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Timbre subjetivo e dominio objetivo das cores ‘Ao estimular seus alunos a buscar um conjunto de cores harménicas, incentivando cada um a guiar-se pelo proprio gosto, Itten percebeu que essas preferéncias individuais na escolha das cores também revelavam qualidades dos seus temperamentos, da mesma forma que observara a expres sividade do trago em seus desenhos. As paletas de cores ela- poradas pelos alunos tornaram-se um indicador de tempera- mentosetalentos, levando Itten a utiliza-las como ferramenta para orientagao vocacional. Itten chamou essas paletas indi- viduais de timbre subjetiv 0 timbre subjetivo foi, sem divida, uma descoberta ge- nuina desse mestre da Bauhaus. Aproximadamente vinte anos mais tarde, pesquisadores na area da psicologia desenvol- escolha das cores com esta- nalidade, elabo- veriam estudos relacionando a dos emocionais e com a estrutura da perso) rando testes muito semelhantes as experiéncias de Itten Dois testes psicologicos que se utilizam das preferéncias cromaticas como indicadores da e sonalidade surgiram quase simultaneament ico Max Pfister em 1946 e intitula-se piramide de cores ~ TPC”), ax Liischer (1947). strutura emocional da per- fe na Sui¢a. Um deles foi criado pelo sui Der Farbpyramidentest (“teste da ste das cores, do doutor Mi mente aplicados, e sua efi hoje em varios paises como eo outro € 0 te Esses testes foram ampla comprovada, sendo utilizados até icacia foi auxilio no diagnostico clinico.* {oTo TPC] é um indicador exato das alteracdes dos estados emocionais € de disposi¢ae: [...] Pessoas juntam cores complementares ou combinagdes que estao na moda em vez de refletirem-se a si mesmas. ‘As harmonias podem ser bem préximas, com apenas duas ou trés cores, como azul-claro, cinza médio, branco e preto, ou verde-claro, amarelo e marrom-escuro, etc., podendo também ser muito abrangentes, incluindo varios tons, ou mesmo todas as cores do cir- culo cromatico, Entre pessoas com escalas de cor muito estreitas e muito abrangentes, existem todas as posicdes intermedisrias possivels. HA combinagées subjetivas em que um matiz domina quantita tivamente ~ todos os tons tém um acento vermelho, ou amarelo, ou azul, ou verde, ou violeta~, de forma que se é tentado a dizer que tal pessoa vé o mundo banhado por uma luz vermelha, amarela ou azul. £ como se visse tudo através de uma lente colorida, talvez com pensa- ‘mentos e sentimentos coloridos corespondentemente. Nos meus estudos de cor subjetiva, descobri que nao apenas a escolha a justaposi¢ao de matizes, mas também o tamanho e a orientacao das reas podem revelar caracteristicas. Alguns orlentam todas as reas verticalmente; outros as concentram na horizontal ou na diagonal. A orientagdo é um indicador do modo de pensar e sentir. ‘Alguns individuos inclinam-se em diregao a dreas de cor vigorosas € com bordas bem definidas; outros, em diregao padroes que se interpenetram, difusos e confusos. 0s individuos deste ultimo tipo rio sio afeitos a pensamentos simples ¢ claros. Podem ser totalmen= te emocionais e sentimentais. Em qualquer tentativa de medir a cor subjetiva, devemos observar 0s detalhes mais delicados, mas o fator essencial é a aura da pessoa."* “Johannes Itten, The Art of Color: Subjective Experience and Objective Rationale of Color, cit, p. 25 panne en 79 tudos de Pfister e da psicologia, das cores revela 2 pode ou nao se 10s, indicando dissecar essas produtos que sas limitacdes aaou de Sasscn ima instancia, ites, que apre- ressaltadas pelo le serem sugeri- e de trabalhar com jum quarto escuro, uma tristeza. “Seus estu- a0 macio, ou pig geomeétrica."* balho revelave rias cores intens: seriam, seg!" um batizado, © festival de flores claras, um jardim com 0 sol da manha, su- gerindo que "temas naturais deveriam ser coloridos, sem contrastes claro-escuro”.* Essa tematica individual nos exercicios evitava impor a mesma figura-padrdo a todos os alunos, pois Itten acredita- va que, ao oferecer um tema bem enquadrado no universo subjetivo do aluno, este seria capaz de descobrir intuitiva- mente as solucdes adequadas, o que certamente estimularia seu crescimento como artista. Entretanto, descobrir e explorar o timbre subjetivo era para Itten apenas parte dos seus ensinamentos sobre as cores. Depois da pratica dos exercicios que estimulavam as prefe- réncias cromaticas dos estudantes, Itten partia para um con- tetido mais objetivo, envolvendo a exploracao de formas ele- mentares, cores e contrastes. Nesse momento, alguns alunos enfrentavam a dificuldade de experimentar contrastes que nao faziam parte das suas concordancias subjetivas. Para suplantar as limitagdes do gosto subjetivo, Itten su- geria exercicios objetivos para o reconhecimento de situa- des especificas por meio das cores. Um deles tinha como tema representar as combinagées cromaticas das quatro es- tages do ano. Itten desenvolve um estudo sobre esse tema com a repre- sentacao objetiva das cores das quatro estacdes do ano (pri- mavera, verdo, outono e inverno). 0 intuito desse exemplo Ibidem, a trés diferentes or nos pintores: | (subjetiva) Pp!” seus profess ando pinta smo ao mudé iferente. Que reensivel, ja que o ‘80 acontece para acorreta nalogos (por ex® plo azuis e verdes) ou também quando um conjunto de co- res diferentes apresenta o mesmo valor de claridade (cores claras ou tons pastel). Itten defende a necessidade de uma mudanga de enfoque com relagdo as combinagGes cromaticas, passando de uma abordagem subjetiva para a objetiva. Como regra, 0 acerto da harmonia ou discordancia simplesmente se refere a uma eseala agradavel/nio agradavel ou atrativa/nio atra~ tiva, Tas julgamentos sao sentimentos pessoais sem forca objetiva. conceito de harmonia cromatica deve ser removido do dominio da atitude subjetiva para um principio objetivo.” A harmonia objetiva, para Itten, deve buscar a satisfacdo do olho humano, evitando que este produza (fisiologica- mente/ilusoriamente) as cores que esto faltando na com- posigao. Assim ele descreve seu conceito de harmonia: [...] Harmonia imolica balanco. simetria de forcas. Um exame do fe- ‘ndmeno fisiolégico na visdo da cor nos levara para mais perto da solugao do problema. Se olharmos durante certo tempo para um qua~ drado verde, ¢ entio fecharmos os olhos, veremos, como pés-ima~ gem, um quadrado vermelho. 0 olho possui a cor complementar. Ele procura restaurar o equilibrio em si mesmo. Esse fendmeno se refere 0 contraste sucessivo.”” ° Ibid., p. 2, “Ewald Hering, o fisiologista, tem iss0 a dizer: ‘0 cinza médio ou neutro corresponde Aquela condigdo da substancia éptica na qual a dissimulacdo — 0 seu consumo pela 0 — so iguais, de forma que a quantidade io gera visio ~ e a assimilagao ~ sua regeneraca de substincia dptica permanece a mesma. Em outras palavras, o cinza med! para um fundo quadrado ver- sucessivo ao fe~ ‘razao da estrutu- e o olho human ¢ cones; por que o olho € ° da substanci © ji basico de g, veja, na “conc! cconceito de pol! para 0 con- gia da visa ntensificam I A harmonia define-se para Itten como um estado de equi- librio psicofisiolégico. Para suscitar esse estado, a totalida- de cromatica se faz necessaria. Em defesa dessa posicao, Itten aponta para a descricao de Hering de uma situagao de equi- librio para o aparelho visual. 0 cinza médio é0 unico tom que nao incita nossos olhos a criar ilusdes de dptica, sendo, assim, uma cor que provoca sensa¢ao de equilibrio. Em sin- tese, toda composi¢ao de cores cuja mistura produza a anu- lagéo de seus matizes, alcancando um cinza médio, repre- senta uma composicao harmonica. Pode-se alcancar esse cinza médio a partir da mistura do branco e do preto, assim como a partir da mistura de cores complementares ou das trés pri- marias (azul, amarelo e magenta), sem se esquecer de que, ao misturarmos as cores complementares, estamos na verda- de misturando as trés cores primarias (azul e laranja sao com- de um tom que jo gerador dot Figura 12, As trés etapas de construcao do citculo cromatico de Itten: 1. localizagao das cores primari 2 misturando-se as primarias, produzem-se as cores secundarias, 3. misturando~ @ as secundirias com as primarias adjace cofes tercidrias, preenchendo todos os espacos do ilustraga0 baseada em johannes Itten, The Art of Color ‘Objective Rationale of Color, cit., pp. 34-35. tes, produzem-se as Subjective & Nosso poder de discernimento para as cores exige, além de uma visdo “normal”, uma consideravel vivéncia com a experiéncia de mistura de pigmentos. Para distinguirmos um azul primario de um azul que contém outros pigmentos em sua mistura é preciso testa-lo, verificando se ele, a0 mistu- rar-se com 0 amarelo, produz verdes-vivos da mesma forma que produz roxos-vivos ao misturar-se com 0 magenta (ou vermelho primario). vermelhos-viyose dos tons de laranja (ao misturor-se com o amarelo) dos tons de oxo e violeta (ao misturar-se com o azul). Cl. Johannes Itten, Design and Form: the Basic Course at the Bauhaus, cit. p. 4 2” #4 9 « we » | a / \ Quadredo Z : A" Retingulo a a | » Rae yt oY ee ov « ws «ov sy " » 4 A . ea 7 ary es aC eH 46 ae es | isOsceles «vo art «@ a Bw yoo FS = he Mg e s contrastes cutidas por linha é dada como curta quando a linha a ela comparada é mais longa. Os efeitos cromaticos sao similarmente intensifi- cados ou enfraquecidos pelo contraste”.® Itten nos convida a estudar isoladamente cada contraste, observando seu efeito visual, expressivo e simbdlico, por considerar essa pesquisa fundamental para o design croma- tico. Os sete contrastes que ele apresenta em sua teoria das cores sao: 1. De cores puras: contraste entre cores vivas, puras e satu- radas (as cores do circulo cromatico), destaca-se quando 0 branco e o preto participam da composi¢ao de cores. 2. Claro-escuro: 0 contraste claro-escuro explora 0 uso da luminosidade e 0 valor tonal das cores. Todas as cores, como sabemos, podem ser clareadas com branco e escu- recidas com preto. Itten recomendava aos seus alunos a construcao de escalas de valores tonais para cada cor, ten- do como referéncia uma escala do branco ao preto. Dessa forma, fica facil reconhecer as qualidades que algumas cores puras tém. O amarelo, por exemplo, mesmo intenso e vivo, ocupa sempre um valor mais alto que um vermelho na escala claro-escuro. 3. Quente-frio: alcanga seu efeito mais intenso quando a opo- sigdo se faz entre as cores laranja-vermelho € azul-verde. Mas as outras cores podem parecer quentes ou frias de- pendendo do seu contraste com matizes mais quentes ou * Ibidem. visa frontal corte transversal (A) ongitudinal (B) Figura 15, A esfera cromatica. Ibid, p. 35 0s dois cortes (um passando pela linha do equador, e 0 outro, longitudinal, passando pelos polos) demonstram as misturas de tons que ocorrem dentro da esfera. No centro da esfera (no seu nticleo) estd o cinza — a mistura de todas as © bid., p. w7 mo plano do hemisfério mais claro. 0 resultado é a estrela de doze pontas”." Aestrela cromatica de Itten resulta da projegao da super- ficie externa da esfera cromatica no plano. 0 polo norte da esfera (0 branco) passa a ser 0 centro da estrela, e 0 polo sul explode, originando suas pontas. Ele mantém, desse modo, nesse modelo bidimensional a representacdo da gradacao das doze cores em direcdo ao preto e ao branco. Tomamos a liberdade de representar a concep¢ao da es- trela de Itten, passo a passo, a partir da esfera de Runge: “bid. p. us,

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