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Fenomenologia

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1- INTRODUÇÃO À
AGRICULTURA BIOLÓGICO-DINÂMICA

Docente titular: João Carlos Ávila

1.1 - Introdução à Agricultura Biológico-Dinâmica

Autor: João Carlos Ávila

1.1.1 - 1ª Conferência

Observa-se na natureza uma crescente emancipação, à medida que se apresentam os quatro


reinos, na seqüência: mineral, vegetal, animal, homem. O vegetal está totalmente inserido nos ritmos
naturais; o animal e o homem menos inseridos ou mais emancipados. Por exemplo, o ciclo lunar mensal
(28dias) corresponde ao ciclo menstrual feminino, mas não coincide com seu início e fim. Assim, também
o ciclo semanal de sete dias manifesta-se em vários fenômenos naturais. O homem, dotado de um “eu”
individual, revela um maior grau de emancipação.

O vegetal está completamente inserido no contexto da natureza, incluindo aí o espaço sideral. A


vida vegetal sobre a Terra é um reflexo do que se passa no Cosmo.

Em torno da Terra estão os astros Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Os três
primeiros são os mais próximos e os três últimos, os planetas distantes. Entre os dois grupos está o Sol.

Na Terra, a sílica (SiO2, quartzo) compõe quase a metade da crosta terrestre. Bipolares ao silício
(Si) apresentam-se o cálcio (Ca), substâncias calcárias e afins. A vida vegetal resulta do equilíbrio entre
essas duas forças ou duas substâncias, silícicas e calcárias. No silício atuam Saturno, Júpiter e Marte, no
cálcio a Lua, Mercúrio e Vênus. As forças calcárias de Lua, Mercúrio e Vênus manifestam-se em forças
de reprodução. As forças silícicas de Saturno, Júpiter e Marte desenvolvem forças de nutrição. O silício
habilita o vegetal a captar energias mais distantes, repassadas e aperfeiçoadas pelos três últimos planetas.

A água é o veículo das forças lunares na Terra. A ação lunar intensifica-se quando ocorre lua cheia
após dias chuvosos, mais indicados para semeadura.

Assim como a água veicula forças lunares, assim também o calor atmosférico é veículo de forças
de Saturno, bem como de Júpiter e de Marte.

Resumindo, podemos estabelecer as seguintes correlações:

Lua, Mercúrio, Vênus, água, planetas próximos, órbitas curtas, forças de reprodução, elemento
cálcio, plantas anuais.

Saturno, Júpiter, Marte, calor, planetas distantes, órbitas longas, forças de nutrição, elemento
silício, plantas perenes.
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1.1.2 - 2ª Conferência

A fazenda é concebida como uma individualidade agrícola coesa, auto–suficiente e diversificada,


buscando reduzir ao máximo o aporte de insumos externos, funcionando como um organismo autônomo.

O solo constitui um órgão nesse organismo, que contém forças etéricas e astrais. Corresponde ao
diafragma humano, que separa sistemas de órgãos. A individualidade agrícola é como um homem invertido:
o sistema neuro-sensorial é a raiz, subterrânea. Nós vivemos na parte aérea, equivalente ao sistema
metabólico–motor, a barriga.

O sistema radicular recebe forças dos planetas distantes.

As partes aéreas dependem dos planetas próximos.

O silício no solo é o receptor das forças cósmicas mais distantes. A cenoura (raiz), por exemplo,
exige solo silicoso. O silício é o receptor, a argila é o condutor ascendente das forças cósmicas.

O cálcio no solo e as sutis substâncias calcárias homeopaticamente distribuídas no ar, sugam e


conduzem o elemento terrestre de volta ao solo. A planta forma e enriquece o seu solo graças ao efeito
cálcico, que suga, atrai, concentra.

Quanto ao calor, temo-lo de dois tipos: o calor morto, floral e foliar sobre o solo, relacionado aos
planetas próximos, e o calor vivo, radicular, no solo, ligado aos planetas mais distantes, sobretudo Saturno.
O mesmo se dá com o ar, supra e subterrâneo. Com a água e a terra ocorre o contrário. No solo, tornam–
se mais inertes, mais receptivas às forças cósmicas mais distantes, sobretudo no inverno, quando
predominam forças de cristalização, de estruturação, ou seja, de sintonização com as fontes mais distantes.

Forças de inverno são forças do frio, de cristalização, de estruturação.

A argila é o elemento ascensor dessas forças. No verão manifesta-se exuberância, atividade,


desgaste.

No inverno repouso, reestruturação, reorganização, recarga.

Na semente, a organização protéica cresce em complexidade até atingir um clímax. Neste ponto,
ou permanece em dormência ou caotiza-se para receber a atuação cósmica do seu arquétipo; este imprime-
se nela, restabelece a ordem e dá origem a um novo organismo. Cada planta é imagem, é expressão de
uma constelação cósmica, é construída a partir de um arquétipo cósmico. Ao germinar, atua então o
elemento terrestre HÚMUS, desenvolvendo o corpo vegetal. O elemento cósmico atua via solo e raiz e
ascende até a periferia manifestando–se em cores, aromas, sabores, valor nutritivo, propriedades cósmicas,
astrais, sensoriais. O vermelho vincula–se a Marte, o amarelo, a Júpiter, o azul, a Saturno e o verde, ao
Sol. A flor em si é terrestre, sua tonalidade de cor é cósmica. A raiz unitária (cenoura) é cósmica, a
ramificada é terrestre. A cavalinha (90% de SiO2,) concentra o cósmico no caule. O solo arenoso favorece
a concentração de força cósmica na raiz ou no caule da batata (falsa raiz).

Cumpre observar tais aspectos no trabalho de melhoramento, penetrar na estrutura da Natureza. A


rocha cósmica (Si) acolhe a luz no solo. O húmus, terrestre (Ca), é opaco.

O animal traz o componente astral para o organismo agrícola. O correto dimensionamento de cada
criação é fundamental para constituir o organismo integrado e auto-sustentado. Qualquer aporte de
esterco de fora é como um remédio para uma agricultura doente.
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A bipolaridade cósmico - terrestre é também visível no animal.

O dianteiro, cônico – cilíndrico é cósmico e capta atuações de Saturno, Júpiter e Marte; o traseiro,
arredondado, recebe a ação da Lua, Mercúrio e Vênus. O meio, o coração, centro do sistema rítmico-
circulatório, recebe a atuação do Sol. O Sol atua via sistema neuro-sensorial pelo dianteiro até o coração.
A Lua atua via sistema metabólico-motor. O animal, em posição invertida, com a cabeça na terra, é a
imagem da individualidade agrícola. Se a forrageira é rica em atuações cósmicas, o animal que a ingere
fornecerá o esterco adequado para o solo, fechando-se o ciclo, o chamado “ciclo fechado de nutrientes”.

1.1.3 - 3ª Conferência

A Terra e o Cosmo contêm forças e substâncias. As substâncias ou elementos são portadores de


forças. Os cinco elementos básicos são carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N) e
enxofre (S), os componentes da proteína. O enxofre (sulphur) é o portador do “eu” espiritual e aparentado
ao fósforo, que também significa portador de luz (phosphoros), portador de energia (p.ex., ATP, o trifosfato
de adenosina).

O carbono (C) se nos apresenta como carvão, como grafite, como diamante, e, entre os alquimistas,
era tido como a “pedra filosofal”, o carbono em suas diversas ocorrências. Na faina da natureza, o
carbono é o configurador, o plasmador, o estruturador por excelência; ele constrói o corpo físico guiado
pela racionalidade do enxofre (S), constituindo as fibras vegetais, celulose, lignina, carboidratos, usualmente
portadores de energia. Através do enxofre o “eu” universal, a luz espiritual, vive no carbono, estruturando-
o (fotossíntese de carboidratos) e dissolvendo-o (respiração, CO2,, H2,O e energia, esta armazenada pelo
ATP e disponibilizada para os processos vitais). O carbono foi o primeiro elemento segregado para formar
estrutura. Mais tarde, continuando o processo de solidificação, adicionou-se o cálcio (Ca) para formar
esqueletos externos, exoesqueletos de invertebrados (CaCO3, carbonato de cálcio) e esqueletos internos,
estrutura óssea de vertebrados (fosfato de cálcio).

As estruturas de carbono são o suporte físico para a manifestação de processos vivos, de forças
vitais ou forças etéricas. E o portador dessas forças é o oxigênio (O), portador do etérico. O oxigênio, ao
penetrar num ser vivo, humano, animal, vegetal ou no solo, torna-se oxigênio vivo, portador do éter vivo.

Entre o físico e o etérico interpõe-se o componente astral carregado pelo nitrogênio (N), o portador
do astral, o mediador entre o físico carbônico e o etérico oxigênico.

O N tem número atômico 7, exatamente entre o C (nº 6) e O (nº 8). O N é o mediador, o intermediador
, o rebocador, o portador de astralidade, de sensibilidade, que arrasta o oxigênio vital para o carbono
estrutural da célula, liberando aí a energia a ser armazenada pelo ATP, sendo o processo guiado pela luz
espiritual do enxofre (S). Aí torna-se compreensível a composição da hemoglobina, C738 H1166 O208
N203 S2 Fe, que contém dois átomos de S e 203 de N, assentados numa estrutura de 738 carbonos, para
conter em seu núcleo um Fe que transporta o oxigênio (O2,) para todas as células via circulação sanguínea.
O O2, é levado pela oxihemoglobina e trazido de volta como CO2, pela carboxihemoglobina. No ar a
astralidade é quatro vezes maior que a vitalidade, mantendo-se constante a proporção de 78% de N para
21% de O.

O vegetal tem apenas corpo físico e etérico, não interioriza o astral. Este o toca por fora, na
periferia, manifestando-se em qualidades astrais ou sensoriais, tais como cores, aromas, sabores,
característicos das flores e frutas. O nitrogênio é o mediador sensível, o transmissor de sensorialidade, o
portador de informações astrais que fluem dos planetas e das estrelas e que se manifestam no mundo
físico como propriedades organolépticas. O nitrogênio é o transmissor e o silício (Si) é o receptor. O
preparado de sílica, o 501, favorece a ação da luz na síntese de carboidratos (fotossíntese) e,
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conseqüentemente, na síntese de compostos nitrogenados protéicos (proteossíntese).


E resta ainda o quinto elemento protéico, o hidrogênio (H), o grande reciclador e purificador, o
solvente ou catalisador universal, ou também o caotizador, elemento característico da água (H2O), dos
ácidos (H) e das bases (OH), que a tudo solubiliza e que reconduz as formas físicas de volta ao Universo
indistinguível.

Em síntese, temos a molécula protéica composta dos cinco elementos C H O N S, cada um portador
de uma espiritualidade específica.

O nitrogênio, compondo 78% do ar, nos envolve como portador do astral, como transmissor de
revelações cósmicas. Pela meditação, tornamo-nos conscientes do principal componente do ar, crescemos
gradualmente para dentro de uma vivência do nitrogênio que nos envolve, tornamo-nos receptivos às suas
revelações. Aí tudo se torna conhecimento. É bom que o agricultor medite. O lavrador não é um tolo, é um
meditante; também o matuto medita, fica matutando, e assim alcança o conhecimento. Pela observação
e elaboração meditativa dos fenômenos penetramos na sutil trama da vida e da Natureza, muito mais
profundamente do que nos permitem as grossas malhas dos meros conceitos intelectuais.

Assim entenderemos a semente, um minúsculo exemplar de máxima complexidade organizada.


Uma vez lançada à terra, sob o efeito do hidrogênio (do H2O) caotiza-se instantaneamente, ficando apta
a deixar-se imprimir pelo seu arquétipo. No caos seminal a ordem cósmica se restabelece, fazendo surgir
a nova vida, a nova planta, expressão do modelo arquetípico primordial.

A nova planta forma o seu corpo a partir de estruturas fibrosas de carbono, valendo-se aí de dois
outros elementos estruturadores, o cálcio, terrestre, e o silício, estruturador cósmico. Entre o silício (Si, nº
atômico 14, base da rocha), e o cálcio (Ca, nº atômico 20, base do húmus), situa-se o carbono (C, nº
atômico 6), elemento estruturador que transcende a dualidade sílico-cálcica, a bipolaridade cósmico-
terrestre.

Insere-se aí a importância das leguminosas, fixadoras de nitrogênio no solo graças ao poder aspirante
do cálcio. O cálcio puxa para o solo o nitrogênio, arrastando consigo o oxigênio, algo como uma inspiração
nitrogênica. A inspiração carbônica foliar conduz à fotossíntese. A inspiração nitrogênica simbiótica,
radicular, leva à proteossíntese. A fotossíntese, precursora da proteossíntese, é polar à respiração.

A leguminosa é o vegetal providencial que astraliza a terra. As leguminosas papilonáceas tendem


a frutificar e sementear desde os patamares inferiores, próximos ao solo, e não apenas na periferia, como
as arbóreas. Suas vagens são frutos definhados que cedo partem para a sementeação, de curta fertilidade.

A cobiça característica do cálcio atrai tudo para si. Ele é altamente reativo. De cal virgem rapidamente
passa a cal extinta, reagindo com o ar ou com a água, e liberando energia, calor. Atrai também óxidos
metálicos (Al, Fe), complexificando-os.

Polar ao cobiçoso cálcio apresenta-se o nobre silício, totalmente inerte, por isso mesmo receptivo
às forças cósmicas, e presente não só no sólido mineral cristalizado no globo terrestre e no globo ocular
(cristalino), como também sutil e homeopaticamente distribuído por toda parte, como verdadeiros órgãos
sensoriais, abertos às impressões exteriores. E então a argila, assim como o carbono, se apresenta no
meio, transcendendo a bipolaridade.

O carbono sozinho (carbo) poderia estruturar todas as plantas, bastando combinar-se como a água
(hidro), formando carboidratos (CH2O)n, se não fosse a interferência da cal. Para vencer a voracidade
da cal (Ca), o carbono alia-se ao nobre silício, em associação com a mediadora argila (também silicatada).
E, por fim, para organizar todo o processo, insere-se o nitrogênio, o portador do astral, gerando ordem
entre o cálcio, a argila e o silício.
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1.1.4 - 4ª Conferência

A Ciência Natural oficial e a Ciência Espiritual divergem quanto ao modo de abordar os fenômenos.
Esta abrange os amplos contextos da vida, transcendendo o estreito campo das substancialidades materiais.
Esta visão aplica-se também à questão da nutrição e da adubação. Por exemplo, segundo a Ciência
Espiritual, a maior parte do alimento ingerido não se deposita no corpo, e sim libera forças para que o
corpo absorva continuamente pela respiração e pelos órgãos sensoriais (pele, olhos) a substância sutil do
ambiente, adensando-a no organismo e formando massa corporal.

É preciso igualmente entender a verdadeira natureza da adubação. Adubar significa vitalizar o solo;
o solo vivo nutre a planta.

Todo organismo é delimitado por uma “pele” que contém, no seu interior, fluxos de energia e de
odores. Quando sadio ele não deve exalar odores, e sim recebê-los do ambiente. Aromas são também
nutrientes. Portanto, adubar não é só vitalizar, senão também astralizar o solo com estímulos sensoriais
veiculados pelo nitrogênio.

Em suma, adubar significa vitalizar e astralizar o elemento terroso sólido. Adubos minerais
hidrossolúveis ou líquidos orgânicos pré-solubilizados apenas estimulam a aquosidade. Daí a importância
da compostagem, uma forma de reciclar resíduos vegetais e animais, ricos em forças etéricas e astrais,
fermentadas aerobicamente de modo a formar um adubo equilibrado e estabilizado, assentando-se
especialmente o astral. O composto contém astralidade e etericidade menos intensas, porém, mais firmes,
mais assentadas. Por exemplo, esterco fresco excessivamente astralizado faz a planta viçar mais e frutificar
menos. Por isso, recomenda-se, também, adubar os pastos e capineiras com composto estabilizado, maduro,
de modo que o solo, forrageiras e animais desenvolvam a vivacidade interior necessária para que assimilem
as forças e nutrientes sutis presentes no ambiente. Mesmo sendo o nitrogênio portador do astral, altamente
volátil, na compostagem correta ele é contido, fixado, sem se perder na atmosfera. No animal, a pele é um
órgão de contenção, de limitação para fora. E, no bovino, os chifres e os cascos, são pontos de maior
isolamento, como válvulas fechadas para o exterior. Portanto, a formação do chifre se relaciona com toda
a constituição do animal. O chifre distingue-se da galhada, típica dos cervídeos. Esta se abre para o
exterior, permitindo ao cervo uma comunicação com o ambiente, uma exteriorização. O bovino, cornado,
tende mais à interiorização, vive no metabolismo. Os chifres fazem refluir o vital-astral para o interior.

O alimento, ao percorrer o trajeto digestivo, impregna-se dessas forças, formando ao final um


dejeto altamente eterizado e astralizado.

Tal esterco, colocado num chifre de vaca, é enterrado no outono, em local de terra humosa,
concentrando forças vitais e astrais, intensificadas no inverno! Na primavera, retira-se o chifre, seu
conteúdo é diluído em água e agitado em movimentos giratórios durante uma hora. Essa água devidamente
impregnada e dinamizada, é aplicada em gotas grossas na terra arada, preparando-a para a semeadura e
para o desenvolvimento de sua estrutura e do sistema radicular da futura planta.

O segundo preparado consiste de pó de quartzo umedecido, colocado no chifre, enterrado na


primavera e desenterrado no outono. O pó assim obtido é igualmente diluído e dinamizado em água e
nebulizado sobre as plantas, apoiando de cima para baixo os efeitos do preparado de chifre – esterco, de
baixo para cima.

Atuando a partir dos grandes contextos, o agricultor será capaz de produzir alimento saboroso e
saudável, capaz de verdadeiramente nutrir.
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1.1.5 - 5ª Conferência

A Ciência Espiritual não nega, pelo contrário, ela valoriza as conquistas da Ciência Natural e amplia
seus horizontes, preenchendo suas lacunas com o conhecimento superior.

A agricultura continuamente extrai forças e substâncias do ambiente, empobrecendo-o. A adubação


busca recompor e manter a produtividade do solo, vivificando-o. Isso não significa inocular organismos,
por mais eficientes que eles sejam. Os organismos não são causa, e sim conseqüência do manejo correto.
Eles se instalam espontaneamente no monte de composto, quando se criam para isso as condições
necessárias. Não faz sentido tentar enriquecer o adubo com microorganismos eficazes, nem componentes
minerais solúveis. A vivificação ocorre aplicando-se matéria orgânica sobre o elemento terroso sólido. O
solo vivo não só é capaz de disponibilizar os nutrientes próprios do solo, como também absorver os
nutrientes presentes no ambiente.

Alguns desses nutrientes (silício, chumbo, mercúrio, arsênico, etc.) chegam à terra e agem como
elicitores, estimulando processos vivos. Outros, necessários em maiores quantidades (fósforo, potássio,
cálcio, etc), exigem um manejo adequado para serem absorvidos do ambiente. Um manejo errado
empobrece o solo, exigindo uma contínua adubação compensatória. Quando a adubação é insuficiente,
pratica-se agricultura predatória.

O manejo biodinâmico é uma tecnologia de processo que favorece a captação no solo das sutis
substâncias elicitantes, em dosagem infinitesimal, homeopática, irradiada da periferia cósmica para atuarem
como catalisadores de processos de formação de biomassa vegetal. Adubar é catalisar processos, é
conferir ao solo e à planta a capacidade de captar forças e substâncias sutis, presentes no ambiente em
quantidades mínimas. Os preparados biodinâmicos para composto transmitem ao adubo e ao solo a
vitalidade necessária para viabilizar tais processos.

O primeiro, chamado 502, feito de flor de mil folhas, elabora adequadamente o potássio, de modo
que este, interagindo com o enxofre, atue corretamente na constituição do corpo vegetal propriamente
dito, na composição da molécula protéica.

Em linguagem atual, trofobiótica, diríamos: o mil folhas conhece o segredo da proteossíntese. Para
produzir o preparado utiliza-se a flor, o órgão vegetal da periferia, região tocada pela astralidade, inundada
de sons, sabores, aromas, propriedades astrais, sensoriais, organolépticas.

A flor de mil folhas é processada numa bexiga de cervo macho, animal arisco, possuidor de galhada.

A bexiga é órgão excretor muito sensível às reações do animal a estímulos externos. É como que
um reflexo de sua sensorialidade ou de sua astralidade. A flor de mil folhas, tratada numa bexiga de cervo
macho, potencializa suas virtudes e qualifica-se para atuar como um preparado, obtendo-se aí algo
fundamental para a melhoria do adubo, para tornar a terra apta a captar os demais elementos cósmicos
que chegam ao solo em sutil dosagem homeopática, tais como: silício, chumbo, mercúrio, arsênico, etc.

Ao lado do poder sintetizante do mil folhas, graças ao seu teor de potássio e enxofre, lançamos mão
também de um segundo preparado, o 503, igualmente capaz de sintetizar substâncias a partir de seus
efeitos sulfúricos e cálcicos: trata-se da flor de camomila. Ao elaborar adicionalmente o cálcio, ela impede
efeitos frutificantes nocivos decorrentes de uma astralidade descontrolada, tal como ocorre no fenômeno
“vassourinha” ou “vassoura de bruxa”.

A flor de camomila é processada numa tripa de bovino, órgão do sistema metabólico, terrestre,
contendo esterco, precursor do húmus, cálcico. Seu processamento se faz durante o inverno, inserido em
terra humosa. Na primavera retira-se a tripa, e o preparado 503 está pronto para ser adicionado ao
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composto, produzindo nele, no solo e na vegetação, um efeito estimulante extraordinário.

O próximo preparado é o 504, a urtiga dióica. Além de enxofre, potássio e cálcio, contém ferro,
sendo capaz de anular seus efeitos nocivos no solo. Seu poder urticante denota uma forte astralidade,
própria do reino animal.

É só um vegetal, porém dióico, diferenciando-se em macho e fêmea. Por isso mesmo até dispensa
um órgão animal como invólucro em seu processamento. Ela é simplesmente comprimida e enterrada, por
um ano, absorvendo forças do verão e do inverno. Introduzido no centro da pilha de composto, o 504
confere a ele, bem como à terra que o recebe, um grau de “sensatez”, de “racionalidade”, diríamos até de
“inteligência”, habilitando-a a individualizar-se em prol das plantas, a adaptar-se às suas exigências
específicas e individuais.

O quarto preparado, o 505, obtém-se da casca de carvalho, rica em cálcio, este inserido num
contexto vivo. Como tal, ele é capaz de amenizar a atuação excessivamente intensa do corpo etérico,
permitindo que as forças astrais atuem equilibradamente, sem provocar choques no orgânico nem efeitos
fitopatogênicos. Essa é a maneira orgânica de prevenir ou curar doenças vegetais, a partir dos grandes
contextos e não apenas suprimindo sintomas por meios químicos.

Para reforçar os efeitos terapêuticos do cálcio, processa-se a casca de carvalho numa caixa craniana
de animal doméstico, enterrada no inverno em local lamacento.Temos aí, portanto, o cálcio da casca de
carvalho, num invólucro cálcico (crânio), absorvendo forças terrestres do inverno, em ambiente úmido.
Esse preparado reforça o efeito sanativo dos anteriores, atuando igualmente nas causas.

Continuando a busca de uma melhoria do adubo, o CA (Curso Agrícola) propõe um quinto preparado
capaz de atrair para o composto e para a planta o silício presente na circunvizinhança cósmica. É preciso
impulsionar esse processo para que a Terra não continue a se empobrecer desse elemento, caracterizado
como órgão sensorial responsável pela captação de energias. E aí começa a ficar claro o controverso
processo de ”transmutação biológica a baixa energia”. Os preparados catalisam processos de geração
endógena de elementos com a ajuda do reciclador universal, o hidrogênio (H).

No processo vivo, regido por forças etéricas, reside uma alquimia secreta que cria, por exemplo,
um elemento de transição, nitrogenóide, que ao final se fixa como nitrogênio propriamente dito, o nitrogênio
endógeno, de grande importância nos fenômenos vitais. O elemento gerado internamente por transmutação
é o nutriente do futuro numa agricultura que apenas ensaia seus primeiros passos. E justamente o silício,
o sensor universal, já antes elaborado no preparado 501 e aplicado externamente sobre as folhas, deve ser
agora interiorizado na planta via composto e solo, interagindo com potássio. Se, no 502, essa interação se
fazia pelo enxofre portador de luz, no 506, quem o faz é o silício, “receptor de luz”, não oriundo do meio
mineral (cristal de quartzo), mas sim do reino vegetal, da flor de dente-de-leão. Seu teor de silício e sua
identificação com a luz solar a qualificam a atuar como autêntico mensageiro celestial que habilita o solo
a captar o silício atmosférico necessário para tornar as plantas receptivas às irradiações do meio-ambiente,
às influências das imediações, atraindo para si aquilo de que necessitam. Isso representa uma extraordinária
ampliação do raio de ação e de captação do mundo vegetal.

Para potencializar as virtudes da flor de dente-de-leão, recorre-se a um outro órgão animal bovino,
o mesentério, uma membrana sensível e semitranslúcida que envolve os órgãos abdominais, uma pele
interior sensível a estímulos, tal como a pele exterior que envolve o corpo, também um órgão sensorial
táctil, igualmente portador de silício.

Finalmente, para melhorar ainda mais o adubo, adiciona-se a ele o extrato de flor de valeriana,
dinamizado e aspergido sobre o composto para estimulá-lo a comportar-se corretamente ante as atuações
fosfóricas.
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1.1.6 - 6ª Conferência

Esta conferência trata do problema das doenças e pragas, as quais devem ser racionalmente
manejadas, e não simplesmente combatidas ou exterminadas por medidas drásticas.

A chamada “erva daninha”, também entendida como inço ou erva invasora, erva nativa, espontânea,
companheira ou medicinal, é também designada erva indicadora e sanativa. Ela não só indica, como
também corrige carências nutricionais e estruturais. Como tal ela tem o mesmo direito de crescer como
qualquer outra , tanto mais quando surge providencialmente no lugar em que se faz necessária.

Abordando o assunto com profundidade, constata-se o seguinte: as influências cósmicas mais


próximas, de natureza lunar, promovem através do cálcio as forças de reprodução e proliferação. As
forças da Lua via água propiciam exuberância. Por outro lado, as forças planetárias distantes de cunho
saturnino atuam através do silício, promovendo as forças de nutrição. Saturno atua via calor, favorecendo
índices de qualidade, de valor.

A Lua, hoje um astro independente,separado da Terra, recebe a força solar e a repassa modificada,
para fortalecer todo o âmbito terrestre. A Terra sozinha pode promover um crescimento vegetal individual,
a reprodução de células. Para produzir novos indivíduos, para reproduzir e continuar a espécie, socorre-
se de forças da Lua, auxiliada por Mercúrio e Vênus. Assim, todo o cosmo, via planetas próximos, irradia-
se modificado para a Terra, trazendo forças de reprodução.

Contudo, somente na lua cheia e, melhor ainda, após dias chuvosos. Temos aí a conjunção de
fatores proteolíticos: a plena lua cheia via chuva copiosa favorece a intensa propagação vegetativa. O
que fazer, então, para conter a exuberância desmedida?

Incineremos as suas respectivas sementes e espalhemos suas cinzas em nossa lavoura. O efeito
será o oposto: o calor e a cinza tenderão gradativamente a aniquilar o poder reprodutivo original. Da
mesma forma o silício (preparados 501 e 508), aplicado em períodos proteolíticos, na pré-florada e na pré-
frutificação (não na florada), e ainda na pré-maturação, ajuda a amenizar a proteólise e a otimizar a foto
e a proteossíntese, um pré-requisito para a genuína fitossanidade.

Para controlar pragas animais precisamos avançar além da esfera lunar, planetária; precisamos
incluir os efeitos zodiacais. Por exemplo, para dominar o poder reprodutivo do rato campestre, incineramos
seu pelame quando Vênus se encontra em Escorpião. Na cinza assim obtida resta a energia negativa,
oposta à energia reprodutiva do rato. A cinza espalhada no campo reduz as forças de reprodução do rato.

Para conter a reprodução de vermes nocivos da terra, como os nematódeos, devemos incinerá-los
inteiros com o Sol em Touro, um signo do elemento terra. A cinza contrapõe-se à força solar taurina,
propiciando seu definhamento.O princípio geral é este: o que está vivo em cada ser contém em si o germe
de sua destruição. Também o fogo é seu destruidor. Em outras palavras: água embebida de Lua promove
abundância; fogo impregnado de Lua a aniquila. A semente possui capacidade ampliadora polar.

Consideremos agora a importante questão das chamadas “doenças vegetais”. O vegetal tem somente
corpo físico e etérico, não tem corpo astral, não tem emoções. Não forma invaginações nem cavidades
internas, não interioriza o corpo astral; apenas é tocado pela astralidade na periferia.

Patologias ocorrem quando o astral exorbita de seus limites e invade os domínios do etérico e do
físico. O animal fica também suscetível a distúrbios quando não se respeita sua astralidade, como acontece
no manejo inadequado à espécie.
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Na planta, especificamente, ocorre o seguinte: forças da lua cheia intermediadas pela água promovem
o crescimento e a reprodução. Mas, a água é apenas mediadora. O que precisa ser vitalizado é a própria
terra, o elemento sólido, mineral. O mais importante é estimular a terrosidade, visto que estamos justamente
na quarta fase da nossa evolução planetária, a fase Terra. Na atual fase, na Terra sólida, finalmente
incorpora-se e desenvolve-se o “eu” individual, fundamental para a saúde do todo.

Assim se concebe um processo saudável. A força da fecundidade depende de ser normal, não
muito forte, a atuação da Lua.

Conjugando-se exageradamente a Lua com a água, a terra será excessivamente vitalizada e


astralizada, acelerando o crescimento e propiciando uma sementeação prematura. Ocorrerá excesso de
força vegetativa acompanhada de carência de força generativa. A conseqüência é que a planta se transforma
em campo fértil para proliferação de parasitas e fungos. Por queimar etapas e acelerar processos
indevidamente, a planta deixou instalarem-se doenças fúngicas e parasitárias, justamente por não deixar
a terrosidade atuar ascendentemente, como deveria. A excessiva atuação lunar enfraqueceu a atuação
terrosa.

Agora pergunta-se: o que fazer para aliviar a terra da excessiva força lunar? Muito simples: basta
remeter a aquosidade para os limites que lhe são próprios e conferir à terra maior capacidade terrosa.
Isso se consegue, entre outras coisas, aplicando-se, nas áreas afetadas, em dosagens diminutas, o chá de
cavalinha, o EQUISSETUM, planta composta de 90% de silício na cinza. Isso se fará quando for necessário
reforçar ou complementar os efeitos de todo o manejo apresentado nos capítulos precedentes.

Lua e água são fatores proteolíticos, necessários, mas que, em excesso, aumentam a suscetibilidade.
O manejo biodinâmico orienta-se para gerar substâncias, sais, fibras, açúcares, vitaminas, proteínas,
solidamente constituídas e sintetizadas, capazes de verdadeiramente nutrir.

Para alcançar esse ideal impõe-se consultar a Natureza em seu conjunto, pois, de todos os lados
atuam as suas forças.

1.1.7 - 7ª Conferência

Esta conferência trata das mais íntimas interações na Natureza, de como interagem a agricultura,
a fruticultura, a pecuária, a floresta, formando em seu conjunto um organismo integrado, diversificado e
auto-sustentado, alcançando o sinergismo do sistema, que transcende a soma de efeitos isolados.

Por exemplo, a interação de plantas e animais estende-se ao mundo diversificado dos insetos e das
aves, bem como à micro e mesovida do solo.

Do mundo vegetal destaquemos, a princípio, a árvore. Ela se distingue das ervas e gramíneas que
emergem diretamente do solo. Na árvore, os finos ramos emergem do tronco. Este é como um solo para
aqueles. E onde temos uma densa biomassa herbácea, suas raízes estão de tal forma emaranhadas a
ponto de formar uma pasta radicular comunitária. Da mesma forma comportam-se os ramos no tronco da
árvore. Aparentemente não têm raízes fixadas a um solo, mas haurem suas substâncias do câmbio, uma
camada formativa de células que geram novos tecidos vegetais: na face interna, o lenho com o xilema,
portador de seiva bruta, na face externa, o líber ou floema, contendo seiva elaborada; daí vai-se desdobrando
o crescimento e a vida vegetal herbácea. O câmbio é como um solo terroso, porém, mais vitalizado ou
eterizado que o solo mineral embaixo.

Da mesma forma, a periferia da planta é uma região concentrada de astralidade, sendo na árvore
essa astralidade muito mais densa que em plantas herbáceas. As árvores são claramente concentradoras
de substância astral, de processos astrais em sua periferia (movimentos, floração, fecundação, frutificação,
Fenomenologia
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perfumes, cores, sabores, sons). É possível desenvolver uma percepção para distinguir o cheiro de plantas
do solo e o cheiro mais intenso da copa das árvores.

Portanto, a astralidade e a etericidade crescem para a periferia e decrescem para o interior e para
baixo. O cerne e a raiz tendem a ser menos vivos, mais mineralizados, mais minerais do que nos contornos
ou nas raízes de plantas herbáceas.

Sendo a raiz o sistema neuro-sensorial da planta, tal como no animal e no homem, é também o
menos vivo, o mais mineralizado.

No espaço radicular da árvore vivem as larvas, seres subterrâneos que depois se metamorfoseiam
e se transferem para o espaço aéreo como insetos. Na terra, as larvas, como também as minhocas, por
sua voracidade, reciclam a matéria orgânica crua no sentido da humificação e mineralização, ou seja,
estabilização. Atuam como reguladores de etericidade.

Por sua vez, os insetos, interagindo com as aves, cuidam de espalhar e organizar a astralidade no
espaço aéreo ocupado pela vegetação. Todos se interdependem. Polinização e dispensão de sementes
por insetos e aves são agentes de propagação florestal, são reguladores de astralidade. Equilíbrio ecológico
pressupõe a árvore. Arborização de pastos e campos é fundamental para a fertilidade. Larvas e minhocas,
afinadas com o mineral, sobretudo com o cálcio da terra, regulam a etericidade, tal como o 505. Os alados,
aves e insetos, ligam-se ao ar, à luz, via silício, em inter-relação com o astral, tal como o 506.

O que o agricultor outrora fazia por instinto, hoje deve fazer com consciência clara; a sabedoria
compensa os excessos da inteligência fria, calculista, de cunho materialista.

Pela contemplação, verificamos a afinidade dos seres alados com a floresta. Descobrimos também
a afinidade de mamíferos com as espécies arbustivas. Vegetais arbustivos na pastagem promovem o
melhoramento do rebanho.

Como medida fitossanitária, recomenda-se a manutenção de várzeas úmidas, “habitat” de fungos,


bactérias e outros parasitas, mantendo-os afastados das lavouras adjacentes.

Um organismo rural ecologicamente equilibrado deve incluir florestas, pomares, arbustos e várzeas,
em interação sinérgica de importantes conseqüências econômicas.

Consideremos agora a interação animal-planta. O animal absorve diretamente o ar, o calor e a luz
através de seu sistema neuro-sensorial. Lua e Sol emitem efeitos caloríficos e luminosos que geram
massa óssea. O ar forma elementos para a massa muscular . Em contrapartida, alimentos sólidos e
líquidos são primeiro ingeridos e digeridos, elaborados e depois assimilados, mais no sentido energético.

A planta, por seu turno, absorve diretamente minerais e líquidos via sistema neuro-sensorial (raiz),
e libera no ambiente ar e calor. A planta é o purificador e o termostato natural. Ela é o inverso do animal.
Ela dá e vive de dar ar e calor, para o consumo animal.

Concluindo, contemplamos a bipolaridade fotossíntese-respiração. A planta faz fotossíntese graças


às forças do calor e da luz; produz carboidratos e oxigênio para o animal:

CO²+H²O luz e calor (CH²O)n+O²


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A proteossíntese complementa a fotossíntese: CHO+N+S à CHONS. O animal respira e gera gás


carbônico, água e energia (O² + reação celular à CO²+H²O+energia). A energia liberada é armazenada
pelo ATP (Adenosina Trifosfato) e disponibilizada para os processos vitais.

A interação harmoniosa de lavoura, fruticultura, silvicultura e pecuária constitui o organismo agrícola


auto-sustentado.

1.1.8 - 8ª Conferência

A última conferência do Curso Agrícola, dedicada à nutrição animal, reitera a importância do


conhecimento científico-espiritual como base para as medidas práticas a serem adotadas no manejo da
fazenda. Desse modo, o agricultor age com segurança, ao invés de apenas tatear em arriscadas
experimentações.

Primeiramente, é preciso desenvolver um conhecimento sobre a verdadeira natureza da nutrição.


Por exemplo, a entidade trimembrada do Homem é composta de três sistemas:

1º ) Sistema neuro-sensorial (cabeça, cérebro, órgãos dos


sentidos, sistema nervoso), de natureza terrosa, mineral,
material, fria e inerte, por isso mesmo apto a captar forças
cósmicas, sede da consciência e do “eu”, e que tem sua
correspondência no sistema radicular da planta.

2º ) Sistema rítmico-circulatório (pulmão, coração, circulação


sanguínea), equivalente à área verde vegetal ( caule, talos,
folhas).

3º ) Sistema metabólico-motor (órgãos abdominais e


membros), o pólo vegetal, quente, muito vitalizado,
inconsciente, correspondente à periferia astral da planta,
região de floração e frutificação.

Abstraindo-se, a princípio, do sistema intermediário, temos no animal uma pronunciada bimembração:


o sistema neuro-sensorial, de base material, terrestre e receptor de forças cósmicas, em oposição bipolar
ao sistema metabólico-motor, vinculado às forças terrestres (força da gravidade, dos alimentos, etc),
porém composto de materialidade cósmica que o organismo absorve de cima, do ar, do calor, da luz e com
ela forma a sua massa corporal.

Esta é a natureza da boa nutrição: o alimento ingerido libera forças terrestres de mobilização, de
modo que o organismo possa absorver a sutil materialidade cósmica presente em toda parte e formar sua
corporalidade. Neste sentido, determinados itens como calor, aromas, cores, sabores, sons, luz, são também
nutrientes incorporados ao organismo animal, via órgãos sensoriais.

O componente mineral substancial do alimento ingerido é digerido no estômago, assimilado no


intestino e encaminhado à cabeça para aí formar a base física do sistema nervoso-sensorial, a sede da
consciência, e, no Homem, a base do “eu” individual, ainda em processo de desenvolvimento nesta quarta
fase sólida da evolução da Terra e do Homem (STEINER, 1983).

Daí se depreende a importância da movimentação ao ar livre para ativar os sentidos de modo que
a cabeça possa elaborar o alimento recebido do corpo. Por essa razão, o animal confinado se enfraquece
fisicamente a partir da cabeça.
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Mas, o que está realmente contido na cabeça? A cabeça contém uma


essência física segregada pelo intestino na corrente sanguínea. O elemento
terrestre material que compõe o cérebro é a secreção de uma essência
assimilada pelo intestino, oriunda sobretudo de partes radiculares contidas
na ingesta. O resíduo grosseiro que o intestino delgado não consegue
assimilar, ele encaminha para o intestino grosso para eliminação. Aí
finalmente se compreende a aparentemente paradoxal, porém,
extraordinária semelhança entre as circunvoluções intestinais e
cerebrais. E não é só isso. Também o conteúdo intestinal é afim ao
conteúdo cerebral. A massa encefálica é massa orgânica mineralizada,
levada a termo. Essa massa nobre terrestre constitui a base do
desenvolvimento do “eu” individual, no Homem.

O animal ainda não tem um “eu”, por isso seu esterco ainda contém uma predisposição para o “eu”,
o que o qualifica como excelente adubo, contrariamente ao esterco humano, impróprio para produzir
alimentos que promovam o fortalecimento da individualidade. Já o esterco animal, levado à raiz pela
adubação, propiciará o desenvolvimento do eu rudimentar vegetal, repercutindo positivamente no processo
evolutivo. Assim, o esterco do animal corretamente alimentado faz desenvolverem-se as verdadeiras
forças do “eu”, meta da atual fase da evolução da Terra e do Homem.

Assim como a meta do Homem é o pleno desenvolvimento de sua livre individualidade, também a
fazenda deve constituir uma individualidade coesa, um circuito fechado de nutrientes de maior auto-
sustentação possível. É preciso manter na fazenda tantos e tais animais para que forneçam o esterco
suficiente e correto para as lavouras. Cumpre dimensionar as diversas atividades de modo a garantir que
os animais possam procurar por instinto próprio o que se produz no pasto.

Neste contexto, distinguimos aí quatro fases: ingestão, digestão, secreção,e excreção; ou, se quisermos,
quatro volumes de massa: a ingesta, a digesta, a secreta e a excreta.

A ingestão de raízes é ideal para o sistema nervoso. Desde jovem o animal deve ingerir raízes, por
exemplo, o nabo forrageiro, para que a cabeça possa trabalhar com vontade e gerar forças adequadas ao
organismo. Uma vez abastecida a cabeça, suprem-se então as carências metabólicas, com sementes,
flores, frutos ou feno de vegetais longilíneos, em pequenas quantidades.

E para estimular a lactação é preciso nutrir o sistema do meio, o rítmico-circulatório, justamente o


ponto de encontro entre as forças que fluem da frente sensorial e as matérias elaboradas atrás pelo
metabolismo. Quando forças e matérias interagem corretamente, resulta o bom leite e o leite abundante.
A secreção láctea está diretamente relacionada à sexualidade. Visualizando todo o processo, temos: cio,
monta, fecundação, gestação, parição e lactação. O cérebro ordena a liberação de hormônios para o cio,
assim como libera a oxitocina para a lactação. A presença do touro traz segurança ao rebanho e favorece
a liberação hormonal. A monta natural é pré-requisito para lactações saudáveis, prolongando-se por dez
até quinze anos, com produções médias anuais satisfatórias.

Para fortalecer o sistema intermediário, neuro-sensorial, e estimular a aptidão leiteira, alimentamos


o animal com ração volumosa, talos e folhas de gramíneas e leguminosas (70% e 30%, respectivamente),
sendo o trevo a leguminosa trifoliada por excelência.

Sintetizando, demonstramos a simplicidade do sistema de alimentação proposto: raízes para a cabeça;


flores, frutos, sementes e feno liberam forças terrestres para o metabolismo; volumoso de talos e folhas
de gramíneas e leguminosas para o sistema rítmico-circulatório e para a lactação; e, por fim, permeando
todo o arraçoamento, pequenas quantidades de sal, como suplemento aos minerais fornecidos pelas ervas
nativas e aromáticas colhidas pelo próprio animal no pasto. Ervas aromáticas, sazonadas, e mais flores e
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frutos, e, neles, as sementes, encontram-se em estágio vegetativo avançado rumo a maturação, ao


cozimento solar, estimulam os processos metabólicos e dão mobilidade aos membros.

Alimentação crua, o crudivorismo vegetariano, induz mais à imobilidade e ao misticismo, a menos


que o indivíduo já seja, por natureza, portador de vigor físico. Neste caso, ele se fortalece, pois ativa
forças ociosas que, permanecendo inativas no caso de um regime cárneo, favorece deposições de ácido
úrico, gota, reumatismo, diabete e demais doenças degenerativas.

E como arraçoar animais de engorda?

Por exemplo, os gordos porcos contêm em sua corporalidade substância inteiramente cósmica, e
não terrena. A ração ingerida serve para mobilizar forças terrestres para o metabolismo, habilitando o
corpo a absorver de todos os lados a plenitude de substância cósmica.

Para promover a engorda fornecem-se ao animal raízes, flores e frutos bem amadurecidos, até
cozidos, enriquecidos de tortas de oleaginosas.

Quanto ao tomate, um vegetal que tende a desenvolver uma vida mais independente, recomenda-
se para tratar, por exemplo, distúrbios hepáticos, e proíbe-se para portadores de processo cancerígenos.
Quanto ao cultivo, o tomate difere das demais plantas. Prefere crescer sobre restos grosseiros, sobretudo
do tomatal anterior, acrescido de matéria orgânica desordenada e mal decomposta.

Por sua tendência à exclusão e ao isolamento, atua sobre a organização independente do organismo.

Algo semelhante ocorre com a batata, também uma solanácea. Como falsa raiz, atua muito
diretamente sobre a cabeça, tornando-a exageradamente independente e inclinada ao intelectualismo frio
de cunho materialista.

Ao final do Curso Agrícola, Steiner recomenda aos participantes o máximo de discrição quanto ao
conteúdo ali apresentado. Ele adverte quanto ao risco de propagar os novos conceitos de forma inadequada,
provocando choques e resistências em quem ainda não está preparado para assimilá-los devidamente.
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Glossário
Arroçoamento Alimento do animal.
Astralidade Qualidade do astral; sensitividade; sensorialidade; animalidade.
Corpo astral Sede das emoções, sentimentos, paixões, cobiças, sensações, instintos,
no animal e no Homem.
Corpo etérico Conjunto de forças etéricas responsável pelo fenômeno VIDA.
Elicitores Que exercem atração.
Etericidade Qualidade do etérico, vital; vitalidade.
Eu Instância espiritual superior no Homem; individualidade.
Força etérica Força vital, organiza os processos vivos no corpo físico.
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REFERÊNCIAS
STEINER, Rudolf. A Ciência Oculta. 4.ed. São Paulo: Editora Antroposófica, 1998. 320p.

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