ética e das virtudes da sociedade atual.

O que dizer da instituição familiar dos tempos atuais, o berço onde aprendemos a ser
gente, a formar nossa personalidade. Afinal é na educação dos filhos que se revelam as virtudes
dos pais. Casamentos com prazo de validade cada vez menor. A “moda” hoje em dia é o
contrato nupcial.

E as Forças Armadas? Pergunte a um adolescente de 17 anos se ele quer “servir a


Pátria”. Creio, pois não o fiz e me arrependo, que as Forças Armadas, na sua essência, seja
uma das mais importantes escolas do aprendizado moral e de algumas virtudes, como por
exemplo a disciplina, o respeito, a convivência, etc. Cabe aqui lembrar o episódio ocorrido em
novembro de 2008 no Vale do Itajaí onde as chuvas deixaram milhares de desabrigados. Qual a
imagem que ficou marcada em relação às Forças Armadas? A de um soldado aproveitando-se
da oportunidade para “roubar” calçados e roupas doadas pelas pessoas àquelas famílias. Penso
que a culpa não seja do sistema; no caso as Forças Armadas, e não é; a culpa é nossa, da
sociedade, ou melhor, da formação do nosso caráter.

Creio que a Educação, aqui me referindo àquela ensinada em sala de aula, não foge a
regra. Quem manda e quem obedece hoje em dia na sala de aula? Parece-me que hoje a
identidade do professor está mais ligada à sua tarefa como um técnico que transmite alguma
coisa, mas que não sente que essa coisa, no caso o conhecimento sobre a aula, lhe pertence.
Não obstante as relações entre professor e aluno estão sendo norteadas pelo Código de Defesa
do Consumidor. Como um professor, que na maioria das vezes dá aula em duas ou três escolas
diferentes, sabe e sente a necessidade do aluno? Sequer sabe o nome do aluno. No meu tempo
de ginásio tínhamos uma disciplina chamada EMC – Educação Moral e Cívica; que, se não
estou enganado fora retirado da grade pedagógica das escolas nos últimos anos. Embora ache
que a moral e o civismo não deveriam ser ensinados em uma disciplina específica, mas no
âmago do planejamento pedagógico.

A Política, nem se fala. Recentemente vemos nos noticiários parlamentares tocupletando-


se com o dinheiro público. Casos como o uso pessoal de passagens aéreas pagas pelo erário, e

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os tais atos secretos do Senado, isso sem falar em termos já comuns aos nossos ouvidos como
corrupção, cassação, etc. Aliás, acho que eles devem achar que somos todos acéfalos, e será
que não o somos? Eles têm a “cara de pau” de dizer que está tudo dentro da lei e que esta
precisaria de regras mais claras que definam como gastar esse dinheiro. Como regras claras
“Vossas Excelências”! Cadê a ética, cadê o político virtuoso no qual acreditamos e demos
plenos poderes para nos representar? Aí é que vemos na prática e temos a certeza que a
política é o reflexo de sua sociedade, conforme o ditado popular: “Cada sociedade tem o
governo que merece” e essa é lamentavelmente a nossa sociedade, de um modo geral,
apodrecida pela cabeça, igual a peixe.

Com relação à Religião, talvez o que estamos vivenciando hoje não seja a busca da fé
pela fé ou através dela, mas a busca do sentido da fé. Pois a religião, concordemos ou não com
ela, dá uma ética, dá um sentido. As pessoas sentem a necessidade de acreditar em alguma
coisa. Se pararmos para analisar o Evangelho, para que melhor ensinamento das virtudes do
que a Bíblia. E nossa sociedade, de um modo geral, numa busca desesperada por salvações e
milagres se entrega a falsos profetas que oferecem “ajuda”, não obstante o número cada vez
maior de “Igrejas Universais” e templos ditos religiosos, principalmente naquelas localidades
onde a cabeça do peixe fede mais.

O que dizer dos nossos meios de comunicação, mais precisamente a TV, a qual poderia
ser o canal de comunicação da sociedade na luta para deixar o “peixe vivo”. O que vemos é
justamente o contrário, a materialização dos objetivos, o ter em vez do ser, a fama e a glória em
vez do mérito. Aliás, se observarmos bem os programas de TV observaremos que o espaço que
é dado à divulgação dos vícios e coisas que ruínam e desmantelam a sociedade é muitíssimo
superior ao espaço dedicado às ações virtuosas. Aqui vale lembrar Nocedal: “O vício é mais
visível que a virtude, porque o vício é vaidoso e a virtude é modesta”. Alguém já deve ter
assistido ao Big Brother. Já repararam que não há biblioteca na casa. Quem vence o Big
Brother? É o cara com um livro na mão ou a menina que fica na piscina e faz musculação? Aliás,
para participar desse tipo de programa, além de um contrato de confidencialidade, é necessário
assinar um outro que determina o que pode ser levado para dentro da casa. Entre os objetos, há
um limite para apenas dois livros.

A corrupção tem muito mais espaço que a ética, resultando que diariamente nosso
“cardume de peixes” é bombardeado com notícias, propagandas, programas que expõe as

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questões fúteis da vida em vez de enfatizar os valores, as questões de mérito, as virtudes do ser
humano e da nossa sociedade.

Definitivamente, hoje vivemos mais no mundo da fama e da glória do que no mundo da


honra e do mérito, ou melhor, da fama decorrente do mérito.

Obviamente que essas instituições não existem separadamente, elas coexistem. No meu
ponto de vista - que nada mais é do que a vista a partir de um ponto – a maioria das discussões
e debates que ocorrem na nossa sociedade diuturnamente estão nos levando a um futuro
totalmente sem norte - à toa - no que diz respeito a qual sociedade queremos. Enquanto não
tocarmos na ferida, que é a formação de uma sociedade com valores éticos, morais e virtuosos,
nada se resolverá. Pior, a dor se prolongará para as próximas gerações.

Por último, mas não menos importante, tenho a certeza de que a próxima batalha mundial
a ser travada nas próximas décadas será a Revolução Virtuosa, o resgate das virtudes, da
ética, da moral. E a cada batida do malho que desferramos nas nossas pedras tenho a sensação
que nem tudo está perdido, pois nestes tempos tão difíceis a única escola que reserva
milenarmente essas essências é a Maçonaria. Esta, cada vez mais tem e terá papel
fundamental nessa Revolução, principalmente na formação de cidadãos virtuosos. Como disse
certa vez o Poeta Cônego Januário da Cunha Barbosa – um dos baluartes da emancipação
brasileira: “Filha da ciência e Mãe da caridade, fossem todas as Instituições como tu, Santa
Maçonaria... e os povos viveriam uma nova idade de ouro... Mas, além disso, tenho eu aqui: A
escola que me ensina a moral e a virtude... O aperfeiçoamento interior que me traz a paz e a
alegria de viver...”

Portanto meus irmãos, após dar umas boas “malhadas” nessa pedra acabo entendendo
que precisamos ter esperança; mas esperança do verbo esperançar, e não do verbo esperar.
Porque a esperança que vem de “esperar” é pura espera, ao passo que quando proveniente de
esperançar significa se unir e ir atrás, não desistir, ou seja AGIR.

Bibliografia

- GOB. (2003) – Ritual de Maçons Antigos, Livres e Aceitos – Grau de Aprendiz-Maçon –


Rito Brasileiro.

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- Sponville, André C. (1999) - Pequeno Tratado das Grandes Virtudes - Ed. Martins
Fontes.

- Boff, Leonardo. (2006) – VIRTUDES para um outro Mundo Possível – Vol’s I,II e III. –
Ed Vozes.

- CORTELLA, Mario S. & LA TAILLE, Yves de.(2009) – Nos Labirintos da Moral. – Ed


Papirus 7 Mares.

- CORTELLA, Mario S.(2007) – Qual é a tua obra ? – Ed Vozes.

- CONTE, Carlos Basílio.(2006) – Novo Livro do Orador – Oratória Maçônica – Ed


Madras.

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