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Nucleares
O presente trabalho tem por fim demonstrar os mecanismos jurídicos disponíveis para
a prevenção e reparação, assim como a responsabilidade civil advindas do dano nuclear.
Os meios preventivos e precaucionais previstos na área científico-jurídica, têm o
objetivo de evitar a ocorrência de um dano nuclear, pois os efeitos decorrentes do mesmo ao
meio ambiente e à sadia qualidade de vida humana são muito graves, ferindo a garantia
constitucional dos Direitos Humanos Fundamentais ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, à segurança e à inviolabilidade do direito à vida.
Os danos nucleares são transtemporais e transfronteiriços, eles atingem o gênero
humano como um todo, transcendendo o plano das presentes gerações, alcançando as
gerações futuras. A responsabilidade civil, na ocorrência do dano, é objetiva; independe de
culpa por parte do agente.
Palavras-chave
Abstract
This paper has the purpose to demonstrate the legal mechanisms available for
prevention and precaution, as well as the civil responsibility originated from the nuclear
damage.
The preventive and precautioning means in the juridical-scientific area, have the
objective to avoid the incidence of a nuclear damage, because the effects resulting from them
to the environment and to the healthy quality of human life are too serious, offending our
Constitutional guarantee to the Human Rights, to the ecologically and balanced environment,
to the security, and to the inviolability of the right for life.
The nuclear damages are anti-time and anti-frontiers, they reach completely the human
gender, transcending the current generations and achieving the future ones. The civil
responsibility, occurring the damage, is objective; it doesn’t depend on the fault on the agent’s
part.
Key - Words
Introdução
Quando se fala em energia nuclear, logo se pensa no maior acidente desse tipo, o da
usina de Chernobyl, na Ucrânia. (FURTADO, 2008, p. 44). O acidente da Usina Nuclear de
Chernobyl, em 1986, trouxe consigo uma lição muito importante para a humanidade, que um
grave acidente nuclear, onde quer que ocorra, tem efeitos que reverberam em muitas regiões
do planeta.
Na Comissão Européia dos Direitos do Homem, decisão n°. 10.531, de 6.12.1983,
Michel Prieur considerou que “aqueles que vivem perto de uma central nuclear podem sentir-
se afetados pelo seu funcionamento e estar inquietos pela sua segurança.” (apud MACHADO,
2006, p. 823).
Sendo assim, a vulnerabilidade e a exposição ao dano nuclear precisam ser estudadas,
reguladas e prevenidas não só pelas ciências exatas, mas também pelo Direito. E no caso
nuclear, há inúmeras situações que merecem destaque e atenção jurídica especial: a da
população que apenas frui da energia produzida, a população exposta diretamente ao risco,
vizinha ao reator e também do meio ambiente.
Uma das finalidades do Direito Ambiental na área nuclear é estabelecer normas
preventivas de controle possibilitando a atuação do Poder Público para que os reatores
nucleares sejam fiscalizados continuamente.
A prevenção quanto ao dano nuclear envolve diversos aspectos relevantes, como o
aspecto ético, e principalmente, o da responsabilidade jurídica decorrente da criação do
perigo. Além disso, há inúmeras garantias constitucionais envolvidas, que podem ser
infringidas devido à exposição à esse dano, podendo-se citar: o meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, da CF/88), o desenvolvimento de atividades
econômicas visando a “existência digna” para todos (art. 170, VI, da CF/88) e a
“inviolabilidade do direito à vida” e “à segurança” (art. 5°, caput, da CF/88).
O respeito à vida sadia dos cidadãos é superior às atividades nucleares, sendo assim, o
Estado não pode exercê-las, colocando em risco o maior bem jurídico humano, o Poder
Público tem que atuar em defesa de tal direito. Ao desenvolver uma atividade de alto risco,
como o da produção de energia nuclear, o Estado, tem por obrigação prevenir a ocorrência
dos danos, caso contrário, ele causará a morte ou as lesões na hipótese de um evento desta.
A prevenção deve ser a palavra principal, já que os danos ambientais são irreversíveis
e irreparáveis. “A finalidade maior da tutela ambiental é a prevenção” (FIORILLO;
RODRIGUES, 1999, p. 129). Por exemplo, como erradicar os efeitos de Chernobyl? E as
gerações futuras que serão afetadas?
O princípio da precaução visa manter a sadia qualidade de vida das gerações futuras e
a natureza existente no planeta. O princípio da precaução incide na atividade nuclear, pois o
Poder Público tem que atuar preventivamente ante os riscos de dano para a pessoa humana e o
meio ambiente, decorrentes de tal atividade, assim como praticar medidas precaucionais, pois
ao ocasionar danos, será a co-responsável.
Para Maria Alexandre de Souza Aragão, “o princípio da precaução determina que a
ação para eliminar possíveis impactos danosos ao meio ambiente seja tomada antes de um
nexo causal ter sido estabelecido com evidência científica absoluta” (apud LEITE, 2003, p.
47), logo, a precaução é anterior à manifestação do perigo. Já o princípio da prevenção
estabelece que os perigos, já comprovados, sejam eliminados.
O art. 225, § 6º da CF/88 determina que: “As usinas que operem com reator nuclear
deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas”.
Logo, a Constituição Federal é expressamente clara prevenindo que nenhuma usina
que opere com reator nuclear seja instalada no país, sem que haja lei federal definindo
anteriormente sua localização.
E é mister ressaltar que é o Estado no âmbito Federal que possui o regime de
monopólio da energia nuclear, e o seu exercício compete à CNEN (Comissão Nacional de
Energia Nuclear) e à Eletrobrás Termonuclear S/A (empresa de economia mista, subsidiária
da Eletrobrás, e criada em 1997 com a finalidade de operar e construir as usinas
termonucleares do país).
Dessa forma, a União é a responsável pela exploração da atividade nuclear, assim
como tem a competência privativa e indelegável de legislar sobre o tema:
Sendo a atividade nuclear, uma atividade de altos e variados riscos, tal medida
legislativa é imprescindível para controlá-los e observá-los. Dessa forma, a implantação de
uma usina nuclear, está submetida a um controle prévio através de lei (art. 225, § 6º da
CF/88), e um posterior (art. 21, XXIII, a, e art. 49, XIV da CF/88). (MACHADO, 2002)
Para que uma usina nuclear seja instalada, é necessário que o Poder Executivo envie
um projeto de lei ao Congresso Nacional, que depois de votado, será submetido à sanção do
Presidente da República. Caso seja vetado, parcial ou totalmente, é necessário o “voto da
maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto” (art. 66, §4 da CF/88).
E, por fim, a matéria nuclear não poderá ser objeto de lei delegada, de acordo com o
art. 68, § 1º da CF/88. (MACHADO, 2002).
“No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas
ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações
sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades”. (grifo nosso).
Dessa forma, a população e as pessoas que residem nas proximidades de uma usina
nuclear precisam ser informadas sobre os riscos e perigos advindos da usina nuclear.
Quanto à notificação do público, a rapidez e a metodologia utilizada variam conforme
o grau de periculosidade na propagação da radiação. Essa notificação tem como objetivo não
somente tornar pública a radiação, mas comunicar o fato diretamente às prováveis vítimas.
2.3 Zoneamento da área ao redor da instalação nuclear - competência federal e
municipal
Considerações Finais
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