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Marcos é um servidor público de 29 anos que trabalha no poder judiciário e mora com os pais. É
formado em Direito e cursa uma especialização lato sensu em sua área. Faz musculação em uma academia
cinco vezes por semana e joga futebol aos sábados. Veio à terapia queixando-se estar em uma “sinuca de
bico”.
Marcos namora Paula (28 anos) há três anos. Eles se conheceram em um curso preparatório para
concursos públicos. Marcos relata que sua namorada é muito ciumenta, possessiva e agressiva. Além disso,
no último ano do namoro, ela tem cobrado constantemente “um compromisso mais sério”, isto é, que se
casem, ou que, pelo menos, noivem. O cliente relata não querer mais continuar com o relacionamento,
desejando “escapar” do casamento a qualquer custo. Entretanto, não consegue romper com Paula, relatando
as seguintes razões: “Não quero quebrar minha coerência. Você sabe, no início do namoro, apaixonado, a
gente fala muitas coisas que depois se arrepende. Então, eu falei que a amaria para sempre, que ela era a
mulher da minha vida, que queria casar com ela, etc. Como é que agora, de uma hora para outra, digo que
não a amo mais e que quero terminar? Além disso... eu sei que não... mas há vezes que penso que ela vai
morrer ou fazer alguma besteira se eu terminar. Ela é tão nervosa e tão dependente de mim que eu fico
preocupado”. De fato, em algumas brigas em que Marcos sugeriu que interrompessem temporariamente o
namoro (“dessem um tempo”), Paula teve atitudes extremas, como sair correndo sozinha de um bar onde
estavam, de madrugada em um lugar perigoso, e ameaçar pular do carro em movimento.
Marcos, desde que começou a flertar com 14 anos, nunca ficou solteiro. Sempre “emendava” um
relacionamento em outro e, em geral, traía a sua namorada do momento com a seguinte. Ele teve mais três
namoros com duração superior a um ano e meio. Relatou ter passado por situações similares nos outros
namoros, querendo terminar e não conseguindo. Essas relações duraram mais do que Marcos gostaria, e ele
somente conseguiu rompê-las quando se envolveu com outra pessoa.
Os poucos amigos de Marcos estão todos comprometidos, e ele não tem com quem sair caso fique
sozinho. Afirma ser muito tímido para fazer amigos, apesar de ter uma excelente fluência verbal e conseguir
falar sobre diversos assuntos quando já conhece a pessoa. Marcos não parece ter problemas para conseguir
parceiras, uma vez que sempre manteve casos fora do relacionamento. Entretanto, relatou que, desde
criança, se achou inferior aos outros. Achava-se feio, sem graça, muito magro, cabelo esquisito, dentes
tortos, etc. Toda situação de conquista o fazia se sentir melhor. Relatava que só sentia que tinha valor
quando alguém queria ficar com ele. As suas investidas amorosas realmente não foram bem-sucedidas em
sua adolescência: seus amigos costumavam ter seus flertes bem-sucedidos e se vangloriavam disso,
enquanto Marcos experimentou algumas rejeições dolorosas.
Apesar de não relatar sentir culpa pelas traições, Marcos relata que queria mais liberdade para viver
esses casos: “Eu pegaria muito mais mulher se não estivesse encoleirado”. Ele também relata invejar os
homens solteiros na atualidade que podem conhecer inúmeras mulheres por meio de aplicativos de celular.
Algumas das mulheres que conheceu ao trair a sua namorada eram, segundo ele, muito interessantes, e ele as
teria perdido por estar namorando.
Para conseguir manter sua infidelidade em segredo, Marcos inventa todo o tipo de desculpa para sair
sozinho. Costuma deixar sua namorada em casa cedo para sair com outras mulheres depois. É extremamente
cuidadoso com o celular, nunca o deixa disponível para que Paula não comece a mexer no aparelho. Além
disso, está sempre apagando as chamadas e as mensagens. Só leva suas amantes para locais onde não possa
ser identificado por alguém conhecido. É extremamente vigilante quanto às redes sociais, apagando
imediatamente qualquer postagem que possa comprometê-lo.
Marcos também relata que gostaria de passar mais tempo com seus amigos, mas como Paula exige
muito a sua presença, ele não consegue vê-los com a frequência que gostaria. Relata que adora encontrar
seus amigos e contar seus casos de infidelidade. Seus amigos riem muito das suas histórias e chamam-no de
“canalha, calhorda, garanhão, pegador, ‘com mel’, etc.”.
Diante de questionamentos acerca das consequências de curto e longo prazo de seus
comportamentos, Marcos começa a chorar, dizendo que é “um monstro mesmo”, “que não tem jeito” e “que
arrasa com a vida de quem gosta dele”. Fica repetindo isso até que a psicóloga mude de assunto.
Já elogiou a aparência e as roupas da psicóloga algumas vezes, puxando assuntos cotidianos com ela.
Praticamente em toda sessão, leva um chocolate ou outro doce para a profissional. Além disso, em uma
sessão, Marcos emitiu as seguintes falas: “Se minha namorada fosse como você, assim, uma mulher
controlada, decidida e compreensiva, eu gostaria muito mais dela” e “Se eu encontrasse você num bar,
certamente ia te passar uma cantada”. Marcos também fala de si mesmo em muitas sessões de forma
sedutora (olhares e expressões corporais), como se estivesse se vangloriando das mulheres que conquista.
Marcos explica a sua infidelidade dizendo que se sente mais homem ao trair. Teve vários namoros
longos e sempre traiu suas namoradas. Aprendeu a admirar homens assim. Seu pai traia sua mãe com
frequência. Quando bebia, seu pai contava seus casos para os filhos e sobrinhos homens, dizendo: “Eu sei
que é errado, mas homem é assim mesmo. Se pintar uma gostosa, você vai dar para trás?”. Marcos e seus
irmãos gargalhavam quando o pai contava essas histórias. Ele também fala com um sutil sorriso no canto da
boca que trai sua namorada porque ela briga demais com ele, é como se fosse uma forma de se vingar de sua
agressividade. Outra razão apontada foi a de que “precisava experimentar outras pessoas” para testar o seu
amor por Paula: “Só chifro para ver se é dela mesmo que eu gosto”.
Apesar da conivência com o pai, Marcos tem uma forte relação de afeto com a mãe, que, segundo
seus relatos, parece muito com a namorada do ponto de vista comportamental: controladora, possessiva e
agressiva. Ele frequentemente abre mão do que gostaria de fazer quando sua mãe e Paula ficam contrariadas.
Já deixou de sair sozinho várias vezes com seus amigos quando Paula reclamou. Em uma oportunidade,
chegou a negociar a compra de uma motocicleta de um amigo e desistiu do negócio quando sua mãe o
proibiu. Marcos relatou trocar as palavras “amor” por “mãe” e “mãe” por “amor” com muita frequência. Em
algumas dessas vezes, elas, a mãe e a namorada, nem notaram a troca; em outras, brigaram com ele.
Neste caso clínico, o comportamento verbal de Marcos de dizer a Paula que, depois de deixá-la em casa
na sexta à noite, foi direto para casa está sob o controle das consequências apresentadas por Paula a relatos
verbais similares no passado, por exemplo. Porém, ir a uma festa com os amigos depois de deixá-la em casa
na sexta-feira está sob o controle de outras variáveis. Relatar que foi para a festa depois de deixá-la em casa
é um comportamento que provavelmente seria punido, como já ocorreu com Paula e com as demais
namoradas de Marcos no passado. Portanto, relatar com precisão o próprio comportamento de ir à festa com
os amigos é menos provável. O relato não correspondente “fui para casa dormir” é mais provável nessa
situação em função das consequências providas por Paula a relatos como esse no passado.
3) Escolha um dos comportamentos-alvo listados e realize a análise funcional deles, de acordo com as
contingências, conforme esquematizado em aula. Observe que vocês deverão relacionar esses
comportamentos com outros apresentados por Marcos e pelas contingências do ambiente, os quais
explicam que ele continue sendo reforçado a emiti-los.