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ANÁLISE DE CONTEÚDO:

artigo de revisão
considerações gerais, relações com a
pergunta de pesquisa, possibilidades e
limitações do método

Ricardo Bezerra Cavalcante*


Pedro Calixto**
Marta Macedo Kerr Pinheiro***

RESUMO Existem diferentes técnicas de organização e análise dos dados


na pesquisa qualitativa, sendo a Análise de Conteúdo uma
destas possibilidades nas ciências sociais aplicadas. A análise
de conteúdo se constitui de varias técnicas onde busca-se * Doutorado em Ciência da Informação
descrever o conteúdo emitido no processo de comunicação, pela Universidade Federal de Minas
Gerais, Brasil. Professor Adjunto da
seja ele por meio de falas ou de textos. Desta forma, a Análise Universidade Federal de São João Del
de Conteúdo é composta por procedimentos sistemáticos que Rei - Campus Centro Oeste, Brasil.
E-mail: ricardocavalcanteufmg@yahoo.
proporcionam o levantamento de indicadores (quantitativos ou com.br.
não) permitindo a realização de inferência de conhecimentos.
Neste artigo se tem proposto realizar uma revisão da literatura **Mestre em Ciência da Informação
pela Universidade Federal de Minas
focando as características do método, suas relações com a Gerais, Brasil. Professor da Universidade
pergunta de pesquisa, limitações e as possibilidades de aplicação. do Estado de Minas Gerais, Brasil.
E-mail: pcalixxxto@yahoo.com.br.
Para tanto, procedeu-se à leitura sistemática, bem como às
infindáveis reflexões diante das diversas pesquisas realizadas a *** Doutora em Ciência da Informação
pela Universidade Federal do Rio de
partir da utilização da Análise de Conteúdo enquanto método Janeiro, Brasil. Docente permanente
de investigação. do Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação da Universidade
Federal de Minas Gerais, Brasil.
Palavras chave: Pesquisa qualitativa. Análise de Conteúdo. Metodologia. E-mail: martakerr@gmail.com.

1 INTRODUÇÃO visto a sua complexidade enquanto método

N
analítico e, principalmente, a sua relação com o
a pesquisa qualitativa, a Análise de processo de elaboração das perguntas acerca do
Conteúdo (AC), enquanto método de objeto (LIMA, 2003).
organização e análise dos dados possui Além das características da AC já
algumas características. Primeiramente, aceita- consagradas entre os vários estudos publicados,
se que o seu foco seja qualificar as vivências buscou-se evidenciar outras situações
do sujeito, bem como suas percepções sobre que exigem um maior desenvolvimento.
determinado objeto e seus fenômenos (BARDIN, Neste sentido, destacam-se neste estudo as
1977). Entretanto, a análise de conteúdo também potencialidades e as limitações relacionadas
pode ser utilizada para o aprofundamento de ao método em foco. Para tanto, este artigo se
estudos quantitativos, e, portanto tem uma visão propõe a trazer uma visão geral da AC, bem
matemática dessa abordagem. Ainda dentre as como analisar, sob o prisma de suas limitações e
características da AC há também a idéia de que possibilidades, os diferentes olhares de autores
a análise de conteúdo seja mais simples e de fácil contemporâneos sobre o método elucidado
abordagem. Porém esta idéia de simplicidade e enquanto um instrumento de pesquisa aplicável
de facilidade necessita de algumas considerações, às ciências sociais.

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Ricardo Bezerra Cavalcante, Pedro Calixto e Marta Macedo Kerr Pinheiro

2 CONSIDERAÇÕES GERAIS: cotidiana seja ela verbal ou escrita, entre


outros (OLIVEIRA, 2008 p.570).
descrevendo o método

A pesquisa qualitativa é aquela capaz Assim, a análise de conteúdo compreen-


de incorporar a questão do significado e da de técnicas de pesquisa que permitem, de forma
intencionalidade como inerentes aos atos, às sistemática, a descrição das mensagens e das ati-
relações e às estruturas sociais, sendo essas tudes atreladas ao contexto da enunciação, bem
últimas tomadas, tanto no seu advento quanto como as inferências sobre os dados coletados. A
nas suas transformações, como construções escolha deste método de análise pode ser explica-
humanas significativas (BARDIN, 1977). Assim, da pela necessidade de ultrapassar as incertezas
a abordagem qualitativa aplica-se ao estudo da conseqüentes das hipóteses e pressupostos, pela
história, das relações, das representações, das necessidade de enriquecimento da leitura por
crenças, das percepções e das opiniões, produto meio da compreensão das significações e pela ne-
das interpretações que os seres humanos fazem cessidade de desvelar as relações que se estabele-
de como vivem, constroem seus artefatos e a si cem além das falas propriamente ditas.
mesmos, sentem e pensam (TURATO et al, 2008). Segundo Oliveira (2008) a análise de con-
Esse tipo de abordagem, além de permitir teúdo possui diferentes técnicas que podem ser
desvelar processos sociais ainda pouco conheci- abordadas pelos pesquisadores. Isto dependerá da
dos, referentes a grupos particulares, propicia a vertente teórica seguida pelo sujeito que a aplicará.
criação de novas abordagens, revisão e criação Assim podem ser sintetizadas as várias técnicas,
de novos conceitos e categorias durante a inves- são elas: análise temática ou categorial, análise de
tigação. Desta forma, a pesquisa qualitativa pro- avaliação ou representacional, análise de enuncia-
porciona um modelo de entendimento profundo ção, análise da expressão, análise das relações ou
de ligações entre elementos, direcionado à com- associações, análise do discurso, análise léxica ou
preensão da manifestação do objeto de estudo sintática, análise transversal ou longitudinal, aná-
(MINAYO, 2007). É caracterizado pela empiria e lise do geral para o particular, análise do particu-
pela sistematização progressiva do conhecimento lar para o geral, analise segundo o tipo de relação
até a compreensão lógica interna do grupo ou do mantida com o objeto estudado, análise dimensio-
processo estudado (TURATO, 2005). nal, análise de dupla categorização em quadro de
No entanto, existem diferentes técnicas de dupla entrada, dentre outras. Obviamente, a utili-
organização e análise dos dados na pesquisa qua- zação de cada técnica citada anteriormente produ-
litativa, sendo a Análise de Conteúdo uma destas zirá resultados diferenciados, mas que permitem a
possibilidades. Para Bardin (2007) a análise de con- produção de conhecimentos sobre o objeto de es-
teúdo se constitui de várias técnicas onde se busca tudo, bem com suas relações. Entretanto, a escolha
descrever o conteúdo emitido no processo de co- da técnica deve estar atrelada ao tipo de pergunta
municação, seja ele por meio de falas ou de textos. elaborada, ao tipo de conhecimento que se deseja
Desta forma, a técnica é composta por procedimen- produzir frente ao objeto estudado e, fundamen-
tos sistemáticos que proporcionam o levantamento talmente, necessita de sistematização. Desta for-
de indicadores (quantitativos ou não) permitindo ma, é importante refletirmos primeiramente sobre
a realização de inferência de conhecimentos. Para o processo de formulação de perguntas e sua re-
Oliveira (2008) a análise de conteúdo permite: lação com a análise de conteúdo, pois corre-se o
risco de aplicar o método inadequado visando res-
O acesso a diversos conteúdos, ponder às perguntas estipuladas.
explícitos ou não, presentes em um
texto, sejam eles expressos na axiologia
subjacente ao texto analisado; implicação 3 A FORMULAÇÃO DA PERGUNTA
do contexto político nos discursos;
exploração da moralidade de dada
DE PESQUISA E A ESCOLHA DA
época; análise das representações ANÁLISE DE CONTEÚDO PARA
sociais sobre determinado objeto; PRODUÇÃO DE RESPOSTAS
inconsciente coletivo em determinado
tema; repertório semântico ou sintático
de determinado grupo social ou O Homem traz em sua essência
profissional; análise da comunicação características que o diferem dos animais e os

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Análise de conteúdo

seres inanimados. A capacidade de perguntar é perguntar não tem limites configurando um


uma dessas características que fazem do homem pré-saber que significa a compreensão de toda
um ser reflexivo e atuante no meio em que a realidade, atemático e implicando numa
vive. Segundo Zilles (2006) o homem possui unidade fundamental.
uma necessidade de respostas acerca das coisas, Assim, perguntável, para Zilles (2006)
fatos e acontecimentos que o cercam. Assim, é “tudo e tudo é ente”, ou seja, compreender
faz-se necessário compreender a pergunta com o pré-saber implica no conhecimento do ente.
o objetivo de cada vez mais aproximar-se de Onde a pergunta pode ser dirigida para todos
respostas que possam capacitar o homem para os entes num dado momento, porém “perguntar
interagir com o meio e transformá-lo. pelo ente enquanto ente, implica assim em
A partir dos conhecimentos de Heidegger perguntar pelo ser do ente”. Desta forma, “todos
(1989), Zilles (2006) busca entender a estrutura os entes são entes por virtude do ser” (ZILLES,
formal da pergunta investigativa que 2006 p. 37-38). Esta discussão de “ente e ser”
necessariamente é teorética, ou seja conceitua são fundamentos para o que Heidegger (1989)
aquilo que se pergunta. Assim a verdadeira nomeia de ôntico e ontológico respectivamente.
pergunta possui um pré-saber e um não saber Neste contexto a ontologia se propõe a estudar
que fazem parte do mesmo universo imaginário, o ser em sua essência e ainda os problemas
em caráter de complementaridade e não de ônticos relacionados ao “ente”, que segundo
extremos. Desta interação entre ambas, o pré- Zilles (2006,p.39) é “tudo de que falamos, tudo
saber e o não saber, nasce a resposta possível que que entendemos, com que nos comportamos
pode ser norteada pelo conhecimento prévio, dessa ou daquela maneira, ente é também o que
ainda que desprovido da certeza da verdade. e como nós mesmos somos”. Neste contexto, ao
Sendo a verdade um conceito relacional, não perguntar verfica-se, mesmo que implicitamente,
basta que este conhecimento seja verdadeiro, mas a pré-compreensão do ser e suas manifestações,
é preciso chegar à certeza da verdade (HESSEN, tendo o homem como arcabouço onde o ser se
2003). Esta busca pela verdade delineará o anseio revela.
pelo contínuo questionamento. Desta maneira, a Assim, a construção de uma pergunta
arte de perguntar é inerente ao ser humano e não na pesquisa qualitativa é uma tarefa dotada
às coisas, plantas e aos animais, pois o pré-saber de complexidade e método, pois requer uma
e o não saber existem apenas no universo do imersão prévia no ente com o intuito de
homem, como ser pensante, reflexivo e consciente compreender o ser e sua essência. A análise
da sua realidade. Ou seja, o homem está aberto de conteúdo, neste cenário, emerge como
ao infinito na busca constante por respostas que técnica que se propõe à apreensão de uma
emergem a partir do encontro com o problema. realidade visível, mas também uma realidade
Essa situação é uma condição fundamental para invisível, que pode se manifestar apenas nas
a promoção humana, pois o estímulo à pergunta “entrelinhas” do texto, com vários significados.
potencializa a interação com o problema na Neste sentido a análise requer uma pré-
tentativa de respostas que promovam a evolução compreensão do ser, suas manifestações, suas
do homem no meio. interações com contexto, e principalmente
Entretanto, perguntar remete a requer um olhar meticuloso do investigador.
um pré-saber que configura-se como um Para isso, é importante verificar os níveis que
direcionamento de possíveis e futuras estruturam uma pergunta de pesquisa tais
respostas. Este pré-saber constituinte da como o saber que penetra tangencialmente ou
pergunta pode se manifestar em diferentes lateralmente, o saber concomitante e atemático
níveis, quais sejam um saber que penetra e ainda o pré-saber não singularmente
tangencialmente ou lateralmente na formulação determinado. Em síntese, a atitude científica
da pergunta, um saber concomitante e ainda é por buscar respostas e consequentemente o
um pré-saber não singularmente determinado. encontro ou a aproximação com as soluções
Nesta perspectiva, o ato de perguntar deve encontradas por meio de procedimentos
ser direcionado aquilo que é perguntável e o metodológicos estruturados no ato de
que é perguntável, num escopo da totalidade perguntar. É neste contexto que a análise de
do perguntável. Outra premissa, é que o conteúdo se insere, pois possui a sistematização

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necessária à produção de respostas frente aos significativas. A Análise Temática tradicional


questionamentos, mas precisa ser utilizada onde trabalha inicialmente esta fase, recortando
a pergunta de pesquisa remete a este método. É o texto em unidades de registro que podem
neste sentido que se complementam “pergunta” constituir palavras, frases, temas, personagens
e método de análise com o intuito de respostas e acontecimentos, indicados como relevantes
ou aproximações fidedignas. Pode estar aqui a para pré-analise. Posteriormente, o pesquisador
gênese de uma boa pesquisa e da evolução do escolhe as regras de contagem por meio de
conhecimento. codificações e índices quantitativos. Finalmente,
o pesquisador realiza a classificação e a
4 POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO agregação dos dados, escolhendo as categorias
teóricas ou empíricas, responsáveis pela
DA ANÁLISE DE CONTEÚDO especificação do tema (BARDIN, 1977). A partir
Operacionalmente, a Análise Temática de daí, o analista propõe inferências e realiza
Conteúdo, segundo Minayo (2007), desdobra-se interpretações, inter-relacionando-as com o
nas etapas pré-análise, exploração do material ou quadro teórico desenhado inicialmente ou abre
codificação e tratamento dos resultados obtidos/ outras pistas em torno de novas dimensões
interpretação. teóricas e interpretativas, sugerida pela leitura
A etapa da pré-análise compreende do material (MINAYO, 2007).
a leitura flutuante, constituição do corpus,
formulação e reformulação de hipóteses ou 5 LIMITAÇÕES DA ANÁLISE DE
pressupostos. A leitura flutuante requer do CONTEÚDO
pesquisador o contato direto e intenso com o
material de campo, em que pode surgir a relação Segundo Rocha e Deusdará (2005)
entre as hipóteses ou pressupostos iniciais, as o objetivo da pesquisa qualitativa é captar
hipóteses emergentes e as teorias relacionadas um saber que está por trás da superfície
ao tema. Para Oliveira (2008) a constituição do textual. Assim, o pesquisador deve ser um
corpus é a tarefa que diz respeito à constituição espião da ordem que se propõe a desvendar
do universo estudado, sendo necessário a subversão escondida; deve ser um leitor
respeitar alguns critérios de validade qualitativa, privilegiado por dispor de técnicas seguras
são eles: a exaustividade (esgotamento da de trabalho. Obviamente, o autor supracitado
totalidade do texto), a homogeneidade (clara faz essas observações sob um ponto de vista
separação entre os temas a serem trabalhados), crítico e até certo ponto irônico, mas que
a exclusividade (um mesmo elemento só pode destaca a incoerência entre o distanciamento
estar em apenas uma categoria), a objetividade do pesquisador em relação à pesquisa,
(qualquer codificador consegue chegar aos principalmente pelo fato da necessidade
mesmos resultados) e a adequação ou pertinência que se tenha uma leitura aprofundada e de
(adaptação aos objetivos do estudo). Ainda na proximidade em uma pesquisa qualitativa. Por
pré-análise o pesquisador procede à formulação abordar a subjetividade do sujeito, a pesquisa
e reformulação de hipóteses, que se caracteriza qualitativa, em alguns momentos, pode permitir
por ser um processo de retomada da etapa que a análise do observador esteja impregnada
exploratória por meio da leitura exaustiva de seus pré-conceitos, o que acaba por refletir
do material e o retorno aos questionamentos no objeto estudado. Isto se deve à proximidade
iniciais. Enfim, na última tarefa da pré-análise, do observador com os fenômenos relacionados.
elabora-se os indicadores que fundamentarão a Desta forma, corre-se o risco de fazer sucessivas
interpretação final (OLIVEIRA, 2008). aproximações com o objeto sem deixar que o
Durante a etapa da exploração do ponto de vista do pesquisador sobreponha os
material, o investigador busca encontrar fenômenos a serem explicados nas análises.
categorias que são expressões ou palavras O outro aspecto é a própria necessidade da
significativas em função das quais o conteúdo habilidade do pesquisador em extrapolar o que
de uma fala será organizado. A categorização, está além do texto. Esta tarefa é complexa e
para Minayo (2007), consiste num processo exige um pesquisador experiente, que domine
de redução do texto às palavras e expressões as técnicas propostas na análise de conteúdo.

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Análise de conteúdo

Para Oliveira et al (2003) o método suspensão de inclusão de novos participantes


apresenta ainda um outro ponto controverso, quando os dados obtidos passam a apresentar, na
quando nem sempre um tema frequente é avaliação do pesquisador, uma certa redundância
necessariamente um tema importante ou, ou repetição, não sendo considerado relevante
ao contrário, que um tema pouco frequente persistir na coleta de dados”. Assim utiliza-se,
não seja relevante para a compreensão dos em alguns momentos, o critério de saturação
fenômenos estudados. Talvez existam temas das informações justificando o quantitativo
que sejam reprimidos, de difícil verbalização ou de sujeitos elencados. No entanto, esta técnica
de difícil manifestação visual. Para contrapor ainda é questionada, principalmente pelos
a esta limitação, o pesquisador, ao utilizar-se quantitativistas que insistem em discordar sobre
de entrevistas, necessita refletir intensamente a relevância da amostra definida pelo critério de
sobre a elaboração do instrumento de saturação, principalmente pelo fato da ausência
coleta. Essa construção necessita contemplar de técnicas estatísticas.
questionamentos que possam levar o sujeito à
manifestação de suas percepções, independente
de suas dificuldades de verbalização ou outros 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
incômodos. Ainda é importante destacar que a À luz dos autores abordados, foi possível
condução das entrevistas também é fundamental observar às diversas nuances que a análise de
para extrair ao máximo as subjetividades. conteúdo apresenta na pesquisa qualitativa.
Neste caso um entrevistador experiente, ou Dentre essas nuances é importante destacar
bem instruído, pode ser um diferencial para as relações das perguntas estipuladas com a
a construção do corpus textual a posteriori escolha da análise de conteúdo enquanto método
(CAMPOS e TURATO, 2009). proposto para aproximação da resposta. Ainda
Enfim, a definição da amostra dos sujeitos ressaltam-se as possibilidades que esse tipo de
a serem entrevistados é outro fator discutível método proporciona e que apesar das limitações,
quando se trata da análise de conteúdo. Apesar permite o estudo dos fenômenos sociais atrelados
da pesquisa qualitativa não se preocupar a um objeto, bem como suas interações. Assim,
tanto com o quantitativo de sujeitos, fica o aplica-se com propriedade às pesquisas em
questionamento sobre a amostra. Transparece ciências sociais aplicadas, sobretudo da Ciência
um caráter não formalizado e assistemático, que da Informação que não devem tentar impor
foge aos parâmetros da pesquisa e da ciência um único paradigma enquadrando todas as
impregnada pelo método positivista. Na pesquisa pesquisas pelo método científico ditados pelo
qualitativa, e mais especificamente na análise positivismo tradicional (NEHMEY et al, 1996).
de conteúdo como método, o foco não está na No entanto é importante destacar os
quantificação, mas na análise do fenômeno em limites do método, relacionados principalmente
profundidade, elencando as subjetividades, com a necessidade de habilidade do pesquisador
suas relações, bem como interlocuções na em conduzir as entrevistas e analisá-las, bem
malha social. No entanto, apesar da análise como a necessidade de habilidade em lidar com
de conteúdo não se amparar especificamente situações peculiares no estudo do fenômeno
em uma amostra quantificável, alguns autores humano. Talvez esteja nessas habilidades do
propõem o critério de saturação das informações pesquisador o grande potencial em buscar novas
como necessário para a delimitação do olhar alternativas e explorar todas as possibilidades
investigativo (TURATO et al, 2008). Ressalta- que a análise de conteúdo permite na pesquisa.
se que, nas investigações qualitativas em saúde, Enfim, espera-se que essas discussões
verifica-se, com freqüência, a utilização da possam contribuir para uma reflexão crítica, que
saturação de informações como critério para o não fique restrita à exaltação cega do método,
fechamento amostral ou, ainda, a saturação do e tão pouco, a desqualificação do mesmo. É
universo, quando as entrevistas são realizadas importante que os pesquisadores enxerguem as
com todos os representantes de determinado possibilidades e limitações, para proceder à um
grupo ou categoria (MACHADO, 2007). processo investigativo promotor de respostas aos
Segundo Turato et. al. (2008, p.17), a saturação questionamentos estipulados e potencializador
de informações pode ser definida como “a do conhecimento.

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Ricardo Bezerra Cavalcante, Pedro Calixto e Marta Macedo Kerr Pinheiro

CONTENT ANALYSIS:
general considerations, relations with the research question,
possibilities and limitations of the method

ABSTRACT There are different techniques for organizing and analyzing data in qualitative research and Content
Analysis of these possibilities in applied social sciences. Content Analysis is composed of several
techniques which tries to describe the content delivered in the communication process, whether
through speech or text. Thus, Content Analysis consists of systematic procedures that provide a survey
of indicators (quantitative or not) allowing the execution of inference of knowledge. This paper has
proposed working on a literature review focusing on the characteristics of the method, its relations
with the research question, limitations and application possibilities. To do so, proceeded to read
systematically, and to endless discussions on the various surveys conducted from the use of content
analysis as research method.

Keywords: Qualitative research. Content analysis. Methodology

Artigo recebido em 03/05/2011 e aceito para publicação em 23/02/2014

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