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1. Breve introdução.
Na antiguidade, não raro, o médico era visto como infalível, alguém detentor do dom
divino da cura. Hoje, porém, é encarado pelo ordenamento jurídico como um prestador de
serviços, que deve responder pelos danos causados aos consumidores em virtude de vícios na
execução de sua atividade.
Com efeito, cada vez mais é crescente o número ações de indenização por erro
médico, o que faz com que o estudo da responsabilização dos médicos e dos demais
profissionais de saúde desperte grande interesse dos pesquisadores.
Nesse sentido, cumpre destacar que, em geral, a obrigação do médico é de meio, salvo
nos casos de cirurgias plásticas de natureza exclusivamente estética, situação em que a
obrigação será de resultado, nos termos assentados pelo STJ no REsp 819.008/PR. Ademais, a
relação jurídica entre médico e paciente é contratual, podendo ser regida pelo Código de
Defesa do Consumidor.
Nada obstante, embora seja o médico um prestador de serviços, o CDC, no § 4º, do art.
14, abriu uma exceção ao sistema de responsabilidade objetiva nele estabelecido. Isso porque,
conforme dispõe o art. 14, § 4º, do CDC, a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais –
categoria em que figura os médicos –, será apurada mediante a verificação de culpa, sendo,
portanto, subjetiva.
3. Relação de causalidade.
Nesse diapasão, deve-se levar em conta que a atividade médica é regida pela
incerteza, variabilidade e imprevisibilidade inerentes à biologia humana. Sendo assim, o
médico somente poderá ser responsabilizado quando for inequivocamente comprovado que
seu agir violou regra técnica da profissão e que tal violação foi causa direta do dano, haja vista
que a ciência médica não é exata.
Assim, consoante lição de Sergio Cavalieri Filho (2014, p. 432), caberá ao paciente, ou
aos seus herdeiros, comprovar que o resultado danoso do tratamento ocorreu por negligência,
imprudência ou imperícia do médico.
Há, porém, situações que estão inseridas no risco assumido pelo fornecedor de
serviços médicos e compreendidas em sua própria atividade, ao que a doutrina e a
jurisprudência atribuem a denominação de “fortuito interno”, sendo eventos que não rompem
o nexo causal. Exemplo típico é o caso das infecções hospitalares, que atualmente têm sido
consideradas como desdobramento da conduta reputada culposa, incidindo o dever de
indenizar do profissional médico e também do hospital.
5. Referências
______. Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União.
Data da publicação. 11/01/2002.
______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 819.008/PR. Relator: Ministro RAUL
ARAÚJO. Data de Julgamento: 04/10/2012. T4 - QUARTA TURMA. Data de Publicação: DJe
29/10/2012.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 12. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017.