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MARKETING COM
VALOR AGREGADO
Nós, seres humanos, sempre tivemos fascinação por previsões; desde
as músicas dos oráculos gregos ao visionário calendário Maia, e das pro-
fecias de Nostradamus à edição anual “What’s Next” da Business Week,
somos instigados a tentar entender o que virá a seguir para ganhar van-
tagem no futuro. O mundo do marketing com certeza não é diferente:
também olhamos para o horizonte na tentativa de prever aonde deve-
mos empregar nosso tempo e dinheiro para maximizar o retorno sobre
nosso investimento.
Nos últimos anos ouvimos muito sobre como o surgimento da Web
2.0 mudaria tudo (cujas implicações ainda não entendemos). Outros têm
alegado que o marketing está no auge da “Era da Transparência” ou “Con-
versa” ou da “Abertura”. Alguns vão tão longe quanto sugerir que estamos
na iminência de atingir a “singularidade” - o momento transcendental
quando a inteligência artificial evoluirá a num ritmo acelerado exponencial,
superando em pouco tempo o poder do cérebro humano. Nessa altura, ou
faremos o download de nossas mentes em chips de computador e viveremos
para sempre, ou o Skynet tomará o controle do arsenal nuclear da humani-
dade e mandará Arnoid Schwarzenegger de volta para o pássado.
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A previsão de marketing mais fácil
de fazer - e provavelmente a mais precisa
- é que a maioria dessas previsões, se não
todas, cairão por terra. Certamente, exis-
tem elementos de verdade nesses concei-
tos. As marcas bem-sucedidas no futuro
provavelmente serão mais acessíveis,
mais transparentes e mais humanas. Mas
nenhum, desses conceitos oferece um
novo modelo de marketing que aqueles
de nós que se encontram nas trincheiras podem transformar num mode-
lo de sucesso boje.
Tomando como base minha experiência, e aquela das ouuas marcas
apresentadas neste livro, acredito que o Marketing com Valor Agregado
se tomará um pilar que você, caro leitor, pode implementar para realizar
uma mudança real em sua marca. Mas o velho ditado “a única constante
é a mudança” (que, talvez apropriadamente, é atribuído a Isaac Asimov) é
verdadeiro e minha esperança é que, além de revolucionar seu resultado de
vendas no curto prazo e a lealdade do cliente no longo prazo, o Marketing
com Valor Agregado pode servir também como uma lente útil através da
qual você pode avaliar quais tendências e ferramentas novas realmente me-
recem sua atenção.
A seguir, sem uma ordem em particular, estão algumas mudanças que
acredito que experimentaremos nos próximos três ou cinco anos, um pe-
ríodo de tempo longo o bastante para permitir que ocorra a mudança de
um hábito, mas que não requer aventurar-se demais no desconhecido.
0 Padrão Subirá Para Todos
sem dúvida você já notou que seus clientes estão cada vez mais exigentes,
làlvez você até tenha se pegado criticando mais as empresas de quem é
liente. O fato é que o que era aceito como úm bom serviço ontem talvez
tão seja mais amanhã, e os profissionais de marketing que oferecem valor
gregado talvez sejam os únicos preparados para estar à altura da ocasião.
Múltiplas fontes de dados sugerem que as pessoas estão se tornando
onsumidores mais rígidos em geral. Uma pesquisa de opinião conduzi-
Acredito que o Marke-
ting com Valor Agre-
gado se tornará um
pilar que você, caro
leitor, pode implemen-
tar para realizar uma
mudança real em sua
marca.
O FUTURO DO MARKETING COM VALOR AGREGADO 293
da pela Harris Interactive em 2007 constatou que 80% dos mais de dois
mil adultos entrevistados juraram nunca mais comprar de uma empresa
em particular depois de uma experiência negativa. Isso foi muito acima
dos 68% de 2006 - um aumento de 12% em apenas um ano. Outro es-
tudo global conduzido pela Accenture em 2007 constatou que 52% de
mais de 3.500 pessoas entrevistadas disseram que suas expectativas quan-
to a serviços aumentaram nos últimos cinco anos. E um terço afirmou
que suas expectativas aumentaram no último ano.
Acredito que um serviço melhorado em alguns setores está alimen-
tando as expectativas dos clientes para todos os ramos de negócios. As
lojas da Apple definiram o padrão ao qual todos os outros varejistas, in-
dependentemente do que vendem, são comparados; e se o Twitter pode
deixar você atualizado via celular sobre o que seus amigos estão fazen-
do, é melhor as companhias aéreas enviarem alertas sobre mudanças em
voos. As marcas não estão mais competindo apenas com outras marcas
ou serviços que têm contato com seu cliente-alvo. Seja uma compa-
nhia aérea, uni varejista, ou uma empresa de software, esperamos que
qualquer empresa que nos queira como clientes nos trate com respeito
e num padrão de alta qualidade - atenda nossas ligações prontamente,
estejam disponíveis 24 horas e criem um marketing que acrescente valor
a nossas vidas.
Isso significa duas coisas para os profissionais de marketing. Primei-
ro, sugere que o marketing de interrupção pode morrer bem antes do
que achamos conforme as pessoas se mostram menos dispostas a serem
incomodadas e mais inclinadas a um marketing com valor. No outono
de 2008, por exemplo, a Toyota bombardeou as redes de TV com sua
campanha “Saved by Zero.” Era realmente mais uma propaganda irri-
tante de uma marca de automóvel oferecendo financiamento com zero
por cento de juros, acompanhada por uma interpretação pobre da can-
ção “Saved by Zero” da banda alternativa Fixx da década de 1980. As
pessoas têm absorvido milhares de anúncios como este há anos, ainda
assim este anúncio foi a gota d’água. Gerou um grupo de protesto no
Facebook com mais de 10 mil membros. E esse grupo de protesto no Fa-
cebook por sua vez gerou cobertura da mídia no New York Times, no
Wall Street Journal e na revista Time. O anúncio causou fúria, e essa fú-
i'iA
MARKETING COM VALOR AGREGADO
ria foi merecedora de virar notícia por-
que as pessoas hoje estão exigindo mais
dos profissionais de marketing e podem
acessar as redes sociais para tornar suas
exigências mais veementes.
Segundo, essas exigências cada vez
maiores significam que os profissionais
de marketing que oferecem valor agrega-
do devem investir contínuamente na me-
lhorja dos serviços que oferecem. Vemos
isso com frequência em nossos progra-
mas de marketing de relacionamento para marcas como Similac e Co-
nAgra Foods. Em vez de olhar para os concorrentes no mercado, mode-
amos nossas melhorias nos últimos recursos oferecidos pelo Google ou
telo WebMD. Sabemos que estamos competindo com todos esses “ati-
’os” (properties) para fornecer informações e conquistar visitantes que
etomam, e isso vai muito além da Web. Sem dúvida, uma das razões
ior que o papel higiênico Charmin aprimora suas instalações na Times
Iquare a cada ano é que o padrão para experiências de marca continua
umentando - especialmente no centro ultracompetitivo de Nova York.
Embora isso represente mais trabalho duro para nós, profissionais
e marketing exaustos, a boa notícia é que o Marketing com Valor Agre-
'ido cria um tipo de meritocracia de marca, onde é literalmente possível
ara uma marca surgir do nada com um serviço novo melhorado e ven-
;r a concorrência.
Observe o que pode estar faltando aos líderes de categoria atuais
você ficará surpreso com a rapidez com que você pode ultrapassá-los.
iapfrog Marketing: Nova Mídia
;sim como os buchichos promocionais, os prognosticadores da nova
ídia amam trombetear as tecnologias de ponta que certamente vão vi-
• o mundo do marketing de cabeça para baixo. Já vivenciei diversos
sses ciclos de sensacionalismo, que parecem sempre seguir um padrão
nelhante: um punhado de gurus se apaixona pelo mais recente killer
O Marketing com Valor
Agregado cria um tipo
de meritocracia de
marca, onde é literal-
mente possível para
uma marca surgir do
nada com um serviço
novo melhorado e ven-
cer a contorréncia.
O FUTURO DO MARKETING COM VALOR AGREGADO 295
appl (em primeira mão: seu apoio geralmente surge quando ingressam
em start-ups ligadas ao tal aplicativo) e o veneram como a próxima gran-
de solução para os males do setor. Depois de um ano ou dois, uma das
publicações semanais de negócios transforma a novidade numa história
de capa que apresenta o conceito para o público de marketing de mas-
sa. Então ou o buchicho falha ou a tecnologia se estabelece, oferecendo
alguma utilidade módica para as marcas ou iniciativas certas. Dois exem-
plos bem-sucedidos são os blogs e o e-mail. Dois fracassos incluem as
lojas do Second Life e os anúncios no MSN.
Curiosamente, nos últimos tempos parece que quanto mais nova é a
mídia, maior é o nível de fúria que ela provoca no consumidor. Veja por
exemplo o marketing móvel. Claramente, o celular e outros dispositivos
móveis estão se tomando urna parte mais integral de nossas vidas, e essa
tecnologia continuará a se aprimorar nos próximos anos. O relatório
Pew Internet de dezembro de 2008 previu que, até 2020, os dispositivos
móveis serão a principal ferramenta de conexão com a Internet para a
maioria das pessoas ao redor do mundo. Como resultado, profissionais
de marketing das novas mídias foram rápidos em saltar no vagão do mó-
vel, vislumbrando um sistema para incluir microbanners de anúncios em
todas as páginas que visitamos com nossos aparelhos. Eles riem de ale-
gria ao pensar nas imensas possibilidades de geo-alvo - enviar um alerta
para seu celular quando você passa em frente a um Starbucks, digamos,
convidando você para 25 centavos de um Venti Latte.
Mas os consumidores não querem nada disso, e estão claramente
preocupados com que este mais pessoal dos dispositivos caia nas mãos
dos profissionais de marketing errados. Um estudo conduzido pelo AC-
Nielsen em outubro de 2007 que selecionou percepções do consumidor
sobre diferentes formas de propaganda em 47 mercados, constatou que
o marketing móvel foi considerado como o “menos confiável”. Outro
estudo da Nielsen, chamado de “alvos prováveis de anúncios móveis”,
visto que as pessoas estão usando os celulares para mais do que apenas
falar (como navegar na Internet, enviar mensagens de texto, jogar games
ou comprar ringtones), constatou que as pessoas mais ativas em seus ce-
lulares são, na verdade, as mais resistentes a anúncios:
Z96
MARKETING COM VALOR AGREGADO
• Apenas 10% responderam a anúncios em seus telefones celula-
res.
• Cerca de 11 % visualizaram o anúncio mas não responderam.
• Consideráveis 79% nem mesmo visualizaram o anúncio.
• Uns 67% acharam inaceitável receber anúncios em seu celular.
Conclusão? Essas pessoas podem parecer seu público-alvo ideal, mas elas
não querem deforma alguma anúncios em. seus telefones. Curiosamente, esta
atitude anti-anúncio reteve os provedores de serviços de criar uma pla-
taforma para marketing. Num mundo em que os provedores de serviços
estão guerreando entre si numa competição acirrada, não podem se dar
ao luxo de enfurecer seus clientes só para ganhar uns trocados a mais.
Um porta-voz da Verizon confirmou que “o valor incremental em re-
ceita desaparece frente ao custo de perder clientes que não gostam de
anúncios”.
Então o que um profissional de marketing deve fazer? Na verdade
você pode pular o marketing interruptivo e ir direto para o Marketing
com Valor Ag?-egado. Já existe um consenso geral na indústria do mar-
keting móvel de que a única maneira de conquistar esta esfera e agregar
valor à vida dos consumidores é oferecendo serviços úteis e ferramentas
livertidas. Segundo Zao Thet, CEO da 4INFO, uma empresa líder em
nídia móvel, “As marcas não podem mais simplesmente aparecer e es-
>erar que sua mensagem seja ouvida. Os consumidores negociam aten-
•ão por valor, seja o entretenimento de um jogo ou economias através de
im programa de fidelidade”.
Vários profissionais de marketing inteligentes entraram no jogo
tóvel oferecendo valor agregado. A CoverGirI criou uma aplicação cha-
tada “ColorMatch” que recomenda tonalidades de sombra com base no
)m da pele e na cor da roupa e dos acessórios. Segundo o porta-voz da
iarca, “As mulheres não levam seu computador para a loja, fazendo do
ílular a opção ideal”. A AT&T usou o marketing móvel para criar fer-
mentas que permitem aos espectadores do Campeonato de Mundial
: Triado no Havaí acompanhar o progresso dos pardcipantes, resultan-
) em IS mil registros e 100 mil impressões de marca. O Visa criou uma
O FUTURO DO MARKETING COM VALOR AGREGADO 297
ferramenta que sugere combinações de queijos e vinhos para clientes
nos supermercados em nome de seu produto de luxo, o Visa Signature.
A chegada do iPhone e de sua App Store pode impulsionar esta
oportunidade. A Kraft, por exemplo, já desenvolveu o iFood Assistant,
que inclui mais de 7 mil receitas, uma lista de compras inteligente e um
localizador de lojas. Ela está inclusive vendendo o aplicativo por US$
0,99 e as pessoas estão provando este exemplo de Marketing com Valor
Agregado. Apenas um mês depois de seu lançamento, o iFood Assistant
se tornou um dos primeiros entre os 100 aplicativos pagos mais popula-
res e o segundo melhor na categoria estilo de vida. Segundo o diretor de
inovação da Kraft, Ed Kaczmarek, a aplicação iFood trouxe para a marca
milhões de dólares em cobertura de RP, atingiu sua meta de download
estimada para três anos numa questão de semanas e conquistou um alto
percentual de consumidores homens e da Geração Y.
A aplicação iFood nos deixa mais perto de ser um recurso indispensável para
o consumidor no planejamento de refeições e de compras de supermercado.
— ED KACZMAREK, DIRETOR DE INOVAÇÃO, KRAFT
Outro exemplo é a Vicks, que financiou um aplicativo de rastrea-
mento de resfriados e gripes que a cada dia envia uma atualização basea-
da em CEP sobre condições do tempo e a gravidade de surtos de gripe e
resfriados. A empresa de seguros Nationwide lançou recentemente uma
aplicação para iPhone que orienta as pessoas sobre o que fazer quando
se envolvem num acidente de carro.
O termo leapfrog technology (salto tecnológico) está sendo cada vez
mais usado para se referir à maneira como os países em desenvolvimento
estão se beneficiando do processo de tentativa e erro das tecnologias em
desenvolvimento, saltando os passos intermediários e indo direto para
o padrão “melhor da classe”. Na África, por exemplo, os vilarejos estão
passando de nenhum telefone para telefone celular, sem se incomodar
em instalar redes de telefonia fixa. No Brasil, os consumidores saltaram
direto do dinheiro em espécie para cartões de débito, pulando principal-
mente o talão de cheque e o cartão de crédito. No Paquistão, vilarejos
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MARKETING COM VALOR AGREGADO
rurais estão deixando de lado a geração cara de energia com carvão e
poluente e indo direto para a energia solar.
O Marketing com Valor Agregado pode igualmente facilitar um sal-
to para os profissionais de marketing. Ào invés de regredir para a pro-
paganda interruptiva quando essas novas opções de mídia surgem, pode-
mos saltar diretamente para o Marketing com Valor Agregado porque ele
simplesmente faz muito sentido tanto para os consumidores quanto para
as empresas.
Os videogames, um meio maduro que continua crescendo e se di-
versificando, oferece outro exemplo do conceito de salto (kapfrog). Em
2008, já se jogava games nos Estados Unidos há 12 anos e a idade média
do jogador americano era de 35 anos. Mas o fato é que pessoas de todas
as idades e demografias estão jogando inúmeros jogos em diversas plata-
formas - de adolescentes atirando granadas em Halo a mulheres de meia
idade jogando Bejeweled em seus laptops.
Assim como o celular, este aumento no tempo de visualização deixou
as profissionais de marketing babando. Segundo a Nielsen, os consoles
;ão efetivamente a quinta maior “rede” em termos de audiência noturna,
tmpresas grandes e pequenas estão construindo sistemas que permitirão
ios profissionais de marketing comprar espaço em games, assim como fa-
■em na televisão e nos jornais. Na verdade, o presidente Obama atraiu
lguma atenção para as possibilidades quando sua campanha comprou um
utdoor virtual no jogo de corrida Buniout Paradise do Xbox 360. Mas
omo o analista chefe global da Millward Brovvn, Nigel Hollis, observa.
Afixar um,., logo na beira da estrada num-jogo de corrida não é nem
e longe tão instigante quanto integrar uma marca no conteúdo do game
ara que o jogador interaja com ela... o grande desafio para os anunciantes
usar a interatividade do jogo para engajar as pessoas em suas marcas, não
mplesmente usá-la para apresentar um outdoor virtual.
Existem muitas maneiras de se envolver em uames com valor agre-
ido, como visto no suporte da Paramount Pictures para o filme Trovão
•opical e em seu tie-in no game Rambmv Six Vtgas da Ubisoft. O filme
almente patrocinou um novo nível de “caça ao tesouro” para o game
ie os jogadores podiam baixar de graça, cuja missão era procurar uma
rie de nove pistas de marca. Aqueles que completaram a missão ganha-
O FUTURO DO MARKETING COM VALOR AGREGADO