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É possível pensar o futuro nos tempos de crise atual?

Uma das coisas que sempre gostei, ao estudar história, foi compreender a
forma como as sociedades se desenvolvem e de certa forma, perceber
algumas das nuances do mundo e da forma como ele funciona. Porém, apesar
de gostar disse e constantemente fazer conjecturas sobre o futuro, não sei se é
possível ser futurólogo, muitas considerações acabam sendo apenas
descabidas.
Mas recentemente, vemos cada vez mais o mudando e somos obrigados a
fazer considerações sobre o amanhã.
Uma das que mais me afetam, primeiramente, é relacionada ao trabalho.
Evidentemente, as relações de trabalho estão sendo afetadas duramente
durante esse período de pandemia, do Home Office ao EAD, mas a minha
principal preocupação é o avanço da inteligência artificial.
HOJE, em Singapura, um cachorro robô, da Boston Dynamics monitora o
distanciamento físico das pessoas que caminham pelas ruas, aplicativos
coordenam informações de saúde para estabelecer se a pessoa poderá sair ou
não as ruas. E cada vez mais, os robôs, avançam sobre os ambientes de
trabalhos, mais burocráticos ou automáticos.
Porém, o que iremos fazer com as pessoas que irão perder seus empregos,
porque isso vai acontecer, como realinhar as dimensões sociais para que os
desempregados, sejam inseridos dentro de uma nova lógica? O tamanho do
problema, econômico e social que teremos que enfrentar é exorbitante.
Teremos capacidades de recursos, para sustentar de forma digna, as pessoas
deslocadas de seus antigos empregos? E mais, como trabalhar os períodos de
ócio, que serão gerados. Talvez esse seja o ponto mais agudo, da questão. A
inteligência artificial, já é capaz de organizar, sintetizar, analisar dados (ainda
em aperfeiçoamento), possibilitar diagnósticos entre outros, sem contar a
incrível capacidade de armazenamento e processamento dos “cérebros
digitais”.
De que forma deveríamos lidar, com esse “futuro”, que estamos vivendo, para
além de qualquer previsão da literatura?
Um dos eventos mais drásticos, deve se concretizar na revitalização do papel
do Estado. Temos vivido desde os anos 70, um avanço gigantesco do neo
liberalismo, do estado mínimo, da regulamentação da “mão invisível do
estado”. A crise do COVID 19, evidencia que para o bom gerenciamento da
crise e de seus problemas posteriores, aqui evidenciado a inteligência artificial
dentro da realidade do trabalho nos próximos passos da nossa existência, será
necessário um estado coeso e cuja estrutura democrática constitucional,
baseada nos direitos humanos.
Algo, que parece cada vez mais distante das possibilidades das terras
tupiniquins.
Será função do estado, regularizar as relações de trabalho das maquinas, será
necessário estabelecer fundos para serem redirecionados ao atendimento dos
grupos que perderem seu espaço para a inteligência artificial. A renda cidadã
universal, nesse ponto, será crucial para estruturar a sociedade do nosso
presente/futuro.
Para além da revitalização das funções do Estado Democrático de Direito, será
necessária uma profunda revitalização nas próprias estruturas da mentalidade
social: o que farão os filhos da diáspora da tecnologia? Passarão o dia em
casa, esperando o fim? Ou seria possível incutir funcionalidades nesses grupos
que sairão do mercado de trabalho.
Precisaremos descobrir, como aprender de novo.
A educação que nos formou, não nos preparou para que disputássemos uma
vaga com um robô, ou não nos formou para que pensássemos de modo global.
Fomos condicionados a, desde o século XIX, apertar porcas, resolver
problemas através de conhecimentos prévios e fazer única e exclusivamente
aquilo que aprendemos a fazer.
De certo modo, nossa perspicácia ficou limitada aquilo que aprendemos no
ambiente acadêmico. E de modo concreto, no ano em que saímos de uma
universidade, já estamos atrasados em relação a forma como o mundo
funciona.
Então, é correto pensar que nossa relação com o aprendizado irá mudar, de
maneira drástica.
Em primeiro lugar, para que possamos preparar as crianças e jovens para o
mundo que está a nossa porta, talvez sentado no nosso sofá e em segundo
lugar, para que os indivíduos que se tornaram ociosos pelo avanço da
tecnologia; também aprenderem e se estabelecerem no mundo que surge a
nossos olhos, não sendo forçados exclusivamente a consumir e morrer.
Outro ponto que precisamos de maneira urgente reestabelecer é a confiança e
os investimentos na ciência. Vivemos hoje, não só no Brasil, um grande
descaso para com o conhecimento científico, delegando a fé, a moral e aos
bons costumes, o altar de construção da nossa sociedade.
Os valores, estabelecidos anteriormente na história da humanidade, não serão
capazes de nos fazer enfrentar os desafios do século XXI. E apesar de
extremamente ruim, o cenário se aproxima como uma grande vitória do anti
intelectualismo e conservadorismo, o que nos levará infelizmente a uma
formação de um estado violento e regulador. Regulamentando, a vida, o sexo e
as ideias das pessoas.
Mesmo que esse breve texto, apenas exponha alguns pontos, sem aprofundar
de fato nenhum deles, é o pontapé inicial para uma reflexão maior. O século
XXI, tem produzido momentos impares dentro da história da humanidade,
nunca antes, as mudanças ocorreram tão rapidamente e tão drasticamente.

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