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16/06/2021 Elites vendidas: O Brasil diante do imperialismo chinês – Mídia Sem Máscara

Elites vendidas: O Brasil diante do imperialismo


chinês
Por Diogo Fontana

Última atualização 15 de junho de 2021 5:03 am

Os políticos e a burguesia local se lambuzam, enchem a pança, e gozam, com a


vulgaridade que lhes é peculiar, as delícias da amizade chinesa.

Ao longo da história a expansão comercial foi muitas vezes a ponta de lança da


conquista territorial. Não foram poucos os impérios que usaram este expediente:
primeiro os negócios, depois as armas.

Na Antiguidade, comerciantes romanos – os chamados negotiatores –


prosperavam no território dos povos ainda não submetidos ou ainda não honrados
com a “amizade” de Roma. Ousados e ardilosos, os mercadores precediam as
tropas e estabeleciam vasta rede de relação comercial em terra estrangeira muitos
anos antes da possibilidade de qualquer penetração militar. No momento
oportuno, porém, a experiência desses pioneiros tornava-se preciosa fonte de
inteligência para os generais agirem: a demogra a, as rotas uviais e terrestres, o
clima, o sentimento popular, a situação política e diplomática, os recursos
naturais, o parque manufatureiro, a capacidade militar, etc., – as mais variadas
informações eram fornecidas ao exército conquistador pelos integrantes da
vanguarda comercial. Mas não era só isso. Os vínculos instituídos entre os

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comerciantes estrangeiros e parte da elite local surtia efeito divisor e inclinava


aqueles que lucravam com a presença romana a simpatizarem e até trabalharem
ativamente em prol o invasor. Divide et impera.

Hoje, essa mesmíssima estratégia vem sendo implantada, com sucesso crescente,
pelos imperialistas chineses, cada vez mais sedentos de domínio global. Em 2013, a
m de pavimentar o caminho para a hegemonia, o ditador chinês anunciou a Belt
and Road Initiative, um gigantesco e ambicioso programa cujo objetivo declarado é
“melhorar a conectividade e a cooperação em escala transcontinental”. O
programa consiste em duas partes, ou duas rotas: a primeira, o Cinturão
Econômico da Rota da Seda, que liga a China à Ásia Central e à Europa; a segunda,
a Nova Rota Marítima da Seda, unindo a potência comunista aos países do norte da
África, do Oriente Médio e do sudeste Asiático. A iniciativa é aberta a todos os
países e inclui a volumosa concessão de empréstimos e um não menos
impressionante investimento direto em infraestrutura e transporte. Em apenas
quatro anos de vigência, de acordo com dados do Banco Mundial, o projeto já havia
consumido 575 bilhões de dólares e envolvido ao menos 125 países, incluindo
nações da Ásia, África e América Latina. Os entusiastas estimam que o comércio
irá prosperar, e o custo e tempo de viagem diminuir ao longo dessa “nova rota da
seda”. Mais comércio, mais riqueza, maior desenvolvimento para muitas regiões.
Em suma, mais dinheiro. Consigo imaginar a piloereção dos liberais ao ler estas
linhas. Perguntarão: “mas se todo mundo cará mais rico, Diogo, qual é o
problema?” E o chato aqui deverá responder: a armadilha se chama
endividamento. E a consequência disso se chama submissão.

Entre 2003, ano da posse do Lula, e 2019, investidores chineses injetaram 72


bilhões de dólares no Brasil, superando os Estados Unidos. A China é a maior
cliente para os nossos produtos e a maior investidora em nossa infraestrutura.
Nada escapa à sua voracidade, compram de tudo, em todos os lugares. Já
pertencem aos chineses 14 hidrelétricas e 11 parques eólicos; também possuem
participação em 12 campos do pré-sal; administram o terminal de contêineres do
porto de Paranaguá; controlam 100% do fornecimento de água da grande São
Paulo; detêm uma cota de 23,7% da Azul Linhas Aéreas; são sócios majoritários da
Belagrícola, gigante produtora de máquinas e equipamentos; comandam a lial
mato-grossense da Fiagril, distribuidora de grãos e biodiesel; são donos da CPFL
Energia, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro; comandam o Nubank,
maior banco digital do mundo; pretendem instalar uma fábrica de motos elétricas
em Uberaba, Minas Gerais; e dominam mais uma carrada de outras coisas que eu
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ignoro e quei com preguiça de pesquisar, mas que, segundo consta em um


relatório do Conselho Empresarial Brasil-China publicado em 2018, perfazem pelo
menos 145 operações chinesas no Brasil. Digo “pelo menos” porque o volume total
só Deus sabe, ou talvez só o Xi Jingping saiba, pois este próprio relatório a rma que
“tendo em vista que não há um monitoramento abrangente o su ciente que
garanta uma base de dados completa em relação aos investimentos chineses no
Brasil, seja por parte do Estado brasileiro ou de outras instituições, é importante
mencionar que as informações aqui divulgadas se tratam de uma amostra geral
dessas transações”.

Testemunhamos a ofensiva chinesa não apenas no setor de infraestrutura


brasileiro. Eles também estão presentes na imprensa, onde inundam com seu
dinheiro fácil grupos de comunicação moribundos quando não desesperados, tais
como a Globo e a Bandeirantes, tendo sido a primeira bene ciada por meio de uma
parceria tecnológica e a segunda com o fornecimento e produção de conteúdo.
Obviamente, não serei eu leviano a ponto de insinuar que ambas emissoras, no
futuro, hão de continuar guardando um silêncio obsceno acerca das perseguições
étnicas e religiosas ou do brutal totalitarismo orwelliano já instalado em território
chinês. Tal coisa eu jamais insinuaria, de modo algum, pois acredito na honra e no
amor à verdade sempre exibidos por nossos respeitabilíssimos jornalistas da mídia
tradicional.

Mas a coisa não pára por aí. As garras do imperialismo chinês atingem a educação,
miram as nossas crianças. Já funciona no bairro de Botafogo a Escola Chinesa do
Rio de Janeiro, a primeira instituição de ensino aberta pelos chineses no exterior,
“uma organização educacional sem ns lucrativos criada com o apoio nanceiro
de empresários chineses que residem no Rio de Janeiro e empresas chinesas
sediadas no Brasil, com a permissão e apoio do Consulado Geral da China.” A
escola conta com professores chineses e livros didáticos chineses.

O que esperar disso tudo? A resposta está nos países onde o domínio chinês se
consolidou. Por meio de subornos e contratos leoninos, em vários pontos do
planeta, os chineses estão conseguindo anexar territórios ao seu império
crescente.  No Sri Lanka, por exemplo, onde obtiveram o controle, por 99 anos, de
uma de área de 63 hectares anexa ao porto de Colombo, capital do país, já se fala
abertamente em “colônia chinesa”. O governo local isentou os investidores
estrangeiros de cumprir a legislação nacional. A região representa, na prática,
uma zona especial fora da jurisdição do país. É um entreposto chinês no Sri Lanka.

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Onde quer que se instalem, os chineses comprometem parte da elite local, política
e empresarial, enriquecendo-a obscenamente por meio de parcerias que garantem
um aluvião de propinas, bugigangas, e empréstimos baratos. Os políticos e a
burguesia local se lambuzam, enchem a pança, e gozam, com a vulgaridade que
lhes é peculiar, as delícias da amizade chinesa. E se algum interlocutor
desagradável tiver a pachorra de levantar questões morais, preocupado com a
segurança e a soberania nacional, receberá certamente como resposta algum
argumento técnico do tipo “não é bem assim” ou “é complicado”.  E a coisa cará
por isso mesmo. A nal, quem deles, em meio à farra de vinhos e jatinhos, a ito por
quitar a fatura do cartão da esposa que comprou mais uma dúzia de bolsas de
grife, terá cabeça para pensar em coisas tão abstratas como a desindustrialização
da pátria ou o desemprego maciço dos trabalhadores?

Se nós brasileiros não dermos um basta imediato ao assalto chinês aos nossos
recursos, em breve, muito breve, seremos uma colônia ou um protetorado. Então,
sofreremos calados, por muitas gerações, a humilhação de receber ordens
arrogantes de um dos impérios mais desumanos que o mundo já conheceu.

Publicado no site da Editoria Danúbio.

Diogo Fontana nasceu em Curitiba em 1980. É escritor, editor e tradutor. Publicou


a novela “A Exemplar Família de Itamar Halbmann” (Danúbio, 2018). Escreveu
artigos para o jornal Gazeta do Povo e para os sites Brasil Sem Medo, Senso
Incomum, Estudos Nacionais e Mídia Sem Máscara. Mora em Santa Catarina com a
esposa Gabriela e o lho Constantino.

A mídia independente é importante demais para não ser atacada pelas grandes redes de
comunicação servas do establishment. Foi denunciando a aliança criminosa entre a grande
imprensa e as elites políticas , bem como promovendo uma mudança cultural de larga escala,
que o jornalismo independente a rmou sua importância no Brasil.
O Mídia Sem Máscara, fundado por Olavo de Carvalho em 2002, foi o veículo pioneiro nesse
enfrentamento, e nosso trabalho está só começando.
Contribua, pois é estratégico que nosso conteúdo seja sempre
gratuito: https://apoia.se/midiasemmascara
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2 Comentários

Mauro Diz  6 dias atrás

Ótimo artigo. Se Lula ou qualquer “amigo” dele vencer no ano que vem com certeza a situação
vai piorar muito.

Jorge Luiz Diz  5 dias atrás

A “Tchaina Town” brasileira será na Bahia ? Ficarão os “ ango ito” com o subsolo de
esmeraldas do Brasil à revelia da estupidez tacanha do senado federal e da Câmara das
deputadas recalcadas?
OU
Dorian Gray entregará a cabeça do povo paulista numa bandeja de prata, ao sabor da
putrefação da assembleia legislativa e de deputados fake news?
Este será o legado da pizza hereditária criada em Pindorama?
A decadência neo colonial não acaba?

© 2021 - Mídia Sem Máscara.

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