O conto analisado “Flor, flores e ferro retorcido” escrito
pela Natalia Borges Polesso, apresenta a história de uma menina
que deseja descobrir o significado da palavra “machorra” enquanto todos ao seu redor tentam “proteger” sua inocência. Trata sobre o tema de descoberta da sexualidade e preconceito, mostrando uma garota carinhosa sendo influenciada pelo preconceito dos adultos. O narrador protagonista é envolvido na historia, tem uma projeção direta de um “eu”, há pronomes e verbos na primeira pessoa, visão parcial do ponto de vista do protagonista e subjetividade. O núcleo de personagens é pequeno, sendo eles: a protagonista (que gira a história ao seu redor tentando descobrir o significado de “machorra”, que dá a base para a história); Florlinda (cabelos crespos que escorriam como rios rebeldes, chapéu e alpargatas que lembra o músico Renato Borghetti. Ela é a “machorra”, que significa homossexual na Região Sul e dona de uma das oficinas vizinhas da protagonista); mãe (é a mãe da protagonista que sempre dá explicações mais “inocentes” sobre o que significa “machorra”); Celoi (filha do senhor Kuntz e amiga da protagonista, é quem tenta explicar o que significa “machorra”); senhor Kuntz (um senhor sério, pai de Celoi e dono do Mercado a frente da casa da protagonista); Família Klein (mãe, pai e duas filhas loiros e de olhos azuis, dono da outra oficina vizinha da casa da protagonista); pai (pai da protagonista); irmão (irmão da protagonista que brinca junto com ela e as filhas Klein). O espaço em que a história se passa contém palavras marcantes como “tu” e “machorra” que provém da Região Sul. Outro ponto marcante é a oficina que simboliza masculinidade. No conto é possível encontrar a poeticidade da linguagem e do estilo narrativo da autora no título, que, através do recurso de aliterações de “f”, “l” e “r” e de assonâncias de “o” e “e” transformam “Flor, flores, ferro retorcido” em um verso ou um refrão poético. Flor: o nome da vizinha “machorra”, mas também a visão e a imagem marcantes na infância – a flor mais linda que a narradora viu com os seus oito anos; flores: as colhidas pela narradora e entregues para a doente, mas também amplificadas e redimensionadas para a representação do feminino, o plural de flor – as flores: o jardim de flores, como que evidenciando uma comunidade de Flores – lésbicas; ferro retorcido: a feminilidade da flor em contraponto ao ferro retorcido – a profissão da vizinha mecânica, o ferro que causa “tétano” e a doença de “machorra”, o ferro que embrutece a flor, que masculiniza e transforma a flor em doente, o ferro que retorce – o preconceito de uma sociedade inteira. Ao proferir o termo, pejorativo, de linguagem chula, regionalista, “machorra”, amplamente usado no Rio Grande do Sul para designar lésbica, coloca-se em debate o tratamento dado a essa dissidência sexual e de gênero. O termo poderia ser modificado e atualizado para “caminhoneira”, “sapatão” ou mesmo “mulher macho”, mas a reflexão motivada pelo enredo se manteria, tendo em vista o ainda latente preconceito. O tempo se passa nos anos 80 do ponto de vista de uma menina a primeira vista, mas na verdade é a menina que se tornou mais velha e está contanto a história dela de infância. A escritora faz um balanço entre menina e mulher, por isso acaba sendo difícil de perceber quem realmente está contanto a história. Além disso, se torna uma leitura prazerosa por a escritora saber usar o humor com sutileza, com inocência, lembrando a criança dentro de si. O texto trata sobre o tema de descoberta da sexualidade e preconceito, mostrando uma garota carinhosa sendo influenciada pelo preconceito dos adultos.