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DOS SACRAMENTOS
(Continuação) (*)
FRANC CO TABORDA S J .
sE
3. A penitência cozuo reconciliaçäo com a Igreju
Partindo de sua experiência atual. o cristão de hoje poderia
julgar que näo há sacramento mais “individual" do que a confissão
ou penitência. C, sem dúvida, mérito de Rahner (52) ter lutado contra
essa concepção corrente que se havia desviado da tradişăo mais
antiga da Igreja por muitos motivos, entre os quais podemos citar o
aparecimento e propagação da confissão auricular, a reaçăo contra
Hus, Wlclef e a Reforma, o individualismo dos tempos modernos (cf.
VIII 469-471; XI 38-39).
a) A dimensão eclesial do pecado e da reconciliação
A raiz da eclesialidade de confissão está no fato mesmo de que o
pecado tern uma dimensão social. Rahner sabe que esse aspecto
r) Cf. •erspTeo1 8 {1976} 3 30.
 ł isța de sigìaв da nota 4 {jз. 4•5) acre scęn te-se:
QA 65 ß. RAH NER, Vortragen zu oinem ö kumertisenen Amtsvers£find rtlc (Qoaes-
hones Oispu ta cae 65), Frib urgo Dr. 197 fl
Na mesma lisca corrija •œ:
K th Wb ß. k AHNER - H. FOR G RJMLEA. ¥leines theologTsches Worterbueh,
FnŁiurguz Br l9ô I
M)S.'tlI J. FEŁN ER — M . L ÖH RE it {ed.), My s her I u m 5a I u t is. G r und r iss
heitsgeзchichi4Tcher Dogm atik Vol. Iî. Einsiedeln 1967
Päg. 11. prim ei a col un a, I J IJ nh a de ba т кo para cim a. Ie ia •se: "NeIes a lgreja вe auto-realize,
pois neles medeia a si próprтc a eerie za de зer ag uilo que el a v erdadei rornen te č. Ta +s a toe тjue
sao, pcis, auto•zeaHzațão (Seì hsrvullzug) da lgreja Como Ła I, ãu as Gacrauten țqs",
Pтзg. ï 3, prime тra col un a, 2’ a iínea, em vez de "rejeita ria" le ia se “reje icara”.
Păg. I4, na primeira I í nhв da seq und 4 ccî una deve ha ver re ferê nc ia ä noca I fl.
Pàg. 25: inv er rer as d uas prirr e ira s lin has da se g unğa colun a. (No la da redsț ão)
{52) Em X I 39-45 numa rä pida visà o de conjua to sobre a pesquisa histó rica iefere me à pen itG nci u.
Rahner loca liza seo prö prio trabal ho (cf. XI 40a â ).
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"eclesial" do pecado já aparece muito claro na Escritura (53) e que
é a única maneira de explicar a disciplina penitencial da lgreja antiga
(54). O pecado é uma contradição da vontade divina. Mas não só. C
tambám uma falta contra a natureza do homem e sua vocação
sobrenatural. E mais ainda: tambãm uma falta contra a Igreja (55).
Rahner rechaça o princípio corrente: "minha relação a Deus no bem e
no mal aó Importa a mim e a Deus, e a maie ninguêm". E corrige:
“importa a mim e a Deus. Mas, por leso zneemo, a todos” (ll 148) (56).
Esaa á a poaiç&o mais antiga de Rahner. Saque a Ióglca
imanente a seus trabalhos filosóficos (especialmente ”Hdrer des
Wortes” ”Ouvinte da Palavra”), onde não chega a pensar o social e o
histórico numa perspectiva mais originária, mas apenas derivada (57).
Mais tarde Rahner se aproxima sempre mais a uma correção
dessa perspectiva, sem contudo explicitã-la totalmente e menos
ainda fundamentã-la (58). Tal é o caso no artigo “Über die Einheit von
NachGten - und Gottesliebe” (Sobre a unidade de amor ao próximo e
amor a Deus). de 1965 (VI 277-298). Dentro dessa nova perspectiva
(qua 8 a que o orienta ao pensar a eclesial/dade dos
sacramentosJ, Rahner teria dito: o pacado é pecado contra o outro e
por ieso contra o sujejto que o pratica, e contra Deus (cf. Vl 288 e
295). O outro seria visto como mediação do homem a si mesmo e a
Deus (59).
A natureza social do pecado assume proporçõ es novas,
Of. II I•6; Vi II •S/u58; LThK i I 80s-e1s¡ Sacr M I 664syI , alem dos art igos abre a pj„q„ d
Pent iéncle no vo I. II e g primeira parte do pollgrafo "Oe Paeoi te ri tia“.
Cf. II 44-t 45: K. RAHNETt, Pene țencjș Gî, Criet gnismp, #m g ggyGG, Diccjonezto de j#y
R4GtgioAe< Ba emna i 984. i065- i 068 (agu : i065).
CI'. a tendAric ia em Oec eJtte Mittler wil die Yielfa$ I der ¥ermiitlunge6 (o ijini co medJEdo r ¢ ;
mm tipl icidade das mediaqfies), VI t1 2 i s 235.
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(60)' RaGner explica pcrmenorizadamenre o sencidu e a impurrünciu rlcssa “c x‹•umun hau”’ penite
imial diference da do a T uaï direito caridnico‹ cl. XI I o3 -ï es e n. 6; of. lamb+m XI I óu-ï 74. I u’z:
4?‹*. n. 2ó0. — Os artigos fiiatóricos do voIume XI sü‹› c ita dos ‹›u reben dos nesre tr abalht›.
seda enquaniu representam o caminho m guido por Rahner para reencontrar a di nte nsao eclesi
al do deram 'nto õ a enitê via (cf., por exempl o, aba iso, nota 61), seja enquanto fundamentam
suas teus (cf.. por eatmp)o, pbaixo, nota fi6). nja enquanto, ul tra passando o mero reivrir
opiniõ es al tiei as, jfi ra premntam uma ag sisiprio pró prio na It!o1 oy in sistem á t i ca de pe riité nr
ia {e f., pior exemplo. n'o ta
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pecador deixa de receber a comunhâo tcf. XI 102-103). E uuando
cessa a "excomun hão”? Quando a Igreja dissolve o que ligou. Mas
para tanto precisa saber c\jJe também a culpa diante de Deus, “no
céu", está perdoada. lsto “acontece, quan do a Igreja desliga o
pecador ‘na terra’, isto é, desliga da ligação por ela promulgada e (jã
que de outra forma não tem sentido nem é possível) da causa desta
ligaçào, o lado eclesiológiGo de sua culpa” (II 176-177). Aqui está a
natureza dogmática do sacramento da penitência: ele é sempre
penitência e “excomunhão” (Exkommunikationsbusse) numa identi-
dade. Assim desde as origens bíblicas (e quanto mais próximo às
origens, mais inseparavelmente) (cf. XI 168-199). Graças a sua volta
às fontes, Rahner reencontra o sentido eclesial da penitên cia (62).
Também no outro texto clássico, Jo 20, Rahner encontra a
mesma afirmação. “Kratein” e “aphienai” são duas fases do mesmo
fenômeno, como em Mt 16 e 18: separar o pecador dos santos e
perdoar-lhe seu pecado. “O kratein de Jo 20 significa o mesmo que o
deein de Mt 16 e 18. Os pecados são retidos, distanciando, num certo
sentido, o pecador da Igreja” (De paenit. 1 57; cf. 43-60). Nos dois
membros da proposiçào de Jo 20,23, Rahner julga dever admitir
“objetos” diferentes: num o pecador que volta à Igreja, noutro o
pecador que dela se afasta (cf. De Paenit. Il 695).
Rahner encontra sua exegese confirmad a pela disciplina
penitencial da Igreja apostólica (63) e da Igreja antiga (64). A
penitência como sacramento da reconciliação com a Igreja é, pois,
um dado da mais antiga tradiçâo e absolutamente bíblico, tanto em si
mesmo, como na compreensào de pecado que supõe. Por esta razão
é falso querer distinguir entre penitên cia “pública" e penitência
"privada", seja afirmando que a prim eira era a forma praticada na
Igreja antig a, mais tarde abando nada, seja tentando encontrar nos
Padres da Igreja indícios ou alusões à prática de uma penitência
sacramental “privada", à semelhança de nossa confissão auricular. O
esforço por tal distinção desconhece o carãter "público" de toda e
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(69) bons em br* r q ue a lé no i e, d epois do ri ra vr› "Ordo Pa en i te nteae”, a let url i u lati na na o opta
8x8l usi vam en te Qe líI ft/rn4 a 1 nd í 0a í i•0 i1i• a5 iv 1 ;i›, rn as a ‹'t tp bin u com # Q#ptç p#tjp#.
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(74) Apó ь a primeiro man i festaç ò o õ a Sa nta Sć (cf. S. CON GH . PítO DOCTR IN A FIDE í, Normae
pastorałes cima absolutionem eueramentalem generali modo imperllendam, em: AAS 64 197a
5ł 0-'S i 4), Rahner esc re ve um artigo em defesa das 1 i run Jas penite ncJa is, se u valor e sua
dign Jdade sacram enta1, mas arg u ment a ma is com a nogã o de sa cram enco como pa lavra el'i
caz dv Ig reja n um•ı si tu aç ao dee isJ va e xiste ucta1 (ct. StZ 190 1972 371 ). Ciepo is do
Ordo PaeÑ ientiae (Va uc a no I *i74) Ra hner nada esc reve u u respe i to.
se recusa a ver na liturgia penitencial um mero concorrente da
confissão individual, convidando a reconhecer uma unidade interna
entre ambas (cf. ibid.) e concedendo às liturgias penitenciais, sob
certas condições e certos pressupostos, a dignidade de sacramento
(cf. Wagnis 107-108).
Dois pontos de vista devem ser considerados: primeiramente
se a liturgia penitencial é ou pode ser sacramento; em segundo
Iugar, como, sendo sacramento, não entra em concorrência com a
confis- são individual.
Ouanto ao primeiro convém inicialmente desfazer um mal-
entendido, como se ser ou nào ser sacramento fosse de importância
decisiva. Não é. Pois o pecado é real e radicalmente perdoado - e
isso é o que importa - "quando o homem com sua culpa se volta
incondicionalmente a Deus, possa ou não este acontecimento ser
qualificado de sacramental" (StZ 190 1972 369). E tal é o caso
quando o homem arrependido - sob a ação da graça - se volta a
Deus pedindo perdão. Nesse sentido não se deve considerar de peso
a questão de se compete às liturgias penitenciais a dignidade de
sacramento (cf. ibid. 369-370).
lsto posto, deve-se partir do fato de a acusação de pecados
veniais não poder ser obrigatória, já que a Igreja hão os pode “reter”
(o pecado venial não “excomunga” no sentido explicado acima II B
3a ). Assim sendo, com o mesmo direito que a confissão de devoção
é sacramento. também uma liturgia penitencial tem a dignidade de
sacramento, suposto que haja no ministro e na lgreja que ele
representa, intenção de administrar um sacramento (75).
Rahner vai mais Ionge ainda e se inclina por considerar
sacramento, mesmo serh essa intençào no ministro (cf. Wagnis 108).
Pois - pergunta ele com razâo - “se um padre, numa liturgia
penitencial, exercendo com seriedade sua função eclesial-espiritual
frente à comunidade, consola expressamente a comunidade arrepen-
dida... com o perdão de Deus. que em todo o caso acontece na
profundidade da consciência, e, se ele toma suas palavras realmente
tão a sério como as pronuncia e assim proclama na publicidade social
da lgreja o evento da graça que seguramente ali acontece, pode ele
impedir que suas palavras tenham caráter de sacramento?" (StZ 190
1972 370-371; cf. HPTh IV 137). Oizer o contrário seria negar
sentido humano e cristão ao que taz. Essa conclusão é simplesmente
a aplicação da noção (rahnerian a) de sacramento à liturgia peniten-
cial.
48
(7G) I-ta tï oer ¢lese nvoll’e rr* is ex rensam en rt• es.se us]aer't ‹› em se u ‹›ja +Ja¢' uï ‹› Vuni finn des
kJrchlic hen Am tes, I' rib url uz Br. I 9tifi, p I:J -28.
49
(7 y) c r. x. g AHNER, ‘f hepIogisches our Auf gube des Regiona Ibin ho fs, ern . t4 . F'L L í: KENT I' f- IN e
outros (ed¡Scre ), ort skircnc - wel tkir ne \Pe sitehrirL fai .iui u.s K ard. u‹›|›r wer). w‘nrzb urg i so a,
47g.4 gy (aqui: g7g.4g0), ñ I’. run Gem HPTh I ) ti0, IX 4fi7.
(78) C f o arrigo Uber den Begriff des “Jus +T ivi num” im ka tholisc hen Verslä +dnis (huh›v o cc' Jcvi‹'›
de ’’j typ @| ytg qtyp" em sua compreaj sk‹i r ,i t ‹Jlix ag V 2ä9-2 77.
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ministros ordenados, podem ser exercidas por qualquer cristão.
Quais as funções que sú podem ser exercidas por força de orden a-
çâo? Bem poucas, se se tomam isoladamente:”funçâo de presidência
da liturgia eucarística, da administração do sacramento da penitência
e da unção dos enfermos" (IX 380-381) (80). Conclui-se que na
ordenação não se trata de transmitir “magicamente'' certo feixe de
“poderes”, mas de algo mais. Do que então? Dito por ora vagamente:
da visibilidade eclesial específica que manifeste no foro da lgreja que
o novo ministro partiGipa em algum grau determinado do ministério
uno da Igreja (cf. IX 403-404).
Ao discutir-se sobre a restauração do diaconado permanente
na lgreja Latina, a pergunta sobre o sentido da ordenação veio à
tona. Objetavam os adv ersários que o diácono não teria funções que
não pudessem ser exercidas por um leigo autorizado. Logo a
ordenação de diáconos era supérflua. Mas aqui há um mal-entendido
básico sobre a razâo de ser do sacramento da ordem. A questão nào
é saber “se a ordenação... transmite a uma pessoa funções que do
contrário não possui e, portanto, antes não exerceu, m as: se para
um complexo... de funçôes e tarefas que... exerce em nome da
lgreja, se confere uma expressividade e uma chancela sacramentais
no âmbito social da Igreja, chancela que Ihe promete a grasa para o
exercício dessa tarefa” (IX 381-382; cf. 413-414). O principio decisivo
para afirmar que tem sentido a transmissão sacramental de um ofício
é, pois: “uma chancela e autorização sacramental de funções
ministe- riais e institucionais na Igreja como sociedade... corresponde
ã natureza da Igreja, também então, quando tais funções e tarefas
sào 'em si' possíveis mesmo sem o pressuposto de tal ordenação...”
(IX 382). A visibilidade eclesial na criação de novos ministros - com
tudo o que essa visibilidade exprime - justifica a sacramentalidade da
ordem, desde que se considere que a orden ação faz participar do
ministério uno cunstituri›u da Igreja santa, sacramento fundamental
de Cristo.
Desta forma atinge-se numa primeira aproximação o
sentido eclesial do sacramento da ordem. Mas Rahner vai mais
Ionge (em sua obra Vorfragen zu einem iikumeniscHen
Amtsverstãndnis. de 1974), perguntando sobre quem há de julgar da
validade de um ministro. Se o ministério é uma função na lgreja,
transmitida sacramentalmente, e
Aqu R afin+r. p•+ r•i fins de §rgHmenla§ ao, redup. pr‹›po.sitada‹nenT‹• essas fun¿6e s a um
mininjri e nâo pergunla pel‹› «url te x ru em que tuI “t›oder” rem sentido. ke try a a pr me ml a pr‹a
re srar contra uma red udio csque nl•iI r a e rit uaT ct a "pc¢Ier de ordum " t e f. Ig Jt7). Em I X
870.3 7 j (c F. la mbéin us 4rtigos cita'fi‹› em IX 376, n. .J) Rahnor pñe essas I'un¿†cs ‹•m seu
c‹›n texlu g)otiaI (cf. tarnhém IN 3 6).
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(81) Aqui nâo ê o lugar de disc urir sabre a propriedade de qual iFicar como proFê taco o
miniscúric da Igreja. Em II 384 Ranner ainda dá a entender que uma eoneep‹i à o do mi mistério
eelesi al que nã o inc1uí+m ne le a funk ao profética seria inc ompleta, pois estagnari a a Igreja
no "estabJishm ent". Mas — na ló g ica dos pró prios art ipos de Rah ner sobre o elem ento cariem
à rico na Igreja e de sua concepçã o de uma lpre ja que não se redu z a bierarq ui a - sera rtecess4
rio que nelas as manifestaçõ es da vida da Igreja sejam mlnlsterte is* Sem d ú vida ná o.
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(8Ą An í'a lar em ''sv bundo pra i ” do ministe rio na•› xc de ve mais pc nsar eiri terIn ‹i• õ e ‘episc‹ipado,
gra u supœmt› d‹ mI ninth -i‹›". N ü u œ en te nd a ’”»cM*'› șra u” n um a etc:ila :+sc‹• + den re, da q ua i o
diact›naгo œr+a ‹› prтnтeiro e o episcupaü o o Lerr e•ro. m as numo cscaİa dcвcei1'Jente, тa qual
u egisccipado č u prim eir‹a gr:\ u, do gunI o *g undu part iclpa. N ïï‹› se pu‹l‹' cul›> idera r o bispu a
parrir do preebile re, m.js comu re alia: ‹;än pit' HI ‹ïu mini sTú no cl a lg r+. t a, d‹› g ua i pú rt w pam
presŁií Łeœs e ‹liä con‹›s, c adiz um a sr'u +norI ‹›. A nrde n aç ü ‹› +pJsc ‹›|›*+ i é a>s m ‹› grau mû is
abra nberite da i ordem e ran um ui réü i nir› à ‹ ›rde n aWho pros bi tera I c f. Ł'I It K .' Vu t. 11. ›'o ł. 1 2I IN ).
56
{9I ) Quan¢Io m aí s tard e\+‹ «›nvi«a;: u scb -e ê ir:inde Iiberdude da Ig i eju na c‹iiJ‹-re ti zak ari '1+ .>' u.e
miniscéri¢is ti ver alt"a nt;atI‹J rnaiur gr.iu ‹í c rcricza. FI ahnor i'd<'u J z:j rJ u I ¿ur‹i ‹i‹› Uispu du íu t t i ‹›
2 n tro todas •i \‘arT a¿‹eus p‹ sím'e is, um |›unI‹›H r‹*nü uxu :ir in auu reil tat i \ , ‹› p ”i nt”ij›i‹* «‹›I vp t.1I
de\'e manIr r se inuI t‹'i .HJ‹› (vf X J’1fi--t4 7 )
57
uma unidade de dois polos que se condicionam mútu a e
indissoluvel- mente, sem, contudo, nivelar as diferenças (cf. VI 400;
LThK / Vat. II. vol. I 224-225). Para aclarar a relação episcopado -
primado, Rahner parte do problema de como entender que os bispos
sejam considera- dos ”sucessores dos apóstolos" e, não obstante,
năo tenham pessoalmente o poder sobre toda a Igreja que competiria
a cada apóstolo. A explicação da aporia está em que não cada bispo
em particular é sucessor de determinado apõslolo em particular, mas
o colégio episcopal sucede ao colégio apostólico. Não cada bispo
como pessoa particular, mas o colégio episcopal como tal (sob/com
o Papa como sucessor pessoal de Pedro, cabeşa do colégio
apostólico) tern o poder ministerial tt›do da Igreja (cf. QD 11, 78-101; VI
380-382). O que equivale a di2er: o bispo (individual) tern todo o
poder ministerial da lgreja, enquanto é membro do colégio episcopal
(cf. HPTh I 165-166). “Sempre que algu ém realmente e por boas
razôes é chamado a ser membro deste colégio, ele é tarnbém
realmente bispo, o que năo exclui, mas pelo contrário supõe que ele
só possa ser chamado plenamente a ser membro do colégio por uma
convocaçâo sacramental, já que tal ch amado como ato fundamental
da Igreja é pela própria natureza da Igreja um opus operatum e não
pode ser outra coisa” (HPTh 1 166). Em outras palavras, mais
claramente: alguém se torna bispo ao ser cooptado no colégio
episcopal pelo sacramento da ordem. Ou seja: a incorporaçăo ao
colégio é o primeiro efeito, o efeito visível do sacramento (“res et
sacramentum”).
Tal é realmente a opiniâo habilualmente exposta por Rahner,
tanto em sua obra "Episkopat und Primat" (Episcopado e primado)
(de 1961), como em artigos ulteriores e no comentário à Constituiçăo
Dogmática “Lumen Pentium”. Assim em "Zur Theologie des Konzils"
(Para uma teologia do conCilio) (V 278-302) (escrito em 1962), um
dos pontos de partida de suas considerações é "a forma (Gestalt)
colegial do ministério” (V 280). Lá ele escreve: “0 colégio episcopal e
seu poder frente à Igreja inteira precede como unidade colegial, mas
verdadeira, o bispo particular e seus direitos. k•te é hispu, cnguqntu
membru du unidade colcgiul, e como tal tern parte em suas fu• s s l a
e frente à lgreja universal" (V 280-281) (92).
Comentando a Constituiçăo “Lumen Gentium”, artigo 22,
Rahner encontra a expressao mais clara da dimensăo eclesial-
colegial do episcopado como sacramento, aplicando a este o que em
HPTh 1 181 dissera ao presbítero: “essa unidade abarcante
( - colégio episcopal), enquanto é uma unidade jurídico-moral,
fundamentada sacramentalmente (art. 21) e, portanto, sustida pelo
ț9ø) Gnfo d aut‹›i aeste ar‹ gu. «I ‹amb+ n v su z a'l.
58
(94) Rahner entende aqui por i›rc1vnaçã o ‘'absol uta” nä o o que o direr to canõ ni eo del'ine assim, m aь
urns ordenaç àø que nfio desse poder de pastor
(94) CF. X 430-4d 7, 457, 464 -46a; art. sit. tnu‹o 7s) g80 + n, 4, QU 6s, :+u.3 I .
59
tal ”mudança tamb+in fosse desejáv el” (95). Assim haveria dois
modelos pensáveis de pres błtério: “O presbi1ério como senado
consultivo e organismo auxiliar de um bispo monárQ uico, e um
presbitério colegial co mo sujeito do ministéri o numa diocese com uin
‘chefe’ episcopal com direitos próprios...’‘ (X 465-466; cf. OD 65, 32). .
A segunda possibilidade “nào pode ser negada em princípio e de
antemão, jã que o epis copado todo é o sujeito cołetivo da jurisdiçâo e
magistério supremo na lgreja, e na eucaristia, peniténcia, unção dos
entermos e ordenação se podem reco nhecer historicamente sujeitos
coletivos do poder sae rainentał" (96). Na hipótese do sujeito coletivo
do ministério, tica bem claramente ressaltado que o sacramento da
ordem é agregação ao colégio, já que o próprio colégio como tal
possui o ministório. Oue a hipótese não é pura construşão teó rica, mostra-
o colégio universal dos bis pos, quan do age colegial mente (cf. QD 11, 86-
93; VIII 374-3g4).
d) Diaconado e cole9ialidade
No tocante ao diacon ado, a situação é mais problem ática.
Sobre as relaçoes entre diaconado e presbiterado (episcopado),
Rahner escreve com mais indecisão. 0 proDlema radica na própria
tradişăo que não é unitária. Algumas vezes parece que diaconado e
presbiterado são “dois des mem bramentos paralelos do ministério
episcopal uno (embora não simplesmente da mesma ordem nem de
‹9UãI dignidade)" (V 341). Outras vezes - e mais freqüentemente - o
diécono aparece como ajuda do presbítero. Rahner solucio na a
aporia da tradiçâo, recorrendo ao poder da Igreja de desmeinbrar de
diferentes modos seu ministério total, segundo as necessid ades
pastorais concretas de cada época. Diaconado e pres biterado
podem ser dois ministérios sin ultan eamente existentes lado a lado,
um sem os poderes do outro, ou podem ser dois graus, um mais alto,
outro mais baixo, o primeiro incluindo pelo menos “eminenter" o
segundo (cf. V 341-343). Assim Rahner em 1962.
No HPTh, publicado em 1964, Rahn er toma posição
claramen- te frente à alternativa deixada aberta pelo artigo de 1962.
0s diáconos sâo pessoas que recebem tarefas ministeriais
duradouras com o poder correspondente. Essas tarefas, por um a
parte, não são "saGer-
60
dotais", mas, por outra, são tarefas da hierarquia, t›u mai.e exatamente
do bispu (cf. HPTh 1 191). A importância do diaconado na Patrística
como grandeza Iado a laoo com o presbitério não é nenh uma
an omalia. "Um ministério diaconal +‹›b o bispo e, em certo ponto de
vista, a‹› ladu do presbitério, embora especificamente diaconal, isto
é, de serviço, perten ce aos elementos estruturais ideais da Igreja e é
como tal exercido por pessoas que não são nem bispos nem padres''
(HPTh 1 192; cf. 181).
Em 1965, expondo “Die Lehre des Zweiten Vatikanischen
Konzils über den Diakonat" (A doutrina do Segundo Concílio do
Vatican o sobre o diaGonado) (VIII 541-552), Rahner insiste na
ligação do diácono ao bispo, observando que nâo se deve dizer que
o diaconado é um grau “inferior" com relação ao pres biterado. Da
mesma forma que o Concílio não ch ama o episcopado grau "supe-
rior", mas o considera “como plenitude do ministério hierárquico total
e único que há na Igreja por instituição divin a" (VIII 550). Daí se
segue que, embora se possa, não há necessidade de ch amar o
diaconado de grau "inferior". Pois: “Estou convencido de que o bispo
tem o dever expresso de fazer presente no mundo o am or de Cristo
para com todos os que sofrem fadig as, que são pobres e fracos, que
suportam persegu são etc. Nesta tarefa episcopal de tanto vulto, o
diácono não tem parte menor do que qualquer padre” (VIII 550).
O que não fica claro é justamente o que aqui mais
interessaria saber: formam os diáconos um colégio ou participam do
presbitério como colaborador es do bispo? Rahner não dá resposta.
Fala do presbitério como senado do bispo dentro da unidade dialetica
entre princípio monárquico e principio colegial no ministério da Igreja
Depois passa a discorrer sobre o “princípio funcional”: o bispo tem
N ecessidade de colaboradores para exercer realmente sua funk Õo.
(99) Na 1 * edu No Rahner näo dese n vo we este tend a. lsso signifiica que o te xto é da aut oria de A.
Hãuse ling {cf, o preFüc ìo do readuprador, ÇD 31, 7). Neo olз st u n te c orrc spundc â ï dêiu de R
ahner exposto a sequir nu ray ru, a pt+nir de uutras fun tes.
62
Em QD IO. 97, Qafiner ligu ainda esce aspec to +:um a unidade “monog enísrica" da humanidade.
Sem enmar no problema, fique o lara aperias menc +onadu. Suhre u monogení smo, elém dp
artigo anLigo TbeologTsches zum Monogenisznus (Reflexões teológic es sobre o monogen smo}
(f 2S3-332). ''er a mudança de pos çâo processada gor Erôeür+de und Evolutlon (Pee auu crigmal
• evolusao . em: co neillum 3 (i 9ez) 4s9-4fis (peia edição al emã).
64
( 103) C f. I t. kAHNE.it, Bergend und Heilend. Ub+r du+ dakramen t der ¥ r amen. RJ un iqtic i 9õfi. p. 2'j
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(1 04) Ranner riso acentua mu i to esr aspec to. Em “Z ur TfieoJ rag le õ es T‹ides , onde o tem a morte
(tam bém em mu aspee io sa c ramentai j es+ ú em prJ me iro pja no. proc ura.se emq yvão ttppç tjçq
com unitãiàa, mesmo qua nto à morte do cristao. Esta é com un h ao com a morie de C rip to, yq¿ q se ri
iido redeu tor né o é vxp1 ic itado em s ua d im eps; p com un tdrt#. Nâ o qp# Utah ner q
desc‹›n heç a. lii em E ueha ristie und Leidem (Eur aristia e s‹i f ri me nt o ). de l 03G (c f. II1 201)
ía1 a dele muito c1 a ra m en re. Em su ri s c'bm s rri u is recentes, ltahHer v° 1 tu a ne ta r ; d
ipJ¢ p;d com u ni tü ri a da mci rte.
t 06) Para esta dietinç ão veja Zuns cheologisc hen Begri ti der do ak upiszenz (R umo ao conceito
teoló gico de eooeupiscô nCia) I 377-4 14. “'Pessoa' é o horn em, eriq tanto decide dispondo›
livremente sobre si, e enquanto possui sua pró pria realidade defini f iva como al âo de sua
decieao liwe sobre si mesmo. 'Natureza’ é t udo no homem que e enquanto tem de ser daclo
previamente e esse dispor sobre si mesmo, sendo objeto deem dispor sr›bre si e cond içà o de
sua possibilidade” (I 4t3. n. 1).
j pd} Cf. os arrigoe Theologtsehe Evägungen über den •intritt dos Todes (Rcf)exöes teolögicas
’sobre o momento da morTe) IX ?2ü üü5; Zu einer TGeulo#ie des Todes (Parn uma
reulogia da morte) X 181-199.
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membro batizado da Igreja, e na ação da Igreja, que aceita a agonia
iminente de seu membro sem desespero e se declara solid ária com
ele, acontece auto-realização da Igreja, daquela Igreja que lev anta a
Iâm pada da fé e vai ao encontro do esposo, Iá onde no mundo se faz
noite...” (QD 10, 103; cf. KthWb 214). Sob esse ponto de vista da
espera escatolôgica do Senhor, manifesta-se que a comunhão com a
morte de Cristo deve ser entendid a plenamente como união à morte
que irrompe em ressurreiçăo. A unşão dos enfermos (enquanto é”
"consummativum totius vitae") é também comunhão (na esperança)
com a ressurreição de Cristo. É a penhor sacramental de que o
cristão, este cristão concreto, ressuscitará com ele. E um fen ômeno
da história salvífica individual dentro da história salvífica da Igreja. a
ressurreição realizar-se-á como participação à Igreja triunfante.
Nessa perspectiva a unção e a "or açâo da fé" aparecem como uma
"recomendação (do doente) à (Igreja) triunfante" (LThk IX 242).
Recomendando o moribundo à lgreja triunfante ("res et sacramen-
tum”), a Igreja peregrina prepara-o para a visão beatífica e a
ressurreição (a “s alvação" de Tg 5,IN, ”res sacramenti").
A exposi;'ac some a гтn ao dus c nfermos é um‹i cenla т т 'u d‹ uoЛ’ic ar dвdr›s d spersus na
oùrн de Aahner, tomandu cum t› pun ru iJe {›arrid a +J ‹thee rv ad fiu su+Jett rig r csquem ii I ‹ a
üe LTì›K fX ž42 sobre "res eI saerame*II uin " da u»Șa‹› d‹›.s ¢nferm t > — Iî unncr vû ‹› w rra
men tc da u+ ç c' i a perspex Łiva uni lalв r•+I iJc “sпc "лmenco dos rnoril› undr*s" (' saь r:т mr
nIum exeunI i uтn "J. Oв pri ncipias de R ahner ț›odem. nc enla nt u, ser :ipl r adns ä c‹›riJ pre
crjs:iu da unț ãr+ c‹›+JJ‹› “saeramen Ło do.s en fermos" Pura sso pudera‹› or +i+ uit‹› útc zŸ ‹›s
cJe rien t‹›s de un a t¢‹›logia da enFeтniidade con tidos nu arc+yo Heiłsm ac hI und Heilungsk ro
ft des Cilaмbens Pode r ml víf cr' e Forda cur aúva da fé) (V 5 I 6-fi26).
’1 O art lgo de \’eria consLa i a›nda 'Jc uma I lî parlu, r unte jjd‹› c ‹»sider:iț‹àos c rit Acas A ut ur e
recla # äu em ccmum acordo c‹›nv icram, r› r ntu nfo, cm interrt›mpć |‹› :iQ ui para e v+i ar
pubìi«alûu em so rie n1uIro long a.4 cnrresp‹›+›d en e :a î I İ pari e dry'c rd >‹• i j›uõIi< aclo n<‹
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