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PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 25.


António odiava o Bobi, o cão de Bento, por ladrar alto com muita frequência. Por
isso, deitou veneno num prato de arroz com carne que Bento tinha deixado ao Bobi. Foi
porém um cão vadio — abandonado por Carlos há umas semanas — que comeu todo o arroz
e que morreu envenenado. Bento veio a saber de tudo através de uma vizinha observadora e
pretende exigir a António uma reparação pelo ilícito praticado. Quid juris?

Caso prático n.º 26.


Parecendo adivinhar o ódio de António, o Bobi tentou morder-lhe. Ainda António
não saíra do jardim quando o Bobi saltou da rua para o abocanhar. Mas o pobre cão calculou
mal o salto e bateu violentamente contra as grades do portão do jardim de António, ferindo-
se seriamente. Pode agora Bento exigir uma indemnização ao vizinho?

Caso prático n.º 27. (por assim dizer)


Deolinda foi despedida, passando a receber o subsídio de desemprego,
correspondente a 80% do salário que auferia. Poderá dizer-se que houve aqui um caso de
responsabilidade civil?
E no caso de os 20% restantes estarem cobertos por um contrato de seguro de que
Deolinda beneficiasse?

Caso prático n.º 28.


Como classifica a responsabilidade civil decorrente do art. 1349.º, n.º 3, CC?

Caso prático n.º 29.


Etelvina era a única florista lá da terra até Frederica abrir o seu quiosque. Frederica
teve o cuidado de fazer preços inferiores aos praticados por Etelvina, de modo que esta, em
pouco tempo, perdeu mais de 50% do seu volume de vendas. Etelvina sabe que não tem
direito a qualquer indemnização. Como fundamentá-lo em termos juridicamente correctos?

Caso prático n.º 30.


Adaptado de ac. STJ 26 de Março de 1980 (RLJ 114, 1981, 35-40):
Fernando demoliu um seu edifício com vista a construir de novo. Contíguo a esse é o
também já antigo edifício de Guilherme, que ficou assim com uma parede exposta aos
elementos. Ainda em Julho, Guilherme falou a Fernando da sua preocupação com as pró-
ximas chuvas, que decerto trariam danos significativos. Fernando disse-lhe que não se
ralasse, porque as obras começariam nos dias seguintes, e depressa ficaria coberta aquela
parede. As obras começaram, de facto, mas para se interromperem logo depois, devido a
incompetência de Fernando e apesar das insistências do vizinho. Com as primeiras chuvas de
PM – DO – 2006/07

Outono, que foram fortes, sucedeu o temido. Houve numerosas infiltrações, com danos no
edifício de Guilherme. Quid juris?

Caso prático n.º 31.


António conduzia o seu carro quando passou pelo Bobi, que estava caído por terra à
beira da estrada. Vendo o Bobi gravemente ferido, António riu-se: «Bem feita! Deus escreve
direito por linhas tortas!» E foi-se embora. Bento passou ali horas depois, e só então é que o
Bobi foi socorrido. Mas Bento veio a saber o que se passara — foi o próprio António que lho
contou — e pretende uma indemnização pelo agravamento do estado de saúde do Bobi, que a
demora no auxílio lhe causou. Quid juris?
Quid juris se, em vez do Bobi, fosse uma pessoa ali caída? Tenha em conta o art.
210.º do Código Penal, que pune o crime de «omissão de auxílio» a pessoas em situações
como esta.
Além da lei civil, tenha em conta ainda o art. 10.º do Código Penal, que reza: «1.
Quando um tipo legal de crime compreender um certo resultado, o facto abrange não só a
acção adequada a produzi-lo como a omissão da acção adequada a evitá-lo, salvo se outra for
a intenção da lei. 2. A comissão de um resultado por omissão só é punível quando sobre o
omitente recair um dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado.».

Caso prático n.º 32.


Na zona em que mora Hélder, há inúmeros gatos vadios que sujam as ruas e fazem
barulho durante a noite. Hélder decidiu envenená-los, deixando acessível comida
devidamente confeccionada.... Hélder pensou que, se calhar, algum gato com dono também
comeria do veneno. Esperava que assim não acontecesse, mas «se acontecer, paciência, azar
dos donos». Veio de facto a morrer também o gato da D. Ilse. Hélder está disposto a
indemnizá-la, mas, custando aquele gato € 1743, sendo a D. Ilse riquíssima, tendo Hélder
rendimentos muito baixos e não fazendo sequer a menor ideia de que houvesse gatos daquele
preço, não pretende pagar o valor total do bicho. Quid juris?

Caso prático n.º 33.


Joaquim dedica-se há 50 anos ao tratamento de lixo ou, como se diz hoje, de resíduos
sólidos. Tentou sempre acompanhar as evoluções técnicas na sua área, mas a verdade é que
agora, aos 75 anos, tem já dificuldade em fazer face a todas as exigências da sua profissão,
apesar dos grandes esforços que faz. Recentemente, passou a tratar resíduos de uma fábrica
de pesticidas. Apesar do seu cuidado, enganou-se no processo de empacotamento de alguns
destes resíduos, de modo que, durante o transporte dos mesmos para as suas instalações, foi-
se soltando uma poeira tóxica que afectou seriamente a saúde de vários transeuntes com
quem se cruzou. Nenhuma pessoa fora do ramo se aperceberia dos extremos cuidados
necessários àquele transporte. Será Joaquim civilmente responsável?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 34.


Nélia divide um apartamento com Ofélia. Certo dia em que Ofélia estava fora, a outra
chega a casa e encontra Paulo em pleno acto de furto. Paulo, que tem quinze anos,
preparava-se para abandonar o sítio com duas garrafas de litro de cerveja que tirara do
frigorífico. As garrafas eram de Ofélia. Nélia pegou no que ali estava à mão — uma garrafa
de 33 cl., também de Ofélia — e atirou-a à cabeça de Paulo, causando-lhe lesões sérias.
Paulo (representado pelos pais) pretende uma indemnização, e Ofélia quer que a outra lhe dê
igual garrafa de 33 cl., para compensar a que se partira na ocasião. Quid juris?

Caso prático n.º 35.


Os pais de Quirino morreram, deixando-lhe um património significativo. Quirino,
que é ainda uma criança de seis anos, ficou ao cuidado da avó, que vive com grandes
dificuldades económicas. Certo dia, Quirino estava na rua e atirou uma pedra de calçada para
a montra da loja de Rui. O estardalhaço assustou mais o miúdo do que o dono da loja —
Quirino ficou numa choradeira enorme —, mas o certo é que Rui pretende ser ressarcido em
mil euros, tal é o preço do vidro. A avó não tem possibilidade de pagar com o seu dinheiro,
pois recebe uma reforma mínima, e acha que não deve usar o dinheiro que os pais deixaram a
Quirino para pagar a despesa, pois o neto «não sabia o que fazia». Quid juris?

Caso prático n.º 36.


Sónia e Teresa foram raptadas por malfeitores da pior espécie que pretendem obter
um resgate. Para demonstrar as suas intenções aos familiares das vítimas, os raptores
forçaram Sónia, mediante ameaças e agressões várias, a cortar um dedo a Teresa, que
enviaram pelo correio aos irmãos desta. Mais tarde, a polícia acabou por prender os
criminosos e libertar as pobres mulheres. Esses criminosos são insolventes. Teresa pretende
que Sónia, muito mais abastada do que ela, a indemnize parcialmente pela lesão corporal.
Quid juris?

Caso prático n.º 37.

António guiava sob o efeito do álcool, de modo que se despistou, entrando pela
montra de Luís adentro e destruindo-a. No dia seguinte, porém, um ataque terrorista fez ruir
todo o edifício em que se situava a loja de Luís. Quid juris?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 38.

Ilídio empurra negligentemente João de um andaime no vigésimo andar. Na queda,


João leva um tiro na cabeça disparado por Lisandro, que o odiava. Assim, João aterra já
morto em cima de um monte de vigas de aço que estavam no chão. Quid juris?

Caso prático n.º 39.

Por falta grave da vigilância exigível, uma fábrica emite flúor durante vários meses
em quantidade muito superior ao máximo legalmente permitido. Num viveiro de árvores das
cercanias, o crescimento das plantas foi inferior ao esperável, com danos quantificados para
o seu proprietário. Sucessivas equipas de peritos, escolhidas por acordo dos interessados, não
chegaram a quaisquer conclusões sobre a relação, ou falta dela, entre a emissão de gás e o
menor desenvolvimento das árvores. Os donos do viveiro e da fábrica, discutindo uma
eventual indemnização, concordam que «a verdadeira causa» dos danos não pode ser
determinada sem margem para dúvidas. Quid juris?

Caso prático n.º 40.

Carlos dá negligentemente um tiro no pé de Daniel. Este vai parar ao hospital e, por


negligência de um dos médicos, a ferida gangrena e tem de ser amputada toda a perna. Não
era provável, à partida, que Daniel viesse a ficar sem perna. Que responsabilidade civil
haverá?
Quid juris se o tiro é dado numa zona de Angola em que não há hospitais nem meios
de transporte eficazes e a perna gangrena antes de chegarem ao hospital? (considere
relevante o direito português)

Caso prático n.º 41.

A EDP instala postes de alta tensão numa zona de floresta de pinheiros. Os postes
têm 10 metros de altura. Um decreto-lei sobre esta matéria estatui que os postes devem ter,
em zona de floresta, 20 metros e, em zona sem árvores, 10 metros. Uma criança inimputável
sobe a um poste na zona de floresta e morre electrocutada. Prova-se que, se o poste tivesse
20 metros, como a lei manda, a criança não conseguiria subir a ponto de morrer
electrocutada. Quid juris?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 42.

Joaquim atropela por negligência Luísa, de oito anos de idade, que seguia pela rua
acompanhada da mãe. Luísa sofreu vários traumatismos, de modo que passou largo tempo
hospitalizada e em grande sofrimento. A mãe de Luísa ficou em estado de choque e, tendo
recuperado ao fim de alguns dias, passou a acompanhar todo o processo de cura da filha,
com grande prejuízo da sua vida profissional — a mãe de Luísa era advogada. O pai de Luísa
sofreu também imenso com o sucedido e pagou as intervenções dos melhores médicos com
vista a conseguir a recuperação da filha. Depois da saída do hospital, o pai custeou ainda
complicados processos de reabilitação psico-motora da filha, sempre perante as instituições
mais famosas (e caras). Além dos pais, também a empregada doméstica destes sofreu
significativamente com o acidente de Luísa, porque a acompanhava desde bebé e dela muito
gostava. A empregada chegou a ter de receber acompanhamento psiquiátrico. Quais os danos
indemnizáveis por Joaquim (e pela sua seguradora)?

Caso prático n.º 43.

Dois ciclistas seguem à noite de luzes apagadas, um atrás do outro. Um automóvel


que vem em sentido contrário, a meio de uma ultrapassagem, mata o ciclista que vai à frente,
por não os ter visto. Pergunta-se se o ciclista que ia atrás é responsável, visto que, se ele
levasse a sua luz acesa, o outro também seria visto e não morreria.

Caso prático n.º 44.

O carro de Deolinda foi seriamente danificado num acidente devido a negligência de


Efigénia. O carro era muito velhinho, de modo que Deolinda não o conseguiria vender por
mais de 100 contos. Mas a verdade é que andava e não tinha problemas mecânicos! A
reparação custa 200 contos. Como deverá Deolinda ser indemnizada por Efigénia (ou pela
sua seguradora)?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 45.

Fernando é electricista e estava a trabalhar no restaurante de Gilberto quando, por


manifesta negligência, causou um curto-circuito que fez incendiar a máquina do café,
destruindo-a. Gilberto só conseguiu receber uma máquina de café equivalente passados cinco
dias, pela qual pagou 500 contos. Por dia, Gilberto costuma vender 400 cafés, a 80$ cada
(400 x 80 = 32 contos; 32 x 5 = 160 contos). Tendo em conta a electricidade, a água e o café
em grão, aquela máquina gastava 4 contos por dia. Nesse mesmo período, Gilberto vendeu
200 chávenas de chá (quarenta por dia), a 120 escudos cada (200 x 120 = 24 contos), quando
não costumava vender mais de 5 por dia nessa época do ano (5 x 5 x 120 = 3 contos). Cada
chávena de chá saía-lhe a 40 escudos (200 x 40 = 8 contos; 25 x 40 = um conto). Qual o
valor da indemnização?
Quid juris se estes valores diários tivessem sido apurados por uma auditora e,
segundo a sua própria estimativa, permitissem uma margem de erro de 13%, não havendo
outros dados?

Caso prático n.º 46.

António não tinha qualquer família. Morreu instantaneamente num acidente de


viação resultante de negligência de Berenice. O funeral foi modesto e acabou por ser pago
com dinheiro que o próprio António tinha emprestado a Carlota. Será devida alguma
indemnização?

Caso prático n.º 47.

Kasparov, Kramnik, Anand e Leko — respectivamente, os primeiro a quarto mais


bem classificados jogadores de xadrez da altura — iriam participar em Lisboa num torneio
em que eram os únicos concorrentes. O torneio oferecia prémios aos quatro participantes:
40.000 contos para quem ganhasse, 20.000 para o segundo, 15.000 para o terceiro e 10.000
para o quarto. Suponha que Kasparov ganhou a grande maioria dos torneios em que
participou nos últimos 10 anos (em torneios deste nível, ganhou 4 em cada 5) e nunca ficou
abaixo do segundo lugar. Desta vez, porém, não ganhou prémio algum, já que, por dolo do
cozinheiro de um restaurante em que ofereceram um banquete em sua honra, teve uma
intoxicação alimentar que o deixou de cama durante os dias do torneio. Que indemnização
deverá haver?
[Por simplicidade, ignora-se a possibilidade de classificações ex æquo.]
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 48.

Num acidente devido a negligência de Dante, foi seriamente danificado o automóvel


de Occam, que teve por isso de permanecer na oficina, em reparações, durante um mês.
Dante (ou a sua seguradora) concede assumir a despesa da oficina, mas rejeita em absoluto a
hipótese de pagar seja o que for pelo simples facto de Occam ter andado um mês a pé. Quid
juris?

Caso prático n.º 49.

António era usufrutuário de um terreno, propriedade de Carlos, onde havia um pomar


de laranjeiras. Um incêndio resultante de negligência de Bento destruiu-o. Nas árvores,
estavam por colher laranjas no valor de € 5.000. Aferiu-se a perda de valor do terreno, por
terem perecido as laranjeiras, em cerca de € 60.000. Passados dois anos, António morreu,
deixando Dora como sua única sucessora. Que direitos indemnizatórios terão Dora e Carlos?

Caso prático n.º 50.

Elisa manobrava uma retroescavadora quando, por falta de atenção ao mapa das
instalações da zona, cortou um importante cabo eléctrico. A energia só regressou passados
alguns dias, o que causou sérios danos à sociedade Indústrias Fulano & Beltrano, Lda.: uma
máquina avariou, tendo de ser reparada (€ 4.300) e causando perturbações na produção
(perda de encomendas com o valor líquido de € 9.000). Uma outra máquina não avariou, mas
o corte de energia impediu-a também de funcionar (perdas líquidas de € 10.000). Quid juris?

Caso prático n.º 51.

Uma empresa de consultoria, a CCC, fez uma avaliação errada do valor da sociedade
comercial JJJ, L.da, cujos sócios estavam a pensar vendê-la. A CCC agiu nos termos de um
contrato com a JJJ. António veio a comprar as quotas da JJJ, mas percebe agora que fez um
péssimo negócio. Poderá pedir responsabilidades à CCC?

Caso prático n.º 52.

Gilberto é veterinário e dono de algum gado. O seu vizinho Hélio, também criador,
teve os seus animais infectados com carbúnculo, mas não tomou as medidas necessárias para
impedir a propagação da doença, nem sequer avisou Gilberto, de modo que vários animais
do vizinho foram afectados. Gilberto administrou-lhes o tratamento adequado segundo os
cânones da medicina veterinária, mas, porque se tratava de uma estirpe rara e não
identificada da bactéria, esse tratamento veio a agravar a doença. Gilberto perdeu assim 50%
do gado infectado, quando as mortes não costumam exceder 30%, se for aplicado o
tratamento devido. Quid juris?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 53.

Ivone passeava pela obra de Joaquim, com o consentimento deste. Sem sua
autorização, porém, aventurou-se por uma zona onde viria a sofrer com a queda de um
andaime, que fora deficientemente armado por Joaquim. Quid juris?

Caso prático n.º 54.


Zebedeu conduzia uma camioneta do seu patrão, Xavier. Certo dia, quando estava
quase a chegar ao armazém de Xavier, aparece-lhe subitamente, a seguir a uma curva, uma
pilha de caixas de mercadorias que um seu colega de trabalho (Vasco) ali tinha deixado,
mesmo no meio do caminho. Zebedeu travou correctamente, e tudo teria corrido bem se os
travões não tivessem avariado naquele preciso momento.
Na verdade, veio depois a descobrir-se uma fragilidade impensável nos discos dos
travões, que se partiram com a travagem brusca. A camioneta fora fabricada pela sociedade
Automóveis de Portugal, S.A., e os discos dos travões, pela sociedade Trava a Fundo, Lda..
Zebedeu, contra ordens expressas de Xavier, tinha dado boleia a um amigo seu,
Sérgio, que ali ia procurar emprego.
O acidente foi sério. A camioneta despistou-se, destruindo as ditas caixas de merca-
dorias, cujo conteúdo pertencia a Quirino, um cliente de Xavier, e atropelando Rui, que ia a
passar. Zebedeu ficou incólume, mas Sérgio deu uma grande cabeçada, de modo que teve de
ser assistido no hospital, e ainda se lhe estragou a roupa nova que levava. A camioneta ficou
seriamente danificada. Que responsabilidade civil haverá?

Caso prático n.º 55.


António e Bento chocaram ao cruzarem-se de automóvel numa rua estreita. Bento e
António eram empregados de Carlos. Bento estava ao serviço, cumprindo as suas funções;
António, pelo contrário, tinha «desviado» o carro para ir visitar a mãe. Não se apurou qual a
exacta causa do acidente, mas é certo que um dos condutores se tinha aproximado demais do
centro da via, se não o tivessem feito os dois. Bento e Carlos ficaram feridos, tal como o
Bobi, o cão de Daniel, que acabou atropelado pela traseira do carro de António. Em que
medida são civilmente responsáveis António, Bento e Carlos?

Caso prático n.º 56.


O Museu dos Museus, instituição particular de utilidade pública, é de visita gratuita.
Nuno é seu empregado, acompanha os visitantes e dá-lhe explicações do que vêem. Odete,
electricista, foi contratada pelo museu para uma série de arranjos previamente definidos.
Nuno não era um moço especialmente honesto: muitas carteiras de visitantes foram
desaparecendo até se descobrir que era ele o autor dos furtos. Odete não era muito cuidadosa:
estava em cima do telhado quando deixou escorregar a mala das ferramentas, que atingiu um
transeunte que não tinha nada a ver com o museu. Será o museu responsável por estes danos?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 57.


Certo docente de uma universidade privada, a pretexto de resolver dúvidas,
convenceu uma aluna a ir ao seu gabinete nas instalações da faculdade já fora do horário das
aulas. Aí, abusando da sua posição de docente e de um certo temor reverencial da aluna,
constrangeu-a a ter relações sexuais consigo. É a universidade responsável pelos danos daí
resultantes? Quid juris se o abuso tiver ocorrido fora das instalações da universidade?
PM – DO – 2006/07

Caso prático n.º 58.

A Padaria X contratou António para distribuir o seu pão, todos os dias de madrugada.
A distribuição era feita no carro de António, que não era empregado da Padaria. Certo dia,
António não podia fazer o serviço, tendo pedido a seu irmão, Bento, que o substituísse.
Assim aconteceu. Bento, porém, conduzindo com pouco cuidado, veio a ter um acidente.
Quid juris?

Caso prático n.º 59.

Isabel e Joana são vizinhas. Isabel é dona do Bobi, um cãozinho; Joana, do Cérbero,
um canzarrão. Os bichos costumavam brincar e lutar nas cercanias — enfim, o Bobi tentava
sobretudo fugir... — sem nunca terem feito mal a ninguém.
Ali perto passa a A-13. Nos termos da lei, as «auto-estradas devem ser vedadas, em
toda a sua extensão, de modo a impedir a entrada de animais ou pessoas», e as
concessionárias devem assegurar constantemente o bom estado de conservação das
vedações.
Kramer é dono de um terreno vizinho dos de Isabel e Joana e contíguo à A-13, ao
longo de 1 km. Kramer não costuma encontrar-se nesse terreno. Mesmo junto à vedação da
auto-estrada, havia um enorme e velho eucalipto que, desde o último temporal, ameaçava
claramente cair. Kramer ordenou a Manuel, seu empregado, que abatesse a árvore, mas este,
por preguiça, andava a adiar o trabalho, dizendo ao patrão que já o fizera. Pois o eucalipto
veio a cair por si, deitando abaixo a vedação naquele sítio. A Lisa, S.A., concessionária da
A-13, exigiu a Kramer que consertasse a rede. Perante a sua recusa, aquela propôs uma acção
em tribunal pedindo que Kramer fosse condenado à reparação. Entretanto, o buraco mantém-
se, com conhecimento de todos.
Em mais uma sessão de «morde e foge», o Cérbero perseguiu o Bobi através do
buraco aberto. O Cérbero não chegou à faixa de rodagem, mas o Bobi entrou por ali a correr.
Nélia conduzia a cerca de 135 km/h quando o Bobi se lhe atravessou à frente. Nélia
atropelou-o antes de o ver, perdeu o controlo do carro, bateu no carro de Patrícia, que ia a
uma velocidade semelhante, e capotou. O carro de Nélia saiu dali para o ferro-velho. O carro
de Patrícia ficou ligeiramente danificado. Patrícia seguia sem cinto de segurança, foi cuspida
do automóvel através do pára-brisas e morreu ao bater com a cabeça numa pedra. Não há
qualquer indício de que os danos fossem menores se Nélia ou Patrícia seguissem a 120 km/h.
Onofre, médico, parou o carro na berma para socorrer Nélia. Tirou-a do carro, que se
incendiou pouco depois, e telefonou para o 112. Nesse momento, porém, Onofre lembrou-se
de que estava quase na hora do SPORTEM / Real Madrid, pelo que continuou viagem em
busca de uma televisão, deixando Nélia sozinha à espera da ambulância.
Nélia sofreu lesões muito graves, cujos resultados finais ainda estão por determinar.
Patrícia não tinha parentes nem cônjuge, mas vivia com uma amiga, Quitéria, a quem
deixou todos os seus bens por testamento.
PM – DO – 2006/07

Que responsabalidade civil haverá?

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