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Tratamento de Água

Material Teórico
Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Fernando Freitas de Oliveira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Aplicação de Membranas no
Tratamento de Água

• As Bases do Processo de Separação por Membranas


• Características dos Sistemas e Equipamentos de Filtração
por Membranas
• O Problema da Formação de Fouling em Membranas
• Considerações em Projetos de Filtração por Membranas
• Aplicação do Processo de Membranas para o Abastecimento
Público de Água

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar os diferentes processos de tratamento de água por meio
de membranas poliméricas, bem como discutir a aplicação dos siste-
mas de membranas no abastecimento público como uma alternativa
para o tratamento convencional de água.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
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Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

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as redes sociais.

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de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

Contextualização
O crescimento da população mundial, do consumo de produtos industrializados
e, consequentemente, da emissão de poluentes no ambiente, são fatores ligados à
redução da disponibilidade de água para o abastecimento público. Os níveis atuais
de poluição do mananciais podem agravar situações de escassez, principalmente
devido ao aumento da concentração dos chamados contaminantes “emergentes”
(produtos de higiene pessoal e limpeza, agrotóxicos, fármacos, hormônios, cafeína,
entre outros), que estão ligados aos hábitos do homem contemporâneo.

Como muitos desses poluentes são substâncias dissolvidas na água, é inevitável


questionar se o sistema convencional de tratamento de água, baseado na floculação
e filtração em areia, e utilizado na maioria das Estações de Tratamento de Água
(ETAs), ainda é satisfatório para o preparo da água para consumo. Dessa forma,
os métodos de tratamento de água para abastecimento público devem passar por
um constante processo de revisão e aprimoramento, visando à oferta de água
de qualidade. Além disso, o elevado nível de urbanização em algumas regiões
do mundo tem efeitos diretos sobre a disponibilidade de áreas para a construção
de ETAs convencionais, principalmente aquelas que operam com decantadores,
que demandam grandes áreas. Nesse caso, é necessária a busca por sistemas de
tratamento mais compactos.

O tratamento de água, por meio de finas membranas semipermeáveis, é apon-


tado atualmente como uma alternativa promissora para os sistemas de tratamento
convencionais, devido à sua alta capacidade de remoção de substâncias particu-
ladas e dissolvidas. Além disso, também são sistemas modulares compactos que
requerem menores espaços físicos em relação aos sistemas convencionais. Porém,
no Brasil, a tecnologia de membranas ainda não foi difundida nas ETAs. Isso ocorre
principalmente pelo fato de não se ter fabricantes de membranas no país, e devi-
do aos elevados impostos sobre produtos importados, que dificultam a aquisição
e consequentemente a expansão desta tecnologia. Por outro lado, muitos países
desenvolvidos já empregam em larga escala os processos de membranas no trata-
mento de água para o abastecimento público.

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As Bases do Processo de Separação
por Membranas
Nos seres vivos, as membranas constituem estruturas que delimitam as células,
além de desempenharem um importante papel no controle da passagem de íons e
outras moléculas do exterior para o interior da célula e vice-versa.

Essa seletividade característica das membranas biológicas também passou a ser


utilizada no tratamento de água e efluentes com o desenvolvimento de membranas
sintéticas poliméricas, que constituem estruturas de material semipermeável com
capacidade de separar substâncias particuladas e dissolvidas da água.

Auxiliada por uma força motriz (que pode ser, por exemplo, uma pressão exercida
sobre o líquido, sucção, corrente elétrica, ou osmose), a água flui através da membrana.
Esse fenômeno recebe o nome de permeação. Quando a água permeia através da
membrana, as partículas nela contidas são “barradas”, e o grau de rejeição de partículas
pode variar dependendo do material e do tipo de membrana empregado.

O funcionamento de um sistema de separação por membrana pode envolver


três correntes líquidas (ilustradas na figura 1):
· Alimentação: consiste na vazão afluente contendo a água a ser tratada.
· Permeado: corresponde à vazão efluente, contendo a água tratada que
permeou através da membrana.
· Concentrado: é uma corrente líquida formada pela concentração de
partículas rejeitadas pela membrana, também denominada rejeito.
Membrana

Alimentação Permeado

Concentrado
Figura 1. Correntes líquidas envolvidas no processo de separação por membranas

Existem dois modos de se operar sistemas de membrana para gerar o permeado.


Quando se aplica pressão no sistema, a permeação pode ocorrer por meio de
um fluxo paralelo à membrana, tecnicamente denominado fluxo tangencial ou
cross-flow, em que apenas parte da vazão de alimentação atravessa a membrana,
gerando uma corrente de permeado e outra de concentrado (Figura 2).

Outra forma de permeação pode ser feita fazendo com que todo o volume de
alimentação atravesse a membrana por meio de um fluxo perpendicular, gerando
apenas o permeado (Figura 2). Esse processo é denominado filtração direta
ou dead-end.

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

Figura 2. Esquema comparando os fluxos de alimentação tangencial (cross-flow) e dead-end


Fonte: Adaptado de hussgroup.com

Os tipos de membranas mais comumente utilizadas no tratamento de água


operam por pressão e se diferenciam principalmente pelo tamanho dos poros e
capacidade de retenção de partículas (Tabela 1 e Figura 3). São classificados em:
microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa (ou inversa).

Tabela 1. Características dos diferentes tipos de membrana


Tipo de Modo de Capacidade de
Porosidade Recuperação
membrana operação remoção de partículas
Retrolavagem
Grande parte dos microrganismos, tais como cistos
Microfiltração Dead-end 0,1 a 1 µm
e oocistos de protozoários, algas e bactérias.
e limpezas
químicas.
Retrolavagem
Dead-end ou
Ultrafiltração cross flow
5 - 100 nm Coloides, compostos orgânicos solúveis e vírus. e limpezas
químicas.
Íons polivalentes como por exemplo o cálcio (Ca+2) Limpezas
Nanofiltração Cross-flow 1 - 5 nm
e o magnésio (Mg+2). químicas.
Osmose Sem poros Sais dissolvidos da água compostos por íons
Limpezas
Cross-flow (membrana monovalentes, como Na+ e Cl- (pode ser aplicada,
Reversa químicas.
densa) por exemplo, na dessalinização de água do mar).

Íons Íons Sólidos


Água monovalentes polivalentes Vírus Bactérias suspensos
Microfiltração

Íons Íons Sólidos


Água monovalentes polivalentes Vírus Bactérias suspensos
Ultrafiltração

Íons Íons Sólidos


Água monovalentes polivalentes Vírus Bactérias suspensos
Nanofiltração

Íons Íons Sólidos


Água monovalentes polivalentes Vírus Bactérias suspensos
Osmose Reversa (inversa)

Figura 3. Capacidade de rejeição de partículas nos diferentes tipos de membranas. De cima


para baixo do menos restritivo (microfiltração) para o mais restritivo (osmose reversa)
Fonte: Paintair - Xflow

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Importante! Importante!

A porosidade das membranas reflete sua


capacidade de remoção de partículas. As
membranas de microfiltração, ultrafiltração
e nanofiltração são denominadas membra-
nas porosas. Seus poros podem ser visuali-
zados por meio de técnicas como a micros-
copia eletrônica de varredura (MEV) (Figura
4). As membranas de microfiltração e ultra-
filtração, devido à alta porosidade, podem Figura 4. Poros de uma membrana de
contar com procedimentos de retrolavagem microfiltração visualizada por MEV
para recuperação do fluxo de produção de Fonte: Acervo do conteudista
permeado em caso de colmatação dos poros.
As membranas de osmose reversa não possuem poros, sendo denominadas membranas
densas, em que a água passa através dela por meio do processo de difusão.
As membranas de nanofiltração e osmose reversa, utilizadas em processos de dessalini-
zação de água, possuem alta capacidade de rejeição de partículas e por isso são operadas
no modo cross-flow com fluxo tangencial, evitando o acúmulo excessivo de partículas que
causam a colmatação (entupimento), principalmente devido à saturação e precipitação de
sais sobre a membrana.

Existem também sistemas de membrana que não operam por pressão. Um exemplo
é a eletrodiálise, processo utilizado em grande escala no setor de saneamento, em
que a força-motriz de separação é a corrente elétrica. São utilizadas para a remoção de
sólidos dissolvidos com carga negativa ou positiva (íons). Um módulo de eletrodiálise
é constituído por membranas catiônicas (com carga negativa) e membranas aniônicas
(com carga positiva), além de dois eletrodos: um ânodo (carga positiva) e um cátodo
(carga negativa) que geram a corrente elétrica para ocorrer a migração dos íons, que
ficam retidos nas membranas. Existem canais por onde entra a água de alimentação,
um para coleta de concentrado e um para a água tratada (Figura 5).

Concentrado
Água Tratada

Cátions Membrana catiônica


Alimentação
Ânions Membrana aniônica

Figura 5. Ilustração esquemática de um sistema de tratamento de água por eletrodiálise


Fonte: modificado de AEDyR – Espanha

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

Você Sabia? Importante!

Embora seja considerada uma alternativa promissora para problemas futuros de


escassez de água, a tecnologia de membranas não é uma novidade. Ela foi inicialmente
comercializada no início dos anos 1960, mas já em 1954 havia sido desenvolvido pela
Universidade da Califórnia um sistema para demonstrar o princípio da osmose reversa
desenvolvido pelo Dr. Gerard Hassler, enquanto investigava as propriedades osmóticas
do celofane em 1948. A osmose reversa foi baseada no fenômeno natural da osmose,
que consiste na passagem de água através de uma membrana semipermeável de uma
solução salina diluída para uma mais concentrada. De forma inversa, uma membrana
produziria uma solução livre de solutos a partir de uma solução concentrada.
A nanofiltração foi uma variante da tecnologia de osmose reversa, operando a pressões
menores e com menor restrição de sais, difundida na década de 1980 (SCHNEIDER;
TSUTIYA, 2001).
As membranas porosas são ainda mais antigas, surgiram na década de 1920 com o
desenvolvimento da microfiltração. Na década de 1960, passaram a ser comercializadas
as membranas porosas mais restritivas de ultrafiltração (BAKER, 2004; ZEMAN, 1996).

Características dos Sistemas e Equipamentos


de Filtração por Membranas
Membranas são filmes finos constituídos por polímeros. Dentre os polímeros mais
utilizados para a fabricação de membranas estão o acetato de celulose, poliamida
e polietersulfona (PES). Por si só as membranas são estruturas frágeis e devem ser
cuidadosamente empacotadas para que possam constituir uma unidade de filtração
com características que possibilitem a aplicação de pressão, bem como altas taxas de
permeação e de rejeição de solutos.
Os sistemas de membrana, principalmente os que operam com nanofiltração
e osmose reversa, consistem de módulos espirais, contendo elementos filtrantes
formados por envelopes de membranas enroladas em espiral, separados por
telas espaçadoras (ou simplesmente espaçadores), ligados a um tubo coletor de
permeado (Figura 6). Estes elementos são inseridos no interior de vasos de pressão
ligados à um sistema de bombeamento.
Em membranas mais restritivas como a osmose reversa, a pressão de operação
pode chegar a 70 bar, que equivale ao peso de 70 atmosferas (quando operados
com águas com altos teores de solutos, como por exemplo a água do mar).
Esse processo de bombeamento em alta pressão consome significativas quan-
tidades de energia, porém, não mais que os processos térmicos de dessalinização
(por destilação), que, com o passar do tempo, foram substituídos por sistemas de
separação por membranas.

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Figura 6. Esquema de um módulo espiral
Fonte: De Oliveira, 2012

As membranas porosas de microfiltração e ultrafiltração podem também operar


em módulos espirais. Porém, é mais comum que se utilize outra conformação de
elementos filtrantes para estas membranas, como membranas em folhas planas,
membranas tubulares ou módulos de fibras ocas.

Os módulos de fibras ocas são amplamente utilizados para sistemas de ultrafil-


tração, sendo constituídos por um conjunto de membranas em forma de fibras que
constituem o elemento filtrante. A alimentação pode ser feita por um dos lados do
módulo ou por ambos os lados, e a filtração pode ocorrer tanto de fora para dentro
da fibra quanto de dentro para fora (como o exemplo mostrado na figura 7).

Figura 7. Módulo de fibras ocas


Fonte: Adaptado de kochmembrane.com

O Problema da Formação de Fouling


em Membranas
O termo fouling se refere ao acúmulo indesejado de material sobre uma
superfície utilizada em um determinado processo. Este fenômeno é considerado
um dos principais fatores que conduz à diminuição da eficiência de sistemas de
separação por membranas (SCHNEIDER; TSUTIYA, 2001).

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

A deposição de materiais sobre a superfície de membranas gera colmatação e


consequentemente redução do fluxo de permeado. Algumas vezes, o acúmulo de
material é irreversível, gerando a perda do elemento de membrana. Dependendo
do tipo de material aderido, o fouling pode ser classificado em:
·· Inorgânico: ocorre quando, no processo de permeação, o teor de sais na
superfície da membrana é mantido acima dos limites de saturação, gerando a
formação e precipitação de cristais sobre a membrana.
·· Orgânico: quando a água de alimentação do sistema possui grande concen-
tração de matéria orgânica, que se deposita sobre a membrana.
·· Biológico: considerado o mais problemático e de difícil controle, ocorre com a
formação de biofilmes a partir da adesão de bactérias e outros microrganismos
sobre a superfície da membrana, que passam a se multiplicar e secretar uma
matriz extracelular (composta principalmente por polissacarídeos e/ou proteínas),
que, por sua vez, confere proteção às bactérias contra agentes externos, como
produtos biocidas. A matriz produzida é o principal fator causador de colmatação
de membranas. O biofilme formado ainda pode sofrer a ação de forças hidráulicas
e fragmentar, colonizando outras partes da membrana (Figura 8).

Figura 8. Etapas da formação de biofilmes bacterianos sobre superfícies: iniciando com a aproximação de bactérias
planctônicas e adesão à superfície(1), crescimento com produção de matriz (2) e desprendimento e dispersão (3)
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Figura 9. Imagem obtida em microscopia eletrônica de varredura (MEV) de um biofilme formado sobre uma membrana
utilizada no tratamento de água. Na imagem é possível observar as células bacterianas imersas na matriz extracelular
Fonte: Acervo do conteudista

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A formação de biofilmes é considerada a maior causa de prejuízos nos
processos de membrana, uma vez que podem ocasionar a diminuição da qualidade
da água obtida, a diminuição do volume de água devido ao entupimento, aumento
dos gastos com energia elétrica, aumento de custos com produtos químicos para
limpeza, além da perda de elementos de filtração.

Os sistemas de osmose reversa, por serem mais restritivos, são os que mais
sofrem com a formação de biofilmes. Nesses sistemas, as estratégias utilizadas para
prevenção e controle do crescimento de biofilmes sobre as membranas são:
· Limpezas químicas com soluções alcalinas e ácidas;
· Uso de agentes biocidas;
· Pré-tratamento da água por outros sistemas prévios de filtração para
remoção de uma parte das impurezas.

Sistemas de pré-tratamento de água são fundamentais para o controle de fouling


de membranas sobretudo do fouling biológico.

Alguns sistemas de dessalinização por osmose reversa, por exemplo, utilizam


filtros de areia, ou até mesmo membranas porosas de ultrafiltração, como etapa de
pré-tratamento.

Considerações em Projetos de Filtração


por Membranas
Apesar de aparentemente simples, a tecnologia de membranas oferece muitas
possibilidades de erros de projeto, principalmente nas etapas de seleção de pré-
tratamento e do tipo de membranas, que pode comprometer a operação e a viabilidade
do projeto. Dessa forma, é importante ressaltar que um projeto de instalação de uma
unidade de filtração por membrana deve apresentar detalhadamente as respostas
para as seguintes perguntas:
· Qual o volume de água necessário a ser obtido no processo?
· Qual a qualidade de água que se quer atingir?
· Qual a qualidade de água de alimentação do sistema?
· Quais são as análises que devem ser feitas e quais são os parâmetros
relevantes para a determinação da qualidade de água de alimentação?
· Com base na qualidade da água de alimentação, que tipo de pré-tratamento
é o mais adequado para a proteção das membranas?
· Quais são as empresas especializadas no ramo de membranas que possuem
know-how para montagem de sistemas, fornecimento de material e produtos,
bem como consultoria técnica?

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

·· Quais foram os resultados de projetos prévios com o mesmo porte e


mesma finalidade?
·· Como será o plano de monitoramento contínuo do sistema para detecção
de falhas, melhoramento do processo e redução dos custos operacionais?

Porém, vale ressaltar aqui que, como em qualquer empreendimento, um projeto


para um sistema de tratamento de água por membranas só é realmente desenvolvido
se a relação custo/benefício do processo de membranas for mais vantajosa quando
comparada a outras tecnologias disponíveis.

A comparação de um sistema convencional de tratamento de água e um sistema


de membranas por ultrafiltração para o tratamento de água de um manancial,
revelou que o custo da água produzida por membranas de ultrafiltração é considerado
competitivo quando comparado ao sistema convencional (MIERZWA et al.,2008).
Além disso, o custo de implementação do sistema pode ser reduzido mediante à
queda nos custos dos módulos de membranas com o aprimoramento tecnológico e
com o início da comercialização do produto nacional.

Aplicação do Processo de Membranas para


o Abastecimento Público de Água
Atualmente, o exemplo que temos da aplicação de membranas em grande
escala para o abastecimento público de água está em Israel. Este país árido vem
conseguindo solucionar os problemas de escassez de água, principalmente pelo
processo de dessalinização de água do mar, utilizando membranas de osmose
reversa. A maior usina do mundo que emprega esse tipo de processo está em
Israel e produz cerca de 600.000 m3 de água dessalinizada por dia. Juntas, todas
as usinas de dessalinização de Israel produzem cerca de 50% da água potável
consumida pelo país. Além de Israel a Arábia Saudita, Emirados Árabes, Espanha,
Índia, China e Austrália também são exemplos de países que utilizam amplamente
a tecnologia de dessalinização por osmose reversa.

O estado da Califórnia, nos EUA, conta com a maior usina de dessalinização


das Américas, com uma produção de cerca de 190.000 m3 de água dessalinizada
por dia, oferecendo uma alternativa de fornecimento de água em meio ao clima
seco da região.

No Brasil, a maior parte das usinas de dessalinização por osmose reversa são
aplicadas na indústria do Petróleo. As maiores plantas brasileiras em fase de operação
para dessalinização de água do mar estão localizadas nas plataformas FPSO (Floating
production storage and offloading) da Petrobrás, com uma produção entre 20.000
a 30.000 m3/d (DE OLIVEIRA, 2012).

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Se considerarmos os sistemas de dessalinização de água do mar por osmose
reversa instalados em terra, o exemplo mais notório no Brasil está no arquipélago
de Fernando de Noronha, que conta com um sistema com capacidade de 60 m³/h.
Essa solução atenuou os problemas de fornecimento de água do arquipélago, que
pode receber por ano cerca de 80 mil turistas, e conta com 2,8 mil moradores
locais (VERDÉLIO, 2014; RODRIGUES; BRENHA, 2014).

Trocando ideias...Importante!
Embora a dessalinização de água do mar pelo processo de osmose reversa seja uma
solução para atenuar a escassez de água em muitos países, ela também gera um
problema ambiental ao ambiente marinho. O rejeito concentrado produzido pelo
processo geralmente é descartado diretamente no mar, podendo resultar em um
aumento da concentração de sais, ou da concentração de alguma substância tóxica no
local de descarte, com sérias consequências para a vida marinha.
Dessa forma, poderia um sistema de dessalinização trazer solução e, ao mesmo tempo,
problemas ambientais para uma unidade de conservação como o arquipélago de
Fernando de Noronha?

O trabalho a seguir apresenta uma revisão sobre o problema do rejeito concentrado de


Explor

sistemas de dessalinização por osmose reversa, dando destaque para a aplicação da


tecnologia no tratamento da água de poços na região Nordeste do Brasil. São apresentadas
algumas alternativas para este problema ambiental. Utilize os dados de referência ou o link
para obter o material:
SOARES, T. M; SILVA, I. J. O.; DUARTE, S. N.; SILVA, E. F. F. Destinação de águas residuárias
provenientes do processo de dessalinização por osmose reversa. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, n.3, p.730–737, 2006.
https://goo.gl/Md1kti

Em termos de abastecimento público em grande escala, a ultrafiltração é o pro-


cesso de membranas considerado uma alternativa para o tratamento convencional
empregado nas ETAs brasileiras, pois possui as seguintes vantagens:
· Capacidade para a remoção uma série de compostos orgânicos e microrga-
nismos, incluindo produtos farmacêuticos, de higiene pessoal, hormônios,
bactérias e vírus;
· É um processo que emprega membranas porosas que necessitam de baixas
pressões de operação, não consumindo altas quantidades de energia elétrica;
· Consome uma quantidade de produtos químicos menor que o tratamento
convencional;
· As manutenções periódicas e limpezas do sistema são mais simples quan-
do comparadas a alguns sistemas convencionais com sistemas de filtros
granulares, que requerem a remoção de uma camada ou a troca completa
do leito filtrante (ex. filtro de areia);

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

·· São sistemas que ocupam um menor espaço em relação ao sistema conven-


cional. Além disso, são modulares e podem ser alocados de forma vertical,
em edifícios por exemplo.

Alguns estudos já são realizados no Brasil para a aplicação de membranas de


ultrafiltração com foco no abastecimento público, tanto para o tratamento de água
captada nos mananciais como para a produção de água de reúso (SABESP, 2014;
SABESP, 2016).

Nas indústrias brasileiras, a ultrafiltração já é amplamente utilizada, na produção


de queijo e derivados do leite, de sucos de fruta concentrados, na filtração de
cervejas e vinhos, bem como em outros processos industriais que requerem uma
água de alta qualidade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Revista TAE
Membranas de filtração, tecnologia eficiente em aplicações diversas
https://goo.gl/oyvue4

Livros
Fundamentos de Qualidade e Tratamento de Água
Capítulo 12 – Filtração em Membrana (páginas 411-420)
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 3. ed. Campinas,
SP: Editora Átomo, 2010.

Vídeos
Água – Processo de Dessalinização na Austrália
https://youtu.be/CTUBy2g8rDs
Dessalinização de Água em Israel
https://youtu.be/ksAjD1G4UxI
Estação de Tratamento de Água por Ultra Filtração
https://youtu.be/Yqfn8Vbe6-8

Leitura
Destinação de Águas Residuárias Provenientes do Processo de Dessalinização por Osmose Reversa
SOARES, T. M; SILVA, I. J. O.; DUARTE, S. N.; SILVA, E. F. F. Destinação de águas
residuárias provenientes do processo de dessalinização por osmose reversa. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, n.3, p.730–737, 2006.
https://goo.gl/4A3SGP

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UNIDADE Aplicação de Membranas no Tratamento de Água

Referências
BAKER, R. W. Membrane Technology and Applications. 2. ed. John Wiley &
Sons, 2004.

DE OLIVEIRA, F. F. Avaliação de filtros lentos de areia como pré-tratamento


para o controle de biofouling em plantas de osmose reversa aplicadas
na dessalinização de água do mar. 2012. 122 f. Dissertação (Mestrado em
Biotecnologia) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2012.

HELLER, L.; DE PÁDUA, V. L. Abastecimento de água para consumo humano.


Vol. 2. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. 3. ed. Campinas,


SP: Editora Átomo, 2010.

MIERZWA, J. C.; SILVA, M. C. C.; RODRIGUES, L. D. B.; HESPANHOL, I.


Tratamento de água para abastecimento público por ultrafiltração: avaliação
comparativa através dos custos diretos de implantação e operação com os sistemas
convencional e convencional com carvão ativado. Engenharia Sanitária e Ambiental.
v. 13, n.1, p. 78-87, 2008.

MIERZWA, J. C. HESPANHOL, I. Água na Indústria. São Paulo: Oficina de


Textos, 2005.

RICHTER, C. A. Água: métodos e tecnologia de tratamento. São Paulo:


Blucher, 2009.

RODRIGUES, A.; BRENHA, H. Dessalinização atenuou racionamento em Fer-


nando de Noronha. Folha de São Paulo. Cotidiano. Crise da Água. 07/09/2014.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/09/1512291-dessa-
linizacao-atenuou-racionamento-em-arquipelago.shtml. Acesso em: 19/10/2016.

SABESP. Membranas ultrafiltrantes auxiliam no tratamento de esgoto. São


Paulo, mar 2016. Portal Sabesp. Seção Notícias. Disponível em: <http://site.
sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-detalhe.aspx?secaoId=65&id=6909>.
Acesso em: 16/10/2016.

SABESP. Sabesp amplia em 1 mil litros por segundo produção de água do


Sistema Guarapiranga. São Paulo, dez 2014. Portal Sabesp. Seção Notícias.
Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/imprensa/noticias-detalhe.
aspx?secaoId=66&id=6367>. Acesso em: 16/10/2016.

20
SCHNEIDER, R. P.; TSUTIYA, M, T. Membranas Filtrantes para o tratamento
de água, esgoto e água de reuso. São Paulo: ABES – Associação Brasileira de
Engenharia Ambiental, 2001.

VERDÉLIO, A. Obra para normalizar abastecimento de água em Noronha


custará R$ 4,7 milhões. EBC - Agência Brasil. 11/03/2014. Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/plano-emergencial-para-
abastecimento-agua-de-em-noronha-e-de-r-47-milhoes>. Acesso em: 19/10/2016.

ZEMAN, L. J. Microfiltration and ultrafiltration: Principles and applications.


Nova Iorque: Marcel Dekker, 1996.

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