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Prevenção e Responsabilidade Civil pelo Dano Nuclear em Usinas

Nucleares

Fernanda de Carvalho Lage


Acadêmica do 3° período do Curso de Bacharelado em Direito pelo Centro UNISAL/ Lorena
fe.lage@hotmail.com

Orientadora: Profª. Ms. Daisy Rafaela da Silva


Professora de Direito Ambiental do curso de Direito do Centro UNISAL/ Lorena
Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela UNIMES/Santos-SP
Professora Assistente do Curso de Pós-graduação em Direito Ambiental, COGEAE/PUC-SP
daisyrafa1@hotmail.com
Resumo

O presente trabalho tem por fim demonstrar os mecanismos jurídicos disponíveis para
a prevenção e reparação, assim como a responsabilidade civil advindas do dano nuclear.
Os meios preventivos e precaucionais previstos na área científico-jurídica, têm o
objetivo de evitar a ocorrência de um dano nuclear, pois os efeitos decorrentes do mesmo ao
meio ambiente e à sadia qualidade de vida humana são muito graves, ferindo a garantia
constitucional dos Direitos Humanos Fundamentais ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, à segurança e à inviolabilidade do direito à vida.
Os danos nucleares são transtemporais e transfronteiriços, eles atingem o gênero
humano como um todo, transcendendo o plano das presentes gerações, alcançando as
gerações futuras. A responsabilidade civil, na ocorrência do dano, é objetiva; independe de
culpa por parte do agente.

Palavras-chave

Direito Ambiental – Dano Nuclear – Prevenção – Precaução – Responsabilidade Civil.

Abstract
This paper has the purpose to demonstrate the legal mechanisms available for
prevention and precaution, as well as the civil responsibility originated from the nuclear
damage.
The preventive and precautioning means in the juridical-scientific area, have the
objective to avoid the incidence of a nuclear damage, because the effects resulting from them
to the environment and to the healthy quality of human life are too serious, offending our
Constitutional guarantee to the Human Rights, to the ecologically and balanced environment,
to the security, and to the inviolability of the right for life.
The nuclear damages are anti-time and anti-frontiers, they reach completely the human
gender, transcending the current generations and achieving the future ones. The civil
responsibility, occurring the damage, is objective; it doesn’t depend on the fault on the agent’s
part.

Key - Words

Environmental Law – Nuclear Damage – Prevention – Precaution – Civil


Responsibility.

Introdução

Com a demanda de energia crescente, a questão do aquecimento global e a


necessidade da formação de uma matriz energética diversificada, a polêmica da obtenção de
eletricidade através das usinas nucleares volta ao Brasil. As questões jurídicas acerca das
atividades nucleares são polêmicas, pois é certo que essas são de extrema importância para o
desenvolvimento social e econômico, ademais, a energia nuclear consiste num bem ambiental.
Todavia, os efeitos decorrentes, devido ao armazenamento de material nuclear, à radiação
ionizante liberada no meio ambiente, envolvem sérios danos e riscos à sadia qualidade de
vida.
O aspecto sócio-cultural das atividades nucleares e seus riscos são recentes na
memória de grande parte da população, podendo-se citar a destruição causada pelas bombas
atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, o acidente na Central Atomoelétrica
de Chernobyl, na ex-União Soviética, e o problema envolvendo o Césio 137 no estado de
Goiás. Sendo assim, com os desastres já evidenciados, é grande a preocupação dos
organismos internacionais, e nesse contexto, nos meios científico-jurídicos, faz-se necessário
salientar que as indústrias nucleares e os danos decorrentes dessas, devem ser o foco da
atenção.
A poluição decorrente de uma atividade nuclear é muito grave, devido ao crescente
perigo dos danos nucleares e seus temíveis efeitos. Segundo Michel Despax, “a indústria
nuclear ocasiona danos próprios, cujos inconvenientes ao meio ambiente são temíveis, não
deixando de ser preocupantes”, e “o funcionamento de uma instalação nuclear polui as águas
e, pela mesma, contamina radioativamente os animais, os vegetais, os seres humanos” (apud
CUSTÓDIO, 2005, p. 415-416).
São muito importantes e preocupantes as questões relacionadas à poluição por
atividades nucleares, pois já foram comprovados os perigos dos riscos catastróficos, os
danosos efeitos transfronteiriços contra a biodiversidade, a vida humana e demais bens
ambientais.
Dessa forma, trata-se de um problema que não pode ser ignorado pelos juristas, não é
possível pensar somente em produção de energia, em desenvolvimento da tecnologia, é
preciso considerar primeiramente, os direitos invioláveis da pessoa humana, sendo que o
direito à vida digna e sadia sobrepõe-se aos interesses do Estado.

1. Direitos Humanos envolvidos na Prevenção do Dano Nuclear

Quando se fala em energia nuclear, logo se pensa no maior acidente desse tipo, o da
usina de Chernobyl, na Ucrânia. (FURTADO, 2008, p. 44). O acidente da Usina Nuclear de
Chernobyl, em 1986, trouxe consigo uma lição muito importante para a humanidade, que um
grave acidente nuclear, onde quer que ocorra, tem efeitos que reverberam em muitas regiões
do planeta.
Na Comissão Européia dos Direitos do Homem, decisão n°. 10.531, de 6.12.1983,
Michel Prieur considerou que “aqueles que vivem perto de uma central nuclear podem sentir-
se afetados pelo seu funcionamento e estar inquietos pela sua segurança.” (apud MACHADO,
2006, p. 823).
Sendo assim, a vulnerabilidade e a exposição ao dano nuclear precisam ser estudadas,
reguladas e prevenidas não só pelas ciências exatas, mas também pelo Direito. E no caso
nuclear, há inúmeras situações que merecem destaque e atenção jurídica especial: a da
população que apenas frui da energia produzida, a população exposta diretamente ao risco,
vizinha ao reator e também do meio ambiente.
Uma das finalidades do Direito Ambiental na área nuclear é estabelecer normas
preventivas de controle possibilitando a atuação do Poder Público para que os reatores
nucleares sejam fiscalizados continuamente.
A prevenção quanto ao dano nuclear envolve diversos aspectos relevantes, como o
aspecto ético, e principalmente, o da responsabilidade jurídica decorrente da criação do
perigo. Além disso, há inúmeras garantias constitucionais envolvidas, que podem ser
infringidas devido à exposição à esse dano, podendo-se citar: o meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da CF/88), o desenvolvimento de atividades
econômicas visando a “existência digna” para todos (art. 170, VI, da CF/88) e a
“inviolabilidade do direito à vida” e “à segurança” (art. 5°, caput, da CF/88).
O respeito à vida sadia dos cidadãos é superior às atividades nucleares, sendo assim, o
Estado não pode exercê-las, colocando em risco o maior bem jurídico humano, o Poder
Público tem que atuar em defesa de tal direito. Ao desenvolver uma atividade de alto risco,
como o da produção de energia nuclear, o Estado, tem por obrigação prevenir a ocorrência
dos danos, caso contrário, ele causará a morte ou as lesões na hipótese de um evento desta.

1.1 Princípios do Direito Ambiental nas atividades nucleares

1.1.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

O Princípio do Desenvolvimento Sustentável deve nortear as atividades nucleares, pois


é necessário que haja uma coexistência harmônica entre a economia e o meio-ambiente
ecologicamente equilibrado, permitindo o desenvolvimento, de forma planejada, sustentável,
para que os recursos que hoje existem, não se tornem inócuos, ou não se esgotem.
(FIORILLO, 2003).
Tal princípio tem como fundamento legal o art. 225, caput, da Constituição Federal,
segundo o qual:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.

A Declaração do Rio de Janeiro/92, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre


Meio Ambiente, afirma em seu princípio 1, que os seres humanos “têm direito a uma vida
saudável”. Não adianta somente ter vida, conservar a vida, é preciso que haja vida digna, e
para isso, também se faz necessário um ambiente sadio.
No que concerne às atividades nucleares, esse princípio é utilizado no sentido de
reduzir o efeito do prejuízo que poderá ocorrer, pois na hipótese de um dano nuclear, seus
efeitos, na maioria das vezes são irreversíveis e irreparáveis, podendo culminar na degradação
total do meio ambiente.

1.1.2 Princípio da Prevenção, Precaução e as radiações nucleares

A prevenção deve ser a palavra principal, já que os danos ambientais são irreversíveis
e irreparáveis. “A finalidade maior da tutela ambiental é a prevenção” (FIORILLO;
RODRIGUES, 1999, p. 129). Por exemplo, como erradicar os efeitos de Chernobyl? E as
gerações futuras que serão afetadas?
O princípio da precaução visa manter a sadia qualidade de vida das gerações futuras e
a natureza existente no planeta. O princípio da precaução incide na atividade nuclear, pois o
Poder Público tem que atuar preventivamente ante os riscos de dano para a pessoa humana e o
meio ambiente, decorrentes de tal atividade, assim como praticar medidas precaucionais, pois
ao ocasionar danos, será a co-responsável.
Para Maria Alexandre de Souza Aragão, “o princípio da precaução determina que a
ação para eliminar possíveis impactos danosos ao meio ambiente seja tomada antes de um
nexo causal ter sido estabelecido com evidência científica absoluta” (apud LEITE, 2003, p.
47), logo, a precaução é anterior à manifestação do perigo. Já o princípio da prevenção
estabelece que os perigos, já comprovados, sejam eliminados.

1.1.3 Princípio do poluidor-pagador

O princípio do poluidor-pagador abrange de maneira preventiva e repressiva as


atividades nucleares, pois envolve a responsabilidade e a reparação específica do dano
ambiental.
Tal princípio é utilizado para evitar a ocorrência de danos ambientais, pois exige que o
potencial poluidor saiba das responsabilidades decorrentes da poluição que pode ser causada,
e ao mesmo tempo, cuida de situações em que o dano já ocorreu, ou seja, aplica-se nos casos
concretos a reparação dos danos ao ambiente.
A idéia que envolve o princípio do poluidor-pagador é a de evitar o dano ao meio
ambiente, ou pelo menos, de diminuir-lhe o impacto, e isso é feito através da “imposição de
um custo ambiental àquele que se utiliza do ambiente em proveito econômico.” (ANTUNES,
2002, p. 222).
Todavia, é importante enfatizar que esse princípio não é uma punição, já que ele pode
ser implementado mesmo que o comportamento do pagador seja totalmente lícito, não
havendo necessidade de ser provado que existem faltas ou infrações, e o pagamento efetuado
não confere ao pagador o direito de poluir. A aplicação do princípio em questão divide-se em
dois momentos: o primeiro é o da fixação das tarifas ou preços e/ou da cobrança de
investimento na prevenção da utilização do recurso ambiental, e o segundo momento é o da
responsabilização residual ou integral do poluidor. (MACHADO, 2002, p.52).
O objetivo central do princípio do poluidor-pagador incide não somente em imputar
um valor e reparar o dano, mas sobretudo em uma atuação de maneira preventiva, anterior à
ocorrência do mesmo.

2. Prevenção/ Precaução do Dano Nuclear

2.1 Usinas que operem com reator nuclear

O art. 225, § 6º da CF/88 determina que: “As usinas que operem com reator nuclear
deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas”.
Logo, a Constituição Federal é expressamente clara prevenindo que nenhuma usina
que opere com reator nuclear seja instalada no país, sem que haja lei federal definindo
anteriormente sua localização.
E é mister ressaltar que é o Estado no âmbito Federal que possui o regime de
monopólio da energia nuclear, e o seu exercício compete à CNEN (Comissão Nacional de
Energia Nuclear) e à Eletrobrás Termonuclear S/A (empresa de economia mista, subsidiária
da Eletrobrás, e criada em 1997 com a finalidade de operar e construir as usinas
termonucleares do país).
Dessa forma, a União é a responsável pela exploração da atividade nuclear, assim
como tem a competência privativa e indelegável de legislar sobre o tema:

Art. 21. Compete à União:


(...) XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e
exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins
pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


(...) XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza.

Art. 49. “É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


(...) XIV – aprovar iniciativas do poder Executivo referentes a atividades nucleares.

Sendo a atividade nuclear, uma atividade de altos e variados riscos, tal medida
legislativa é imprescindível para controlá-los e observá-los. Dessa forma, a implantação de
uma usina nuclear, está submetida a um controle prévio através de lei (art. 225, § 6º da
CF/88), e um posterior (art. 21, XXIII, a, e art. 49, XIV da CF/88). (MACHADO, 2002)
Para que uma usina nuclear seja instalada, é necessário que o Poder Executivo envie
um projeto de lei ao Congresso Nacional, que depois de votado, será submetido à sanção do
Presidente da República. Caso seja vetado, parcial ou totalmente, é necessário o “voto da
maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto” (art. 66, §4 da CF/88).

E, por fim, a matéria nuclear não poderá ser objeto de lei delegada, de acordo com o
art. 68, § 1º da CF/88. (MACHADO, 2002).

2.2 Informação/notificação do público

A informação ambiental forma a consciência ambiental, garante que o povo, que é o


grande destinatário daquela, não só tenha sua opinião formada, mas possa se manifestar e
analisar a matéria, agindo diante da Administração Pública e do Poder Judiciário.
(MACHADO, 2002). Segundo a Declaração do Rio de Janeiro/92, em seu princípio 10,
garante que:

“No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas
ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações
sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades”. (grifo nosso).

Dessa forma, a população e as pessoas que residem nas proximidades de uma usina
nuclear precisam ser informadas sobre os riscos e perigos advindos da usina nuclear.
Quanto à notificação do público, a rapidez e a metodologia utilizada variam conforme
o grau de periculosidade na propagação da radiação. Essa notificação tem como objetivo não
somente tornar pública a radiação, mas comunicar o fato diretamente às prováveis vítimas.
2.3 Zoneamento da área ao redor da instalação nuclear - competência federal e
municipal

A competência federal ou municipal sobre o zoneamento nuclear, consiste em


determinar "qual a autoridade incumbida de autorizar as construções nas zonas urbana e rural,
assim como aplicar as limitações ao direito de propriedade no entorno da instalação nuclear."
(MACHADO, 2006, p. 833).
O zoneamento nuclear é uma matéria que não está claramente definida na legislação,
há lacunas legislativas quanto à competência de limitar o direito de propriedade nas áreas ao
redor da instalação nuclear e também de limitar o direito de propriedade no entorno da mesma
(importante quando se trata do seu licenciamento).
Paulo Affonso Leme Machado faz alguns questionamentos muito pertinentes ao tema,
e que carecem de regulamentação do legislador:
- As zonas adjacentes serão administradas pela Prefeitura Municipal, pelos Estados ou
pelo Governo Federal? Quanto ao regime de uso da propriedade circunvizinha da instalação
nuclear, quem ficará responsável pela expropriação de imóveis que vierem a ter sua utilização
interditada? E, no caso de somente existir restrição ao direito de propriedade, estabelecidas
somente para o Município?
Quanto o primeiro questionamento, para ele, a União é a única responsável pela
expropriação de imóveis, e no segundo caso, o Município e a União deveriam atuar
conjuntamente, por meio de uma dupla autorização, somando os interesses municipal e
nacional. (MACHADO, 2006).

Há diferenças consideráveis quanto ao conteúdo e competência de se legislar sobre a


energia nuclear em si, e legislar sobre o controle da poluição nuclear. (FIORILLO, 2003).
Legislar sobre a energia nuclear, abrange as regras sobre a segurança dos reatores e o sistema
de operação dos mesmos. Já legislar sobre o controle da poluição dessa atividade, significa
medir as radiações nucleares, ou seja, medir o que pode ter sido emitido como poluição. E é
esta última atribuição, que cabe aos Estados e Municípios, que, segundo o art. 24, VI da
CF/88, ambos têm competência para realizar a medição dessas radiações.
É importante frisar que os Estados e Municípios podem obrigar as empresas federais –
que tenham atividades nucleares – a realizar medidas da radiação, assim como eles próprios
podem fazê-las, embasados no art. 24, VI da CF/88. (MACHADO, 2002).
2.5 Localização do depósito e armazenamento de Rejeitos Radioativos

Um dos principais problemas com os reatores nucleares é a disposição final dos


rejeitos radioativos de alta atividade, e que não foi resolvido satisfatoriamente ainda em
nenhum país do mundo. (GOLDEMBERG, 2008).
A Lei 10.308 de 20 de novembro de 2001, trata dos depósitos de rejeitos radioativos,
todavia, não conceituou estes. Dessa forma, o conceito de rejeito radioativo é retirado da Lei
6.453, de 17.10.1977, em seu art. 1º, III: Produtos ou rejeitos radioativos - “os materiais
radioativos obtidos durante o processo de produção ou de utilização de combustíveis
nucleares, ou cuja radioatividade se tenha originado da exposição às irradiações inerentes a
tal processo, salvo os radioisótopos que tenham alcançado o estágio final de elaboração e já se
possam utilizar para fins científicos, médicos, agrícolas, comerciais ou industriais”. (grifo
nosso).
O principal problema envolvendo os rejeitos radioativos no Brasil é a inexistência de
legislação federal quanto ao destino dos mesmos, ou seja, não há disciplina quanto à
localização para o armazenamento dos resíduos. (LINHARES, 2002).

3. Responsabilidade Civil pelo Dano Nuclear

Dano nuclear é “o dano pessoal ou material produzido como resultado direto ou


indireto das propriedades radioativas, da sua combinação com as propriedades tóxicas ou com
outras características dos materiais nucleares, que se encontrem em instalação nuclear, ou dela
procedentes ou a ela enviados”. (Lei n. 6453/77, art. 1°, VII).

3.1 A Responsabilidade civil objetiva e a teoria do risco

A responsabilidade objetiva nas atividades nucleares, decorre da própria CF/88, no seu


artigo 225 de forma direta, e no artigo 5° de forma indireta.
A Constituição Federal no art. 225, §3°, não vinculou a culpa como sendo elemento
determinante para o dever de reparar o dano causado ao meio ambiente, logo, o regime é o da
responsabilidade objetiva quando se tratar de reparação por dano ambiental. (FIORILLO;
RODRIGUES, 1999, p. 125).
O art. 21, XXIII, d, da Constituição Federal, determina que: “a responsabilidade civil
por danos nucleares independe da existência de culpa”.
A responsabilidade pode ser tanto de pessoa física, como jurídica, e incide sobre o
operador ou explorador da atividade nuclear, e se houver mais de um explorador, a
responsabilidade será solidária e coletiva. O Estado, ou seja, a União, tem responsabilidade
civil sobre todas as atividades exercidas pelo regime de monopólio, então ele terá
responsabilidade sobre as atividades nucleares de uma Usina geradora de energia.
(MACHADO, 2002).
Todavia, há cada vez mais, a tendência mundial em se adotar a teoria do risco, origem
da responsabilidade objetiva. “Ao contrário, por todas as mudanças ocorridas e pela tendência
de efetivamente se valorizar a vítima do dano, acreditamos que, em pouco tempo, a exceção
será a teoria subjetiva, e a regra a responsabilidade nascida da teoria do risco.” (FIORILLO;
RODRIGUES, 1999, p. 134).
A teoria do risco, nada mais é do que a responsabilização civil não apenas por danos,
mas também pela produção de riscos ambientais intoleráveis. (CARVALHO, 2008). Ou seja,
responsabilizar o explorador da atividade nuclear a assumir medidas preventivas e
precaucionais obrigatórias, decorrentes da criação de riscos concretos, previsíveis, e também
de riscos abstratos, imperceptíveis ao sentido humano e de repercussão global.

Considerações Finais

Restou demonstrado que a atividade de um reator nuclear irá confrontar diretamente


com o direito fundamental ao meio ambiente sadio, ecologicamente equilibrado, e também
com os direitos à segurança e à vida, e os interesses do Estado não podem sobrepor a esses.
É imprescindível uma coexistência harmônica entre o dever econômico e o meio
ambiente, sendo que o Direito Ambiental tem o papel de garanti-la a todos, assim como tem
importante atuação na prevenção e precaução do dano nuclear, pois garante que as futuras
gerações também possam usufruir dos mesmos recursos naturais que a geração presente
usufrui.
Há inúmeras questões que norteiam a atividade nuclear e que necessitam de atenção
imediata pela parte do legislador, principalmente porque é o próprio Estado Federal que tem o
regime de monopólio da energia nuclear.
O dano nuclear é continuado, cumulativo, e pode caracterizar a causa de problemas
futuros. Sendo assim, é fundamental ressaltar a importância do Direito na atividade nuclear,
pois permite a responsabilização do agente não apenas pelos danos, mas também por exercer
uma atividade tão potencialmente perigosa e nociva. Cabe concluir que diante de todo o
exposto, e da gravidade dos efeitos decorrente desse tipo de dano, é imprescindível uma maior
atenção do legislador para com essa disciplina, que necessita urgentemente de uma melhor
regulamentação.
Diante do exposto, a produção de energia nuclear através das usinas nucleares,
encontra barreiras científicas já conhecidas, como os altos custos, a insegurança, o destino dos
seus rejeitos altamente radioativos, e os riscos e danos que envolvem tal atividade. Mas além
delas, há também barreiras legais, lacunas legislativas, pois a matéria carecer ser mais bem
regulada pelo ordenamento jurídico, é preciso que haja uma passagem de um direito de danos
para um direito de riscos, enfatizando a prevenção e a precaução, e de forma a inserir o futuro
nas decisões a serem tomadas.

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