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Julia Trevisan
Resumo:
A partir de uma impressão inicial equivocada da autora, de que aprofundar-se no estudo desta
trabalho revisa alguns escritos de Freud que falam destes temas, centrando-se particularmente
no aspecto limite do conceito de pulsão. Propondo ser, este, fundamental para a continuidade
integração psicossomática, salienta que, para Freud, o corpo é parte da mente. Finalmente,
traz algumas contribuições de André Green ao assunto, entre elas a proposição de rever toda a
“I’m not interested in how people move, but in what moves them”
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(Pina Bausch)
Introdução
freudiana. De fato, assim foi, e vem sendo, esta agradável experiência. Contudo, algo me
metapsicologia desligada do corpo e das leis da vida. Trazia na lembrança, por exemplo, as
críticas que ouvi ao “biologismo” de Freud. Talvez por minha formação médica, talvez por
uma curiosidade mais genérica sobre o que nos move, gostei de me deparar com conceitos e
assim como trazer de que maneira algumas idéias de André Green enriqueceram minha
compreensão do tema.
Desenvolvimento
Foi a partir do corpo que Freud decolou para o universo da psicanálise. A beleza de
seus escritos mostra este movimento, do somático para o psíquico, da sexualidade do corpo
para a sexualidade da mente. Um de seus conceitos fundamentais, a pulsão, ou Trieb, reúne
em si estes dois sentidos. Por toda a obra, até mesmo nos últimos escritos, o corpo está
sempre presente. Por que razão então, teria eu imaginado que o estudo da metapsicologia me
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A partir de um entendimento de que cada teoria precisa ser respeitada em sua
especificidade, a fim de obter-se dela seu melhor alcance explicativo e que o aprofundamento
aquele distanciamento.
Em seu Projeto para uma Psicologia Científica (1950b[1895]), Freud faz uma
energia interna. Estes postulados, que tratam os processos psíquicos como fenômenos de
escritos técnicos do autor. As quantidades de energia, por exemplo, vêm a ser o complexo e
desistiu de introduzir a psicologia no âmbito das ciências naturais. Em suas cartas a Fliess
diz: “Não estou (...)nem um pouco predisposto a deixar a psicologia no ar sem uma base
orgânica (...) mas preciso me conduzir como se somente o psicológico estivesse sob
A Interpretação dos Sonhos (Freud, 1900a) foi o corte epistemológico que fez nascer a
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protagonizando a cena psicanalítica e comunicando algo que, não se sabe como, transbordou
do psíquico.
Freud amplia o conceito de sexualidade. Diz ele: “O amor e a fome reúnem-se no seio
Considerado por Freud como o mais importante e também o mais obscuro objeto da
pesquisa psicológica (1915, p 135), a pulsão pode ser um conceito chave para elucidar o
incômodo e forçoso dualismo corpo e mente. A pulsão, do alemão Trieb, é uma força que
nasce do corpo e quer satisfação, assim transmitindo-se para o psíquico. O estudo deste
conceito revela que, para o pai da psicanálise, corpo e cérebro fazem parte da mente. Embora
ele saliente que “como pulsão, podemos entender, a princípio (grifo meu), apenas o
continuamente”(Freud, 1905d, p159), a pulsão não é pensável sem corpo. A fonte (do alemão
Quelle), ou seja, o soma, é por definição parte constituinte do Trieb (Green, 2005).
Sigmund Freud, Hanns (2004) explica que Trieb, traduzido para o português por pulsão ou
instinto, é um termo comum da língua alemã, de ampla abrangência, com conotações ligadas
às forças da natureza, à biologia, aos instintos e desejos. Trieb permite a Freud (1915) propor
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mente e corpo. Hanns salienta: “(...) Trieb emana da natureza, precipita-se historicamente
nas espécies, ancora-se no somático e invade a vida psíquica arcaica como imperativo,(...)
alterando-se profundamente, sem jamais desligar-se do corpo” (grifo meu). (Hanns, 2004, p
143)
são a raiz do eu, embora pouco se conheça sobre esta relação. O inconsciente é muito mais do
que o que foi apenas recalcado. É neste trabalho que está a famosa citação “o Eu é sobretudo
um Eu corporal”. (Freud, 1923, p38). Ele diz: “Mas, se por um lado a relação das
percepções externas com o Eu é bastante evidente, por outro a relação das percepções
Mais adiante em sua obra (1940), ele explica que é como se todos os fenômenos
a erogeneidade do corpo. A citação é clara: “O corpo inteiro é uma zona erógena” (p 164).
1905d, p159). André Green (1990), lembrando tradutores mais rigorosos, chama a atenção
autor, isto é algo não muito compreensível, algo no “limite do conceitualizável”, não sendo
uma linha mas todo um território, e o limite em si devendo ser considerado como um
novo na psicanálise? Freud”. Ele propõe rever toda a metapsicologia sob o ângulo do limite,
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afirmando que esta noção é onipresente na obra de Freud. Para ele essa é “a chave da
metapsicologia freudiana” (Green, 1999, p28). Com uma visão inovadora, mostra que há aí
um universo instigante a ser explorado, do qual a pulsão é um ótimo representante e diz que
“Parece ter ocorrido o desparecimento do corpo real na psicanálise”, diz ele. “A psicanalise
56) e diz que a discrição dos meios psicanalíticos perante os fenômenos que indicam a
do paradoxal, quando nos disse haver uma área intermediária, um campo transicional, um
espaço que não é nem dentro, nem fora, no qual falha a lógica aristotélica da não contradição,
(1905 p159), sendo representante do que ainda temos por compreender da complexidade do
psicossomática.
Para dar conta das dúvidas neste campo, Green (2005) sugere uma teorização
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“metabiologia”. “A metabiologia teria por função esclarecer o impensável da psicologia, o
que a metapsicologia freudiana começara a fazer” (p 76). A conclusão deste autor neste
artigo merece transcrição literal: “(...)a razão principal que me incita a continuar defendendo
o conceito de pulsão é porque somente ele fala daquilo que nos impele a viver, nos retém à
vida, nos convida a explorar sua diversidade e põe em movimento nossa capacidade de
investir em outros campos, alargando nossos horizontes, para que neles descubramos aquilo
Conclusão
estudados em meu primeiro ano de seminários neste instituto. Contudo, seu conceito
fundamental, a pulsão, tem em si um elemento fecundo de estudo, quando fala da força que
nos move e a situa como sendo corpo e sendo mente, ao mesmo tempo, numa definição onde
conceitos, embora o psíquico não seja concebível sem o corporal. Indo além, somos vividos
por esta força (Freud 1923, O eu e o id), que se movimenta através de nosso corpo, de nossa
amplo e complexo, talvez infinito. Talvez pela questão científica, talvez porque, como nos
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coloca Green, quanto a este assunto ainda tenhamos o recalcado, ou ainda porque sempre há
conceito central de pulsão confere ao corpo, e também à natureza, seu lugar de origem no
parece que é mesmo assim, no terreno da dúvida, do paradoxo e do inapreensível, que temos
Referências Bibliográficas
1993; 15:11-5.
Freud, S. (1900). A literatura Científica que trata dos Problemas dos Sonhos. ESB, v.
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Green, A (2005). O intrapsíquico e o intersubjetivo: pulsões e/ou relações de objeto.
Hanns, LA. Comentários do editor brasileiro. In: Freud: Escritos sobre a Psicologia do
Ogden, TH. Sobre o Espaço Potencial. In: Giovacchini, P.L. Táticas e técnicas
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