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JOÃO PESSOA-PB
2012
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JOÃO PESSOA – PB
2012
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BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profª. Lúcia Helena Coutinho Serrão
Orientadora
Faculdade Unida da Paraíba - UNPB
________________________________________
Prof. Theodan Stephenson Cardoso Leite
1º Examinador
Faculdade Unida da Paraíba - UNPB
________________________________________
Profª. Esp. Maria do Socorro Florêncio Santos
2º Examinador
Faculdade Unida da Paraíba - UNPB
3
DEDICATÓRIA
À minha querida avó Santina Laureano de Lima (in memorian) que , em vida, foi a mais
companheira, a maior educadora e o meu maior exemplo de amor e dedicação.
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“A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis
adquire o entendimento. Quanto melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! E mais
excelente, adquirir o conhecimento do que a prata!" Provérbios 4:7; 16:16
5
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor meu Deus, a Ele e somente a Ele seja toda honra, toda glória e todo louvor!
Graças te dou Senhor por todo teu amor e misericórdia!
Aos meus pais Eliezer Ferreira da Silva e Lindalva Miguel da Silva, minhas colunas
principais. Minhas fontes de amor, carinho e confiança, obrigado!
À minha querida irmã Aldrey Suely que esteve sempre comigo ao longo dessa jornada
incentivando e valorizando tudo que faço. Minha irmã e amiga: muito obrigada!
Ao meu namorado Toufik Vinícius que no momento mais crucial despendeu seu amor,
acreditou e incentivou o meu trabalho. Amor: agradeço-te!
Às minhas queridas amigas Alisandra Fidélis e Penha Brito. Essas amigas de todas as
horas sempre estiveram comigo, compartilhando dos melhores momentos e me dando forças
quando mais precisava. Vocês fazem parte da minha luta, valeu meninas!
Às minhas amigas de uma vida: Denise Vieira e Kelly Justino. Como diz a Bíblia, há
amigo mais chegado que um irmão. Então a essas amigas irmãs: meu muito obrigado!
Aos demais amigos e colegas de classe que direta ou indiretamente contribuíram para
meu êxito;
Aos professores que fizeram parte deste capítulo de minha vida; ensinando-me,
repreendendo e compreendendo minhas dificuldades;
Enfim, a todos que juntos comigo lutaram por mais esta conquista:
MUITO OBRIGADO!!!
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SILVA, Andiara Catarine Ferreira da. Transição nutricional na comunidade indígena: mais
um reflexo da civilização ocidental (2012). Trabalho de conclusão de curso – TCC
(Bacharelado em Nutrição). Faculdade Unida da Paraíba UNPB/FPB, João Pessoa – PB.
RESUMO
Silva, Andiara Catarine Ferreira da. Nutritional transition in the indigenous community: more
a reflection of Western Civilization (2012). Completion of course work - TCC (Bachelor of
Nutrition). United Faculty of Paraiba UNPB / FPB, João Pessoa - PB.
ABSTRACT
He Indians, first inhabitants of Brazil, have unique customs inherent to their culture. As these
people were approaching the man, "white" and their cultures are merging, the domination of
Western culture was prevalent. With this, much has been lost as the indigenous food habits
and practices, these losses are manifested today in nutritional imbalances. Based on the above,
the objectives of this study are driven primarily on a survey of data on the nutritional profile
indigenous research focused on the process of epidemiological transition / nutrition in this
community as a result of acculturation by the spread of indigenous Caucasian culture. This is
an exploratory qualitative research evidenced by a literature review on the subject. For survey
information were used related items, found in scientific journals and books. The data collected
suggested that indigenous health proves fragile and vulnerable, indigenous health policies are
made slowly, the process of epidemiological transition / nutrition is an existing reality in the
indigenous community worse off than the national process. The studies analyzed showed that
the nutritional status of the population presented in a paradoxical scenario, with representative
indices of malnutrition, which parallels the considerable levels of overweight and obesity. It
was also observed that an increasing prevalence of chronic diseases directly related to food
(diabetes, obesity and hypertension). The socio-cultural diversity of this population coupled
with the spatial distribution influence on the reliability of data. It is observed that even with an
increase of research in recent times, there are few information about the nutritional situation
in the indigenous community.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................10
2 REVISÃO DE LITERATURA ..........................................................................................13
2.1INDÍGENAS.......................................................................................................................13
2.2 SAÚDE INDÍGENA..........................................................................................................16
2.2.1 Situação da Saúde Indígena..........................................................................................16
2.2.2 Políticas de Saúde Indígena..........................................................................................20
2.3 PERFIL NUTRICIONAL DA POPULAÇÃO INDÍGENA..............................................23
2.3.1Desnutrição Infantil.......................................................................................................25
2.2.2 Obesidade.......................................................................................................................28
2.3.3 Diabetes..........................................................................................................................30
2.3.4 Hipertensão Arterial.....................................................................................................32
2.3.5 Métodos de avaliação do perfil nutricional indígena.................................................35
2.4 TRANSIÇÃO NUTRICIONAL NA COMUNIDADE INDÍGENA.................................38
2.5 FATORES DETERMINANTES DO ESTADO NUTRICIONAL INDÍGENA...............40
2.6TRANSFORMAÇÕES DA CULTURA ALIMENTAR INDÍGENA................................44
3 METODOLOGIA...............................................................................................................48
3.1CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA..............................................................................48
4 CONSIDERAÇÕES............................................................................................................49
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................50
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Prevalência de anemia em crianças com idade entre 6 e 59 meses de acordo com a
macrorregião.............................................................................................................................27
Tabela 2 Distribuição das mulheres de 14 a 49 anos por categoria de IMC, segundo
macrorregião.............................................................................................................................30
Tabela 3 Prevalências de glicemia casual alterada indicativa de diabetes mellitus (glicemia
casual ≥ 200mg/dL) entre mulheres de 14 a 49 anos, segundo macrorregião..........................31
Tabela 4 Comparação dos valores médios de medidas antropométricas e de níveis tensionais
em adultos Xavánte 20-50 anos de idade, em 1962 e 1990......................................................33
Tabela 5 Prevalências de pressão arterial alterada sugestiva de hipertensão arterial entre
mulheres de 18 a 49 anos, segundo macrorregião, Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos
Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009.........................................................................................35
10
1 INTRODUÇÃO
Esta condição é enfatizada pela FUNASA ao declarar que em algumas regiões, onde a
população indígena tem um relacionamento mais estreito com a população regional, nota-se o
aparecimento de novos problemas de saúde relacionados às mudanças introduzidas no seu
modo de vida e, especialmente, na alimentação: a hipertensão arterial, o diabetes, o câncer, o
alcoolismo, a depressão e o suicídio são problemas cada vez mais frequentes em diversas
comunidades (BRASIL, 2002).
Verifica-se que o acometimento de doenças crônicas não transmissíveis, como
hipertensão arterial e diabetes está associado ao estado nutricional do indivíduo. O estado
nutricional é uma ferramenta de grande valia para a obtenção de dados sobre os distúrbios
nutricionais de uma população.
Tais dados são inquestionavelmente relevantes, pois por meio destes, pode-se
vislumbrar uma população de risco para várias doenças e assim fazer a profilaxia necessária,
tomando-se por alicerce as informações oriundas desta ferramenta através de aferições das
medidas antropométricas. Dentre as medidas antropométricas temos o IMC como método de
referência para avaliação do estado nutricional de adultos e idosos, e os parâmetros utilizados
pelo Ministério da Saúde (peso/idade, altura/idade, IMC/idade) para avaliação do estado
nutricional de crianças e adolescentes.
Segundo o Ministério da Saúde, é importante considerar que quando se discute
crescimento e estado nutricional, fala-se principalmente do processo saúde-doença, sendo
assim é importante considerar que cada povo indígena tem suas próprias concepções, valores
e formas de vivenciar a saúde, a doença, a nutrição, a desnutrição e a obesidade. (BRASIL,
2002)
Indagou-se, pois, como se percebe o estado nutricional dos indígenas frente às
mudanças nutricionais características da transição epidemiológica atual? Em meio ao
processo de transição nutricional atual, onde decaem os índices de desnutrição e crescem os
de sobrepeso e obesidade, acreditou-se que a população indígena está inserida neste processo,
não se diferenciando do contexto nacional.
Observou-se que a avaliação do estado nutricional de uma população pode auxiliar na
prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, por este motivo, justificou-se a
necessidade deste estudo, pois, apesar da irrefutável relevância do tema, ainda são ínfimas as
informações sobre o estado nutricional da população indígena.
Diante do exposto, se objetivou fazer uma revisão bibliográfica sobre o perfil
epidemiológico/nutricional indígena, assim como verificar a inserção do processo de transição
12
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 INDÍGENAS
aldeias. Grande parte ocupa a zona rural e uma parcela vive em áreas urbanas, geralmente em
periferias (BRASIL, 2002).
Conforme dados preliminares do Censo 2010, a Região Norte do país concentra a
população indígena na área rural, já a Região Nordeste abriga a população indígena
principalmente na área urbana. Este fato é comprovado na análise da distribuição da
população indígena autodeclarada entre as grandes regiões do país, onde a região Norte se
manteve na liderança nos Censos de 1991 (42,2%), 2000 (29,1%) e 2010 (37,4%);
destacando-se na área rural, com 50,5%, 47,6% e 48,6%, respectivamente. Já no segmento
urbano, o Sudeste concentrava 35,4% da população indígena em 1991 e 36,7% em 2000, mas
o Nordeste passou a ter o maior contingente de indígenas em domicílios urbanos em 2010,
com 33,7% (IBGE, 2010).
Segundo a lei nº 6001 de 19 de dezembro de 1973, índio é todo indivíduo de origem e
ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo
étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional; e Comunidade
Indígena ou Grupo Tribal - é um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo
em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer
em contatos intermitentes ou permanentes, sem, contudo estarem neles integrados (BRASIL,
1973). A cultura indígena no período pré-cabraliano destacava-se em sua dissociação da
cultura caucasiana, embora muito de seus costumes tenham se perdido, a diversidade cultural
e social dos povos indígenas manifesta-se em múltiplos aspectos, sendo um deles o número de
línguas faladas. São aproximadamente 180 diferentes línguas indígenas no Brasil (CALDAS,
2010).
Os índios no Brasil não constituem um único povo, mas sim uma multiplicidade deles.
Em sua pesquisa, Caldas (2010), afirma que cada comunidade tem usos e costumes próprios,
assim como acervos tecnológicos, atitudes estéticas, crenças religiosas, organização social e
filosofias peculiares, resultantes de experiências de vida acumuladas e desenvolvidas ao longo
de milhares de anos.
Constatam-se de populações com características próprias entre si, que podem se diferir
bastante uma das outras. Esse paradoxo pode ser justificado considerando a extensão
territorial brasileira, o acesso aos recursos naturais e humanos e a acentuada diversidade
ecológica e sociocultural das populações indígenas.
Ao investigar indicadores socioeconômicos verifica-se que a situação indígena é
heterogênea regionalmente. O padrão de renda da população indígena é similar ou mesmo
mais precário que o das populações mais desprotegidas da sociedade brasileira. De acordo
15
com o CENSO 2001, no Brasil 38% da população indígena estava em situação de pobreza
extrema, enquanto na população não indígena essa proporção era de 15,5%. Conforme
Relatório elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário CIMI (2006-2007), a proporção de
indígenas que têm renda inferior a ¼ do salário mínimo em domicílios rurais é de 64%,
enquanto a proporção diminui para a pobreza urbana (15%) (CIMI, 2008).
O I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas (2008/2009) ao
analisar sobre a infraestrutura básica dos domicílios indígenas revela um quadro que se
caracteriza por condições de saneamento deficientes em todas as macrorregiões, com destaque
para a carência de infraestrutura no Norte, onde se observou a menor frequência de água
encanada e de instalações sanitárias nos domicílios. Vale destacar que os resultados do
inquérito evidenciam que muitas aldeias apresentam rede de água instalada pela FUNASA a
partir de poços artesianos, em particular no Centro-Oeste. No entanto, durante as entrevistas
feitas com as lideranças, foram comuns reclamações, tais como: caixa d´água insuficiente
para atender à demanda da população, registros ou bombas quebrados, poços escavados,
porém não conectados às torneiras por falta de canos, dentre outros.
O estudo de Coimbra Jr; Santos (2001), afirma que no passado, as sociedades
indígenas dependiam, em menor ou maior medida, da agricultura, caça, pesca e coleta para a
subsistência. Os autores ressaltam que a interação com as frentes de expansão, a instalação de
novos regimes econômicos, a diminuição dos limites territoriais, entre outros fatores, levaram
a drásticas alterações nas economias de subsistência, ocasionando, consequentemente,
empobrecimento e carência alimentar. Lourenço (2006), pondera também que as sociedades
indígenas experimentam ainda problemas relacionados ao esgotamento de recursos naturais, à
contaminação ambiental e à dificuldade de acesso a gêneros alimentícios diversificados.
O relatório confeccionado pelo CIMI adiciona que a taxa de analfabetismo é outro dos
indicadores que expressam as desigualdades étnicas: 26% da população indígena acima de 15
anos é analfabeta, enquanto 20% dos negros e 8% dos brancos estão na mesma situação
(CIMI, 2008). O mesmo relatório esclarece que a situação das populações indígenas é de
descaso; seja pela ausência de políticas direcionadas a essas populações, ou pela
desorganização dos modos de produção de subsistência tradicionais, advinda do contato e das
pressões ocasionadas pelas frentes de expansão da sociedade nacional brasileira.
Expressivos conflitos de interesse sobre as terras indígenas são resultados do interesse
econômico na apropriação das riquezas naturais. Em razão de tais interesses, a história do país
registra uma quantidade abundante de conflitos pela posse da terra, que em muitos casos
terminaram e ainda terminam em conflitos armados, com vítimas fatais. São fazendeiros,
16
A importância que a nutrição saudável impõe sobre a saúde do indivíduo não pode ser
refutada. Os profissionais de saúde e pesquisadores têm reconhecido os benefícios de uma
nutrição adequada e sua forte influência na qualidade de vida humana. Segundo a OMS
(1995) em texto citado por Lourenço (2006), as informações sobre o estado nutricional são de
extrema importância para a avaliação das condições de saúde de coletividades humanas,
principalmente ao se considerar o processo de transição nutricional e epidemiológica que vêm
ocorrendo mundialmente.
Em sua pesquisa, Lourenço (2006), constata que estudos de abrangência nacional,
juntamente com pesquisas regionais realizadas no Brasil, têm permitido uma análise da
tendência do perfil nutricional da população, colaborando para o planejamento e
24
implementação de políticas de saúde. Contudo, no mesmo estudo, ele contesta que, embora
tenha aumentado a busca por informações acerca da situação nutricional a nível nacional, não
era possível analisar, com a mesma abrangência, a tendência no perfil nutricional das
sociedades indígenas, uma vez que os principais estudos nacionais sobre estado nutricional
não incluíram informações sobre estes povos.
Um dos principais problemas pautados foi a precariedade e a desarticulação do sistema
de registro de informações em saúde indígena vigente no Brasil, que gera escassez de dados
confiáveis e contínuos em relação à situação nutricional destas populações. O primeiro estudo
de âmbito nacional que engloba a situação alimentar e nutricional indígena é o I Inquérito
Nacional de Saúde e Nutrição dos povos indígenas, ainda assim, são escassas as informações,
tendo em vista que o estudo é direcionado para crianças indígenas menores de 60 meses de
idade e em mulheres indígenas de 14 a 49 anos, deixando de fora da amostra uma parcela
significativa da população, representada pelos adolescentes, idosos e adultos do sexo
masculino.
O ministério da Saúde confirma que na população indígena, como na população
brasileira e mundial, problemas nutricionais são bastante prevalentes diferindo conforme o
estágio epidemiológico em que cada povo se encontra. (BRASIL, 2002). Em linhas gerais, a
prevalência de desnutrição encontrada hoje em muitas sociedades indígenas no Brasil
aproxima-se daquela observada em regiões rurais do país na década de 70 (LEITE, SANTOS,
COIMBRA Jr, 2007). Entretanto, o pesquisador Vieira Filho (1997), declara em seu estudo
que a população nativa americana é geneticamente suscetível à obesidade. Segundo ele os
indígenas possuem uma variante genética, decorrente de seleção natural ocorrida durante
milênios, que é favorável à acumulação de energia para períodos de fome e procriação, o
autor ainda acrescenta que essa variante de gene é associada com dislipidemia, obesidade e
diabetes.
Com a análise de estudos acerca da saúde indígena, verifica-se que existe uma situação
de insegurança alimentar e nutricional. Já se alerta para a presença de risco de sobrepeso e
obesidade nas crianças, encontrado principalmente nos locais onde há novos hábitos
alimentares devido ao contato do indígena com o não indígena, com a inclusão de farinhas
refinadas e introdução do aleitamento com leite não humano, açúcar, sal e alimentos ricos em
calorias vazias. A partir de resultados de estudos publicados, Gulgelmin e Santos (2001),
comentaram que, nas populações indígenas das Américas, em especial às do Canadá e dos
Estados Unidos, observa-se emergência da obesidade e doenças associadas (hipertensão
arterial, Diabetes Mellitus tipo II e litíase biliar, por exemplo) como problema grave de saúde
25
Comparando-se os dados para não índios menores de cinco anos obtidos pela POF
com os dados da Funasa, observa-se que a prevalência de baixo peso para a idade esteve em
média em 46% na população nacional e 14% em média entre os indígenas. Segundo a OMS,
26
observando apenas essa informação, o perfil nutricional indígena é de média gravidade, para
esse índice, o valor máximo aceitável é de até 3% (BRASIL, 2002).
Em seu estudo, Lício (2009), ao discutir os resultados da sua pesquisa, destacou que
em crianças de 0 a 10 anos o baixo peso para a idade variou de 2,9% a 35,2%, o baixo peso
para estatura de 0,8% a 3,6% e a baixa estatura para a idade variou entre 11,1% e 46,3%
dentre os estudos analisados. Em contraposição ela argumentou que para crianças não
indígenas de 0 a 5 anos em 1996, o baixo peso para idade era de 5,6% e em 2006 a
prevalência de baixo peso para a idade no país era de 1,7%. Ao comparar os dados, mesmo
que as faixas etárias não sejam idênticas, fica evidente que a maioria dos estudos com
crianças indígenas reporta prevalências mais elevadas quando comparadas à média nacional.
Os resultados do inquérito nacional de saúde e nutrição indígena confirmaram, em
escala nacional, que, de fato, a desnutrição, mensurada por meio do indicador baixa estatura
para idade, é um problema de enorme magnitude no Brasil, atingindo uma em cada três
crianças indígenas. Nas crianças residentes na macrorregião Norte, as prevalências foram de
mais de 40%. O resultado total pode ser observado na figura 4, abaixo.
Figura 4. Proporção de crianças com déficit de estatura para idade (< - 2DP) por
macrorregião, padrão OMS:
Fonte: Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009
Segundo o estudo de Lício (2009), os achados literários apontaram para uma estreita
relação entre a ocorrência de déficits nutricionais em crianças indígenas e a ocorrência de
27
Tabela 1. Prevalência de anemia em crianças com idade entre 6 e 59 meses de acordo com a
macrorregião:
Fonte: Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009
2.3.2 Obesidade
Fonte: Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009
É interessante ressaltar que a macrorregião Norte apresenta níveis de obesidade
menores que as demais regiões e que a Sul/Sudeste apresenta os maiores valores de
obesidade. Ao considerar as condições socioeconômicas, pode-se afirmar que estas estão
fortemente ligadas ao estado nutricional dessas populações. Assinalando as diferenças entre as
macrorregiões destacadas, confirma-se que o exposto é condizente com a realidade
apresentada.
2.3.3 Diabetes
Nordeste, com discreta superioridade nesta última macrorregião (CARDOSO; COIMBRA JR;
SANTOS, 2010).
Ao avaliar a taxa de prevalência de glicemia casual sugestiva de diabetes, o inquérito
nacional constatou uma variação de 0,5% a 1,7% dentre as macrorregiões brasileiras. A
macrorregião Norte apresentou a menor prevalência de diabetes e a macrorregião Sul/Sudeste
apresentou maiores taxas de glicemia acima do esperado. A prevalência nacional é de 1,2%.
Estes dados podem ser verificados na tabela abaixo:
Fonte: Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009
É importante frisar que nas regiões mais acometidas pela sugestão de diabetes,
observa-se os maiores índices de excesso de peso e/ou obesidade. Este fato é pontuado por
Rocha et al (2011), quando ele diz, em seu estudo, que é revelante para o aumento da
prevalência de DM tipo 2 o crescente aumento na taxa de sobrepeso e obesidade. Segundo
Nicolaisen (2007), a obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de risco
para o diabetes tipo 2. De acordo com o autor, estima-se que entre 80% e 90% dos indivíduos
acometidos por esta doença são obesos e o risco está diretamente ligado ao aumento do índice
de massa corporal (IMC).
Oliveira (2011), em seu estudo ao avaliar a prevalência de diabetes melito e tolerância
à glicose diminuída nos indígenas da Aldeia Jaguapiru, constatou que a prevalência de DM foi
de 4,5%, e a de tolerância diminuída à glicose, de 2,2%, com maior frequência entre as
mulheres. Dos diabéticos, 44,4% não tinham diagnóstico. A obesidade esteve presente em
14,2% dos homens e em 30,8% das mulheres. A prevalência de hipertensão arterial foi de
32
29,7% entre todos os sujeitos participantes e de 67,5% entre os diabéticos e os indivíduos com
tolerância à glicose diminuída.
Segundo Oliveira (2011), a prevalência de DM tipo 2 tem aumentado mundialmente
como resultado do envelhecimento da população, da urbanização, da inatividade física e do
aumento da obesidade. De acordo com o PNAD (2008), a escolaridade também pode
influenciar no crescimento dos casos de DM, pois houve aumento na prevalência do diabetes
conforme diminuíam os anos de escolaridade da população.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é hoje definida como uma pressão arterial
sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg, e/ou uma pressão arterial diastólica (PAD)
igual ou superior a 90 mmHg em adultos a partir de 18 anos (STAMM, 2007).
Inquéritos realizados no fim da década de 90 e na primeira década do século XXI nas
populações indígenas, começaram a descrever casos de hipertensão arterial, com prevalências
de hipertensão variando de 4,8%, entre os Guarani no Rio de Janeiro (Cardoso et al., 2001
apud TAVARES, 2010), a 20%, entre os Tupiniquins, no Espírito Santo (Meyerfreund et al.,
2009 apud TAVARES, 2010).
Ao fazer uma consideração geral sobre o perfil epidemiológico da população
brasileira, Coimbra Jr et al (2003), relatam que povos indígenas vivendo sob regimes de
subsistência “tradicionais” (no que se refere à ecologia e alimentação) têm atraído o interesse
de epidemiólogos e de antropólogos devido aos baixos níveis tensionais que apresentam em
comparação àqueles verificados nas populações urbanas não-indígenas.
Segundo os autores acima, inúmeros estudos destacam a ausência da “clássica”
associação entre idade e elevação dos níveis tensionais em populações indígenas. No início
dos anos 60, os Xavánte foram estudados por uma equipe constituída por médicos e
antropólogos. Cerca de 30 anos depois, o mesmo grupo foi reestudado e os resultados
apontam claramente para uma tendência de aumento dos níveis tensionais sistólicos e
diastólicos (Tabela 4). Em 1962, as pressões sistólicas e diastólicas estavam na faixa de 94-
126 e 48-80 mmHg, respectivamente, e não foram observados casos de hipertensão. Em 1990,
as médias sistólicas e diastólicas mostraram-se mais elevadas em ambos os sexos e foram
detectados casos de hipertensão. Ainda em 1990, notou-se também uma correlação positiva
entre pressão sistólica e idade, inexistente anteriormente (COIMBRA Jr. et al., 2003).
33
Notas:
Critério JNC = 140x90mmHg;
Critério OMS = 160x95mmHg;
Fonte: Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, Brasil, 2008-2009.
alimentação saudável, rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e pobre em gorduras
saturadas, associada à prática freqüente de atividades físicas, no mínimo trinta minutos ao dia,
possam atuar beneficamente na qualidade de vida da população e na carga de doenças ao
sistema de saúde pública (SARTORELLI; FRANCO, 2003)
A priori, faz-se essencial explicitar que o perfil nutricional de uma população é feito
tomando-se por base as informações sobre o estado nutricional dos indivíduos, e este, não
obstante, é avaliado através das medidas antropométricas.
No âmbito coletivo, os inquéritos nutricionais consistem importante aplicabilidade da
avaliação nutricional, devido a possibilitarem a determinação do estado nutricional de uma
população ou segmentos da mesma. Através de inquéritos é possível identificar grupos sob
risco de déficit ou excesso nutricional, fornecendo dados que direcionem as intervenções e o
planejamento de políticas na área de saúde e alimentos (CASTRO, 2008).
A antropometria é considerada importante ferramenta na avaliação das condições de
saúde e de nutrição de populações humanas (Waterlow et al., 1977; WHO, 1986 apud
SANTOS, 1993). Santos (1993), ainda acrescentou que dentre suas vantagens, incluem-se os
baixos custos, a facilidade de execução, as relativas sensibilidade e especificidade dos
indicadores, entre outras. Por estas razões, preconiza-se a utilização da antropometria
nutricional desde em rotinas de vigilância nutricional até em inquéritos populacionais de
grande abrangência.
A avaliação nutricional é um instrumento essencial para a identificação do estado
nutricional de uma população. Segundo Mahan (2010), o estado nutricional reflete o grau no
qual as necessidades fisiológicas estão sendo atendidas. O estado nutricional adequado se dá
quando há um equilíbrio entre a ingestão e as necessidades de nutrientes. Quando este estado
nutricional está alterado temos caracterizados alguns distúrbios como a obesidade e a
magreza.
Outrossim, a identificação do perfil nutricional da população serve como base para
formação de estratégias e ações dos serviços de saúde e para melhoria da assistência da
mesma, trabalhando-se de fato na especificidade da população avaliada.
Sampei, et. al, (2007), afirma que o emprego de técnicas antropométricas tem
possibilitado detectar a ocorrência crescente de agravos nutricionais em grupos indígenas de
alguns países.
36
Lício (2009), em seu trabalho Estado nutricional de crianças indígenas no Brasil: uma
revisão sistemática da literatura científica, concebido a partir da pesquisa sistemática em bases
bibliográficas, avaliou de maneira crítica e sistemática, a produção científica de 29 artigos.
Em sua pesquisa constatou que em 58,6% dos artigos foram utilizados os índices P/I, P/E e
E/I. Em 7 24,1% foram utilizados somente P/E, em 10,3% índices P/E e E/I
concomitantemente e em 6,9% E/I e P/I concomitantemente. Dois artigos (6,9%) utilizaram o
IMC. No mesmo trabalho ela constatou que em 82,7% dos artigos, as curvas de referência
utilizadas foram as do NCHS-1977.
O índice peso-para-idade (P/I) denota a relação entre o peso observado e o peso
de referência para idade, sem considerar o período em que ocorreu o déficit alimentar. O
índice P/I é calculado somente a partir do sexo, pois independe da estatura e, embora seja
muito utilizado e sensível para detectar alterações da massa corpórea, não é específico para
identificar a desnutrição protéico-calórica (WHO, 1995 apud ARAÚJO, 2007).
O índice peso-para-estatura (P/E) indica a relação entre o peso observado e o peso de
referência para a estatura e pode ser calculado mesmo que a idade seja desconhecida. O índice
P/E detecta déficits nutricionais agudos e imediatos que revelam
o comprometimento recente do crescimento com acentuada perda de peso, sendo muito
empregado para a detecção do sobrepeso e da obesidade (WHO, 1995 apud ARAÚJO, 2007).
O índice estatura-para-idade (E/I) demonstra a relação entre a estatura observada
e a estatura de referência para a idade. O índice E/I é capaz de retratar a história nutricional
porque reflete os processos crônicos relacionados ao crescimento linear e à desnutrição. O
déficit no índice E/I reflete que o crescimento tem sido comprometido em um processo de
longa duração. Além disso, o índice E/I é sensível para exprimir a associação entre estado
nutricional e fatores socioeconômicos que se manifestam a longo prazo. A utilização dos
índices antropométricos P/I, P/E e E/I na avaliação nutricional é possível porque são
utilizados pontos de corte para classificarem as alterações nutricionais (WHO, 1995 apud
ARAÚJO, 2007).
A comparação dos índices antropométricos com as curvas de referência é realizada por
meio de escalas. O Ministério da Saúde preconiza como classificação do estado nutricional
infantil o percentil, por entender que é a forma de mais fácil compreensão. Portanto, essa
forma de classificação é a preconizada para a Vigilância Alimentar e Nutricional para os
Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Porém, a classificação também pode ser feita com
desvio padrão (relaciona-se à média), escore Z (relaciona-se à mediana) e percentuais da
média (BRASIL, 2002).
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têm tempo para preparar seus próprios alimentos, rendendo-se aos alimentos de rápido e
prático preparo.
Todavia, tal fator trouxe, de maneira exacerbada, o aumento do consumo de alimentos
de alto teor calórico. Junto a esta situação tem-se a diminuição da atividade física,
conseqüência da evolução de tecnologias, e doravante aumento do sedentarismo. Neste
panorama verifica-se nitidamente um desequilíbrio na balança energética: muita energia e
pouco consumo. Isso acarreta em acúmulo de gordura, alteração do estado nutricional e
formação de uma população com excesso de peso e obesidade.
Estudos apontam para um acompanhamento da população indígena a este processo.
Um estudo feito por Capelly; Koifman (2001), na comunidade indígena Parkatêjê no estado
do Pará mostrou que dentre 99 adultos avaliados através do IMC a prevalência de sobrepeso
foi de 50,0% em mulheres e 23,7% em homens, e a de obesidade de 12,5% e 1,7%,
respectivamente. Estes percentuais indicam que mais da metade da população feminina
(62,5%) mostrou excesso de massa corporal total. Paralelamente, no mesmo estudo dentre as
58 crianças avaliadas, os achados demonstraram prevalência de desnutrição crônica em 8,6%
das crianças menores de dez anos.
Castro et al (2010), ao avaliar alunos matriculados em escolas indígenas Kaingáng do
Rio Grande do Sul, revelou situação nutricional característica do fenômeno de transição
nutricional de regiões sócio-economicamente marginalizadas. Infância (representada
majoritariamente por crianças acima de cinco anos) e adolescência marcadas por importantes
prevalências de retardo estatural e emergência do excesso de peso. Os distúrbios nutricionais
situaram-se no extremo do excesso de peso entre os adultos, e, apesar do pequeno número de
avaliados, é preocupante a alta freqüência de sobrepeso/obesidade e os altos valores de
circunferência da cintura, que conferem maiores riscos de doenças crônicas não transmissíveis
ao grupo.
O ponto sensível, problema central desse processo de transição, encontra-se figurado
nos diversos agravantes que essa mudança da situação nutricional trouxe à população. Dentre
estes problemas temos o aumento de doenças crônicas não transmissíveis como o diabetes,
obesidade; aumento dos índices de alguns tipos de câncer como o de mama, intestino;
aumento de doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, aterosclerose, dislipidemias;
aumento de doenças cerebrovasculares; todas estas veiculadas direta ou indiretamente pela
alimentação.
40
básicos de saúde e acesso a cesta básica, eles não determinam a real situação do indígena, que
está intimamente relacionada ao conjunto de potencialidades culturais, lingüísticas,
capacidade de controle social, posse de terra e condições de trabalhos comunitários. Por isso,
os principais problemas dos povos indígenas são: falta de recursos para projetos de produção,
falta de serviços básicos e de infra-estrutura, falta de capacitação, falta de gestão, falta de
autodeterminação, falta de informação e falta de fontes de trabalho (CASTRO, 2008).
Santos (2008), reitera o exposto acima, dizendo que o Brasil, nas últimas décadas, vem
confirmando uma tendência de enorme desigualdade na distribuição de renda e elevados
níveis de pobreza, excluindo parte significativa de sua população do acesso a condições
mínimas de dignidade e cidadania. Também afirma que disponibilidade monetária, estado
nutricional e situação de acesso aos alimentos são freqüentemente utilizados como
indicadores de insegurança alimentar de uma população, entretanto estar acima da linha de
pobreza, com bom estado nutricional e livre de fome não é garantia suficiente de alcance da
segurança alimentar e nutricional.
Fávaro et al (2007), em sua pesquisa entre famílias indígenas Terená no Mato Grosso
do Sul relatou que as famílias classificadas na categoria segurança alimentar corresponderam
à cerca de um quarto do universo estudado. Ele pontua que mesmo não havendo estudos que
avaliem a segurança alimentar em povos indígenas da forma como foi vista no seu estudo, é
alarmante a realidade encontrada, na qual grande parte das famílias está exposta às privações
tanto na qualidade como na quantidade da dieta. Somando-se a isso, o comprometimento
social dessas famílias, como a baixa renda, condições precárias de moradia e extensão
territorial limitada para o plantio, revelam um quadro de instabilidade, com grande parte das
famílias convivendo com o medo da falta do alimento.
Leite (2007), indicou ainda que condições de moradia precárias, como falta de energia
elétrica e paredes feitas de materiais não-duráveis, também estão associadas a maior risco de
déficits de altura e de peso para a idade (LEITE, 2007). Ao avaliar a situação das crianças
Kaingáng de Mangueirinha, Kuhl et al (2009), apontam para uma realidade precária, na qual
os indicadores do estado nutricional refletem condições ambientais e sócio-econômicas
amplamente desfavoráveis para o crescimento infantil.
Caldas (2010), faz uma síntese geral de estudos feitos entre 1990 e 2003 e descreve os
principais fatores determinantes da desnutrição infantil entre os povos indígenas. O resultado
do seu estudo pode ser observado no quadro abaixo:
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Quadro 2. Freqüências de crianças indígenas com baixa estatura para idade e determinantes
relacionados em estudos selecionados a entre a década de 1990 e o ano de 2003.
Fontes: SANTOS et al. (2003), LEITE et al. (2007) e LÍCIO (2009) apud CALDAS
(2010)
De acordo com a tabela acima se observa que o estado nutricional das crianças
indígenas é influenciado por diversos fatores. Desde a disponibilidade dos recursos naturais à
situação socioeconômica da comunidade.
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estejam inseridos economicamente nos mercados locais e regionais. Ele também afirma que
essas mudanças vêm associadas a novos hábitos alimentares.
Garnelo (2009), sugere que soluções para o problema demandariam transformações
individuais e coletivas de comportamentos, de extrema complexidade, que transcendem os
atuais modos de indígenas de vida. Nessa ótica, a mudança da alimentação deve ser entendida
como um fenômeno simultaneamente local e global.
Em diversas partes do mundo, este processo tem ocorrido predominantemente nas
regiões urbanas, estando relacionado às mudanças demográficas, socioeconômicas e de saúde
das populações. Um fator importante a ser pontuado é a relação que a população indígena tem
com a população não indígena, pois como relata Lício (2009), os povos indígenas possuem
diferentes graus de contato com a sociedade não indígena. Existem etnias que a séculos vivem
em estreita proximidade com os não indígenas, enquanto há outras contatadas recentemente
ou ainda semi-isoladas.
Coimbra Jr (2003), reitera dizendo que a trajetória de contato e interação dos povos
indígenas com a sociedade nacional é bastante diversificada. Ele também comenta que há
desde povos que estão em contato com os não-índios há vários séculos, como no nordeste, sul
e sudeste do país, até outros cujo contato é bem mais recente, datando, por exemplo, da
expansão contemporânea das frentes econômicas e demográficas na região Amazônica. Essas
diferenças têm influências sobre os padrões de subsistência, relações econômicas e políticas,
dimensão e grau de preservação dos territórios, entre muitos outros aspectos (COIMBRA JR,
2003).
em que estes nutrientes são distribuídos. Para que a dieta seja balanceada é necessário que
esta alimentação seja composta por alimentos variados.
Ao se discutir quaisquer tópicos relacionados às populações indígenas, devem-se
evitar generalizações, uma vez que estes povos caracterizam- se por acentuada diversidade
ecológica, social e cultural. Não é possível generalizar, tampouco, quanto às estratégias de
utilização de recursos naturais e capacidade de produção de alimentos das populações
indígenas. São extremamente diversos, por exemplo, os ecossistemas por elas ocupados, tanto
no presente, como no passado, que na atualidade vão desde áreas de caatinga no nordeste do
país até florestas de terra firme da região amazônica. Quanto às estratégias de utilização de
recursos, há desde grupos cuja subsistência baseava-se unicamente na caça e coleta de
produtos naturais, até aqueles praticantes de agricultura intensiva nas várzeas dos grandes rios
amazônicos (SANTOS, 1993).
As diferentes crenças e sentimentos, que constituem o fundamento da vida social do
ser humano, também são aplicados à comida, ao corpo e a natureza. Os sistemas de
representações no que diz respeito ao processo saúde/doença, alimentação/corpo, vida/morte
para os povos indígenas são diversos. (BRASIL, 2002)
Katz (2009), em seu estudo sobre a alimentação indígena na América Latina descreve
que as dietas indígenas são baseadas em um uso amplo e diverso dos recursos naturais, assim
como de técnicas complexas de transformação dos alimentos. Ainda afirma que entre os
grupos étnicos do Rio Negro, a mitologia ainda é muito presente, pelo menos nas aldeias, e a
alimentação está relacionada também com os processos reprodutivos e a fertilidade. Ademais,
existem sistemas de prescrições e proibições alimentares muito complexos e de uma grande
riqueza simbólica.
Os europeus recém-chegados observaram que os nativos que habitavam o Brasil nos
tempos do descobrimento usufruíam das primícias da terra recentemente descoberta. Seus
alimentos eram produzidos através do cultivo da terra e também adquiridos através da caça
e/ou pesca. A agricultura de subsistência era representada pelo cultivo de várias espécies,
como: milho, mandioca, macaxeira, inhame, cará, batata-doce, etc. E eram incluídas no
cardápio indígena frutas e verduras diversas que nessa terra se encontravam em abundância.
Segundo Leite (2007), a maior parte dos índios do país praticava a agricultura,
combinada com a coleta de produtos silvestres e com a caça e/ou a pesca. De modo geral, hoje
essas atividades incluem novos elementos como equipamentos, cultivos, técnicas e mesmo
objetivos, que já agora, em alguns casos incluem a comercialização dos excedentes.
46
Lourenço (2006), demonstrou em seu estudo que o grupo indígena Suruí localizado no
estado de Rondônia vivia tradicionalmente da agricultura de subsistência, da coleta de
produtos silvestres, da caça e da pesca, inserido num contexto familiar de produção e de
divisão do trabalho. Foram diversas as transformações ocorridas na região desde o contato
com a sociedade nacional, que influenciaram diretamente o modo de vida desta população,
afetando tanto a organização sócio-econômica e política da comunidade, como o estado de
saúde e aspectos ecológicos.
Em aspectos gerais observa-se que ao longo dos anos as culturas foram se difundindo
e alimentos culturalmente indígenas foram introduzidos à cultura não indígena. Naturalmente,
a cultura indígena foi perdendo algumas de suas práticas e foram sendo introduzidos hábitos
alimentares da cultura não indígena.
As mudanças observadas nas práticas alimentares indígenas, depois do contato com o
não-índio, são geralmente significativas e tendem a se aproximar as dietas nativas da
alimentação ocidental (LEITE, 2007).
Especificamente em relação à questão alimentar, em decorrência do processo histórico
pós-contato, os Suruí passaram a cultivar outros gêneros alimentícios além dos relacionados à
subsistência e a ter acesso a gêneros de mercado, tais como açúcar refinado, arroz polido,
doces e massas. Houve rápido esgotamento de recursos naturais, redução das atividades de
subsistência tradicionais Suruí e inserção de produtos industrializados na dieta, alterando o
padrão dietético e nutricional do grupo (COIMBRA Jr. & SANTOS, 1991 apud
LOURENÇO, 2006).
Garnelo (2009) diz que numa perspectiva antropológica, a alimentação deve ser vista
como uma dimensão da cultura em interação dinâmica com o meio ambiente, a economia e os
valores e crenças de cada grupo social. Assim, o empobrecimento das dietas indígenas
conseqüente a afluência de um grupo restrito de alimentos industrializados adquiridos de
modo próprio ou priorizados nas ações de segurança alimentar, implica risco à diversidade
sociocultural do Brasil indígena. Parte do problema está ligada ao desconhecimento das ricas
e variadas culturas alimentares indígenas e de suas implicações na manutenção de níveis
nutricionais adequados.
Avaliando os achados pode-se afirmar que a alimentação indígena, de uma maneira
generalizada, poderia ser considerada como uma alimentação saudável do ponto de vista
nutricional, pois esta dieta indígena era composta por alimentos de diversos grupos. Todavia,
devido às mudanças transicionais, tem-se uma variação do nível de salubridade desta
alimentação, pois foram incorporados alimentos teoricamente não saudáveis a rotina indígena.
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3 METODOLOGIA
3.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA
4 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas. - 2ª edição - Brasília: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 2002.
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COIMBRA JR, CEA; SANTOS, RV; ESCOBAR, AL. Epidemiologia e saúde dos povos
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MELO, Ana Claudia C. Metodologia de pesquisa: livro didático. Palhoça (SC): Unisul
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23(4): 853-61.