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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LICENCIATURA

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE SANEAMENTO BÁSICO E GERENCIAMENTO


DE LIXO EM COMUNIDADE INDÍGENA FRUTO DA IMAGÉTICA CULTURAL
DO QUE ACREDITAMOS SER UMA COMUNIDADE INDÍGENA

MACEIÓ-AL
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LICENCIATURA

OHANA RABELO TOMAZ


DEVID LUCAS TENÓRIO DOS SANTOS

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE SANEAMENTO BÁSICO E GERENCIAMENTO


DE LIXO EM COMUNIDADE INDÍGENA FRUTO DA IMAGÉTICA CULTURAL
DO QUE ACREDITAMOS SER UMA COMUNIDADE INDÍGENA

Projeto realizado pelos estudantes DEVID LUCAS


TENÓRIO DOS SANTOS e OHANA RABELO
TOMAZ, apresentado à disciplina de Saúde na
Escola e Comunidade, ministrada pela Profª Drª.
Ana Cristina Brito dos Santos, como requisito
parcial para obtenção de nota da AB1.

MACEIÓ - AL
2021
1. INTRODUÇÃO
Os meios de produção e consumo que vivemos e construímos vem a muitas décadas
findando os recursos naturais, desde o extrativismo até as diversas formas de poluição, que
comprometem as gerações futuras e a nossa própria nesse modelo insustentável. O “calote
intergeracional” que, segundo Figueiró (2011), se caracteriza por tomar emprestado de
gerações futuras os recursos que não teremos efetiva condição de devolver, é praticado dia
após dia, e nossos hábitos o sustenta. Porém não se trata apenas dos hábitos individuais de
escolhas de consumo consciente, mas da lógica capitalista onde grandes empresas geram
impactos muito mais significativos do que um indivíduo. Empresas essas que não apenas
desenvolvem suas produções para atender às necessidades da população que compra ou
usufrui dos serviços prestados por estas, mas para manter a lógica de lucro de mercado que é
baseada na transformação dos recursos naturais em mercadoria de massa.
Dessa realidade surge o Capitaloceno, termo que considera a ação humana e suas
relações políticas e econômicas de poder e desigualdades no capitalismo global, como papel
central nas alterações de desequilíbrio ambiental. O que confronta a ideia de Antropoceno,
considerando todos os seres humanos responsáveis na transformação do mundo biológico e na
origem dos problemas ambientais globais, ignorando o modelo socioeconômico que vivemos
e seus atores principais. “A mudança climática não decorre da mera existência de bilhões de
seres humanos que habitam o planeta, mas é causada pelos poucos que controlam os meios de
produção e tomam as principais decisões sobre o uso da energia” afirma Malm 2018.
Dessa maneira, por conta da concentração de riquezas causada pelo controle dos meios
de produção e serviços, inclusive de bem comum, gera uma desigualdade socioeconômica
sem medida. Tal desigualdade provoca uma dinâmica de acesso e restrição a diversos bens e
serviços, incluindo a qualidade destes. É possível visualizar tal problemática quando se olha a
própria distribuição geográfica de qualquer cidade, tendo os melhores bens e serviços
localizados nas regiões onde os que detém poder aquisitivo possuem acesso de maneira mais
eficaz e de maior qualidade, enquanto que quanto mais distante desta localidade menor é a
renda, menores são os serviços, menor a qualidade destes, ou até mesmo a existência destes.
Se adentrarmos a periferia das grandes cidades ou para comunidades em regiões rurais
(como o caso da comunidade Quilombola Cajá dos Negros na região rural de Batalha-AL) ou
comunidades indígenas (como a aldeia Wassu Cocal localizada no municípo de Joaquim
Gomes-AL e a aldeia Xucuru-Kariri localizada no município de Palmeira dos Índios-AL),
veremos que tais questões sanitárias e ambientais estão ligados diretamente aos impactos
causados pela deterioração do espaço e tomada de terras desses povos, o que
consequentemente gera uma redução de área e uma grande concetração de indivíduos em uma
pequena localidade, que se agrava ainda mais tendo em vista que tal população vem
aumentando ao longo das últimas décadas, o que restringe ainda mais a quantidade de
indígena por metro quadrado de cada comunidade, ampliando as problemáticas sanitárias e de
recursos ambientais que garantam o suporte e manutenção destas comunidades.
Ao avaliar tais necessidades, causadas em sua grande maioria, por influência externa
dentro de um contexto histórico de desapropriação, contaminação, desassistência por parte
dos serviços públicos e de iniciativa privada, vemos a importância de olharmos com carinho,
respeito e dedicação para com essas localidades e promover uma política de saúde sanitária,
de abastecimento de água e coleta de lixo que esteja de acordo com suas tradições e de suas
cosmovisões de seus corpos e de convívio.
Em termos sócio-cosmológicos pode-se dizer que o mundo capitalista apresenta uma
visão objetivada da natureza, geralmente vista como fonte de lucros e receitas monetárias. Os
efeitos dessa coisificação da natureza é a sua contínua destruição por meio do desmatamento e
da poluição, consequências de uma necessidade de produzir cada vez mais. Assim, se o modo
de vida ocidental capitalista está imbuído por uma sócio-cosmologia que objetifica a natureza,
tratando-a como coisa a ser explorada; já para o pensamento indígena, em toda a sua
diversidade, a terra é pensada como sujeito e, ao mesmo tempo, como povoada de sujeitos
animais, vegetais, espirituais, minerais, todos eles providos de ação própria na construção de
relações sociais e subjetivas (ALBERT, 2002).

2. OBJETIVOS
2.1. Geral:
● Promover a implantação de serviços sanitários; abastecimento e qualidade da
água a ser utilizada; e coleta de lixo associado à coleta seletiva de resíduos em
uma dada comunidade.
2.2. Específicos:
● Conhecer a comunidade que se pretende implementar o projeto e suas
necessidades;
● Desenvolver programas de controle de qualidade dos serviços fornecidos, para
que seja projetável a longo prazo
● Utilizar mão de obra qualificada da própria comunidade para realização do
projeto, gerando renda e emprego local.
● Utilizar os recursos da região de maneira sustentável, sem prejuízos ao meio
ambiente.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Água potável


O histórico da implementação do abastecimento de água da cidade de Maceió foi
longo e enfrentou muitos desafios financeiros e políticos, em 1859 o primeiro plano para
abastecimento de água potável foi apresentado prevendo o aproveitamento das águas do
riacho Luiz Silva em Bebedouro distribuindo-as em chafarizes localizados na praça de
Maceió e Jaraguá. Porém, obras efetivas só iniciaram em dezembro de 1864, e a normatização
dos serviços de fornecimento de água nos chafarizes e a concessão de ramais particulares foi
publicada somente em 1869, porém no início apresentava cor amarelada e mau sabor, sendo
necessário investir em tratamento e melhorias do sistema de captação. Somente em 1950 foi
concluída a primeira Estação de Tratamento de Água, após a criação da autarquia Serviço
água e Esgoto de Maceió (SAEM), segundo Ticianeli 2021. Atualmente, de acordo com os
dados de 2017, do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) 91,6% da
população do município apresenta abastecimento de água potável, segundo Trata Brasil 2019.
Todo esse processo acompanhou a história do desenvolvimento da cidade e várias
melhorias ainda são necessárias no abastecimento de toda a população. Tudo isso serve para
compreendermos o quão extenso e difícil é esse caminho a ser percorrido, porém com as
peculiaridades de cada área e comunidade podemos compreender as formas de agir.
Ao avaliar a qualidade e distribuição de água em terras indígenas os dados são ainda
mais preocupantes. Segundo dados oficiais fornecidos pela FUNASA (2009) diz que até o ano
de 2009, somente 35,48% das aldeias e apenas 63,07% da população indígena no Brasil tinha
acesso à água tratada. A complexidade do cenário das políticas públicas de saneamento para
as populações indígenas no Brasil abrange um quadro epidemiológico com profunda trajetória
histórica, no qual se mantém incidência e prevalência de doenças como diarréia e parasitoses
intestinais em taxas superiores às da população não indígena - que é possível vislumbrar a
partir dos depoimentos colhidos -, evidenciando a correlação deste quadro com o baixo nível
de investimentos em saneamento e implantação de intervenções ineficazes por parte do estado
nacional (COIMBRA et al., 2013). Mesmo em regiões como a Sudeste, na qual cerca de 91%
das moradias são atendidas por redes de abastecimento de água, a situação do abastecimento
de água potável em terras indígenas é precária (PENA; HELLER, 2008). Em janeiro de 2013,
a enfermeira do Posto de Saúde Indígena que atendia à aldeia Wassu Cocal comunicou à
Vigilância Sanitária que um grande número de casos de diarreia entre crianças e adultos
estava sendo registrado (até então, pelo menos 22 casos). Inicialmente, suspeitou-se que o
problema estaria relacionado com a qualidade da água fornecida à aldeia. Não encontramos os
resultados definitivos das investigações. Aos Wassu Cocal foi fornecido soro para que
pudessem combater a desidratação.
Com base em estudos da etnologia indígena, compreende-se que, para as populações
ameríndias, a água é um elemento com significado simbólico fortemente relacionado ao
funcionamento do cosmo e à reprodução biossocial das coletividades (DIAS-SCOPEL, 2015;
SCOPEL; DIAS-SCOPEL; WIIK, 2012). Desse modo, a invasão, poluição, assoreamento e
destruição de rios e lagos impõem tanto danos materiais sobre a saúde das pessoas, quanto
danos de uma ordem moral que, por sua vez, impacta negativamente sobre a saúde coletiva
indígena.

3.2. Esgotamento sanitário


Em 1894, no mês de setembro, o engenheiro inglês Henry Tompson apresentou ao
governador Tibúrcio Valeriano proposta para instalar em Maceió “um sistema de esgoto de
materiais fecais, idêntico ao do Rio de Janeiro”. Mas foi um ano depois (1895) que até então o
intendente Joaquim José de Araújo Lima Rocha, com a autorização do Conselho Municipal,
contratou uma empresa para prestar tal serviço, porém nada foi feito e o contrato se findou.
Em 1900 houve uma nova tentativa por parte de Euclides Malta que também fracassou. A
partir de 1927 foram também instaladas manilhas de esgotamento residencial até à linha dos
meios-fios sob os passeios. Os esgotos dos prédios foram conectados aos tubos centrais,
porém nada além disso foi feito por alguns anos mais. O pleno funcionamento do Serviço de
Águas e Esgotos de Maceió (SAEM) criado em 1949 pelo até então governador, Silvestre
Péricles, com o sistema Catolé/Cardoso, foi inaugurado no dia 2 de dezembro de 1950.
Hoje, apenas 35% da população urbana de Maceió vive em regiões da área urbana não
atendidas por sistema de esgotamento sanitário e onde não há também previsão de serem
atendidas por futuras ampliações dos sistemas existentes. Fazem parte dessas regiões os
bairros: Rio Novo, Santos Dumont, Clima Bom, Tabuleiro Martins, Cidade Universitária, São
Jorge, Garça Torta, Riacho Doce, Pescaria e Ipioca. Além de parcialmente os bairros: Fernão
Velho, Santa Amélia, Antares, Serraria, Barro Duro, Feitosa, Jacintinho, Cruz das Almas,
Jacarecica, Guaxuma e Benedito Bentes. (PLANO DE SANEAMENTO BÁSICO DO
MUNICÍPIO DE MACEIÓ/AL, 2017, pag. 190).
De acordo com o Censo do IBGE de 2010, 36,1% dos domicílios indígenas não
tinham banheiro. Nas áreas urbanas, 91,7% dos domicílios indígenas tinham um ou mais
banheiros e apenas 8,3%, nenhum. Essa situação se inverte nos domicílios rurais: 31,2% com
um ou mais banheiros e 68,8% sem banheiro. Entre as regiões, o Norte se destacou, com
70,9% dos domicílios sem banheiro.
Os domicílios indígenas, principalmente nas áreas rurais, apresentaram os maiores
déficits em esgotamento sanitário, com predominância do uso da fossa rudimentar (65,7%).
Nas áreas urbanas, a rede geral de esgoto ou pluvial associado com fossa séptica lidera os
percentuais, com 67,5%. Nesse quesito, em todas as regiões brasileiras, a situação era
desfavorável em relação aos não indígenas e foi pior no Norte: 29,3% dos domicílios
indígenas e 40,5% dos não indígenas não tinham o serviço. No país, foram 57,8% dos
domicílios com responsáveis indígenas com esgotamento sanitário.
Apenas em 2,2% das terras indígenas todos os domicílios estavam ligados à rede de
esgoto ou fluvial ou tinham fossa séptica; em 52,3%, nenhum domicílio era atendido por esses
sistemas. Em 84,1% das terras, numa faixa de 75% a 99% dos domicílios, o tipo de
esgotamento era “fossa rudimentar, vala, rio, lago ou mar ou outro tipo”. Do conjunto de
domicílios que tinham algum tipo de esgotamento, a fossa rudimentar tinha as maiores
proporções, principalmente no Sul (60,9%), Centro-Oeste (55,5%) e Nordeste (55,0%).

3.3. Coleta de resíduos sólidos


Muito diferente de nós, consumidores vivendo em grandes centros urbanos, uma
comunidade indigena, ou quilombola possui uma relação muito mais consciente
ecologicamente com o lixo que é gerado, como podemos ver nas entrevistas do levantamento
prévio. Caso tivéssemos de gerir mais efetivamente nosso lixo produzido também
passariamos a ter cuidado com o que compramos e como nos livramos desse lixo sem ao
menos uma separação adequada. De acordo com a Viva Ambiental e Limpel, “a coleta de
materiais recicláveis é de responsabilidade de cada cooperativa de catadores, sendo que
estes executam o recolhimento utilizando preferencialmente, os caminhões das empresas
prestadoras do serviço de coleta convencional”, PLANO DE SANEAMENTO BÁSICO DO
MUNICÍPIO DE MACEIÓ/AL, 2017, pag. 197) o que isenta o estado e município do
tratamento e viabilidade desse lixo.
Quando se trata de aldeias indígenas, a problemática do lixo é ainda mais grave e
preocupante, tanto por causa do distanciamento de muitas aldeias dos centros urbanos como
da própria dinâmica de vida destes povos. Desta maneira, a maioria dos resíduos e rejeitos são
depositados diretamente na natureza, implicando em severas consequências na qualidade de
vida destes e de outros povos, assim como da própria natureza (LIMA, 2015); e quando
possuem a sorte de residirem em localidades próximas às BRs, descartam o lixo na encosta
das estradas - como bem relatou um dos entrevistados - ou queimam esse lixo - em sua
maioria plástico - para não terem que descartar na natureza de forma direta.
De acordo com a pesquisa apresentada pela Fundação Nacional de Saúde (2009), de
um total de 5.271 domicílios indígenas do Brasil, 13% apenas tinham resíduos sólidos
coletados por serviços de limpeza; 1,9% eram colocados em caçambas de serviços de
limpeza; 79% eram enterrados, jogados ou queimados nas aldeias; 5% enterrados, jogados ou
queimados fora das aldeias; 0,8% jogavam os resíduos nos rios, lagos ou mares e 0,2% davam
outras destinações (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2009).

4. LEVANTAMENTO PRÉVIO
Anteriormente a se pensar na implantação de um projeto de saneamento básico em
uma comunidade devemos levar em conta a importância de se conhecer as reais necessidades
de seus integrantes, respeitando suas tradições e suas cosmovisões nas relações com o meio.
Para isso realizamos um levantamento simples com questionários abertos realizados com um
integrante da aldeia Wassu Cocal (Joaquim Gomes-AL), um integrante da comunidade
Quilombola Cajá dos Negros (Zona Rural de Batalha-AL) e o Pajé da aldeia Xucuru-Kariri
(Palmeira dos Índios-AL).
As questões levantadas aos entrevistados foram respondidas via Whatsapp:

Questões: Integrante da Integrante da Pajé da aldeia


aldeia Wassu Cocal comunidade Xucuru-Kariri -
- Joaquim Gomes Quilombola Cajá Palmeira dos Índios-
AL
dos Negros - Zona
(Respostas enviadas
Rural de Batalha (Respostas
por escrito)
(Respostas enviadas apresentadas por
ligação, ficando a
por áudios que
transcrição com base
foram transcritos) na interpretação das
falas)

A comunidade em “Cara saneamento “O saneamento não “Não existe um


que vive possui básico o caso é existe no sentido que saneamento dentro da
talvez se conheça na comunidade, ficando os
algum tipo de precário, minha irmã cidade” esgotos a céu aberto sem
saneamento básico? trabalha como agente “A preocupação que se nenhum tipo de
de saúde aqui e tem é sobre como tratamento e
É algum tipo de acumular essa água gerenciamento por parte
preocupação que segundo informações
através da chuva do estado, do município
dela apenas 30% da quando se tem ou estar ou da FUNASA que é
vocês possuem?
aldeia possui comprando(caminhão uma das responsáveis
Caso possuam essa
saneamento básico, a pipa), a maioria das pelas políticas de saúde
preocupação, existe maioria da população pessoas compram água indígena.”
algum indicativo nem utiliza banheiro, no verão” “Por conta da não
por parte da grande parte faz suas “se tivesse água efetivação de tais
prefeitura ou do encanada seria ótimo, políticas, as comunidades
necessidades no mato.”
melhoraria muito a ficam expostas a diversas
estado para (notamos a percepção situação, mas isso ai é doenças sem que haja
gerenciar tal de saneamento básico uma reivindicação que uma modificação do
questão? atrelada somente ao não se tem perspectiva quadro por conta da
esgoto) nenhuma de futuro de demora com o
quando vai chegar, atendimento via SUS.”
pelo menos aqui nessa
comunidade
específica"

Qual a principal “A questão da água “Com relação ao “Com relação à água, até
fonte de água da encanada é acesso a água, não tem pouco tempo (5 anos) a
basicamente 30% água encanada, aí já água que chegava na
comunidade? muda todo o processo comunidade era bruta…
Saberia dizer se ela também na maioria dos
de se imaginar como vinha sem nenhum
casos as pessoas funciona o sistema tratamento por parte da
é de qualidade ou se
utilizam poços básico de CASAL, nos deixando
há indícios de
artesianos mesmo.” abastecimento” altamente expostos e
contaminação? Já “as casas que não "A maioria das casas vulneráveis a doenças.
houve problemas de possuem poço tem a nem tem sistema de Tivemos inúmeros casos
saúde ligados ao água que vem direto encanação, a não ser de barriga-d’água,
consumo desta quando é colocado Schistosoma, diarreia,
do reservatório da
caixa.” verminose. Só após o
água? aldeia, onde a água é “Essa água é ou tratamento da água por
retirada do rio acumulada em intermédio da FUNASA
Camaragibe, é tratada cisternas,e é água da e CASAL que tivemos
e disponibilizada para chuva ou caminhão uma grande diminuição
a população” pipa que a prefeitura dos casos de doença que
“já ocorreu sim uma distribui ou as pessoas era ligado à água. Hoje,
compram, aqui quase todos os meses é
morte recentemente
acontece muito das feita uma coleta dessa
onde a pessoa pegou pessoas comprarem água por parte da
schistosoma e acabou mesmo e essa água vai vigilância sanitária,
falecendo!” servir para o consumo porém nunca tivemos a
da casa” devolutiva dessas
“Gastos (de água) com análises. Sempre levam
animais vai para açude para fazer análises, mas
ou pequenas barragens nunca retornam com os
da região” resultados.”
“parte da comunidade “Sobre o abastecimento,
tem uma cisterna a nossa água é encanada.
pública da prefeitura" Todas as casas possuem
“Com relação a encanação e antes da
qualidade, geralmente água ser tratada, ainda
se coloca aqueles tínhamos que pagar pela
frasquinhos de cloro água, mesmo sendo
ou algo assim, contaminada.”
distribuídos pela “Ainda muitas aldeias
própria prefeitura pra utilizam de poços
colocar dentro da artesianos, caçimbas,
cisterna pelo posto de caminhões pipa, rios
saúde, e é a água mais quando tem e a maioria
confiável pra gente ta não possui qualidade.
consumindo ” Precisam ainda passar
“todas as barragens por tratamento antes de
secaram, as pessoas ser consumida. Às vezes
utilizam de um açude os agentes de saúde de
público maior no final controle da dengue
do assentamento, para aparecem aqui, mas nada
todas necessidades que efetivo de fato. Tentamos
não são de consumo conscientizar o povo da
humano, beber, aldeia para não deixar
cozinhar, tomar banho, caixas d’água
lavar roupa” destampadas que
“Sempre acontece o geralmente ficam ou as
uso de agrotóxicos não caixas que ficam no
em larga escala” chão.”
“no período de grande
chuva pode ter decido
água de áreas de uso
de agrotóxicos"
“existe um poço
artesiano mas a água é
salobra e se utiliza
para consumo de
animais, misturando
com água de consumo
humano”
“Em casos extremos
que a seca é maior
buscam água na
cidade, porém o custo
é maior pela
distância.”
“Existem suspeitas de
contaminação, porém
não há provas já que
nunca foram feitos
testes com as águas
das barragens.”

Com relação ao “Sobre o lixo uma vez “Aqui em uma parte da “Com relação ao lixo,
lixo, como vocês por semana a comunidade passa um tentamos conscientizar a
prefeitura vem buscar, caminhão da prefeitura comunidade para separar
lidam com o lixo recolhendo o lixo que o lixo molhado do lixo
só que mesmo assim
que é produzido? eles só pegam o lixo as pessoas seco, mas nem sempre
Existe algum tipo que se encontra às acumulavam, quando conseguimos. A
margens da BR101, o eu digo lixo é plástico, prefeitura nem sempre
de coleta ou destino que não vai se vem buscar, o que resta é
a esse lixo? Existe resto do lixo que não é
degradar porque lixo levarmos o lixo para a
coletado é queimado orgânico, não tem essa encosta da pista a fim de
algum suporte da
pela própria visão, de que mato, buscarem. Muitas vezes
prefeitura ou do
população!” esse tipo de coisa é queimamos para não ver
estado para lixo” aquele monte de lixo
gerenciar tal “Quando não ocorre amontoado. O pior é
questão ou vocês essa coleta, o lixo é quando chove, pois fica
preferem lidar de acumulado por dois ou tudo melado e espalha
três meses e então é pela aldeia. A SESAI
outra maneira? incinerado, porque se quem realmente deveria
deixar vagando pelos prestar serviços quanto a
cantos, animais podem isso, mas infelizmente
comer e pode dar não cumpre como
problema, é prejuízo deveria.”
financeiro e
econômico pra região”

Podemos verificar a riqueza de informações contidas no simples questionário aberto


realizado com essa pequena amostra de integrantes de comunidades diversas, como as
sugeridas pela orientação do trabalho. Acreditamos que esse levantamento prévio de
informações é absolutamente importante para se inferir ideias de saneamento em uma
comunidade que desconhecemos. Mesmo se tratando de uma aplicação fictícia em uma
comunidade imaginária, a ideia identitária da comunidade é trazida desde o início do trabalho,
logo ela carrega um peso de estereotipação que não gostaríamos de reproduzir. Sendo assim
buscamos conhecer minimamente e superficialmente comunidades reais, com estilos de vida e
problemas reais, para então sugerirmos algo.
Temos realidades distintas dentro da amostra apresentada e iremos discutir em tópicos
conforme a construção do trabalho, primeiramente quanto ao fornecimento de água potável
notamos que a aldeia Xucuru-Kariri possui uma infraestrutura melhorada recentemente (a
cerca de 5 anos) e um pequeno problema de comunicação a respeito dos testes de qualidade
da água realizados sem devolutiva a comunidade. Assim como no caso da aldeia Wassu Cocal
(citada anteriormente), onde a vigilância também não apresentou os resultados e somente uma
medida paliativa do problema. Essa situação dificulta a prevenção de doenças e a formação de
um plano de ação dentro da comunidade.
Da mesma forma a aldeia Wassu Cocal possui um índice menor de água encanada e
maior de poços artesianos, porém não cita a realização de testes de qualidade destas.
Enquanto isso a comunidade Quilombola Cajá dos Negros não tem sequer os testes realizados
a respeito da qualidade da água consumida, e enfrenta outro problema muito maior: a
escassez. A necessidade da compra constante de caminhões pipa, mesmo que em determinada
época do ano, despende da própria população, um valor que poderia ser destinado à
alimentação, educação, lazer e afins. E conforme Castro (2013) a á foi definida na ECO-92 -
no capítulo 18 da agenda 21- como necessária em todos os aspectos da vida onde “O objetivo
geral é assegurar que se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a
população do planeta, ao mesmo tempo em que se preserve as funções hidrológicas,
biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da
capacidade da natureza e combatendo vetores de moléstias relacionadas com a água.”
Entretanto, a própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 aborda o tema
da água fora dos artigos destinados aos direitos humanos, sendo deslocada para outro título
que a considera como bem da União.
Art. 20. São bens da União: III – os lagos, rios e quaisquer correntes
de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado,
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a territórios estrangeiros
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.
(Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Título III, da
organização do Estado, Capítulo II da União).

Com isso podemos observar a maneira que a água é tratada como bem de consumo, e
sendo assim, o poder aquisitivo vai definir seu acesso.
Quanto ao esgotamento sanitário o problema é generalizado em todas as realidades
apresentadas, desde realizar as necessidades fisiológicas “no mato”, a esgoto a céu aberto. E
como é de conhecimento da própria comunidade essas realidades trazem problemas de saúde
graves pela ampla exposição a vetores, e conforme o relato da aldeia Xucuru-Kariri as
demoras de atendimento do SUS nos processos de identificação da doença também dificultam
as ações da comunidade. E os órgãos competentes como a SESAI (Secretaria Especial de
Saúde Indígena) não foram citados com ações para modificação dessa realidade. Acreditamos
que a proposta deste trabalho quanto ao esgotamento sanitário, possa auxiliar muito na
modificação dessa realidade, por se tratar de uma aplicação viável com as parcerias certas.
Por fim, a respeito da coleta de lixo, as comunidades apresentam também problemas
similares. As prefeituras não realizam a coleta regular e o lixo se acumula na comunidade
sendo necessário levá-lo até uma via rodoviária para coleta, que também não é garantida.
Dessa forma contamos com a educação ambiental da comunidade para gerenciamento dos
seus resíduos, e conforme dito quando necessário o lixo é incinerado para evitar a dispersão,
ingestão animal e outras contaminações. Conforme Boletim Povos Indígenas e Meio
Ambiente Amapá e Norte do Pará (2019) a aldeia Tukay, na Terra Indígena Uaçá,
transformou um velho forno de farinha em local onde o lixo é armazenado e queimado,
ficando ao abrigo da chuva e da curiosidade das crianças e animais, o que nos mostra ser uma
atividade recorrente para solucionar o problema momentaneamente.
Entretanto essa prática, segundo matéria da ONU News (2019) a queima do plástico
libera gases tóxicos e o estudo Poluentes Tóxicos do Lixo Plástico - Uma revisão indica que a
incineração de plástico a céu aberto é uma das principais fontes de poluição do ar onde 40%
de todo o lixo do mundo é queimado. Dentre os gases liberados estão dioxinas, furanos,
mercúrio e bifenilos policlorados. As dioxinas são poluentes orgânicos persistentes e
potencialmente letais, que podem causar câncer e prejudicar a tiróide e o sistema respiratório,
elas se depositam em plantações e nos cursos de água, onde acabam entrando nos alimentos.
Já os ftalatos, são disruptores endócrinos e estão associados a diversas complicações de saúde,
desde problemas de fertilidade e problemas neonatais entre bebês até alergias e tipos de asma.

5. METODOLOGIA
Previamente a implantação do projeto devemos realizar um estudo de caso, para a
comunidade existente e compreender suas necessidades, e assim analisar a melhor forma de
agir. Como se trata de um projeto hipotético, realizamos então diferentes entrevistas com
integrantes de diferentes comunidades e assim pudemos conhecer um pouco de suas vivências
que divergem das nossas, não somente como indivíduos, mas também enquanto histórico
social. Dessa forma podemos, antes de tudo, conhecer os ambientes que estão próximos do
nosso convívio, porém distante da nossa realidade e mais ainda do conhecimento da
sociedade. Para que mesmo em uma situação de implantação hipotéticas, não sejamos
incoerentes com suas necessidades por levarmos em consideração apenas nosso olhar exterior.
As perguntas acerca de saneamento básico foram enviadas pelo whatsapp dando a
oportunidade de os entrevistados responderem por mensagens escritas ou de áudios. E
serviram de base, assim como a revisão bibliográfica, com base para a proposta a ser
desenvolvida.
5.1. Água potável:
Inicialmente será realizado um levantamento das fontes de água da comunidade, quais
os recursos utilizados, seus custos para a população que ali reside e onde são armazenadas.
Em seguida, um estudo da qualidade da água dessas fontes, com testes químicos e físicos da
qualidade da água e sua viabilidade para consumo humano.
Posteriormente será instalado um sistema de cisternas oriundos do O Programa
Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa
Cisternas), que se baseia em um sistema onde as águas pluviais são coletadas do telhadão por
meio de calhas e armazenadas em cisternas de placas pré-moldadas de concreto, com
capacidade de 25 mil litros, que constitui um reservatório cilíndrico e coberto. O reservatório,
fechado, é protegido da evaporação, das contaminações causadas por animais e dejetos
trazidos pelas enxurradas.
No eixo que diz respeito ao tratamento desta água - que também pode ser oriundo de
carros pipa disponibilizados pela prefeitura ou SESAI. O processo de filtração pode ser
realizado no ponto de entrada da água na cisterna e/ou no ponto de saída ou uso da cisterna.
No primeiro caso, podem ser utilizados filtros simples de areia e cascalho; já no ponto de
saída, RUSKI (2002) recomenda filtros como o de sedimentos e os de carvão, que utilizam
camadas de cascalho, carvão pisado em pó, areia fina e areia grossa, adequadamente dispostos
em camadas.
A desinfecção é um processo físico de destruição de microrganismos presentes na
água, que, mesmo filtrada, ainda pode contê-los. O processo mais comumente utilizado é a
Cloração que usa o cloro como agente desinfetante, por ser um método simples, mais
econômico, de fácil disponibilidade, pela solubilidade do cloro na água, por períodos mais
prolongados de atuação e pela excelente eficiência no controle de doenças transmissíveis pela
água. A cloração da água da cisterna pode ser realizada com o uso de cloro líquido, como o
hipoclorito de sódio encontrado na água sanitária ou produtos de cloro sólido como o
hipoclorito de cálcio, em grânulos e em pastilhas ou tabletes. A eficácia da cloração depende
de fatores como: o tempo de contato do cloro com a água, que deve ser de, no mínimo, 30
minutos; o cloro residual livre, que em soluções alternativas de abastecimento é de 0,5 mg de
cloro por litro de água, após ter recebido uma dosagem de 2,0 mg/L durante a cloração; e a
turbidez da água, a qual deve ser de no máximo 1 UNT (unidades de turbidez).
É importante salientar que a utilização da cloração, embora seja de fácil aplicação e
eficácia na prevenção de doenças de transmissão hídrica, pode originar a contaminação da
água por trihalometanos (THMs), que são subprodutos cancerígenos, resultantes da reação
química do cloro com substâncias orgânicas em decomposição, como restos de folhas, restos
de animais mortos e matéria fecal. Assim, considerando também a eficiência do cloro em
função da turbidez, torna-se ainda mais importante a utilização de barreiras físicas na cisterna,
bem como a realização do tratamento por filtração, antes do tratamento da cloração, a fim de
evitar a presença de matéria orgânica na água e, consequentemente, os trihalometanos, após a
desinfeção.
No eixo produtivo, as famílias podem investir no cultivo de hortaliças e na criação de
suínos e aves. Esse eixo proporciona autonomia no consumo e geração de renda com a
comercialização do excedente em feiras locais ou nos programas de compras institucionais,
como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE).

Figura 01 - Vinte e três


famílias indígenas da
comunidade Cajueiro Real e
Cana Brava II, do município
Jenipapo dos Vieiras, foram
beneficiadas pelo Programa
Segunda Água que implementa
o Projeto Cisterna. Fonte:
Indígenas de Jenipapo dos
Vieiras são beneficiados com
cisterna do Programa 2ª Água –
Maranhão de Todos Nós
(www.ma.gov.br)
5.2. Cobertura de rede de esgoto
Inicialmente seria feito uma análise do total de residências e a distribuição do terreno
para a implantação do Tanque de Evapotranspiração-TEVAP ou fossa das bananeiras (termo
popular), que é um sistema de tratamento do efluente proveniente do vaso sanitário (água
negra). Consiste em um tanque impermeabilizado onde ocorre a decomposição da matéria
orgânica e a absorção da água e nutrientes pelas raízes das plantas. Sendo assim, a água é
devolvida para o meio ambiente por meio da evapotranspiração. É um sistema adequado para
destinação e tratamento das águas cinza. O efluente é encaminhado para uma vala circular
com aproximadamente 1,50 metros de diâmetro e 0,60 a 1 metro de profundidade, na qual se
coloca troncos de madeiras pequenos e galhos no fundo, sendo esta recoberta por gravetos e
restos vegetais (folhas e capins). Ao redor são plantadas bananeiras espaçadas de 60 cm. Entre
as bananeiras poderão ser plantados mamoeiros, lírios e outras vegetações menores. Como
manutenção, esta unidade de tratamento necessita apenas ser podada e roçada, para evitar o
seu crescimento excessivo.

Figura 02 - Tanque/Bacia de
Evapotranspiração como sistema
fechado e eficiente. Fonte: Bacia
de Evapotranspiração – Sítio Alto
Paraíso (ampproject.org)

Fonte: BET – Bacia de


Evapotranspiração – Itamar Vieira

FUNCIONAMENTO E
PRINCÍPIOS
Um pré-requisito para o uso da
BET é a separação da água servida
na casa, em cinza e negra. Apenas
a água negra, a que sai dos
sanitários, deve ir para a BET. A água cinza, aquela que sai da máquina de lavar, pias e
chuveiros, deve ir para outro sistema de tratamento como um círculo de bananeiras que
também está no projeto que disponibilizo no final deste artigo.

Fermentação
A água negra é decomposta pelo processo de fermentação (digestão anaeróbia) realizado pelas
bactérias na câmara bio-séptica de pneus e nos espaços criados entre as pedras e tijolos
colocados ao lado da câmara.

Segurança
Os patógenos são enclausurados no sistema, porque não há como garantir sua eliminação
completa. Isto é realizado graças ao fato da bacia ser fechada, sem saídas. A bacia necessita
ter espaços livres para o volume total de água e resíduos humanos recebidos durante um dia.
A bacia deve ser construída com uma técnica que evite infiltrações e vazamentos.

Percolação
Como a água está presa na bacia ela percorre de baixo para cima e com isso, depois de
separada dos resíduos humanos, vai passando pelas camadas de brita, areia e solo, chegando
até as raízes das plantas, 99% limpas.

Evapotranspiração
Na minha maneira de ver, este é o principal princípio da BET, pois graças a ele é possível o
tratamento final da água, que só sai do sistema em forma de vapor, sem nenhum
contaminante. A evapotranspiração é realizada pelas plantas, principalmente as de folhas
largas como as bananeiras, mamoeiros, caetés, taioba, etc. que, além disso, consomem os
nutrientes em seu processo de crescimento, permitindo que a bacia nunca encha.

Manejo
Primeiro (obrigatório), a cobertura vegetal morta deve ser sempre completada com as próprias
folhas que caem das plantas e os caules das bananeiras depois de colhidos os frutos. E se
necessário, deve ser complementada com as aparas de podas de gramas e outras plantas do
jardim, para que a chuva não entre na bacia.
Segundo (opcional), de tempos em tempos deve-se observar os dutos de inspeção e coletar
amostras de água para exames. E observar a caixa de extravase, para ver se o
dimensionamento foi correto. Essa caixa só deve existir se for exigido em áreas urbanas pela
prefeitura para a ligação do sistema com o canal pluvial ou de esgoto.
Fonte:
FOLDER_Fossa_evapotranspiracao__3_.pdf
(emater.df.gov.br)

Construção do Tanque de
Evapotranspiração
1. Cavar uma vala de 1,10 metros
(profundidade) x 2,10 metros (largura) x 5,20
metros (comprimento);
2. Chapiscar as paredes internas;
3. Sobre o chapisco, colocar a tela estuque (ou
tela de galinheiro, pinteiro ou viveiro) fixada
com grampo feito com o arame galvanizado
BWG 18;
4. Sobre a tela aplicar uma camada de 5
centímetros de reboco de cimento forte (2
partes de areia lavada média para 1 parte de
cimento);
5. Fazer o acabamento das paredes com uma fileira de tijolos em torno das quatro bordas;
6. Fazer o piso de concreto com espessura de 5 cm;
7. No encontro entre o piso/parede, fazer acabamento de forma arredondada, para não ficar
com quina;
8. Fazer a cura do concreto: molhar 2 vezes por dia, durante 3 dias.
9. Depois de rebocado e seco, o tanque estará pronto para receber o material de
preenchimento.

Preenchimento do interior
1. Posicionar os pneus unidos formando um tubo, a saída do cano do esgoto deverá cair dentro
desse tubo (fig. 2);
2. Colocar entulho grosso até a altura do tubo formado pelos pneus, por volta de 60 cm (fig.
3);
3. Colocar uma camada de brita de 10 cm;
4. Colocar uma camada de areia lavada de 10 cm (fig. 4);
5. Por último, colocar uma camada de terra de 60 cm de maneira abaulada para plantar as
espécies recomendadas;
6. Espécies recomendadas: bananeira, taioba, copo de leite, estrelícia, entre outras espécies de
folhas largas e que demandem muita água.

Materiais para construção (dimensionado para 5 pessoas)


● Cimento: 15 sacos;
● Areia lavada média: 2,5 m3;
● Brita número 1: 2,0 m3 ;
● Tela de estuque ou de galinheiro, pinteiro ou viveiro: 14 m;
● Entulho de construção (tijolos, cerâmica, blocos de concreto) ou tapiocanga: 5 m3;
● Pneus usados: 30 unid.; Cano de esgoto 100 mm: 2 m;
● Aditivo plastificante (impermeabilizante): 18 litros;
● Liga para argamassa líquida: 1litro;
● Manta Geotextil 31 KN/m: 20 m²;
● Arame galvanizado BWG 18: 1 kg;
● Tijolo 8 furos 9 x 19 x 19 cm: 70 unid.

5.3. Coleta de resíduos sólidos


Inicialmente deve-se desenvolver um estudo de atividades exercidas na comunidade
para lidar com os resíduos gerados, conhecer a dinâmica local e os recursos materiais e
humanos utilizados, as alterações propostas devem ser viabilizadas com a mão de obra
disponível para realizá-las.
Quanto aos resíduos úmidos deve-se compreender a compostagem realizada pela
comunidade para maximizar ou até mesmo capitalizar essa matéria orgânica, com o bom
tratamento dos resíduos úmidos residenciais. Ao identificarmos as formas que a compostagem
é realizada, saberemos a melhor forma de fortalecer essa rede seja na captação desse resíduo
úmido para processar a compostagem em grande escala, ou a captação deste já compostado
nas residências e distribuído aos agricultores, distribuindo adubos para os produtores locais
podendo também ser comercializado para além da comunidade. Caso seja necessário uma
formação pode ser realizada para fortalecer os cuidados com chorume, proliferação de insetos
indesejados e animais e outros pontos de manutenção.
Concomitantemente, efetuar o levantamento das empresas e cooperativas que realizam
coleta seletiva próximo a região da comunidade, e conforme a maneira de trabalho da empresa
escolhida podemos realizar em parceria, minicursos para auxiliar na separação do lixo,
limpeza e cuidado com materiais diversos, possíveis de serem reciclados, conforme necessário
e indicado pela empresa seja uma separação categórica ou apenas a separação e limpeza dos
resíduos secos. Para o armazenamento podemos construir ou aproveitar um galpão ou outro
tipo de área para esses resíduos permanecerem até serem coletados periodicamente conforme
a volumetria gerada pela comunidade. Sendo necessário um canal de comunicação direto com
a empresa ou cooperativa para casos de necessidades eventuais da comunidade, onde a coleta
possa ser antecipada ou adiada. O importante é que não haja grandes períodos sem coleta para
não gerar problemas ambientais e de saúde. Além da necessidade de se definir e/ou contratar
os integrantes da comunidade que serão responsáveis pela manutenção desse sistema. Quanto
aos resíduos sem possibilidade de compostagem ou reciclagem, eles devem ser separados para
descarte e recolhidos por uma empresa (podendo ser a mesma da coleta seletiva ou não) que
os destine corretamente ao aterro sanitário mais próximo evitando a incineração e emissão de
poluentes.
Como possibilidade de agregação de valor na reciclagem, levantamos a opção do
papel semente, que pode ser trabalhado na comunidade e vendido no mercado, gerando
emprego e renda. Empresas que já o fazem podem ensinar o passo a passo da preparação de
maneira virtual ou presencial aos interessados da comunidade. Além disso, caso haja outros
interesses, podemos buscar maneiras de profissionalização.
O papel semente é um papel reciclado com pequenas sementes incluídas na mistura, e
pode ser utilizado em panfletagem, etiquetagem, convites e outras necessidades. Os exemplos
podem ser observados nas imagens a seguir:

01 02

Imagem 1: Imagem 2:
https://www.conviteriaasascoloridas.c
https://www.ecologicbrindes.com.br/
om/product-page/convite-papel-linha-corporativa-papel-
semente-e-kraft semente/crachas-em-papel-semente--
p
03 06
05
04

Imagem 4:
Imagem 3: https://convitesdecasamentotops.com/como-
https://papelsemente.com.br/blog/papel-que- fazer-papel-semente-para-convite-de-
Imagem 5: https://mac.arq.br/papel-
vira-planta/ casamento/ Imagem 6:
semente-o-papel-ecologico-que-vira-
https://spazioconvites.com.br/papel-
planta/
semente/

6. CRONOGRAMA

AÇÃO \ MÊS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

Realizar um grande X X X
levantamento em todas as
áreas do saneamento básico
compreendendo todas as
potencialidades da
comunidade, seus recursos
materiais e humanos e sua
dinâmica pessoal para
também pontuar os
problemas que enfrentam.

Contato com órgãos X X


competentes e empresas para
identificar parceiros nesse
projeto também em todas as
áreas.

Realização de testes de X X
qualidade da água utilizada
em barragens, cisternas, rios
e poços da região para iniciar
tratamento caso seja
necessário.

Instalação de cisternas X
conforme o estudo realizado
(identificando os melhores
pontos que possa atender um
número maior de pessoas)

Instalação de encanamento X X X
em grandes áreas de
convívio, e se necessário em
residências. (Atendendo as
demandas da população)

Construção das fossas de X X X


bananeira para atender cada
residência.

Construção de banheiros nas X X X


residências, e instalação de
tubulação que levem o
resíduo coletado até as fossas
de bananeira.

Aplicação de minicursos X
sobre separação correta de
resíduos secos e úmidos para
diversos materiais

Aplicação de minicursos X
sobre tratamento da
compostagem de matéria
orgânica (resíduos úmidos)

Definição dos dias para X X X X X X X X X X


coleta seletiva e de resíduos
sólidos destinados ao aterro
sanitário (conforme estudo
prévio realizado) e realização
periódica da coleta

Estabelecimento de sistema X X X
de distribuição e venda de
adubo fruto da compostagem
de cada residência (conforme
necessidade da comunidade).

Profissionalização de X X X X
integrantes da comunidade
com a utilização da matéria
prima da reciclagem, como o
exemplo do papel semente.

Manutenção dos trabalhos X X X X X X X X X


realizado com adaptações
necessárias conforme a
dinâmica da comunidade.

7. ORÇAMENTO
7.1. Cisterna de Placa
● Capacidade: 16-25 mil litros;
● Material: Cimento, areia e cal;
● Valor: R$ 2.500,00 (aquisição + instalação) (Valor estimado com base na
capacidade);
● Quantidade: Quantas forem necessárias;
● Tempo previsto de instalação: cinco dias;
● Produtor: O Governo repassa recursos para as ONGs. O material é comprado
nos municípios beneficiados, assim como a mão de obra para a construção dos
reservatórios.
❖ Detalhamento dos materiais é possível encontrar aqui:
IO_SESAN_n8_15082017_ANEXO.pdf (mds.gov.br)
Fonte: Cisternas da Discórdia (uol.com.br) / Cisternas de cimento ou cisternas de plástico? |
Blog Cidadania & Cultura (wordpress.com)

7.2. Cobertura de rede de esgoto:


● Valor médio: R$ 700,00 (com base no salário mínimo de 2016: R$ 880,00).
Fonte: DIMENSIONAMENTO E CONSTRUÇÃO DE TANQUE DE
EVAPOTRANSPIRAÇÃO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO.pdf
(unirv.edu.br)

7.3. Coleta de resíduos sólidos:


Contratação de empresa para recolhimento dos resíduos sólidos com destino ao aterro
sanitário e à reciclagem: responsabilidade governamental, tanto do município quanto do
estado, assim como do SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Água potável chega a aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas: conheça o Cisterna.
Disponível em: <Água potável chega a aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas: conheça
o Cisterna - Projeto Saúde & Alegria (saudeealegria.org.br)>. Acessado em: 15 de março de
2021.
AL - Moroso processo de demarcação e homologação das terras indígenas Wassu-Cocal, em
Joaquim Gomes, evidencia descaso e violência. Disponível em: <AL – Moroso processo de
demarcação e homologação das terras indígenas Wassu-Cocal, em Joaquim Gomes, evidencia descaso
e violência – Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil (fiocruz.br)>
Acessado em: 15 de março de 2021.

ALBERT, B. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da
natureza (Yanomami). In: RAMOS, A.; ALBERT, B. Pacificando o branco: cosmologias do contato
do norte amazônico. São Paulo: Unesp, 2002.

Boletim Povos Indígenas e Meio Ambiente Amapá e Norte do Pará 2019 O PROBLEMA DO LIXO
NAS TERRAS INDÍGENAS. Disponível em <https://institutoiepe.org.br/wp-
content/uploads/2020/07/Boletim_externo_numero_9-2009.pdf> Acessado em 17/03/2021

Bacia de Evapotranspiração (BET): uma forma segura e ecológica de tratar o esgoto de vaso sanitário.
Disponível em: <artigo_edicao_220_n_1822.pdf (revistadae.com.br)>. Acessado em: 16 de março de
2021.

Castro, L. S. 2013 Direito fundamental de acesso a água potável e a dignidade da pessoa humana
Disponível em <Direito fundamental de acesso a água potável e a dignidade da pessoa humana -
Âmbito Jurídico (ambitojuridico.com.br)/> Acessado em 16/03/2021

COIMBRA, C. E. et al. The First National Survey of Indigenous People’s Health and Nutrition in
Brazil: rationale, methodology, and overview of results. BMC Public Health, v. 13, p. 52, 2013.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Título III, da organização do Estado, Capítulo
II da União Disponivel em
<https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_14.12.2017/art_20_.asp>
Acessado em 17/03/2021
Comunidade indígena recebe pela primeira vez Dia D Mais IDH. Disponível em: <Comunidade
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Acessado em: 15 de março de 2021.

DIAS-SCOPEL, R. P. A cosmopolítica da gestação, parto e pós-parto: práticas de autoatenção e


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DE AMORIM, Miriam Cleide Cavalcante; PORTO, Everaldo Rocha. Considerações sobre


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Semiárido-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA, 4., 2003, Juazeiro. Anais... Juazeiro:
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SCOPEL, D.; DIAS-SCOPEL, R. P.; WIIK, F. B. Cosmologia e Intermedicalidade: o campo religioso
e a autoatenção às enfermidades entre os Índios Munduruku do Amazonas, Brasil. Tempus Actas de
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Tanque de Evapotranspiração (TEVAP) ou Bacia de Evapotranspiração (BET). Disponível em:


<Tanque de Evapotranspiração (TEVAP) ou Bacia de Evapotranspiração (BET) :: Ambiental
DATERRA :: Centro Ambiental>. Acessado em: 16 de março de 2021.

TRATA BRASIL, 2019 Com 180 anos de existência maceió continua sem saneamento básico.
Disponível em <http://www.tratabrasil.org.br/blog/2019/12/05/com-180-anos-de-existencia-maceio-
continua-sem-saneamento-basico/> Acessado em 13 de março de 2021.

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Disponível em <https://www.historiadealagoas.com.br/historia-da-implantacao-do-abastecimento-de-
agua-potavel-em-maceio.html> Acesso 13/03/2021

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