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AULA 21
EMPUXOS DE TERRA

1. INTRODUÇÃO

Denomina-se de Empuxo de Terra à ação horizontal produzida pelo maciço de solo


sobre as obras que com ele estão em contato.

A determinação do empuxo de terra é fundamental na análise e projeto de obras como


muros de arrimo, escoramentos, cortinas de estacas-prancha, construções de subsolos,
encontros de pontes, etc.

As cargas que atuam sobre as estruturas de contenção dependem dos deslocamentos


da estrutura. Tal fato foi demonstrado por Terzaghi (1934), conforme ilustra a Figura
1 abaixo. Para avaliar o empuxo de terra que atua sobre uma estrutura, Terzaghi
construiu um modelo, utilizando areia pura, colocada atrás de um anteparo vertical,
que podia sofrer movimentos de translação. Inicialmente mediu o valor da força
necessária para manter o anteparo estático, portanto mediu o Empuxo em Repouso
(Eo ou Po). A seguir provocou translações do anteparo de forma a afastá-lo da areia,
até que se verificasse a ruptura da massa de areia. Ao valor da força sobre o anteparo,
no instante da ruptura, denominou de Empuxo Ativo (Ea ou Pa). Repetiu a
experiência, empurrando o anteparo contra a massa de areia, até a ruptura. Ao valor
da força neste estado final denominou de Empuxo Passivo (E p ou Pp). Dos resultados
obtidos resulta um gráfico, com os valores da força sobre o anteparo em função da
translação por ele sofrida nos dois sentidos.

Figura 1

Pode-se notar na figura que empuxo passivo é muito maior do que o empuxo ativo.
Observa-se também que o deslocamento necessário para se atingir a situação de
empuxo ativo é bem menor do que a necessária para o empuxo passivo.
2

2. EMPUXO EM REPOUSO

Quando o maciço de solo atua sobre o anteparo sem que o mesmo se desloque, pode-
se considerar que o maciço está em estado de repouso.

Como visto no curso de Mecânica dos Solos, o coeficiente de empuxo em repouso é a


relação entre as tensões horizontais e verticais efetivas em condição de deformação
lateral nula.

'ho
K0  (1)
' v

Conhecendo-se portanto Ko, pode-se determinar o valor da tensão horizontal efetiva


’ho correspondente a condição em repouso:

'ho  K 0 'v (2)

Em estruturas de suporte rígidas, admite-se que se geram tensões em repouso quando


as deformações podem ser consideradas praticamente nulas, ou seja, em estruturas
que não se deformem na horizontal. A mobilização desse tipo de tensões fica
garantida se o movimento da estrutura for inferior a 0,05% da sua altura total.

O valor de Ko depende de uma série de fatores, sendo os principais os seguintes: tipo


de solo, ângulo de atrito efetivo ’ e razão de sobreadensamento (RSA).

Ko é de difícil determinação em laboratório. No campo, o ensaio pressiométrico


autoperfurante (Camkometer) e o ensaio dilatométrico (DMT) são reconhecidos
como os mais adequados para sua obtenção.

Muitas vezes, ele é estimado a partir de correlações empíricas. Jaky (1944) mostrou
que, em solos não coesivos e argilas normalmente adensadas, K o é dado
simplificadamente pela seguinte expressão:

K 0  1  sen' (3)

Valores de Ko para areia fofa variam de 0,45 a 0,55 e para areia compacta de 0,40 a
0,45. Em argilas normalmente adensadas, o Ko é crescente com o Indice de
Plasticidade, variando de 0,5 a 0,7. No caso de argilas sobreadensadas, tem-se
recomendado o uso da expressão:

K 0  (1  sen' )RSA sen' (4)


3

onde RSA é a razão de sobreadensamento. Em argilas altamente sobre-adensadas, o


Ko pode ser superior a 1,0.

Uma vez avaliado o coeficiente de empuxo em repouso, o empuxo do terreno sobre a


estrutura de suporte é calculado conforme indicado na Figura 2. Considere-se uma
estrutura de suporte de altura H que garante um estado de repouso para o solo
suportado de peso específico  e superfície horizontal. Nestas condições, a estrutura
está sujeita a um diagrama de empuxo em repouso caracterizado por uma variação
linear da tensão horizontal em função da profundidade z. A resultante horizontal, em
unidade de força por comprimento unitário do anteparo, designada por empuxo em
repouso (Eo) tem o valor dado por:

H H 1 2
E 0  0 'h 0 dz  0 K 0 zdz  H K 0 (5)
2

Figura 2

Exemplo
Calcular a força de empuxo em repouso Eo e a força de empuxo hidrostático Ehidr para
o anteparo abaixo. Considerar o anteparo indeslocável.
4

Profundidade ’v ’h0 u


(m) (kPa) (kPa) (kPa)
2 19x2=38 0,45x38=17,1 0
0,7x38=26,6
3 38+17x1=55 0,7x55=38,5 0
6 55+8x3=79 0,7x79=55,3 10x3=30

E0= 17,1x2/2 + 26,6x1 + 11,9x1/2 +38,5x3 + 16,8x3/2 = 17,1 + 26,6 + 5,95 + 115,5 +
25,2 =193,35 kN/m

Ponto de aplicação de E0 (em relação à base):

d0 = {17,1x4,67 + 26,6x3,5 + 5,95x3,33 + 115,5x1,5 + 25,2x1}/ 190,35 = 2,06 m

Ehidr = 30x3/2 = 45 kN/m

Ponto de aplicação de Ehidr:

dhidr = 1 m
5

3. EMPUXOS ATIVO E PASSIVO

Ao contrário da hipótese de não deformabilidade admitida para o estado em repouso,


considere-se agora que a estrutura de suporte se afasta progressivamente do solo, tal
como se mostra simplificadamente na figura 1. Como já se referiu, este tipo de
deformação conduz ao estado ativo e a estrutura é solicitada pela força chamada
empuxo ativo.

Os deslocamentos no topo de um muro de paramento vertical de altura total H


necessários para que seja mobilizado o estado ativo devem ser da seguinte ordem de
grandeza: solos não coesivos 0,1 a 0,2% de H quando compactos e 0,2 a 0,4% de H
quando fofos; solos coesivos 1 a 2 % de H quando duros e 2 a 5% de H quando
moles.

Finalmente considere-se que a estrutura de suporte é empurrada contra o solo


comprimindo-o, tal como ilustrado na figura 1. Nestas condições de deformação,
evolui-se do estado de tensões em repouso para um estado designado por passivo.
Para este estado, a estrutura é solicitada por uma força designada por Empuxo
Passivo. As mesmas deformações horizontais suficientes para mobilizarem a
totalidade do empuxo ativo apenas conseguem mobilizar cerca da metade da
resistência passiva e o estado passivo só é atingido para deformações muito
superiores.

As duas as teorias clássicas para a determinação dos empuxos ativo e passivo,


Rankine (1857) e Coulomb (1776), são apresentadas a seguir.

4. RELAÇÃO ENTRE AS TENSÕES PRINCIPAIS MAIOR E MENOR NA


RUPTURA

Antes da apresentação da teoria de Rankine, é necessário deduzir a relação entre as


tensões principais maior e menor na condição de ruptura.

Caso a – solos não coesivos (Figura 3) 

Da figura ao lado se deduz que:


, ,
( - )/2
1 '3 ' 
1 3
sen'  (6)

, ,
1 '3 '  ( + )/2
1 3  


Ou

Figura3
6

1 ' 1
3 '
sen' 
1 ' 1
3 '

sen' 1 '  sen'  1 ' 1


3 ' 3 '

1 ' (1  sen' )  1  sen'


3 '

1 ' 1  sen'
  tg 2 (45o  ' )  N  (7)
3 ' 1  sen' 2

finalmente

1 '  N3 ' (8)

caso b – solo coesivo (Figura 4)


Da figura ao lado se deduz que:

(1 '3 ' ) / 2 c,


, ,
sen'  (9)

( - )/2
1 3
(1 '3 ' ) / 2  c' / tg' , , , ,
c /tg

( + )/2
 
1 3
 

que, após o desenvolvimento matemático,


resulta em:

1 '  N3 '2c' N (10) Figura 4

5.TEORIA DE RANKINE

A teoria de Rankine permite calcular os empuxos ativo e passivo atuantes sobre uma
estrutura rígida que suporta um maciço de solo em estado de equilíbrio limite. (limiar
da ruptura) Originalmente estabelecida para solos não coesivos (granulares), foi
posteriormente estendida para solos coesivos.
7

Uma importante hipótese dessa teoria é que o contato entre a estrutura e o solo é
perfeitamente liso, não havendo mobilização de resistência no contato solo-muro, o
que implica que a direção do empuxo de terra é paralela à superfície do terreno. De
acordo com essa teoria, o deslocamento da estrutura provoca a plastificação de todo o
maciço, formando-se infinitas superfícies planas potenciais de ruptura.

Serão discutidos dois casos, o primeiro referente à condição drenada e o segundo para
a condição não drenada. Em ambos os casos, serão analisadas somente situações bem
simples e idealizadas: admite-se superfície do terreno horizontal e cisalhamento no
contacto solo –anteparo igual a zero.

5.1. Situação drenada

Seja um ponto P no contato solo –anteparo (Figura 5).


Para a condição em repouso, as tensões principais
máxima e mínima são as tensões vertical e horizontal
e valem:
'1  'v  z (11)

'3  'ho  K 0 'v  K 0 z (12)

Figura 5
Será analisado a seguir cada um dos dois casos, ativo e passivo.

5.1.1 Caso ativo

Na Figura 6 o círculo menor corresponde à condição em repouso.

plano de ruptura

c
,

 
c
,
plano de ruptura

,
 ha , ,
ho v

Figura 6
8

A evolução do estado em repouso para o estado ativo, a medida que o muro vai se
afastando, é feita mantendo-se constante a tensão vertical efetiva e diminuindo-se
gradativamente a tensão horizontal efetiva (Figura 7).

Figura 7

Como mostra a Figura 6, para um certo valor de tensão horizontal efetiva, o círculo
tangencia a envoltória de resistência, ocorrendo então a ruptura. Diz-se então que foi
atingido o estado ativo.

A expressão que relaciona 1’e 3’ na ruptura é a expressão (10), já apresentada:

1 '  N  3 '2c' N 

,V  N ,ha  2c' N 

1 , 2c'
´h a  v  (13)
N N
9

'
Os planos de ruptura (Figura 6) formam um ângulo r  45 o  com o plano
2
principal maior, ou seja, com o plano horizontal, como indicado na figura 8.

Figura 8

A Figura 9 apresenta o diagrama da pressão de empuxo ativo.

Figura 9

Em virtude do solo apresentar coesão, nem sempre é possível estabelecer uma


condição de ruptura no caso ativo. Como se pode observar, os valores de empuxo
10

obtidos até uma profundidade z= zo precisam ser negativos para que ocorra a ruptura,
mas neste caso há a tendência do solo se “descolar” do muro. Além do mais, na
presença de esforços de tração, muitos solos se trincam.

A condição de ruptura só será atingida para profundidades iguais ou maiores que z o.


Da expressão de ’ha tem-se:

1 2c'
´h a  z 0  0
N N

donde resulta

2c'
z0  N (14)

A presença da coesão possibilita manter um corte vertical, sem necessidade de


escoramento, até uma altura crítica na qual o empuxo resultante é nulo.

4c'
H c  2z 0  N (15)

Para efeito do cálculo dos esforços no anteparo, a força de empuxo ativo é calculada
não considerando a parcela negativa, como indicado na Figura 9. O empuxo ativo
será então igual a área da parte positiva do diagrama:
H H z 2c' 1 H 2 4c´2 4c´H
E a  z ´h a dz  z (  )dz  (   ) (16)
0 0 N
 N 2 N  N

5.1.2 Caso passivo

Na Figura 10, o círculo menor corresponde à condição em repouso.


11


plano de ruptura

c
,




c
,

plano de ruptura

, ho , v , hp

Figura 10

A evolução do estado em repouso para o estado passivo, a medida que o muro vai
sendo empurrado contra o solo, é feita mantendo-se constante a tensão vertical efetiva
e aumentando-se gradativamente a tensão horizontal efetiva (Figura 11).

Figura 11

Com o aumento da tensão horizontal efetiva, esta ultrapassa a tensão vertical e


finalmente, como mostra a Figura 10, para um certo valor de tensão horizontal
efetiva, o círculo tangencia a envoltória de resistência, ocorrendo então a ruptura.
Diz-se então que foi atingido o estado passivo.

Aplica-se então a expressão 10:

1 '  N 3 '2c' N 

mas neste caso a tensão horizontal efetiva é a tensão principal maior e:


12

´h p  N  z  2c' N  (17)

'
Os planos de ruptura formam um ângulo r  45 o  com o plano principal maior,
2
que neste caso é o plano vertical (Figura 12).

Figura 12

A figura 13 apresenta o diagrama da pressão de empuxo passivo.

Figura 13

O empuxo passivo vale a área do diagrama:

H H 1
E p  0 'h p dz  0 ( N  z  2c' N  )dz  ( H 2 N   4cH N  ) (18)
2
13

A Figura 14 mostra a mobilização das pressões horizontais ativas e passivas de


Rankine para uma parede lisa.

Figura 14

5.1.3 Terreno inclinado - Solo não coesivo

Para solos não coesivos , as equações 13 e 17 simplificam para:

1 ,
 ´h a  v ou  ´h a  K a v, (19)
N

 ´h p  N v, ou  ´h p  K p v, (20)

1 1
Com K a   (21)
K p N

Figura 15
Para esses solos, têm-se as seguintes expressões para o caso do terreno inclinado,
formando um ângulo  com a horizontal (Figura 15):

(22)

(23)
14

Deve-se observar que os empuxos são inclinados formando o ângulo  com a


horizontal

5.1.4. Exemplos de cálculo


15
16
17
18
19

5.2. Situação Não Drenada

Os solos de baixa permeabilidade, principalmente os argilosos, podem atingir tanto o


estado ativo quanto o passivo em condição não drenada.

Será analisado aqui o caso mais típico que é das argilas saturadas não drenadas.

5.2.1 Argilas saturadas não drenadas

Neste caso os parâmetros de resistência são =0 e c = su.

E a expressão 10:

1 '  N3 '2c' N

passa a ser:

1  3  2s u (24)

Caso ativo

A expressão (13) torna-se:

 h a  z  2s u (25)

Caso passivo

A expressão (17) resulta para este caso:

 h p  z  2s u (26)
20

5.2.2. Exemplos de Cálculo

a) Um muro de arrimo com paramento interno vertical tem 9 m de altura e suporta


um aterro de argila com n = 19 kN/m3, su = 28,5 kPa e  = 0. Encontre o empuxo
sobre o muro por metro de muro.

b) Pretende-se fazer um corte vertical de 15 m de altura em uma maciço argiloso


(resistência não drenada de 30 kPa e peso específico natural igual a 15 kN/m3.
Determinar qual a altura mínima que poderá ter o muro de arrimo indicado de forma
que se possa deixar a parte superior do corte sem arrimo com um coeficiente de
segurança igual a 2.
21

6. INFLUÊNCIA DA RUGOSIDADE DA PAREDE

Como mencionado anteriormente, a Teoria de Rankine pressupõe que a parede seja


perfeitamente lisa e portanto que a resistência ao cisalhamento no contato solo –
estrutura de contenção seja nula. Para essa condição, se a superfície do terreno for
horizontal, os planos horizontal e vertical são planos principais de tensão. Entretanto,
os planos principais mudam de posição quando se considera a resistência no contato.

A resistência no contato solo – estrutura é definida pela equação:


 max c  cc   , tg ´´ (27)
22

onde cc e ´ são respectivamente a adesão e o ângulo de atrito no contato solo –


estrutura. Na ausência de dados experimentais, adotam-se os parâmetros cc e ´da
ordem de metade a 2/3 de c’ e de ’ do solo.

Se uma parede rugosa se move para fora, há o abatimento de uma cunha de solo atrás
da parede. Como mostra a Figura 16, lado direito do muro, o movimento para baixo
do solo em relação à parede desenvolve forças de atrito que fazem com que o empuxo
ativo resultante seja inclinado de um ângulo  em relação à normal à parede. Análise
teórica mostra que as superfícies de deslizamento correspondentes consistem de uma
porção curva inferior e de uma porção reta superior (Figura 17a).
Se a parede é empurrada contra o solo (Figura 16, lado esquerdo do muro), o solo
sobe em relação ao muro e a reação à força de empuxo passivo age numa direção
formando um ângulo  com a normal à parede. A componente tangencial dessa força
tende a evitar a subida da cunha. As superfícies de deslizamento apresentam também
duas porções, uma curva e uma reta (Figura17b).

Figura 16– Setas indicam direção dos esforços aplicados pelo solo no muro

Ao se considerar a resistência no contato solo - estrutura, resulta numa diminuição do


empuxo ativo e um aumento do empuxo passivo em relação a hipótese de Rankine.
23

Figura 17 (Terzaghi e Peck, 1948)


Obs.:Setas indicam direção dos esforços aplicados pelo muro no solo

7.TEORIA DE COULOMB

7.1 Empuxo Ativo

7.1.1 Solo não coesivo

Como visto, a superfície de deslizamento numa estrutura real é levemente curva. Para
simplificar os cálculos, Coulomb (1776) admitiu uma superfície de deslizamento
plana. Para o caso do empuxo ativo, o erro em desprezar a curvatura é bastante
pequeno.

Coulomb calculou o empuxo a partir do equilíbrio de forças de uma cunha de solo,


em situação de ruptura, definida pela superfície do terreno, pela face interna da
parede (tardoz) e por uma superfície de ruptura plana inclinada ligando a base da
estrutura à superfície do terreno (Figura 18(a)). Esta superfície de ruptura é a
princípio desconhecida, sendo necessário determinar, por tentativas, a superfície que
corresponde ao valor limite de empuxo.

Em resumo, no método de Coulomb são propostas diversas superfícies planas de


ruptura e, a partir do equilíbrio das forças horizontal e vertical, é calculado o valor do
24

empuxo associado a cada uma das cunhas. No caso ativo, o empuxo de projeto será o
maior valor obtido entre as superfícies analisadas, enquanto que no caso passivo
seleciona-se o menor valor.

As forças que agem na cunha são mostradas na Figura 18(a) na qual a linha reta BC é
arbitrariamente assumida como sendo a superfície de deslizamento. A cunha ABC
está em equilíbrio sob o peso W, a reação à resultante da pressão de terra Pa e a
reação F. A reação F forma um ângulo ´ (ângulo de atrito do solo) com a normal a
BC. A força Pa forma um ângulo ´(ângulo de atrito do contato muro - solo) com a
normal à parede. Uma vez que a magnitude de W é conhecida e as direções das 3
forças são também conhecidas, o valor de Pa pode ser determinado a partir do
polígono de forças (Figura 18(b)). Como BC não é necessariamente a superfície real
de deslizamento, construções similares são feitas para determinar as pressões de terra
para outras superfícies BC, arbitrariamente escolhidas. O máximo valor obtido desta
maneira é igual ao empuxo ativo de terra Ea ou Pa.

Figura 18 - (Das e Sobhan, 2014)


25

Pode-se mostrar que o empuxo de terra ativo para solo não coesivo é dado, pelo
método de Coulomb, pela expressão:

(28)

Sendo Ka dado por:

(29)

A tabela 1 a seguir mostra valores de Ka para  = 0o e  = 0o

Tabela1- valores de Ka para  = 0o e  = 0o (apud Das e Sobhan, 2014)

As tabelas 2 e 3 seguintes mostram valores de Ka para ´ = 2/3 ´ e ´ = 1/2 ´


respectivamente.
26

Tabela 2 - valores de Ka para ´ = 2/3 ´ (continua) (apud Das e Sobhan, 2014)


27

Tabela 2 - valores de Ka para ´ = 2/3 ´ (continuação) (apud Das e Sobhan, 2014)

Neste método, determina-se a resultante de empuxo, não sendo conhecida a


distribuição de tensões nem o ponto de aplicação do empuxo. Geralmente, o ponto de
aplicação do empuxo é obtido de forma aproximada, traçando-se uma reta, paralela
ao plano de escorregamento, passando pelo centro de gravidade da cunha (Figura 19).

Figura 19
28

Tabela 3 - valores de Ka para ´ = 1/2 ´ (continua) (apud Das e Sobhan, 2014)


29

Tabela - valores de Ka para ´ = 1/2 ´ (continuação) (apud Das e Sobhan, 2014)

Quando a parede é vertical e a superfície do terreno horizontal, e não se considera a


resistência ao cisalhamento no contato estrutura – solo, o método de Coulomb
fornece resultado idêntico ao de Rankine.

7.1.1.1 Construção gráfica de Culmann

A construção gráfica de Culmann (1866), que serve para a realização do equilíbrio da


cunha, está ilustrada na Figura 20.
30

Figura 20 (Das e Sobhan, 2014)

Para a determinação do empuxo ativo pelo método de Culmann são os seguintes


passos:
 Traça-se inicialmente a reta BD que passa pelo ponto B da face interna do
muro e faz um ângulo ´ com a horizontal.
 A seguir traça-se a linha BE que intercepta a reta BD num ângulo queé
igual ao ângulo entre a vertical e a força Pa.
 Escolhe-se, arbitrariamente, uma primeira superfície de deslizamento, o
segmento BC1.
 Calcula-se o peso do solo da cunha ABC1.
 Marca-se o ponto c1 sobre a reta BD de modo que a distância Bc1 represente o
peso da cunha ABC1 em uma escala de força arbitrariamente escolhida.
31

 O segmento c1c´1, paralelo a BE, representa, na escala de forças adotada, a


reação que a parede tem que exercer para evitar o deslizamento da cunha
ABC1.
 Variando-se as cunhas, determina-se o empuxo ativo como o valor máximo
calculado de Pa.

Exemplo:
Determinar a intensidade do empuxo
atuante no tardoz do muro, cuja seção
transversal está esquematizada ao
lado, segundo a teoria de Coulomb.
Características do solo: γ = 17
kN/m3;  ´ = 30° c´ = 0

Adotando =2/3 ´= 20º

Foram escolhidas arbitrariamente 4 cunhas, indicadas na tabela abaixo


Cunha Base (m) Altura (m) Volume (m3/m) Peso
abc1 12,4 4 24,8 W1=24,8 
abc2 10,2 3,6 18,4 W2=18,4 
abc3 8,6 2,9 12,5 W3=12,5 
abc4 7,2 1,7 6,1 W4=6,1 

O gráfico a seguir foi feito de forma que cada cm equivale à força de 2 em kN/m.
Resulta para Pa:
Pa = 3,8 x 2x 17 = 129 kN/m
32

Ou pela tabela: Ka = 0,4142 e portanto Pa =(1/2)x 0,4142 x 17 x 62 = 127 kN/m2

7.1.2 Solo coesivo

A teoria de Coulomb pode ser estendida para solos coesivos considerando a coesão
do solo c’ e a adesão cc.do contato solo - muro. Nesse caso, assume-se que trincas de
tração possam se desenvolver até uma profundidade z0, a qual é estimada de acordo
com a teoria de Rankine. As superfícies potenciais planas de ruptura se desenvolvem
conforme mostra a Figura 21, sendo as forças atuantes na cunha ABCD dadas por:
 Peso da cunha W
33

 Reação entre a parede e o solo (P), com inclinação  em relação à normal à


superfície.
 Força devida à componente de adesão: Cc=cc.EB
 Reação R no plano potencial de deslizamento atuando a um ângulo ´ em
relação a normal à superfície.
 Força no plano potencial de deslizamento devido a parcela de coesão C=c’. BC

As direções de todas as componentes são conhecidas, assim como as magnitudes de


W, Cc e C. Com o traçado do polígono de forças, determina-se o valor de Pa.
Construções similares são feitas para determinar as pressões de terra para outras
superfícies. O máximo valor obtido desta maneira é igual ao empuxo ativo de terra.
Caso a trinca fique saturada, a parcela de carga correspondente deve ser acrescida ao
polígono de forças.

Figura 21 - (Gerscovich, 2016)


34

Exemplo

Calcular o empuxo ativo sobre o muro de arrimo esquematizado abaixo.

A profundidade das trincas é:


2c'
z0  N  = 0,83 m

Foram selecionadas 4 cunhas indicadas na figura abaixo.

Cunha Volume W C Cc Pa
(m3/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN/m)
ABC1D1 0,83x6+8x3= 29 W1=551 C1=8x5=40 5x3=15 Pa1=120
ABC2D2 0,83x4+6,3x2,6= 21,4 W2=407 C2=6,3x5=31,5 5x3=15 Pa2=150
ABC3D3 0,83x2+4,8x1,7=13,1 W3=249 C3=4,8x5=24 5x3=15 Pa3=150

Pa= 150 kN/m


35

7.1.3 Presença de água

A Figura 22 (a) mostra uma superfície potencial de ruptura plana e a distribuição de


pressão neutra atuante ao longo do plano AB, determinada pela rede de fluxo. Além
dos esforços já indicados deve-se incluir no polígono de forças a resultante U das
pressões na água (Figuras 22b e c).

Figura 22- (Gerscovich, 2016)


36

7.2 Empuxo passivo

Coulomb calculou o empuxo passivo contra o muro admitindo que também neste
caso a superfície de deslizamento é plana (Figura 16 ou Figura 23). O erro neste caso
é sempre contra a segurança. Se o ângulo de atrito  for pequeno (< /3), a
superfície de deslizamento é quase plana e o erro é tolerável. Entretanto, se  for
grande (> /3), o erro é grande e o método de Coulomb não deve ser usado.
Como mencionado, o empuxo passivo corresponde ao menor valor de P.

7.2.1 Solo não coesivo

Figura 23 (Das e Sobhan, 2014)

Pode-se mostrar que o empuxo de terra passivo para solo não coesivo é dado, pelo
método de Coulomb, pela expressão:
37

(30)
onde

(31)

7.2.2 Solo coesivo

O valor do empuxo passivo pode ser determinado pelo método de Culmann de forma
idêntica à do empuxo ativo, exceto que a linha BD (Figura 20), deve ser traçada num
ângulo marcado abaixo da horizontal e não acima, como no caso do empuxo ativo.

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