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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 A PSICANÁLISE PARA SIGMUNDO FREUD ............................................ 4

2.1 A História de Freud............................................................................... 4

2.2 Freud e a Psicanálise ........................................................................... 9

2.3 Pressupostos Teóricos E Princípios do Método Psicanalítico ............ 14

2.4 O Aparelho Psíquico: Concepções Teóricas ...................................... 17

3 A PSICANÁLISE PARA MELANIE KLEIN ................................................ 22

3.1 A História de Melanie Klein ................................................................ 23

3.2 Klein e a Psicanálise .......................................................................... 26

3.3 O Setting Psicanalítico ....................................................................... 30

3.4 A Interpretação ................................................................................... 31

3.5 O Mundo Interno................................................................................. 32

3.6 Transferência e Contratransferência .................................................. 34

3.7 Últimos Trabalhos de Melanie Klein ................................................... 36

4 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 38

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!

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2 A PSICANÁLISE PARA SIGMUNDO FREUD

A construção da Psicanálise está relacionada à própria história de Freud. O


autor percebeu a base teórica do sofrimento humano e psicológico nos elementos ao
seu redor, o que leva à Psicanálise.
Sigmund Freud tentou entender a causa da histeria e caiu na sexualidade
humana, instituindo o conceito de inconsciente, decorrendo daí formulações
importantes, como as duas tópicas que explicam a constituição do aparelho psíquico
humano, o conceito de libido, o Complexo de Édipo e a teoria da incompletude.

2.1 A História de Freud

Fonte: upload.wikimedia.org

A família de Freud a início vivia na cidade de Freiberg, atualmente nominada


de Pribor, situada a noroeste da Morávia, território da Europa Central que corresponde
à ex-Tchecoslováquia. A família Freud é originária de judeus e foi caracterizada pelo
movimento Errância, que obrigou os judeus a mudar de cidade devido às dificuldades
econômicas e perseguições. Como judeus, os Freud se estabeleceram em Freiberg
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sem exceção, se estabelecendo em uma comunidade judaica que falava iídiche ou
alemão. Portanto, a história familiar com a árvore genealógica de sobrenome Freud
está relacionada à lenda judaica de Errância. Freud declarou, em sua biografia, que
durante os séculos XIV ou XV a família de seu pai fugira para o leste, migrando no
século XIX para a Lituânia e Galícia, até se fixar em Freiberg. De acordo com Jorge &
Ferreira:

O nome Freud tem a mesma raiz da palavra freude, que em alemão significa
alegria, prazer, regozijo, e se origina de Freid, que é o nome da bisavó
materna do pai de Freud. A mudança foi adotada pela família do pai de Freud,
em 1789, quando o imperador José II emancipou os judeus, estendendo-lhes
os direitos dos cidadãos do Império Austro-húngaro. Seu pai, Kallamon Jacob
Freud, filho e neto de rabinos, trabalhava no comércio de lã e se casou com
Sally Kanner, sobre cuja vida e condições de morte se sabe muito pouco.
Deixou o marido viúvo com dois filhos: Emanuel e Philipp (JORGE &
FERREIRA, 2010).

Jorge e Ferreira (2010) ao analisar algumas biografias sobre Freud presumem


que Jacob teve um segundo casamento, e Rebekka, e esta morreu entre 1852 e 1855.
No entanto, Freud ignorou o segundo casamento de seu pai, e seu pai, em 1855 se
casou com Amalia Nathanson, que era 20 anos mais jovem que sua idade. Jacob e
Amalia tiveram oito filhos, três meninos e cinco meninas. Ao descrever as
características de Jacob, alguns biógrafos analisaram que ele era um homem simples,
com grande otimismo, simpatia, generosidade e senso de humor. Amália é
caracterizada pela beleza, vaidade e inteligência, com um caráter determinado e muito
inteligente (JORGE & FERREIRA, 2010).
Em 6 de maio de 1856, nasceu o filho mais velho do casal, chamado Schlomo
Sigismund, cujo nome estava em memória do falecido avô. O próprio Freud mudou o
nome de Sigismundo e assinou o nome de Sigmund Freud. “Sem dúvida, Freud foi
um filho amado pelo pai e o predileto de sua mãe, que o chamou durante toda sua
vida de “meu Sigi de ouro” (JORGE & FERREIRA, 2010).
Em 1859, durante a guerra austro-italiana, os negócios de Jacob estavam em
crise devido à guerra e ao processo de desenvolvimento industrial, o que fez com que
a cidade sofresse desemprego e alta inflação. No entanto, os judeus de língua alemã
começaram a ser perseguidos pelos tchecos, forçando a família Freud a se mudar
para Leipzig, na Alemanha. A partir daí, começaram as dificuldades financeiras da
família (TERCEIRO, 2016)

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Em 1860, a família Freud estabeleceu-se em Leopoldstadt, Viena. Freud disse
em sua autobiografia que entrou na Universidade de Viena para estudar medicina aos
17 anos e se tornou o primeiro aluno da classe, o que lhe deu alguns privilégios que
considerou especiais. Freud falava francês e inglês, satisfatoriamente latim, grego e
hebraico e é fluente em espanhol e italiano (JORGE & FERREIRA, 2010). No curso
de medicina, este tinha que frequentar cerca de 30 horas semanais, divididas em aulas
práticas e teóricas.
Segundo Jorge e Ferreira (2010), Freud se identifica com a biologia e a
zoologia, cujo professor, Ernst Wilhelm von Brucke, dirigia um laboratório de pesquisa
e anos mais tarde, em 1876, oferece-lhe uma bolsa de estudos. Aprimorando-se em
seus estudos biológicos, Freud desenvolve uma pesquisa cujo tema era as glândulas
sexuais das enguias. Sua atuação neste laboratório foi tão comemorada pelo próprio
Freud que ele descreve na obra Um estudo autobiográfico:

Por fim, no laboratório de fisiologia de Ernst Brucke encontrei tranquilidade e


satisfação plena — e também homens que pude respeitar e tomar como meus
modelos: o próprio grande Brucke e seus assistentes, Sigmund Exner e Ernst
Fleischl von Marxow (FREUD apud JORGE & FERREIRA, 2010).

Conforme descrito por Terceiro (2016) em 1880, ele participou de um exame


médico, formou-se médico no ano seguinte e recebeu um prêmio honorário. Dois anos
depois, em 1882, ele conheceu Martha Bernays, se apaixonou fortemente e quis se
casar com ela. Devido às dificuldades financeiras na época, ele não pôde se casar
imediatamente, então Freud deixou sua carreira de pesquisador, deixou o laboratório
de Brook e trabalhou como clínico geral no Hospital Geral de Viena. Porém, não
gostou de trabalhar naquele hospital e mudou-se para o departamento de psiquiatria
no ano seguinte. A respeito de sua etapa de vida, Freud afirma em sua autobiografia:
“Tornei-me tão atuante no Instituto de Anatomia Cerebral quanto o havia sido no de
fisiologia” (JORGE & FERREIRA, 2010). Também em 1882, o amigo pessoal de
Freud, Dr. Brauer, o apresentou à paciente Anna O. (Bertha Pappenheim),
descrevendo sobre o tratamento que fora feito com tal paciente.
Eles iniciaram esse trabalho no início da década de 1880, e Breuer relatou
alguns de seus casos, incluindo o caso de Anna O como ponto de partida para a
Psicanálise. Breuer contou a Freud como ele lidou com essa jovem histérica, informou
que a doença de seu pai e o cuidado com ele a deixaram exausta para aprofundar
seus sintomas físicos. Por meio da hipnose, Breuer a curou, aliviou sua dor e
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descobriu o poder de cura pela palavra (REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE
PSICOLOGIA, 2009).
Durante o período que trabalhou no Hospital Geral de Viena, Freud começou a
estudar as propriedades da cocaína e seus efeitos terapêuticos. Essa substância foi
introduzida nos Estados Unidos e na Europa sem restrições, Freud se entusiasmou
com seu uso, passou a usá-la e a prescrevê-la como “estimulante, para os distúrbios
digestivos, para combater os vícios da morfina e do álcool e para o tratamento da
asma e dos estados depressivos” (JORGE & FERREIRA, 2010).
O psicanalista brasileiro, Carlos Terceiro, fez questão de elucidar sobre a
utilização da cocaína como uso medicinal:

Salienta-se que a cocaína, nesta época, não tinha o sentido etimológico que
hoje se dá à palavra, ou seja, de droga. Pois, conforme o Dicionário Michaelis,
a droga “é o termo genérico para qualquer substância alucinógena,
entorpecente, cujo uso, além de alterar o humor e o comportamento, pode
levar à dependência e à tolerância “ (MICHAELIS, 2016). Assim, nessa
época, a cocaína era utilizada como medicamento para dar energia ao corpo,
aliviar a sinusite e a febre, como também para o tratamento de viciados em
ópio, morfina e bebidas alcoólicas, sendo usado como ingrediente em
bebidas como o vinho (TERCEIRO, 2016).

Segundo Jorge & Ferreira (2010), além de comercializar produtos para injeções
hipodérmicas, pomadas e vaporizadores, a Parke Davis também comercializa cigarros
e charutos feitos com folhas de coca e lançara a bebida Coca Cordial e durante o
mesmo período, Freud escreveu um artigo sobre o uso de cocaína como anestésico,
intitulado Uber Coca. Nesse artigo, o médico de Viena mencionou o efeito anestésico
da cocaína em soluções concentradas na pele e nas membranas mucosas.
Terceiro (2016) salientou que:

O médico oftalmologista Koller leu o artigo de Freud, influenciando-o a iniciar


testes com a cocaína, a qual era inoculada nos olhos de rãs, coelhos e
cachorros. Koller foi tão influenciado pelos escritos de Freud sobre a cocaína,
que escreveu uma Comunicação preliminar a esse respeito, apresentando-a
no Congresso Oftalmológico de Heildelberg. De acordo com Koller (apud
JORGE e FERREIRA, 2010, p. 11) “a cocaína foi competentemente trazida
ao conhecimento dos médicos vienenses pela minuciosa compilação e pelo
interessante ensaio terapêutico do meu colega de hospital Dr. Sigmund
Freud”. (TERCEIRO, 2016).

É importante notar que Koller é historicamente conhecido como o pai da


anestesia local, e a experiência relatada em seu ensaio tornou-se importante para a
microcirurgia ocular. Com base em (JORGE & FERREIRA, 2010), presume-se que

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Freud não permaneceu com os estudos sobre os efeitos anestésicos da cocaína
porque não via Martha há dois anos pois ela morava em Viena. Para acessá-la o mais
rápido possível, Freud encerrou suas pesquisas sobre as propriedades da cocaína e
seus efeitos terapêuticos e escreveu uma monografia sobre o assunto.
Mais tarde, ganhou uma bolsa para trabalhar no Hospital Salpêtrière, em Paris,
onde trabalhava o neurologista Jean Martin Charcot. Charcot pretendendo esclarecer
que a histeria é uma doença neurogênica que segue as leis, não um produto de
simulação e, portanto, recorreu à hipnose. Viver com Charcot o deixou interessado
em questões histéricas. Naquele momento, as características da histeria eram um
mistério, porque os sintomas da histeria não são se adequavam às patologias
previamente estabelecidas.
O relato clínico de Charcot teve certo impacto em Freud, tanto que ele, como
Charcot, sempre questionou teorias e enfatizou a prática clínica. Após retornar de
Paris, Freud estabeleceu-se como médico em Viena. Apresentou-se como um
especialista neurológico, traduzindo para o alemão dois livros do mestre Charcot:
Leçons sur les maladies du système nerveux (Lições Sobre as Doenças do Sistema
Nervoso) e Leçons du mardi (Lições de TERÇA-FEIRA), publicados em 1886 e 1894
(JORGE & FERREIRA, 2010).
Incentivado pela pesquisa de Charcot, Freud lançou as bases para a teoria da
etiologia sexual das neuroses. Quando trabalhou no hospital, às vezes acompanhou
Charcot para ouvir relatos de pacientes hipnotizados submetidos a experimentos de
hipnose. No livro "Freud Além da Alma", relata que Freud internou uma paciente com
histeria, que é considerada uma doença mental de origem psíquica.
Charcot acreditava que a histeria é uma doença causada pela expressão
emocional, e o poder dessa emoção foi transferido para o corpo, formando assim, os
sintomas físicos são formados. Portanto, ele usou a sugestão hipnótica para produzir
sintomas para provar e justificar suas ideias (REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA
DE PSICOLOGIA, 2009).
Com base nas ideias de Charcot, Freud, em colaboração com o Dr. Breuer,
começou o estudo dos mecanismos psíquicos da histeria e presumiu sua teoria acerca
da etiologia sexual das neuroses, que a neurose possuía causas reprimidas. Através
desse estudo, ele iniciou a prática da Psicanálise. De acordo com Jorge & Ferreira
(2010), o estudo da histeria é a base da Psicanálise, porque os sintomas e as queixas

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principais da histeria são direcionadas para a sexualidade. Assim, segundo Jorge &
Ferreira (2010):

A indagação fundamental da histeria — “Sou homem ou mulher? ” — iria


levar Freud, muito mais tarde, à descoberta de que não há a inscrição da
diferença sexual no inconsciente. Este fator é o responsável pela
bissexualidade constitucional do sujeito. Já a tradução feita pelo neurótico
obsessivo dessa mesma indação é: “Qual o sexo do meu objeto — masculino
ou feminino? ” (JORGE & FERREIRA, 2010, p. 12).

Freud ousou colocar os “processos misteriosos” do psiquismo, suas “regiões


obscuras”, isto é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do
homem, como problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas
levou Freud à criação da Psicanálise.

2.2 Freud e a Psicanálise

Fonte: universoracionalista.org

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A Psicanálise, criada por Freud da Áustria, recupera a importância das
emoções para a Psicologia e assume que o subconsciente é o objeto de pesquisa
(BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
Em tese, a característica da Psicanálise é incluir um conjunto de conhecimentos
sistemáticos relacionados à vida psíquica. O método de pesquisa baseado na
Psicanálise se caracteriza por uma forma interpretativa, buscando compreender o
significado oculto das coisas representadas por meio de ações, palavras ou produtos
imaginários. Classificam-se como produções imaginárias, os sonhos, delírios, as
associações livres, os atos falhos (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
A análise busca o autoconhecimento, por meio do qual o autoconhecimento
realiza a cura. Ao lidar com os pacientes, Freud utilizava como método de atendimento
deixá-los expressar livremente suas ideias e apontava que eles se sentiam
envergonhados ao relatar seus sonhos e imagens. Portanto, nominou de resistência
a oposição em tornar consciente o pensamento. Ele nomeou o processo psíquico
destinado a ocultar as ideias e fazer a expressão da consciência desaparecer porque
é dolorosa, de repressão. Esse conteúdo de ordem psíquica é encontrado no
inconsciente. Segundo Freud as descobertas acerca do inconsciente:

(…) constituíram a base principal da compreensão das neuroses e


impuseram uma modificação do trabalho terapêutico. Seu objetivo (…) era
descobrir as repressões e suprimi-las através de um juízo que aceitasse ou
condenasse definitivamente o excluído pela repressão. Considerando este
novo estado de coisas, dei ao método de investigação e cura resultante o
nome de psicanálise em substituição ao de catártico (FREUD, apud BOCK,
FURTADO & TEIXEIRA, 2001).

Freud se preocupava em entender o que fazia os pacientes esquecerem os


fatos da vida, interna e externamente. Ele analisou que esse fato esquecido traz dores
e sofrimento a esses pacientes e essa é a causa de tal esquecimento.
De acordo com o trabalho de Bock, Furtado & Teixeira (2001), no livro "A
Interpretação dos Sonhos", Freud discutiu o conceito de estrutura e funcionamento da
personalidade. Na teoria da Psicanálise, ele propôs o conceito de divisão do aparelho
psíquico:
1. Inconsciente – Diz respeito ao conjunto de conteúdos reprimidos que
não se fazem presentes no campo da consciência. Tais conteúdos
reprimidos não estão acessíveis pelos sistemas pré-consciente e
consciente, pois são crivados por censuras internas.

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2. Pré-Consciente – Concebido como o sistema, cujos conteúdos
permanecem acessíveis ao consciente em algum momento.
3. Consciente – Sistema que recebe tanto as informações do mundo
exterior, quanto do mundo interior, apresentando-se a percepção
acerca deste mundo, como também a atenção e o raciocínio (BOCK,
FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
Nos pressupostos teóricos de Freud, ele soube que as cenas relatadas pelos
pacientes já haviam ocorrido e, posteriormente, descobriu que eram imaginadas, mas
tinham a mesma força e consequências psicológicas, e tinham os efeitos psicológicos
de situações reais. Nesse caso, Freud entendeu que a realidade psíquica tem valor
real para os indivíduos, mesmo que não corresponda objetivamente à realidade.
Portanto, o funcionamento psíquico é concebido a partir de três pontos de vista:
I. Ponto de Vista Econômico - afirma que existe uma energia que alimenta
os processos psíquicos.
II. Ponto de Vista Tópico – Analisa-se que o aparelho psíquico se constitui
por um número de sistemas que se diferenciam quanto à natureza e o
modo como funcionam, ou seja, representam um lugar psíquico.
III. Ponto de Vista Dinâmico – Existem forças em conflito no interior do
psiquismo.
Sobre tais forças, Carlos escreveu:

Tais forças estão ativas e se originam por meio da pulsão, que representa um
estado de tensão que busca no objeto suprimir este estado. Nesta pulsão
existem o Eros e o Tanado. O Eros significa a pulsão de vida, abrangendo as
pulsões sexuais e as de auto conservação. Tanatos é a pulsão de morte,
autodestrutiva, manifestando-se como pulsão agressiva (TERCEIRO, 2016).

Na Psicanálise, os sintomas podem aparecer na forma de produção,


comportamento ou pensamento, causados pelo conflito psicológico entre o desejo e o
mecanismo de defesa, que sinaliza ou oculta o conflito e substitui a satisfação do
desejo. Esses sintomas podem ser usados como um ponto de partida para a
investigação psicanalítica.
Depois de estudar as causas e funções da neurose, Freud descobriu que os
desejos e pensamentos reprimidos estão relacionados a sexualidade nos primeiros
anos de vida. Essas experiências traumáticas são suprimidas, levando a sintomas
neuróticos, pois deixam marcas na estrutura do indivíduo. Freud descobriu que a

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sexualidade é o centro da vida psicológica, o que mostra que a função sexual existe
desde o início da vida, o que é contraditório à crença dos teóricos de que a
sexualidade só existe após a puberdade.
Ele enfatizou que o tempo da sexualidade é longo e complicado, e a idade
adulta é a fase da reprodução e do prazer sexual para homens e mulheres. Essas
visões de Freud contradiziam as visões de uma época em que o sexo estava
relacionado apenas à reprodução.
A esse respeito, Macedo & Dockhorn analisam que:

A afirmação da existência de um sujeito de Inconsciente e de Sexualidade, o


qual não se adapta, na ética de sua existência, às determinações de
pressupostos regidos pela verificação, pela objetividade ou pela
replicabilidade de situações, impõe a Freud a necessidade de buscar um
rumo próprio e original na complexidade inerente ao processo de investigação
da Psicanálise (MACEDO & DOCKHORN, 2015).

Dessa forma, a Psicanálise rompeu com a epistemologia, perturbando a


concepção de homem e de subjetividade, pois:

Em Freud a noção de sujeito não se confunde com aquele Eu moderno, que


havia sido instalado como mestre em sua própria casa. O Eu de Freud é
descentrado, do mesmo modo como a Terra de Galileu e o Homem de Darwin
(KUPFER, 2010).

Portanto, a Psicanálise foi criada no cenário científico do século 19, período


este em que as razões científicas dominaram. Segundo Birman (1994), no século XIX,
a física era considerada um modelo científico ideal devido aos seus procedimentos
experimentais e linguagem matemática que representava o discurso científico.
Ao contrário da visão da física, os conceitos filosóficos praticam o discurso
metafísico e se desviam da exigência científica de declarar com segurança os dados
relacionados à experiência.
Ao considerar a Psicanálise como disciplina científica, Freud se distanciou do
discurso metafísico da filosofia. Portanto, o espírito investigativo de Freud foi
desenvolvido:

Nas pesquisas a respeito das experiências ocorridas no cenário da clínica


que lhe impuseram, por exemplo, o reconhecimento da diferença crucial entre
a recordação de um fato real e os conteúdos originários das cenas
fantasmáticas próprias ao desejo e à sexualidade infantil (MACEDO &
DOCKHORN, 2015).

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Freud descobriu que o indivíduo se desenvolve por meio de um processo
denominado psicossexual cuja função está relacionada à sobrevivência e encontra
prazer no próprio corpo. Nesse corpo foi encontrada excitação sexual, o que levou
Freud a especular sobre as seguintes etapas do desenvolvimento sexual:
– Fase oral (a zona de erotização é a boca);
– Fase anal (a zona de erotização é o ânus);
– Fase fálica (a zona de erotização é o órgão sexual) (BOCK, FURTADO e
TEIXEIRA, 2001).
De acordo com Freud (apud BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001, p. 97), após
essas etapas, ocorre o período de latência, que se estende até a puberdade e se
caracteriza pela diminuição da atividade sexual. A puberdade é o estágio final do
desenvolvimento sexual: o estágio genital. A característica desse estágio é que o
objeto de desejo não está no corpo em si, mas fora do indivíduo.
Preuschoff (2003 apud TERCEIRO, 2016) ressalta que a ciência ainda não
alcançou resultados concretos quanto aos fatores que desencadeiam o início da
puberdade e aos fatores que representam as alterações físicas. O corpo e as
mudanças corporais são universais até certo ponto, e algumas diferenças são
descartadas. No entanto, o que acontece no plano psicológico da existência da
relação com o meio ambiente está relacionado às diferenças culturais, aos diferentes
grupos sociais e aos indivíduos pertencentes ao mesmo grupo.
Becker (2003 apud TERCEIRO, 2016), acredita que é necessário que o
adolescente se integre a um determinado grupo, o que o levará a encontrar a própria
identidade em um momento crítico da sociedade. De acordo com a Psicanálise, esse
grupo pode substituir os pais para ajudar os adolescentes a entenderem suas
aplicações e se tornarem parceiros. Conforme Becker, (2003) “O adolescente não é o
futuro da pátria, nem a esperança do amanhã. Seu lugar é aqui, seu tempo é o
presente, e sua vida lhe pertence para vivê-la da maneira que escolher”.
Durante a fase de desenvolvimento sexual, vários eventos ocorreram, entre
eles o complexo de Édipo, que é a razão da construção da personalidade do indivíduo.
De acordo com Bock, Furtado & Teixeira, o complexo de édipo:

Acontece entre 3 e 5 anos, durante a fase fálica. No complexo de Édipo, a


mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o rival que impede seu acesso
ao objeto desejado. Ele procura então ser o pai para “ter” a mãe, escolhendo-
o como modelo de comportamento, passando a internalizar as regras e as
normas sociais representadas e impostas pela autoridade paterna.
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Posteriormente, por medo da perda do amor do pai, “desiste” da mãe, isto é,
a mãe é “trocada” pela riqueza do mundo social e cultural, e o garoto pode,
então, participar do mundo social, pois tem suas regras básicas internalizadas
através da identificação com o pai (Bock, Furtado & Teixeira, 2001)

Freud construiu um referencial teórico-científico baseado em pressupostos


conceituais que permitem a construção de conhecimentos que afetam os processos
mentais e patologias dos pacientes.

2.3 Pressupostos Teóricos E Princípios do Método Psicanalítico

Como mencionado anteriormente, Freud estabeleceu sua teoria com base em


seu atendimento clínico. Após a realização dos atendimentos, Freud relatava o caso,
não só descrevendo, mas também analisando e interpretando. Assim, estabeleceu a
teoria psicanalítica por meio da análise dos depoimentos dos pacientes, ou seja,
analisando os fragmentos da memória dos pacientes e estabelecendo conexões que
parecem não ter sentido, Freud explica o conteúdo da fala e infere o que não foi dito
no encontro.
A esse respeito, D’Agord analisa que:

A construção teórica de Freud originou-se, sem dúvida, das ficções que ele
elaborou a partir da sua escuta dos pacientes em análise. (…) Uma
construção em análise é o procedimento de extrair inferências a partir de
fragmentos de lembranças e de associações do sujeito em análise. Esses
fragmentos de lembranças não têm sentido em si mesmos, mas é justamente
desse sem-sentido que eles extraem a sua importância na construção de
hipóteses (D’AGORD, 2000/2001).

Com base no conteúdo acima, o Estudo de Caso da Psicanálise parece estar


entrelaçado com a experiência clínica, pois o atendimento clínico é realizado
inicialmente, para então construir o significado clínico relacionado ao caso descrito
pelo paciente. No texto intitulado Psicanálise e Teoria da libido, Freud conceitua a
Psicanálise como:

1) um método para a investigação dos processos mentais, que são quase


inacessíveis por qualquer outro modo; 2) de um método (baseado nesta
investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos; 3) e uma coleção
de informações psicológicas obtidas ao longo dessas linhas e que,
gradualmente, se acumula numa nova disciplina científica (FREUD,
1923[1922]/1974).

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Na definição da Psicanálise, Freud apontou que este é um método investigativo
dos processos psíquicos inconscientes. No cenário de análise, a eficácia desse
método é investigar o inconsciente. O caminho evolutivo dos métodos de pesquisa
começou com o método catártico de Breuer.
Brauer disse que este tratamento, catártico, oferece a possibilidade de liberar
os afetos e emoções associadas ao evento traumático. Ao vivenciar fatos
desagradáveis ou dolorosos, não se pode vivenciar ou expressar essa emoção.
Portanto, ao liberar emoções, os sintomas são eliminados.
Conforme Mezan:

aos poucos, foi modificando a técnica de Breuer: abandonou a hipnose,


porque nem todos os pacientes se prestavam a ser hipnotizados;
desenvolveu a técnica de concentração, na qual a rememoração sistemática
era feita por meio da conversação normal; e por fim, acatando a sugestão (de
uma jovem) anônima, abandonou as perguntas — e com elas a direção da
sessão — para se confiar por completo à fala desordenada do paciente
(Mezan (apud BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).

Portanto, Freud definiu sua ideia básica de estudar inconsciente de forma


gradativa. Vale destacar que no processo de construção da teoria psicanalítica por
meio da escuta da experiência clínica, Freud criou um novo espaço epistemológico e
estabeleceu um novo modelo de inteligibilidade e novas formas de conhecimento,
rompendo assim com Paradigma dos tempos. Este modelo de inteligibilidade
representa uma forma desconhecida ou criada pela experiência analítica.
Por conseguinte, Freud estabeleceu a associação livre, que é a regra básica
do método analítico, ao contrário da escuta flutuante do analista. Esse modelo
compreensível e inconsciente é criado na relação que existe no espaço analítico entre
o analisando e o analista. Esta relação envolvida nas técnicas psicanalíticas é
chamada de transferência (ROCHA, 2008).
Porque na análise da experiência coexistem os dois polos que constituem a
experiência humana, por um lado, alguns objetos foram marcados pela impressão do
desejo inconsciente e descobertos por meio desse método. Do outro lado se tem a
palavra que significa e (re) significa, na dinâmica da transferência, as experiências
passadas, as quais representam a base dos conflitos que geram os distúrbios
psíquicos (TERCEIRO, 2016).
Em essência, a experiência analítica é uma experiência de linguagem
específica da experiência analítica, porque é uma palavra que revela desejos e

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fantasias no inconsciente. A linguagem é a base da experiência analítica, pois no
diálogo analítico, o sujeito em processo do conhecimento de si mesmo, constrói e se
(re) constrói na tentativa de se tornar sua verdadeira identidade, embora escondido
(ROCHA, 2008).
Conforme comenta Terceiro (2016), o método das associações livres permite
que o analisado tenha ideias sem considerar o sistema de censura, sem ter que fazer
escolhas deliberadas sobre suas intenções e sem buscar as razões lógicas da
confusão espontânea em seu discurso livre. Além disso, o sujeito não necessita
considerar os requisitos de rotulagem social, nem considerar a censura da consciência
moral, mas em vez disso, lança pensamentos com intenções conscientes em torno da
atração inconsciente.
Nessa busca de propiciar que os pacientes realmente falassem abertamente e
livremente, Freud criou esse espaço de análise, o lócus onde se encontra o divã para
o paciente se deitar ou sentar e a poltrona do analista. Neste lócus, particularmente,
é evitado o face-a-face no diálogo terapêutico, o que deixa livre o espaço da análise
com o objetivo de que a linguagem do inconsciente se manifeste para que seja
possível fazer as associações livres (ROCHA, 2008).

No divã, o analisando pronuncia o seu discurso na presença do analista, o


qual – como suporte imaginário – além de substituir as pessoas que foram de
grande importância na vida do analisando e fazem parte da história de seus
conflitos, se torna uma referência essencial para que o analisando seja
reconhecido enquanto sujeito (TERCEIRO, 2016).

Na dinâmica desse jogo nominado de transferencial, onde o analisando


trabalha as palavras do analista, este as atravessa em todos os sentidos. A este
trabalho do analisando, “Freud deu o nome de Durcharbeitung, perlaboração,
essência do trabalho analítico” (FREUD, 1914/1982).
Ao explicar o que diz o objeto analisado, o analista emprestará suas palavras
para que ele possa assumir suas próprias palavras e fazer suas próprias descobertas
no campo da análise. Quando o significado de uma palavra é encontrado, o que dá
sentido à informação misteriosa escondida em seu inconsciente, ainda deixa uma
sensação de dor sem nome. No âmbito de poder assumir os próprios desejos e ser
sujeito desses desejos, a análise pode libertar o sujeito.
Ao analisar a experiência analítica, Freud afirma que esta é libertadora, pois:

16
todo tratamento psicanalítico [Jede psychoanalytische Behandlung] é uma
tentativa [ist ein Versuch] para libertar [zu befreien] o amor recalcado [die
verdrängte Liebe], que encontrou no sintoma a incômoda solução de um
compromisso [die in einem Symptom einen kümmerlichen
Kompromissausweg gefunden hatte] (FREUD, 1907/1982).

Freud enfatizou que o propósito da análise é tentar dar às pessoas a liberdade


de amar, trabalhar e estabelecer sua própria existência. A diferença entre o homem e
outras criaturas da natureza é que ela pode se tornar o sujeito de sua própria história.

2.4 O Aparelho Psíquico: Concepções Teóricas

Fonte: psicoativo.com

Freud introduziu os conceitos de id, ego e superego em sua teoria do aparelho


psíquico. Esses conceitos envolvem o sistema de personalidade. Freud apud Bock,
Furtado & Teixeira (2001) afirma que:
Id – Se constitui enquanto um reservatório da energia de ordem psíquica, lócus
das pulsões de vida e de morte. O id é regido pelo prazer.
Ego – Responsável por equilibrar as exigências do id com as exigências da
realidade e as ordens advindas do superego, regulando e alterando o princípio do

17
prazer para conseguir a satisfação, possuindo as seguintes funções: percepção,
memória, sentimentos e pensamento.
Superego – Origina do complexo de Édipo, por meio da internalização das
proibições, dos limites e da autoridade. O superego tem as funções de regular a moral
e os ideais, baseado nas exigências sociais e culturais.
Perceber eventos no mundo externo ou interno às vezes restringe e causa dor,
portanto, para evitar participar desse comportamento doloroso, os indivíduos
suprimem a realidade e não registram as percepções externas. Dessa forma, eles
eliminam o conteúdo psicológico específico que interferiria no pensamento. Freud
chamou essa supressão de mecanismo de defesa. Esse mecanismo de defesa é
executado pelo ego, que está inconsciente, ou seja, independente da vontade.
Acredita-se que o ego exclui conteúdo classificado como indesejável da consciência
porque protege o aparelho psíquico dessa forma. Além disso, o ego é responsável por
expor a realidade e ao mesmo tempo defender a mente por meio de vários
mecanismos que podem suprimir e ocultar a percepção de perigos internos devido a
perigos reais ou imaginários no mundo real.
Estes mecanismos de defesa se dividem em:
1. Recalque
Responsável por suprimir uma parte da realidade, não sendo percebido pelo
indivíduo, prejudicando o sentido do todo, pois ao tornar-se invisível, altera e deforma
a visão holística.
O indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre. Existe a supressão de uma parte
da realidade. Este aspecto que não é percebido pelo indivíduo faz parte de um todo
e, ao ficar invisível, altera, deforma o sentido do todo.
É como se, ao ler esta página uma palavra ou uma das linhas não estivesse
impressa, e isto impedisse a compreensão da frase ou desse outro sentido ao que
está escrito. Um exemplo é quando uma proibição é percebida como permissão
porque não se “ouve” o “não”.
O recalque, ao suprimir a percepção do que está acontecendo, é o mais radical
dos mecanismos de defesa. Os demais referem-se a deformações da realidade.
2. Formação Reativa
Diz respeito ao afastamento do desejo em determinada situação. O ego é
responsável por realizar essa ação, afastando desejos agressivos e transformando-

18
os em atitudes de ternura e superproteção. Contudo, ressalta-se que tais desejos de
carinho podem esconder o seu oposto, ou seja, a verdadeira motivação, preservando
os indivíduos de descobrirem acerca de si mesmos. O ego procura afastar o desejo
que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a
este desejo.
Um bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura excessiva,
superproteção — que escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso.
Aquilo que aparece (a atitude) visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras
motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si mesmo que
poderia ser bastante dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem
muita raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas
destas mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho.
3. Regressão
Este mecanismo de defesa se apresenta quando o indivíduo retorna a etapas
anteriores de seu desenvolvimento, agindo de forma primitiva. É o processo psíquico
que o Ego recua, fugindo de situações conflitivas atuais, para um estágio anterior. É
o caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área sexual, regrida, para
obter satisfações, à fase oral, passando a comer em excesso.
A regressão é uma noção de uso muito frequente em Psicanálise e na
Psicologia contemporânea; é concebida, a maioria das vezes, como um retorno a
formas anteriores do desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da
estruturação do comportamento.
Freud é levado então a diferenciar o conceito de regressão, como o demonstra
esta passagem acrescentada em 1914 em três espécies de regressões:
a) Tópica - no sentido do esquema do aparelho psíquico. A regressão
tópica é particularmente manifestada no sonho, onde ela prossegue até
o fim. Encontra-se em outros patológicos em que é menos global
(alucinação) ou mesmo em processos normais em que vai menos longe
(memória).
b) Temporal - em que são retomadas formações psíquicas mais antigas.
c) Formal - quando os modos de expressão e de figuração habituais são
substituídos por modos primitivos. Estas três formas de regressão, na

19
sua base, são apenas uma, e na maioria dos casos coincidem, situa-se
mais perto da extremidade perceptiva.
4. Projeção
Se apresenta sob a forma de distorções do mundo externo e interno. É uma
confluência de distorções do mundo externo e interno. O indivíduo localiza (projeta)
algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi projetado como algo seu
que considera indesejável. É um mecanismo de uso frequente e observável na vida
cotidiana.
Um exemplo é o jovem que critica os colegas por serem extremamente
competitivos e não se dá conta de que também o é, às vezes até mais que os colegas.
5. Racionalização
É o mecanismo de defesa que o indivíduo constrói um argumento que convence
de forma intelectual, justificando estados deformados da consciência. Seria a razão a
serviço do irracional, cujo material é fornecido pela própria cultura. “Dois exemplos: o
pudor excessivo (formação reativa), justificado com argumentos morais; e as
justificativas ideológicas para os impulsos destrutivos que eclodem na guerra, no
preconceito e na defesa da pena de morte” (FREUD apud BOCK, FURTADO &
TEIXEIRA, 2001).
O ego possui outros mecanismos de defesa, dentre os quais:
6. Identificação
É o processo psíquico por meio do qual um indivíduo assimila um aspecto, uma
característica de outro, e se transforma, total ou parcialmente, apresentando-se
conforme o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma
série de identificações.
Freud descreve como característica do trabalho do sonho o processo que
traduz a relação de semelhança, o “tudo como se”, por substituição de uma imagem
por outra ou “identificação”.
A identificação não tem aqui valor cognitivo: é um processo ativo que substitui
uma identidade parcial ou uma semelhança latente por uma identidade total.
7. Isolamento
É um processo psíquico da neurose obsessiva, que consiste em isolar um
comportamento ou um pensamento de tal maneira que as suas ligações com os outros
pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas, já

20
que foram (os pensamentos, os comportamentos), completamente excluídos do
consciente.
Entre os processos de isolamento, citemos as pausas no decurso do
pensamento, formulas, rituais, e, de um modo geral, todas as medidas que permitem
estabelecer um hiato na sucessão temporal dos pensamentos ou dos atos.
Certos doentes defendem-se contra uma ideia, uma impressão, uma ação,
isolando-as do contexto por uma pausa durante a qual “…nada mais tem direito a
produzir-se, nada é qualificada de mágica por Freud; aproxima-a do processo normal
de concentração no sujeito que procura não deixar que seu pensamento se afaste do
seu objeto atual”.
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos; nós o vemos
particularmente em ação no tratamento, onde a diretriz da associação livre, por lhe se
oposta coloca-o em evidencia (sujeitos que separam radicalmente a sua análise da
sua vida, ou determinada sequência de ideia do conjunto da cessão ou determinada
representação do contexto ideoafetivo).
Freud reduz, em última análise, a tendência para o isolamento a um modo
arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar, uma vez que “…o contato
corporal e a finalidade imediata do investimento de objeto, quer o agressivo quer o
terno”.
Nesta perspectiva, o isolamento surge como “…uma supressão da
possibilidade de contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo
quando o neurótico isola uma impressão ou uma atividade por pausa, dá-nos
simbolicamente a entender que não permitirá que os pensamentos que lhes dizem
respeito entrem em contato associativo com os outros”.
Na realidade, pensamos que seria interessante reservar o termo isolamento
para designar um processo especifico de defesa que vai da compulsão a uma atitude
sistemática e concentrada, e que consiste numa ruptura das conexões associativas
de um pensamento ou de uma ação, especialmente com o que os precede e os segue
no tempo.
8. Anulação Retroativa
Um mecanismo psicológico pelo qual o sujeito tenta fazer com que seus
pensamentos, palavras, gestos, atos passados nunca tenham acontecido; para tanto,
ele utiliza um pensamento ou um comportamento tendo uma significação oposta.

21
Trata-se de uma compulsão aparentemente “mágica”, particularmente característica
da neurose obsessiva.
Segundo Bock, Furtado & Teixeira (2001) as pessoas geralmente usam esses
mecanismos de defesa porque eles distorcem a realidade para resistir a perigos reais
ou resultados imaginários que podem existir interna e externamente. Esses
mecanismos não são classificados como patológicos, mas são responsáveis por
distorcer a realidade. Só expondo a realidade se pode superar a falsa consciência da
realidade e eliminar a falsa consciência.

3 A PSICANÁLISE PARA MELANIE KLEIN

Desde os anos 1940, quando a famosa e polêmica discussão envolveu


radicalmente membros da Sociedade Psicanalítica Britânica entre 1942 e 1944, o
sistema psicanalítico kleiniana foi gradual e seguramente integrado à Sociedade
Britânica, e então se expandiu para outros países: originalmente países da América
Latina, e depois se expandiu para outros países europeus, onde as ideias de Klein
começaram a ser reconhecidas e se tornaram cada vez mais importantes nesses
países.
Por último, formaram-se alguns grupos de orientação kleiniana nos Estados
Unidos, o perene e absoluto baluarte da Psicologia do ego, inspirada no trabalho de
Heinz Hartmann e respaldada por Anna Freud.

22
3.1 A História de Melanie Klein

Fonte: feministvoices.com

Melanie Klein nasceu em Viena em 30 de março de 1882, filha de Moritz Reizes


e Libussa Deutch. Moritz Reizes era um judeu polonês nascido em Lvberg, Galícia.
Por muitos anos, ele foi um estudioso do Talmud, mas pode ter sido influenciado pelo
movimento de libertação judaico Haskalah, rompeu com elementos religiosos
ortodoxos e se formou em medicina. Ele é culturalmente proficiente e pode falar várias
línguas, mas sua carreira nunca teve sucesso, principalmente por ser judeu e também
polonês, o que significa que pertence a uma classe desfavorecida da sociedade
judaica (FEBRAPSI, 2008[?]).
Moritz foi casado duas vezes. O primeiro casamento foi desfeito quando ele
contava 37 anos de idade. Aos 45 conheceu e casou-se com Libussa, também judia,
de origem eslovaca, 24 anos mais moça que ele, descrita por Melanie em sua
autobiografia como uma jovem culta, espirituosa e interessante. Depois do
casamento, o casal estabeleceu-se em Deutsch-Kreutz, Áustria. Neves Em algum
momento no período entre o nascimento das duas últimas filhas, a família mudou-se
para Viena, na esperança de melhorar sua difícil situação financeira. Em Viena, o Dr.

23
Reizes trabalhou como assistente de um dentista e, para complementar sua renda,
como consultor médico de um teatro de variedades.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) e
Melanie Reizes. Conforme descrito na Biografia apresentada pela FEBRAPSI,
Melanie sentia-se protelada por seus genitores:

Dentro da família, Emilie era a predileta do pai, Sidonie a mais bonita e


Emanuel uma espécie de gênio. E embora a mãe tivesse em Melanie sua
filha preferida, confessou-lhe que ela não fora desejada. Libussa amamentou
os três primeiros filhos, mas Melanie teve uma ama-de-leite que, segundo ela,
“me amamentava a qualquer hora que eu pedisse”. Ainda segundo Melanie
Klein em sua autobiografia, “nessa época, Trub King ainda não fizera sua
obra devastadora”, referindo-se ao pediatra neozelandês que defendia um
regime alimentar severo para os bebês. Com relação ao pai ela diz: “Não me
lembro de alguma vez ele ter brincado comigo. Doía-me pensar que meu pai
era capaz de afirmar com toda franqueza e sem consideração por meus
sentimentos que preferia minha irmã mais velha, sua primogênita. ” Desde
cedo Melanie exibia uma notável autoconfiança. Na velhice dizia às pessoas
que “não era tímida em absoluto” e, de fato, nunca se deixara passar
despercebida durante toda a sua tumultuada e importante vida (FEBRAPSI,
2008[?]).

Melanie Klein sentia grande atração pela atmosfera cultural da família de sua
mãe, filha de um rabino. Tanto o pai quanto o avô de Libussa eram muito respeitados
tanto por seu saber quanto por sua tolerância. Melanie herdou da família a vontade
de aprender e logo se tornou uma estudante ambiciosa, consciente de suas notas.
Sonhava em estudar medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se
realizou em virtude da situação financeira da família, agravada com a morte do pai em
1900. Ela chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, mas não chegou
a graduar-se.

O irmão Emmanuel foi seu grande mentor intelectual. Ele iniciou o curso de
medicina que abandonou para se dedicar às artes. Era muito doente, portador
de cardiopatia consequente a doença reumática, tuberculose e depressão.
No final da vida tornou-se viciado em drogas. Emmanuel tinha para com suas
irmãs um relacionamento com matizes incestuosos e, para com a família em
geral, um vínculo marcado pelo êxito em provocar culpa e vitimizar-se. Para
Melanie, ele teria sido um pai substituto, um companheiro íntimo e um amante
imaginário e ninguém em sua vida jamais conseguiu substituí-lo. No período
compreendido entre 1887 e 1902, Melanie Klein sofreu grandes perdas: a
irmã Sidonie, em 1887, de tuberculose; o pai, em 1900, de pneumonia; o
irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia (FEBRAPSI, 2008[?]).

Ainda conforme a FEBRAPSI, em 1903, logo após completar 21 anos, Klein se


casou com Arthur Steven Klein, engenheiro químico de caráter sombrio e tirânico de
quem estava noiva desde 1899. Arthur era seu primo em segundo grau por parte de

24
mãe e amigo de Emmanuel. Sua família residia em Rosemberg, na parte eslovaca da
Hungria. Nada se sabe sobre a cerimônia.

Em um texto intitulado “Chamado de Vida”, que seus biógrafos consideram


autobiográfico, Melanie Klein escreve sobre o choque vivido por uma moça,
Anna, na noite de núpcias: “E, portanto, tem de ser assim, a maternidade tem
que começar com repugnância? ” O casal passou a lua-de-mel em Zurique e
se estabeleceu na cidade do noivo. Dois meses depois do casamento,
Melanie descobriu que estava grávida e em 19 e janeiro de 1904 nasceu a
primeira filha, Melitta. Melanie teria dito que estava gostando de ser mãe, mas
sua autobiografia contém o seguinte trecho: “Lancei-me o máximo que pude
no papel de mãe e no cuidado de minha filha. Sabia o tempo todo que não
estava feliz, mas não havia saída”. Em 2 de março de 1907 nasceu Hans, o
segundo filho, cuja gravidez foi marcada por um estado de profunda
depressão. Em 1908 os Klein mudaram-se de Rosemberg para Krappitz; no
ano seguinte para Hermanetz e em 1910 para Budapeste, o que possibilitou
a convivência de Melanie com a parte da família do marido estabelecida
naquela cidade, com a qual manteria uma sólida ligação afetiva (FEBRAPSI,
2008 [?]).

Durante a infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios de depressão
e se afastou da família por longos períodos, para viagens de repouso ou para
internação em clínicas especializadas. Durante tais ausências, sua casa e família
ficavam a cargo de sua mãe, que se colocava em sua vida de forma intrusiva e
autoritária. A mãe a via e fazia com que ela própria se visse como uma pessoa doente,
neurastênica e incapaz. Mãe e filha mantinham entre si um relacionamento estreito e
afetuoso, porém marcado por atitudes e sentimentos ambivalentes: amor e ódio, apoio
e intrusão, liberdade e controle, dependência e autonomia.
O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de Melanie
Klein. Em 1º de julho nasceu seu último filho, Erich Klein. Em 6 de novembro morreu
sua mãe, Libussa. Além disso, aos 32 anos de idade ela encontrou-se com a
psicanálise: leu o texto “Sobre os Sonhos”, de Sigmund Freud, e provavelmente iniciou
sua análise com Sandor Ferenczi, buscando livrar-se da depressão. Para Melanie
Klein, antes de se tornar uma profissão ou um interesse intelectual, a psicanálise foi
uma experiência de crescimento e um caminho de cura pessoal.

25
3.2 Klein e a Psicanálise

Fonte: psicologorigoni.com.br

O ano de 1918 foi importante para o início da carreira de psicanalista. Foi


realizado em Budapeste o 5º Congresso Internacional de Psicanálise e Sandor
Ferenczi foi escolhido para a presidência. Durante o Congresso, encantada, Klein
ouviu Freud ler “Linhas de Avanço em Terapia Psicanalítica”. Já no ano seguinte, em
julho, ela apresentou à Sociedade Húngara de Psicanálise seu primeiro artigo, “Der
Familienroman in statu nascendi”, relato da análise de uma criança, depois do qual foi
admitida como membro. O aspecto insólito do artigo era que descrevia a análise de
Erich, seu último filho, cuja identidade foi encoberta nas versões posteriores. O
objetivo era mostrar os resultados obtidos quando uma mãe cria o filho de acordo com
conceitos psicanalíticos esclarecidos.

A Sociedade de Psicanálise de Budapeste, considerada por Freud o principal


centro de psicanálise da época, seria dizimada pouco tempo depois por
razões políticas. A queda do Império Austro-Húngaro foi seguida por um
regime comunista de duração breve que, por sua vez, deu lugar a um regime
branco, o Terror Branco, francamente antissemita, o que teve como
consequência a expulsão dos psicanalistas judeus da Sociedade e sua
dissolução. Assim, em 1919, Melanie Klein saiu de Budapeste com os filhos
para estabelecer-se por um curto período em Rosemberg com os sogros. Seu
marido, do qual se divorciaria em 1923, mudou-se por razões profissionais
para a Suécia, onde permaneceu até 1937, novamente casado e depois
divorciado. Morreu na Suíça em 1939 (FEBRAPSI, 2008[?]).

Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim, também um importante centro


tanto de atividade como de formação psicanalítica. Em 1922, aos 40 anos, tornou-se

26
membro associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade. Em 1924, iniciou sua
segunda análise, com Karl Abraham, como Ferenczi, um destacado discípulo de
Freud. A morte precoce de Abraham (1925) privaria Melanie de seu analista e protetor,
encorajando seus detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela
ascendência polonesa, ênfase na falta de estudos universitários e ironia perante uma
mulher que se pretendia mestra e, além disso, analista de crianças

Sem Abraham, ela ficaria exposta às críticas dos membros mais


conservadores da Sociedade de Berlim, contrários, sobretudo, às suas ideias
relativas ao atendimento de crianças, originais e ousadas. Tais ideias
contrariavam o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha Anna, a qual
também se dedicava à psicanálise infantil. Enquanto Anna via a psicanálise
numa perspectiva pedagógica, Melanie Klein mostrava-se determinada a
explorar o inconsciente infantil. Para isso, introduziu uma modificação técnica
essencial, substituindo a palavra pelo brincar, garantindo a maior proximidade
possível entre a psicanálise de adultos e de crianças. Na época, o
assassinato de Hermine von Hug-Hellmuth, por um sobrinho que havia sido
seu paciente, também serviu para reforçar a oposição à psicanálise de
crianças (FEBRAPSI, 2008[?]).

Numa postura diferente da adotada pelos alemães, os ingleses receberam a


proposta de trabalho de Melanie Klein com respeito, curiosidade e entusiasmo. Ainda
no ano de 1925, avisado de suas qualidades por James Strachey, o célebre tradutor
e editor de texto da Standard Edition das Obras de Freud e um dos animadores do
famoso grupo londrino de Bloomsbury, Ernest Jones a convidou a proferir palestras
em Londres. Para essa cidade mudou-se no ano seguinte e ali viveu até o fim de sua
vida, desenvolveu-se plenamente no âmbito profissional e fundou uma escola frutífera
até os dias atuais. Em 1927, tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.
Em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A Psicanálise
de Crianças”, ao qual fará referências ao longo de toda a sua obra. Mas, no âmbito
afetivo, a década de 30 lhe traria duas experiências devastadoras: a morte de seu
segundo filho, Hans, ao escalar uma montanha, e a deterioração definitiva de seu
relacionamento com a primogênita Melitta, que se tornara analista e também
ingressara na Sociedade Britânica. Na elaboração da perda de Hans, Melanie Klein
escreveu o texto “Uma contribuição para a psicogênese dos Estados Maníaco-
Depressivos” (1935). Em 1940, publicou “O Luto e suas Relações com os Estados
Maníaco-depressivos”.
A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 30, em
virtude da Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade Britânica se dividisse

27
ideologicamente em dois grandes grupos: o dos adeptos de Melanie Klein, que tinha
à frente Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière, e o dos adeptos do freudismo
clássico, entre os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo, composto por analistas
independentes, não alinhados com nenhum dos dois anteriores, se formaria depois,
num período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos debates, Klein e
seu grupo permaneceram na Sociedade Britânica e na Associação Internacional de
Psicanálise (IPA). Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década
seguinte, nem abriram uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung
anteriormente.

Na verdade, a escola kleiniana expandiu conceitos freudianos e, em meio à


turbulência da época, definiu um período de produção teórica exuberante. A
década de 30 ficaria marcada pelo conceito de posição depressiva e a de 40
pela posição esquizoparanóide. Em 1946, Melanie Klein publicou um de seus
textos mais importantes: “Notas sobre os Mecanismos Esquizóides”. No início
da década seguinte o grupo kleiniano lançou o livro “Desenvolvimentos em
Psicanálise”. Em 1957, Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”, seu último
livro com grandes novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma
Criança, no qual Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte,
em 22 de setembro de 1960, seria editado logo em seguida (FEBRAPSI,
2008[?]).

Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a
compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da
psicanálise. Para Kristeva, (2002) que dedicou à psicanalista o segundo volume da
coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que
predominam nomes como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a
inovação kleiniana. Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada
da psicanálise moderna.
Melanie Klein sempre se considerou e fez questão de ser vista como uma
seguidora de Freud. Um de seus maiores desapontamentos deveu-se à indiferença
que Freud demonstrava em relação a seus trabalhos em psicanálise de crianças, que
divergiam radicalmente da orientação do mesmo trabalho desenvolvido por Anna
Freud. É famosa uma passagem sua, quando em conversa com Betty Joseph, uma
das mais importantes analistas inglesas contemporâneas, Klein protestou ao ser
chamada de "kleiniana", visto que se considerava "freudiana". Ao que Joseph
respondeu: "Tarde demais, você é uma kleiniana, queira ou não queira"
GROSSKURTH, 1992).

28
Na opinião de Elias Mallet da R. Barros, esta passagem nos coloca diante de
um problema epistemológico: o de quando um autor com um pensamento psicanalítico
próprio e original, pode ou não ser considerado como tendo se desviado, ou
simplesmente ter desenvolvido o pensamento psicanalítico criado por Freud
(BARROS, 1989).
Também é importante recordar aqui que as contribuições de Melanie Klein à
psicanálise se desenvolveram a partir de alguns dos textos mais tardios de Freud,
como "Além do Princípio do Prazer" (1920), "O Ego e o Id" (1923) e "Inibição, Sintoma
e Angústia" (1926).
Para Neves (2007), os principais desenvolvimentos teóricos de Klein, são
classicamente:

Fonte: Neves (2007)

O autor ainda ressalta que “a interação entre introjeção e projeção foi


posteriormente desenvolvida intensivamente nos estudos que culminaram na
conceituação da identificação projetiva” (NEVES, 2007).

29
3.3 O Setting Psicanalítico

Fonte: vittude.com

Normalmente, este é um conceito técnico ao qual os analistas das escolas de


inglês atribuem grande importância e se refere à situação em que a análise é
realizada. É uma série de recursos e procedimentos disponibilizados aos pacientes
do serviço, desde o espaço físico do consultório (incluindo móveis e objetos) no início,
até a quantidade de reuniões semanais em seu próprio ritmo, incluindo a postura
correta e interpretações que o analista dá ao analisando.
Segall, ao escrever sobre a técnica de Melanie Klein, diz que

"a técnica kleiniana é psicanalítica e se fundamenta rigorosamente em


conceitos psicanalíticos freudianos, sendo seu contexto formal o mesmo da
análise freudiana... Não é só o cenário formal que é o mesmo da análise
clássica: respeita-se também, em todos os aspectos essenciais, os princípios
psicanalíticos tal como foram apresentados por Freud" (SEGALL, 1982)

Segall cita como fatores constituintes da Psicanálise kleiniana o Setting


Psicanalítico, a frequência de sessões semanais (ideal o número de cinco sessões),
o uso do divã, e ressalta a interpretação como o instrumento essencial de trabalho do
analista, que deve evitar rigorosamente todas as formas de crítica, apoio, conselho,
julgamento, encorajamento e reasseguramento (SEGALL, 1982).

30
3.4 A Interpretação

Na Psicanálise Kleiniana, o objetivo da interpretação é buscar e perceber a


conexão emocionalmente viva relacionada à experiência analisada. Melanie Klein
acredita que a experiência emocional é a base da vida psicológica, algo que dá
significado emocional, e essa experiência emocional existe no consciente e
inconsciente.
Para Freud, a emoção é um subproduto da condução da vida, constituindo-se
como uma experiência consciente, ou seja, um elemento que indica a existência do
conflito motriz inconsciente. A importância das emoções subconscientes como fator
central na vida psicológica de uma pessoa. A organização dessa emoção inconsciente
e seu significado é uma característica básica do sistema de Klein, que o distingue de
outros métodos psicanalíticos. Depois de Klein, Bion enfatizou o fato de que para que
o pensamento se desenvolva é necessário pensar cuidadosamente sobre a
experiência emocional dos relacionamentos.
O objeto da interpretação é a fantasia inconsciente, que pode ser basicamente
compreendida pelo paciente em comunicação livre (incluindo relatos de sonhos), por
meio da empatia e da contratransferência. Em suma, a interpretação deve abranger
tudo o que o paciente mostra ao analista de alguma forma, assim como tudo o que o
paciente envia em convite ao analista, para que este possa compreender e participar
de seu mundo interno da forma que ele mesmo conhece e experiência. As fantasias
inconscientes devem ser interpretadas e tratadas no presente, na sessão, e essas
interpretações devem sempre cobrir a transferência global:
A fantasia está relacionada ao analista, as análises e setting. Ao interpretar, o
analista deve procurar material inconsciente para compreender a relação entre a
experiência emocional do paciente e as atividades da sessão.

Esta é a forma de interpretação considerada como a mais terapêutica. É a


que Strachey, 1934 denominou "interpretação mutativa", a que tem condições
de colocar o paciente em contato direto com uma fantasia que está em ação
naquele instante, possibilitando assim conexões e insights que propiciam
autêntica mudança psíquica. Mudanças nas fantasias inconscientes se
relacionam com mudanças psíquicas e com o funcionamento global do
paciente (NEVES, 2007).

A interpretação deve descrever o movimento e a dinâmica interna do paciente.


Portanto, sabemos que em seu mundo interior, o homem tem tudo: representando a

31
si mesmo, objetos, relações e conflitos causados pelos mais diversos estados e
experiências emocionais.

3.5 O Mundo Interno

Fonte: ufsm.br

O mundo interno é uma descoberta importante da Psicanálise de Freud: a


dimensão da realidade psicológica está relacionada à existência consciente e
consensual da realidade externa, e também está relacionada à negação e à origem.
Este é um conceito que Melanie Klein herdou diretamente de Freud e o expandiu de
forma genial.
Caper (1990) realizou um estudo muito interessante sobre a composição e
evolução do conceito de mundo interno, primeiro em Freud e depois em Klein. O autor
usa a teoria da ansiedade de Freud (a ansiedade é o resultado e consequência da
supressão do desejo sexual, e depois usa a ansiedade como um sinal) e Klein (a
ansiedade é um papel movido pela morte no ego) como o elemento de transmissão
da evolução desse conceito. A formação da fantasia e a ansiedade da identidade são
ilustradas pelo exemplo do Pequeno Hans.
Segundo Klein, o mundo interior é um espaço de objetos, cheio de pulsões,
intuições, funções e relações. Para objetos internos, no todo ou em parte, os objetos
vivem em relações pessoais marcadas pela identificação. Nesse lugar, a onipotência

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do pensamento infantil primitivo é dominante, o que o torna ora o aspecto mais
deslumbrante da magia, ora o horror mais forte. Neste lugar nada tem características
claras e estáveis, objetos, impulsos e funções podem mudar de um extremo a outro,
do prazer mais forte ao horror mais insuportável.
O mundo interno da psicanálise kleiniana é um espaço, uma dimensão que,
embora relacionada com as funções do id, do ego e do superego, não coincide com
estas instâncias psíquicas, mas como que as supera e as contém. Nas etapas mais
primitivas do desenvolvimento, o mundo interno é essencialmente corporal, com
movimentos de fusão e de sincretismo com os objetos e até mesmo com partes do
mundo externo. Com o desenvolvimento, vai se fazendo alguma diferenciação entre
corpo próprio, objetos internos ou externos, mundo externo, eu e não eu, diferenciação
esta que progressivamente se torna mais nítida (NEVES, 2007).
É importante destacar a diferença existente entre Freud e Klein em relação às
pulsões e como estas são consideradas no processo psicanalítico. Para Freud, as
pulsões são sempre inconscientes, o que pode ser expresso em pensamentos
inconscientes ou em estados emocionais. Em relação a esse estado, no que se refere
às "emoções inconscientes", fala-se de mudanças nos fatores quantitativos
relacionados ao impulso relacionado à repressão. Em seu texto sobre o inconsciente,
Freud diz que

"ideias inconscientes continuam a existir depois da repressão como


estruturas vigentes no sistema Ics, enquanto tudo que corresponde neste
sistema aos afetos inconscientes é um começo potencial que fica impedido
de desenvolver-se" (FREUD, 1915).

Klein não admitiu considerar a possibilidade de uma unidade separada para o


assunto. Ao longo de seu trabalho, ela nunca referiu às pulsões como possuidora de
vida e atividade isolada das atividades as quais se direcionam. Klein acredita que a
pulsão atua sobre o objeto, portanto, não só tem uma relação com o objeto, mas
também produz uma experiência emocional inconsciente.
Isso tem importantes implicações teóricas e clínicas: ao não tomar a motivação
como foco principal de atenção, toma a experiência emocional como elemento
privilegiado do trabalho psicanalítico e atribui a ansiedade ao seu papel principal na
construção da vida psicológica pessoal.
É aí que surgem algumas diferenças fundamentais entre os dois sistemas:

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Freudiano – a emoção é uma derivação da atividade pulsional, constituindo-se
como uma vivência consciente, isto é, um elemento indicador da presença de um
conflito pulsional inconsciente.
Kleiniano – a emoção é a base da vida mental, aquilo que lhe dá significado e
que existe tanto no consciente como no inconsciente.

3.6 Transferência e Contratransferência

Freud conceituou a transferência como: sob a influência da compulsão sobre o


princípio da repetição, certos relacionamentos e eventos passados e seus
componentes emocionais são repetidos (ou retransmitidos) no relacionamento com o
analista. No caso de Dora (1905), Freud definiu e caracterizou o fenômeno da
transferência em seus componentes básicos.
Klein considerou a transferência como o resultado da externalização de
relações internas de objeto sob a pressão exercida pela ansiedade e cujas origens
remontam aos mesmos processos que, no passado, promoveram as primeiras
relações objetais, ou seja, introjeção e projeção, cisão, identificação projetiva,
idealização, etc.
Neves mencionou que

para os analistas kleinianos o essencial na transferência não reside na


relação entre passado e presente, mas sim na relação existente entre mundo
interno e mundo externo. Daí, pode ser inferido que as relações com as
figuras parentais reais já contêm elementos de uma transferência porque a
criança não se relaciona nem reage aos pais reais tal qual eles são e como
existem, mas sua percepção deles já está colorida e marcada por suas
introjeções e projeções (NEVES, 2007).

Assim, o que está em jogo na transferência não são os imagos dos pais (ou de
quaisquer objetos) como representações de lembranças e de vivências reais
acontecidas no passado.
Melanie Klein (1952) afirma que

"minha concepção de transferência como algo enraizado nos estágios iniciais


do desenvolvimento e nas camadas mais profundas do inconsciente é muito
mais ampla, envolvendo uma técnica através da qual, a partir da totalidade
do material apresentado, são deduzidos os elementos inconscientes da
transferência. Por exemplo, relatos de pacientes sobre suas vidas, relações
e atividades cotidianas não só nos oferecem uma compreensão do
funcionamento do ego, mas revelam igualmente as defesas contra a
ansiedade suscitadas na situação de transferência, caso exploremos seu
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conteúdo inconsciente. O paciente está fadado a lidar com conflitos e
ansiedades, revividos na relação com o analista, empregando os mesmos
métodos a que recorreu no passado. Isto quer dizer que ele se afasta do
analista como tentou se afastar de seus objetos primários; tenta cindir a
relação com eles, mantendo-os como figuras boas ou más; deflete alguns dos
sentimentos e atitudes vividos em relação ao analista para outras pessoas
em sua vida cotidiana, e isto é parte da situação" (KLEIN, 1952).

Nessa conceituação, a Psicanálise Kleiniana pensa a transferência como uma


condição geral, não apenas no conteúdo que aparece de forma verbalizada na
sessão, envolvidas em conflitos, sentimentos relacionados à repetição, etc. A partir da
visão de Klein, a transferência é sempre considerado como enviado ao analista, que
deve então interpretar a e na transferência, para mostrar que o que aparece na análise
é a realidade que o mundo interno está emergindo, se expressando e experimentando
naquele momento.

Esta é a questão mais básica e essencial da análise kleiniana: a perenidade


e a dimensão ampla da experiência emocional como material primordial e
contínuo do trabalho da análise. Assim, além do material falado, há o material
não verbal (gestos, mímica facial, movimentos). Enfim, tudo que, de alguma
maneira, o paciente mostra ao analista. Somente assim o analista poderá
perceber e sentir o mundo interno do paciente, como ele funciona, e como se
dão as relações entre o paciente (seu ego), seus objetos e também as
relações dos objetos entre si. É esta visão de conjunto que dá à transferência
uma concepção dinâmica de movimento ininterrupto, do mesmo modo como
se dá a emergência e o funcionamento das fantasias (NEVES, 2007).

Já para Freud a contratransferência é o resultado de aspectos do analista que


interferem na análise. Esse conceito tem conotações negativas que dificultam ou
impedem que a análise aconteça. O exemplo clássico dessa visão é a reação de
Breuer a Anna O., que analisada posteriormente por Freud, identificou a transferência
amorosa da paciente e a reação não elaborada e atuada do analista a ela (FREUD,
1974).
Neves (2007) lembra que vários autores, embasados por Klein, ampliaram o
conceito de contratransferência. Em 1950, Heimann apresentou que a
contratransferência é tudo aquilo que o analista vive e experimenta em sua relação
com o paciente. A autora comentou "Do ponto de vista que estou ressaltando, a
contratransferência do analista não é somente parte integrante da relação analítica,
mas é criada pelo paciente, é parte da personalidade do paciente". Portanto, como
enfatiza Neves (2007) “se o analista experimenta algo, é porque algo do paciente o
atingiu”. Cabe ao analista perceber o que ele experimenta, compreender essa
vivência, separar o que é dele do que é do paciente ou até mesmo do que não é dele,
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passando a ter uma visão de alguma coisa do paciente espelhada por sua própria
introspecção. O uso da contratransferência é muito importante, devendo o analista
ser capaz de utilizar o que ele experimenta e não apenas dizer ao paciente o que ele
percebeu e identificou.

3.7 Últimos Trabalhos de Melanie Klein

Fonte: livrariaresposta.com.br

Melanie Klein revisou suas opiniões sobre o desenvolvimento da personalidade


e suas mudanças em um de seus livros mais recentes (publicado após sua morte em
22 de setembro de 1960) "On Mental Health" (1960). Revisou os mecanismos mais
básicos do crescimento infantil, discutindo a importância original das mães e dos
objetos e, no último parágrafo do texto, fala sobre o que chama de impulso de
integração.

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De acordo com Neves (2007), Klein diz que este impulso se origina de um
sentimento de que as diferentes partes do self são distantes e estranhas umas às
outras. Também faz parte dele "o conhecimento inconsciente de que o ódio só pode
ser mitigado pelo amor e se os dois sentimentos forem mantidos separados, esta
mitigação não pode se dar. Para ela todo processo de mudança e de integração
implica numa experiência de dor, pois a excisão do ódio, da destrutividade e suas
consequências acarreta sentimentos de angústia e sofrimento.

Ela diz ainda que, numa pessoa normal, mesmo quando há alguma oscilação
entre os efeitos causados por experiências perturbadoras, internas ou
externas, o impulso à integração entra em ação, conduzindo-a de volta ao
equilíbrio. É tudo muito dinâmico e não existe a integração completa, mas
quanto mais o indivíduo se esforça nesta direção, mais insight ele terá sobre
seus impulsos e sobre suas ansiedades, mais forte será o seu caráter e maior
seu equilíbrio mental (NEVES, 2007).

A psicanálise kleiniana tem como objetivo proporcionar aos analisandos um


meio de obtenção de mudança psíquica. Somente através do trabalho reiterado das
fantasias inconscientes, do vivido transferencial e da redução das dissociações
internas com a consequente integração do ego e melhor capacidade para lidar com a
realidade, torna-se possível um ganho de qualidade no viver, nas relações com as
pessoas, no trabalho e na criatividade. Em outras palavras, a análise visa proporcionar
o predomínio de Eros sobre Tânatos. Isto é crescimento pessoal e só pode ser
conseguido com muito trabalho e não sem sofrimento. Porque na vida nada é de
graça.
Partindo da Psicanálise clássica, Klein desenvolveu alguns conceitos de Freud
(fantasia, mundo interno, complexo de Édipo, entre outros) e elaborou outros
conceitos originais (o conceito de posição, as ideias sobre as etapas mais primitivas
do desenvolvimento, os mecanismos e as defesas utilizadas nas fases iniciais do
desenvolvimento).

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