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Contabilidade Gerencial
Alberto Manoel Scherrer

4.1 CUSTOS PARA DECISÃO: COMPORTAMENTO DOS CUSTOS E VOLUMES DE


PRODUÇÃO. MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO (SEM E COM) LIMITAÇÃO NA
CAPACIDADE PRODUTIVA

MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO

Resumidamente, a margem de contribuição pode ser definida como a “sobra” monetária havida da diferença entre o preço
de venda e os custos e despesas variáveis. Seu emprego consciente torna-se uma ferramenta de decisão, pois o valor
encontrado de cada unidade produzida, multiplicado pela quantidade produzida, equipara-se ao “lucro bruto” (DRE –
Demonstração do Resultado do Exercício) e, subtraindo-se dele (valor) os custos e despesas fixas, tem-se o lucro líquido
que servirá de base de tributação (IR e CSLL), bem como o montante que poderá ser distribuído aos sócios ou capitalizado,
dependendo da opção dos sócios/acionistas.
Como ferramenta de decisão, principalmente quando existe algum fator de restrição na produção prevista (ou para
atender à demanda), a margem de contribuição tem sua eficácia “testada”, o que se pode verificar através de simulados a
seguir apresentados. Ressalte-se que “fator de restrição” é o elemento componente (físico) na fabricação de um determinado
produto, que pode ser, dentre outros: insuficiência de matéria-prima, mão de obra direta e/ou outro componente variável no
processo produtivo. A opção por fabricar prioritariamente determinada sequência (mix) de produtos é por aquele (produto)
que apresentar a maior margem de contribuição.
Não havendo qualquer fator de restrição (limitação na capacidade produtiva), a decisão de se fabricar esse ou aquele
produto (ou decisão sobre a quantidade de cada um) constante do mix da empresa não tem uma relação intrínseca com a
visão endógena da organização, haja vista que o fator preponderante nessa decisão é a questão mercadológica, aplicando-se
(aqui) essa expressão para definir exclusivamente o mercado consumidor do produto fabricado. Dessa maneira, a
Contabilidade de Custos volta-se com maior ênfase às questões restritivas (limitadoras), para orientar o processo produtivo,
procurando obter um melhor resultado no âmbito das restrições impostas, fora do controle da gestão interna.
Matematicamente, a fórmula tem a seguinte composição: MCu = venda/un. – custos/despesas variáveis/unit., onde MCu
= Margem de Contribuição Unitária.
A seguir, alguns exemplos (resolvido e a resolver):

Margem de Contribuição com limitação na capacidade produtiva

Utilizando os dados a seguir, determine o novo mix de produção, de modo a maximizar o lucro:
Determinada empresa fabrica os produtos “A” e “B”, que utilizam a mesma matéria-prima, cujos custos variáveis
unitários estão assim compostos:

PROD. MAT.-PRIMA MOD


“A” 3 kg/un. a $ 15,00/kg 3 h/un. a $ 35,00/h
“B” 3 kg/un. a $ 15,00/kg 2 h/un. a $ 35,00/h

Os custos fixos totais no mês são de $ 1.750.000,00.


Os preços unitários de venda são: Prod. “A”: $ 189,00; Prod. “B”: $ 151,00.
O mercado consome 50.000 unidades de cada produto por mês.
A matéria-prima, naquele mês, está limitada a 195.000 kg.

1o PASSO: Determinação da MCu (Venda/Un. – Custos Variáveis/Un.)

CUSTOS VARIÁVEIS/UN. CUSTOS VAR.


PROD. VR. VENDA/UN. MCu
MAT.-PRIMA MOD UNIT. TOTAIS

A 189,00 45,00 105,00 150,00 39,00

B 151,00 45,00 70,00 115,00 36,00

2o PASSO: Determinação da MCu em relação ao item de limitação (MCu/Quant. Unitária do item de limitação)

PROD. “A”: $ 39,00/3kg = $ 13,00


PROD. “B”: $ 36,00/3 kg = $ 12,00

3o PASSO: Atendimento à demanda (novo mix de produção)

Mat.-Prima
KG de Mat.- Atendimento à Matéria-prima
PROD. Utilizada
Prima/Un. Demanda Utilizada (kg)
Acumulada (kg)
A 3 50,000 150.000 150.000

B 3 15.000 45.000 195.000

4o PASSO: Cálculo do lucro (MCu de cada produto × Quant. Produzida (–) Custos Fixos
PROD. A: $ 39,00 × 50.000 unidades = $ 1.950.000,00
PROD. B: $ 36,00 × 15.000 unidades = $ 540.000,00
(–) Custos fixos totais $ 1.750.000,00
LUCRO DO PERÍODO $ 740.000,00

OBSERVAÇÃO QUANTO AO EXERCÍCIO ACIMA: percebe-se que a ordem de prioridade não se alterou, uma vez que
o “retorno” (MCu) relacionado com o fator de restrição (matéria-prima) do produto “A” é maior que o do produto “B”.
Entretanto, em que pese a demanda ser de 50.000 unidades de cada produto, o procedimento sistêmico da MCu leva ao
gestor a alterar a quantidade de fabricação do produto “B”.

4.2 PONTOS DE EQUILÍBRIO: CONTÁBIL, ECONÔMICO E FINANCEIRO

O estudo sobre os pontos de equilíbrio é de vital importância para os gestores avaliarem o aspecto qualitativo dos resultados
auferidos pela empresa, uma vez que o foco está na relação direta de custos versus receitas, no sentido amplo.
As abordagens do estudo dos pontos de equilíbrio têm três características próprias, pois cada um dos focos tem um
objetivo pormenorizado.
O ponto de equilíbrio contábil tem a “preocupação” de apontar (em quantidade e valores) o quanto a empresa necessita
produzir e vender, para cobrir todos os seus custos e despesas, sem objetivar lucro, mas sem ocasionar prejuízo. Em outras
palavras, o ponto de equilíbrio contábil é o “ponto no gráfico” que demonstra ao gestor que, naquele “momento”, a
empresa, uma vez vendidos seus produtos, não tem qualquer resultado favorável e/ou desfavorável. Isto é, seu status
quo econômico é igual a ZERO ou NULO. Além do mais, sabe-se que, operando abaixo do ponto indicado no gráfico, a
empresa estará funcionando em situação de prejuízo para, a partir dele (ponto), gerar os lucros esperados. Em suma, essa é a
“visão” do ponto de equilíbrio contábil.
Em relação ao ponto de equilíbrio financeiro, o foco é diverso do contábil. Aqui, a proposta é identificar o volume de
receita (em quantidade e valores monetários), suficiente para quitar seus passivos (obrigações, dívidas) de curto prazo. Em
nenhum momento da formatação do ponto de equilíbrio financeiro existe a objetivação de se apontar resultado econômico.
Como o próprio nome indica, a atenção do analista/gestor está centrada no fluxo financeiro (recebimentos e pagamentos),
procurando “abastecer” o caixa (e equivalentes de caixa) com recursos oriundos da receita (venda).
Portanto, o ponto de equilíbrio financeiro tem sua importância vital na administração dos recursos monetários da
empresa, visto apontar de “imediato” a fluidez e consistência desses recursos. Em certa medida, “complementa” os demais
pontos de equilíbrio, objetivamente na visão do curto prazo.
É de importância plena que, antes de se estudar os pontos de equilíbrio, tenha-se um conhecimento sobre a denominada
“margem de contribuição”, sem o que a compreensão do real sentido do ponto de equilíbrio ficaria prejudicada (senão
impossível). A razão dessa afirmativa é em função de que a margem de contribuição é parte integrante da fórmula
matemática do ponto de equilíbrio.
Para que sejam utilizadas, a seguir apresentamos as fórmulas dos três pontos de equilíbrio, quais sejam:
PEC (Ponto de Equilíbrio Contábil): custos/despesas fixos dividido pela margem de contribuição unitária. A
resultante é o PEC em quantidade. Para transformar o PEC em valores monetários (receita), basta multiplicar a
quantidade encontrada pelo preço unitário de venda do produto em apreço.

PEF (Ponto de Equilíbrio Financeiro): custos/despesas fixos – custos/despesas não financeiros (ex.: depreciação) +
dívidas de curto prazo (passivo circulante), dividido pela margem de contribuição unitária. Também apresentado sob forma
matemática, assim se vê:

PEE (Ponto de Equilíbrio Econômico): custos/despesas fixos + lucro esperado, dividido pela margem de contribuição
unitária. Por “lucro esperado”, o usual é a aplicação de uma porcentagem sobre o Patrimônio Líquido, que traduz o retorno
sobre o capital investido, ou a remuneração do capital, também assim denominado. Exemplo: se o PL é de R$ 500.000,00 e
o retorno esperado é de 8%, o lucro esperado será de R$ 40.000,00. O PEE apresentado matematicamente, assim se lê:

NOTA: analogamente ao PEC, os outros dois também apresentam resultado em quantidade


Visando esclarecer de forma prática os conceitos acima, apresentamos alguns exercícios (com a respectiva resolução), a
fim de sedimentar o embasamento teórico.
O mesmo enunciado servirá de base para a consecução dos três enfoques do ponto de equilíbrio.
Considere as informações abaixo para demonstrar os pontos de equilíbrio (em quantidade e valor monetário):

Valor de venda unitária do produto “X”: R$ 120,00


Custos/despesas variáveis unitários do produto “X”: R$ 45,00
Margem de contribuição unitária do produto “X”: R$ 75,00
Custos/despesas financeiras fixos do período: R$ 425.000,00
Custos/despesas não financeiras (depreciação): R$ 25.000,00
Passivo circulante: R$ 85.000,00
Patrimônio Líquido: R$ 900.000,00
Taxa de retorno sobre o PL (lucro esperado): 8% = R$ 72.000,00
Com os dados acima, calculemos os pontos de equilíbrio.

A receita no PEC será de R$ 720.000,00 (R$ 120,00 × 6.000 unidades)

PEF (em quantidade): (R$ 425.000,00 + R$ 85.000,00) = 6.800 unidades

A receita no PEF será de R$ 816.000,00 (R$ 120,00 × 6.800 unidades)


PEE (em quantidade): (R$ 450.000,00 + R$ 72.000,00) = 6.960 unidades

A receita no PEE será de R$ 835.200,00 (R$ 120,00 × 6.960 unidades)

4.3 MARGEM DE SEGURANÇA E ALAVANCAGEM OPERACIONAL

4.3.1 MARGEM DE SEGURANÇA – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A margem de segurança nada mais é que a indicação da quantidade que pode ser reduzida na produção, até o ponto em que
a empresa não tenha prejuízo financeiro em suas operações. Visto desta forma, ainda que simples, a MS (margem de
segurança) está intimamente relacionada com o PEC (Ponto de Equilíbrio Contábil), pois é exatamente o PEC que indica a
quantidade que, produzida e vendida, gera receita em volume monetário suficiente (exclusivamente) para cobrir TODOS
seus gastos, não ensejando lucro, mas também não ocasionando prejuízo.
Para uma melhor visualização, acompanhemos o exemplo a seguir e sua resolução:
Consideremos que uma determinada empresa opere no PEC, com a produção de 30.000 unidades e que esteja
produzindo 50.000 unidades. A pergunta que se faz é: qual a porcentagem de redução possível no volume de produção, sem
que a empresa tenha prejuízo?
A resposta é simples:

a) O “excedente” de produção em relação ao PEC é de 20.000 unidades.


b) A relação percentual desse “excedente” com o volume atual de produção (50.000 unidades) é de 40%, assim obtido:
20.000/50.000 = 0,40 (ou 40%).
c) Conclusão: a MS em que a empresa opera é de 40%. Em outras palavras, a empresa pode reduzir seu volume de
produção em até 40%, sem que incorra em prejuízo.

Vale lembrar que, similarmente ao PEC, a margem de segurança pode ser calculada em relação aos demais pontos de
equilíbrio (PEE e PEF), considerando que as quantidades (e porcentagens) não serão as mesmas, dadas as naturezas também
diferentes de tais pontos de equilíbrio.
Sintetizando as temáticas de “Ponto de Equilíbrio e Margem de Segurança”, apresentamos um exercício consolidado,
como forma de fixação dos conceitos aprendidos.

Cenário indicado

A Cia. Industrial XPTO é monoprodutora, só fabrica e vende o produto X. Cada unidade de produto X consome R$
10,00 de custos variáveis.
A empresa incorre em despesas variáveis correspondentes a 10% da Receita Bruta.
Além disso, incorre nos seguintes gastos fixos mensais:

› custos fixos: R$ 26.000,00; e


› despesas fixas (de vendas e administrativas): R$ 25.000,00.

Considere a alíquota de IR = 25%.


Sabendo-se que a Cia. Industrial XPTO vende o produto X por R$ 13,00 a unidade.
Determine:
A) Qual a Margem de Contribuição unitária?
B) Quantas unidades a empresa precisa produzir e vender, por mês, para operar no Ponto de Equilíbrio Contábil?
C) Qual o valor da receita de vendas que precisa auferir, por mês, para operar no Ponto de Equilíbrio Contábil?
D) Quantas unidades precisa produzir e vender, por mês, para operar no Ponto de Equilíbrio Econômico, sabendo-se
que os sócios esperam auferir lucro líquido de R$ 14.250,00?
E) Qual o valor da receita de vendas que a empresa precisa auferir, por mês, para operar no Ponto de Equilíbrio
Econômico, sabendo-se que os sócios esperam auferir lucro líquido de R$ 14.250,00?
F) Considerando que a XPTO esteja produzindo e vendendo 50.000 unidades por mês, qual sua margem de segurança
em relação ao Ponto de Equilíbrio Contábil?
G) Considerando que a empresa esteja produzindo e vendendo 50.000 unidades por mês, qual sua margem de segurança
em relação ao Ponto de Equilíbrio Econômico?

RESOLUÇÃO
a) A Margem de Contribuição unitária é de R$ 1,70, assim encontrada: (venda: R$ 13,00 – R$ 10,00 custos variáveis –
R$ 1,30 (10% de R$ 13,00) despesas variáveis).
b) Para operar no PEC, a empresa terá que produzir e vender 30.000 unidades, conforme o cálculo a seguir:
somatória dos custos/despesas fixos, dividido pela margem de contribuição unitária: R$ 26.000,00 + R$ 25.000,00 =
R$ 51.000,00/R$ 1,70 = 30.000 unidades.
c) Conhecendo a quantidade de produtos para operar no PEC (30.000 unidades), basta multiplicá-la (a quantidade)
pelo valor unitário de venda (R$ 13,00), cujo resultado será de R$ 390.000,00.
d) Inicialmente, entenda-se que o lucro líquido é APÓS o Imposto de Renda. Portanto, como os sócios desejam um
lucro líquido de R$ 14.250,00 e a alíquota do IR é de 25%, basta que dividamos o lucro líquido pretendido (R$
14.250,00) por 0,75 (1 – 0,25), cujo resultado é de R$ 19.000,00. Assim, o PEE (Ponto de Equilíbrio Econômico) é
encontrado dividindo-se a soma dos custos e despesas fixos, mais o lucro pretendido (R$ 26.000,00 + R$
25.000,00 + R$ 19.000,00) pela MCu (R$ 1,70), cuja resultante é de 41.176 unidades.
e) A receita necessária para operar no PEC é de R$ 390,000,00 (30.000 unidades × R$ 13,00/un.), assim
demonstrado (conforme os dados do enunciado):
Receita Bruta 390.000,00
(–) Custos variáveis 300.000,00 (30.000 un. × R$ 10,00)
(–) Despesas variáveis 39.000,00 (30.000 un. × R$ 1.30)
(–) Custos fixos 26.000,00 (vide enunciado)
(–) Despesas fixas 25.000,00 (vide enunciado)
(=) Resultado 0,00 (nulo: sem lucro e/ou prejuízo)
f) Se a empresa produz 50.000 unidades e tem como PEC: 30.000 unidades (letra b anterior), a margem de segurança
em relação ao PEC permite mostrar quanto (%) pode cair a produção e venda sem que a empresa tenha prejuízo,
assim demonstrado: (50.000 – 30.000)/50.000 = 20.000/50.000 = 0,40 (40%).
g) Se a empresa produz 50.000 unidades e tem como PEE: 41.176 unidades (letra d anterior), a margem de segurança
em relação ao PEE permite mostrar quanto (%) pode cair a produção e venda sem que a empresa tenha prejuízo,
assim demonstrado: (50.000 – 41.176)/50.000 = 8.824/50.000 = 0,176 (17,60 %).

4.3.2 ALAVANCAGEM OPERACIONAL – CONCEITO BÁSICO E EXEMPLO

Em física, o conceito de alavancagem decorre do uso de uma alavanca para levantar um objeto pesado com o uso de uma
pequena força. No mundo dos negócios, um alto grau de alavancagem operacional indica que um pequeno crescimento
percentual nas vendas provocará um crescimento percentual maior no lucro. O efeito de alavancagem ocorre devido ao fato
de os custos fixos serem distribuídos por um maior volume de produção, fazendo com que o custo total de cada unidade
produzida seja reduzido. O grau de alavancagem operacional (GAO) é medido pela comparação entre a variação percentual
do lucro e a variação percentual na quantidade vendida. Assim, temos: GAO = %lucro/%quantidade.
Para um breve estudo acadêmico do GAO, analisemos o seguinte exemplo:
Suponhamos que uma empresa fabrique um produto, cujo volume máximo (capacidade instalada) seja de 1.500
unidades por mês. E que cada produto seja vendido à razão de R$ 20,00 por unidade.
Os custos variáveis são de $ 8,00/unidade.
Os custos fixos estão assim distribuídos:

1) Despesas administrativas diversas: $ 4.100,00


2) Aluguel mensal: $ 1.600,00
3) Outros custos fixos: $ 1.500,00
Total dos custos fixos: $ 7.200,00

Num determinado mês, o total de unidades produzidas e vendidas foi de 800 (oitocentas). Com esses dados, vamos
calcular o lucro quando a empresa atingir um volume de produção (e vendas) mensal de 1.000 unidades.
Antes de iniciarmos propriamente o dito cálculo do GAO, entendamos dois conceitos fundamentais: (a) margem de
contribuição; (b) ponto de equilíbrio.
Margem de contribuição (como já visto) é a diferença entre a receita e os custos/despesas variáveis.
Ponto de equilíbrio (contábil) é a quantidade vendida, cuja receita total é igual aos custos e despesas (fixos e
variáveis), onde o lucro é ZERO. É obtido pela divisão dos custos e despesas fixas pela margem de contribuição unitária.
Localizados a margem de contribuição e o ponto de equilíbrio do exemplo acima, poderemos, então, calcular o Grau de
Alavancagem Operacional. Para calcular o GAO a partir da quantidade, usaremos a seguinte equação:

GAO = Q × (P – V)/{Q × (P – V) – F}, onde:

Q = quantidade em relação à qual queremos calcular o lucro;


P = preço de venda unitário;
V = custo variável unitário;
F = custos fixos totais.

Analogamente, o GAO pode ser obtido a partir do valor das receitas. Para tanto, utilizaremos a seguinte equação:

GAO = {R – (V × Q)}/{R – (V × Q) – F}, onde:

R = receita total; mantidas as identificações anteriores.

RESOLUÇÃO:
Utilizando a fórmula (a partir da quantidade), teremos:

R$ 12.000,00 [(1.000 un. × R$ 12,00) (R$ 20,00 – R$ 8,00)] / R$ 4.800,00 [R$ 12.000,00 (1.000 un. × R$ 12,00) – R$
7.200,00] = GAO de 2,5.

O GAO de 2,5 vezes significa que, no volume de atividade de 800 unidades, qualquer acréscimo percentual no
volume dessa atividade implicará que o lucro aumentará proporcionalmente em 2,5 vezes. Para comprovar, vejamos o
lucro auferido na quantidade de 800 unidades e 1.000 unidades, respectivamente:
RECEITA BRUTA: 800 un. × R$ 20,00 = R$ 16.000,00
(–) Custos variáveis: 800 un. × R$ 8,00 = (R$ 6.400,00)
(–) Custos e despesas fixos: (R$ 7.200,00)
LUCRO: R$ 2.400,00
RECEITA BRUTA: 1.000 un. × R$ 20,00 = R$ 20.000,00
(–) Custos variáveis: 1.000 un. × R$ 8,00 = (R$ 8.000,00)
(–) Custos e despesas fixos: (R$ 7.200,00)
LUCRO: R$ 4.800,00

Consideremos que haja um acréscimo na produção (e venda) à razão de 87,5%, passando para 1.500 unidades, teríamos
um lucro de R$ 10.800,00 conforme demonstração a seguir:
RECEITA BRUTA: 1.500 un. × R$ 20,00 = R$ 30.000,00
(–) Custos Variáveis: 1.500 un. × R$ 8,00 = (R$ 12.000,00)
(–) Custos e despesas fixos: (R$ 7.200,00)
LUCRO: R$ 10.800,00

Portanto, o lucro passaria de R$ 2.400,00 para R$ 10.800,00 representando assim um acréscimo de forma proporcional
ao acréscimo da quantidade. Se o aumento da quantidade foi de 87,5%, o aumento no lucro foi de 350%, isto é: o lucro
cresceu PROPORCIONALMENTE ao crescimento da produção, na mesma razão direta, assim demonstrado:
Quantidade anterior: 800 unidades
Quantidade atual: 1.500 unidades
Aumento percentual das unidades: 87,5%
Lucro anterior: R$ 2.400,00
Lucro atual: R$ 10.800,00
Aumento percentual no lucro: 350%
PROPORCIONALIDADE DOS AUMENTOS (QUANTIDADE E RECEITA): 4,0, ou seja: 87,5% × 4 vezes = 350%

4.4 FIXAÇÃO DO PREÇO DE VENDA – MARK-UP

A fixação do preço de venda não pode (e não deve) estar desatrelada da relação com o mercado, em seu todo. Não somente
os preços que os consumidores estariam dispostos a pagar por determinado produto, mas também as questões relacionadas à
concorrência, à demanda e, também, aos fatores endógenos relativos ao processo produtivo. Conhecer os custos de
produção (por unidade e espécie fabricada) é fundamental para que o gestor possa, a partir desses valores, estabelecer
políticas de estratégias competitivas e gerir de forma competente todo o processo de fabricação, desde a aquisição da
matéria-prima (e insumos), como os demais itens componentes dos custos, sejam eles variáveis e/ou fixos.

Uma das ferramentas largamente utilizadas é o estabelecimento do preço de venda através do mark-up que, numa
tradução livre, equivale a uma “marcação” (monetária) acima do “ponto” de custo (valor final de produção), a partir do qual
a gestão pode tomar decisões mais racionais quanto ao valor possível de venda do produto em análise, isso porque o mark-
up contempla em seu aspecto conceitual e estrutural todos os valores de custo da venda (de produção, administrativos e
financeiros), como também o valor esperado de lucro na comercialização do produto em análise.
Assim considerado, abaixo segue um exemplo de formação de preço de venda com utilização do mark-up, como forma
de demonstração de sua validade e seu aspecto estrutural:
Consideremos que certo produto tenha seu custo final de produção identificado e calculado, à razão de R$ 15,00 por
unidade.
Utilizando a estrutura do mark-up para obtenção do preço de venda, consideremos ainda que:

a) A margem de lucro líquido esperada seja de 5%.


b) A comissão sobre vendas (+ encargos) seja de 3,8%.
c) O IR e a CSLL sejam calculados com base no lucro real.
d) O PIS e a COFINS sejam calculados no critério da cumulatividade.

Com base nessas informações, demonstremos o preço de venda:


VALOR UNITÁRIO DA VENDA: = 100% R$ 21,99
(–) ICMS sobre a venda: = 18,0% R$ 3,96
(–) PIS sobre receitas: = 0,65% R$ 0,14
(–) COFINS sobre vendas: = 3,0% R$ 0,66
(–) Comissão sobre vendas (+ encargos): = 3,8% R$ 0,83
(–) IR + CSLL sobre lucro: = 1,35% R$ 0,30
(–) Margem de lucro esperada: = 5,0% R$ 1,10
CUSTO UNITÁRIO DO PRODUTO (vide enunciado) R$ 15,00

1. Calculando efetivamente o preço de venda: 100% – (18 + 0,65 + 3,0 + 3,8 + 1,35 + 5,0) 31,80 = 68,20.
2. Operacionalizando fora da forma percentual, teremos: 100 – 0,31.80 = 0,6820.
3. Dividindo o custo (R$ 15,00) por 0,6820, teremos R$ 21,99, que é o preço de venda, sobre o qual calcularemos as
parcelas incidentes sobre o mesmo, conforme acima demonstrado. Se somarmos o custo com os demais valores,
encontraremos (logicamente) o valor de venda unitário. Note-se que ficou “preservada” em sua integralidade a
margem de lucro líquido esperada, como retorno do investimento.

Vale lembrar que, com essa adoção, a empresa “transfere” para o consumidor final TODOS os custos inerentes ao
processo de fabricação e vendas, inclusive o valor do lucro idealizado pelo empresário. Portanto, fica aqui demonstrado que
quem efetivamente paga imposto não é a empresa e sim o consumidor. Destarte, com a adequação da estrutura do mark-
up mais conveniente às especificidades da empresa, o gestor pode fixar o preço de venda levando em consideração todos os
fatores exógenos inerentes ao produto fabricado e vendido.

4.5 CUSTO DE OPORTUNIDADE: CONCEITO E FINALIDADE

O custo de oportunidade nem sempre é considerado no processo contábil e, embora seja altamente considerado pelos
economistas como o custo apropriado para tomada de decisão, é difícil ser identificado e medido na prática. Assim, os
contadores preferem usar medidas mais objetivas de custos, como custos históricos ou custos futuros orçados, como guias
para tomada de decisão.
Existem, todavia, inúmeras decisões nas quais o único custo relevante é o custo de oportunidade.
O custo de oportunidade pode ser definido como o valor da próxima melhor oportunidade rejeitada, ou os fluxos de
caixa perdidos como resultado de se preferir uma alternativa em vez de outra. Em casos em que esteja claro que somente o
custo de oportunidade irá auxiliar na tomada de decisão, os contadores estão aptos, geralmente, para tentar sua mensuração.
Exemplo: Uma empresa deseja investir R$ 1.000.000,00. Selecionou dois projetos para que sejam examinados. O
projeto “A”, que estima um retorno sobre o investimento de 15%, e o projeto “B”, que estima um retorno sobre o
investimento de 20% anualmente.
Baseando-se nesses fatos, está claro que a empresa selecionará o projeto “B”. O ganho adicional resultante dessa
decisão pode somente ser medido em termos de custo de oportunidade de “sacrificar” o projeto “A”.

Retorno anual esperado do projeto “B”: R$ 200.000


(–) Custo de Oportunidade (sacrifício do projeto “A”): R$ 150.000
Vantagem do projeto “B”: R$ 50.000

O conceito de custo de oportunidade é sempre um conceito relevante de custo, quando o problema com que a empresa
se depara é um problema de escolha.
Na mensuração do custo de decisão, é levada em conta também a perda decorrente da não aceitação da segunda melhor
alternativa. Esse é o custo de oportunidade, que deve ser levado em conta no cálculo das vantagens de escolher uma
alternativa, em vez de outra.
O uso do conceito do custo de oportunidade é ilustrado nas seguintes situações:

a) Descontinuidade de uma linha de produtos.


b) Vender ou continuar o processamento de um produto semifabricado.
c) Operar ou fazer um leasing.
d) Produzir ou comprar.

A seguir, um breve comentário sobre cada uma das situações acima mencionadas:

a) Invariavelmente, a razão para se desejar descontinuar uma linha de produtos é que estes não estão sendo lucrativos,
ou estão menos lucrativos do que uma outra linha de produtos na qual a firma pode utilizar os seus recursos. Ao se
realizar a opção por descontinuar, devem-se levar sempre em consideração os custos fixos do produto
descontinuado, que certamente deverão ser alocados aos demais que permanecerão sendo produzidos.
b) Existem ocasiões em que é possível à empresa vender seus produtos em um determinado estágio de fabricação
(semiprocessamento) em vez de continuar o processo produtivo, para, assim, vender um artigo terminado.
c) A decisão de investir ou fazer uma operação de leasing (arrendamento mercantil) de determinado ativo é outro
exemplo da importância do custo de oportunidade para tomada de decisão. Neste caso, tem-se que considerar o valor
residual do leasing, as parcelas mensais e o valor do ativo, para que se possa comparar, pelo menos, com a taxa de
depreciação, item de despesa operacional a ser comparado com a parcela mensal do leasing (também despesa
operacional), dentre outros conceitos.
d) É muito comum as empresas comprarem componentes prontos de outras firmas, que são especialistas. Na prática,
certamente, há um aumento na dependência com outras firmas para seus suprimentos e uma redução de seu controle
na qualidade de seus componentes. A abordagem do custo de oportunidade, para esse tipo de decisão, possibilita a
empresa considerar as vantagens que podem ser obtidas do uso alternativo de sua capacidade produtiva liberada,
pelo fato de contratar alguns dos seus componentes fora de seu processo fabril.

Isso posto, pode-se afirmar que conhecer a importância do denominado “custo de oportunidade” com profundidade e o
alcance possível é fundamental para que os responsáveis tomem decisões conscientes e consequentes sob o ponto de vista
financeiro e econômico das empresas em geral.

4.6 GESTÃO DE PREÇOS DE VENDA

Encontramos na teoria econômica os conceitos dos principais tipos de mercado: concorrência pura, monopólio, oligopólio e
concorrência monopolística.
Em busca do lucro, os empresários, dentro de uma economia capitalista, oferecem produtos e serviços aos
consumidores, visando atender a necessidades e gostos dos clientes. Os resultados positivos (lucros) acontecerão sempre
quando houver uma “harmonia” das necessidades/gostos dos consumidores e aquilo que os empresários estiverem
oferecendo ao mercado. Assim, pode-se afirmar que uma alteração dessas necessidades e/ou gostos ou, até mesmo, uma
retração no poder aquisitivo do consumidor, poderá trazer como consequência uma modificação estrutural de produtos e,
contingencialmente, em seus custos e preços de venda. Ao versar sobre esse assunto, assim comentaram HERNANDEZ
PEREZ JUNIOR, OLIVEIRA e GUEDES COSTA (2001, p. 264): “Ocorrerão lucros e prejuízos à medida que os
empresários façam previsões corretas dos desejos dos consumidores ou deixem de atendê-los.”
As decisões de preços influenciam diretamente as receitas das empresas, que devem superar seus custos e ensejar lucros.
Não é uma tarefa fácil, pois demanda um acurado estudo de, pelo menos, três influências, quais sejam:

a) Clientes.
b) Concorrentes.
c) Custos.

Relativamente aos clientes, conforme HORNGREN (2000, p. 302): “Os administradores devem sempre examinar as
questões relativas ao preço pela ótica dos seus clientes.” SUN TZU, no livro A arte da guerra, apud ZACCARELLI (2000,
p. 43), em uma adaptação para a administração feita por Krause, assim se expressou: “Se você conhecer seus clientes, seus
concorrentes e a si mesmo, suas estratégias não fracassarão, mesmo que você seja desafiado cem vezes.” Vários fatores
genéricos de competitividade devem fazer parte da gestão do preço de venda:

1) Relativos ao produto: desempenho, confiabilidade do produto, conformidade com especificações, adereços


opcionais, estética, qualidade, reputação, embalagem, facilidade de estocagem e transporte.
2) Relativos ao preço: preço baixo, prazo para pagamento, condições de pagamento, garantia de substituição, garantia
de reparos etc.
3) Relativos à atração dos clientes: localização, marca, frequência de renovação de estoque, variedade de produtos,
promoções, propaganda, reputação de confiabilidade nas entregas, integração com clientes.
4) Relativos à negociação: rapidez no atendimento, habilidade de vendas, flexibilidade em volume, flexibilidade
em mix de produtos etc.

No que tange aos concorrentes, HORNGREN afirma que as reações dos concorrentes influenciam a formação dos
preços. Ainda na mesma obra, o autor reafirma (2000, p. 302): “Uma empresa com conhecimento da tecnologia, da
capacidade instalada e das políticas operacionais dos concorrentes é igualmente capaz de fazer estimativas de custos dos
concorrentes, o que é uma informação valiosa para a fixação de preços competitivos.” Um aspecto que deve ser ponderado
ao examinar a influência dos concorrentes é a vantagem competitiva por diferenciação no negócio. Isso ocorre quando uma
empresa obtém vantagem sobre os concorrentes ao mudar a forma de negociar com fornecedores, sem alterar a qualidade e
outros atributos do produto. Assim, alguns diferenciais podem ser obtidos em relação aos concorrentes que operam de
forma tradicional, conforme exposição de ZACCARELLI (2000, p. 98):

– “mudar o canal de abastecimento ou distribuição, formando novo canal alternativo aos concorrentes, exclusivo
para a empresa;
– manter o canal atual, mas modificar a forma de atuação de fornecedores e distribuidores;
– manter o canal atual, mas integrar interesse das diversas empresas, geralmente criando sistemas conjuntos de
informações eletrônicas”.

Em relação à influência dos custos, sabemos que as empresas fixam valores de venda de modo a superar os respectivos
custos de fabricação, bem como ensejam retorno para o capital próprio. Em uma menção ao sintetizar as influências,
HORNGREN (2000, p. 302) afirmou: “O preço de um produto ou serviço é o resultado da interação entre as respectivas
demanda e oferta. Os clientes influenciam por meio de sua ação sobre a oferta. Os custos influenciam os preços porque eles
afetam a oferta. Os concorrentes oferecem produtos alternativos ou substitutos e, assim, afetam a demanda e o preço.”
Ao comentar a formação de preço de venda a partir do mercado, PADOVEZE (1997, p. 296) asseverou: “Assumindo a
condição de que o preço que o mercado está pagando é o máximo que a empresa pode atribuir ao seu produto, o preço de
mercado passa a ser o elemento fundamental para a formação dos custos e despesas” (grifo do autor). Essa afirmação nos
induz a perceber que a gestão de preços de venda deve ser encarada de tal forma responsável, pois as relações do preço não
se referem somente a uma influência. Principalmente em relação aos custos, é feito um caminho inverso, em que a
determinação dos custos e seu gerenciamento deverá seguir informações inferidas do mercado.
Uma sistemática largamente utilizada na formação do preço de venda é a feitura do mark-up. Seu uso tem sido
verificado em empresas de diversos portes e segmentos. O método de custo por absorção é o “ponto de partida” do mark-up.
Entretanto, sua construção está relacionada com percentuais aplicados sobre preço de venda, numa clara “transferência”
para o adquirente de todos os custos, despesas, margem de lucro esperada e demais encargos incidentes sobre a operação de
venda.
Uma sistemática de formação do preço de venda, largamente utilizada pelas empresas, é a utilização do mark-up.
Entretanto, ao enfocar o uso dessa sistemática para estabelecer preços, KOTLER (1998, p. 444) sugere a seguinte crítica:
“O uso de mark-ups padrões para estabelecer preços faz sentido lógico? Geralmente não. Qualquer método de preço que
ignora a demanda, o valor percebido e a concorrência, provavelmente, não levará a um preço ótimo.” Em relação ao foco
da margem de lucro desejada na feitura do mark-up, PADOVEZE (1997, p. 299) assim se expressou: “Um dos pontos mais
polêmicos é a relação da margem de lucro que deve ser alocada ao mark-up. A margem de lucro desejada é bastante
variável de empresa para empresa e depende de inúmeros fatores […]” (grifo do autor).
Quando estudamos questões relativas à gestão de preços de venda, encontramos também o CUSTO-META (TARGET
COST). Esse é o custo que resulta da comparação entre o preço de venda e o lucro desejado (preço de venda – lucro =
custo-meta). Abordando o tema, HERNANDEZ PEREZ JUNIOR (2001, p. 266) assim definiu o custo-meta:
“Conceitualmente, é o custo obtido pela subtração de um preço estimado (ou preço de mercado) da margem de
lucratividade desejada, com o objetivo de atingir um custo de produção (incluindo custos de engenharia e/ou de marketing)
igualmente desejado.”
Inserimos aqui algumas interrogações quanto à adoção do custo-meta para o estabelecimento do preço de venda:

a) Quais foram os parâmetros estabelecidos para a conclusão de que determinada taxa de lucro fosse aceita como ideal
para os empresários?
b) O preço de venda possível, necessariamente, suportará os CUSTOS REAIS para a fabricação de determinado
produto?
c) Para o estabelecimento de um determinado custo-meta não será necessário, também, reestruturar o ativo operacional
da empresa?
d) Para o procedimento da reestruturação do ativo, porventura necessária, não incidirão gastos que terão que ser
considerados na cadeia produtiva?

Essas são apenas algumas dúvidas elencadas, que, segundo nos parece, preliminarmente prejudicam a adoção do custo-
meta. Entretanto, podem ser os desafios que os gestores terão que enfrentar para promover a continuidade da empresa, em
um ambiente competitivo e globalizado.
Destarte, emerge o seguinte questionamento: é mais difícil gerir custos ou receitas? Em nossa visão, não cremos ser
fácil responder a questão, se formulada como está. Entendemos, outrossim, que ambas as gestões têm características
próprias. Porém, deve haver uma congruência das habilidades e especificidades, visando à continuidade com crescimento da
organização, cujo ambiente econômico competitivo e globalizado em que está inserida não admite falhas, para as quais as
“punições”, normalmente, ocorrem em um curto espaço de tempo.

4.7 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS: ÍNDICES DE LIQUIDEZ.


QUOCIENTES DE ENDIVIDAMENTO. QUOCIENTES DE RENTABILIDADE.
ANÁLISE VERTICAL E ANÁLISE HORIZONTAL. MÉTODO DUPONT DE ANÁLISE.
TERMÔMETRO DE INSOLVÊNCIA DE KANITZ. ANÁLISE DO CAPITAL DE GIRO

A proposta do presente tópico é de nortear os estudos relacionados com a análise financeira das empresas, contemplando os
principais índices exigidos pelo mercado em seu sentido geral. Os financiadores (bancos etc.), bem como os fornecedores,
procuram sempre estar atentos à denominada “saúde financeira” da empresa antes de consolidar uma determinada operação
mercantil e/ou financeira, a fim de que se possa antever a capacidade de pagamento da mesma.
A análise contempla vários indicadores, dentre os quais os que estão tratados no presente trabalho que, apesar de sua
conotação acadêmica, presta-se também ao desempenho profissional.
Assim, apresenta-se o texto seguinte, que contém ao final alguns exercícios com suas respectivas resoluções, com o
intuito de “clarear” e consubstanciar a abordagem conceitual de cada tópico presente neste texto.
Sinteticamente, pode-se dizer que a análise de uma empresa consiste num exame detalhado dos dados financeiros
disponíveis sobre ela (a empresa), bem como das condições endógenas e exógenas que a afetam financeiramente. Como
condições endógenas, podem-se citar, por exemplo, a estrutura da organização, a capacidade gerencial, o nível tecnológico
etc.; como condições exógenas, fatores de ordem política, ocorrência de fenômenos naturais incontroláveis etc. Em resumo,
o que interessa é a empresa e não as demonstrações financeiras. Afirmação descabida? Não. As demonstrações são apenas
canais de informações sobre a pessoa jurídica, tendo como objetivo principal subsidiar, como já dissemos, a tomada de
decisões. Fica evidente que a QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES é imprescindível para uma leitura profícua.
A análise financeira de uma empresa não se prende exclusivamente aos ditames aqui apresentados. É muito mais
dinâmica. Nunca é demais lembrar que qualquer análise (sintética ou de grandes detalhes) não se deve calcar sobre índices
isoladamente. A harmonia de todos os indicadores é a melhor interpretação sobre a “saúde” empresarial. Ao analista cabe a
sensibilidade ao “fotografar” os demonstrativos contábeis apresentados.
Visando ampliar a base conceitual do presente trabalho, apresentam-se a seguir as principais modalidades de análise dos
demonstrativos contábeis, procurando, ainda que resumidamente, discorrer sobre a finalidade e resultante de cada uma
dessas modalidades, bem como sobre as fórmulas matemáticas (aplicadas) empregadas nos cálculos pertinentes.

Índices de liquidez

a) Liquidez Imediata: indica quanto a empresa possui em caixa e outros disponíveis, para cada REAL de passivo de
curto prazo (circulante). A fórmula para o cálculo é:

Para efeito de análise, é um índice sem muito realce, pois relacionamos dinheiro disponível com valores que vencerão
em datas as mais variadas, dentro do curto prazo (na linguagem contábil).
b) Liquidez Corrente: indica quanto a empresa possui em dinheiro mais bens e direitos realizáveis no curto prazo,
comparado com suas dívidas a serem pagas também no mesmo período (curto prazo). Cabe ressaltar que, considerando os
estoques avaliados a custos históricos, o resultado desse índice tenderá a ser “pessimista”, o que não se daria se tais
estoques estivessem mensurados em valores atualizados. A fórmula para identificação do ILC (Índice de Liquidez Corrente)
é a seguinte:
c) Liquidez Seca: trata-se de um índice altamente “conservador”, pois desconsidera em seu cálculo os estoques, em
função de incertezas genéricas quanto à realização desse ativo (estoques). É largamente utilizado junto aos estabelecimentos
de crédito. O estoque é o item mais manipulável do Balanço Patrimonial. Pode tornar-se obsoleto a qualquer momento ou
pode perecer por circunstâncias diversas, alheias à vontade do gestor. Está representado pela seguinte fórmula:

d) Liquidez Geral: mostra a capacidade de pagamento da empresa a longo prazo, considerando tudo o que ela converterá
em dinheiro (a curto e longo prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu de dívidas (a curto e longo prazo). A
fórmula pra obtenção do índice é:

Quocientes de endividamento

a) Quociente de Participação de Capitais de Terceiros sobre os Recursos Totais: indica qual a porcentagem do Ativo
financiada com recursos de terceiros, mostrando a dependência da empresa junto a instituições financeiras. O ativo total
representa a totalidade dos recursos aplicados, enquanto a dívida financeira representa os recursos provenientes de bancos
e/ou outras fontes financeiras. Sua fórmula traz como resultado uma porcentagem, haja vista que estabelece uma relação de
participação. Para o cálculo, utiliza-se a divisão do exigível total pelo exigível total somado ao Patrimônio Líquido, ou seja:

b) Quociente de Capitais de Terceiros sobre Capitais Próprios: apresentado em índice, indica a participação de capitais
de terceiros em relação ao Patrimônio Líquido, retratando a dependência da empresa em relação aos recursos externos.
Quando apresenta índice superior a 1, denota a dependência exagerada de recursos de terceiros, sendo um sintoma clássico
de pré-falência da empresa. Sua fórmula é:

c) Quociente de Participação das Dívidas de Curto Prazo sobre o Endividamento Total: representa a composição de
dívidas de curto prazo, isto é, as obrigações de curto prazo comparadas com as obrigações totais. A fórmula é:

Quocientes de atividades (rotação)

Nesse grupo o propósito é estudar quantos dias a empresa demora, em média, para receber suas vendas, pagar suas
compras e para renovar seus estoques. Para fins de análise, quanto maior for a velocidade de recebimento de vendas e de
renovação de estoques, melhor; por outro lado, quanto mais lento for o pagamento das compras, melhor. Desde que não seja
por motivo de atraso (inadimplência).
Esse grupo de índices ajuda a entender melhor a situação financeira da empresa. Se a empresa está cada vez mais com
dificuldades financeiras, pode ser, muitas vezes, que o prazo de recebimento esteja muito defasado em relação ao prazo de
pagamento. Pode ser que o giro de estoque seja lento, enquanto o prazo de pagamento das compras é rápido, e assim
sucessivamente.
O fato de se ter um giro lento de estoque provoca um Índice de Liquidez Seca sempre baixo, haja vista que tais
estoques, por não girarem rapidamente, permanecem altos, comprometendo o resultado da análise, principalmente para fins
creditícios.
Alguns aspectos para o cálculo dos índices de atividades são citados a seguir:
Quando se fala em prazo médio de recebimento de clientes, não se está considerando apenas a venda a prazo, mas o
TOTAL das vendas. Se uma empresa vende 50% a prazo (e o restante a vista), com prazo de faturamento em torno de 60
dias, o PMRC deverá girar em torno de 30 dias (50% × 60 dias). Se alguém quisesse trabalhar com prazo de recebimento de
vendas a prazo, ter-se-iam muitas dificuldades, pois nem sempre (ou quase nunca) encontramos discriminado o total de
vendas a prazo. O mesmo esquema é válido para compras.
O total de vendas a ser utilizado é a RECEITA BRUTA (incluindo os impostos incidentes sobre vendas), por um lado, e
o total de duplicatas a receber, por outro (sem excluir as provisões e duplicatas descontadas). Assim, manter-se-á a
consistência na mesma base de cálculo.
Um problema que surge para o cálculo do prazo médio de pagamento de fornecedores é o valor das compras, já que a
DRE não destaca tal valor, mas apenas o CPV (Custo dos Produtos Vendidos) ou CMV (Custo das Mercadorias Vendidas).
Se se tratar de uma empresa comercial, tudo se simplifica, pois sabe-se que o CMV é a soma do estoque inicial com as
compras, deduzindo-se o estoque final. Assim, utilizando os valores de estoque de dois exercícios a serem analisados e o
próprio CMV constante na DRE, encontrar-se-á o valor das compras. Entretanto, tratando-se de uma empresa industrial, a
dificuldade se acentua, uma vez que surgem no cálculo do CPV os gastos gerais de fabricação (custos diretos, variáveis,
indiretos e fixos).
Esses índices não refletem a realidade, se aplicados em empresas que não têm compras e vendas UNIFORMES durante
o ano. Em outras palavras, não são adequados para empresas com vendas sazonais ou compras esporádicas.
Se, por um lado, vai se utilizar Vendas, Compras e Custos (contas da DRE), por outro lado, para cálculo dos prazos
médios, serão utilizados Duplicatas a Receber, Fornecedores, Estoques (contas do Balanço Patrimonial). Existe uma relação
direta entre elas (as contas):

– Vendas Duplicatas a Receber


– Compras Fornecedores
– Custos das vendas Estoques

As fórmulas dos quocientes de atividades (rotação) são a seguir identificadas, juntamente com suas representatividades:

1) Rotação dos Estoques: representa quantas vezes o estoque se renovou em função das vendas da empresa. Calcula-se
mediante a aplicação da seguinte fórmula:

2) Prazo Médio de Recebimento de Clientes: indica quanto tempo a empresa deverá esperar, em média, antes de receber
suas vendas a prazo. É calculado mediante a seguinte fórmula:

Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores: analogamente ao item 2, visto há pouco, quanto tempo, em média, a
empresa terá para pagar seus fornecedores de curto prazo. Aplica-se a seguinte fórmula:
3) Quociente de Posicionamento Relativo: indica a relação de tempo entre recebimento de vendas e pagamento de
compras. O ideal é que esse índice seja SEMPRE menor que 1, indicando que a empresa recebe de clientes ANTES de
pagar seus fornecedores. Sua fórmula de cálculo é:

4) Rotação do Ativo: indica quantas vezes o ATIVO girou pelas vendas. Pode ser desdobrado relacionando as vendas
com o Ativo Circulante ou as Vendas com o Ativo Permanente. Esse índice estabelece a relação entre as vendas do período
e os investimentos totais efetuados na empresa. É calculado pela fórmula:

Quocientes de rentabilidade

a) Retorno sobre o Ativo (RSA): indica a lucratividade que a empresa propicia em relação aos investimentos totais. Essa
taxa de retorno é obtida mediante a aplicação da seguinte fórmula:

b) Retorno sobre o Patrimônio Líquido: esse índice indica quanto de prêmio que os acionistas ou proprietários da
empresa estão obtendo em relação aos seus investimentos no empreendimento. O lucro, portanto, é o prêmio do investidor
pelo risco de seu negócio. É calculado mediante a seguinte fórmula:

c) Margem Líquida ou Retorno sobre as Vendas: compara o lucro líquido em relação às vendas líquidas (receita bruta –
deduções) do período, fornecendo o percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação ao seu faturamento.
Calcula-se utilizando a seguinte fórmula:

Análise vertical

O primeiro propósito da análise vertical é mostrar a participação relativa de cada item de uma demonstração em relação
a determinado referencial. No balanço, por exemplo, é comum determinarmos que porcentagem representa cada rubrica (e
grupo de rubricas) em relação ao ativo (ou passivo) total.
Em cada item do balanço, há determinados fatores de ordem externa ou interna que interferem. Como exemplo, temos
também o volume de estoques que uma empresa mantém, que está relacionado basicamente a dois fatores, ou seja: (a) à
política da empresa com relação ao prazo em que pretende girar seu estoque; (b) a seu volume de vendas. Daí, cabe destacar
que, apesar de estar-se observando no ativo o comportamento dos estoques, para uma melhor compreensão das causas de
sua variação será necessário analisar o comportamento das vendas na demonstração de resultado.
Ainda em relação aos percentuais obtidos pela análise vertical, para saber se os mesmos estão compatíveis com a
realidade do segmento de atuação da empresa, o analista poderá comparar os dados dessa empresa com os de outras
empresas atuantes no mesmo segmento, preferivelmente que sejam do mesmo porte e estejam localizadas em região
geográfica de características semelhantes.
Enquanto no balanço toma-se como base o ativo total para comparar os demais itens (nada impede que também
comparemos subgrupos: disponível e as contas ali contidas, onde o disponível seria a base 100), na Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE) tomam-se como base de cálculo as receitas líquidas (representando 100%), para
identificar a representatividade de cada uma das demais rubricas de receitas, custos ou despesas, conforme sua composição.
Ressalte-se que a utilização de receitas líquidas prende-se ao fato de as informações anteriores na DRE (Receita bruta e as
deduções – impostos e vendas canceladas) já terem seus valores devidamente estabelecidos através de porcentagens fixas
(para os tributos) e as vendas canceladas serem irrelevantes como itens comparativos na análise em tela. Somente com os
números absolutos, a leitura comportamental do relatório fica prejudicada. Somente isso já tornaria relevante a prática dessa
análise.
Em síntese, pode-se afirmar que a análise vertical é a comparação de duas grandezas, em que uma é parte integrante do
todo. Exemplo: comparando o valor constante do Ativo Permanente e o Ativo Total de um Balanço Patrimonial, iremos
constatar qual a porcentagem do Permanente em relação ao Ativo Total, através da divisão do Permanente pelo Ativo
Total.
Analogamente, podem-se estabelecer comparações entre contas e o grupo a que pertencem (por exemplo: qual é a
participação da conta “Estoques” em relação ao “Ativo Circulante”?), e assim sucessivamente.

Análise horizontal

O propósito da análise horizontal é permitir o exame da evolução histórica (comparação de dois ou mais exercícios) de
cada uma das contas que compõem as demonstrações financeiras.
Tradicionalmente, na análise horizontal tomamos o primeiro exercício como base 100 e estabelecemos a evolução dos
demais exercícios comparativamente a essa base inicial. Raciocínio análogo pode ser aplicado a cada uma das contas de
receitas, custos ou despesas contidas na Demonstração de Resultado, porém é sempre importante que o analista procure
concentrar maior atenção nos itens de valores preponderantes.
Os métodos de análise vertical e horizontal prestam valiosa contribuição na interpretação da estrutura e da tendência dos
números de uma empresa. Podem ainda auxiliar na análise dos índices financeiros e em outros métodos de análise. De certa
forma, análise vertical e horizontal se completam e até se sobrepõem. Na realidade, essas análises não explicam as razões
que levaram a empresa a se comportar naquela performance; elas levantam questões e tendências, sendo isso de grande
valia para a análise

MÉTODO DUPONT DE ANÁLISE

O Sistema de Análise DuPont, conforme GITMAN (1997), é assim chamado devido à DuPont Corporation, que
originalmente popularizou seu uso. Ele é usado por administradores financeiros para dissecar as demonstrações financeiras
da empresa e avaliar sua condição financeira. O sistema DuPont funde a demonstração financeira e o Balanço Patrimonial
em duas medidas de resumo de lucratividade: taxa de retorno sobre o ativo total (ROA) e taxa de retorno sobre o Patrimônio
Líquido (ROE). Iudícibus (1998) salienta que o mais importante quociente individual de toda a análise de balanços é o de
Retorno sobre o Ativo, também conhecido por ROI (Return On Investment). Isso porque representa a medida global de
desempenho da empresa levando em consideração todos os fatores envolvidos.
Ainda segundo GITMAN (1997), o Sistema DuPont faz um elo entre a margem líquida com o giro do ativo total. Sendo
assim, a fórmula DuPont multiplica esses dois índices para achar o ROA, conforme apresentado na fórmula abaixo:

ROA = margem líquida × giro do ativo total

Em sem livro, GITMAN (1997) apresenta analiticamente a fórmula do ROA descrita anteriormente, da seguinte
maneira:
Para encontrar o ROA, utilizam-se as vendas. Porém, pode-se simplificar a fórmula excluindo-se as vendas e dividindo-
se automaticamente o lucro líquido após o Imposto de Renda pelo total de ativos, chegando-se ao mesmo resultado, assim
concluindo-se o primeiro passo para resolução do modelo DuPont.
Continuando GITMAN (1997), o segundo passo do sistema DuPont utiliza a fórmula DuPont Modificada, relaciona o
rendimento da empresa sobre o total de ativos (ROA) com sua taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), usando o
Multiplicador de Alavancagem Financeira (MAF).
O autor define Multiplicador de Alavancagem Financeira como “o índice do total de ativos da empresa em relação ao
patrimônio líquido”.
Para GITMAN (1997), a fórmula DuPont Modificada relaciona o ROA com o ROE, sendo que o ROE é calculado pela
multiplicação entre a ROA e o Multiplicador de Alavancagem Financeira, que é o índice do total do ativo dividido pelo
Patrimônio Líquido, conforme fórmulas descritas abaixo:

Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) = ROA × MAF


Gitman então apresenta a seguinte fórmula para cálculo do ROE:

O mesmo autor considera que “o uso do multiplicador de alavancagem financeira para converter ROA para ROE reflete
o impacto da alavancagem (uso da dívida) sobre o retorno dos proprietários”. Sobre o modelo DuPont, afirma GITMAN
(1997) que: a vantagem considerável do sistema DuPont é que ele permite à empresa dividir sua taxa de retorno sobre o
Patrimônio Líquido em três partes: um componente de lucro sobre vendas (margem líquida), um componente de eficiência
de uso dos ativos (giro do ativo total) e um componente de uso da alavancagem (multiplicador de alavancagem financeira).
O rendimento total para os proprietários pode, por conseguinte, ser analisado nessas dimensões importantes.
O sistema DuPont, para SANTOS (2001, p. 240), é um indicador que possibilita o desmembramento do índice de
retorno sobre o ativo em dois outros índices para permitir melhor visualização da eficiência da empresa. Esses índices são o
Retorno Sobre as Vendas e o Giro do Ativo Total e, com isso, é possível identificar se o retorno sobre o ativo deu-se pela
lucratividade das vendas ou pela eficiência na utilização do ativo, o qual pode ser representado pela fórmula a seguir:

O sistema de análise DuPont, nomeado dessa forma pelo fato de ter sido desenvolvido por uma empresa cujo nome é
DuPont, funde o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado do Exercício de forma a dissecar e fazer um
cruzamento das informações com o objetivo de apresentar uma análise completa da empresa. A análise da empresa através
de elementos contábeis possibilita aos administradores financeiros monitorar a mesma. Analisando o passado e visualizando
as metas traçadas, podem-se fazer inferências sobre a tendência da empresa em termos de continuidade ou não no mercado.

TERMÔMETRO DE INSOLVÊNCIA DE KANITZ

No Brasil, Stephen C. Kanitz desenvolveu um trabalho que se denominou “termômetro de insolvência”, que é composto
por um número reduzido de quocientes. Através de um tratamento estatístico de dados de algumas empresas (que vieram à
falência), construiu um instrumento para aferição da condição econômico-financeira das empresas, ao relacionar alguns
quocientes atribuindo pesos aos mesmos e somando/subtraindo esses valores obtidos. O resultado pode recair em uma zona
de solvência, penumbra ou insolvência.
O fator de insolvência elaborado por Kanitz tem a seguinte forma:

X1 + X2 + X3 – X4 – X5, onde:
7
6
5
4
ESTADO DE SOLVÊNCIA
3
2
1
0
–1
–2 ESTADO DE PENUMBRA
–3
–4
–5
ESTADO DE INSOLVÊNCIA
–6
–7

Capital de Giro – Conceitos Básicos

O Capital de Giro de uma empresa está representado pelas contas do Ativo Circulante. Também conhecidos sob a
denominação de “capital circulante”, são esses valores que “sustentam” o dia a dia das empresas. São os valores que estão
em constante “giro”: dinheiro que entra e sai do caixa e conta bancária, recebimento de duplicatas de clientes, vendas a
prazo que são registradas na chamada “carteira de cobrança” das empresas; são estoques que sempre também estão em
frequente giro pela relação entre a compra e a venda desses ativos… enfim, o conceito de giro está embasado na visão de
que tais ativos, pela operacionalidade da empresa, estão sempre em frequente e intensa movimentação.
Dessa forma, temos que o Capital de Giro (CG) é: Capital de Giro = Ativo Circulante.

Capital de Giro Líquido – definição sistêmica


Semelhantemente ao giro das contas do Ativo Circulante, temos também a movimentação constante das contas do
Passivo Circulante (dívidas/obrigações de curto prazo). Portanto, para que se identifique monetariamente o Capital de Giro
Líquido, basta deduzir do Ativo Circulante o montante do Passivo Circulante.
Similarmente ao CG, o CGL é também conhecido como “Capital Circulante Líquido”.
Assim considerado, o Capital de Giro Líquido (CGL) é assim calculado: Ativo Circulante – Passivo Circulante.

Necessidade de Capital de Giro (NCG) – conceitos e fórmula

Um dos maiores desafios da administração financeira (para qualquer porte e tipo de empresa) é a correta gestão
(dimensionamento) da necessidade de capital de giro para tais organizações. Se a gestão mantém um volume elevado de
capital de giro, certamente estará desviando recursos financeiros que poderiam, por exemplo, ser aplicados no Ativo Não
Circulante, especialmente nas inovações tecnológicas (imobilizado). Por outro lado, um volume muito reduzido desse
capital (de giro) poderá restringir a capacidade operacional e, consequentemente, a renovação de estoques visando à
melhoria (quantitativa e qualitativa) das vendas.
Daí, nota-se que conhecer com mais profundidade a necessidade de capital de giro de uma empresa e manter esse capital
(de giro) em níveis operacionais corretos e propiciar a renovação de seu imobilizado é ponto crucial para os
administradores, que certamente demandarão informações precisas e cabais dos controllers (contadores).
A necessidade de capital de giro é função do nível de atividade de uma empresa. Seu aumento tanto pode ocorrer em
períodos de rápido crescimento como também em períodos de queda nas vendas. O saldo de tesouraria se tornará cada vez
mais negativo com o crescimento das vendas, caso a empresa não consiga que seu autofinanciamento cresça nas mesmas
proporções do seu crescimento da necessidade de capital de giro. Esse crescimento negativo do saldo de tesouraria é
denominado efeito tesoura.
A NCG (Necessidade de Capital de Giro) é calculada (e estimada) de duas maneiras fundamentais:

a) com base no ciclo financeiro; ou


b) com base nos demonstrativos contábeis (balanço patrimonial).

A primeira modalidade aplica-se quase exclusivamente para as empresas em início de sua existência organizacional,
quando ainda não existem dados concretos para seu cálculo. Utilizam-se algumas projeções, cujos valores são diluídos em
períodos futuros. A fragilidade dessa modalidade está exatamente na falta de “história” econômico-financeira das empresas,
uma vez que as realizações futuras poderão demonstrar um “distanciamento” entre o previsto e o realizado.
A segunda modalidade requer que se reclassifique o Balanço Patrimonial (algumas contas tanto do ativo como do
passivo), com a finalidade precípua de “preparar” o balanço para a correta visão (cálculo e identificação) da NCG. Essa
reclassificação considera o balanço patrimonial da seguinte maneira:

ATIVO NÃO CIRCULANTE (ANC): composto pelos itens de longo prazo (realizável de longo prazo), investimentos,
imobilizado e intangível.
ATIVO OPERACIONAL (AO): representado pelas contas que dependem das características do ciclo operacional:
duplicatas a receber (clientes), estoque de mercadorias e outros valores a receber/recuperar que ocorrerão com frequência
(exemplo: ICMS a recuperar).
ATIVO FLUTUANTE (AF): corresponde aos itens de curtíssimo prazo e que possuem natureza transitória: caixa,
banco conta-movimento e aplicações financeiras de curtíssimo prazo.
PASSIVO PERMANENTE (PP): é formado pelas contas de longo prazo do passivo e representa a fonte permanente de
recursos financeiros da empresa. É igual à soma do exigível a longo prazo com o patrimônio líquido.
PASSIVO OPERACIONAL (PO): representa as contas do passivo vinculadas ao ciclo operacional da empresa, tais
como fornecedores, salários, encargos, impostos, taxas e outras contas a pagar.
PASSIVO FLUTUANTE (PF): corresponde aos itens de curtíssimo prazo do passivo circulante que não têm vinculação
direta com as operações da empresa. São eles: empréstimos, financiamentos e outras obrigações financeiras de curto prazo.

O capital de giro é extremamente importante para as empresas, haja vista que é com estes recursos que a empresa
mantém-se em funcionamento no curto prazo. Caso a empresa não administre corretamente os itens que fazem parte do
capital de giro, isso poderá levá-la a uma situação de insolvência.
Frequentemente, os problemas de capital de giro surgem como consequência de uma redução de vendas. Neste caso, o
administrador financeiro se defronta com questões como manter o capital de giro sob controle diante de um quadro de
redução das vendas e o que pode ser feito para evitar uma crise maior de capital de giro.
Assim, calculada com base nos demonstrativos contábeis (Balanço Patrimonial), a fórmula para se encontrar a NCG
nada mais é que o valor da diferença entre o Ativo Operacional (AO) menos o Passivo Operacional (PO), considerando
como tais as contas acima identificadas como componentes de cada um desses grupos do balanço.
Visando exemplificar os conceitos acima e como forma de fixar os conteúdos, apresentamos alguns exercícios
devidamente resolvidos, contemplando os cálculos pertinentes.

Exercícios teóricos e práticos de análise das demonstrações financeiras

PRIMEIRO EXERCÍCIO:

Considere as afirmativas para apontar a alternativa INCORRETA:

I. Os índices de liquidez, excluso o ILG, apontam a capacidade de pagamentos, na visão de curto prazo.
II. O QCTCP menor que 1 representa uma situação de extrema dependência de capital de terceiros.
III. Quando o PMRC é maior que o PMPF, significa que a empresa recebe dos clientes antes de pagar aos fornecedores.
IV. O capital de giro de uma empresa é seu ativo circulante.
V. A NCG está representada pela seguinte fórmula: AO – PF.

( ) As afirmativas I e a IV estão corretas.


( ) As afirmativas II e a V estão incorretas.
( ) A afirmativa III está incorreta e a afirmativa IV está correta.
( X ) As afirmativas IV e V estão incorretas

SEGUNDO EXERCÍCIO:

Considere as afirmativas para apontar a alternativa CORRETA:

I. O índice de liquidez seca (ILS) é tido como o menos conservador dos índices de liquidez. INCORRETO.
II. Quando o PMRC é menor que o PMPF, significa dizer que a empresa está “dilapidando” seu capital de
giro. INCORRETO.
III. O capital de giro líquido (ou CCL) é a resultante do ativo circulante, deduzido do passivo circulante. CORRETO.
IV. Na análise vertical, a comparação dos itens da DRE é com a Receita Operacional Bruta – ROB (base da
análise). INCORRETO.
V. O Ativo Flutuante (AF), bem como o Passivo Flutuante (PF), referem-se exclusivamente às contas de natureza
financeira: caixa, bancos, empréstimos e financiamentos. CORRETO.

( ) As afirmativas I e II estão corretas.


( ) A afirmativa III está incorreta.
( X ) A afirmativa IV está incorreta e a afirmativa V está correta.
( ) Todas as afirmativas estão corretas.

TERCEIRO EXERCÍCIO:

A empresa “Novomundo” é do ramo comércio varejista de materiais para construção e está pleiteando um empréstimo junto
ao BNDES (em 02/01/2010) que resultará no montante de R$ 349.920,00 (inclusos os juros) a ser pago em 48 prestações,
com a finalidade de construir sua sede. Mantidas as médias (vendas, custo, despesas etc.) do ano de 2009, é econômica e
financeiramente sustentável essa pretensão? Para responder a esse questionamento, devem-se identificar (em 2009) os
índices de liquidez, quocientes de endividamento, rotatividade, capital de giro e necessidade de capital de giro.
Balanço patrimonial da empresa Novomundo em 31/12/2008
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE 76.788,00 CIRCULANTE 88.970,00
Caixa 55,00 Salários a pagar 5.522,00
Banco c/ Movimento 1.400,00 FGTS a Recolher 410,00
Aplic. Financ. Curtíssimo Prazo 11.345,00 INSS a Recolher 2.380,00
Dupl. a Receber 28.323,00 PIS a Recolher 132,00
Estoque de Mercadorias 35.665,00 COFINS a Recolher 2.203,00
NÃO CIRCULANTE 138.907,00 Empréstimos 51.435,00
Bancários
Realiz. Longo Prazo Fornecedores 26.888,00
Títulos a Receber 4.025,00 NÃO CIRCULANTE 42.111,00
Investimentos Exigível de Longo 42.111,00
Prazo
Participações em Outras 11.438,00 PATRIMÔNIO 84.614,00
Empresas LÍQUIDO
Imobilizado Capital Social 75.000,00
Instalações 60.500,00 Reserva de Lucros 9.614,00
Veículos 62.944,00
TOTAL DO ATIVO 215.695,00 TOTAL DO PASSIVO 215.695,00

Obs.: o veículo e as instalações foram adquiridos em 30/12/2008.

Balanço patrimonial da empresa Novomundo em 31/12/2009

ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE 93.829,60 CIRCULANTE 61.113,00
Caixa 926,60 Salários a pagar 8.204,00
Banco c/ Movimento 12.745,00 FGTS a Recolher 728,00
Dupl. a Receber 32.348,00 INSS a Recolher 3.475,00
Estoque de Mercadorias 47.810,00 PIS a Recolher 292,00
NÃO CIRCULANTE 148.555,20 COFINS a Recolher 1.347,00
Imobilizado IR/CSLL a Recolher 22.865,00
Instalações 60.500,00 ICMS a Recolher 8.094,00
(–) Deprec. Acum. Instalações (6.050,00) Fornecedores 16.108,00
Veículos 62.944,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 181.271,80
(–) Deprec. Acum. Veículos (12.588,80) Capital Social 100.000,00
Terrenos 43.750,00 Reserva de Lucros 81.271,80
TOTAL DO ATIVO 242.384,80 TOTAL DO PASSIVO 242.384,80

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO DA EMPRESA NOVOMUNDO EM 31/12/2009


RECEITA OPERACIONAL BRUTA
538.655,00
Venda de Mercadorias
(–) IMPOSTOS INCIDENTES SOBRE VENDAS
ICMS s/ vendas 96.957,90
PIS s/ receitas 3.501,26
COFINS s/ vendas 16.159,65 (116.618,81)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 422.036,19
(–) CUSTO DAS MERCADORIAS VENDIDAS (156.153,39)
LUCRO OPERACIONAL BRUTO 265.882,80
(–) DESPESAS OPERACIONAIS
Despesas Administrativas 26.400,00
Despesas com Vendas 144.960,00 (171.360,00)
LUCRO ANTES DO IR/CSLL 94.522,80
(–) Imposto de Renda/CSLL (22.865,00)
RESULTADO DO EXERCÍCIO 71.657,80

RESOLUÇÃO:

2) QUOCIENTES DE ENDIVIDAMENTO
QUOCIENTE DE PARTICIPAÇÃO DE CAPITAL DE TERCEIROS SOBRE OS RECURSOS TOTAIS:

QUOCIENTE DE PARTICIPAÇÃO DE TERCEIROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO:

QUOCIENTE DE PARTICIPAÇÃO DAS DÍVIDAS DE CURTO PRAZO SOBRE O ENDIVIDAMENTO TOTAL:

3) QUOCIENTES DE ATIVIDADE (ROTAÇÃO)


ROTAÇÃO ESTOQUE: 156.153,39 = 3,74 giros
41.737,50
PMRC: 30.535,50 = 20 dias
1.496,26
PMPF: 21.498,00 = 46 dias
467,50
CGL (CCL): 93.829,60 = 93.829,60 – 148.593,00 =
– 61.113,00
= 32.716,60 = (49.763,40)
NCG: 80.158,00 – 80.158,00 – 148.593,00 =
61.113,00 =
= (19.045,00) = (68.435,00)

QUARTO EXERCÍCIO

ATIVO PASSIVO
CONTAS 2008 2009 CONTAS 2008 2009
CIRCULANTE 301.565 398.202 CIRCULANTE 280.366 279.621
Caixa/Bancos 44.280 32.160 Sal. a Pagar 56.610 87.460
Dupl. a Receber 98.650 153.412 INSS a Recolher 18.373 32.184
Estoques 158.635 212.630 FGTS a 4.891 7.766
Recolher
NÃO CIRCULANTE 511.945 620.545 IR/CSLL a 65.532 65.046
Recolher
INVESTIMENTOS Fornecedores 134.960 87.165
Particip. Societária 90.000 140.000 PATRIM. 533.144 739.126
LÍQUIDO
IMOBILIZADO Capital Social 250.000 250.000
Máquinas 326.945 326.945 Res. de Lucro 283.144 489.126
Equipamentos
Veículos 95.000 153.600
TOTAIS 813.510 1.018.747 813.510 1.018.747

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (RESUMIDA) ANO DE 2009


RECEITA OPERACIONAL BRUTA 1.840.960
(–) Impostos s/ vendas (398.568)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.442.392
(–) Custo das Mercadorias Vendidas (601.073)
LUCRO OPERACIONAL BRUTO 841.319
(–) Despesas Administrativas 91.846
(–) Despesas com Vendas 478.445 (570.291)
(=) Lucro Antes do IR/CSLL (LAIR) 271.028
(–) Provisão para IR/CSLL (65.046)
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO 205.982

PEDE-SE: analisar a empresa sob os seguintes aspectos: capacidade de pagamento (todos os índices de liquidez),
quocientes de endividamento (os três), a análise vertical da DRE e o Termômetro de Insolvência de Kanitz, todos de 2009.

RESOLUÇÃO
ANÁLISE VERTICAL DA DRE (2009): base (Receita Operacional Líquida) = 658.681
CMV: 41,67%
Despesas: 39,54%
Resultado do Exercício: 14,28%

TERMÔMETRO DE KANITZ (2009):


X1: 0,05 × 0,28 = 0,01
X2: 1,65 × 1,42 = 2,34
X3: 3,55 × 0,66 = 2,34
X4: 1,06 × 1,42 = 1,51
X5: 0,33 × 0,38 = 0,13
Identificação no termômetro: X1 + X2 + X3 – X4 – X5: 0,01 + 2,34 + 2,34 – 1,51 – 0,13 = 3,05 (situação solvente)

QUINTO EXERCÍCIO

O quadro a seguir representa o balanço da Empresa “Giramundo”, recentemente levantado. Os principais dados desse
balanço mostram clara tendência de estabilidade, quando comparados com os balanços dos dois anos anteriores. Com base
nos dados desse balanço, responda às seguintes questões:
a) Qual o valor do capital de giro da empresa?
b) Alguma parcela do capital de giro está sendo financiada com recursos de longo prazo (exigível a longo prazo ou
patrimônio líquido)?
c) Qual o valor do índice de liquidez seca? Como você interpreta o índice calculado?
d) Considerando que no setor em que atua essa empresa a relação entre capital de giro e capital total (ativo circulante sobre
ativo total) é, em média, 0,27, como você avalia essa relação na “Giramundo”?
e) Com base apenas nos dados apresentados, seria possível avaliar a adequação do volume de estoques dessa empresa?

Balanço patrimonial da Empresa Giramundo

ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE 76.788,00 CIRCULANTE 88.970,00
Caixa 55,00 Salários a pagar 5.522,00
Banco c/ Movimento 1.400,00 FGTS a Recolher 410,00
Aplic. Financ. Curtíssimo Prazo 11.345,00 INSS a Recolher 2.380,00
Dupl. a Receber 28.323,00 PIS a Recolher 132,00
Estoque de Mercadorias 35.665,00 COFINS a Recolher 2.203,00
NÃO CIRCULANTE 138.907,00 Empréstimos 51.435,00
Bancários
Realiz. Longo Prazo Fornecedores 26.888,00
Títulos a Receber 4.025,00 NÃO CIRCULANTE 42.111,00
Investimentos Exigível de Longo 42.111,00
Prazo
Participações em Outras 11.438,00 PATRIMÔNIO 84.614,00
Empresas LÍQUIDO
Imobilizado Capital Social 75.000,00
Instalações 60.500,00 Reserva de Lucros 9.614,00
Veículos 62.944,00
TOTAL DO ATIVO 215.695,00 TOTAL DO PASSIVO 215.695,00

RESOLUÇÃO

Análise do capital de giro:


a) R$ 76.788,00.
b) Não, pois o capital de giro líquido é negativo (– R$ 12.182,00).
c) R$ 0,46. O valor do índice está abaixo do recomendado.
d) Alta (0,36 contra 0,27 da média setorial).
e) Não, pois faltam dados operacionais.

4.8 PARTE PRÁTICA – QUESTÃO DO EXAME DO CFC COM RESOLUÇÃO DIDÁTICA

• QUESTÃO 29 – 2016/1
Temática: análise das demonstrações financeiras – interpretação

Uma Sociedade Empresária apresentou os seguintes índices, calculados a partir dos dados de suas demonstrações contábeis,
para os anos de 2014 e 2015:
Índice Fórmula de Cálculo 2014 2015

Rentabilidade do Ativo Lucro Líquido / Ativo Total 18,75% 18,76%


Rentabilidade do Patrimônio Líquido Lucro Líquido / Patrimônio Líquido 26,79% 28,13%
Endividamento Capital de Terceiros / Patrimônio Líquido 42,90% 50,00%
Giro do Ativo Vendas Líquidas / Ativo Total 1,25 1,55
Margem Líquida Lucro Líquido / Vendas Líquidas 15,00% 12,10%
Liquidez Corrente Ativo Circulante / Passivo Circulante 1,43 1,22

Considerando-se os índices apresentados, conforme fórmula de cálculo expressa no quadro anterior, é CORRETO
afirmar que:
a. a redução na Liquidez Corrente em conjunto com o aumento na Rentabilidade do Patrimônio Líquido explicam a
redução na Margem Líquida.
b. a redução na Margem Líquida de 2015, em relação ao ano anterior, foi compensada pelo aumento no Giro do Ativo, o
que manteve a Rentabilidade do Ativo aproximadamente a mesma.
o aumento no Endividamento de 2015, em relação ao ano anterior, foi compensado pela redução na Liquidez Corrente, o
c. que manteve a Rentabilidade do Ativo aproximadamente a mesma.
d. o aumento no Giro do Ativo em conjunto com o aumento na Rentabilidade do Patrimônio Líquido explicam a redução
na Margem Líquida.

GABARITO CFC: Alternativa correta letra “B”

DESCOMPLICANDO A RESOLUÇÃO
O que o enunciado está requerendo?
A questão evidencia a relação direta e objetiva entre os índices apontados no enunciado. Portanto, é necessário observar
se existe (ou não) uma relação de “causa e efeito” nas interações dos índices elencados nas alternativas apresentadas.
Tais fatos serão objeto de análise individualizada em cada uma dessas alternativas, visando elucidar as razões pelas
quais existem (ou não) relações diretas (o que aqui se denominou “causa e efeito”).

Por que a alternativa “A” está incorreta?


A alternativa “A” diz respeito aos prováveis fatores que provocaram a redução da margem líquida (de 15,0% em 2014
para 12,10% em 2015).
Primeiramente, deve-se entender que o cálculo da margem líquida relaciona as contas da DRE (lucro líquido e vendas
líquidas). Conforme demonstrado (fórmula) no quadro do enunciado, essa margem é obtida mediante a divisão do lucro
líquido pela receita líquida (equivalente a uma análise vertical da DRE). Assim admitido, entenda-se que:

1. a liquidez corrente diz respeito à capacidade de pagamento (das dívidas de curto prazo). Portanto, não há base
objetiva para relacionar a redução da liquidez (corrente) com a margem líquida, uma vez que o aumento e/ou
redução desse índice de liquidez pode ter como causa um aumento das dívidas de curto prazo (por exemplo, a
aquisição de imobilizado financiado a curto prazo) e não uma relação direta com as vendas, entre outras contas
contábeis da DRE;
2. quanto ao aumento da rentabilidade do patrimônio líquido, esse fato geraria também um aumento na margem
líquida, uma vez que o lucro líquido faz parte do cálculo (fórmula) de ambos.

Vistas tais explanações, pode-se afirmar que a alternativa “A” não procede conceitualmente e, por isso mesmo, não é a
resposta da questão.

Por que a alternativa “B” está correta?


No que se refere à alternativa “B”, pode-se afirmar que o aumento do giro do ativo significa (também) uma eficiência
quanto às vendas. Isto é, mesmo que a margem líquida tenha se reduzido por razões de redução das receitas, o giro do ativo
será menor, ou, em outras palavras, se o ativo foi “utilizado” (giros) menos vezes e gerou receita suficiente para cobrir todos
os gastos (custos e despesas), gerando lucro, trata-se da eficiência das vendas exigindo menor esforço (utilização = giro) do
ativo.
Nesse caso, pode-se afirmar que há uma relação objetiva entre os fatos. Ou seja, o giro do ativo compensou a redução da
margem líquida, propiciando estabilidade na rentabilidade do ativo.

Por que a alternativa “C” está incorreta?


Aqui deve-se compreender que aumento e/ou redução da liquidez corrente ocasionaria aumento ou redução objetiva do
endividamento, uma vez que:

1. em relação ao índice de liquidez corrente, a comparação é entre o ativo circulante e o passivo circulante, contas de
Ativo versus contas do Passivo;
2. o aumento (ou redução) do endividamento relaciona capital de terceiros com capital próprio. Portanto, não guarda
relação direta com o ativo circulante;
3. a manutenção da rentabilidade do ativo, como já visto, relaciona o resultado obtido (DRE) com o ativo total.
Portanto, tais afirmativas são descabidas.
Por que a alternativa “D” está incorreta?
O que se destaca como incorreção nessa alternativa é que a redução da margem líquida é, fundamentalmente,
relacionada com as vendas e os gastos (gerais) necessários para sua (das vendas) geração. Portanto, não será o aumento da
rentabilidade do PL e/ou melhoria no giro do ativo que explicariam a redução na margem líquida.
Por oportuno, destaque-se que a margem líquida influencia a rentabilidade do PL e o giro do ativo, pois ambas as
análises estão atreladas (originadas estruturalmente) à margem líquida.

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