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O Projeto Vizinhança como espaço interdisciplinar emergente dentro

da UFPEL/Pelotas/Brasil: o Habitat como elemento integrador.


Dra. Nirce Saffer Medvedovski –
Projeto Arquitetônico e Urbanístico VII – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal de Pelotas – Pelotas, Brasil - nirce.sul@terra.com.br;
Arq. Angela Bosenbecker
Mestranda do Curso de Memória social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal
de Pelotas – Pelotas, Brasil – angela.bosenbecker@gmail.com.br
Arq. Mateus Coswig
Mestrando do PROGRAU – Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Pelotas – Pelotas, Brasil – mateus.coswig@gmail.com

Resumo
O objetivo do artigo é refletir sobre um projeto de extensão em curso, compartilhado entre as
diversas unidades da Universidade Federal de Pelotas e liderado pela Pró Reitoria de Extensão
e Cultura, focando nos aspectos contraditórios da construção desta experiência interdisciplinar
e buscando contribuir para uma melhor inserção da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
(FAUrb) no mesmo através do tema da habitação e do habitat social. A falta de integração
inicial entre as unidades universitárias, a segregação física do campus em relação ao entorno e
a ameaça de um processo de gentrificação são identificados. Por outro lado, o poder
congregador que o espaço está exercendo no planejamento das atividades de ensino e
extensão já são evidentes e a compreensão do espaço constituído como condicionante e
determinante dos processos sociais (BARRIOS: 1979), deverá orientar as ações da FAUrb e de
todo grupo participante. A experiência extensionista interdisciplinar poderá também encaminhar
uma alternativa de formação discente dentro da FAUrb que possa atender ao tema da
habitação de interesse social e aos objetivos do Programa de Assistência Técnica, voltado a
população de até 3SM e recentemente aprovado pelo governo federal brasileiro,
compartilhando múltiplos olhares sobre o tema da melhoria do ambiente construído para os
setores de mais baixa renda.

Introdução
Está é uma reflexão sobre a iniciativa de implantação de um trabalho interdisciplinar por
ocasião da constituição do novo campus da UFPEL na zona portuária de Pelotas. Trata-se de
um complexo de interesses, desde investidores de um shopping Center, da fundação
universitária que coordena as obras do novo Campus, dos interesses das unidades acadêmicas
que se implantarão no novo campus bem com das que atenderam o chamado da PROEC – Pró
Reitoria de Extensão e Cultura para participar do Projeto Vizinhança e, principalmente, dos
interesses da comunidade já residente.
O artigo está estruturado em tópicos que procuram retratar o atual contexto das ações de
Extensão no país e suas particularidades na constituição do novo campus da UFPEL e como
estes fatos resultaram numa oportunidade de experiência interdisciplinar no tema da produção
do habitat para populações em situação de pobreza. São estes os tópicos: 1. O contexto do
surgimento do Projeto Vizinhança na zona portuária de Pelotas; 2 Caracterização do entorno: o
bairro esquecido pela cidade; o novo plano diretor,a expansão da universidade pública, 3. A
experiência em curso: relatos da construção da interdisciplinaridade; como a arquitetura insere
o tema da Habitação e do Habitat Social na experiência interdisciplinar. 5. Conclusões: O
fomento da Extensão no Brasil: o Plano Nacional de Extensão – PROEXT. O tempo e o espaço
comuns. Ações interdisciplinares possíveis. O Programa de Assistência Técnica. Continuidade?

1 A origem do Projeto Vizinhança


Em meados de abril de 2009 a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, bem como as demais
unidades da UFPEL, é convidada pelo Pró Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) a participar
da organização de um projeto de extensão universitária a ser desenvolvido na região do novo
campus da UFPEL. Situado na região portuária, reciclando os prédios oriundos de um antigo
frigorífico inglês, o novo campus está em processo de implantação, com grande impacto sobre
o território vizinho, tendo num primeiro momento, se voltado de costas para seu entorno,
constituído de antigos loteamentos populares e de ocupações de baixa renda, numa área de
grande beleza e fragilidade ambiental.
Em agosto de 2008 é pré-inaugurado o bloco da Reitoria1, em meio a obras em andamento dos
prédios destinados às unidades acadêmicas e uma paisagem de acessos inacabados, como um
ato de afirmação da determinação da administração central de que o processo de constituição
do novo campus era irreversível. Em janeiro de 2009 se inicia a segunda gestão Cesar Borges
e a ocupação efetiva do Campus Anglo se dá a partir de fevereiro, após a posse do reitor em
seu novo mandato e a constituição de sua equipe.
Entretanto, entre os anos de 2005 e 2008 o projeto de implantação do novo campus não
desenvolveu nenhuma ação preventiva, somente contatos entre a reitoria e as lideranças locais
e associações de moradores, num sentido de tranqüilizá-los sobre o risco de uma possível
remoção. Nenhum Estudo de Impacto de Vizinhança é demandado pela Prefeitura Municipal à
Universidade Federal ou à Fundação que efetua a gestão das obras. Ao contrario, a mudança
da universidade para o Porto, mais a possibilidade de trazer com ela a construção de um
shopping privado,como explicitaremos a seguir, é saudada pelo poder municipal como uma
benesse.
A situação das obras evidencia o descompasso entre as intenções anunciadas em 2005 pelo
reitor por ocasião da compra da área de 40 mil metros quadrados do antigo frigorífico e a
situação atual. Declarava naquela ocasião o reitor Cesar Borges: "Iremos desenvolver ações
positivas junto àquelas ocupações, no sentido de melhorar a qualidade de vida daquelas
populações". Com o início das atividades acadêmicas e administrativas no novo campus, é
construído um muro opaco ao longo de uma via projetada, separando o terreno do campus do
contato com o tecido urbano já existente; a área aberta dos campos de futebol da comunidade é
ocupada com o entulho das obras (Fig. 1 e 2)
No mesmo ano de 2009, a Faculdade de Enfermagem, ao confirmar seu deslocamento para o
Anglo, inicia uma ação de reconhecimento das demandas da população do entorno e de
interação com a Secretaria Municipal da Saúde para desenvolver suas aulas práticas no
“postinho” de saúde da Balsa. Sua diretora é chamada pelo reitor, juntamente com o setor de
extensão da universidade que entende ser necessária uma imediata interação da universidade
com o seu entorno.

1
Ver reportagem: Cidade: UFPel anuncia liberação de verba para compra do Anglo.
http://www.diariopopular.com.br/14_05_05/ag130503.html. Acessado em 08/06/2009
Figura 1: Fotos do Muro ao longo da futura ampliação da Figura 2: Fotos de entulhos depositados
Rua Raul Correa separa o Campus do entorno. no terreno baldio antigo potreiro do
frigorífico.

É definido o Programa de Integração e Desenvolvimento Social Sustentável - PIDS que tem por
objetivo apresentar a proposta preliminar da estratégia de ação a ser implementada pelo
Departamento de Extensão e Treinamento – DEXT e o Departamento de Arte e Cultura – DART
da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura para os próximos 4 (quatro) anos. Seu objetivo é assim
enunciado:
...”nortear as atividades de Extensão da UFPel através de um processo de integração
das diferentes áreas do conhecimento e das unidades executoras das atividades
acadêmicas, com vista a formar competências capazes de considerar e responder aos
anseios da comunidade externa.” 2
Entre vários objetivos específicos o PIDS enuncia sua ação devera “...partir da visão de
interdisciplinaridade e interfuncionalidade” e da “interdependência dos aspectos sócio-
político-econômico-ecológico” 3. Suas ações não se limitam ao entorno do Campus Anglo,
compreendem outros campi já previamente existentes, como o da Saúde, e também ações
extensionistas já em desenvolvimento como o do Loteamento Ceval e junto aos municípios
onde a UFPEL atua.

Metodologia:
O Programa propõe sua operacionalização através da formação de “núcleos de apoio, os
denominados NIDS - Núcleo de Integração e Desenvolvimento Social, com espaço físico
pertencente à Universidade ou às comunidades ou instituições parceiras e uma infra-estrutura
flexível. Cada núcleo terá Grupos de Trabalho (GT) definidos em função da demanda das
comunidades e de propostas das Unidades Acadêmicas. Sua atuação está pautada por temas
já previamente definidos e considerados prioritários pela política de extensão da PREC.
 Geração de trabalho e renda;

2
Programa de Integração e Desenvolvimento Social Sustentável – Pró Reitoria de Extensão e Cultura - PIDS/PROEC/UFPEL.
Versão 07/05/09. Documento eletrônico. Pg.5
3
Identificamos aqui dois temas que a Rede ULACAV busca focar a discussão neste XV Encontro: o tema da interdisciplinaridade e
o da produção social do habitat.
 Educação sanitária e ambiental
 Organização e desenvolvimento comunitário
 Saúde
 Educação
 Lazer e cultura
 Infra-estrutura e equipamentos urbanos
A proposta é que cada GT seja constituído por docentes, técnicos administrativos e discentes
das áreas de formação e suas competências (Unidades Acadêmicas) e sua atuação ocorra “a
partir da visão da “indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão e com base
na interdisciplinaridade e interfuncionalidade.” Identificamos que o documento é omisso sobre
como se dará a participação da população local no mesmo. Nos objetivos da formação dos
NIDS o texto aponta para o planejamento conjunto com a comunidade e do respeito a sua
decisão sobre as atividades ou ações a serem desenvolvidas:
“Na integração com a comunidade, a estratégia proposta deve contemplar a realização
de um diagnóstico que considerem todas as necessidades de informações para um
planejamento de ações em conjunto com a comunidade com vista a se conhecer a
realidade local. (...) A tomada de decisão sobre as atividades ou ações que deverão ser
implementadas e os critérios de priorização, caberá a própria comunidade e não ao
agente externo (Universidade), porém, nada impede que a universidade possa sugerir
ações ou alternativas, desde que as mesmas sejam avaliadas e validadas pela
comunidade.”( pag.11).
Segundo ainda ao documento, os membros dos GTs serão indicados pelas áreas de
competência (Unidades) e cada GT será composto por um coordenador definido por ato de
criação do GT e de um relator a ser indicado pelos membros do grupo. Propõe uma dinâmica
democrática interna onde “Os documentos e proposições produzidos ou recebidos pelo GT
deverão ser apreciados e aprovados pela maioria dos seus integrantes”(pag. 12).
Entretanto, não há menção de representação da comunidade nos grupos operativos, que são
os GT, e tampouco nos Núcleos, que constituem as unidades decisórias. O método do trabalho
está em “suspenso”, pois o texto não esclarece sua base conceitual. O documento do PIDS ora
oscila para uma linguagem participativa, nos moldes de pesquisa-ação (THIOLLENT:2000) , ora
para uma linguagem extremamente operacional, com foco nas relações com o setor produtivo
local e da micro região4. O documento demonstra preocupação na operacionalização de suas
ações com a busca de interdisciplinaridade para a formação de um novo conhecimento,
embasado em paradigmas diferentes dos que a universidade constrói sua prática hoje. A
comunidade (externa a universidade) é vista como geradora de um “outro tipo de conhecimento”
que deve ser escutado, conhecido. Entretanto o tema da participação desta mesma
comunidade nas instancias não é previsto no PIDS.
Há uma proposta da coordenação do Departamento de Extensão e Treinamento – DEXT, de
reunir representantes das diversas unidades acadêmicas e que estes elaborem o marco teórico
referencial. O processo está se construindo sem maior clareza destes elementos, o que torna
confusa a entrada em campo e os contatos com a população do entorno.

4
Entre os objetivos específicos do PIDS temos: “...Desenvolver projetos e ações que garantam a agilização do desenvolvimento e
transferência de tecnologias para o setor produtivo geradas pela UFPel; Ampliar a integração entre a Universidade e as instituições
públicas e privadas com vistas a se obter uma interação direta com o setor produtivo;Dotar a universidade de instrumentos que
possibilitem uma maior integração com a comunidade e ao setor produtivo através do desenvolvimento de projetos específicos,
prestação de serviços, treinamento e educação continuada de pessoal. Participar e promover diálogos-chaves sobre os negócios,
no âmbito local, regional, nacional e internacional;...”. PIDS/PROEC/UFPEL. Pg. 7
Esta proposta de operacionalização dos Núcleos e Grupos de Trabalho é ainda um modelo em
discussão. Foi recentemente entregue aos membros já atuantes do NIDS PORTO e será
enviada às unidades acadêmicas para implementar o Programa de Integração e
Desenvolvimento Social Sustentável - PIDS da UFPEL. A experiência de extensão universitária
na zona portuária propõe em seu cronograma momentos de avaliação e será o marco
referencial para montagem de ações da UFPEL em outros núcleos. Como a estrutura esta
ainda bastante frágil e aberta, entendemos que poderá ser conduzida para uma verdadeira
experiência de integração com a comunidade local e não somente como um instrumento de
“apaziguamento” destas relações pela falta de um plano estratégico de aproximação da UFPEL
com esta comunidade.
Destacamos que o foco da ação em uma delimitação territorial e uma dada população é uma
das características do PIDS. Somente uma de suas ações é temática e não territorial. Propõe
integração com o setor produtivo local, nos temas de capacitação de mão de obra e geração de
emprego e renda. O tema da capacitação de mão de obra ultrapassa a dimensão de um bairro
ou setor da cidade: trata dos meios de produção característicos da cidade e sua micro região de
influência. Por vezes o ensino e aprimoramento das capacidades necessárias para
determinadas atividades produtivas não pode ser realizado na dimensão do bairro ou setor da
cidade. Trata-se de coordenar as ações dos núcleos (NIDS) de caráter territorial Local e dos
relacionados às atividades produtivas de forma que mutuamente se apóiem5.
Cabe descrever sucintamente qual o território e qual a população abrangida pelo Projeto
Vizinhança.

2 Caracterização do entorno: o novo momento do bairro esquecido pela


cidade e os desafios para o projeto de qualificação do habitat
A área em estudo neste trabalho está muito ligada às origens da cidade. A história da atual
cidade de Pelotas tem seu início no final de Mil e Setecentos, com a implantação de
estabelecimentos de salgar carnes, situadas no encontro do arroio Pelotas com o canal São
Gonçalo. Hoje ainda resistem à ação do tempo os prédios de treze sedes destas charqueadas,
sendo que três estão situadas ao longo do Canal São Gonçalo: a escola municipal de primeiro
grau Ferreira Vianna6, antiga charqueada José Gonçalves Calheca; a Casa de Línguas e a do
barão de Santa Tecla. O frigorífico Anglo tem sua origem em 1924 quando encampa o frigorífico
Rio Grandense construído em 1917, na margem esquerda do arroio Pepino, a antiga salga que
deu origem ao primeiro frigorífico de capital nacional.
Este antigo frigorífico fazia até bem pouco tempo parte do acervo de imóveis ociosos da área
portuária e ferroviária da cidade. Da mesma forma que o antigo frigorífico da Cooperativa
Sudeste de Carnes preservou em seu entorno grandes espaços que antes eram destinados a
permanência do gado. O antigo Frigorífico Sudeste possui parte de sua área inclusa na
ocupação da Balsa. Esta ocupação se forma ao longo da Rua Tiradentes, antes caminho para a
travessia de Rio Grande, e também sobre as obra do dique ali construído.
Esta área apresenta em suas dimensões material e imaterial um contexto de especial
significação. A maioria de seus elementos construtivos não apresenta caráter excepcional ou

5
O sindicato da construção civil local iniciou, em parceria com a escola técnica local cursos de capacitação em técnicas de restauro
e construção voltadas aos prédios de patrimônio histórico. Este tipo de curso não atende unicamente a uma demanda de bairro,
mas sim de cidade ou região.
6
É a escola da ocupação da Balsa que está localizada ao lado do novo Campus da UFPEL que ocupa o Antigo Frigorífico Anglo.
monumental. Refere-se mais ao valor do ambiente gerado pelo espaço urbano do que a uma
soma de objetos arquitetônicos ou artísticos isolados.
Os grandes remanescentes de edificações industriais, costurados por um tecido urbano de
construções modestas, apresentam características particulares conferidas pelos contrastes
entre os dois tipos de volumetria.
No que se refere em patrimônio cultural imaterial, a relação homem-água agrega um conjunto
de saberes ligados a atividades fluviais e marítimas que constroem identidades próprias e
especificas do lugar.
Zona Fabril com ocupações irregulares, loteamentos operários e área de pescadores localizada
junto ao Canal São Gonçalo, basicamente são um entorno com infraestrutura e habitação
precária (Figura 3).

Figura 3: Fotos da área de ocupação dos pescadores junto ao São Gonçalo, infraestrutura e habitações
precárias nas ocupações.

De acordo com o III Plano Diretor da Cidade esta área está inserida no sistema de territórios7
na macro-região de planejamento denominada São Gonçalo, na meso-região SG.3 e micro-
região SG3.3 denominada BALSA. Esta micro região é formada pela área adquirida pela UFPel
para criação do CAMPUS Anglo (antigo Frigorífico Anglo) e pela ocupação da Balsa e ocupação
Anglo.
Quanto ao zoneamento, a ocupação da Balsa e Anglo estão inseridos no sistema temático das
áreas Especiais de Interesse Sócial8. As Áreas Especiais de Interesse Social são porções de
território do Município, destinadas prioritariamente à recuperação urbanística e ambiental, à
regularização fundiária e à produção de Habitação de Interesse Social (HIS).
De acordo com o art. 88 as Áreas Especiais de Interesse Social deverão atender as seguintes
diretrizes:
“I - Adequar a propriedade do solo à sua função social;
II - Evitar a expulsão dos seus moradores, mediante a utilização de instrumentos
jurídicos e urbanísticos próprios;
III - Integrar à cidade os assentamentos habitacionais de baixa renda, promovendo sua
regularização jurídica, urbanística, técnica e ambiental;

7
O Modelo Espacial do III Plano Diretor de Pelotas contém as indicações gerais para a ocupação e uso do território municipal, e é
formado pelo sistema de territórios e o sistema temático. O Sistema de Territórios organiza o planejamento do município, partindo
da identificação dos seus limites, já definidos em leis, adotando um sistema orgânico de gestão e desenvolvimento.
8
Conforme o III Plano Diretor de Pelotas o Sistema Temático define as Áreas Especiais de Interesse, em face de suas
características e interesses públicos delas decorrentes, para serem objeto de tratamento especial, através de definição de normas
de ocupação diferenciada, e criação de mecanismos de gestão para desenvolvimento das ações necessárias.
IV - Propiciar a recuperação ambiental de áreas degradadas ocupadas por população
de baixa renda;
V - Prover a oferta de equipamentos urbanos e comunitários, espaços públicos, serviço
e comércio de caráter local;
VI - Fomentar a utilização dos vazios urbanos localizados no Município para programas
habitacionais, de modo a ampliar a oferta de terra para a moradia da população de
baixa renda;
VII - Promover a manutenção e melhoria de HIS, incluindo a recuperação de imóveis
degradados;
VIII - Propiciar a geração de trabalho e de renda para seus moradores.
IX - Não expor os assentados a riscos ambientais.”
O estabelecimento de AEIS no plano diretor permite a aplicação de regras urbanísticas próprias
àquele trecho do território da cidade, favorecendo a incorporação da cidade ilegal à cidade
legal, bem como a possibilidade de práticas do desenho urbano com instrumentos do Estatuto
das Cidades (concessão real de uso, usucapião urbano, entre outros) adotado no Plano Diretor.

Figura 4: Imagem do Google Earth Figura 5- Relação das unidades que virão para o
Campus Anglo: Letras, Turismo, Nutrição,
Museologia, Administração, Centro de Informática.
LEGENDA
MICRO-REGIÇAO
FÁTIMA
UFPEL / SHOPPING

MICRO-REGIÇAO
AMBRÓSIO BARRAGEM
MICRO-REGIÇAO PERRET
BAIXADA
OCUPAÇÃO DA BALSA-AEIS I

OCUPAÇÃO ANGLO-AEIS I

MICRO-REGIÇAO AEIS III


MICRO-REGIÇAO BALSA
PORTO

AEIS II

AREAS IRREGULARES

CANAL SÃO GONÇALO AREAS PARA REMOÇÃO

ANTIGO FRIGORÍFICO ANGLO

Figura 6: Diretrizes do III Plano Diretor de Pelotas AEIS e zoneamento dos usos da área do antigo
Frigorífico Anglo
A figura 6 nos evidencia que o entorno do Campus Anglo, as duas micro regiões da Balsa e da
Ambrosio Perret são quase que totalmente demarcadas pelo novo Plano Diretor como AEIS,
seja para a regularização técnica, fundiária e urbanística das já existentes (AEIS tipo I), seja
como futuras áreas para habitação de interesse social (AEIS tipo III). Também a área possui um
antigo loteamento operário e áreas pertencentes às massas falidas dos antigos frigoríficos.
Estas áreas são o reflexo da falência dos grandes frigoríficos, da mudança da matriz de
transporte de cargas (ferroviária e hidroviária para a matriz rodoviária), bem como do
deslocamento das atividades econômicas da cidade para norte da cidade, mais próximo das
rodovias.
Essa realidade hoje, que une a construção do CAMPUS Anglo e um Shopping, com a
Universidade já parcialmente em funcionamento e com as demolições do shopping
praticamente concluídas, não contou até o momento com um trabalho de inserção na
comunidade local. Parte da área do antigo Frigorífico Anglo foi comprada em 2005 pela
Universidade com recursos de um programa do Governo Federal de ampliação das
universidades públicas9 e parte desta também foi adquirida para construção de um condomínio
fechado para habitações já executado e outro que ainda será executado. Parte significativa do
terreno foi adquirida para instalação de um shopping (conforme informações de projeto
aprovado junto a Prefeitura Municipal de Pelotas).
Os conflitos são identificados a partir do momento em que estas atividades passam a ocupar
áreas livres do antigo Frigorífico usadas pela população local para campos de futebol e
atividades festivas. O entulho das demolições depositado nestas áreas antecipa o aterro para o
futuro estacionamento do shopping. Ainda existe a possibilidade de jogar futebol onde será
executado mais um condomínio residencial (Figura 7). Foram adotados muros cegos como
soluções de fechamento entre a Universidade e a ocupação da Balsa e também entre o
Condomínio residencial e a ocupação da Balsa. Estes muros, mesmo que temporários,
parecem deixar claro o fechamento e isolamento em relação a comunidade da Balsa (Figura 8).

Figura 7: Realização de jogos em terreno de futuro Figura 8: Muros cegos ao longo da divisa com o
condomínio residencial e ao lado de condomínio sistema viário.
existente.

9
DECRETO Nº 6.096, DE 24 DE ABRIL DE 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais – REUNI. http://reuni.mec.gov.br/ Acessado em 05/06/2009.
As 150 unidades do condomínio destinam-se (95%) aos funcionários da UFPEL, que auferem
salários bem acima da renda média da população já residente. O segundo condomínio
residencial a ser executado, com 80 unidades, já está em vendas, com valores mensais de
prestação somente acessíveis para mais de 2,5 salários mínimos, mesmo como o elevado
subsídio do novo programa habitacional do governo Lula “minha Casa, Minha Vida10.
Assim um novo contingente de moradores se insere no contexto do bairro, num curto período
de tempo, bairro que não recebia nenhum novo empreendimento de vulto há mais de 25 anos.
Dispondo de salão de festas, estacionamentos, quadra esportiva e playground, seus espaços
condominiais contrastam com a pouca qualificação do entorno. Um dos líderes comunitários
declarou, olhando estes espaços através da tela de cerramento lateral: “como vai ser? As
crianças daqui vão ficar olhando as outras brincando e as do lado de cá (da cerca) Nada!!!”

Figura 9: Foto do playground do conjunto Figura 10: Ao fundo conjunto habitacional com
habitacional. playground fechado.

O Shopping também anuncia uma futura gentrificação11. Em seu site na internet enumera as
vantagens locacionais da vista a beira do canal São Gonçalo. O projeto da primeira fase de seu
estacionamento é de grande impacto, ocupando as antigas áreas livres do frigorífico
apropriadas pela comunidade. Estima-se que na meso-região residam cerca de 85.000
pessoas. Apesar da existência de campos de futebol ocupando terrenos de outras áreas
industriais abandonadas, não há nenhum parque público atendendo a população nela
residente12.

10
.O Programa Minha Casa, Minha Vida visa simultaneamente estimular o setor da construção civil abalado pela crise financeira de
2008 e atender ao déficit populacional das rendas mais baixas com a construção de 1 milhão de casas. Nos imóveis abaixo de R$
80.000,00 o subsídio é de R$17.000,00. Para o empreendimento citado , o preço passa de R$47.000,00 para R$ 30.000,00 em até
360 meses
11
GENTRIFICAÇÃO: Trata-se da substituição da população residente ou que utilizava uma determinada área da cidade, a partir de
intervenções do mercado ou do poder público. Ressalta-se que, com a nova atratividade exercida pelas edificações antigas
existentes ocorre um processo de valorização da área, o que leva à substituição da população local por outra de maior poder
aquisitivo que pode bancar o alto custo dos imóveis e serviços que se instalam na região, provocando a expulsão dos mais pobres.
12
http://www.portoshoppingpelotas.com.br.. Acessado em 08/06/2009
Figura 11: Imagem futuro shoping/UFPel - retirado da home Page
http://www.portoshoppingpelotas.com.br/

E este é o nosso desafio: trabalhar com a população que tem problemas de infra-estrutura e
qualidade de habitação, a falta de espaços físicos para equipamentos públicos, conflitos e
questões ambientais (ocupação do dique do São Gonçalo por catadores de lixo (papeleiros),
instalações precárias para cerca de 250 pescadores junto à beira do canal, aterros irregulares
da população ribeirinha com lixo). É neste contexto que a Arquitetura deve direcionar seus
trabalhos, apontar quais seriam as competências a serem desenvolvidas e como trabalhar em
conjunto com outras competências com um objetivo comum. Seu conhecimento sobre as
características físico-territoriais do entorno, aliado ao conhecimento dos instrumentos
urbanísticos do Estatuto da Cidade, mais o domínio de ferramentas de desenho e de imagens
associadas a banco de dados (GIS) podem ser suas principais contribuições, sem descuidar do
aporte teórico.
É uma oportunidade da Universidade como um todo de trabalhar com a interdisciplinaridade em
questões como educação ambiental, saúde pública, engenharia sanitária, resgate da memória
das comunidades e dos bairros populares, qualificação dos espaços públicos.

3. A Experiência em curso: o NIDS ANGLO.


Durante o mês de abril deste ano foram realizadas reuniões para discutir a composição do
grupo de trabalho que levaria adiante a ação extensionista no entorno do novo campus, seus
objetivos e estratégias de planejamento das ações a serem desenvolvidas. O grupo foi
ampliado, incluindo o Departamento de Cultura da PREC, professores da Faculdade de
Nutrição, da Faculdade de Administração, da Química de Alimentos, da Engenharia Agrícola e
da Fac. Odontologia. O programa, denominado Vizinhança passou a ser coordenado pela
Faculdade de Enfermagem, pela sua maior aproximação com a comunidade liderança13.

13
KANTORSKY, Luciane. Programa Vizinhança- Revitalização do Campus Porto da UFPEL. Pelotas. Universidade Federal de
Pelotas, 2009. Apresentação multimídia.
Foram realizados os seguintes encaminhamentos pelo grupo inicial: estabelecimento de um
cronograma de visitas a serem realizadas às lideranças da comunidade; envio de
correspondência às demais unidades acadêmicas solicitando a indicação de um representante
para participar do Programa Vizinhança. Também foi decidido elaborar um instrumento para o
diagnóstico social da comunidade e a busca de editais abertos para financiamento para projetos
de desenvolvimento comunitário.
Respondendo ao chamado da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura para participar do Projeto
Vizinhança a Faculdade de Arquitetura divulgou o projeto entre seus professores, solicitando
sua adesão. Três professores, de um corpo docente de 30 professores manifestaram interesse,
todos envolvidos com o tema da habitação de interesse social. Não foi possível a participação
nas primeiras reuniões, tendo aderido ao processo já em andamento.
Nossa adesão ao projeto buscou manter a tradição extensionista da FAUrb e contribuir com os
conhecimentos específicos da formação profissional do arquiteto e urbanista sobre a
qualificação do espaço urbano e da habitação de interesse social.
Nossa primeira avaliação do Projeto Vizinhança foi de descrédito. Depois de 4 anos de ações
pontuais, de quase inatividade (desde a compra do terreno) havia uma pressa da
administração central de “entrar em campo” e uma preocupação de evitar possíveis conflitos
com a população vizinha.
O coordenador do Departamento de Extensão, ao ser argüido de como trabalharíamos a
interdisciplinaridade no levantamento de dados para um reconhecimento da realidade local,
respondeu que cada unidade trouxesse os seus projetos de extensão, sua prática e que,
“...posteriormente iríamos buscando uma integração”. Iniciamos a participar das reuniões
semanais, ainda descrentes dos resultados, receosos que o projeto ficasse uma “colcha de
retalhos” de projetos de extensão parciais e que a departamentalização da universidade
brasileira se refletisse diretamente no Projeto.
A prática mostrou uma nova realidade. Os participantes da equipe passaram a se reunir em
uma sala no novo Campus, num dos prédios ainda em construção, constituindo o Núcleo de
Integração e Desenvolvimento Social-NIDS-ANGLO. Foi montada uma pequena secretaria de
apoio. Passávamos a ter um espaço comum. A coordenação repassou aos membros as
informações já coletadas junto às lideranças da comunidade organizada e junto a escola e ao
posto de saúde, ambos de competência municipal.
Uma primeira aproximação entre os novos colegas e a apresentação de suas visões sobre a
contribuição de sua área de conhecimento para o projeto foi realizada. Foi solicitado a
Arquitetura que trouxesse informações sobre os limites físico-territoriais para auxiliar a equipe
na definição mais precisa da área de atuação do projeto. Sugerimos que, vista a recente
aprovação do Plano Diretor Municipal, fossem compartilhadas as informações relativas ao
modelo territorial para região em estudo, planejamento do uso do solo, sistema viário, áreas
especiais de proteção ambiental e áreas especiais de interesse social (AEIS).
Esta é uma tarefa que está em curso, onde a Arquitetura esta coletando informações
secundárias (levantamentos de infra-estrutura, equipamentos sociais urbanos (creche, escola,
unidade básica de saúde, etc) realizados por ocasião do III Plano Diretor de Pelotas. Uma das
informações coletadas é sobre as microrregiões de planejamento, que está auxiliando a definir
os limites da área de atuação do Projeto.
O primeiro momento de efetiva interdisciplinaridade ocorreu na reunião com a diretora da escola
e os representantes da equipe nas áreas de arquitetura e urbanismo, enfermagem, agronomia,
odontologia, museologia e memória e patrimônio e administração.
A diretora solicita apoio para a instalação do Laboratório de Informática, pois a escola recebeu
dez computadores e precisam de ar condicionado na sala. O tema provoca varias futuras
ações, como a presença do curso de Informática para a inclusão digital, a Arquitetura para
resolver a instalação do equipamento num prédio patrimoniado, a necessidade de reativar as
ações de preservação da memória da escola, cujo prédio foi a primeira charqueada de Pelotas.
Este fato suscitou uma demanda da direção para uma assessoria relativa a pintura do prédio
histórico que levasse em conta sua particular história.
Seguindo a apresentação das atividades extensionistas de cada unidade acadêmica, um novo
“foco” de ações interdisciplinares se formou: focada na pré-escola foram propostas as seguintes
ações: horta das cores (“as cores nascem na natureza”), iniciativa da professora de artes,
oficinas de alimentação, resgate de hábitos alimentares; oficina de higiene bucal (odontologia +
nutrição), compostagem do lixo orgânico com criação de minhocários (agronomia + educação
ambiental da administração) qualificação do entorno da escola: escoamento pluvial, lixo,
esgotamento sanitário e mobiliário urbano (arquitetura + engenharia ambiental+ educação
ambiental)
Após esta reunião de construção de uma integração maior da escola com a UFPEL,
questionamos juntamente com colegas da enfermagem e nutrição o porquê não se realizavam
na UFPEL mais trabalhos interdisciplinares. A duvida me antecipei a responder: é porque
temos agora o mesmo espaço e o mesmo tempo. Evidenciamos o poder aglutinador do tempo e
do espaço. Como já colocava Sonia Barrios em 1976 ao discutir o espaço como instrumento de
mudança social:
“Embora em seu aspecto mais evidente - ou seja, o físico - o espaço transformado tenda
a obscurecer o papel fundamental de reprodutor material de uma ordem social, as
grandes vantagens oferecidas pela ótica espacial, do ponto de vista da ação política,
justificam a imperiosa necessidade de ultrapassar as interpretações meramente
fenomênicas acerca desse espaço. Uma das vantagens é que a base territorial, os fatos
urbanos e arquitetônicos e os objetos de consumo constituem o marco material da vida
social. Como tal, colocam os problemas elementares enfrentados pelos homens em sua
vida cotidiana e aos quais devem fazer frente antes de iniciar qualquer ação em outra
esfera da atividade social. Só esta circunstância - o imperativo da sobrevivência - é
suficiente para pôr em seus justos termos a relevância da problemática espacial
enquanto peremptoriedade das soluções que reclama. (...) A outra vantagem do enfoque
espacial é a de proporcionar um nível operacional para as práticas políticas em sua
qualidade de dimensão integradora dos processos sociais.”

4. CONCLUSÕES
Cabe dizer que o tema da extensão na UFPEL e na Universidade Brasileira foi relegada até
recentemente a um segundo Plano. A excelência acadêmica sempre esteve ligada à Pesquisa,
sendo os seus órgãos de fomento (federal e estaduais) poderosos parceiros na indução das
ações universitárias, definindo através de editais e da dotação de recursos, os rumos da
pesquisa no país. O tema da interdisciplinaridade vem aparecer na universidade brasileira como
tema da esfera do pós-graduação, onde a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, seu organismo coordenador, possui um comitê especifico para tratar
de mestrados interdisciplinares que não encontravam abrigo em outras esferas do
conhecimento.14
Para Héctor Ricardo Leis, coordenador do Coordenador do Laboratório de Estudos
Transdisciplinares em Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, é preciso mudar a estrutura da
Universidade para conseguir bons programas interdisciplinares. “Temos na Universidade
brasileira uma camisa-de-força, que tem um nome: departamentos”15. E este não é unicamente
um problema da pós-graduação, é uma estrutura rígida que perpassa todas as atividades da
universidade.
O que vemos é que, para o caso da pós-graduação, o espaço da interdisciplinaridade está
ocupando “brechas”, se infiltando aos poucos entre estruturas já consolidadas. Na extensão o
sistema ainda é mais fluido, pela falta de tradição de financiamento público às atividades
extensionistas. Poderemos montar algo mais dinâmico? Será possível trazer para o cotidiano
das disciplinas como já o fazem algumas faculdades? Igualmente temos que sediar a disciplina
em alguma estrutura acadêmica e se continuamos numa estrutura departamental, em algum
departamento que tome a paternidade da iniciativa. O trâmite para aprovar uma disciplina
ofertada simultaneamente por mais de um curso não esta disponível no DRA – Departamento
de Registros Acadêmicos e a contagem de relação professor/aluno recomendada pelo MEC
também é contrária a esta proposta.
O documento do PIDS questiona o modelo departamental, mas não propõe como rompê-lo
“Promoção do debate que vise implantar a gestão organizacional baseada em projetos e
em modelo de processos de modo a privilegiar os fluxos de trabalho e não a estrutura
departamental;...” (Pag. 22)
Este rompimento dos “diques” dos departamentos e do corporativismo das profissões é um
desafio que ultrapassa as ações dos projetos de extensão dentro da universidade. Mas “os
espaços institucionais” ocupados por estes projetos de extensão inovadores, podem criar
“espaços concretos” e com isso propiciar novos “espaços de ação” em que a
interdisciplinaridade seja a prática cotidiana.

Sintetizando, entendemos que o Projeto Vizinhança, como espaço interdisciplinar emergente


apresenta como:
Debilidades: os conflitos de interesse entre o Shopping, a UFPEL e a comunidade; a
segregação espacial; a possibilidade da gentrificação; a ação extensionista como o “lado mais
fraco” da universidade, a falta de um marco teórico comum; o restrito número de estudantes
que podem vivenciar a interdisciplinaridade no atual sistema acadêmico, a falta da
institucionalização da interdisciplinaridade.
Fortalezas: as outras unidades descobrem o “poder do espaço” de revelar os conflitos sociais;
o estar no mesmo tempo e espaço fortalece a interdisciplinaridade; a falta de regras rígidas
propicia um espaço aberto à experimentação de metodologias comuns; o início da
institucionalização: o apoio governamental com recursos para projetos de extensão.

14
O Mestrado de Memória Social e Patrimônio Cultural, criado na UFPEL em 2007 em conjunto pelo Instituto de Artes e Design,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Conservatório de Musica, Curso de História do ICH, tem abrigo junto a este comitê
Interdisciplinar. São apenas 301 programas e cursos na Grande área Multidisciplinar da CAPES sobre um total de 2378. Dentro da
Grande Área os Interdisciplinares são 251. Dados de 04/0-5/2009. Site da CAPES. Ver:
http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarIes&codigoArea=90100000&descricao
Area=MULTIDISCIPLINAR+&descricaoAreaConhecimento=INTERDISCIPLINAR&descricaoAreaAvaliacao=INTERDISCIPLINAR.
15
http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=2730. Acessado em 14 e junho de 2005.
Finalizando cabe comentar das novas alternativas de institucionalização da extensão
interdisciplinar em termos da continuidade dos recursos e da de gestão. O MEC Ministerio da
Educacao e Cultura está na sexta edição do ProEXT – Programa de Extensão Universitaria16.
O PROEXT 2009 – MEC/SESu é um instrumento que abrange programas e projetos de
extensão universitária, com ênfase na inclusão social, visando aprofundar ações políticas que
venham fortalecer a institucionalização da extensão no âmbito das Instituições Federais e
Estaduais de Ensino Superior e tem como objetivos17:
“1.1.1 dotar as instituições federais e estaduais de ensino superior de melhores
condições de gestão de suas atividades acadêmicas de extensão para os fins prioritários
enunciados nesse programa;
1.1.2 apoiar as instituições federais e estaduais de ensino superior no desenvolvimento
de programas e projetos de extensão, conforme o enquadramento da instituição, que
contribuam para a implementação de políticas públicas;
1.1.3 potencializar e ampliar os patamares de qualidade das ações propostas,
projetando a natureza das mesmas e a missão das instituições de ensino superior
públicas.
1.1.4 estimular o desenvolvimento social e o espírito crítico dos estudantes, bem como a
atuação profissional pautada na cidadania e na função social da educação superior;
1.1.5 contribuir para a melhoria da qualidade de educação brasileira por meio do contato
direto dos estudantes com realidades concretas e da troca de saberes acadêmicos e
populares.”
O valor total do Edital do PROEXT 2009 – MEC/SESu é de 19,2 milhões de reais (cerca de
U$10 milhões). Isto destina para cada universidade pública de 300 a 400.000 reais. Pouco
frente ao montante de recursos destinado aos editais de pesquisa no país18.
Sabemos das limitações de uma experiência que não esta institucionalizada e depende dos
planos de ações das administrações das universidades para o curto período de suas gestões.
Mas o momento do país é de liberação de recursos para programas sociais, principalmente
voltados ã habitação social e infra-estrutura urbana (PAC-Programa de Ação Concentrada e
Programa Minha Casa, Minha Vida).
O momento também é, para os arquitetos e urbanistas engenheiros, de consolidação de um
programa de assistência técnica publica e gratuita para projeto e construção da habitação de
interesse social, promulgada através da Lei 11.888/2008. Na prática, esta lei cria um sistema de
financiamento público para a remuneração do trabalho destes profissionais. O programa esta
em fase de implementação, detalhando sua operacionalização e fontes de financiamento. Sua
concretização poderá nos aproximar da realidade da pratica profissional da Saúde, onde nos
programas de extensão dos postos de saúde junto a comunidades atua de forma interdisciplinar
diversas formações profissionais e diversos estágios da formação: o primeiro-anista, (calouro),
os estagiários do quinto e sexto anos, os residentes médicos e os professores orientadores. A
Lei da Assistência Técnica poderá significar para a Arquitetura e Urbanismo a implantação de

16
EDITAL Nº 06/PROEXT 2009/PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA/ Ministério da Educação - Secretaria de Educação
Superior – SESu, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
17
Linhas temáticas do PROEXT 2009:
Linha 1: Educação, Desenvolvimento Social e Saúde, Linha 2: Gestão Cultural, Economia da Cultura e Desenvolvimento das
Linguagens Artísticas; Linha 3: Preservação do Patrimônio Cultural, Brasileiro, Linha 4: Trabalho, Emprego e Incubação de,
Empreendimentos Econômicos Solidários. Valor total do edital: 19,2 milhões de reais (cerca de 9,6 milhões de U$).
18
Ver site do CNPq.org.br
um programa de “residências” com remuneração com recursos públicos, semelhante à
residências médicas.
É urgente, portanto, implantar e aprender com a experiência interdisciplinar e pensar num
“Posto de Assistência ao Habitat”, assim como hoje temos as Unidades Básicas de Saúde. As
universidades devem ser preparadas e o Projeto Vizinhança poderá nos auxiliar nesta
aprendizagem.

Bibliografia
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http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LEIS_2001/L10257.htm.
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http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=237321.
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http://www.archi.fr/SIRCHAL/atelierdexdertise/pelotas/pel_accueil.html acessado em
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