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Muriaé
2020
JULIANA DE AGUIAR PACHECO
A Deus, por ser meu sustento e refúgio em todas as situações e por feito a Psicologia ser meu
propósito de vida.
Aos meus pais e ao meu esposo por terem sido fundamentais nessa caminhada.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me ajudado a superar todos os obstáculos até aqui e por ter provido todos os
recursos necessários.
A Profª. Ms. Fabrícia Creton Nery Thomaz. Orientadora, braço amigo de todas as etapas deste
trabalho.
Aos meus pais Antônio e Maria das Graças, por não medirem esforços para ver esse sonho se
realizar.
Ao meu esposo Emmanuel, que sempre com paciência e amor ouvia minhas queixas de cansaço.
Aos meus colegas de sala, principalmente aos meus amigos mais próximos pelo
companheirismo e força em todos os desafios dessa jornada.
Aos professores, que direta e indiretamente contribuíram para o meu crescimento pessoal e
profissional.
EPÍGRAFE
1 Samuel 7:12b
PACHECO, Juliana de Aguiar. Transtornos de ansiedade na infância e adolescência: uma
análise do modelo cognitivo. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em
Psicologia. Centro Universitário UNIFAMINAS, Ano 2020.
RESUMO
ABSTRACT
Anxiety disorder has been growing considerably worldwide, according to the World Health
Organization (2017), statistics show the high rates of anxious people regardless of age. The
present study is justified by the high number of people with anxiety disorders, the need for
prevention and prevention and the expansion of theoretical knowledge on the subject. It is
understood that the cognitive structures of the human being since the first years of life, is an
efficient strategy to interpret this, considering that anxiogenic beliefs and thoughts can
originate in childhood and accompany the individual throughout his life. The present study has
as its main methodology a bibliographic review through a literature review including sources
from the main authors of the topic addressed, as well as articles found in the Scielo, Psico Info
and Pepsic databases. It aims to present an analysis of the cognitive model of anxiety disorders
in children and adolescents characterizing the particularities of the disorders, symptoms and
the contributions that the context can bring to these cases, evidencing the benefits of
psychotherapeutic treatment based on the Behavioral Cognition Theory. However, it is
concluded the importance of the entry of new researches that contribute to the knowledge of
the dynamics of anxiety in the cognition of the human being in order to elaborate increasingly
efficient treatment techniques.
1. INTRODUÇÃO
Beck (2012) explica que a ansiedade é uma resposta natural e fundamental ao corpo,
porém quando manifestada em excesso traz sérias complicações para a vida do sujeito
envolvendo mecanismos fisiológicos, cognitivos, comportamentais e afetivos que podem ser
resultado de reações de medo hipotético ou real e sem capacidade de controlar. Um fator
marcante no sentimento da ansiedade é o medo, que por sua vez é uma espécie de estado
neurofisiológico que é ativado por intermédio de uma assimilação cognitiva de perigo ou
ameaça, em contrapartida a ansiedade é marcada como uma esquematização de complexidade
ativada pela apreensão e medo. Ambos são peculiaridades do ser humano, tanto a ansiedade
positiva e a patológica, a diferença é a disfuncionalidade cognitiva ativada ao interpretar uma
situação considerada ameaçadora.
A partir das interpretações errôneas que o indivíduo faz acerca de certos acontecimentos,
é apresentado uma grande propensão a relacionar esses acontecimentos a interpretações de
futuras vivências, que acabam sendo vistas como ameaçadoras. Grande parte dessas
interpretações foram adquiridas e derivadas do período da infância, pois é na infância que são
construídas as crenças sobre si, sobre o outro e sobre o mundo, e o ser humano ainda não possui
uma estrutura cognitiva propriamente formada, não estando preparado para selecionar ideias,
podendo assim, desenvolver futuramente transtornos de ansiedade (BECK, 2014).
Os transtornos de ansiedade são psicopatologias caracterizada pelo medo e preocupação
excessiva ocasionada por reação a um evento muitas vezes inofensivo, tais transtornos trazem
consigo a ansiedade patológica e com ela vem inúmeros prejuízos na vida do indivíduo em
decorrência ao sofrimento produzido, e isso vem crescendo ano a ano em todo mundo (COSTA,
2019). Em 2017 o Brasil atingiu o ranking de país campeão com pessoas ansiosas, são quase
19 milhões de pessoas com algum transtorno de ansiedade (OMS, 2017). Com base na
estatística apresentada do número elevado de pessoas com transtornos de ansiedade do Brasil,
o presente estudo justifica-se pela importância de investigar o modelo cognitivo responsável
por sustentar os fatores dessa dinâmica, que na maioria das vezes começa na infância e perdura
até a idade adulta. Com a elaboração de novas crenças é possível atingir uma estrutura sólida e
saudável na saúde mental do indivíduo, resultando em um melhor aproveitamento em suas
relações internas e externas (BECK, 2014). Por esse motivo torna-se necessário estudar as
estruturas cognitivas que envolvem os transtornos de ansiedade na infância e na adolescência,
e também como a Terapia Cognitivo Comportamental pode auxiliar o indivíduo no tratamento
dessas psicopatologias, pois grande parte das pesquisas encontradas sobre a temática enfatiza a
10
2. CARACTERIZAÇÃO DA ANSIEDADE
2.1 Dados epidemiológicos
Os transtornos de ansiedade são quadros clínicos que podem ser caracterizados como
primários, não procedentes de outras doenças psiquiátricas, ou secundários a outros transtornos.
Os tipos de transtornos de ansiedade mais comuns são os relacionados a fobias, estresse pós-
traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e pânico, os mais comuns são agorafobia e o
transtorno de ansiedade generalizada (COSTA, 2019). Tais transtornos têm sido vinculados a
diversificados aspectos culturais, sociais, ambientais e econômicos. No contexto educativo, no
11
trabalho e social podem ser encontrados fatores ambientais e psicossociais estressores que como
consequência podem servir como desencadeadores de ansiedade (DINELLI; ASSUMPÇÃO,
2018).
Os transtornos de ansiedade estão entre os principais transtornos mentais que afetam a
população mundial. No continente americano os problemas relacionados a ansiedade atingem
5,6% da população, com evidência para o Brasil, que possui o maior número de pessoas com
transtornos de ansiedade entre todos os países do mundo; 9,3% da população brasileira
apresenta algum tipo de transtorno ansioso trazendo inúmeros prejuízos em diversas áreas da
vida de um indivíduo (CHADE, PALHARES, 2017); afetando cerca de 18,6 milhões de
brasileiros e mais de 322 milhões de pessoas em todo o mundo (OMS 2017). No Brasil os
transtornos de ansiedade são mais presentes nas mulheres do que nos homens, sendo 7,7% em
mulheres e 3,6% em homens (GRACIOLI, 2018).
Luz (2012, p. 86) diz que “as mulheres tendem a usar mais estratégias cognitivas
desadaptativas, como reavaliação positiva1, ruminação2 e catastrofização3”, sendo assim os
maiores índices de ansiedade em mulheres podem estar correlacionado à maneira de
enfrentamento sendo que essa pode ser influenciada por fatores que precisam ser analisados de
acordo com cada caso. Existem alguns fatores prevalentes encontrados na maioria das mulheres
que apresentam transtornos de ansiedade, são eles: histórico de doenças crônicas, pouca
escolaridade, baixo nível socioeconômico e uso abusivo de álcool e tabaco, condições genéticas
e hormonais, preocupação com a saúde dos filhos, organização da rotina, baixa autoestima,
inseguranças em relacionamentos amorosos e etc.; (COSTA, 2019). Alguns fatores podem ser
considerados advindos de uma cultura imposto às mulheres que vem de anos, a responsabilidade
com os afazeres domésticos e o lugar de cuidado ainda são aspectos que grande parte das
mulheres enxergam como sendo somente seu papel na sociedade. As principais queixas das
mulheres com ansiedade patológica estão relacionadas a dificuldades para dormir ou
permanecer dormindo, inquietação, ficar facilmente irritada e triste (ARAÚJO, 2019).
Já nos homens os transtornos de ansiedade são decorrentes de alguns fatores
relacionados a liderança, inseguranças do trabalho agregando o medo do desemprego. Segundo
Fernandes (2018, p. 15) esses fatores “referem-se a inibição excessiva de comportamentos,
1
Dificuldade de lidar com situações corriqueiras (FERNANDES, 2015).
2
Estratégia que o indivíduo utiliza para enfrentar as emoções negativas. São pensamentos disfuncionais
persistentes sobre determinado acontecimento passado (LUZ, 2012).
3
Resposta exagerada aos acontecimentos. Um tipo de distorção cognitiva que enxerga o futuro sempre de forma
negativa (LUZ, 2012).
12
Os transtornos de ansiedade não estão presente só na fase adulta, eles também são
encontrados na infância e na adolescência, cerca de 10% de crianças e adolescentes em todo o
mundo sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade, podendo essa manifestação está
relacionada a fatores ambientais e hereditários (MINARINI, 2019). Diferente dos adultos, as
crianças demonstram objeções em assimilar e identificar seus medos. Situações como
realização de provas, cobranças dos cuidadores por alta dedicação, mudança de escola e
exigências sociais são os principais fatores facilitadores para o surgimento de transtornos de
ansiedade em crianças, sendo os âmbitos mais comuns de preocupação das crianças estão
relacionadas à escola, saúde e segurança pessoal. Em geral, as meninas apresentam mais
preocupações que os meninos em relação ao contextos citados, as preocupações que mais são
encontradas nas meninas envolvem a cobrança por boas notas na escola, adaptação com novos
professores, saúde das pessoas mais próximas e segurança ao sair sozinha, por exemplo.
(DINELLI; ASSUMPÇÃO, 2018).
Isso se expande para o período da adolescência, que de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS) (2018), a adolescência é compreendida cronologicamente de 10 aos
19 anos de idade, já para a Organização das Nações Unidas (ONU) (2018) o período da
adolescência é compreendido entre 15 aos 24 anos e conforme o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA, 1990) esse período vai de 12 aos 18 anos de idade. Apesar das demarcações
cronológicas, a adolescência está inserida no processo da juventude que além de ser uma etapa
biológica da vida do sujeito também possui características culturais que devem ser avaliadas
como um todo (MACHADO, 2012).
Alguns autores contemporâneos defendem a ideia de que
É importante enfatizar que a inscrição da juventude atual na vida possui dois
traços definidores: a liberdade de ação e o hedonismo. A consciência da
autonomia subjetiva, da liberdade individual e o senso de privacidade talvez
sejam algumas das maiores inovações da sociedade moderna em relação à era
clássica. [...] O sujeito moderno está sozinho, entregue à sua própria sorte. A
13
outro transtorno de ansiedade, sendo o mais comum o Transtorno de Ansiedade Social (Fobia
social).”
2.3.3 Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)
O indivíduo com ansiedade social apresenta medo e ansiedade focada em situações que
o colocam exposto a possível avaliação de outras pessoas, exemplo, encontrar e conversar com
as pessoas que não tem muita intimidade, ser observado bebendo ou comendo, situações
relacionada a exposição em público em geral e etc. O indivíduo teme ser humilhado,
constrangido, e avaliado negativamente. Os sentimentos de ameaças são quase sempre
desproporcionais a real situação social. Vale destacar que esses comportamentos ansiosos não
são derivados de medicamentos ou outra condição médica. Em crianças e adolescentes, a
esquiva e a ansiedade não acontece só em ambientes que os adultos são a maioria, mas também
aonde há pessoas com a mesma faixa etária no mesmo contextos sociais (DSM-V, 2014).
2.3.4 Fobia Específica
A Fobia Específica consiste em ansiedade ou medo focados em uma situação ou objetos,
como alturas, voar, animais, ver sangue, tomar injeção e etc.). Sempre que o indivíduo estiver
exposto a situação fóbica ele apresenta uma resposta automática de medo e ansiedade; os
sentimentos de ameaça são desproporcionais em relação ao real perigo apresentado; a esquiva
é constante tendo duração de no mínimo seis meses. Em crianças e adolescentes que apresentam
condições de Fobia Específica o medo e a ansiedade podem vir acompanhado de ataques de
raiva, choro, comportamento de agarrar-se e imobilidade. Cerca de 75% dos indivíduos com
Fobia Específica, receiam mais de um objeto ou situação. (DSM-V, 2014).
2.3.5 Transtorno de Pânico (TP)
Os ataques de pânico ocorrem de forma inesperada e recorrente, ou seja, mais de um
ataque em pânico sem que haja motivos realísticos para tamanha preocupação. Os ataques
podem acontecer repentinamente, o sujeito pode estar dormindo, relaxando, comendo; a
frequência com que esses ataques acontecem podem variar de forma significativa, sendo um
por um por semana, dois por mês e até mesmo um por dia em casos mais graves. Pode-se dizer
que é um surto intenso de medo ou desconforto que atinge um pico em poucos minutos e em
meio a esse pico ocorrem muitos sintomas. Quando a criança e o adolescente apresenta esse
transtorno, os sintomas mais comuns são sensação de asfixia, tontura, calafrios ou ondas de
calor, desmaio, náusea, taquicardia, medo de morrer e de enlouquecer. Os sintomas podem
variar de acordo com a cultura do indivíduo (DSM-V, 2014).
2.3.6 Agorafobia
17
significativo acarretando prejuízos em todas as áreas da vida do sujeito. Esse tipo de transtorno
é pouco encontrado em crianças e adolescentes, sendo mais comum na fase adulta (DSM-V,
2014).
2.3.9 Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica
De acordo com o DSM-V (2014) esse transtorno surge em consequência a preocupação
de outro caso clínico distinto que o indivíduo esteja vivenciando. A característica principal para
se fazer o diagnóstico é o indivíduo está inserido em outra patologia que incluem a ansiedade
como manifestação sintomática, alguns exemplos são: hipertireoidismo, distúrbios
cardiovasculares, feocromocitoma, hipoglicemia, dentre outros. O DSM-V (2014, p. 231) diz
que “a ansiedade devida a outra condição médica é diagnosticada quando a condição médica
induz ansiedade e precedeu o início desta.” Os sintomas mais comuns dessa condição é
alteração de humor, delírium, amnésia e ataques de pânico. O público que apresenta maior
prevalência de Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica é são os adultos,
sendo pouco encontrado a manifestação no público infanto-juvenil (CORDIOLI, 2005).
2.4 Tratamentos
O tratamento para os transtornos de ansiedade é realizado conforme a demanda do
indivíduo e a expressividade dos sintomas apresentados, incluindo sobretudo, a psicoterapia e
a utilização de fármacos ansiolíticos e antidepressivos que agem no cérebro com o objetivo de
reduzir os sintomas. Além disso, existem algumas práticas auxiliadoras recomentadas para o
tratamento da ansiedade em geral, as atividades como meditação, exercícios físicos, yôga e
dança são métodos que auxiliam na diminuição dos níveis de estresse e aumenta a sensação de
relaxamento (REED et al, 2012). Sempre que os sinais da ansiedade estiverem acontecendo
com frequência é orientado ao indivíduo que procure um profissional capacitado para que o
tratamento seja iniciado, evitando provocar consequências maiores, como potencializar o
surgimentos de doenças autoimunes, cardiovasculares ou psiquiátricas (CORDIOLI, 2005).
A psicoterapia é um dos tipos de tratamento mais sugeridos nesses casos. Conduzida
por um psicólogo, é uma estratégia de tratamento bastante eficaz para os transtornos de
ansiedade. Nos casos iniciais ou de grau mais leves, não se faz necessário o uso de
psicofármacos sendo suficiente para controlar os sintomas ansiosos. As intervenções realizadas
através da psicoterapia são importantes, pois são capazes de identificar os pensamentos
disfuncionais do indivíduo e ajudam na promoção do autoconhecimento e na queda significativa
de conflitos emocionais (MORAIS, 2019).
19
novos conhecimentos a partir das vivências possam formar novos pensamentos que
ressignificam crenças nucleares disfuncionais (ABREU; GUILHARDI, 2004).
Como já foi dito, as crenças nucleares são construídas principalmente a partir das
vivências adquiridas na infância, fazendo com que muitas dessas experiências resultem em
marcas positivas e negativas que servem de direcionamento no decorrer da vida. Por vezes, as
crenças nucleares são construídas negativamente fazendo com que se enquadrem
especificamente em três grandes categorias, são elas: o Desamparo, o Desamor e o Desvalor.
Em casos de transtornos de ansiedade as categorias mais manifestadas são o Desamparo e o
Desvalor. Alguns pacientes manifestam crenças nucleares que se enquadram em todas as três
categorias e elas são responsáveis pelo modo de como uma pessoa interpreta e se comporta em
determinadas situações (ANDRETTA; OLIVEIRA, 2011).
O Desamor está relacionado ao não merecimento de ser amado, desejado, atraente, ser
imperfeito e abandonado por todos ao redor. O indivíduo acredita que tem defeitos de caráter
que o impede de ser amado e de receber carinho das outras pessoas (BECK, J. 2014). Algumas
falas são mais decorrentes do indivíduo que apresenta essa crença central de forma mais
fortalecida, geralmente expressam afirmações que se sentem diferentes, indesejados, solitários,
rejeitados e abandonados (ANDRETTA; OLIVEIRA, 2011). Já o Desamparo tem como
característica os sentimentos de vulnerabilidade, fragilidade, incompetência e impotência. As
falas mais utilizadas na manifestação dessa crença são relacionadas a sentimentos de
inadequação e ineficiência, geralmente o indivíduo não se vê apto a encarar nenhum tipo de
mudança em sua vida, se vê na condição de fracasso, vulnerável, sem recursos e passível de
receber maus tratos (ANDRETTA; OLIVEIRA, 2011). Já o Desvalor o indivíduo acreditar que
ele não tem valor perante as outras pessoas, acredita que é um incapacitado, um fracassado e
inadequado; a preocupação maior não é com as suas habilidades pessoais ou se é amado, ele só
consegue acreditar que é ruim para as pessoas que convivem e até mesmo que é um ser que
oferece perigo em seu contexto social. As falas mais comuns que caracterizam a prevalência
dessa crença são de incapacidade de receber valor, ser inaceitável, acredita ser um derrotado,
cruel, acredita também ser um perigoso sem o merecimento de viver (BECK, J. 2014). Vale
ressaltar que a eficácia do processo terapêutico de acordo com a Terapia Cognitiva
Comportamental depende principalmente da identificação da categoria das crenças, para obter
um resultado significativo (ANDRETTA; OLIVEIRA, 2011).
Beck (2008, p. 57) é claro ao falar da importância de construção de crenças nucleares
positivas, quando diz que “crenças nucleares embutidas nas estruturas cognitivas modelam o
25
Beck (1995) apud Abreu & Guilhardi (2014) diz de que os sintomas de ansiedade são
disfunções de alta intensidade dos modelos cognitivos e devido algumas crenças nucleares
inflexíveis mais latentes o aparecimento de várias maneiras interpretativas são mais evidentes
nas situações do cotidiano. A visão sobre os transtornos de ansiedade está conectada
27
diretamente com a visão que cada indivíduo leva sua história evolutiva, como os padrões de
agir, pensar e de sentir de cada um. Sendo assim, nos casos em que a disfunção de crenças é
mais presente, há a um atraso considerável da velocidade necessária que o sujeito tem de
acompanhar a mudança do meio, construindo verdadeiros atrasos de interpretação, isto é, o
sujeito ainda se encontra aprisionado em determinadas crenças de valores irracionais antigos
(ABREU; GUILHARDI, 2004). No processo de cognição as crenças nucleares disfuncionais
alteram as estruturas adaptativas mais sólidas, imperando nos atos finais de interpretação e
significação, com isso, tem-se um dos campos com maior contribuição para o desenvolvimento
de transtornos de ansiedade. Feito que as crenças disfuncionais coordenam o âmbito
interpretativo resultando em distorções no entendimento e prendendo o indivíduo em possíveis
expectativas naquele momento impossibilitando-o de promover uma compreensão satisfatória
de determinados eventos (ABREU; GUILHARDI, 2004).
Para Caballo (2012), existem alguns aspectos indispensáveis e incomuns entre os
transtornos de ansiedade que são essenciais na avaliação na psicoterapia, o principal deles é a
sintomatologia, pois com os relatos de sintomas do paciente o psicoterapeuta será capaz de
averiguar a gravidade e a frequência que esses sintomas aparecem identificando assim o grau
de prejuízo que eles trazem na vida do paciente, para então, ter informações de como conduzir
o tratamento e assim diagnosticar se há ou não comorbidades com outros transtornos ansiosos.
O autor também destaca a necessidade de fazer uma avaliação completa e mais específica do
transtorno e do paciente, para isso é necessário propor um processo de avaliação que direciona
que alguns elementos devem ser empregados antes e depois da intervenção, são esses
elementos: Entrevista estruturada para a realização do diagnóstico; Avaliação dos sintomas
apresentados durante as crises ansiosas; Avaliação de variáveis de sintomas envolvendo mais
de um transtornos; Avaliação geral da ansiedade e depressão (CABALLO, 2012).
Para Clark & Beck (2012), a entrevista diagnóstica é essencial para realizar uma
conceitualização do caso e a partir daí estabelecer um planejamento de tratamento, analisar o
impacto que aquele sofrimento traz para o indivíduo, quais processos cognitivos servem como
gatilho para aquele sofrimento e se há ou não outros processamentos psicológicos que sejam
capazes de influenciar o tratamento psicoterápico. Ao iniciar o tratamento psicoterápico pelo
olhar da Terapia Cognitivo Comportamental, é indispensável que haja uma aliança terapêutica
entre o psicoterapeuta e o paciente. É necessário que o paciente esteja ciente que será realizado
um processo chamado psicoeducação, o paciente deverá saber como funcionará o tratamento e
que ele é capaz de monitorar seus pensamentos e sintomas que geram mudanças fisiológicas.
28
lida com aquela situação de medo e ansiedade (BATISTA, OLIVEIRA, 2005). Vale ressaltar
também que na adolescência alguns esquemas elaborados na infância são mantidos inativos,
porém diante a um estímulo estressor ou às cognições relacionadas a certas ocorrências da vida,
os esquemas podem ser ativados mais de uma vez, dessa forma, sendo desadaptativo (LUZ,
2012).
Quando se trata de transtornos ansiosos em especial na fase de transição da fase infantil
para a adolescência, o medo e ansiedade são provenientes de ameaças subjetivas que
contribuem para o surgimento de crises de identidade derivadas de sentimentos de solidão,
rejeição e incertezas relacionadas ao futuro. Pode-se destacar a diferença da manifestação da
ansiedade nos diferentes gêneros, nas meninas a manifestação de transtornos de ansiedade está
ligada a necessidade de aprovação social envolvendo estética e cobranças com padrões de
beleza; já nos meninos está ligada com a auto cobrança de se sentirem resistentes a expor seus
sentimentos de medo e preocupação (OBELAR, 2016). No geral, existem fatores incomuns que
são desencadeadores de ansiedade tanto nas meninas e nos meninos, podem ser considerados
“grandes alterações que lhe estão a acontecer: no seu corpo, que não controla, na relação com
os pais, em que os conflitos de dependência/autonomia são constantes, nos receios que sente
em relação às suas competências sociais e na relação com os pares.” (BRITO, 2011; p. 208).
É possível citar marcadores biológicas específicas da fase transitória infanto-juvenil que
colaboram para o surgimento de ansiedade, exemplo, alterações no próprio corpo, ganho de
peso, surgimentos de acnes, questões sexuais e a passagem do adolescente para o mundo adulto
configuraram o surgimento de acontecimentos importantes dessa fase, dando início a uma nova
etapa da vida, podendo contribuir para o reaparecimento de esquemas desadaptativos gerando
transtornos de ansiedade, sendo o mais comum o Transtorno de Ansiedade Generalizada,
Transtorno de Ansiedade Social e Agorafobia (OBELAR, 2016). Apesar do sofrimento
emocional e psíquico que os transtornos de ansiedade causam na criança e no adolescente, é
possível perceber as manifestações fisiológicas presentes nas crises ansiosas, como
[...] “pode-se citar agitação, hiperatividade e movimentos precipitados; como
manifestações cognitivas surgem atenção e vigilância redobrada e determinados
aspectos do meio, pensamentos e possíveis desgraças. Essas manifestações podem ser
passageiras ou podem constituir uma maneira estável e permanente de reagir e sua
intensidade pode variar de níveis imperceptíveis até níveis extremamente elevados.”
(BATISTA; OLIVEIRA, 2005, p. 43).
4
Processo comportamentais que envolvem interação entre indivíduos envolvendo experiências e valores
aprendidos no decorrer da vida relacionados a aspectos emocionais, psicossociais, cognitivos e culturais (GRUJO;
MARQUEZ, 2009).
5
Comportamentos adquiridos através do processo de observação. Atitudes comportamentais aprendidas a partir
de um comportamentos já existente (GRUJO; MARQUEZ, 2009).
32
possível verificar a remissão dos sintomas e a manutenção dos resultados atingidos, sendo que
o contexto familiar integra ativamente no processo de tratamento de sintomatologia. A literatura
aponta um número significativo de crianças e de adolescentes que se mantiveram até 3 anos em
remissão total de sintomas devido a inclusão da família do tratamento psicoterápico, em
comparação com as crianças e adolescentes que não tiveram seus cuidadores inseridos no
tratamento. Posto isso, pode-se dizer que a família tem um papel relevante no desenvolvimento
e na sustentação da ansiedade nas crianças e nos adolescentes, de modo que quando as famílias
são inseridas no tratamento as intervenções revelam-se mais efetivas na minimização dos
sintomas ansiosos, contribuindo também para a melhoria no relacionamento familiar e
prevenção de recaídas (PARADA et al., 2018).
Outro contexto importante de ser lembrado na vida de uma criança e de um adolescente
é o contexto escolar. O processo escolar deve contribuir para o desenvolvimento de habilidades
cognitivas, sociais, motora, psicológicas, de linguagem, de autonomia e de relacionamento
(SOUZA, 2011). Em toda fase escolar existem acontecimentos desencadeadores de ansiedade
na vida de um indivíduo, especialmente situações novas, que não foram vivenciadas na vida
familiar, pois é na escola que principalmente a crianças de pouca idade vão se deparar com uma
realidade distinta, um lugar desconhecido com pessoas estranhas que por muitas vezes as
exigem comportamentos que devido à pouca idade são incompreendidos, como fazer silêncio,
ficar de castigo, permanecer na fila e aprender a escutar uma pessoa que antes ela nunca teve
contato. Diante disso, a criança pode não saber lidar com esse excesso de comandos e
informações e pode sentir-se ansiosa, e se não for dado o devido cuidado a esses sentimentos
ansiosos, posteriormente pode trazer prejuízos no rendimento escolar e nas relações sociais
dessa criança (OLIVEIRA; SISTO, 2002)
É muito importante lembrar que a ansiedade excessiva apresentada no contexto escolar
não ocorre somente em crianças de pouca idade, mas sim, é muito encontrada também em
alunos veteranos de todas as idades se estendendo à adolescência, que em diversas situações se
sentem incapazes de enfrentar conflitos. A incapacidade de controlar as situações faz com que
a criança e o adolescente se sinta vulnerável ocorrendo o acúmulo de percepções errôneas,
assim, nota-se o aparecimento de sintomas e prejuízos causados pelos sentimento de medo e
preocupação derivados da incapacidade de gerenciar conflitos (BORGES et al., 2008).
Quando a criança e o adolescente com transtornos de ansiedade, não recebe o tratamento
adequado e a família e a escola não são parceiras desse tratamento, há grande chance desses
transtornos se estenderem até a idade adulta. Estima-se que o prognóstico é de a cada 3 casos
33
presença de um tutor com quem ele possa contar para auxilia-lo a manter seu desempenho
escolar (BRITO, 2011).
Sendo assim, a criança e o adolescente é parte ativa no tratamento psicoterapêutico e no
seu processo de mudança, bem como a afetividade envolvida no tratamento atua em diversos
fatores, um deles é o vínculo terapêutico, que ultrapassa a perspectiva de um sistema
terapêutico, mas é utiliza como ferramenta para auxiliar o paciente a ser autonomia emocional
e elaborar estratégias de enfrentamento possibilitando um estilo de vida funcional e saudável
(FARIA, 2013). O psicoterapeuta não aponta as soluções ao paciente e nem tenta convence-lo
sobre seus pensamentos disfuncionais, mas sim guia o a um caminho de descobertas que
proporcione a compreensão do seu problema; compartilhando sugestões e desenvolvendo
estratégias para melhor lidar com suas crises (BATISTA, OLIVEIRA; 2005). Contudo, é
preciso destacar também que os cuidadores e escola que envolvem a criança e o adolescente
devem ser incluídas do tratamento psicoterápico de forma direta ou indireta, sendo os
cuidadores parte fundamental desse processo. Ambos devem passar segurança ao indivíduo
evitando críticas relacionadas à suas emoções e evitar castiga-los pelas suas reações
disfuncionais, oferecendo apoio nesse processo de sofrimento (BRITO, 2011).
Nesse sentindo, conclui-se que as intervenções cognitivas comportamentais apresentam
total condição de oferecer um tratamento psicoterápico eficaz ao público infanto-juvenil com
ansiedade patológica. Também contando com a participação do contexto familiar e escolar no
oferecimento de suporte emocional é possível obter mudanças significativas na vida da criança
e do adolescente, contribuindo para o bem-estar e saúde mental mesmo após a finalização do
processo psicoterapêutico (GRUJO; MARQUEZ, 2009)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alguns anos atrás era muito comum a ideia de que preocupações, medos ou angustia em
ficar longe da figura de apego eram aspectos naturais em crianças e adolescentes, pois eram
consideradas parte do desenvolvimento, porém existem alguns fatores criados para distinguir o
que é normal de cada período e o que visto como patológico, essa distinção é relacionada
principalmente aos prejuízos causados na vida do indivíduo (FARIAS, 2013). Como já foi dito
até aqui, os transtornos de ansiedade são prevalentes em crianças e adolescentes que possuem
crenças fragilizadas e acabam contribuindo para uma vida disfuncional e com sofrimento
significativo. Assim, é muito importante que os profissionais sejam capacitados a identificar os
sintomas prevalecentes a cada transtornos de ansiedade, pois quando a identificação é feita de
38
maneira assertiva outros fatores podem ser evitados, como: idas constantes ao pediatra em razão
das queixas somáticas, dificuldades no processo de aprendizagem, esquiva em ir para escola,
impedimento de estabelecer relacionamentos sociais e etc. (COUTINHO, 2005).
Em casos de transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes acredita-se que para
amenizar a gravidade da psicopatologia o ideal a ser feito é um diagnóstico preciso e
intervenções com técnicas psicoterápicas adequadas para cada caso em específico, diminuindo
as chances de desenvolver outros transtornos na vida adulta. No entanto, o agente causador dos
transtornos de ansiedade na infância e na adolescência, por vezes, ainda é desconhecido e
supostamente multifatorial. Os principais autores que abordam a temática, Aaron Beck, David
Clark, Judith Beck, Paulo Knapp, Gildo Angelotti, entre outros, dizem que o tratamento
psicoterapêutico é indispensável em casos de ansiedade patológica no público infanto-juvenil,
principalmente quando utiliza-se técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental, pois tem
ganhado relevância no tratamento de transtornos de ansiedade em todas as faixas etárias
revelando maior relação também com a questão custo-benefício contando diretamente com a
interação das figuras de apego como parceiros na intervenção, contribuindo para a diminuição
da sintomatologia e enaltecendo o sentimento de auto controle da criança e do adolescente,
trazendo assim uma melhoria significativa na vida do indivíduo prevenindo a o surgimento de
recaída (KNAPP; BECK, 2008).
Contudo, apesar dos fatores considerados possíveis desencadeadores de transtornos
ansiosos em crianças e adolescentes citados em todo o trabalho, há inúmeros outros fatores a
serem pesquisados fazendo-se necessário uma maior dedicação em estudos considerando a
criança e o adolescente como ponto principal em transtornos psiquiátricos, com ênfase nos
transtornos ansiosos, uma vez que estão entre os mais identificados na infância e adolescência;
comprovando a relevância de mais pesquisas acerca da saúde mental nessa etapa da vida.
6. REFERÊNCIAS
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