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Índice
i. Introdução..................................................................................................................4
ii. Conclusão.................................................................................................................14
iii. Bibliografia...........................................................................................................15
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i. Introdução
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1. Relação existente entre a geografia e a religião
A Geografia da Religião embora tenha surgido nos últimos anos em âmbito académico e
científico, não é um novo ramo dentro do pensamento geográfico como se pensa. Isso se
dá pelo fato das primeiras correntes de pensamento, que foram contribuindo para a
criação da geografia como disciplina. Nesse processo, foram desenvolvidas questões
relevantes sobre o comportamento do homem no meio desencadeando de forma
indirecta, alguns conceitos na área de religião.
[...] por vezes, são compreendidas como saberes humanos diferentes, mas com
muitas relações harmónicas. Nesse quesito, existem duas formas que se
correlacionam: a religião normatiza o comportamento do homem em relação ao
espaço; e, por sua vez, o conhecimento geográfico proporciona capacidades
planejadas de actuação no mesmo espaço.
Geografia da Religião tem como objectivo principal estudar e avaliar o espaço das
diferentes denominações, abordando o papel do sagrado e do profano na organização
espacial. Assim, a junção de Geografia e Religião é viva, visível e totalmente positiva.
As pesquisas sobre a religião num campo geográfico vêm sendo desenvolvidas a passos
curtos, pois são mínimos os grupos de discussão sobre o mesmo. Destaco aqui as
pesquisas interdisciplinares do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER)
e no contexto específico da Geografia, as acções do Núcleo de Estudos em Espaço e
Representações (NEER), que mantém uma linha de pesquisa em Geografia da Religião,
bem como o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (NEPEC). Essas
pesquisas devem-se multiplicar em todo o país, todavia, sinto certa resistência por parte
dos geógrafos de irem além da análise funcional do fenómeno religioso, por insegurança
de tratar assuntos como fé, doutrina, dogma, divino, etc. É preciso entender que a
abordagem central da Geografia da Religião diz respeito ao ser humano como agente
modificador do espaço, acerca dos valores religiosos adquiridos, o que não é uma
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espécie de catequização ou doutrinamento. Por conta desta falta de grupos de pesquisas,
a Geografia da Religião não é bem vista nas universidades, nem mesmo como
disciplina, embora existam em algumas instituições a disciplina, propriamente dita,
como optativa ou não -obrigatória, o que, ao meu entendimento, é um grande avanço e
instiga as demais universidades à aderirem o mesmo.
Fazer Geografia da Religião, por mais difícil que pareça, é tarefa necessária para a
compreensão da sociedade, pois lida directamente com o homem e sua denominação
religiosa em relação ao espaço que vive. Reconhecer a religião apenas como sistema
simbólico ou como ideologia, segundo Gil Filho (2002) é subestimá-la no seu aspecto
mais legítimo e essencial: a sua sacralidade. Porém, aliando isso à Geografia,
desencadeamos outras análises, como a de “explicar o ser humano na sociedade e sua
acção positiva ou negativa no espaço”. Em suma, luto e prezo por uma Geografia da
Religião mais estudada e explorada nas universidades brasileiras, seja como disciplina
ou em grandes núcleos de pesquisa, fazendo assim, uma geografia mais rica e incisiva
na compreensão da sociedade.
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cronológico para compreender as bases que deram suporte a essa discussão e que
influenciaram directamente os estudos geográficos sobre a religião no contexto
brasileiro, apresentando posteriormente seu desenvolvimento, temas abordados e a
necessidade desse campo de investigação na contemporaneidade.
Não é nossa pretensão, no entanto, retomar toda uma discussão aprofundada sobre como
surgiram os estudos geográficos no campo da religião, mas realizar apontamentos que
julgamos necessários, no intuito de pensar questões pertinentes para entendermos quais
os campos investigativos que se consolidaram na geografia brasileira, com relação aos
estudos sobre geografia da religião e que tem crescido a cada ano, constatando que a
temática da religião não se apresenta como mero "modismo contemporâneo", mais se
inscreve em um campo fértil de investigação a cerca do fenómeno religioso e da
dinâmica espacial humana, atestando assim a sua emergência.
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1.2. Concepções de geografia e religião nas sociedades primitivas
Tomando por base essa reflexão é possível aferir que ao se ajustar ao ambiente
físico, desenvolvendo sua cultura e consciência, o homem primitivo começa a
estabelecer uma ligação entre o espaço que habita e a religião. É o ambiente físico
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natural e todo um conjunto de fenómenos naturais que vão atrair a atenção dos
primeiros sujeitos das sociedades antigas, para explicar e dar sentido a esse mundo
novo que se apresenta, surgem os mitos primitivos que se organizavam dentro de
uma cosmologia primitiva, nos próprios dizeres de Cassirer (2012).
A ideia aqui apresentada da transição entre o "homo faber sapiens", para o "homo
religiosus", parte da construção teorica do sistema cassireriano, que apresenta o homem
como ser simbólico, este estado o caracteriza como a superação da vida biológica. Essa
superação se deve a ruptura da ordem natural, pela qual o homem deve ser submetido.
Nesse sentido, a uma tomada de consciência, na qual o homem percebe que ele não vive
somente no universo dos fatos, mas, e sobretudo em um universo simbólico. A religião
apresenta-se nesse quadro compondo o universo pleno de significados que faz parte
indissociável da experiência humana (GIL FILHO, 2007). Ao superar o ambiente físico
na construção de práticas simbólicas, o homem vai buscando os significados da
existência, e é nesse contexto que se insere a religião como uma actividade humana, um
fenómeno da vida humana que se inscreve no espaço, ou seja, a religião como forma
simbólica.
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Desde o início, a religião teve de cumprir uma função teórica e uma função
prática [...]; responde à questões da origem do mundo e da origem da sociedade
humana, e deriva desta origem os deveres e obrigações do homem. Esses dois
aspectos não são claramente definidos; combinam-se e fundem-se naquele
sentimento fundamental [...] de solidariedade da vida. (Ibidem, 2012, p. 156).
Todo esse contexto por nós abordado até aqui sobre as primeiras relações entre espaço e
religião, ocorreram através das experiência diretas dos sujeitos das sociedades
primitivas com a construção de um sistema simbólico ao qual tanto o espaço, quanto a
religião faziam parte desse processo. Avançando adiante nessa compreensão, quando o
homem estrutura formas de tratar das diferentes questões que suscitaram em cada
período, estudos foram sendo elaborados, desse momento podemos falar de uma leitura
de geografia religiosa.
Partindo para o contexto no qual se inscreve o fim da Idade Média e o início da Idade
Moderna, ainda se fazia muito presente a orientação teológica, no entanto, esta noção
começava a dar margem uma nova visão de geografia, sendo esta caracterizada como
uma Geografia Eclesiástica "[...] que principalmente buscava mapear o espaço cristão
no mundo - visando sua organização - e descrever a influência de outras religiões - a fim
de auxiliar nas acções missionárias do próprio cristianismo" (USARSKI
apud PEREIRA, 2013, p. 19).
Nesse sentido, essa nova forma de se praticar geografia deu-se após a Reforma e a
Contra-reforma, juntamente com o processo de "conquistas" iniciadas com as grandes
navegações, essa nova concepção de geografia apresentou como o homem transformou
a Terra para fazer dela a sua morada, como apontada nas Escrituras Bíblicas Cristãs,
assim "A geografia torna-se uma ilustração do Gênesis. [...] A ideia de que a geografia
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tem o objectivo de mostrar como a palavra divina foi realizada explica o interesse que a
disciplina suscita nos meios intelectuais" (CLAVAL, 2014, p. 90-91).
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do ponto de vista de apresentar uma discussão sobre a religião, foi desenvolvida por
Pierre Deffontaines (1894-1978) que deu origem as monografias, no qual buscava
detalhadamente descrever a paisagem geográfica. Em sua obra Géographie et religions,
[...] aborda a geografia religiosa através das marcas que esta imprime nas
paisagens (igrejas, mesquitas, santuários, templos, cruz, etc.) pelos obstáculos
que ela impõe a certo géneros de vida (obrigação do jejum na sexta-feira,
interdição do álcool e do consumo de carne de porco, por exemplo), e pelos
géneros de vida que ela faz nascer (o dos padres ou monges). A religião não é
nunca tratada nela mesma. (CLAVAL, 1997, p. 91).
A mudança de paradigma pelo qual era vista as análises geográficas sobre os sistemas e
fenómenos religiosos tiveram um novo prisma a partir das décadas de 60, 70 e 80 do
século XX, graças ao florescimento de uma geografia cultural-humanista, que passou a
dedicar-se e dá atenção as questões religiosas pala visão fenomenológica religiosa.
Nesse período é fundada uma geografia da religião com um corpo teórico-metodológico
dedicado a compreensão dos fenómenos envolvidos no universo religioso geográfico.
"Esse novo prisma, de uma geografia humanista-cultural, tornou-se um dos caminhos
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por onde a geografia buscou romper o preconceito - no âmbito do positivismo lógico e
do estruturalismo marxista - com o tema da religião. (GIL FILHO, 2007, p. 209).
[...] um fenómeno religioso somente se revelará como tal com a condição de ser
apreendido dentro da sua própria modalidade, isto é, de ser estudado à escala
religiosa. Querer delimitar este fenómeno pela fisiologia, pela psicologia, pela
sociologia e pela ciência económica, pela linguística e pela arte, etc... é traí-lo, é
deixar escapar precisamente aquilo que nele existe de único e de irredutível, ou
seja, seu carácter sagrado.
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ii. Conclusão
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iii. Bibliografia
CLAVAL, Paul. As abordagens da geografia cultural. In: CASTRO, Iná Elias de. et.
al. (orgs). Explorações geográficas: percursos no fim do século. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil,
ELIADE, Mircea. Tratado de história das religiões. 2ª.ed. São Paulo: Martins Fontes,
2002.
KONG, Lily. Geography and religion: trends and prospects. Progress in Human
Geography. Cingapura, v. 14, n. 3, p. 355-371, set. 1990. Disponível em: . Acesso
em: 18 de abril de 2017.
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ROSENDAHL, Zeny. Espaço e religião: uma abordagem geográfica. 2ª.ed. Rio de
Janeiro: Eduerj, 2002.
WEBER, Max. Economia e sociedade. vol. 2. São Paulo: Editora Unb, 2004.
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