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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Arquitetura e Urbanismo

Samantha Campos Paiva Barrozo

SISTEMAS ESTRUTURAIS NA CAPELA DE SANTANA - OURO BRANCO,


MINAS GERAIS
Belo Horizonte
2019
SAMANTHA CAMPOS PAIVA BARROZO

SISTEMAS ESTRUTURAIS NA CAPELA DE SANTANA - OURO BRANCO,


MINAS GERAIS

Trabalho apresentado ao Prof. Francisco


Carlos Rodrigues, como requisito parcial
na disciplina Estruturas de Aço
(EES014), no Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de
Minas Gerais.

Belo Horizonte
2019
1 - INTRODUÇÃO

A grande versatilidade das estruturas de aço é notável não apenas em construções


que visam uma interface moderna, mas também em intervenções e procedimentos de
restauro em edificações de interesse patrimonial. Isto porque o aço apresenta propriedades
mecânicas satisfatórias, além de maior leveza e redução de custos, fatores essenciais e
condicionantes quando se trata de construções históricas.
Neste contexto, toma-se por referencial o estudo da Capela de Santana do
Pé-do-Morro, localizada na fazenda do Pé-do-Morro, em Ouro Branco, Minas Gerais.
Projetada em 1978 pelo arquiteto Éolo Maia, em colaboração com a arquiteta Jô
Vasconcellos, a capela engloba uma ruína do século XVIII em um invólucro de aço corten e
vidro. Além de explorar as propriedades mecânicas do aço nos anos 1980, explora-se
simultaneamente suas propriedades estéticas, no que se refere à cor e forma.
O estudo parte de uma análise geral da concepção projetual da capela, por meio
dos principais elementos construtivos empregados: as fundações em blocos de concreto, a
superestrutura em peças metálicas, os pisos em pedra, as vedações em painéis
pré-fabricados de vidro e a cobertura em telha de aço galvanizada. Por fim, são feitas
considerações sobre a fabricação, transporte e montagem das superestruturas, bem como
sobre prevenção e combate a incêndio.
2 - CAPELA DE SANTANA DO PÉ DO MORRO

A Capela de Santana do Pé do Morro, conhecida por Capela de Santana, localiza-se


nas proximidades da sede da Fazenda Pé do Morro, atualmente hotel fazenda, na Rodovia
MG - 129, Km 174, Estrada Real, Ouro Branco.
A capela, projetada em 1978 pelo arquiteto Éolo Maia, em parceria com sua esposa,
a arquiteta Jô Vasconcellos, foi construída em 1980 a serviço da Siderúrgica Açominas S/A.
Parte do princípio de que deveria abrigar seis imagens sacras de valor patrimonial, inseridas
no contexto da fazenda, datada do século XVIII.
Desse modo, buscou-se incorporar ao projeto contemporâneo de Éolo Maia,
expresso pelo uso de aço e vidro, às ruínas de uma edificação do período colonial
existentes na fazenda.
Seguindo a lógica estrutural de um pavilhão / galpão, a Capela de Santana totaliza
293 m² de área construída. Em 2002, a edificação foi tombada pelo Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, IEPHA/MG.

2.1 - PARTIDO ARQUITETÔNICO, MODULAÇÃO, VÃOS E OUTROS PARÂMETROS


RELACIONADOS COM A ARQUITETURA

A Capela de Santana foi projetada de forma a integrar a memória de uma época e o


contexto local à uma leitura contemporânea da arquitetura, a qual lança mão da tipologia
dos pavilhões, adaptando-a ao uso religioso.
Tal integração é expressa pela assimilação entre as ruínas de uma edificação do
século XVIII e a nova construção em estruturas independentes de aço e vidro, conjugada à
detalhes construtivos em pedra, barro e madeira, referências ao período colonial.
Assim, tem-se por partido arquitetônico a integração entre duas épocas estilísticas
distintas, dada sobretudo pela escolha dos materiais, sem a sobreposição hierárquica do
contemporâneo ao colonial, proporcionando também, uma distinção visual entre o antigo e o
novo. As fotos 1 e 2 representam a Capela de Santana, implantada na fazenda Pé do
Morro.
Foto 1: Capela de Santana do Pé do Morro

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Foto 2: Capela de Santana

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)


No que tange a modulação, a capela é construída em um único volume, envolvendo
internamente as 3 espessas paredes de pedra e barro, as quais constituem a ruína. Com
planta livre, destacam-se as seguintes características quanto à espacialidade:

● Tripartição do espaço em função dos usos em átrio (± 44,8 m²), nave (± 134,4 m²) e
altar (± 134,4 m²);
● Sutil diferença de nível entre o átrio e a nave, e entre a nave e o altar, marcando a
transição entre os espaços;
● Dois sistemas construtivos independentes: a ruína em pedra e barro (marcação da
espacialidade do altar) e a nova construção em estruturas metálicas e vidro.

Tratando-se da concepção estrutural do projeto, cita-se:

● Volumetria da capela (13,60 x 28,00 x 4,00 m) à semelhança de um pavilhão/galpão;


● Disposição do módulo estrutural em razões proporcionais: área retangular com
fileiras de pilares espaçados proporcionalmente (regra x, 3x, 3x, sendo x = 4
metros), interligadas transversalmente por pórticos. Os pórticos são interligados
longitudinalmente por vigas de beiral e estruturas de contraventamento (tirantes
compositivos, motivo arquitetônico, mas não estrutural).
● Duplicação da linha estrutural externa por motivo de composição arquitetônica.
Seguem-se os desenhos arquitetônicos da Capela de Santana, com indicações dos
possíveis perfis metálicos utilizados em sua construção.

Figura 1: Planta da Capela de Santana, indicação de perfis

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Figura 2: Corte longitudinal, indicação de perfis


Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Figura 3: Corte transversal, indicação de perfis

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Figura 4: Elevação norte, fechamentos em X não estruturais

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)


Figura 5: Elevação leste, diagonais em V

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Outras questões pertinentes referem-se aos detalhes construtivos e ao mobiliário


projetado exclusivamente para a capela, a saber: o cruzeiro, construído em cantoneiras de
aço dobrado a frio, o altar, formado por chapas de aço corten, a pia batismal, constituída por
um volume esférico esculpido em pedra-sabão e os bancos em madeira maciça de pinho e
maçaranduba. Na foto 3, identifica-se em detalhe a pia batismal. Na foto 4, o altar em aço e
os bancos de madeira.

Foto 3: Pia batismal em pedra-sabão

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Foto 4: Altar em aço e bancos em madeira


Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Embora tombada pelo IEPHA, a edificação apresentou algumas patologias em


decorrência do tempo, como o rompimento dos tirantes dos fechamentos laterais, a
deformação de vigas e o rompimento de vidros, os quais podem ser substituídos.

2.2 - FUNDAÇÕES

O projeto da Capela de Santana propõe a integração entre o estilo colonial e o estilo


contemporâneo, seja através dos sistemas construtivos empregados, tanto quanto por
intermédio dos materiais. No período colonial, construíram-se alicerces em pedra e barro,
denominados baldrames.
Para a construção de tais alicerces utilizaram-se pedras grandes, de origem local,
entremeadas por pedras menores e por argamassa ou calda (barro liquefeito) de barro, com
o intuito de preencher os vazios entre as pedras maiores. De forma recorrente, os
baldrames estendiam-se até o nascimento das paredes, protegendo-as do efeito de
capilaridade da água, como ilustrado na figura 6, para construções em estruturas de
madeira.

Figura 6: Baldrames de pedra e barro do período colonial


Fonte: Arquitetura no Brasil (1979)

Geralmente, no que tange às dimensões, as fundações do período colonial possuem


profundidades entre 0,6 a 1,0 metro e a largura corresponde a espessura das paredes
sustentadas.
Assim, embora o projeto original de fundação da Capela de Santana seja
desconhecido, tomando-se por base os sistemas constitutivos do período colonial, bem
como a pequena complexidade da edificação, no que se refere às dimensões e cargas de
projeto, considera-se a implantação de fundações rasas, do tipo bloco de concreto.
Segundo a NBR 06122/1996 - Projeto e Execução de Fundações, as fundações do tipo
bloco são fundações superficiais de concreto que não necessitam de armaduras, visto que
as tensões de tração são resistidas pelo próprio concreto. Igualmente, possuem seções
quadrada ou retangular e profundidade inferior a duas vezes a menor dimensão da
fundação.
Dessa forma, as cargas transmitidas pelos pilares descarregam na placa de base
cimentícia existente entre o pilar e fundação, que descarrega sobre o bloco de concreto,
que por sua vez repassa as solicitações para o solo. Os pilares são conectados aos blocos
de fundação por meio de chumbadores, como verificado no esquema da figura 7.

Figura 7: Pilar chumbado à fundação em bloco de concreto


Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Figura 8: Vista interna da capela, base das vedações em pedra, pilar parafusado ao piso
Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Acima, em conformidade ao partido arquitetônico, a figura 8 ilustra o preenchimento


do espaço existente entre as vergas metálicas e os blocos de fundação por pedras,
oriundas da extração de minério.

2.3 - SISTEMA ESTRUTURAL CAPELA DE SANTANA: MATERIAIS, PERFIS,


CONEXÕES E ESQUEMA ESTRUTURAL DO PROJETO.

Na construção da Capela de Santana optou-se pelo uso de aço resistente à


corrosão atmosférica, o aço corten, empregado na forma de perfis dobrados a frio, cuja
combinação e união das peças resultou na conformação de pilares, vigas e vergas.
Os aços resistentes à corrosão, identificados no mercado por COR 500, USI - SAC
300 e USI - SAC 350, são aços de baixa liga, com média e alta resistência mecânica. As
propriedades anti-corrosivas que os caracterizam, estão associadas à adição de pequenas
proporções de elementos químicos em sua constituição, sobretudo cobre, mas também
cromo, fósforo e silício. Tais aços, quando submetidos ao ambiente, devido a oxidação do
metal, desenvolvem uma camada protetora em sua superfície, denominada pátina,
conforme ilustrado na figura 9.

Figura 9: Esquema da formação da camada protetora de pátina


Fonte: Estruturas de Aço (2002)

Para a capela, empregou-se o aço USI - SAC - 350, escolha justificada pelo menor
peso das estruturas, uma vez que as espessuras das peças de aços de baixa liga são
reduzidas quando comparadas aos aços-carbono. Além disso, são satisfatórias suas
propriedades referentes à resistência mecânica, à ductilidade, à tenacidade, à soldabilidade
e à abrasão. As propriedades mecânicas de tensão-deformação do aço USI - SAC - 350
são demonstradas na tabela 1.

Tabela 1: Propriedades mecânicas do aço USI - SAC - 350

Fonte: Usiminas, adaptada pela autora.

As chapas de aço USI - SAC - 350, produzidas pela laminação a quente, são
transformadas em perfis dobrados a frio, conforme a NBR 6355 - Perfis estruturais de aço
formados a frio - Padronização. A figura 10 exemplifica as séries de perfis dobrados a frio,
assim como suas combinações, disponíveis no mercado.
Figura 10: Perfis formados a frio

Fonte: Estrutura de aço (2002)

Sabe-se que os perfis da série U enrijecido são mais resistentes à flexão, entretanto,
embora não possa se afirmar, devido ao desconhecimento do projeto estrutural original,
identifica-se, por intermédio das fotografias, que os perfis empregados na capela são da
série U simples e suas combinações. Os perfis podem ser produzidos em até 12 metros de
comprimento. Ainda, estima-se que as dimensões dos perfis encontre-se no intervalo
representado pela tabela 2.

Tabela 2: Perfis formados série U

Perfil Dimensões

U d (mm) b (mm) e (mm)

250x100x4,75 250 100 4,75

250x100x6,30 250 100 6,30

250x100x8,00 250 100 8,00


Fonte: Sistemas Estruturais (2015), adaptado pela autora.
Os perfis série U e cantoneira são ilustrados nas figuras 11, 12 e 13.

Figura 11: Detalhe de perfil série U simples

Fonte: Aço Ideal

Figura 12: Perspectiva perfil série U simples

Fonte: Elaborado pela autora (2019)


Figura 13: Perspectiva cantoneira

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Do mesmo modo, objetos e elementos escultóricos, ilustrados nas fotos 5, 6 e 7


valeram-se do uso de aço, como a mesa do altar, construída em chapas de aço corten e o
cruzeiro, construído em braços múltiplos e desiguais, cujo mastro vertical é formado por
quatro cantoneiras justapostas e soldadas a 90°.
Foto 5: Capela de Santana e cruzeiro, ambos construídos em perfis de aço corten

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Foto 6: Detalhe do cruzeiro, construído em cantoneiras

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Foto 7: Detalhe da mesa no altar em chapas de aço corten

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)


As conexões entre os elementos estruturais (vigas e pilares) são do tipo rígida,
executadas por eletrodo revestido, também resistente à corrosão atmosférica, o que confere
melhor acabamento e proteção às peças. Os tipos de eletrodos indicados para solidarizar
peças constituídas de aço USI -SAC- 350 é apontado na tabela 3.

Tabela: 3 Eletrodos compatíveis aos aços empregados nas peças estruturais

Fonte: Usiminas, adaptada pela autora

O eletrodo é formado por um arame de aço consumível coberto por revestimento, o


qual se funde sob a ação do arco elétrico, preenchendo o vazio entre as peças,
solidarizando-as. O esquema da solda por eletrodo revestido é ilustrado pela figura 14. A
figura 15 e a foto 8 representam a conexão entre vigas e pilar por solda.
Figura 14: Soldagem por eletrodo revestido

Fonte: Estruturas de Aço (2002)

Figura 15: Esquema de conexão por solda entre pilar e vigas


Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Foto 8: Conexão entre vigas e pilar por solda


Fonte: Leonardo Finotti (2008)

Quanto ao esquema estrutural, a capela foi concebida em volumetria que remete a


tipologia dos pavilhões, seguindo-se uma lógica estrutural de repetição e racionalização dos
elementos estruturais.
Tal lógica é evidenciada pela construção de seis pórticos (estruturas constituídas por
barras verticais e horizontais, pilares e vigas) simetricamente espaçados entre si, do átrio à
nave, em quatro intervalos de 4 metros cada e, proporcionalmente, da nave ao altar, em um
intervalo de 12 metros. As figuras 16 e 17 ilustram o esquema estrutural previsto para a
Capela de Santana.
Figura 16: Esquema estrutural da Capela de Santana em perspectiva

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Figura 17: Esquema pórtico plano

Fonte: Elaborada pela autora (2019)


Assim, as cargas provenientes da cobertura são transmitidas às vigas transversais,
que se apoiam nas vigas longitudinais, as quais apoiam-se nos pilares, que por sua vez,
direcionam os esforços solicitantes às fundações e estas, por fim, ao solo. Na figura 18, a
transmissão de cargas ao longo da estrutura é indicada pelo encaminhamento apontado
pela seta vermelha.

Figura 18: Transmissão de carregamentos ao longo da estrutura

Fonte: Carolina Moraes e Luiz Fernando Ribeiro (2010)

Nota-se a duplicação dos pilares ao longo do eixo de 28 metros, que salvo a


ampliação da soleira, protegendo a capela da ação do sol, não encontra, a princípio, uma
explicação técnica, caracterizando-se antes como motivo arquitetônico e compositivo. O
mesmo princípio aplica-se aos fechamentos em X, os quais não possuem função estrutural.
Os pilares internos e externos, fixados ao piso e às bases de concreto,
respectivamente, são conectados por meio de parafusos de alta resistência mecânica, bem
como resistentes à corrosão atmosférica, especificados pela ASTM A-325, Tipo 3. A figura
19 e a foto 9 ilustram a fixação do pilar ao piso.
Figura 19: Fixação do pilar ao piso

Fonte: Elaborado pela autora (2019)


Foto 9: Fixação do pilar ao piso por parafusos especificados pela ASTM - 325

Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)


As vigas longitudinais constituem o arremate superior da capela, enquanto as vigas
transversais apoiam os elementos da cobertura. Na foto 10 identifica-se uma viga
transversal.

Foto 10: Detalhe viga transversal

Fonte: Leonardo Finotti (2008)

Já as vergas, que são vigas de dimensões reduzidas, empregadas para a


distribuição de cargas em vãos, conferem embasamento à estrutura e suporte à instalação
das vedações em vidro e madeira.

2.4 - PISOS

Consoante ao partido arquitetônico, já mencionado anteriormente, remetendo-se ao


estilo colonial, assim como à integração da capela ao ambiente externo da fazenda, os
pisos foram construídos em pedra.
Os pisos em pedra são construídos empregando-se pedras locais, como o arenito,
gneiss e o calcário, assentadas com argamassa feita de barro. Posteriormente, o piso é
revestido em pedras com algum tipo de acabamento, assentadas em argamassa de barro
ou cimento. Possuem espessuras entre 0,05 a 0,1 metros. A figura 20 esquematiza a
constituição dos pisos: uma primeira camada de pedras assentadas com argamassa de
barro e uma segunda camada de revestimento, utilizando-se pedras com acabamento.
Figura 20: Piso construído e revestido por pedras

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Na Capela de Santana, a transição entre os espaços é marcada pela diferença de


níveis e acabamento dos pisos. No átrio e ao longo da nave, empregou-se pedras
retangulares de tons claros para o revestimento dos pisos, ao passo que no altar
empregou-se pedra São Tomé, dispostas em forma de mosaico.

2.5 - VEDAÇÕES

As vedações da Capela de Santana foram executadas em painéis de vidro e em


painéis de madeira, fixados diretamente nas vergas de aço por meio de parafusos ou
encaixilhados em painéis de madeira. Tais painéis, com exceção dos vidros coloridos,
possuem dimensões comerciais e podem ser substituídos em caso de danos. Nas fotos 11
e 12 é possível a identificação dos painéis utilizados.
Foto 11: Painéis de vidro encaixilhados diretamente na estrutura metálica

Fonte: Leonardo Finotti (2008)

Foto 12: Painéis de vidro ao longo de todo o eixo longitudinal


Fonte: Leonardo Finotti (2008)

A solução recomendada é que os painéis de vidro sejam encaixilhados em perfis,


como cantoneiras e não diretamente nas vigas, prevendo-se, simultaneamente, o
espaçamento entre caixilho e vidro para dilatação térmica. O contato direto do vidro com as
vergas pode causar o atrito entre os materiais, provocando a remoção de camadas
protetoras do aço. As figuras 21 e 22 ilustram a fixação de painéis de vidro em vergas
metálicas, sem e com caixilhos, respectivamente.

Figura 21: Painel de vidro e verga, sem caixilho


Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Figura 22: Painel de vidro e verga, com caixilho

Fonte: Elaborada pela autora (2019)


Dialogando com o passado, a ruína, envolta pelo volume de aço e vidro, é
constituída por três paredes de pedra e barro, sistema construtivo tradicional no período
colonial. As paredes de pedra, outrora autoportantes, agora assumem protagonismo na
caracterização estética e ideológica do projeto. Na foto 13 identifica-se as três paredes e a
diferença de nível entre os pisos do altar e da nave.

Foto 13: Ruínas em pedra e barro, diferença de nível entre altar e nave
Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)

Similarmente às fundações e ao piso, emprega-se na construção destas alvenarias,


pedras de origem local, como canga, calcário, arenito, quartzito e gneiss. As pedras
escolhidas são assentadas com argamassa de barro, também empregada para a execução
do emboço das paredes. Já para o reboco, emprega-se argamassa de cal e areia. As
espessuras das alvenarias coloniais variam entre 0,5 metros a 1,0 metro de largura.

2.6 -COBERTURAS

A cobertura da capela é formada por quatro águas planas, cobrindo a área da nave,
e por meia água inclinada, constituída por um frontão com diagonais em V, cobrindo o altar.
As águas apoiam-se lateralmente nas vigas longitudinais, as quais conformam o arremate
superior da capela e, ao longo de suas áreas, apoiam-se nas vigas transversais. Na foto 14
identifica-se as coberturas.

Foto 14: Cobertura da Capela de Santana


Fonte: Leonardo Finotti (2008)

Quanto ao tipo de telha, empregou-se as telhas de aço galvanizado. Tais telhas


passam por processo de zincagem durante sua produção, adquirindo uma fina camada de
zinco, protegendo-as da corrosão. A figura 23 ilustra o modelo trapezoidal de telhas de aço
galvanizado, com dimensões comerciais.

Figura 23: Dimensões comerciais de telha trapezoidal em aço galvanizado

Fonte: Fabritelhas

As telhas são fixadas nas estruturas metálicas por meio de parafusos auto
atarraxantes com ponta broca, como exemplificado nas figuras 24 e 25. Já o forro da
capela, é construído em réguas e entalhes com forma de cuia, empregando-se madeira
maciça.

Figura 24: Detalhe de parafuso auto atarraxante e auto brocante

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Figura 25: Detalhe de encaixe entre telha

Fonte: Fabritelhas
2.7 - CONSIDERAÇÕES SOBRE FABRICAÇÃO, TRANSPORTE E MONTAGEM DA
SUPERESTRUTURA, DOS PISOS, DAS VEDAÇÕES E DAS COBERTURAS.

Em regra, pode-se dividir o sistema construtivo empregado na Capela de Santana


em duas fases (não necessariamente cronológicas): a primeira, inspirada nas técnicas
construtivas do período colonial e, a segunda, valendo-se do uso de estruturas
industrializadas. A execução da obra ficou a encargo da construtora Comtel.
Durante a primeira fase, os blocos de fundação em concreto são moldados in loco.
Similarmente, para o assentamento dos pisos, realizado de forma manual, optou-se pelo
uso pedras encontradas na região de Ouro Branco.
A segunda fase consiste na montagem da superestrutura, das vedações e da
cobertura. Todas as peças empregadas são fabricadas em uma unidade industrial,
conforme projeto estrutural, com detalhamento do diagrama de montagem. Na construção
da capela são identificados perfis dobrados a frio, processo no qual lâminas finas de aço
são conformadas por perfiladeiras ou dobradeiras.
As peças pré-fabricadas, perfis de aço, painéis de vidro e telhas de aço galvanizado,
são transportadas ao canteiro de obras por carretas de pequeno ou médio porte, como por
exemplo, o caminhão toco ou trucado. Após a descarga, realiza-se a conferência das peças
e inicia-se o processo de montagem. Na foto 15 identifica-se a superestrutura da capela já
montada.

Foto 15: Construção Capela de Santana


Fonte: Bruno Santa Cecília (2004)
A montagem é o processo no qual são unidas as peças que constituem a
superestrutura - pilares, vigas e vergas. Cada peça da superestrutura recebe um nome
(marca de detalhe), o que junto aos desenhos do diagrama, auxilia na localização e
identificação das posições de montagem.
Na capela, a conexão entre as peças é realizada por soldagem manual via eletrodo
revestido, permitindo maior flexibilidade no que se refere às posições de soldagem e melhor
acabamento final.
Os pilares são chumbados aos blocos de fundação e fixados aos pisos por meio de
parafusos autobrocantes, conforme item 2.2. Do mesmo modo, as placas de vedações e as
telhas de cobertura foram fixadas diretamente às vigas por intermédio de parafusos,
conforme especificado nos itens 2.5 e 2.6.
2.8 - SOLUÇÕES DE PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO

Devido ao pequeno grau de complexidade do projeto, no que se refere ao tipo de


ocupação, área construída e cargas solicitantes, a Capela de Santana dispensa maiores
soluções contra incêndio. Segundo a NBR 14432 / 2001 - Exigências de Resistência ao
Fogo de Elementos Construtivos - Procedimentos, a Capela de Santana é isenta de tempo
requerido de resistência ao fogo (TRRF). Isto porque a capela possui área construída de
293 m², portanto, inferior a 750 m², conforme verifica-se na tabela 4. Nesse sentido, a rota
de fuga seria a própria entrada da capela.

Tabela 4: Edificações isentas de TRRF

Isenção de TRRF

Ocupação / Área total da Carga de Altura da Equipamento de


Uso edificação (m²) incêndio edificação proteção de
(MJ/m²) (m) incêndio

Qualquer 750 Qualquer Qualquer (*)


Fonte: SISTEMAS ESTRUTURAIS (2015), adaptada pela autora

Além disso, o aço é um material incombustível, uma vez que apresenta elevada
resistência ao fogo. Não obstante, os detalhes em madeira, como no forro, são
combustíveis, porém, sabe-se que a madeira maciça queima de forma lenta, uma vez que
em sua superfície desenvolve-se uma camada de carvão isolante, reduzindo a emissão de
gases.

3 - CONCLUSÕES

A Capela de Santana é uma prova da adaptação das estruturas de aço à distintos


contextos, que para além da experimentação das técnicas construtivas intrínsecas aos
sistemas pré-fabricados, expressa o caráter estético e ideológico da arquitetura,
evidenciado pelo uso do aço corten.
Simultaneamente, vale-se da aplicação de teorias contemporâneas do restauro,
fomentando discussões no que tange ao emprego de materiais industrializados em edifícios
de interesse patrimonial. Evidencia o princípio da não hierarquização das estruturas
pré-existente em relação às novas, ressaltando a distinção visual entre as mesmas.
Por fim, aponta-se, as principais vantagens que tornam pertinente o uso de
estruturas de aço no contexto dos edifícios históricos, a saber, a leveza dos perfis, de forma
a não comprometer as estruturas pré-existentes, a diminuição dos custos, devido a rapidez
de execução das obras e a elevada vida útil do aço.
REFERÊNCIAS

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http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/publicacoes/guia-dos-bens-tombados/Publication/7-Guia-dos-B
ens-Tombados-Volume-2. Acesso em: 08 jun. 2019.

COSTA, Regina Xavier, et al. Interface de vidros e perfis: Componentes metálicos requerem
análise cuidadosa. Disponível em:
https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/entre-vidros-e-perfis-componentes-metalicos-01-09-2
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DIAS, Luís Andrade de Mattos. Estruturas de aço: conceitos, técnicas e linguagem. São Paulo:
Zigurate Editora, 1997. 4ª edição, 2002.

DIAS, Luís Andrade de Mattos. Estruturas de aço: conceitos, técnicas e linguagem. São Paulo:
Zigurate Editora, 1997. 11ª reimpressão, 2015.

FABRITELHAS. Produtos e serviços: telhas metálicas. Disponível em:


https://www.fabritelhas.com.br/prod-telhas_metalicas.html. Acesso em: 16 jun. 2019.

FINOTTI, Leonardo. Eolo Maia - Capela de Santana do Pé do Morro. Disponível em:


http://www.leonardofinotti.com/projects/capela-de-santana-do-pe-do-morro/image/33304-180708-055
d Acesso em: 16 jun. 2019.

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http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombad
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Moraes, Carolina Albuquerque. Ribeiro, Luiz Fernando Loureiro. Intervenções Metálicas em


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