1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
4 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 38
2
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
3
2 A PSICANÁLISE PARA SIGMUNDO FREUD
Fonte: upload.wikimedia.org
O nome Freud tem a mesma raiz da palavra freude, que em alemão significa
alegria, prazer, regozijo, e se origina de Freid, que é o nome da bisavó
materna do pai de Freud. A mudança foi adotada pela família do pai de Freud,
em 1789, quando o imperador José II emancipou os judeus, estendendo-lhes
os direitos dos cidadãos do Império Austro-húngaro. Seu pai, Kallamon Jacob
Freud, filho e neto de rabinos, trabalhava no comércio de lã e se casou com
Sally Kanner, sobre cuja vida e condições de morte se sabe muito pouco.
Deixou o marido viúvo com dois filhos: Emanuel e Philipp (JORGE &
FERREIRA, 2010).
5
Em 1860, a família Freud estabeleceu-se em Leopoldstadt, Viena. Freud disse
em sua autobiografia que entrou na Universidade de Viena para estudar medicina aos
17 anos e se tornou o primeiro aluno da classe, o que lhe deu alguns privilégios que
considerou especiais. Freud falava francês e inglês, satisfatoriamente latim, grego e
hebraico e é fluente em espanhol e italiano (JORGE & FERREIRA, 2010). No curso
de medicina, este tinha que frequentar cerca de 30 horas semanais, divididas em aulas
práticas e teóricas.
Segundo Jorge e Ferreira (2010), Freud se identifica com a biologia e a
zoologia, cujo professor, Ernst Wilhelm von Brucke, dirigia um laboratório de pesquisa
e anos mais tarde, em 1876, oferece-lhe uma bolsa de estudos. Aprimorando-se em
seus estudos biológicos, Freud desenvolve uma pesquisa cujo tema era as glândulas
sexuais das enguias. Sua atuação neste laboratório foi tão comemorada pelo próprio
Freud que ele descreve na obra Um estudo autobiográfico:
Salienta-se que a cocaína, nesta época, não tinha o sentido etimológico que
hoje se dá à palavra, ou seja, de droga. Pois, conforme o Dicionário Michaelis,
a droga “é o termo genérico para qualquer substância alucinógena,
entorpecente, cujo uso, além de alterar o humor e o comportamento, pode
levar à dependência e à tolerância “ (MICHAELIS, 2016). Assim, nessa
época, a cocaína era utilizada como medicamento para dar energia ao corpo,
aliviar a sinusite e a febre, como também para o tratamento de viciados em
ópio, morfina e bebidas alcoólicas, sendo usado como ingrediente em
bebidas como o vinho (TERCEIRO, 2016).
Segundo Jorge & Ferreira (2010), além de comercializar produtos para injeções
hipodérmicas, pomadas e vaporizadores, a Parke Davis também comercializa cigarros
e charutos feitos com folhas de coca e lançara a bebida Coca Cordial e durante o
mesmo período, Freud escreveu um artigo sobre o uso de cocaína como anestésico,
intitulado Uber Coca. Nesse artigo, o médico de Viena mencionou o efeito anestésico
da cocaína em soluções concentradas na pele e nas membranas mucosas.
Terceiro (2016) salientou que:
7
Freud não permaneceu com os estudos sobre os efeitos anestésicos da cocaína
porque não via Martha há dois anos pois ela morava em Viena. Para acessá-la o mais
rápido possível, Freud encerrou suas pesquisas sobre as propriedades da cocaína e
seus efeitos terapêuticos e escreveu uma monografia sobre o assunto.
Mais tarde, ganhou uma bolsa para trabalhar no Hospital Salpêtrière, em Paris,
onde trabalhava o neurologista Jean Martin Charcot. Charcot pretendendo esclarecer
que a histeria é uma doença neurogênica que segue as leis, não um produto de
simulação e, portanto, recorreu à hipnose. Viver com Charcot o deixou interessado
em questões histéricas. Naquele momento, as características da histeria eram um
mistério, porque os sintomas da histeria não são se adequavam às patologias
previamente estabelecidas.
O relato clínico de Charcot teve certo impacto em Freud, tanto que ele, como
Charcot, sempre questionou teorias e enfatizou a prática clínica. Após retornar de
Paris, Freud estabeleceu-se como médico em Viena. Apresentou-se como um
especialista neurológico, traduzindo para o alemão dois livros do mestre Charcot:
Leçons sur les maladies du système nerveux (Lições Sobre as Doenças do Sistema
Nervoso) e Leçons du mardi (Lições de TERÇA-FEIRA), publicados em 1886 e 1894
(JORGE & FERREIRA, 2010).
Incentivado pela pesquisa de Charcot, Freud lançou as bases para a teoria da
etiologia sexual das neuroses. Quando trabalhou no hospital, às vezes acompanhou
Charcot para ouvir relatos de pacientes hipnotizados submetidos a experimentos de
hipnose. No livro "Freud Além da Alma", relata que Freud internou uma paciente com
histeria, que é considerada uma doença mental de origem psíquica.
Charcot acreditava que a histeria é uma doença causada pela expressão
emocional, e o poder dessa emoção foi transferido para o corpo, formando assim, os
sintomas físicos são formados. Portanto, ele usou a sugestão hipnótica para produzir
sintomas para provar e justificar suas ideias (REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA
DE PSICOLOGIA, 2009).
Com base nas ideias de Charcot, Freud, em colaboração com o Dr. Breuer,
começou o estudo dos mecanismos psíquicos da histeria e presumiu sua teoria acerca
da etiologia sexual das neuroses, que a neurose possuía causas reprimidas. Através
desse estudo, ele iniciou a prática da Psicanálise. De acordo com Jorge & Ferreira
(2010), o estudo da histeria é a base da Psicanálise, porque os sintomas e as queixas
8
principais da histeria são direcionadas para a sexualidade. Assim, segundo Jorge &
Ferreira (2010):
Fonte: universoracionalista.org
9
A Psicanálise, criada por Freud da Áustria, recupera a importância das
emoções para a Psicologia e assume que o subconsciente é o objeto de pesquisa
(BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
Em tese, a característica da Psicanálise é incluir um conjunto de conhecimentos
sistemáticos relacionados à vida psíquica. O método de pesquisa baseado na
Psicanálise se caracteriza por uma forma interpretativa, buscando compreender o
significado oculto das coisas representadas por meio de ações, palavras ou produtos
imaginários. Classificam-se como produções imaginárias, os sonhos, delírios, as
associações livres, os atos falhos (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
A análise busca o autoconhecimento, por meio do qual o autoconhecimento
realiza a cura. Ao lidar com os pacientes, Freud utilizava como método de atendimento
deixá-los expressar livremente suas ideias e apontava que eles se sentiam
envergonhados ao relatar seus sonhos e imagens. Portanto, nominou de resistência
a oposição em tornar consciente o pensamento. Ele nomeou o processo psíquico
destinado a ocultar as ideias e fazer a expressão da consciência desaparecer porque
é dolorosa, de repressão. Esse conteúdo de ordem psíquica é encontrado no
inconsciente. Segundo Freud as descobertas acerca do inconsciente:
10
2. Pré-Consciente – Concebido como o sistema, cujos conteúdos
permanecem acessíveis ao consciente em algum momento.
3. Consciente – Sistema que recebe tanto as informações do mundo
exterior, quanto do mundo interior, apresentando-se a percepção
acerca deste mundo, como também a atenção e o raciocínio (BOCK,
FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
Nos pressupostos teóricos de Freud, ele soube que as cenas relatadas pelos
pacientes já haviam ocorrido e, posteriormente, descobriu que eram imaginadas, mas
tinham a mesma força e consequências psicológicas, e tinham os efeitos psicológicos
de situações reais. Nesse caso, Freud entendeu que a realidade psíquica tem valor
real para os indivíduos, mesmo que não corresponda objetivamente à realidade.
Portanto, o funcionamento psíquico é concebido a partir de três pontos de vista:
I. Ponto de Vista Econômico - afirma que existe uma energia que alimenta
os processos psíquicos.
II. Ponto de Vista Tópico – Analisa-se que o aparelho psíquico se constitui
por um número de sistemas que se diferenciam quanto à natureza e o
modo como funcionam, ou seja, representam um lugar psíquico.
III. Ponto de Vista Dinâmico – Existem forças em conflito no interior do
psiquismo.
Sobre tais forças, Carlos escreveu:
Tais forças estão ativas e se originam por meio da pulsão, que representa um
estado de tensão que busca no objeto suprimir este estado. Nesta pulsão
existem o Eros e o Tanado. O Eros significa a pulsão de vida, abrangendo as
pulsões sexuais e as de auto conservação. Tanatos é a pulsão de morte,
autodestrutiva, manifestando-se como pulsão agressiva (TERCEIRO, 2016).
11
sexualidade é o centro da vida psicológica, o que mostra que a função sexual existe
desde o início da vida, o que é contraditório à crença dos teóricos de que a
sexualidade só existe após a puberdade.
Ele enfatizou que o tempo da sexualidade é longo e complicado, e a idade
adulta é a fase da reprodução e do prazer sexual para homens e mulheres. Essas
visões de Freud contradiziam as visões de uma época em que o sexo estava
relacionado apenas à reprodução.
A esse respeito, Macedo & Dockhorn analisam que:
12
Freud descobriu que o indivíduo se desenvolve por meio de um processo
denominado psicossexual cuja função está relacionada à sobrevivência e encontra
prazer no próprio corpo. Nesse corpo foi encontrada excitação sexual, o que levou
Freud a especular sobre as seguintes etapas do desenvolvimento sexual:
– Fase oral (a zona de erotização é a boca);
– Fase anal (a zona de erotização é o ânus);
– Fase fálica (a zona de erotização é o órgão sexual) (BOCK, FURTADO e
TEIXEIRA, 2001).
De acordo com Freud (apud BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001, p. 97), após
essas etapas, ocorre o período de latência, que se estende até a puberdade e se
caracteriza pela diminuição da atividade sexual. A puberdade é o estágio final do
desenvolvimento sexual: o estágio genital. A característica desse estágio é que o
objeto de desejo não está no corpo em si, mas fora do indivíduo.
Preuschoff (2003 apud TERCEIRO, 2016) ressalta que a ciência ainda não
alcançou resultados concretos quanto aos fatores que desencadeiam o início da
puberdade e aos fatores que representam as alterações físicas. O corpo e as
mudanças corporais são universais até certo ponto, e algumas diferenças são
descartadas. No entanto, o que acontece no plano psicológico da existência da
relação com o meio ambiente está relacionado às diferenças culturais, aos diferentes
grupos sociais e aos indivíduos pertencentes ao mesmo grupo.
Becker (2003 apud TERCEIRO, 2016), acredita que é necessário que o
adolescente se integre a um determinado grupo, o que o levará a encontrar a própria
identidade em um momento crítico da sociedade. De acordo com a Psicanálise, esse
grupo pode substituir os pais para ajudar os adolescentes a entenderem suas
aplicações e se tornarem parceiros. Conforme Becker, (2003) “O adolescente não é o
futuro da pátria, nem a esperança do amanhã. Seu lugar é aqui, seu tempo é o
presente, e sua vida lhe pertence para vivê-la da maneira que escolher”.
Durante a fase de desenvolvimento sexual, vários eventos ocorreram, entre
eles o complexo de Édipo, que é a razão da construção da personalidade do indivíduo.
De acordo com Bock, Furtado & Teixeira, o complexo de édipo:
A construção teórica de Freud originou-se, sem dúvida, das ficções que ele
elaborou a partir da sua escuta dos pacientes em análise. (…) Uma
construção em análise é o procedimento de extrair inferências a partir de
fragmentos de lembranças e de associações do sujeito em análise. Esses
fragmentos de lembranças não têm sentido em si mesmos, mas é justamente
desse sem-sentido que eles extraem a sua importância na construção de
hipóteses (D’AGORD, 2000/2001).
14
Na definição da Psicanálise, Freud apontou que este é um método investigativo
dos processos psíquicos inconscientes. No cenário de análise, a eficácia desse
método é investigar o inconsciente. O caminho evolutivo dos métodos de pesquisa
começou com o método catártico de Breuer.
Brauer disse que este tratamento, catártico, oferece a possibilidade de liberar
os afetos e emoções associadas ao evento traumático. Ao vivenciar fatos
desagradáveis ou dolorosos, não se pode vivenciar ou expressar essa emoção.
Portanto, ao liberar emoções, os sintomas são eliminados.
Conforme Mezan:
15
fantasias no inconsciente. A linguagem é a base da experiência analítica, pois no
diálogo analítico, o sujeito em processo do conhecimento de si mesmo, constrói e se
(re) constrói na tentativa de se tornar sua verdadeira identidade, embora escondido
(ROCHA, 2008).
Conforme comenta Terceiro (2016), o método das associações livres permite
que o analisado tenha ideias sem considerar o sistema de censura, sem ter que fazer
escolhas deliberadas sobre suas intenções e sem buscar as razões lógicas da
confusão espontânea em seu discurso livre. Além disso, o sujeito não necessita
considerar os requisitos de rotulagem social, nem considerar a censura da consciência
moral, mas em vez disso, lança pensamentos com intenções conscientes em torno da
atração inconsciente.
Nessa busca de propiciar que os pacientes realmente falassem abertamente e
livremente, Freud criou esse espaço de análise, o lócus onde se encontra o divã para
o paciente se deitar ou sentar e a poltrona do analista. Neste lócus, particularmente,
é evitado o face-a-face no diálogo terapêutico, o que deixa livre o espaço da análise
com o objetivo de que a linguagem do inconsciente se manifeste para que seja
possível fazer as associações livres (ROCHA, 2008).
16
todo tratamento psicanalítico [Jede psychoanalytische Behandlung] é uma
tentativa [ist ein Versuch] para libertar [zu befreien] o amor recalcado [die
verdrängte Liebe], que encontrou no sintoma a incômoda solução de um
compromisso [die in einem Symptom einen kümmerlichen
Kompromissausweg gefunden hatte] (FREUD, 1907/1982).
Fonte: psicoativo.com
17
prazer para conseguir a satisfação, possuindo as seguintes funções: percepção,
memória, sentimentos e pensamento.
Superego – Origina do complexo de Édipo, por meio da internalização das
proibições, dos limites e da autoridade. O superego tem as funções de regular a moral
e os ideais, baseado nas exigências sociais e culturais.
Perceber eventos no mundo externo ou interno às vezes restringe e causa dor,
portanto, para evitar participar desse comportamento doloroso, os indivíduos
suprimem a realidade e não registram as percepções externas. Dessa forma, eles
eliminam o conteúdo psicológico específico que interferiria no pensamento. Freud
chamou essa supressão de mecanismo de defesa. Esse mecanismo de defesa é
executado pelo ego, que está inconsciente, ou seja, independente da vontade.
Acredita-se que o ego exclui conteúdo classificado como indesejável da consciência
porque protege o aparelho psíquico dessa forma. Além disso, o ego é responsável por
expor a realidade e ao mesmo tempo defender a mente por meio de vários
mecanismos que podem suprimir e ocultar a percepção de perigos internos devido a
perigos reais ou imaginários no mundo real.
Estes mecanismos de defesa se dividem em:
1. Recalque
Responsável por suprimir uma parte da realidade, não sendo percebido pelo
indivíduo, prejudicando o sentido do todo, pois ao tornar-se invisível, altera e deforma
a visão holística.
O indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre. Existe a supressão de uma parte
da realidade. Este aspecto que não é percebido pelo indivíduo faz parte de um todo
e, ao ficar invisível, altera, deforma o sentido do todo.
É como se, ao ler esta página uma palavra ou uma das linhas não estivesse
impressa, e isto impedisse a compreensão da frase ou desse outro sentido ao que
está escrito. Um exemplo é quando uma proibição é percebida como permissão
porque não se “ouve” o “não”.
O recalque, ao suprimir a percepção do que está acontecendo, é o mais radical
dos mecanismos de defesa. Os demais referem-se a deformações da realidade.
2. Formação Reativa
Diz respeito ao afastamento do desejo em determinada situação. O ego é
responsável por realizar essa ação, afastando desejos agressivos e transformando-
18
os em atitudes de ternura e superproteção. Contudo, ressalta-se que tais desejos de
carinho podem esconder o seu oposto, ou seja, a verdadeira motivação, preservando
os indivíduos de descobrirem acerca de si mesmos. O ego procura afastar o desejo
que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a
este desejo.
Um bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura excessiva,
superproteção — que escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso.
Aquilo que aparece (a atitude) visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras
motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si mesmo que
poderia ser bastante dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem
muita raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas
destas mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho.
3. Regressão
Este mecanismo de defesa se apresenta quando o indivíduo retorna a etapas
anteriores de seu desenvolvimento, agindo de forma primitiva. É o processo psíquico
que o Ego recua, fugindo de situações conflitivas atuais, para um estágio anterior. É
o caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área sexual, regrida, para
obter satisfações, à fase oral, passando a comer em excesso.
A regressão é uma noção de uso muito frequente em Psicanálise e na
Psicologia contemporânea; é concebida, a maioria das vezes, como um retorno a
formas anteriores do desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da
estruturação do comportamento.
Freud é levado então a diferenciar o conceito de regressão, como o demonstra
esta passagem acrescentada em 1914 em três espécies de regressões:
a) Tópica - no sentido do esquema do aparelho psíquico. A regressão
tópica é particularmente manifestada no sonho, onde ela prossegue até
o fim. Encontra-se em outros patológicos em que é menos global
(alucinação) ou mesmo em processos normais em que vai menos longe
(memória).
b) Temporal - em que são retomadas formações psíquicas mais antigas.
c) Formal - quando os modos de expressão e de figuração habituais são
substituídos por modos primitivos. Estas três formas de regressão, na
19
sua base, são apenas uma, e na maioria dos casos coincidem, situa-se
mais perto da extremidade perceptiva.
4. Projeção
Se apresenta sob a forma de distorções do mundo externo e interno. É uma
confluência de distorções do mundo externo e interno. O indivíduo localiza (projeta)
algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi projetado como algo seu
que considera indesejável. É um mecanismo de uso frequente e observável na vida
cotidiana.
Um exemplo é o jovem que critica os colegas por serem extremamente
competitivos e não se dá conta de que também o é, às vezes até mais que os colegas.
5. Racionalização
É o mecanismo de defesa que o indivíduo constrói um argumento que convence
de forma intelectual, justificando estados deformados da consciência. Seria a razão a
serviço do irracional, cujo material é fornecido pela própria cultura. “Dois exemplos: o
pudor excessivo (formação reativa), justificado com argumentos morais; e as
justificativas ideológicas para os impulsos destrutivos que eclodem na guerra, no
preconceito e na defesa da pena de morte” (FREUD apud BOCK, FURTADO &
TEIXEIRA, 2001).
O ego possui outros mecanismos de defesa, dentre os quais:
6. Identificação
É o processo psíquico por meio do qual um indivíduo assimila um aspecto, uma
característica de outro, e se transforma, total ou parcialmente, apresentando-se
conforme o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma
série de identificações.
Freud descreve como característica do trabalho do sonho o processo que
traduz a relação de semelhança, o “tudo como se”, por substituição de uma imagem
por outra ou “identificação”.
A identificação não tem aqui valor cognitivo: é um processo ativo que substitui
uma identidade parcial ou uma semelhança latente por uma identidade total.
7. Isolamento
É um processo psíquico da neurose obsessiva, que consiste em isolar um
comportamento ou um pensamento de tal maneira que as suas ligações com os outros
pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas, já
20
que foram (os pensamentos, os comportamentos), completamente excluídos do
consciente.
Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do
pensamento, formulas, rituais, e, de um modo geral, todas as medidas que permitem
estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.
Certos doentes defendem-se contra uma ideia, uma impressão, uma ação,
isolando-as do contexto por uma pausa durante a qual “…nada mais tem direito a
produzir-se, nada é qualificada de mágica por Freud; aproxima-a do processo normal
de concentração no sujeito que procura não deixar que seu pensamento se afaste do
seu objeto atual”.
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos; nós o vemos
particularmente em ação no tratamento, onde a diretriz da associação livre, por lhe se
oposta coloca-o em evidencia (sujeitos que separam radicalmente a sua análise da
sua vida, ou determinada sequência de ideia do conjunto da cessão ou determinada
representação do contexto ideoafetivo).
Freud reduz, em última análise, a tendência para o isolamento a um modo
arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar, uma vez que “…o contato
corporal e a finalidade imediata do investimento de objeto, quer o agressivo quer o
terno”.
Nesta perspectiva, o isolamento surge como “…uma supressão da
possibilidade de contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo
quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá-nos
simbolicamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhes dizem
respeito entrem em contato associativo com os outros”.
Na realidade, pensamos que seria interessante reservar o termo isolamento
para designar um processo especifico de defesa que vai da compulsão a uma atitude
sistemática e concentrada, e que consiste numa ruptura das conexões associativas
de um pensamento ou de uma ação, especialmente com o que os precede e os segue
no tempo.
8. Anulação Retroativa
Um mecanismo psicológico pelo qual o sujeito tenta fazer com que seus
pensamentos, palavras, gestos, atos passados nunca tenham acontecido; para tanto,
ele utiliza um pensamento ou um comportamento tendo uma significação oposta.
21
Trata-se de uma compulsão aparentemente “mágica”, particularmente característica
da neurose obsessiva.
Segundo Bock, Furtado & Teixeira (2001) as pessoas geralmente usam esses
mecanismos de defesa porque eles distorcem a realidade para resistir a perigos reais
ou resultados imaginários que podem existir interna e externamente. Esses
mecanismos não são classificados como patológicos, mas são responsáveis por
distorcer a realidade. Só expondo a realidade se pode superar a falsa consciência da
realidade e eliminar a falsa consciência.
22
3.1 A História de Melanie Klein
Fonte: feministvoices.com
23
Reizes trabalhou como assistente de um dentista e, para complementar sua renda,
como consultor médico de um teatro de variedades.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) e
Melanie Reizes. Conforme descrito na Biografia apresentada pela FEBRAPSI,
Melanie sentia-se protelada por seus genitores:
Melanie Klein sentia grande atração pela atmosfera cultural da família de sua
mãe, filha de um rabino. Tanto o pai quanto o avô de Libussa eram muito respeitados
tanto por seu saber quanto por sua tolerância. Melanie herdou da família a vontade
de aprender e logo se tornou uma estudante ambiciosa, consciente de suas notas.
Sonhava em estudar medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se
realizou em virtude da situação financeira da família, agravada com a morte do pai em
1900. Ela chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, mas não chegou
a graduar-se.
O irmão Emmanuel foi seu grande mentor intelectual. Ele iniciou o curso de
medicina que abandonou para se dedicar às artes. Era muito doente, portador
de cardiopatia consequente a doença reumática, tuberculose e depressão.
No final da vida tornou-se viciado em drogas. Emmanuel tinha para com suas
irmãs um relacionamento com matizes incestuosos e, para com a família em
geral, um vínculo marcado pelo êxito em provocar culpa e vitimizar-se. Para
Melanie, ele teria sido um pai substituto, um companheiro íntimo e um amante
imaginário e ninguém em sua vida jamais conseguiu substituí-lo. No período
compreendido entre 1887 e 1902, Melanie Klein sofreu grandes perdas: a
irmã Sidonie, em 1887, de tuberculose; o pai, em 1900, de pneumonia; o
irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia (FEBRAPSI, 2008[?]).
24
mãe e amigo de Emmanuel. Sua família residia em Rosemberg, na parte eslovaca da
Hungria. Nada se sabe sobre a cerimônia.
Durante a infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios de depressão
e se afastou da família por longos períodos, para viagens de repouso ou para
internação em clínicas especializadas. Durante tais ausências, sua casa e família
ficavam a cargo de sua mãe, que se colocava em sua vida de forma intrusiva e
autoritária. A mãe a via e fazia com que ela própria se visse como uma pessoa doente,
neurastênica e incapaz. Mãe e filha mantinham entre si um relacionamento estreito e
afetuoso, porém marcado por atitudes e sentimentos ambivalentes: amor e ódio, apoio
e intrusão, liberdade e controle, dependência e autonomia.
O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de Melanie
Klein. Em 1º de julho nasceu seu último filho, Erich Klein. Em 6 de novembro morreu
sua mãe, Libussa. Além disso, aos 32 anos de idade ela encontrou-se com a
psicanálise: leu o texto “Sobre os Sonhos”, de Sigmund Freud, e provavelmente iniciou
sua análise com Sandor Ferenczi, buscando livrar-se da depressão. Para Melanie
Klein, antes de se tornar uma profissão ou um interesse intelectual, a psicanálise foi
uma experiência de crescimento e um caminho de cura pessoal.
25
3.2 Klein e a Psicanálise
Fonte: psicologorigoni.com.br
26
membro associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade. Em 1924, iniciou sua
segunda análise, com Karl Abraham, como Ferenczi, um destacado discípulo de
Freud. A morte precoce de Abraham (1925) privaria Melanie de seu analista e protetor,
encorajando seus detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela
ascendência polonesa, ênfase na falta de estudos universitários e ironia perante uma
mulher que se pretendia mestra e, além disso, analista de crianças
27
ideologicamente em dois grandes grupos: o dos adeptos de Melanie Klein, que tinha
à frente Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière, e o dos adeptos do freudismo
clássico, entre os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo, composto por analistas
independentes, não alinhados com nenhum dos dois anteriores, se formaria depois,
num período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos debates, Klein e
seu grupo permaneceram na Sociedade Britânica e na Associação Internacional de
Psicanálise (IPA). Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década
seguinte, nem abriram uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung
anteriormente.
Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a
compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da
psicanálise. Para Kristeva, (2002) que dedicou à psicanalista o segundo volume da
coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que
predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a
inovação kleiniana. Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada
da psicanálise moderna.
Melanie Klein sempre se considerou e fez questão de ser vista como uma
seguidora de Freud. Um de seus maiores desapontamentos deveu-se à indiferença
que Freud demonstrava em relação a seus trabalhos em psicanálise de crianças, que
divergiam radicalmente da orientação do mesmo trabalho desenvolvido por Anna
Freud. É famosa uma passagem sua, quando em conversa com Betty Joseph, uma
das mais importantes analistas inglesas contemporâneas, Klein protestou ao ser
chamada de "kleiniana", visto que se considerava "freudiana". Ao que Joseph
respondeu: "Tarde demais, você é uma kleiniana, queira ou não queira"
GROSSKURTH, 1992).
28
Na opinião de Elias Mallet da R. Barros, esta passagem nos coloca diante de
um problema epistemológico: o de quando um autor com um pensamento psicanalítico
próprio e original, pode ou não ser considerado como tendo se desviado, ou
simplesmente ter desenvolvido o pensamento psicanalítico criado por Freud
(BARROS, 1989).
Também é importante recordar aqui que as contribuições de Melanie Klein à
psicanálise se desenvolveram a partir de alguns dos textos mais tardios de Freud,
como "Além do Princípio do Prazer" (1920), "O Ego e o Id" (1923) e "Inibição, Sintoma
e Angústia" (1926).
Para Neves (2007), os principais desenvolvimentos teóricos de Klein, são
classicamente:
29
3.3 O Setting Psicanalítico
Fonte: vittude.com
30
3.4 A Interpretação
31
si mesmo, objetos, relações e conflitos causados pelos mais diversos estados e
experiências emocionais.
Fonte: ufsm.br
32
do pensamento infantil primitivo é dominante, o que o torna ora o aspecto mais
deslumbrante da magia, ora o horror mais forte. Neste lugar nada tem características
claras e estáveis, objetos, impulsos e funções podem mudar de um extremo a outro,
do prazer mais forte ao horror mais insuportável.
O mundo interno da psicanálise kleiniana é um espaço, uma dimensão que,
embora relacionada com as funções do id, do ego e do superego, não coincide com
estas instâncias psíquicas, mas como que as supera e as contém. Nas etapas mais
primitivas do desenvolvimento, o mundo interno é essencialmente corporal, com
movimentos de fusão e de sincretismo com os objetos e até mesmo com partes do
mundo externo. Com o desenvolvimento, vai se fazendo alguma diferenciação entre
corpo próprio, objetos internos ou externos, mundo externo, eu e não eu, diferenciação
esta que progressivamente se torna mais nítida (NEVES, 2007).
É importante destacar a diferença existente entre Freud e Klein em relação às
pulsões e como estas são consideradas no processo psicanalítico. Para Freud, as
pulsões são sempre inconscientes, o que pode ser expresso em pensamentos
inconscientes ou em estados emocionais. Em relação a esse estado, no que se refere
às "emoções inconscientes", fala-se de mudanças nos fatores quantitativos
relacionados ao impulso relacionado à repressão. Em seu texto sobre o inconsciente,
Freud diz que
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Freudiano – a emoção é uma derivação da atividade pulsional, constituindo-se
como uma vivência consciente, isto é, um elemento indicador da presença de um
conflito pulsional inconsciente.
Kleiniano – a emoção é a base da vida mental, aquilo que lhe dá significado e
que existe tanto no consciente como no inconsciente.
Assim, o que está em jogo na transferência não são os imagos dos pais (ou de
quaisquer objetos) como representações de lembranças e de vivências reais
acontecidas no passado.
Melanie Klein (1952) afirma que
Fonte: livrariaresposta.com.br
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De acordo com Neves (2007), Klein diz que este impulso se origina de um
sentimento de que as diferentes partes do self são distantes e estranhas umas às
outras. Também faz parte dele "o conhecimento inconsciente de que o ódio só pode
ser mitigado pelo amor e se os dois sentimentos forem mantidos separados, esta
mitigação não pode se dar. Para ela todo processo de mudança e de integração
implica numa experiência de dor, pois a excisão do ódio, da destrutividade e suas
consequências acarreta sentimentos de angústia e sofrimento.
Ela diz ainda que, numa pessoa normal, mesmo quando há alguma oscilação
entre os efeitos causados por experiências perturbadoras, internas ou
externas, o impulso à integração entra em ação, conduzindo-a de volta ao
equilíbrio. É tudo muito dinâmico e não existe a integração completa, mas
quanto mais o indivíduo se esforça nesta direção, mais insight ele terá sobre
seus impulsos e sobre suas ansiedades, mais forte será o seu caráter e maior
seu equilíbrio mental (NEVES, 2007).
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4 REFERÊNCIAS
COUTINHO, M. L. R.. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações
familiares. Rio de Janeiro: Rocco, 1994
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FREUD, S. Fragments of an Analysis of a case of Hysteria (1905 [1901]), SE v. VII,
The Hogarth Press, London, 1974
KLEIN, M. Sobre a saúde mental (1960). Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-
1963). Rio de Janeiro: Imago, 1973
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MACEDO, M. M. K., DOCKHORN, C. N. de B. F. Psicanálise, pesquisa e
universidade: labor da especificidade e do rigor. PERSPECTIVAS EN PSICOLOGÍA
– Vol 12 – Nº 2 – Noviembre 2015
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