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Antonio Candido.
"os três elementos centrais
dum desenvolvimento novelístico (o enredo e a personagem, que
representam a sua matéria; as “ideias”, que representam o seu
significado, — e que são no conjunto elaborados pela técnica), estes três
elementos só existem intimamente ligados, inseparáveis, nos romances
bens realizados. No meio deles, avulta a personagem, que representa a
possibilidade de adesão afetiva e intelectual do leitor, pelos mecanismos
de identificações, projeção, transferência etc. A personagem vive o
enredo e as ideias, e os torna vivos."
"Os seres são, por sua natureza, misteriosos, inesperados. Daí a psicologia
moderna ter ampliado e investigado sistematicamente as noções de
subconsciente e inconsciente, que explicariam o que há de insólito nas
pessoas que reputamos conhecer, e no entanto nos surpreendem, como
se uma outra pessoa entrasse nelas, invadindo inesperadamente a sua
área de essência e de existência."
Ao lado de tais tipos de personagens, cuja origem pode ser traçada mais
ou menos na realidade, é preciso assinalar aquelas cujas raízes
desaparecem de tal modo na personalidade fictícia resultante, que, ou não
têm qualquer modelo consciente, ou os elementos eventualmente tomados
à realidade não podem ser traçados pelo próprio autor. Em tais casos, as
personagens obedecem a uma certa concepção de homem, a um intuito
simbólico, a um impulso indefinível, ou quaisquer outros estímulos de base,
que o autor corporifica, de
maneira a supormos uma espécie de arquétipo que, embora nutrido da
experiência de vida e da observação, é mais interior do que exterior