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A presente obra trata-se de uma edição direcionada à formu- lação de sua proposta,

especial, come- morativa, devido ao fato uma teoria crítica que não seja reproduti- vista
deste livro ter completado 25 anos de seu e responda aos interesses das classes
lançamento em 1983 e ter atingido a 40ª subalternas .
edição . Por se tratar de uma edição Além dos prefácios mencionados, há
comemorativa Saviani fez dois acréscimos no também os prefácios às 36ª, 35ª, 34ª, 33ª, 30ª
conteúdo do livro, a saber: o prólogo à edição e 20ª edições . É importante destacar que no
Uruguaiana, elaborado em março de 1988 prefácio à 35ª edição Saviani ressalta que “[ ]
pela professora Ema Julia Mas- sera uma cer-
Garayalde da Universidade de La República ta corrente da historiografia da educação
e um apêndice composto pelo texto “Setenta brasileira nos anos de 1990” (p xxvi) leu o livro
anos do Manifesto e vinte anos de Escola e como se este fosse um Manifesto con-
democracia: balanço de uma polêmica” tra a Escola Nova, ou um anti-Manifesto de
apresentado por Saviani em Belo Horizonte 1932, porém o autor afirma que a obra tem um
em agosto de 2002 no “Colóquio Nacional 70 caráter polêmico e não historiográ- fico, o que
anos do Manifesto dos Pioneiros: um legado pode ter gerado esse tipo de interpretação
edu- cacional em debate” . Além disso, foi Savia-
acrescida a carta de Zaia Brandão como ni, nesse prefácio, ainda aponta que se o
anexo . presente livro for lido como um manifesto, este
O livro apresenta oito prefácios . No seria um Manifesto de lançamento da
prefácio à edição co- memorativa o autor Pedagogia Histórico-Crítica e não um anti-
discorre acerca dos acréscimos feitos nessa Manifesto de 1932 .
obra e faz alguns agradecimentos . No No prefácio à 33ª edição Saviani faz uma
prefácio à edição uru- guaiana a professora homenagem a Anísio Teixeira se reportando à
Ema Julia ressalta que a preocupação cen- Marx que apesar de crítico de Hegel o
tral da obra é gerar uma teoria educacional proclamou grande pensador .
capaz de contribuir à transformação da O livro é composto por uma Apresentação,
sociedade brasileira . Esta destaca ainda que quatro capítu- los, um apêndice e um anexo
as principais ideias de Saviani se apresentam Nesta obra, Saviani buscou a ar-
em duas direções, uma voltada às críticas às ticulação entre o trabalho desenvolvido nas
propostas educativas existentes expli- cando escolas com o pro- cesso de democratização
seu fracasso e insuficiência e outra da sociedade brasileira O fio condutor
é a questão da marginalidade da escola da
O terceiro capítulo compõe-se do artigo
maioria das crianças e jovens
“Escola e Democra- cia para além da
latinoamericanos que não tem sido resolvida
Curvatura da Vara”, publicado em 1982, tam-
nem pelas teorias liberais nem pelos seus
bém na ANDE . Por fim, o último capítulo
críticos .
reproduz o texto “Onze teses sobre educação
Na Apresentação o autor faz um resumo
e política” escrito especialmente para integrar
do que será abor- dado no livro, ressaltando
o presente livro . Saviani destaca que o
os textos que compõem cada capítulo e o
objetivo deste quarto e último capítulo é “[ ]
local no qual estes foram inicialmente
encaminhar de modo explícito, a
publicados O primei-
discussão das relações entre educação e
ro capítulo é composto pelo artigo “As teorias
política já que aí reside a questão central que
da educação e o problema da marginalidade
atravessa de ponta a ponta o conteúdo desse
na América latina”, publicado ori- ginalmente
livro” (p .01) .
em agosto de 1982 no número 42 dos
No primeiro capítulo, intitulado “As teorias
Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos
da educação e o problema da marginalidade”
Chagas O capítulo dois reproduz o
Saviani denuncia o problema refe- rente ao
artigo: “Escola e Democracia ou a Teoria da
alto número de crianças que se encontram
Curvatura da Vara”, publicado em 1981 na
marginaliza- das das escolas Segundo dados
ANDE .
da TEDESCO, em 1970, 50% dos
alunos estavam em condições de semi-
analfabetismo na maioria dos países da
América Latina .
Levando em consideração à questão da
marginalidade, Sa- viani aponta que as
teorias educacionais podem ser classificadas
em dois grupos e ressalta que ambos tentam
explicar a margina- lidade fazendo um
paralelo entre educação e sociedade O pri-
meiro grupo, denominado por Saviani de
“Teorias não-críticas”, composto pela
Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Nova e a
Pe- dagogia Tecnicista entendem a educação
como instrumento de equalização social, marginalidade por meio da escola sem ja-
portanto, de superação da marginalidade Já mais conseguir êxito, as teorias crítico-
o segundo grupo, nomeado de “Teorias reprodutivistas explicam a razão do suposto
Crítico-Reprodutivistas” que abarca a Teoria fracasso” (p .24) .
do Sistema de Ensino como Violência Sim- Após apresentar o diagnóstico das
bólica, a Teoria da Escola como Aparelho principais teorias pe- dagógicas, ressaltando
Ideológico do Estado e a Teoria da escola as contribuições e limites de cada uma,
Dualista, compreendem a educação como Saviani anuncia que a tarefa de uma teoria
instrumento de discriminação social, ou seja, crítica, que não seja reprodutivista é superar
fator de marginali- zação O autor considera o tanto o poder ilusório, característico das
segundo grupo como teorias críticas, teorias nãocríticas, como a impotência,
pois este busca entender a educação “[ ] presente nas teorias crítico-reprodutivistas, “[
remetendo-a sempre ] colocando nas mãos dos educado-
a seus condicionantes objetivos” (p 05), quer res uma arma de luta capaz de permitir-lhes o
seja, à estrutura exercício de um poder real, ainda que
sócio-econômica que determina a forma de limitado” (p .25) .
manifestação do fe- nômeno educativo . No capítulo dois “Escola e democracia I: a
Saviani discute em cada uma das teorias Teoria da Cur- vatura da Vara”, Saviani
anteriormente ci- tadas a questão da enfatiza a questão da problemática do ensino
marginalidade Para as teorias não-críticas a desenvolvido no interior da escola de primeiro
marginalidade é considerada um desvio e a grau, pen- sando nas funções políticas desse
educação tem como função corrigi-lo Já ensino Para tal, o autor apresenta três teses
para o grupo das teorias crítico-reproduti- políticas .
vistas a marginalidade é um problema social
e a educação que dispõe de autonomia em
A primeira, por seu caráter geral é
relação à sociedade, estaria capacita- da a
considerada filosófica-
intervir eficazmente na sociedade,
-histórica: “do caráter revolucionário da
transformando-a e pro- movendo assim a
pedagogia da essência e do caráter
equalização social . O autor destaca que
reacionário da pedagogia da existência” . A
“[ ]
segunda é pedagógico-metodológica: “do
enquanto as teorias não críticas pretendem
caráter científico do método tradicional e do
ingenuamente re- solver o problema da
caráter pseudo-científico dos métodos novos” .
Essas duas teses permitem a elaboração da assumir posturas extremistas e radicais Lênin
terceira, que seria, portanto, uma conclusão, destaca que
sendo esta entendida como política- quando a vara está torta ela fica curvada para
-educacional: “quando mais se falou em um lado e caso queira endireita-la é
democracia no interior da escola, menos necessário curvá-la para o lado oposto .
democrática foi a escola; e de como, quando Nesse sentido, Saviani revela que a vara está
menos se falou em democracia, mais a torta para o lado dos Movimentos da Escola
escola esteve articulada com a construção de Nova e dessa forma o raciocínio ha- bitual
uma ordem democrática” . Desta forma, o tende a ser: “[ ] as pedagogias novas são
objetivo deste capítulo é contestar crenças portadoras de
escolanovistas que se tornaram hegemônicas todas as virtudes, enquanto a pedagogia
para muitos educadores . tradicional é portadora de todos os defeitos e
de nenhuma virtude” (p .46) Porém o au-
Saviani discorre acerca destas três teses tor destaca que o que tem evidenciado é
e trabalha as con- sequências destas para a justamente o inverso .
educação brasileira, a partir de dois E finaliza o capítulo reiterando que ao tentar
momentos, um em torno da década de 1930, curvar a vara para o outro lado espera que
por ser nesse pe- ríodo em que o Movimento esta atinja o ponto correto que está na
da Escola Nova tomou força no Bra- sil . valorização dos conteúdos que se direciona a
Outro na década de 1970, mais precisamente uma pedagogia revolucionária .
referindo-se à reforma do ensino instituída
pela Lei 5692 “[ ] para verificar No capítulo três “Escola e Democracia II:
como ela se enquadra nesse esquema mais para além da Teoria da Curvatura da Vara”
amplo da compreen- são e como ela interferiu Saviani faz uma retomada das três teses
no interior da escola do ponto de vista trabalhadas no capítulo anterior com o objetivo
político, determinando que, interiormente, as de superá-las O
escolas cumpris- sem certas funções autor enfatiza que é necessário curvar a vara
políticas” (p .41) . para o lado opos- to, considerando “[ ] o
embate ideológico não basta enunciar
O autor refere-se à Teoria da Curvatura da a concepção correta para que os desvios
Vara (apêndice deste segundo capítulo), sejam corrigidos, é ne- cessário abalar as
enunciada por Lênin quando criticado por certezas, desautorizar o senso comum” (p .48)
.
Posteriormente, Saviani apresenta as
características básicas e o encaminhamento
Saviani propõe nesse capítulo ultrapassar
metodológico da proposta por ele preco-
o momento da antítese em direção à síntese
nizada que mantém uma contínua vinculação
Saviani destaca que tanto a Peda-
entre educação e sociedade . O autor
gogia Tradicional quanto a Pedagogia Nova
discorre sobre os cinco passos do processo
são ingênuas e idea- listas, por acreditarem
educativo, fazendo um paralelo aos cinco
que seria possível a modificação da socie-
passos de Herbart e Dewey, porém Saviani
dade por meio da educação O autor discorre
prefere utilizar “[ ] momentos articula-
também acerca do
dos num mesmo movimento, único e orgânico”
que denominou de Educação Nova Popular e
(p .60) .
cita como exem- plos desta a Pedagogia
O ponto de partida do método proposto
Freinet e o Movimento Paulo Freire de
por Saviani seria a prática social, comum a
Educação .
professor e alunos que “[ ] podem se
posicionar diferentemente enquanto agentes
sociais diferencia- dos” (p .56) O segundo
passo seria a problematização, ou seja,
o momento de “[ ] detectar as questões que
precisam ser re-
solvidas no âmbito da prática social e, em
consequência, que conhecimento é
necessário dominar” (p .57) Como terceiro
pas-
so tem-se a instrumentalização que consiste
na apropriação de instrumentos teóricos e
práticos necessários ao equacionamen- to
dos problemas detectados na prática social
O quarto passo
é a catarse, momento da “[ ] efetiva
incorporação dos instru-
mentos culturais, transformados agora em
elementos ativos da transformação social” (p
.57) Por fim, tem-se como quinto passo socialização do conhecimento O autor ordena
a própria prática social “Neste ponto, ao e sintetiza as reflexões tratadas nesse
mesmo tempo que os capítulo em onze teses e destaca que “[ ]
alunos ascendem ao nível sintético em que, as relações entre educação e política pode
por suposto, já se encontrava o professor no tanto auxiliar análises de situações concretas
ponto de partida, reduz-se a precarie- dade como pode ser aplicado a outros domínios,
da síntese do professor, cuja compreensão como as relações entre educação e religião,
se torna mais e mais orgânica” (p .58) . educação e arte, educação e ciência” (p .73) .
No capítulo quatro “Onze teses sobre No Apêndice intitulado “Setenta anos do
educação e política” Saviani busca delimitar ‘Manifesto’ e vinte anos de escola e
com mais precisão as relações entre po- democracia: balanço de uma polêmica”
lítica e educação, ressaltando que a “[ ] Saviani busca abordar a diferença entre
importância política da abordagem polêmica e aborda- gem
educação está condicionada à garantia de historiográfica, pois como já foi dito
que a especificidade da prática educativa anteriormente as teses anunciadas nesse
seja dissolvida” (p .65) . livro foram lidas por uma corrente da historio-
Saviani faz uma diferenciação entre grafia brasileira na década de 1990 como
política e educação . compondo um “Mani- festo contra a escola
Com relação aos objetivos tem-se que em Nova” Para tal, o autor trabalha cinco tó-
política é vencer e não convencer e em picos No primeiro tópico “A temática central do
educação é o inverso, convencer e não ven- ‘Manifesto dos
cer “Trata-se, pois, de práticas diferentes, Pioneiros da Educação Nova’” é discorrido
cada uma com suas acerca da temática central deste manifesto No
características próprias Cumpre, portanto, segundo “O contexto em que surgiu
não confundi-las, o Escola e Democracia” Saviani indica que
que redundaria em dissolver uma na outra” esse livro surgiu num contexto marcado pela
(p .67) . mesma motivação “[....................] que
Após fazer essa distinção Saviani aborda conduziu ao
as relações entre educação e política, lançamento do ‘Manifesto de 1932’: a defesa
ressaltando a relação interna e externa . da escola pública” (p .77) No terceiro “A
Ademais, destaca que a importância política ‘Manipulação de conceitos e do processo
da educação está na sua função de
histórico’ no livro Escola e Democracia, segundo Clarice Nunes” o autor aborda as críticas
apresentadas por Clarice Nunes . No quarto tópico “Paschoal Lemme no ‘Manifesto’: um
Estranho no Ninho dos Pioneiros?” Saviani discute a leitura feita do livro Escola e Demo- cracia
por Zaia Brandão . No último tópico “A Escola Nova exercitando a ‘teoria da curvatura da vara’”
o autor procura “[ ] esclarecer
a diferença entre a abordagem polêmica e a abordagem historiográfica, eixo articulador de todo
o texto” (p .77) .
Finalizando a obra, tem-se como anexo a carta de Zaia Brandão, que foi enviada a Saviani
após este mandar a primeira versão do livro Escola e Democracia para os principais
interlocutores citados no texto para que estes pudessem fazer sua apreciação da obra .
A leitura da obra de Saviani torna-se imprescindível para aqueles que buscam compreender
as teorias pedagógicas e suas conse- quências no processo educativo, além de ser referência
na área educacional Ademais, este livro traz uma nova teoria pedagógica (Pe-
dagogia Histórico-Crítica) que busca explicar o mecanismo contraditório a partir do qual
funciona a educação e a escola na sociedade capitalista, possibilitando, assim, enxergar que a
partir dessas contradições é possível articular a escola com os movimentos concretos que
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tendem a transformar a sociedade

O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO DIRETOR DEVE EXPRESSAR-SE POR MEIO DE PRÁTICAS QUE CONSIDEREM AS RELA- ÇÕES ENTRE
A ESCOLA E A SOCIEDADE EM GERAL, A COMUNIDADE LOCAL, A SUA FUNÇÃO SOCIAL E OS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO, VISANDO À
ELABORAÇÃO COLETIVA E À IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA DA ESCOLA, CONSI- DERANDO AS DIFERENÇAS
INDIVIDUAIS, SOCIAIS E CULTURAIS E PROMOVENDO A PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES, EDUCADORES, COLEGIADOS E
COMUNIDADE NA VIDA ESCOLAR. CAPACIDADE DE: * PROMOVER A PARTICIPAÇÃO DE TODA A COMUNIDADE ESCOLAR NA
DISCUSSÃO, SOCIALIZAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO, ACOMPANHAMENTO, MONITO-

RAMENTO E AVALIAÇÃO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA. * LIDERAR A CRIAÇÃO DE REDE DE COMUNICAÇÃO INTERNA E EXTERNA
DE INTERAÇÃO E COLABORAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DO CLIMA ESCOLAR E DAS AÇÕES EDUCACIO- NAIS. *
COMPREENDER REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE DIVERSIDADE, GÊNERO E ETNIA NA COMUNIDADE ESCO- LAR E CONSIDERÁ-
LAS NAS AÇÕES DA ESCOLA. * ORGANIZAR, ARTICULAR E CONSOLIDAR O FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS E DAS
INSTITUIÇÕES AUXILIARES. * MOBILIZAR, ORGANIZAR E GERENCIAR NA ESCOLA A REDE PROTETIVA E DE JUSTIÇA
RESTAURATIVA PARA A GARANTIA DE DIREITOS E DEVERES DE TODOS. * COMPREENDER AS POSSIBILIDADES E ESTIMULAR O
USO PEDAGÓGICO DE ESPAÇOS DA COMUNIDADE E DO ENTORNO. * ESTABELECER PARCERIAS DENTRO E FORA DA
COMUNIDADE ESCOLAR, COM BASE EM VALORES E RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS, PARA APOIAR AS AÇÕES DA
ESCOLA. CONHECIMENTO DE: * GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA.

* PRINCÍPIOS LEGAIS DE DIREITOS HUMANOS. * COMPOSIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DE INSTITUIÇÕES COLEGIADAS E AUXILIARES


DA ESCOLA. * ESTRATÉGIAS PARA CARACTERIZAR O PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DE COMUNI- DADES. * IDENTIDADE,
CULTURA E CLIMA ESCOLAR E PRÁTICAS COTIDIANAS DA ESCOLA. * REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE DIVERSIDADE, GÊNERO E
ETNIA. * ESTRATÉGIAS DE MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO. * REDE PROTETIVA E JUS- TIÇA RESTAURATIVA. * PARCERIA ESCOLA-
COMUNIDADE. * ESTRATÉGIAS DE MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE PARA A

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NAS AÇÕES DA ESCOLA


Como vimos acima, a gestão democrática e participativa é um dos princípios que
orientam a ação do diretor na SEE. Democracia se constrói mediante
articulação entre direitos e deveres

A democracia constitui-se em característica fundamental de sociedades e grupos centrados


na prática dos direitos humanos, por reconhecerem não apenas o direito de as pessoas
usufruírem dos bens e dos serviços produzidos em seu contexto, mas também, e sobretudo,
seu direito e seu dever de assumiremresponsabilidade pela produção e melhoria desses bens e
serviços . Com essa pers- pectiva, direitos e deveres são dois conceitos indissociáveis, de
modo que, falando-se de um, remete-se ao outro necessariamente . E é nessa junção que se
estabelece a verdadeira democracia, construída mediante participação qualificada pela
cidadania e construção do bem comum .
No contexto das sociedades e organizações democráticas, dado o seu caráter dinâmico e
participativo, direito e dever são con- ceitos que se desdobram e se transformam de forma
contínua e recíproca pela própria prática democrática, que é participativa, aberta, flexível e
criativa . Portanto, não são conceitos que representam condições isoladas e dissociadas . Não
se trata, portanto de um sentido normativo e imperativo de direitos e deveres e sim de um
sentido interativo pelo qual se transformam continuamente e são superados por estágios
sucessivos de complexidade que vão tornando mais amplas, complexas e significativas as
funções sociais do grupo, ao mesmo tempo em que seus membros vão desenvolvendo a
consciência do processo como um todo e de seus múltiplos desdobramentos .
Conforme indicado por Carvalho (1979: 22), “ à medida que a consciência social se
desenvolve, o dever vai sendo transformado
em vontade coletiva”, isto é, vai-se criando no interior da escola uma cultura própria orientada
pela realização dos ideais da educação, que passam a fazer parte natural do modo de ser e de
fazer da escola e, por isso mesmo, não precisa ser imposta de fora para dentro .
A construção da consciência e responsabilidade social sobre o papel de todos na promoção da
aprendizagem e formação dos alunos

4 Fonte: www.histedbr.fe.unicamp.br

(inclusive deles próprios com esse fim), realização de gestão democrática . Essa
constitui-se, pois em condição imprescindível condição se constrói mediante uma
para a construção de escola democráti- ca e perspectiva proativa, empreendedora, compe-
tente e orientadapor elevado espírito para a realização de objetivos educacionais .
educacional, critérios que qualificam a Essa responsabilidade social, é importante
participação no contexto da escola . que sempre se tenha claro, se revela na
Com essa perspectiva, a participação se medida em que seja orientada em fa- vor do
constitui em uma expressão de aluno, para o seu desenvolvimento, para a sua
responsabilidade social inerente à expressão formação, para a cidadania e aprendizagem
da democracia . Pode-se definir, portanto, a significativa promotora das competências e
gestão democrática, como sendo o processo consciência que lhe permitam atuar de forma
em que se criam condições e se esta- positiva na sociedade e usufruir de seus bens
belecem as orientações necessárias para que e serviços . Isto é, que se torne capaz
os membros de uma coletividade, não deassumir, de forma estreitamente asso-
apenas tomem parte, de forma regular e ciada, direitos e deveres . Nesse sentido, a
contínua, de suas decisões mais importantes, gestão democrática escolar é exercida tanto
mas assumam os compromissos necessários como condição criadora das qualifica- ções
para a sua efetivação . Isso porque necessárias para o desenvolvimento de
democracia pressupõe muito mais que tomar competências e ha- bilidades específicas do
decisões (Lück, Si- queira, Girling e Keith, aluno, como também para a criação de um
2008), ela envolve a consciência de cons- ambiente participativo de vivência
trução do conjunto da unidade social e de seu democrática, pela qual os alunos desenvolvem
processo como um todo, pela ação coletiva . o espírito e experiência de cidadania, carac-
A participação constitui uma forma terizada pela consciência de direitos em
significativa de, ao pro- mover maior associação a deveres .
aproximação entre os membros da escola, Destaca-se, pois, que a formação do aluno
reduzir desigualdades entre eles . Portanto, a e a sua aprendi-
participação está centrada na busca de zagem constituem-se no objetivo central da
formas mais democráticas de promover a gestão democrática . Vale dizer que todos os
gestão de uma unidade social . As processos e ações participativos promo- vidos
oportunidades de participação se justifi- cam pela escola somente se justificam na medida
e se explicam, em decorrência, como uma em que se- jam orientados para melhorar os
íntima interação entre direitos e deveres, resultados dos alunos .
marcados pela responsabilidade social e
valores compartilhados e o esforço conjunto A participação demanda orientação e
competência
Em vista disso, cabe, pois, ao diretor,
Quem participa se prepara e se organiza .
promover na escola o ambiente propício para
A participação inerente à gestão democrática
a orientação dessa participação . Para tanto,
pressupõe que haja a necessária preparação
dentre outros cuidados, compete-lhe:
e organização que deem efetividade às suas
• Criar na escola uma visão de conjunto,
ações . De nada adiantam as participações que estabelece o sentido de unidade e
orientadas por objetivos pessoais, e de pouco orienta o sentido de cooperação e ação
adiantam as participações desorganizadas e articulada .
mal informadas .
• Promover clima de confiança e
A participação, portanto, demanda
reciprocidade na constru- ção de um
preparação, que envol- ve a capacidade de
ambiente colaborativo .
tomar decisões de forma compartilhada e
•Promover a integração de esforços, a
comprometimento com a implementação das
articulação de áreas de atuação, a quebra de
decisões tomadas (Lück, 2007a) .
aresta e o enfraquecimento de atritos,
dissensos e diferenças .
•Criar cultura de valorização das
capacidades, realizações e competências das
pessoas pela celebração dos seus
resultados, como um valor coletivo da escola
e da educação .
•Desenvolver a prática das decisões
colegiadas e comparti- lhamento de
responsabilidades .
O diretor consciente dessa necessidade,
continuamente questiona:
• Em que medida essas condições existem
em sua escola? Como elas se expressam?
•Como é possível reforçá-las e aprimorá-
las?
É importante lembrar que, por melhores
que sejam as condições de participação e
sua expressão na escola, nunca ela é ideal
ou dada definitivamente, cabendo o cuidado segmentos da escola a envolverem-se na
e liderança contínuos do diretor para a sua realização dos projetos escolares, melhoria
manutenção e melhoria . da escola e promoção da aprendizagem e
formação dos alunos, como uma causa
Competências de gestão democrática e comum a todos, de modo a integrarem-se no
participativa conjunto do trabalho realizado .
O DIRETOR: 39 . Estimula e orienta a participação dos
34 . Lidera e garante a atuação membros mais apáticos e distantes, levando-
democrática efetiva e parti- cipativa do os a apresentar suas contribuições e
Conselho Escolar ou órgão colegiado interesses para o desenvolvimento conjunto e
semelhante, do Conselho de Classe, do do seu próprio desenvolvimento .
Grêmio Estudantil e de outros colegiados 40 . Mantém-se a par das questões da
escolares . comunidade escolar e interpreta
35 . Equilibra e integra as interfaces e construtivamente seus processos sociais,
diferentes áreas de ação da escola e a orientando o seu melhor encaminhamento .
interação entre as pessoas, em torno de um 41 . Promove práticas de co-liderança,
ideário educacional comum, visão, missão e compartilhando res- ponsabilidades e
valores da escola . espaços de ação entre os participantes da
36 . Lidera a atuação integrada e co- munidade escolar, como condição para a
cooperativa de todos os participantes da promoção da gestão compartilhada e da
escola, na promoção de um ambiente educa- construção da identidade da escola .
tivo e de aprendizagem, orientado por
elevadas expectativas, estabelecidas
coletivamente e amplamente compartilhadas
.
37 . Demonstra interesse genuíno pela
atuação dos profes- sores, dos funcionários
e dos alunos da escola, orientando o seu
trabalho em equipe, incentivando o
compartilhamento de expe- riências e
agregando resultados coletivos .
38 . Estimula participantes de todos os
42 . Promove a articulação e integração entre escola e co- munidade
próxima, com o apoio e participação dos colegiados escolares, mediante a
realização de atividades de caráter peda- gógico, científico, social, cultural e
esportivo .
A realização da gestão democrática é um princípio definido na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Art . 3º . Inciso VIII), e na
Constituição Federal (Art . 206, inciso VI) . O mesmo se assenta no
pressuposto de que a educação é um processo social colaborativo que
demanda a participação de todos da co- munidade interna da escola, assim
dos pais e da sociedade em geral . Dessa participação conjunta e organizada
é que resulta a qualidade do ensino para todos, princípio da democratização
da educação . Portanto, a gestão democrática é proposta como con- dição de:
I)aproximação entre escola, pais e comunidade na promo- ção de
educação de qualidade;
II) de estabelecimento de ambiente escolar aberto e partici- pativo, em que
os alunos possam experimentar os princípios da cidadania, seguindo o
exemplo dos adultos . Sobretudo, a gestão democrática se assenta na
promoção de educação de qualidade para todos os alunos, de modo que
cada um deles tenha a opor- tunidade de acesso, sucesso e progresso
educacional com quali- dade, numa escola dinâmica que oferta ensino
contextualizado em seu tempo e segundo a realidade atual, com perspectiva
de futuro .17

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