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Introdução
Quando da nossa iniciação nesta Loja, na segunda Prédica, nos foi perguntado pelo
Segundo Vigilante: - Sr Fulano de Tal, que entendeis por virtude? Prontamente respondemos
com nossas respostas até então profanas. Então o Segundo Vigilante complementou: É a
disposição da alma que nos induz a praticar o bem.
Isto posto, o Orador também nos questionou sobre o que pensávamos ser o vício; e
após nossas respostas ele completara: É o oposto da virtude. É o hábito desgraçado que nos
arrasta para o mal... É para nos elevarmos acima dos vis interesses que atormentam o vulgo
profano e “acalmarmos o ardor das paixões” que nos reunimos neste Templo. Templo este
que possui quatro cantos e lembram as quatro virtudes cardeais: a Temperança, a Justiça, a
Coragem e a Prudência. Essas virtudes, além de outras, formam o homem-maçom, e o seu
estudo juntamente com a prática habitual é um dos quatro degraus que nos separam do Oriente,
em Loja.
Portanto, através desta prancha dou seqüência à lapidação da “minha Pedra Bruta”, ou
melhor, lapidar-me.
A virtude, no seu mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que
constituem o homem de bem. Ser bom, caridoso, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do
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homem virtuoso. Infelizmente são acompanhadas quase sempre de pequenas falhas morais que
se desmerecem e enfraquecem. Aquele que faz alarde de sua virtude não é virtuoso, pois lhe
falta a principal qualidade: a modéstia. E tem o vício mais oposto: o orgulho. A virtude realmente
digna desse nome não gosta de se exibir; ela é sentida, mas se esconde no anonimato e foge da
admiração das multidões. Todos os homens de bem, maçons ou não, devem ignorar que são
virtuosos, devem deixar-se ir pela corrente de suas santas inspirações e praticar o bem com total
desinteresse e completo esquecimento de si mesmos.
A palavra latina "virtus", significa homem. E o contrário de virtude é vício, isto é, o que
desvia o homem de si mesmo e, que no sentido original, seria "um elemento mau que altera a
sua essência".
Em princípio, o homem que exalta a si mesmo, que ergue uma estátua à sua própria
virtude, aniquila por essa única razão, todo mérito efetivo que possa ter. Compreendo muito bem
que o homem que faz o bem sinta no fundo do coração uma satisfação íntima, mas, uma vez
que essa satisfação se exteriorize para provocar elogios, degenera em amor-próprio. A virtude
do homem deve ser avaliada não pelo que ele fez de extraordinário, mas pelo que ele fez de
comum.
As principais virtudes são sete, três delas teologais (referentes à relação do homem com
Deus) e quatro cardeais (que norteiam a conduta na vida). As virtudes teologais são a Fé, a
Esperança e a Caridade. As cardeais são: Temperança, Justiça, Coragem e a Prudência.
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De forma sucinta, vamos apreciar algumas dessas virtudes. Podemos observar que elas
quase sempre caminham juntas, raramente apresentam-se isoladas.
As Virtudes Teologais
Essas três virtudes são chamadas de teologais porque elas não são produtos de um
hábito, pois o homem não as adquire através do seu próprio esforço. Alguns textos ensinam que
"Elas são essencialmente sobrenaturais, pois, além de serem dons divinos, elas se dirigem a
Deus nos seus atos.”
A Fé não pode ser adquirida pela simples vontade do homem: "Não podemos crer, ou
seja, praticar atos de Fé, sem a graça de Deus. A fé é uma virtude sobrenatural pela qual –
apoiado na autoridade de Deus – cremos nas verdades que foram reveladas".
A Caridade é uma virtude sobrenatural pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas –
por quem Ele é – e ao próximo por amor a Deus. É tida como a virtude primordial, a maior de
todas. A Caridade é um sentimento ou uma ação altruísta de ajudar o próximo sem buscar
qualquer tipo de recompensa. Amor ao próximo; bondade; benevolência; compaixão; é um
sentimento que pode ter dois sentidos, o sentimento para si mesmo e ao próximo.
As Virtudes Cardeais
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Acanhamento - quando a pessoa não se decide a fazer o que deve, fica sempre na
dúvida: é certo ou errado, devo fazer assim ou de outro modo, e acaba não
fazendo o que deve.
Covardia - quando a pessoa foge da sua obrigação por medo.
Respeito humano - é uma espécie de covardia que nos leva a não agir
corretamente por medo das zombarias.
Temeridade - quando uma pessoa se expõe sem necessidade ao perigo e à morte
(falsa coragem).
A Justiça é a virtude que nos inclina a dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido, tanto
individual como socialmente. Porém, não basta que os homens tenham entre si um
relacionamento de justiça. A vida na sociedade é muito complicada e foi preciso se organizar um
governo que ajudasse os homens a viverem juntos numa mesma cidade, num mesmo país. Por
isso, a virtude da justiça vai também atuar no relacionamento dos homens com o governo, quer
ele seja um prefeito, um guarda de trânsito, o presidente ou um rei. Os homens devem obedecer
às leis estabelecidas pelas autoridades, enquanto que a autoridade deve atuar de forma igual
para com todos, ajudando os bons e castigando os maus.
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Mas, como o contrário da virtude é o vício, podemos pecar contra a Prudência de dois
modos:
Por falta de prudência - é o vício da imprudência, que pode ser por: precipitação -
agimos sem refletir ou descuido - refletimos no que vamos fazer mas fazemos mal
feito.
Por excesso de Prudência – astúcia: ser prudente no mal, nas coisas erradas, –
cuidados excessivos com a vida material: dinheiro, vaidade, comprar muitas
coisas, etc.
A Temperança significa equilibrar, colocar sob limites, moderar a atração dos prazeres,
assegura o domínio da vontade sobre os instintos e proporcionar no uso de bens criados. A
virtude da Temperança vem completar o quadro das quatro virtudes cardeais. Ela é o freio da
nossa alma. A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais,
quer eles sejam: comida, bebida, sono, diversão, conforto, etc. Ela nos ensina a usar essas
coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada. Ela nos ensina que certos atos
são reservados a certas situações.
Também o conforto da vida moderna pode nos levar a pecar contra a Temperança.
Reclamamos do calor, reclamamos do frio, não queremos nos levantar da cadeira nem para
pegar um copo d'água, sempre achamos algo que nos desagrada nas coisas e nas pessoas. A
virtude da Temperança nos ajuda a esquecer um pouco tudo isso e pensar mais em ajudar, em
trabalhar, em vencer seus próprios defeitos.
Além das virtudes supracitadas, existem outras não menos importantes, que simplificarei
abaixo para simples conhecimento.
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Desapego. É uma virtude que capacita o indivíduo a ver os fatos e situações com
imparcialidade, com isenção de ânimo. A pessoa que consegue desapegar-se de suas próprias
idéias e opiniões, livre de preconceitos, é capaz de agir com justiça.
Determinação. Firmeza e perseverança são duas aliadas desta virtude. Ela permite ao
indivíduo progredir, a ter sucesso em todos os seus empreendimentos, pois não tolera preguiça,
desalento, falta de ânimo. Não importam as circunstâncias ou obstáculos, a presença desta
virtude capacita o ser humano a concluir sempre todas as tarefas a que se programou.
Determinação é uma virtude necessária para assimilar as demais virtudes e para livrar-se de
todas as negatividades.
Empatia. Significa colocar-se no lugar do outro, em sua própria pele. Ver as coisas sob
sua perspectiva. Compreender seus motivos. E, então, poder aconselhar com acerto e
coerência.
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Paciência. Ser paciente significa ser calmo, sereno e equilibrado. Denota controle sobre
desejos e emoções. Afasta o desespero e a aflição. Possibilita pensamentos e julgamentos
imparciais e objetivos.
Enfim, a virtude é uma graça que desejo a todos os irmãos. No entanto, mais vale poucas
virtudes com modéstia do que muitas com orgulho. Foi pelo orgulho que a humanidade se
perdeu sucessivamente, e será pela humildade que deverão um dia redimir-se.
Apêndice
Um dos sermões do padre Antônio Vieira, grande escritor português que viveu no Brasil,
começa com uma frase que me parece terrível, porque verdadeira, que diz: “O peixe apodrece
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pela cabeça”. Ele apodrece da cabeça para o resto do corpo. E, hoje, realmente vivemos um
apodrecimento dos valores, da dignidade, das virtudes, da civilidade, da ética.
Vejamos nós que se fizermos uma profunda reflexão sobre o tema iremos nos deparar
com uma sociedade em ruína, senão vejamos as organizações que deveriam ser a reserva da
moral, da ética e das virtudes da sociedade atual.
O que dizer da instituição familiar dos tempos atuais, o berço onde aprendemos a ser
gente, a formar nossa personalidade. Afinal é na educação dos filhos que se revelam as virtudes
dos pais. Casamentos com prazo de validade cada vez menor. A “moda” hoje em dia é o
contrato nupcial.
Creio que a Educação, aqui me referindo àquela ensinada em sala de aula, não foge a
regra. Quem manda e quem obedece hoje em dia na sala de aula? Parece-me que hoje a
identidade do professor está mais ligada à sua tarefa como um técnico que transmite alguma
coisa, mas que não sente que essa coisa, no caso o conhecimento sobre a aula, lhe pertence.
Não obstante as relações entre professor e aluno estão sendo norteadas pelo Código de Defesa
do Consumidor. Como um professor, que na maioria das vezes dá aula em duas ou três escolas
diferentes, sabe e sente a necessidade do aluno? Sequer sabe o nome do aluno. No meu tempo
de ginásio tínhamos uma disciplina chamada EMC – Educação Moral e Cívica; que, se não
estou enganado fora retirado da grade pedagógica das escolas nos últimos anos. Embora ache
que a moral e o civismo não deveriam ser ensinados em uma disciplina específica, mas no
âmago do planejamento pedagógico.
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os tais atos secretos do Senado, isso sem falar em termos já comuns aos nossos ouvidos como
corrupção, cassação, etc. Aliás, acho que eles devem achar que somos todos acéfalos, e será
que não o somos? Eles têm a “cara de pau” de dizer que está tudo dentro da lei e que esta
precisaria de regras mais claras que definam como gastar esse dinheiro. Como regras claras
“Vossas Excelências”! Cadê a ética, cadê o político virtuoso no qual acreditamos e demos
plenos poderes para nos representar? Aí é que vemos na prática e temos a certeza que a
política é o reflexo de sua sociedade, conforme o ditado popular: “Cada sociedade tem o
governo que merece” e essa é lamentavelmente a nossa sociedade, de um modo geral,
apodrecida pela cabeça, igual a peixe.
Com relação à Religião, talvez o que estamos vivenciando hoje não seja a busca da fé
pela fé ou através dela, mas a busca do sentido da fé. Pois a religião, concordemos ou não com
ela, dá uma ética, dá um sentido. As pessoas sentem a necessidade de acreditar em alguma
coisa. Se pararmos para analisar o Evangelho, para que melhor ensinamento das virtudes do
que a Bíblia. E nossa sociedade, de um modo geral, numa busca desesperada por salvações e
milagres se entrega a falsos profetas que oferecem “ajuda”, não obstante o número cada vez
maior de “Igrejas Universais” e templos ditos religiosos, principalmente naquelas localidades
onde a cabeça do peixe fede mais.
O que dizer dos nossos meios de comunicação, mais precisamente a TV, a qual poderia
ser o canal de comunicação da sociedade na luta para deixar o “peixe vivo”. O que vemos é
justamente o contrário, a materialização dos objetivos, o ter em vez do ser, a fama e a glória em
vez do mérito. Aliás, se observarmos bem os programas de TV observaremos que o espaço que
é dado à divulgação dos vícios e coisas que ruínam e desmantelam a sociedade é muitíssimo
superior ao espaço dedicado às ações virtuosas. Aqui vale lembrar Nocedal: “O vício é mais
visível que a virtude, porque o vício é vaidoso e a virtude é modesta”. Alguém já deve ter
assistido ao Big Brother. Já repararam que não há biblioteca na casa. Quem vence o Big
Brother? É o cara com um livro na mão ou a menina que fica na piscina e faz musculação? Aliás,
para participar desse tipo de programa, além de um contrato de confidencialidade, é necessário
assinar um outro que determina o que pode ser levado para dentro da casa. Entre os objetos, há
um limite para apenas dois livros.
A corrupção tem muito mais espaço que a ética, resultando que diariamente nosso
“cardume de peixes” é bombardeado com notícias, propagandas, programas que expõe as
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questões fúteis da vida em vez de enfatizar os valores, as questões de mérito, as virtudes do ser
humano e da nossa sociedade.
Obviamente que essas instituições não existem separadamente, elas coexistem. No meu
ponto de vista - que nada mais é do que a vista a partir de um ponto – a maioria das discussões
e debates que ocorrem na nossa sociedade diuturnamente estão nos levando a um futuro
totalmente sem norte - à toa - no que diz respeito a qual sociedade queremos. Enquanto não
tocarmos na ferida, que é a formação de uma sociedade com valores éticos, morais e virtuosos,
nada se resolverá. Pior, a dor se prolongará para as próximas gerações.
Por último, mas não menos importante, tenho a certeza de que a próxima batalha mundial
a ser travada nas próximas décadas será a Revolução Virtuosa, o resgate das virtudes, da
ética, da moral. E a cada batida do malho que desferramos nas nossas pedras tenho a sensação
que nem tudo está perdido, pois nestes tempos tão difíceis a única escola que reserva
milenarmente essas essências é a Maçonaria. Esta, cada vez mais tem e terá papel
fundamental nessa Revolução, principalmente na formação de cidadãos virtuosos. Como disse
certa vez o Poeta Cônego Januário da Cunha Barbosa – um dos baluartes da emancipação
brasileira: “Filha da ciência e Mãe da caridade, fossem todas as Instituições como tu, Santa
Maçonaria... e os povos viveriam uma nova idade de ouro... Mas, além disso, tenho eu aqui: A
escola que me ensina a moral e a virtude... O aperfeiçoamento interior que me traz a paz e a
alegria de viver...”
Portanto meus irmãos, após dar umas boas “malhadas” nessa pedra acabo entendendo
que precisamos ter esperança; mas esperança do verbo esperançar, e não do verbo esperar.
Porque a esperança que vem de “esperar” é pura espera, ao passo que quando proveniente de
esperançar significa se unir e ir atrás, não desistir, ou seja AGIR.
Bibliografia
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A M Alex Pandolfo
- Sponville, André C. (1999) - Pequeno Tratado das Grandes Virtudes - Ed. Martins
Fontes.
- Boff, Leonardo. (2006) – VIRTUDES para um outro Mundo Possível – Vol’s I,II e III. –
Ed Vozes.
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