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SURDEZ

E LIBRAS Michelle M. Carmozine • Samanta C. C. Noronha


conhecimento em suas mãos
Surdez e Libras: Conhecimento em suas mãos surgiu pela
necessidade de um material com uma linguagem direta
e simplificada que tratasse o tema da surdez com clareza
e ao mesmo tempo com leveza. O tema é sempre
delicado por envolver muitas opiniões e contradições. Michelle M. Carmozine
Especialista em Psicopedagogia Clínica e
Este livro busca apresentar um pouco de cada uma

SURDEZ E LIBRAS: CONHECIMENTO EM SUAS MÃOS


Institucional (2003) e Deficiência Visual e
delas, pois o objetivo é a reflexão, não a formação de Surdez (1999). Possui graduação em
uma visão única. Em vez disso, a intenção é abrir as Educação Especial pelo Centro
possibilidades e principalmente esclarecer que quando Universitário Lusíada (Unilus) (1997) e em
Orientação Educacional pela Universidade

SURDEZ
se trata de surdez e da pessoa com surdez devem ser Católica de Santos (Unisantos) (1999).
considerados os diversos fatores (familiares, Possui certificado da Prolibras em profi‐
econômicos e culturais) para se compreender sua ciência para o ensino e o uso da Libras em
nível superior. Atualmente é professora
constituição e suas escolhas.

E LIBRAS
dos cursos de licenciatura da Universidade
Samanta C. C. Noronha Santa Cecília de Santos e do curso de
Pedagoga pela Universidade Metropolita‐
O leitor encontrará aqui um livro instrucional de fácil
pedagogia e de medicina da Unilus,
na de Santos (Unimes), em especialização acesso e compreensão para ser lido sequencial ou psicopedagoga clínica institucional e
em Libras e Educação de Surdos pela aleatoriamente; foi pensado para todos que têm tradutora intérprete em Libras na
Unibem, certificada em Libras pela Con‐ Prefeitura de São Vicente, atuando como
curiosidade ou precisam entender e compreender o
gregação Santista de Surdos e pela Associ‐
ação Assistencial Cáritas, professora de “mundo” dos surdos. Não há a pretensão de este ser um conhecimento em suas mãos a s s e s s o ra t é c n i c a p e d a g ó g i c a d o
Departamento de Educação Inclusiva e no
Libras no curso de Medicina da Unilus, material que inicia e termina em si mesmo. Mais do que projeto “Oficina de Leitura e Escrita” com
participando há mais de quatro anos de isso, este é apenas o início para que se possa refletir surdos. Tem experiência na área de
projetos de Educação Inclusiva junto à Psicopedagogia, com ênfase em diagnósti‐
Secretaria de Educação da Prefeitura de
sobre as questões abordadas para se ir além desses
co clínico, tratamento psicopedagógico:
Santos, na instrução de crianças com conceitos, criando sua própria opinião a respeito do TDAH, dislexia, dificuldades de aprendiza‐
diversos tipos de deficiências e necessida‐ surdo. gem, educação especial e na área de
des educacionais diferenciadas, notada‐ educação especial com surdos e surdoce‐
mente crianças surdas e com síndromes gos, há mais de 18 anos; desde 2009 é
associadas. Atua como educadora de ISBN 978-850-80760-65-1 estagiária em Psicologia Experimental no
surdos e tradutora e intérprete de Libras Instituto de Psicologia da Universidade de
Educacional. São Paulo (IPq‐USP).
9 788580 760651
hubeditorial.com.br
SURDEZ E LIBRAS
conhecimento em suas mãos

Michelle M. Carmozine
Samanta C. C. Noronha
Apresentação
Nossa experiência no uso e no ensino da Libras – seja em cursos de
capacitação, extensão e pós-graduação – nos despertou a vontade de aceitarmos
o desafio da elaboração deste livro. Tivemos, assim, a vontade de desenvolver
este material, por observarmos a necessidade de uma linguagem direta e mais
simplificada em relação à surdez e a todos os aspectos que a envolvem.

O tema surdez sempre envolve muitas opiniões e contradições; são


inúmeras as abordagens, assim como os grupos que as defendem. Tentamos
apresentar um pouco de cada uma delas, pois nosso objetivo é a reflexão e não
a formação de uma visão única. Ao contrário, desejamos abrir as possibilidades
e principalmente esclarecer que, ao tratar de surdez e da pessoa com surdez,
devemos considerar diversos fatores (familiares, econômicos e culturais) para
compreendermos sua constituição e suas escolhas.

O material foi organizado para ser lido sequencialmente ou


aleatoriamente, conforme a necessidade do leitor. Elaboramos uma lista de
palavras comuns para facilitar o entendimento de alguns termos que, às vezes,
causam grande confusão. Há um capítulo que responde a perguntas feitas por
pessoas que participam da nossa comunidade Surdez, Educação e Libras. São
questões que envolvem a curiosidade de outras pessoas e que, por esse motivo,
julgamos de extrema relevância à criação deste capítulo.

Buscamos elaborar um livro instrucional de fácil acesso e compreensão


para todos aqueles que têm curiosidade ou precisão de entender e compreender
o "mundo" dos surdos. Sem a pretensão de este ser um material que inicia e
termina em si mesmo, mais do que isso, acreditamos ser apenas o início para
que seus leitores possam refletir sobre as questões abordadas e ir além de nossas
palavras, criando sua própria visão e opinião a respeito do Surdo.

Michelle M. Carmozine
Samanta C. C. Noronha
Prefácio

Foi um prazer receber o convite para escrever o prefácio do trabalho


Surdez e Libras: Conhecimento em suas mãos. Conheço uma das autoras,
Michelle Marques Carmozine, desde que iniciou em sua prática com o
indivíduo surdo. Tenho a imensa alegria de ter feito parte dessa trajetória por
alguns anos. Sinto-me à vontade para falar sobre seu trabalho, pois tenho a
certeza de sua competência e seu conhecimento sobre o assunto abordado.

Surdez e Libras: Conhecimento em suas mãos caracteriza-se por uma


apresentação clara sobre um tema polêmico. Ainda existem muitas barreiras
e dúvidas com relação ao uso da Língua de Sinais Brasileira, e as autoras
nos oferecem com simplicidade suas experiências em como lidar com o
conhecimento e a prática dos problemas sociais e linguísticos que acometem
o surdo.

A complexidade e os mistérios do trabalho com o surdo requerem


uma formação ampla do profissional, porém observei que somente aspectos
médicos e de linguagem não favorecem o processo de desenvolvimento do
indivíduo surdo. É necessário um profissional capaz de refletir sobre sua
prática clínica e educacional e de propiciar ações que favoreçam possibilidades
de trabalho que ajudem a enfrentar situações, capaz de participar de ações
sociais, culturais e educacionais de uma comunidade e de ajudar a formar a
personalidade e a manter a identidade do indivíduo expressando seus valores.

Todas as habilidades e competências mencionadas estão contempladas


pelas autoras Michelle Marques Carmozine e Samanta Noronha, neste livro,
numa série de capítulos de grande utilidade, tornando-se este referência para
todos os interessados pelo trabalho com o indivíduo surdo.

Ana Paula Silva Pires


Fonoaudióloga e Especialista em Linguagem
Agradecimentos de Michelle
Quero agradecer a meu marido, Pedro. Devo a ele por sua paciência
e amor incondicional, pelo encorajamento inabalável e pelos alicerces sólidos
que me proporciona.

Ao meu filho, Leonardo, minha força maior.

Também agradeço aos meus pais, Celso e Lídia, e a minha avó, Glacy,
que sempre me incentivaram a leitura e a busca das respostas para minhas
incansáveis perguntas.

Um agradecimento especial ao Professor Doutor Fernando César


Capovilla, que muito me ensinou sobre surdez e o Surdo, incentivando sempre
a pesquisa e a divulgação do conhecimento que adquirimos.

A Ana Paula e a Luciana pela amizade, incentivo, e pela participação,


mesmo que indireta, neste novo desafio.

E a Deus que colocou todas essas pessoas especiais em meu caminho.

Agradecimentos de Samanta
Primeiramente a Deus pela maneira carinhosa como conduz a minha
existência.

Agradeço imensamente a meu esposo, Claudio, que é um grande


companheiro, cúmplice, meu grande amor, em quem me espelho, por seu
valioso e incansável apoio, amor e paciência.

A minha querida filha Maluane, esteio de minha vida.

Minha família, principalmente minha mãe, Laura, por me ensinar a


acreditar.

Com muito carinho ao Alexsandro, meu primeiro aluno surdo que me


mostrou um mundo de novas possibilidades.
Nosso Agradecimento
Finalmente, seremos eternamente gratas a todos os surdos que fizeram
parte de nossas vidas e de nossas experiências, introduzindo-nos ao seu
"mundo" e despertando em nós a curiosidade e a necessidade de aprendermos
e compartilharmos cada vez mais.
Sumário

Apresentação 3
Prefácio 5
Agradecimentos 7
Nosso Agradecimento 9
1 A Audição 13
Anatomia e fisiologia da orelha
Partes e funções da orelha
Perda auditiva
Principais termos
Tipos de perda auditiva
Causas da perda auditiva

2 A Pessoa com Déficit Auditivo


e o Surdo 23
Diagnóstico da perda auditiva
Teste da orelhinha
Quando é possível detectar uma perda auditiva?
Audiometria
O que é audiograma?
O que é decibel?
Graus de severidade da pessoa com perda auditiva
Classificação de perdas auditivas quanto ao grau
A pessoa com déficit auditivo
O Surdo

3 O Surdo 33
Distinção e diferença
A cultura Surda e o multiculturalismo
Identidade Surda
4 Linguagem e Surdez 39
Diferença entre linguagem e língua
Linguagem
Língua
Aspectos linguísticos
Bilinguismo
Oralismo
Comunicação total

5 Libras – Língua de Sinais Brasileira 49


Legislação
Lei nº 10.436
Decreto nº 5.626
Libras – como uma língua
Variações linguísticas
Regionalidade
Iconicidade e arbitrariedade
Mudanças históricas
Características da Libras
Morfologia e sintaxe
Dactologia ou datilologia
Parâmetros gerais

6 Intérprete de Língua de Sinais 61


Legislação
Funções
Intérprete social
Intérprete educacional
Código de ética
7 Surdo e Educação 69
Políticas públicas
Educação inclusiva
Atendimento educacional especializado (AEE)
AEE para surdos
Problemas atuais relacionados ao AEE de surdos
Adequações curriculares

8 Dispositivos Auditivos 77
AASI – aparelho de amplificação sonora individual
Tipos de AASI
IC – Implante Coclear

9 Curiosidades 81
Perda auditiva
Recomendações e prevenções das otites
Rubéola
Bebês prematuros
Traumas acústicos
Surdo-mudo
Surdo
Hemisférios cerebrais
Atendimento Educacional Especializado – AEE
Competências atribuídas à escola
Competências do professor do ensino regular
Competências do Professor do AEE
Dia do Surdo
Símbolo Internacional de Surdez

10 Quem Pergunta Quer Respostas 93


11 Glossário 105
Referências 109
13

1 A Audição

Anatomia e Fisiologia da Orelha


Canais
Martelo semicirculares
Bigorn
Bigorna Janela
Estribo
E ibo circular
Nervo
Orelha auditivo
a

Canal Cóclea
auditivo
Trompa de
Eustáquio

Lóbulo
da orelha
Tímpano

Orelha é o nome que se dá às estruturas que compõem o sistema


auditivo e o vestibular periférico. Encontra-se na região temporal do crânio. A
orelha tem a função da audição e do equilíbrio. Divide-se em orelha externa,
média e interna.

Partes e Funções da Orelha

Orelha externa: pavilhão auricular (orelha e lóbulo), canal auditivo. O


pavilhão auricular tem por função, por via aérea, captar os sons ambientes. Já o
canal auditivo "estreita" os sons captados no ambiente e os conduz à membrana
timpânica.

Orelha média: tímpano, tuba auditiva (ou trompa de Eustáquio),


martelo, bigorna e estribo. A membrana timpânica vibra ao receber o estímulo
sonoro, sequenciando esta vibração para os três ossículos: martelo, bigorna
e estribo. Estes formam uma cadeia ossicular vibratória (janela circular),
transmitindo e amplificando os sons captados para a janela oval. A trompa de
Eustáquio (tuba auditiva) faz ligação com o nariz e tem por função igualar a
pressão do ar entre a orelha média e o ambiente externo.
14 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Orelha interna: cóclea, canais semicirculares, janela oval e nervo


auditivo. A janela oval é a entrada da orelha interna. A cóclea é a parte da
orelha interna formada por um canal espiral de 2 voltas e meia, composto
internamente por células ciliadas. Com a entrada do estímulo sonoro na
cóclea, as células ciliadas se deslocam, aparecendo o impulso nervoso, que é
transmitido para o sistema nervoso central. O nervo auditivo é responsável
pelo acesso do estímulo sonoro, transformado em impulso nervoso, para o
sistema nervoso central. No labirinto, uma parte, conhecida como cóclea, é
destinada à percepção dos sons e à conversão das ondas sonoras para estímulos
elétricos que serão posteriormente levados ao cérebro. A outra parte auxilia o
equilíbrio corporal.

Falando nossa Língua


O som ambiente é captado pelo pavilhão auricular, que conduz o som através
do canal auditivo. Ao chegar à membrana timpânica, o estímulo sonoro
vibra e permanece a vibrar através dos ossículos (martelo, bigorna e estribo),
chegando à janela oval, que conduz este estímulo sonoro para a cóclea.
A cóclea é constituída por um canal espiral, no qual encontram-se as
células ciliadas. Estas têm por função reconhecer o estímulo sonoro e
desenvolvê-lo para um impulso nervoso, que será enviado pelo nervo
auditivo para ser identificado.

orelha externa  orelha média  orelha interna


   
o som capta e conduz vibra e desloca processa e decodifica
A Audição | 15

Conhecer a anatomia e a fisiologia da orelha é importante para que,


ao entender como o som se processa e ganha significado, possamos também
compreender as possíveis perdas e falhas na audição. Assim, é possível
caracterizar as diferenças entre déficit auditivo, surdez, perda auditiva
condutiva, distinções estas que veremos a seguir.

Perda Auditiva

Genericamente, a perda auditiva é conhecida como a diferença


existente na habilidade normal para a percepção, sendo a detecção sonora de
acordo com os padrões estabelecidos pela American National Standards Institute
(ANSI – 1989). A perda auditiva pode variar desde dificuldades em ouvir sons
(suaves e graves) ou dificuldades em entender a fala até a completa ausência de
reconhecimento sonoro. Apresentar perda auditiva não significa ouvir os sons
com o volume rebaixado, o que ocorre é a perda do reconhecimento de alguns
sons ou tons que se apresentam em frequências diferenciadas, uma vez que a
audição não é linear. O primeiro nível de perda ocorre em relação aos sons da
fala, ou seja, aos fonemas.

Principais Termos

Hipoacusia: redução da sensibilidade auditiva, sem alterar a qualidade


da audição. A amplificação da fonte sonora possibilita uma audição adequada.

Disacusia: distúrbio da audição em que há a perda na qualidade


sonora, e não na intensidade do som. Neste caso, aumentar a intensidade da
fonte sonora não garante o entendimento do significado das palavras.

Anacusia: ausência total do reconhecimento e da percepção dos sons.

Tipos de Perda Auditiva

Perda auditiva condutiva: interferência na transmissão do som desde


sua captação pelo pavilhão auricular, na orelha externa, até a cóclea, situada na
orelha interna. A orelha interna está com a sua função normalizada, mas não
16 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

é estimulada pela vibração sonora devido a algum impedimento (ver perda


condutiva a seguir). É uma perda que pode, em alguns casos, ser reversível.

Perda auditiva sensorioneural: relacionada à orelha interna,


especificamente à cóclea. Dá-se em caso de impossibilidade de percepção do
estímulo sonoro por lesão coclear, geralmente relacionada às células ciliadas
ou ao nervo auditivo (ver perda sensorioneural a seguir). Perda irreversível.

Perda auditiva mista: refere-se a um comprometimento que envolve


tanto uma perda condutiva quanto uma perda sensorioneural, ou seja, há uma
alteração na recepção do som, assim como uma lesão coclear.

Perda auditiva central, disfunção auditiva central ou surdez central:


não é uma perda que necessariamente será acompanhada de uma diminuição
da sensibilidade auditiva. Ela manifesta-se por diferentes graus de compreensão
sonora, e relaciona-se a alterações nos mecanismos de processamento auditivo
no tronco cerebral, ou seja, no sistema nervoso central.

Causas da Perda Auditiva

Muitos são os fatores que podem causar uma perda auditiva. Aqui, eles
serão divididos em dois segmentos: perda auditiva condutiva ou de condução e
perda auditiva sensorioneural.

PERDA CONDUTIVA

Cerúmen ou corpos estranhos no conduto auditivo: existência


de cerúmen (cera) ou algum tipo de material (rodas de carrinhos, grão de
feijão, botão, etc), que, ao se instalar no canal auditivo, impede que o som
ambiente captado trafegue até chegar à membrana timpânica. Este problema é
solucionado assim que retirados a cera ou o objeto.
A Audição | 17

Otites: termo médico utilizado para infecção de ouvido. A infecção na


orelha externa é chamada de otite externa e na orelha média é chamada de otite
média, podendo ser aguda ou crônica. Enquanto a criança estiver com otite,
sua audição estará prejudicada.

Otite externa: normalmente causada por fungos ou bactérias que


penetram através de lesões na pele da orelha externa provocadas por atritos
provindos de coceiras ou da secagem do ouvido, por objetos (bastões de
algodão e grampos de cabelo) e pelo contato com água contaminada (piscinas,
mar, banhos, etc). A queixa mais comum é dor intensa e diminuição da audição,
às vezes acompanhadas de coceira e secreção. Sua detecção se dá por meio de
exame otológico, feito por um médico otorrinolaringologista. O tratamento
pode incluir analgésicos, antibióticos e antifúngicos.

Otite média: comum na infância, pode acometer pessoas de qualquer


idade. É uma infecção gerada por vírus ou bactérias, causando inflamação ou
obstrução. Ocorre, por costume, durante longos períodos de gripes e infecções
respiratórias ou de garganta. Quando não tratada, pode levar à perda auditiva.
O nariz e a faringe normalmente são infectados por bactérias e vírus, que
podem ser transportados pela tuba auditiva (ou trompa de Eustáquio) até a
orelha média, causando acúmulo de pus nesta região. Enquanto esse pus
estiver alojado na orelha média, poderá ocasionar uma pressão que levará a
febre, falta de apetite, dor e redução da audição. Dependendo do tempo e da
pressão em que esse pus se mantiver na orelha, às vezes pode haver a ruptura
da Membrana Timpânica, pois essa substância purulenta tende a fazer pressão
para sair. Quando ocorre essa ruptura da membrana timpânica, temos uma
otite média aguda supurada. Mas, o que mais comumente ocorre é que o pus
18 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

transpasse a membrana timpânica e escorra pela orelha externa. O tratamento


é feito através de avaliação médica (otorrinolaringologista), que prescreve ação
medicamentosa por meio de antibióticos e anestésicos.

Tímpano Saudável Otite Média

Falando nossa Língua


Existem diferentes tipos de otite. Vale ressaltar que em alguns casos a otite
pode causar perdas auditivas temporárias, quando envolve presença de
secreção inflamatória na orelha média ou quando se trata de otites agudas
de repetição (que vão e voltam). As otites podem ainda estar relacionadas a
quadros clínicos de alergia das vias aéreas superiores, aumento da adenoide
e a sinusites. O tratamento é clínico medicamentoso e, em alguns casos,
cirúrgico, com a colocação de "tubinhos" de ventilação. Nos casos em que
o quadro crônico se estende por três meses ou mais, deve-se ter em mente
que durante esse período a audição da criança estará comprometida, o que
consequentemente dificultará o seu aprendizado. Na primeira infância, a
audição prejudicada poderá inibir o desenvolvimento do vocabulário da
criança e, em idade mais avançada, poderá atrasar o seu aprendizado.

Estenose ou atresia do conduto auditivo: redução do diâmetro ou


ausência do canal auditivo. A estenose pode ser congênita (de nascença) ou
ocorrer por trauma, infecção grave ou agressão cirúrgica. A atresia, por sua vez,
é geralmente relacionada a má formação congênita.

Perfurações da membrana timpânica: ocorrem por traumas externos


relacionados a mudanças bruscas de pressão atmosférica ou a uma otite média
supurada.
A Audição | 19

Obstrução da tuba auditiva: infecções de nariz e de faringe


transportam vírus e bactérias através da tuba auditiva, causando sua obstrução
com pus e trazendo prejuízos à audição.

Fissuras palatinas: ocorrem quando há uma abertura direta entre


o palato (céu da boca) e a base do nariz. Esta má formação ocorre durante
a gestação quando o maxilar superior do bebê não se consolida, deixando
uma abertura que requer cirurgia corretiva. Crianças com fissura palatina
podem enfrentar dificuldades na alimentação, na respiração e na fala, além
de problemas psicológicos. A correção através de cirurgia é indicada após a
criança completar um ou dois anos de idade, quando o maxilar já atingiu o seu
crescimento normal, podendo-se esperar até cinco a sete anos de vida, a fim de
se evitar problemas estruturais.

Otosclerose: de causa hereditária, caracteriza-se pela má formação


óssea. Os ossículos que compõem a orelha média (martelo, bigorna e estribo)
impedem que as vibrações sonoras passem da orelha média para a orelha
interna, gerando a perda gradativa da capacidade auditiva, em um processo
lento e gradual que pode avançar entre 10 e 15 anos (média). Por este motivo,
às vezes a otosclerose só é percebida na vida adulta, quando já se encontra em
estágio avançado, podendo levar à surdez. Não há uma idade específica para
que surjam os primeiros incômodos, tais como zumbidos, acompanhados ou
não por vertigens. A doença tem sua maior incidência ou identificação por
volta dos 30 anos de idade.

PERDA SENSORIONEURAL

Podemos dividir as causas das perdas sensoriais em três fases de maior


incidência: pré-natais, perinatais e pós-natais.

Causas pré-natais (surdez adquirida através da mãe no período


gestacional)

• hereditárias: existência de caso(s) de surdez relatados na família,


devido a síndromes ou origens cromossômicas;
20 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• congênita: a causa mais comum da surdez no período pré-natal, no


Brasil, é a rubéola. No entanto, ainda há a surdez por toxoplasmose,
sífilis, fator Rh, desnutrição/subnutrição, alcoolismo materno;

• causas desconhecidas: a criança nasce surda, mas não se consegue


definir um motivo específico, sendo caracterizada a surdez por
motivo desconhecido.

Causas perinatais (surdez por problemas no parto)

• prematuridade ou baixo peso ao nascer: anteriormente, a informação


referia-se a crianças com peso abaixo de 1,5kg; no entanto, muitos
têm sido os relatos dos hospitais com unidade de terapia intensiva
neonatal de bebês prematuros que nascem com 800g e sobrevivem.
Estes são conhecidos como bebês de sobrevida;

• trauma no parto: são traumas físicos que podem ocorrem durante


o parto, geralmente resultados de doenças fetais, prematuridade
ou problemas pélvicos da mãe. Também se dão por intercorrências
durante o parto, podendo ocasionar paralisia cerebral;

• anóxia: falta de oxigenação no cérebro nos casos referentes à surdez


por causa perinatal. Pode ser ocasionada devido a partos antecipados
ou prolongados, ou seja, bebês retirados antes ou depois do tempo
adequado. Para se evitar esse tipo de intercorrência, uma avaliação
pré-natal feita por um obstetra é indispensável. É ele a pessoa ideal
para definir o período mais adequado para o parto, assim como para
orientar o melhor tipo de parto;

• eritroblastose fetal: conhecida como doença hemolítica perinatal,


manifesta-se durante a gravidez de mulheres com Rh negativo que
estejam gerando um bebê com Rh positivo (o pai da criança precisa
ter o sangue Rh positivo). Devido à incompatibilidade sanguínea
do fator Rh entre o sangue da mãe gestante e o sangue do feto, a
mãe começa a produzir anticorpos. Estes chegam até a circulação
do feto, destruindo as suas hemácias. A eritroblastose fetal pode
A Audição | 21

ocasionar morte fetal durante a gestação ou logo após o nascimento.


Como consequência, também pode haver déficit intelectual,
surdez, paralisia cerebral e icterícia (excesso de bilirrubina no
sangue, ou seja, um pigmento gerado pelo metabolismo sanguíneo,
caracterizado pela pele amarelada do bebê). Vale lembrar que, para
que exista esse risco, a mãe deverá ter tido contato previamente
com sangue fator Rh positivo por transfusão sanguínea errônea ou
ter tido uma gestação anterior com um feto de fator Rh positivo,
cujas hemácias passaram para a circulação sanguínea materna.
A prevenção é a indicação. Se a contaminação do sangue da mãe
com as hemácias do feto for detectada, o médico ministra uma
medicação (gamaglobulina anti-Rh) a fim de eliminar as hemácias
fetais do sangue da mãe, evitando sua sensibilização e eliminando a
possível concepção de um segundo filho com eritroblastose.

Causas pós-natais (surdez por problemas após o nascimento da


criança)

• adquiridas: as mais comuns são meningite, sarampo e caxumba.


No Brasil, atualmente, a surdez por sequela de meningite é
a mais incidente. Novamente vale ressaltar a importância do
acompanhamento pré-natal e de políticas públicas eficazes como
forma de prevenção a essas causas;

• drogas ototóxicas: alguns antibióticos podem causar danos ao


sistema auditivo, especificamente à cóclea e ao sistema vestibular,
em alguns casos a ambos. Sendo assim, quando alteram a função
coclear, causam danos à audição e, ao alterar o sistema vestibular,
interferem no equilíbrio.

• traumas físicos que afetam o osso temporal: como causa das perdas
auditivas em crianças, os traumas físicos podem estar relacionados
a quedas e fortes batidas na cabeça que afetam principalmente a
orelha média, ou seja, os ossículos que lá se encontram: materno,
bigorna e estribo; gerando perda auditiva parcial ou total;
22 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• traumas acústicos: a proximidade do bebê em ambientes altamente


acústicos pode causar perda auditiva momentânea, perda
progressiva ou ocasionar a surdez. As percepções do quanto os sons
ambientais encontram-se altos a ponto de se tornarem prejudiciais é
de difícil observação. Vivemos em uma época em que há um excesso
de estímulos, inclusive sonoros, o que tem aumentado em grande
proporção a ocorrência de traumas acústicos. Os sons muito altos
podem prejudicar a audição em curto ou a longo prazo, danificando
as células ciliadas que se encontram na orelha interna, dentro da
cóclea.

Falando nossa Língua


As causas da surdez são variadas e podem acontecer em qualquer período
da vida. Listamos apenas as mais incidentes no pré-natal, no perinatal e no
pós-natal. É possível observar que alguns desses acontecimentos podem
ser evitados ou prevenidos por meio de um acompanhamento pré-natal
adequado e de políticas públicas eficazes, que primem por acompanhar e
orientar a saúde da população com campanhas informativas e de vacinação
em relação à rubéola, à caxumba e ao sarampo, assim como campanhas
preventivas quanto à meningite, à toxoplasmose, entre outras. No entanto,
faz-se necessário salientar o fato de que o déficit auditivo e a surdez podem
ocorrer por traumas físicos, fatores genéticos, etc o que, nestes casos, é
imprevisível.
23

2 A Pessoa com Déficit Auditivo


e o Surdo

Diagnóstico da Perda Auditiva

A avaliação da capacidade auditiva é conhecida comumente como


Teste da Orelhinha. Embora a lei o tenha tornado obrigatório e gratuito desde
agosto de 2010, o teste ainda não é feito em larga escala, devendo ser realizado
na própria maternidade em que o bebê se encontra, no segundo ou terceiro dia
de vida.

Teste da Orelhinha

Segundo os dados da Organização das Nações Unidas, no Brasil, três


em cada mil crianças possuem algum tipo de perda auditiva. No Estado de São
Paulo, o Teste da Orelhinha tornou-se obrigatório pela Lei nº 12.522, de 2007.
O teste, também chamado de Triagem Auditiva Neonatal (TAN), é realizado
com a colocação de um fone na orelha do bebê, o qual se encontra acoplado
a um computador que emite sons de baixa intensidade, recolhendo respostas
produzidas pela parte da orelha interna. Realizado com o bebê dormindo em
sono natural, o exame não causa nenhum tipo de dor, dura cerca de 10 minutos,
e não há contra-indicações para a sua realização para a sua realização.

Em caso de alterações dentro dos limiares de normalidade ou se


houver suspeitas de perda auditiva, os pais são informados imediatamente para
que busquem atendimento especializado. No caso, acompanhamento inicial
de médico otorrinolaringologista e de fonoaudiólogo, para que seja feita uma
avaliação otológica e audiológica completa.

Quando é Possível Detectar uma Perda Auditiva?

Como vimos no capítulo anterior, há bebês com risco para a surdez.


São os casos em que há um histórico de surdez na família, quando a mãe
apresentou infecção congênita durante a gestação (sífilis, rubéola, toxoplasmose,
24 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

etc), quando o bebê necessitou de intervenção na UTI por mais de 48 horas


ou quando o recém-nascido apresentou anormalidades craniofaciais (fissura
lábio-palatina, má formação de pavilhão auricular) ou fez uso de medicamentos
ototóxicos, entre outros.

Se os pais e o pediatra estiverem atentos a algumas reações, logo nas


primeiras semanas após o nascimento é possível observar alguns indícios de
que o bebê não está ouvindo corretamente. Os mais evidentes são:

Nos primeiros meses de vida:

• o bebê não se assusta ou não acorda com barulhos fortes ou súbitos;

• o bebê é extremamente quieto;

• o bebê não busca a origem do som (barulho, ruído), tentando virar


a cabeça para a fonte sonora;

• a mãe usa a voz para acalmar o bebê, mas este nunca reage ou para
de chorar;

• o bebê apresenta choro constante, sem motivo aparente.

Em crianças com mais de um ano de idade:

• parecem não responder ao serem chamadas em voz normal;

• quando estão de costas, parecem não se importar com as pessoas


que lhes dirigem a palavra;

• estão, aparentemente, sempre distraídas;

• olham para a boca da pessoa que fala próximo a elas e não para os
olhos;

• não viram a cabeça na direção da fonte sonora;


A Pessoa com Déficit Auditivo e o Surdo | 25

• tardam a falar as primeiras palavras (só por volta dos três ou quatro
anos de idade);

• apresentam crises de otite repetitivas ou reclamam constantemente


de dor de ouvido;

• utilizam-se de apontamentos e gestos para se comunicar;

• falam extremamente alto ou extremamente baixo.

Em crianças com idade acima dos cinco anos:

• têm vocabulário pobre e restrito;

• fazem trocas ou omissões de fonemas na fala e na escrita;

• tendem a usar frases curtas e diretas;

• às vezes são confusas na elaboração da sua fala para se expressar,


fazendo uso de palavras ou frases descontextualizadas;

• parecem constantemente desatentas ou irritadas.

Vale ressaltar que as informações apresentadas acima são apenas


indícios, o que não significa que o bebê ou a criança apresente uma perda
auditiva, mas que se deve estar atento a essas características a fim de se buscar
um atendimento específico para sua verificação e veracidade. Na suspeita
de perda de audição, um médico deverá ser consultado. Somente ele poderá
indicar exames específicos para avaliar a situação.
26 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Audiometria

Audiometria é um estudo quantitativo que determina as possibilidades


da qualidade acústica da orelha, ou seja, o que a pessoa escuta, através dos limites
de intensidade de som. É possível escutar por via óssea ou aérea. Observam-se
a intensidade (expressa em decibel – dB) e a frequência (em hertz – Hz) dos
sons. Avaliação metrológica, a audiometria estabelece as medidas em forma
de um audiograma, e inclui testes de reconhecimento de fala (discriminação
vocal), Limiar de Detecção de Voz (LDV) e Limiar de Reconhecimento de Fala
(LRF) ou Speech Reception Threshold (SRT). Tais procedimentos iniciais para
uma avaliação clínica das alterações auditivas permitem classificar a perda
quanto ao grau e tipo, orientando para medidas preventivas ou de intervenção,
dependendo do resultado obtido, e fornecem, caso necessário, dados para a
indicação de aparelhos auditivos ou de implante coclear.

A avaliação audiológica pode ser realizada em crianças e adultos, sendo


fundamental tanto para a detecção tanto de algum desvio auditivo de limiar
dentro da normalidade como para o desenvolvimento da fala e da linguagem.
O teste é realizado por um fonoaudiólogo em ambiente acusticamente tratado
(cabine acústica), para que se evitem ruídos que possam interferir no exame.
O profissional emite tons puros em diferentes intensidades e frequências,
recebidos por fones de ouvido que deverão estar devidamente posicionados
no paciente a ser avaliado.

O Que é um Audiograma?

O audiograma é um gráfico com coordenadas nas quais são registradas,


em distâncias, as frequências (Hz) e dispostas as intensidades (dB) das
indicações sonoras mínimas que determinam a percepção sonora na pessoa
avaliada. Em um mesmo gráfico, são obtidos esses limiares.

O Que é Decibel?

O decibel (dB) é uma unidade de medida da intensidade ou volume do


som. Ele está presente em qualquer fonte sonora, até nas mais imperceptíveis
A Pessoa com Déficit Auditivo e o Surdo | 27

ao ouvido humano. Para se ter uma ideia da intensidade dos decibéis, uma
conversa normal está em torno de 40 a 60 dB; já o som emitido por uma
turbina de avião encontra-se a cerca de 120 dB, o que é considerado um som
ensurdecedor.

Através do modelo ilustrado de um audiograma é possível observar a


relação do som com o seu grau de intensidade (dB) e o seu grau de frequência
(Hz).

Audiograma de Sons Familiares


FREQUÊNCIA EM CICLOS POR SEGUNDO (Hz)
125 250 500 1000
00 2000 4000 8000

Adaptação por Katya Guglielm Marcondes Freiro do "Hearing Children" por Manhem & Dawns Williams & Wilkins 1996,
0

e de "Percepção da Fala Análise acústica do Português Brasileiro" por Russo & Behlaus – Ed Larise 1993
10

20  
NÍVEL DE AUDIÇÃO EM DECIBÉIS

30

40

50

60

70

80

90

1000

110

120
28 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Podemos fazer um comparativo entre a qualidade do som e a sua


tolerância.

decibéis (db) qualidade do som tipo de ruído


Farfalhar das folhas,
0 – 20 Muito baixo
piar do pássaro
Gotejar da torneira, sussurro,
21 – 40 Baixo
tique-taque do relógio
Conversação normal,
41 – 60 Moderado
fonemas da fala
Choro do bebê,
61 – 80 Alto
latido do cachorro, trânsito
Cortador de grama,
81 – 100 Muito alto
motor de moto
Turbina de avião, helicóptero,
101 – 120 Ensurdecedor
ruído de show
+ 121 Intolerável Tiro, bomba, britadeira

Graus de Severidade da Pessoa


com Perda Auditiva

Os níveis limiares utilizados para caracterizar os graus de severidade


de pessoa com perda auditiva podem ter algumas variações entre diferentes
autores. Segundo o critério de Davis e Silverman (1966):

graus de severidade limiares


audição normal entre 0 e 24 dB
deficiência auditiva leve entre 25 e 40 dB
deficiência auditiva moderada entre 41 e 70 dB
deficiência auditiva severa entre 71 e 90 dB
deficiência auditiva profunda acima de 90 dB

Para esses autores, indivíduos com níveis de perda auditiva leve,


moderada e severa são mais frequentemente chamados de pessoa com défict
auditivo, enquanto os indivíduos com níveis de perda auditiva profunda são
chamados surdos.
A Pessoa com Déficit Auditivo e o Surdo | 29

Classificação de Perdas Auditivas quanto ao Grau

identificação classificação médias limiares


Ouvinte Audição normal 0 a 25 dB
Perda leve 26 a 40 dB
Pessoa com déficit auditivo
Perda moderada 41 a 70 dB
Perda severa 71 a 90 dB
Surdo ou pessoa com surdez
Perda profunda A partir de 91 dB

Falando nossa Língua


É mais fácil a observação de uma perda auditiva de nível severo ou profundo
do que de uma perda leve ou moderada. Tais diferenças influenciam nas
orientações, procedimentos e atuações diante dessas duas classificações.
Para as perdas leve e moderada, a pessoa é caracterizada como tendo um
déficit auditivo. Já para as identificações de perda severa e profunda, a pessoa
é caracterizada como surda.

A Pessoa com Déficit Auditivo

Atualmente denomina-se pessoa com déficit auditivo aquela que


apresenta perda auditiva de leve a moderada, e que não é totalmente surda.
No entanto, também são assim considerados aqueles surdos que não aceitam a
utilização de gestos ou sinais para se comunicarem, fazendo uso dos resíduos
de audição (quando há) para servirem de parâmetros para a aquisição da
linguagem e da fala, associando a estas o uso da leitura labial. Nesses casos, o
uso de aparelho auditivo é indicado e apresenta bons resultados em relação à
percepção da voz humana. No caso de crianças, não é indicada a exposição à
língua de sinais como forma de comunicação, recomendando-se a oralidade.
30 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Entre as pessoas com déficit auditivo, estão aquelas que perderam a


audição quando adultas, ou as crianças com perda pós-lingual, ou seja, que
perderam a audição após adquirir linguagem. Na maioria das vezes, mesmo
que a criança apresente uma perda de severa a profunda, ela consegue manter
a sua memória auditiva. No entanto, nada impede que ela se considere um
indivíduo surdo, enquadrando-se na descrição abaixo.

O Surdo

Para alguns movimentos, aqueles que apresentam perda auditiva de


severa a profunda devem ser considerados surdos. Com essa nomenclatura,
busca-se que essas pessoas assumam a própria surdez e as distinções contidas
nela em relação aos ouvintes, ou seja, a luta pelos direitos à aceitação e ao uso
da língua de sinais (Libras). Ao adotar a Libras como língua primeira e ao
valorizar o direito de usá-la, criam-se meios para que ela seja compreendida
entre os ouvintes.

O termo deficiente é rejeitado, por sua carga pejorativa. Os surdos não


se consideram deficientes, mas distintos detentores de uma língua diferenciada
e específica conhecida como Libras. Por também constituir uma minoridade
linguística, equiparam-se a estrangeiros, no entanto vale ressaltar que a língua
de sinais é gestual e não oral como a língua portuguesa. Sendo assim, embora
os surdos se definam como "estrangeiros" dentro do seu próprio país, têm
desvantagem em relação ao aprendizado de uma segunda língua, no caso o
português, como acontece com imigrantes de outros países. Vale ressaltar que a
língua de sinais é gestual e não oral como as outras línguas. Neste caso, torna-
-se de primordial importância que o surdo tenha contato com a Libras desde
cedo, pois só se pode aprender uma segunda língua quando há o domínio da
primeira. O surdo, ao ser introduzido à sua língua primeira cria condições para
que se possam sedimentar outras línguas, no caso a língua portuguesa que faz
parte do macrogrupo em que se encontra inserido.
A Pessoa com Déficit Auditivo e o Surdo | 31

Falando nossa Língua


A barreira comunicativa entre Surdos, pessoas com Déficit Auditivo e
ouvintes dificulta, e às vezes chega a impedir, a interação entre eles. A
superação deste impedimento seria reconhecer as características individuais
de cada pessoa e quais são as suas necessidades comunicativas. Podemos
dividir essas necessidades dentre Surdos e pessoas com Déficit Auditivo, em
três categorias:

– Pessoas com Déficit Auditivo: indivíduos com dificuldade auditiva,


passageira ou instalada, que linguisticamente fazem uso da fala e por vezes
da escrita para se comunicarem;

– Oralizados: pessoas que apresentam Surdez ou Déficit Auditivo que


preconizam o código verbal – a fala – e tentam fazer uso dele, seja por
opção linguística, seja por manter preservada a memória auditiva. Podem
se dividir em dois subgrupos: adultos que perderam a audição e crianças
educadas na linha oralista.

– Surdos ou Pessoas com Surdez: indivíduos que se comunicam através


da Libras, que nasceram com perda auditiva de severa a profunda ou que
perderam a audição antes dos três anos de idade (fase pré-lingual), ou seja,
sem ter adquirido o código verbal. Reconhecem-se como um grupo distinto,
mas não deficiente, para o qual reservam-se uma cultura diferenciada e a
utilização da Libras como forma de comunicação primeira, sendo a aquisição
do português considerado artificial, como uma segunda língua.
33

3 O SURDO

Distinção e Diferença

Muito se discute sobre o normal e o anormal, sobre o normal


e o patológico. Mas a questão é: o que é "normal"? Quando definimos
anormalidade, nos referimos a tudo aquilo que está fora de uma frequência
média de acontecimentos, apresentando características diferentes desta média
considerada normal. Os que estão fora desta média "padrão" nem sempre são
bem vistos socialmente, por não se enquadrarem em um contexto social ou
clínico que algumas pessoas acreditam como sendo o "certo".

Se normalidade ou anormalidade (não normal) se encontram divididas


por uma linha tênue e delicada, o que podemos dizer em relação às minorias
linguísticas, tais como os índios e os surdos? Seriam eles considerados fora da
normalidade? Preferimos acreditar em minoridades linguísticas.

Grande grupo de surdos usuários da Libras se definem como


indivíduos distintos, ou seja, mantendo características diferenciadas. Como
argumento, ressaltam a língua e a cultura diferenciadas, no entanto não menos
importantes do que o macrogrupo em que se encontram inseridos, no caso os
ouvintes. Assim, retiram a carga negativa de termos antes comumente usados,
como: deficientes e portadores de necessidades especiais.

As pessoas desse grupo não identificam a surdez como uma


deficiência, ou seja, uma patologia específica, e sim como uma diferença.
Sendo assim, não necessitam de um tratamento para a "cura", e sim de serem
compreendidos e respeitados por suas distinções, devendo ser vistos por uma
perspectiva sociocultural e não médica. Veremos posteriormente que são vários
os fatores que afetam o processo de desenvolvimento e aprendizagem dos
surdos, ainda assim a sua característica distinta sempre se manterá. O Surdo
difere do ouvinte não apenas pela audição, mas por desenvolver características
psicosocioculturais próprias. No mais, fica a questão: quem pode se definir
como "normal"?
34 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Falando nossa Língua


Ao longo dos anos, muito se discute em relação às terminologias,
principalmente na área médica relacionada aos déficits, sejam eles o
intelectual, o auditivo, o visual ou físico. Muito se defende a correção de
termos como surdo-mudo ou deficiente auditivo (ver capítulo Curiosidades).
Esse movimento, em analogia aos termos Surdos e pessoas com Déficit
Auditivo, não é novo, mas extremamente atual.

A Cultura Surda e o Multiculturalismo

Cultura é largamente definida como um conjunto de características


humanas, não inatas, que surgem, se preservam, se aprimoram e se modificam
por meio de um grupo de indivíduos comunicativos e cooperativos. A cultura
surge como um aspecto da vida coletiva, para que se produzam e se transmitam
conhecimentos, visando também à criação artística e intelectual.

Quando falamos de cultura surda, estamos relacionando esses mesmos


preceitos. Trata-se de surdos, aqueles que apresentam surdez (grau severo a
profundo), e utilizam uma comunicação visuoespacialquirêmica, conhecendo
o mundo ao redor por meio desse olhar. Definimos como detentores de uma
Cultura Surda aqueles que fazem uso da Libras, pois estes detêm uma língua
em comum, o que os diferencia dos surdos que, por opção ou distanciamento
de outros Surdos e da sua comunidade, fazem uso de gestos aleatórios sem
uma base linguística. A Cultura Surda é defendida por muitos estudiosos
como tendo por característica fundamental a peculiaridade de apreender e
compreender o mundo através da visão.

Em relação à educação, o multiculturalismo é identificado como


a realidade de se ter em um mesmo ambiente escolar alunos de diferentes
características pelos seus aspectos culturais, linguísticos, sociais ou religiosos.
Transforma-se, assim, o ambiente escolar em um local que ofereça as mesmas
oportunidades, um espaço de igualdade e democracia.
O Surdo | 35

Atualmente, a inclusão escolar defende esta relação multicultural,


justificando a presença das mais diversas características de alunado no mesmo
ambiente escolar. A inclusão propriamente dita será discutida em outro
capítulo, no entanto, vale deixar a seguinte pergunta: existe, atualmente, uma
política pedagógica inclusiva (integradora)?

Uma pessoa surda estabelece uma consciência social muito mais pelas
características visuais e lógicas do que pela expressão moral ou conceitual
aplicada. Vejamos alguns exemplos reais:

1. Uma surda de 20 anos, triatleta, baixava o seu rendimento e


potencialidade esportiva quando estava próxima da reta de chegada
das competições de que participava. Ao final da competição, chegava
quase sempre em 2º lugar, recebendo a medalha de prata. A mãe nos
procurou, após solicitação do treinador de sua filha, para que nós,
pedagogas/tradutoras, conversássemos a fim de entender o porquê
desses episódios reiterados. Explicamos à triatleta o questionamento
de sua mãe, e ela nos respondeu como quem tem dúvidas quanto a
uma pergunta tão simples: OLHAR – EU. BRINCO PRATA ANEL
PRATA RELÓGIO PRATA. POR QUE EU QUER OURO. (expressão
facial interrogativa) GOSTAR PRATA. (Olhem para mim! Eu tenho
brincos de prata, anel de prata e relógio de prata. Por que eu iria
querer alguma coisa de ouro? Eu gosto de prata.).

2. Uma pedagoga, que passava por um período difícil de separação


conjugal, pensando em elevar a sua autoestima, decide cortar e
pintar o cabelo. Ao chegar à escola para dar aula, encontra um aluno
surdo que passa por ela e faz o seguinte comentário: VOCÊ CORTAR
PINTAR CABELO FEIO FEIO PARECER DIFERENTE VELHO
POR QUE. (uma expressão facial de surpresa e interrogação) (Por
que você cortou e pintou o cabelo? Ficou muito feio, a envelheceu!).
Quando outras pedagogas questionaram por que ele havia sido
tão rude com a sua professora, ele respondeu: VOCÊS VER NÃO
(expressão facial exclamativa) ELA FEIA CABELO DIFERENTE
ANTES. (expressão facial de indignação).
36 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Há muitos outros exemplos a serem dados, no entanto, esses dois


explicitam de maneira bastante clara a forma como alguns surdos observam o
mundo e a sociedade, ou seja, basicamente por suas características visuais. Não
compreendem, em um primeiro momento, que em nossa sociedade há regras
de conduta que estabelecem alguns padrões de comportamento ou valorização.

Nesses casos, as cores dos troféus fazem referência: não há uma


preferência com relação ao material aplicado, como ouro, prata e bronze,
mas a uma colocação na competição. Ou, como ilustrou o segundo exemplo:
a sinceridade direta e clara quanto ao corte de cabelo seria evitada por nós,
ouvintes, visto que aprendemos, no decorrer da vida, que nem tudo deve ser
dito tão claramente, em benefício de uma boa convivência social. Para estes
dois surdos exemplificados, uma conversa explicativa foi o suficiente para que
eles mudassem o seu comportamento. No primeiro caso, a triatleta ganhou
várias medalhas de ouro, embora continuasse gostando de prata; no segundo
caso, o aluno continuou a fazer alguns comentários, ainda se confundindo um
pouco, alegando que, se era "verdade", por que não poderia falar? A partir do
entendimento de seu comportamento, vale ressaltar, ele pôde perceber o porquê
de, em algumas situações com ouvintes e surdos, ele ter sido "deslocado" do
grupo por se tornar inconveniente.
O Surdo | 37

Falando nossa Língua


O comportamento e as colocações de alguns Surdos, em determinados casos,
nos causam certo estranhamento e, às vezes, até desconforto. Em resposta
a isso, é comum pessoas ouvintes que convivem com surdos dizerem que
eles são inconvenientes, "folgados", que gostam de se isolar em pequenos
grupos etc. No entanto, vale lembrar que precisamos conhecer o universo
linguístico e cultural dos surdos para podermos entender e aceitar sua visão
diferenciada de mundo. Devido à ausência ou ao agravamento da percepção
auditiva, sua leitura de mundo torna-se diferenciada. Também devemos
observar que o nosso convívio social e cultural se forma por imitação dos
modelos de comportamento daqueles que estão inseridos em nosso dia a dia
e pelas orientações verbais que recebemos de nossos familiares, professores
e amigos, pessoas que já reconhecem e fazem uso das normas sociais.
Grande parte dos surdos, infelizmente, aprende a língua de sinais (quando
o fazem) tardiamente, às vezes com surdos da mesma idade, dificultando a
convivência social e cultural inserida e caracterizada pelo seu grupo. Este
atraso na aquisição da Libras traz graves prejuízos ao desenvolvimento
emocional e pedagógico do surdo.

Identidade Surda

Muitos teóricos e estudiosos discutem quanto à existência de uma


Cultura Surda e de uma Identidade Surda. Alguns defendem que, partindo
do princípio de que há uma língua diferenciada inserida, as pessoas Surdas
que utilizam essa língua (Libras) acabam por determinar regras sociais, por
constituírem um grupo comunicativo e atuante. No entanto, para alguns
estudiosos, o que define a Cultura Surda é na verdade uma colcha de retalhos
que mescla conhecimentos culturais e sociais biculturais, visto que essas pessoas
convivem com a existência da língua de sinais e a língua oral. Há ainda aqueles
que dirão que não há uma Cultura Surda no Brasil, visto que os usuários da
Libras constituem grupos isolados, e que, embora seja de uso comum, ela ainda
é regionalizada.
38 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Todos esses conceitos são defendidos e devem ser considerados, pois


são frutos de pesquisas e influências teóricas/práticas das mais diversas linhas.
Mundialmente e no Brasil, muitos grupos têm debatido quanto à existência
e à necessidade de se respeitar a identidade e a cultura dos Surdos. Diversos
movimentos sociais e culturais, tais como exposições e apresentações artísticas
e literárias, visam expor estas características.

Tal discussão tem aumentado em tamanho e eloquência, ainda mais


nos últimos anos, devido à possibilidade de se debater em grandes ambientes,
principalmente os virtuais. No caso de um país tão grande como o Brasil,
a internet tem facilitado para que as pessoas não tenham mais barreiras
geográficas, fazendo com que as redes sociais e as salas de discussão se
aproximem de maneira virtual e visual. Também não podemos esquecer que a
possibilidade do uso do implante coclear em bebês e crianças surdas aumentou
ainda mais as discussões acerca do que é ser distinto ou com déficit, em visões
médicas e culturais.

O que podemos afirmar é que de fato os Surdos apresentam


uma ausência ou limitação auditiva e, por essa característica, percebem e
aprimoram o mundo à sua volta de maneira diferenciada, pois parte de sua
percepção ocorre de maneira visual e não auditiva. O respeito em relação à
Libras e sua inserção permitem que os Surdos ampliem e desenvolvam de
maneira mais eficaz as suas potencialidades. O filósofo Ludwing Wittgenstein
(1921) já dizia: "os limites da minha linguagem definem os limites do meu
mundo". Por isso, muito devemos defender o reconhecimento da Libras e sua
difusão nos mais diferentes contextos, não a restringindo apenas aos ambientes
escolares. Considerando os Surdos como indivíduos distintos dos ouvintes,
por uma característica única da não audição, temos por obrigação entender e
compreender seu "mundo" e suas peculiaridades, para só então apresentá-los
ao "mundo" ouvinte. O inverso lhes tem sido compelido há muitas gerações.
Cabe aos ouvintes dar a sua contribuição e se permitir entender estas mãos que
se movimentam e trazem consigo tanto significado.
39

4 Linguagem e Surdez

Diferença entre Linguagem e Língua

Há uma diferença entre língua e linguagem que devemos discutir, por


ser de suma importância quando falamos de Libras e de Surdos.

Linguagem

Linguagem é uma habilidade natural de comunicação de todos os


seres humanos. Apresenta-se de forma livre e pode se dar por meio de gestos,
sons, imagens, símbolos, cores, palavras, etc. Para que tal comunicação ocorra,
o lado direito do hemisfério cerebral deve ser ativado: é ele o responsável
pela melodia, noção espacial, intuição, noção da realidade, da unidade e da
contextualização. A linguagem é universal e abstrata. Até um sorriso ou um
aceno de mão fazem parte dessa comunicação.

A linguagem é classificada de duas formas: verbal e não verbal; para


se comunicar é possível fazer uso de uma dessas formas, ou combinar as duas.

Linguagem verbal: quando se faz uso de palavras, sejam elas na


modalidade escrita ou falada.

Linguagem não verbal: comunicação que utiliza sons, gestos, símbolos,


imagens, entre outras formas não verbais.

Verbal Não Verbal

ATENÇÃO
É PROIBIDO
FUMAR
NESTE LOCAL
40 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Língua

Quando nos referimos a língua, dizemos existir um conjunto de sinais


utilizados para a comunicação. Esses sinais são apontados por um grupo de
pessoas que os determinam, mas, para que sejam identificados como uma língua,
esses sinais devem apresentar padrões linguísticos, com regras gramaticais. O
hemisfério cerebral responsável por esse reconhecimento é o esquerdo, que
também tem por função a noção de tempo, a lógica, o raciocínio dedutivo, a
compreensão das palavras e o reconhecimento das regras linguísticas.

A língua é real e concreta, determinada pela capacidade e necessidade


de um povo ou de um grupo. Efetiva a comunicação, no entanto, requer que
seus usuários a entendam para dela fazer uso. Trata-se das línguas dos povos:
francesa, brasileira, alemã...

As línguas de sinais utilizadas pelos Surdos do mundo todo também


são caracterizadas como língua, por não serem compostas de gestos aleatórios,
e sim por apresentarem regras gramaticais, que devem ser respeitadas.
Diferentes estudos científicos, através dos mais diferentes testes, comprovam
que o cérebro reconhece as línguas de sinais como língua, sendo ativado o
hemisfério esquerdo, o que diferencia as línguas de sinais da mímica ou de
gestos aleatórios, onde há a estimulação do hemisfério direito.

Idioma Palavras
Português laranja

Libras

Inglês orange
Espanhol naranja
Linguagem e Surdez | 41

Aspectos Linguísticos

Nos últimos séculos houve uma variedade de propostas de métodos,


abordagens e filosofias para a educação de alunos com surdez. Devemos
considerar que, embora exista essa diversidade de abordagens, não há nenhum
método que possa se aplicar a toda e qualquer criança com surdez. Muitas
são as variantes a serem consideradas, e a família com certeza tem a maior
influência sobre a decisão de que caminho seguir.

Observa-se que a maioria das abordagens existentes busca a substituição


da perda auditiva em prol do aproveitamento de outro canal sensorial existente
(visão, tato, audição). Obviamente devemos considerar a perda auditiva da
criança para trabalharmos o que melhor trará o desenvolvimento das suas
potencialidades. Essa é uma decisão difícil, principalmente porque deverá
ser tomada pelos pais quando a criança ainda é muito pequena, e a detecção
da perda auditiva se dá precocemente, ou uma decisão conjunta, quanto a
perda auditiva ocorre em idade mais avançada. Devemos lembrar que, nesses
momentos, a maioria das famílias ainda tenta assimilar o que está acontecendo.
Em grande parte das vezes, por não haver casos de perda auditiva na família,
para os pais todas as informações são muito novas e conflitantes, e é muito
difícil ter para si a responsabilidade sobre o futuro de seu filho sob um prisma
do qual não se tem conhecimento.

Em um primeiro momento, as abordagens que fazem menção à busca


pela "normatização" da criança com surdez são as aceitas mais prontamente;
no entanto, nos últimos anos, a veiculação mais ampla referente a Libras tem
permitido que os pais também conheçam, ou pelo menos já tenham ouvido
falar, em língua de sinais e nas comunidades surdas, abrindo espaço para a
discussão dessas filosofias e abordagens.

Independentemente da metodologia, filosofia ou abordagem a ser


seguida, devemos ter o conhecimento de que há diferentes formas de tratar a
questão da surdez. Toda escolha tem consequências, por isso, a aceitação dos
pais quanto ao que foi decidido é de suma importância para sua eficiência.
42 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Quando a criança está em idade escolar, o professor deve auxiliar os


pais e junto com eles buscar as alternativas mais eficazes para cada aluno surdo,
no sentido de desenvolver as suas potencialidades. É nessa fase escolar que, às
vezes, os pais trocam de abordagem, ou tomam conhecimento de que existem
outras formas de desenvolver as capacidades do seu filho surdo. Atualmente, são
três os principais métodos de ensino para o trabalho com o surdo: bilinguismo,
comunicação total e oralismo.

Bilinguismo

A filosofia bilíngue tem ganho muitos adeptos no Brasil nos últimos


anos, embora há muito seja difundida em países como a Suécia e a França.
Configura-se, no Brasil, como uma proposta em que o surdo deve aprender
a língua de sinais o mais precocemente possível, ficando a língua portuguesa
como uma língua a ser ensinada posteriormente na modalidade escrita e,
quando possível, na modalidade oral.

O bilinguismo privilegia a Libras e não a comunicação oral, como era


visto em outras abordagens como o Oralismo e a Comunicação Total. Adeptos
do bilinguismo consideram a aquisição da língua de sinais como de suma
importância para o desenvolvimento social, intelectual e educacional do surdo.
Também defendem a formação de comunidades de Surdos desenvolvendo uma
cultura própria, respeitando os Surdos como indivíduos distintos e não com
uma deficiência auditiva, sendo característicos na sua forma de agir, pensar e
se comunicar.

Pesquisas apontam que o bilinguismo é a proposta mais adequada ao


aprendizado das crianças surdas, por respeitar sua diferença linguística e lhes
dar autonomia, considerando as suas necessidades educacionais com vistas ao
desenvolvimento pleno das suas capacidades.

O bilinguismo propõe a aquisição da língua de sinais como uma língua


primeira (L1) e a língua portuguesa como uma segunda língua (L2). Sendo
assim, vale descrever mais minuciosamente as características de cada uma
delas.
Linguagem e Surdez | 43

Língua primeira (L1): refere-se à língua de sinais adquirida de


maneira espontânea. A língua primeira (L1) interpreta e permite que o Surdo
interaja com o mundo, não se fixando ao aprendizado do concreto. A L1 surge
prontamente através de um canal visual espacial. Quanto antes adquirida pelo
surdo, principalmente antes da idade crítica (por volta dos 5 anos de idade),
mais este a dominará plenamente, conhecendo seus parâmetros e sendo assim
capaz de aprender outras línguas. A L1 torna o Surdo um indivíduo distinto e
não menor, que deve ter respeitadas sua cultura e sua língua.

Língua segunda (L2): língua oficial do país. Para o Surdo, é artificial


e precisa ser aprendida por meio de estratégias específicas de aprendizagem de
uma segunda língua, primeiramente na sua modalidade escrita e, caso possível,
na sua modalidade oral. Para o aprendizado da segunda língua (L2), faz-se
necessário que o surdo queira adquiri-la pois, como se trata de uma língua
artificial, o interesse particular de cada um pesa, e muito, para a aquisição
de uma nova aprendizagem. O aprendizado da L2 sem o domínio da L1 faz
com que esta pareça rudimentar e limitada, pois somente ao dominar o uso
da sua língua natural (L1) o Surdo terá elementos linguísticos suficientes para
aprender um outro idioma, inclusive convivendo com uma outra língua e
compartilhando a sua cultura.

Dificuldades enfrentadas. O bilinguismo, embora seja difundido há


muitos anos, ainda é um assunto que gera discussões. Parte disso se dá pelo
fato de que socialmente criamos uma imagem de que a pessoa com surdez, por
ter a audição prejudicada, necessita apenas fazer uso de aparelho auditivo. No
entanto, como já vimos e ainda veremos nos próximos capítulos, as dificuldades
e problemáticas enfrentadas diariamente pelos surdos vão muito além do uso de
aparelhos auditivos. Há toda uma questão linguística, cultural, familiar e social
que devemos considerar. Por esses motivos, pensar em uma educação bilíngue
ainda causa estranheza, principalmente em se pensando que a base linguística
da LIBRAS não é a mesma da oficial do país, neste caso, a língua portuguesa.
Também devemos considerar que para que qualquer indivíduo adquira uma
primeira língua com domínio, deve ser apresentado a ela e conviver com ela, o
mais precocemente possível. Nesse caso, o que ocorre atualmente no Brasil é que
cerca de 95% das crianças com surdez são filhas de pais ouvintes; sendo assim, o
uso de uma língua que não a utilizada pelos membros da família quase sempre
44 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

não é a opção escolhida por eles. Embora pesquisas tenham apontado que os
Surdos (perdas severa e profunda) apresentam melhor rendimento quando
inseridos em uma educação bilíngue, antes da aceitação da língua de sinais os
pais optam por outros tipos de abordagens, às vezes buscando a "normalização"
do problema. Contudo, qualquer escolha que venham a fazer não eliminará o
fato dessas crianças serem surdas. Também vale ressaltar que em muitas cidades
brasileiras não há a formação de um grupo de Surdos que possa se considerar
como uma comunidade surda local; há pequenos grupos, mas ainda muito
descentralizados. Mesmo que a opção da família seja a convivência da criança
com surdez em ambientes de surdos adultos, por vezes não há este espaço para
que haja o convívio e, sendo assim, não se torna possível que estas crianças
adquiram a língua de sinais de maneira realmente natural. O ensino fica a cargo
de professores e instrutores ouvintes que têm conhecimento da Libras, mas que
por serem na maioria ouvintes, adquiriram a Libras de maneira artificial. Cria-
-se quase que um círculo vicioso: a criança com surdez demora para adquirir
a língua de sinais (por opção dos pais ou por falta de ambientes adequados),
e não a domina em seu tempo hábil, para que possa ser introduzida a uma
segunda língua (no caso, a língua portuguesa). Não havendo a compreensão
da L1 (língua primeira), fica muita mais difícil a aquisição de uma L2 (segunda
língua). A criança em período escolar muito provavelmente estará aprendendo
a Libras quando já deveria haver uma coexistência da Libras com as regras
estruturais e gramaticais da língua oficial do país. Como resultado, o surdo
enfrenta uma defasagem pedagógica e principalmente linguística, e acaba por
não dominar nem uma língua nem a outra. Embora sejam de conhecimento as
inúmeras vantagens que a criança com surdez tem ao optar por uma educação
bilíngue, ainda há muito a se ajustar para que esta seja uma opção viável e
funcional. Muitas políticas públicas e sociais têm sido implantadas em busca do
direito e da garantia a essa opção, mas a realidade ainda se apresenta distante
do ideal.

Oralismo

Método de ensino utilizado com surdos, no qual acredita-se que a


forma mais eficaz de desenvolver as potencialidades de um indivíduo surdo é
através da língua oral ou, como alguns estudiosos descrevem, da língua falada,
usando como recursos a leitura orofacial (leitura labial) e a amplificação sonora
Linguagem e Surdez | 45

(uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual – AASI). Os surdos que


fazem uso desse método são reconhecidos como surdos oralizados.

A filosofia oralista visa à integração da pessoa com surdez à comunidade


de ouvintes, através do uso da fala. Considera a surdez uma deficiência, e por
isso essa "falta" deve ser minimizada, por meio de estimulação oral e auditiva.
Há uma visão mais médica e terapêutica do que social.

O acompanhamento por profissionais especializados, principalmente


fonoaudiólogos, é de suma importância para o desenvolvimento dessa
abordagem, o que não dá garantias de fala por parte da criança com surdez, pois
para isso vários aspectos devem ser considerados, inclusive o apoio familiar e o
suporte financeiro para a manutenção dos aparelhos de amplificação sonora e
para as terapias especializadas.

Segundo o método oralista, para o desenvolvimento da fala deve ser


evitado – às vezes até proibido – o uso da Libras, de gestos e do alfabeto digital.
A estimulação oral e auditiva, no oralismo, busca possibilitar o aprendizado da
língua portuguesa (no caso do Brasil), fazendo com que a pessoa com surdez
possa interagir com os ouvintes por fazerem uso de uma mesma língua. Uma
das técnicas utilizadas é o desenvolvimento da leitura labial (reconhecer a
posição dos lábios e captar os movimentos labiais dando-lhes significado).

Alguns pesquisadores identificam que a informação reconhecida


através da leitura labial é menor que 50% quando se refere a ouvintes; em
relação aos surdos a compreensão da mensagem cai para 20% ou menos. A
maioria da informação se perde, e grande parte é "deduzida" ou "adivinhada"
pelo surdo através do que pode compreender ou contextualizar.

O oralismo busca a "normalização" através da reabilitação da


fala, aproximando os surdos de um ideal ouvinte. No entanto, o sucesso
dessa abordagem depende muito do esforço de todos os envolvidos no
desenvolvimento da pessoa com surdez, ou seja, os familiares, a escola e a
própria pessoa com surdez.
46 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Dificuldades enfrentadas. O oralismo deve ser respeitado como uma


das opções apresentadas às famílias de pessoas com surdez. No entanto, estudos
demonstram que os melhores resultados dessa abordagem se referem a pessoas
com perda auditiva nos graus de leve a moderada, e que tenham perdido a
audição, ou parte dela, após adquirir a fala, o que chamamos de período pós-
-lingual.

Encontramos casos de surdos que estão fora dessas características


e que têm um ótimo desenvolvimento pedagógico, mas também é possível
verificar que muitos são os surdos que, embora adquiram condições de fala
minimamente básicas para se comunicarem oralmente, apresentam sérias
dificuldades em estarem integrados socialmente com os ouvintes pois, embora
usem o mesmo código linguístico, não têm a fala de maneira completa, ficando
muitas informações a cargo de assimilações e adivinhações.

Além do mais, é de conhecimento dessas pessoas com surdez


(consciente ou inconscientemente) que há uma diferença entre ser ouvinte ou
não. Mesmo que o surdo se oralize, ele ainda é e sempre será surdo, condição
inata de sua constituição humana.

Muitos surdos oralizados banalizam a Libras por considerá-la uma


língua menor ou incompleta, mas vale relembrar que a opção por um ou outro
método se dá por diversos fatores e estes devem ser respeitados. Não há um
modelo ideal e funcional que se encaixe a qualquer pessoa com surdez. Fatores
familiares, sociais, pessoais e até mesmo financeiros devem ser considerados.

Nem todos os surdos envolvidos e inseridos nessa abordagem


adquirem a fala, principalmente a que se refere à fala espontânea e natural. Em
alguns casos, em uma idade mais avançada, os pais acabam por buscar outras
alternativas, como a comunicação total ou o bilinguismo. A utilização da Libras
muitas vezes acaba ocorrendo quando o surdo entra em contato com outros
surdos que dela fazem uso, geralmente no ambiente escolar ou no início da
adolescência, quando os grupos de amizade são ampliados.
Linguagem e Surdez | 47

Comunicação Total

Filosofia que busca assegurar uma comunicação ativa através do uso


de modelos auditivos, manuais e orais. Enfatiza que os aspectos emocionais,
cognitivos e sociais devem ser tão considerados quanto aqueles relacionados
à aprendizagem da fala, pois visam à boa comunicação não só da pessoa com
surdez com o ouvinte, mas do surdo com outros surdos.

A filosofia da comunicação total não foca apenas a busca da fala,


até por não acreditar ser essa a única necessidade da pessoa com surdez,
mas defende o uso de qualquer tipo de recurso para facilitar a comunicação.
Auxiliam nessa comunicação a estimulação auditiva e de fala, o uso do AASI,
os gestos e o português sinalizado. Todos esses recursos podem ser usados
concomitantemente e devem respeitar a convenção da língua oficial do país
(no Brasil, a língua portuguesa).

Diferentemente do oralismo, a comunicação total não define a pessoa


com surdez como um indivíduo possuidor de uma deficiência ou patologia que
deverá ser suprimida, mas como um indivíduo complexo, em que a perda de
audição não o comprometeu como um ser socialmente ativo. Para tal, valoriza
a comunicação como um todo na busca de uma interação. Também por esse
motivo, como em todos os casos descritos, a família tem um papel primordial
no sucesso dessa filosofia, formando e buscando, com a criança, formas de
compartilhar significados e valores.

Dificuldades enfrentadas. A dificuldade no uso da comunicação total


está exatamente no fato de ser muito abrangente e aberta no uso de todos os
recursos em busca de uma comunicação efetiva. Essa abrangência acaba por
dificultar o aprendizado por completo de alguma delas. Ao se fazer uso da
leitura labial, alfabeto manual, português sinalizado, entre outros recursos,
cria-se uma gama de possibilidades tão diversificadas que por fim não se tem
um foco a se trabalhar.

Português sinalizado é a tentativa de se utilizar gestos, alguns em


Libras, para se comunicar com a pessoa com surdez, mas alterando a sua
fundamentação para a língua portuguesa. Tenta-se usar a estrutura de uma
48 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

língua, Libras, para fundamentar a compreensão de outra língua, neste caso


a língua portuguesa. A definição de português sinalizado encontra-se no
Glossário.

Pesquisas observam que os surdos apresentados a essa abordagem


reconhecem alguns sinais e fazem uso deles para se comunicar, no entanto, não
formalizam esse uso com base em uma estrutura linguística. A Libras possui
uma base linguística, mas o português sinalizado, por não ser natural do surdo
e por se apresentar tão artificial para ele quanto a língua portuguesa, fica sem
contexto, resumindo-se a flashes de comunicação.

Falando nossa Língua


Paremos um instante para um momento de reflexão. Os pais, na maioria
dos casos, desenvolvem uma variedade de expectativas sobre a criança
que ainda está sendo gerada. Há idealizações, normais a qualquer ser
humano, sobre o futuro da criança que está por vir. Por isso, é preciso tentar
compreender o quão difícil é para essa família receber a notícia de que o
seu filho nasceu (ou ficou) com uma perda auditiva. Para esses pais, chega
um turbilhão de informações sobre abordagens educacionais, comunicação
por sinais, aparelhos de amplificação sonora, cirurgias, comunidade surda,
etc, em um momento em que a família ainda está tentando digerir a perda
auditiva e as suas possíveis causas. Além do mais, pela diversidade de
métodos e abordagens, cada especialista de quem essa família busca auxílio
traz uma infinidade de indicações (que podem variar muito de profissional
a profissional), trazendo mais dúvidas que respostas. É com essa reflexão
que devemos conhecer melhor as abordagens existentes e ter ciência de que,
embora elas existam, são os pais que decidem e definem qual caminho seguir,
sem serem impedidos de mudarem de direção quando acharem pertinente.
49

5 Libras – Língua de Sinais Brasileira

Legislação

Em 1994, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos


(Declaração de Salamanca) fundamenta o direito dos alunos com deficiência
à inclusão:

"...todas as escolas deveriam acomodar todas as crianças


independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais,
emocionais, linguísticas ou outras. Deveriam incluir crianças
deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças
de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes
a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros
grupos desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram
uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No
contexto desta estrutura, o termo "necessidades especiais" refere-se
a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais
especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades
de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades
de aprendizagem e portanto possuem necessidades educacionais
especiais em algum ponto durante a escolarização. Escolas devem
buscar formas de educar tais crianças bem sucedidamente, incluindo
aquelas que possuam desvantagens severas."

Lei Nº 10.436

Em 24 de abril de 2002, foi promulgada a lei número 10.436, que


reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como segunda língua oficial do Brasil:

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão


a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão
a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais –


Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema
linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
50 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e


fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em


geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas
institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de
Sinais – Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização
corrente das comunidades surdas do Brasil.

Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de


serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento
e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de
acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais


estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão
nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e
de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua
Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, conforme legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá


substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.

Decreto nº 5.626

Para que seja cumprida, uma lei precisa ser regulamentada por um
decreto. É esta a função do decreto número 5.626, de 22 de dezembro de 2005:
regularizar a lei acima citada.

O referido decreto introduz a Libras como disciplina obrigatória nos


cursos de formação para o magistério, em todas as licenciaturas e cursos de
ensino superior em Fonoaudiologia, seja nos sistemas públicos ou privados,
bem como prevê a presença do profissional intérprete de Libras em vários
contextos, garantindo para o sujeito surdo o acesso à informação, comunicação,
saúde e educação (em todas as etapas e modalidades, da educação infantil ao
ensino superior).
Libras – Língua de Sinais Brasileira | 51

O texto ainda regulamenta a formação e atuação dos profissionais, que


deverão ter habilitação em curso superior de Tradução e Interpretação, com
habilitação em Libras, ou ensino médio, desde que tenham obtido formação
até 2015, ou certificação de proficiência (PROLIBRAS), e estabelece regras de
transição para os intérpretes que ainda não possuem curso superior.

No capítulo seguinte, trataremos das especificidades deste decreto no


que tange ao intérprete de Libras.

Libras – como uma Língua

Como vimos, a Libras é a sigla para Língua de Sinais Brasileira, a


língua oficial da comunidade surda brasileira. Foi regulamentada como tal
através da lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Utilizada por uma maioria
de surdos, apresenta-se como a forma mais eficaz para que ocorra uma
comunicação funcional entre surdos, e entre surdos e ouvintes. A lei nº 10.436
reconhece o Brasil como um país bilíngue, ou seja, possuidor de duas línguas,
sendo elas a língua portuguesa e a Libras, esta última aceita gradativamente por
profissionais, pais e pela sociedade de uma maneira em geral.

Estudos comprovam que a Libras é uma língua e não apenas um


compilado de gestos e mímicas. Segue uma estrutura gramatical própria que
deve ser respeitada para ser validada como tal. A Libras possui vários níveis
de abordagens linguísticas, tais como: fonológico, morfossintático, semântico
(conjunto de palavras da língua) e pragmático. Composta por todos os
componentes relacionados às línguas orais, preenche todos os requisitos
científicos para ser considerada uma língua, sendo reconhecida pela linguística
como uma língua viva e independente.

Os sinais da Libras são próprios e não a soletração das palavras


em português. Formados pela combinação da configuração das mãos e
movimentos associados a pontos de referência no corpo e no espaço, podem
vir ou não acompanhados de expressão facial, item elementar na compreensão
e entonação de alguns sinais. A Libras difere das línguas orais pelo canal
comunicativo no qual é utilizada: as línguas de sinais são visuoespaciais, ou seja,
fazem uso da visão em vez da audição e do espaço em vez do som. Fernando
52 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

César Capovilla, Professor da Universidade de São Paulo, Ph.D. em Psicologia


e Livre-Docente em Neuropsicologia, defende ainda que a Libras é uma língua
visuoespacialquirêmica, por também apresentar como componente essencial a
utilização das mãos.

A Libras não é universal, sendo diferenciado inclusive o seu alfabeto


de país a país. Também por se tratar de uma língua viva, apresenta diferenças
regionais dentro do próprio Brasil, devendo ser respeitadas sua cultura e
regionalidade, que tanto a influenciam. A fundamentação da Língua de Sinais
Brasileira vem da Língua de Sinais Francesa (LSF), que teve grande atuação no
Brasil quando foi fundado o Instituto de Surdos-Mudos, atualmente conhecido
como Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), na cidade do Rio de
Janeiro, em 26 de setembro de 1857.

Variações Linguísticas

Regionalidade

Os sinais em Libras recebem grande influência regional, que deve ser


respeitada pois, por se tratar de uma língua, há todo um ambiente cultural que
interfere nesses sinais. A regionalidade também é justificada pela extensão do
Brasil, que apresenta em cada parte suas influências de colonização e ocupação.

abacaxi (SP, RJ, MG) abacaxi (PA, BA)

abacaxi (MS, RS) abacaxi (SC)


Libras – Língua de Sinais Brasileira | 53

Iconicidade e Arbitrariedade

A Libras caracteriza-se pela intenção de se apresentar de maneira


visuoespacialquirêmica as palavras e expressões da língua portuguesa,
associadas à compreensão do próprio surdo em relação a essas palavras e
expressões. Às vezes os ouvintes acreditam que a Libras é a elaboração de gestos
e desenhos no ar mas, como visto anteriormente, esse pensamento é infundado.
Os sinais da Libras podem ser definidos como icônicos e arbitrários.

Sinais icônicos: são sinais que utilizam a referência de seu significado


para se formarem. São gestos que demonstram a imagem carregada à sua
definição. Geralmente, os sinais icônicos referem-se a ações propriamente
ditas, tais como correr, varrer, escrever, ou a objetos que carregam no sinal suas
características mais marcantes, tais como casa, borboleta, telefone, etc.

casa telefone

borboleta

Sinais arbitrários: são sinais de representação abstratos e não icônicos,


e em nada se assemelham à palavra em português ou à ação em questão. São
exemplos: água, educação, caminhão.
54 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

água educação

caminhão

Mudanças Históricas

Observa-se que alguns sinais têm sofrido alterações em sua composição,


seja pela configuração de mão a eles empregada, seja pela alteração de seu ponto
de articulação. Essas alterações se justificam pelas mudanças de costumes das
gerações que se seguem ou, ainda mais, devido à troca de informações dos
sinais antes regionais. A troca e o contato de surdos de todo o país das mais
diversificadas regiões têm trazido a necessidade de padronizar alguns sinais,
ainda que respeitando a sua regionalidade. Além do mais, aumenta cada vez
mais o número de Surdos que se encontram em universidades e cursos técnicos
dos mais diversos segmentos, o que tem gerado sinais referentes aos termos
específicos desses cursos.

março
Libras – Língua de Sinais Brasileira | 55

Características da Libras

Morfologia E Sintaxe

Como já dito anteriormente, a Libras é um sistema linguístico,


visuoespacialquirêmico, que se constitui por meio de regras, diferenciando-
-se da mímica ou de gestos aleatórios. A Libras, como qualquer língua, tem
interferência de outras línguas na composição de seu léxico (vocabulário).
Também há sinais com influência oral, e todos obedecem às regras da estrutura
gramatical da Libras.

Dactologia ou Datilologia
alfabeto manual

Trata-se do alfabeto manual na Libras, formado pelas letras (grafemas)


do alfabeto da língua portuguesa. Acrescenta-se à dactologia o grafema /Ç/,
totalizando assim 27 representações. O alfabeto manual é utilizado para a
soletração de palavras em português, como: nomeações, endereços, lugares e
vocábulos que não existem ainda na Libras.
56 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Exemplo de palavra soletrada:

M-A-R-I-A
Em português: Maria

Parâmetros gerais

A Libras é uma língua e uma de suas estruturas gramaticais é conhecida


como Parâmetros Gerais. Cinco são os parâmetros gerais da Libras, que devem
ser conhecidos e considerados para a execução dos sinais. Reconhecer os
parâmetros da Libras também é um facilitador para a elaboração adequada dos
sinais pois, ao se compreender a estrutura gramatical de uma língua, podemos
ter uma visão arquitetada de sua base linguística.

Configuração de mão(s) (CM): são as formas que a(s) mão(s)


adquirem para a realização de um sinal. Para a CM, pode-se utilizar o Alfabeto
Manual Brasileiro (dactologia ou datilologia), além dos numerais e de outras
configurações. Configurações de mãos que não se encontram na dactologia
e nem nos numerais podem ser provindas de outros alfabetos manuais que
foram inseridos ao campo lexical em Libras.

É importante lembrar que a configuração de mão (CM) pode ocorrer


com a mão dominante (mão direita para os destros e esquerda para os canhotos)
ou com as duas mãos, dominante e não dominante. Quando há utilização
das duas mãos, o sinal pode ser com o movimento das mãos espelhadas, em
movimentos diferenciados e movimentos contrapostos.
Libras – Língua de Sinais Brasileira | 57

aprender

laranja

branco

Ponto de articulação (PA): é o espaço utilizado para executar o sinal,


e pode ser em uma região do próprio corpo ou no espaço em frente ou ao lado
dele (PA neutro). Todos os sinais da Libras necessariamente apresentam um
PA. Os sinais em Libras realizados em contato ou próximo a algumas áreas
específicas do corpo podem ter um significado semântico. As áreas de contato
mais comuns são o tronco, a cabeça, os braços e a boca. Podemos melhor
qualificá-los no quadro da página seguinte.
58 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Exemplo Libras
Parte do Corpo Significado
(proximidade...) (relação com...)
olhos visão, observação

ler

Parte do Corpo Significado


(proximidade...) (relação com...)
boca alimentação, fala

comer

Parte do Corpo Significado


(proximidade...) (relação com...)
coração sentimentos, emoções

gostar

Parte do Corpo Significado


(proximidade...) (relação com...)
cabeça raciocínio, memória

pensar

Movimento (M): os sinais da Libras podem apresentar – ou não –


movimento. Envolvem diferentes direções e formas com movimentos internos
de punho, mãos e braços. Quando não há a existência de movimento, os sinais
apresentam-se parados, ou seja, estáticos.
Libras – Língua de Sinais Brasileira | 59

Mão em Y:

desculpar idade
Sinal estático Sinal com movimento

Expressão facial/corporal (EF/C): trata-se de um componente não


manual dos Parâmetros Gerais que pode – ou não – ser aplicável ao sinal, mas
que, quando utilizado, serve para reforçar ou entonar um sinal, demonstrar a
pontuação nas frases, solicitações e outros atos em Libras. Deve-se observar
atentamente este parâmetro, pois muitos sinais necessitam da expressão facial
ou corporal para se tornarem compreendidos.

tristeza felicidade

adorar

Orientação/direcionalidade (O/D): alguns sinais se caracterizam pela


orientação/direcionalidade, diferenciado-se apenas pela mudança de direção
do sinal. A orientação/direcionalidade pode – ou não – ocorrer. Em alguns
casos, mostra o sentido de tempo, como indicado na tabela da página seguinte.
tempo direcionalidade
Futuro próximo sinal direcionado para a frente
movimento amplo que se afasta
Futuro distante
do corpo do sinalizador para a frente
Passado sinal sobre o ombro atingindo o espaço anterior ao corpo
Passado distante sinal amplo que se alonga atrás das costas
Presente movimento logo à frente do corpo direcionado para baixo

ir vir
61

6 Intérprete de Língua de Sinais

Legislação

O decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei


no 10.463, de 24 de abril de 2002, mais especificamente no Capítulo IV, Art. 14,
garante às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação,
tornando obrigatória a oferta de profissionais para tradução e interpretação de
Libras – Língua Portuguesa (e vice-versa), nos contextos educacionais públicos
ou privados.

Todo o Capítulo V do referido decreto trata da formação do tradutor e


intérprete de Libras, conforme transcrito abaixo:

Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua


Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução
e Interpretação, com habilitação em Libras – Língua Portuguesa.
62 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto,
a formação de tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa,
em nível médio, deve ser realizada por meio de:

I – cursos de educação profissional;

II – cursos de extensão universitária; e

III – cursos de formação continuada promovidos por instituições


de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de
educação.

Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode


ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da
comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por
uma das instituições referidas no inciso III.

Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste


Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o
exercício da tradução e interpretação de Libras – Língua Portuguesa,
as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros,
profissionais com o seguinte perfil:

I – profissional ouvinte, de nível superior, com competência e


fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de
maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de
proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação
em instituições de ensino médio e de educação superior;

II – profissional ouvinte, de nível médio, com competência e


fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de
maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de
proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação
no ensino fundamental;

III – profissional surdo, com competência para realizar a


interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para
atuação em cursos e eventos.

Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dos sistemas


de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão
implementar as medidas referidas neste artigo como meio de
Intérprete de Língua de Sinais | 63

assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à


comunicação, à informação e à educação.

Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto,
o Ministério da Educação ou instituições de ensino superior por ele
credenciadas para essa finalidade promoverão, anualmente, exame
nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras –
Língua Portuguesa.

Parágrafo único. O exame de proficiência em tradução e interpretação


de Libras – Língua Portuguesa deve ser realizado por banca
examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por
docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de
instituições de educação superior.

Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as


instituições federais de ensino da educação básica e da educação
superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e
modalidades, o tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa,
para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação
de alunos surdos.

§ 1o O profissional a que se refere o caput atuará:

I – nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino;

II – nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos


conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as atividades
didático-pedagógicas; e

III – no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da


instituição de ensino.

§ 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino


federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão
implementar as medidas referidas neste artigo como meio de
assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à
comunicação, à informação e à educação.
64 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

O mesmo decreto, no Capítulo VI, garante aos alunos com deficiência


o direito à educação, e que eles sejam incluídos na rede regular de ensino, com
a presença do intérprete de língua de sinais.

Funções

Segundo O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua


portuguesa, cartilha do MEC que faz parte do Programa Nacional de Apoio
à Educação dos Surdos, intérprete é a pessoa que interpreta de uma língua
(língua-fonte) para outra (língua-alvo) o que foi dito, e intérprete de língua de
sinais é a pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua,
ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais.

É de suma importância que esse profissional possua fluência e


domínio pleno da língua de sinais (Libras) para evitar as traduções literais, ou
o português sinalizado (mera substituição de signos do código linguístico oral/
escrito por signos do código linguístico sinalizado), assim como possuir pleno
domínio da língua portuguesa.

O papel do intérprete de Libras é o de mediador da comunicação entre


surdos e ouvintes, atuando nos mais diferentes contextos sociais, culturais,
educacionais e políticos.

Além de formação específica e convivência com a Comunidade Surda,


complementam a formação do profissional intérprete de Libras características
como ética profissional, imparcialidade, fidelidade à interpretação e discrição.

Intérprete Social

A atuação do intérprete de Libras visa à inserção da pessoa surda na


vida produtiva, política, cultural, social e educativa.

Presente principalmente em eventos, palestras, congressos, seminários,


fóruns, nas áreas médicas e jurídicas, em igrejas e em várias atividades do
dia a dia, esse profissional acompanha a pessoa surda em várias atividades
Intérprete de Língua de Sinais | 65

importantes de seu cotidiano. A qualidade da tradução pode afetar diretamente


o surdo, motivo pelo qual o profissional intérprete de Libras deve ter domínio
pleno das línguas envolvidas (no nosso caso, Libras e Língua Portuguesa).

Preceitos de moral, ética, fidelidade à interpretação, confidencialidade,


imparcialidade, discrição e respeito são essenciais para o adequado
desenvolvimento da função.

Intérprete Educacional

Com as políticas atuais de inclusão, o profissional intérprete de Libras


ganha destaque e deve atuar como apoio para o aluno surdo alcançar os
objetivos educacionais, mediando a comunicação entre o aluno surdo usuário
de Libras e os professores ou colegas, interpretando/traduzindo da língua oral
(português) para língua de sinais (Libras) e vice-versa, bem como participando
das interações sociais, dentro do espaço da escola.

Tal mediação e o uso da língua de sinais não asseguram que as questões


metodológicas sejam compreendidas por parte do educando.

Quase sempre, o modo como o professor apresenta os conteúdos


curriculares não é acessível ao aluno surdo, sendo necessária, então, a adaptação
da informação por parte do intérprete, que acaba atuando como um educador
construindo sentidos, uma vez que a interpretação sozinha não consegue
esclarecer os saberes que o docente tencionou transmitir.

A responsabilidade pela educação do aluno surdo incluso cabe aos


professores regulares (competentes e capacitados). Espera-se que ofereçam as
adaptações curriculares, metodologias e avaliações que atendam à necessidade
desse alunado.

As atribuições do intérprete de Libras educacional ainda são pouco


claras para as pessoas que trabalham no espaço escolar, não cabendo a ele o
papel de tutorar, disciplinar, ensinar a língua de sinais, cuidar das próteses
auditivas ou atender às demandas pessoais do aluno com surdez.
66 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

O ideal seria estabelecer uma parceria entre o professor regular e o


intérprete de Libras para promover a melhor condição de aprendizagem para
a criança surda, em que houvesse recursos visuais no planejamento das aulas
e antecipação dos conteúdos a serem traduzidos pelo tradutor/intérprete.
Este poderia sugerir modificações e adaptações para facilitar o trabalho de
interpretação, o acesso às informações e o aprendizado do aluno.

Professores e intérpretes flexíveis, trabalhando de maneira colaborativa,


podem promover uma educação de qualidade ao aluno surdo.

Código de Ética

A ética é o princípio fundamental na atuação do intérprete de língua


de sinais.

Por tratar-se de um conceito extremamente subjetivo e pessoal, tal


instrumento foi adotado com intuito de evitar equívocos de interpretação na
prática e nortear quanto à responsabilidade pela veracidade e fidelidade das
informações.

A seguir descrevemos o código de ética que é parte integrante do


Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (Federação
Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS).

Fonte: D – Registro dos Intérpretes para Surdos – 28-29 de janeiro de 1965, Washington,
EUA. Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA, por Ricardo Sander.
Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros. Aprovado por ocasião do II Encontro
Nacional de Intérpretes (Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1992).

CAPÍTULO 1 Princípios fundamentais

Artigo 1º São deveres fundamentais do intérprete:

1º O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto,


consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará
informações confidenciais e não poderá trair confidências, as quais
foram confiadas a ele;
Intérprete de Língua de Sinais | 67

2º O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o


transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões
próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo;

3º O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua


habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o
espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função
e não ir além da responsabilidade;

4º O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência


e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros
intérpretes e/ou profissionais quando necessário, especialmente em
palestras técnicas;

5º O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir,


sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando
atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função.

CAPÍTULO 2 Relações com o contratante do serviço

6º O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se


dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde
fundos não são possíveis;

7º Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo


com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS.

CAPÍTULO 3 Responsabilidade profissional

8º O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem


decisões legais ou outras em seu favor;

9º O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua


Brasileira de Sinais bem como da Língua Portuguesa;

10º Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual


o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando
a interpretação literal não é possível e o intérprete, então, terá que
parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o
que ela está dizendo à autoridade;
68 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

11º O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e


a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto
para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o
entendimento;

12º O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos


de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender às suas
necessidades particulares.

CAPÍTULO 4 Relações com os colegas

13º Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento


profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais
com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida e
desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em
interpretação e tradução.

Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que


diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que
muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de
conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação
com o surdo.

Diante deste código de ética, apresentar-se-ão a seguir diferentes


situações que podem ser exemplos do dia a dia do profissional
intérprete. Tais situações exigem um posicionamento ético do
profissional intérprete.

Sugere-se que, a partir destes contextos, cada intérprete reflita,


converse com outros intérpretes e tome decisões em relação a seu
posicionamento com base nos princípios éticos destacados no
código de ética.
69

7 Surdo e Educação

Políticas Públicas

Várias políticas públicas têm acontecido nos últimos anos para


garantir um processo inclusivo de qualidade. Desde então, a Educação Especial
deixa de ser entendida como uma proposta de educação para os alunos com
necessidades educacionais especiais e passa a ser compreendida como um
serviço educacional.

O Decreto 7.611 de 17 de setembro de 2011 dispõe sobre o Atendimento


Educacional Especializado (AEE). Esse Decreto, em que o AEE está definido,
tem por objetivo identificar, elaborar e organizar os recursos pedagógicos e de
acessibilidade, para que se eliminem as barreiras físicas, pedagógicas e estruturais
para a plena participação dos alunos nos ambientes escolares, considerando as
suas necessidades específicas. O AEE busca complementar os atendimentos
educacionais em classes regulares para os alunos incluídos, salas especiais ou
escolas especiais e, para tal, descreve a necessidade de parcerias com outras
instituições e outras secretarias municipais. Essas parcerias são chamadas de
intersetorialidade e visam trocar informações, promover capacitações e buscar
mecanismos para garantir o sucesso educacional desses alunos.

Educação Inclusiva

Quando falamos em educação inclusiva, já não nos referimos mais aos


alunos que frequentam uma sala especial. As ações da educação especial, como
já dito anteriormente, deixam de ser uma opção educacional de modalidade
para o aluno com necessidades educacionais especiais e tornam-se um serviço
aplicado durante todo o desenvolvimento pedagógico do aluno, ou seja, da
creche ao ensino superior.
70 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

antes atualmente

Creche Creche

Educação Infantil Educação Infantil

Ensino Fundamental Ensino Fundamental

Ensino Médio Ensino Médio


Ensino Superior
Ensino Superior

Educação Especial | Sala Especial Ações da Educação Especial

Não nos cabe mais a discussão quanto à proposta de ações da educação


inclusiva e a sua abrangência na educação, mas entendê-la, estudá-la, aplicá-la,
para que possamos ter embasamento para discutirmos se ela está atingindo
os seus objetivos, se deverá ser reavaliada ou revista. Sempre se discutiu
quanto à educação especial e suas características estruturais, no entanto,
desde a declaração de Salamanca (1994) este assunto ganhou um novo fôlego,
reacendendo discussões sobre a educação inclusiva.

O Atendimento Educacional Especializado pode ser considerado o


pilar para a educação inclusiva, visto que permite ao aluno com necessidades
educacionais especiais desenvolver mecanismos por estar incluso no
ensino regular. Para que a educação inclusiva obtenha sucesso além da
intersetorialidade, todos os elementos da estrutura educacional devem estar
envolvidos. Sendo assim, professores, coordenadores, inspetores, atendentes e
merendeiros devem estar preparados para receber esses alunos em um ambiente
inclusivo. A educação inclusiva visa que o ambiente escolar busque formas de
integrar o aluno e não que o aluno com necessidades educacionais especiais
se adapte aos diferentes ambientes escolares. As ações da Educação Especial
trabalham a favor da Educação Inclusiva. A cultura inclusiva preconiza que
não há limites para a condição humana, buscando muito mais do que apenas
receber o aluno com necessidades educacionais especiais.
Surdo e Educação | 71

Atendimento Educacional Especializado (AEE)

Alunos com necessidades educacionais especializadas, transtornos


globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação têm por opção
fazer uso do AEE, que se define como um conjunto de atendimentos pedagógicos
e recursos de atividades realizados por profissionais da educação especial,
dentro de um contexto educacional. No caso de estudantes de altas habilidades
ou superdotação também visa suplementar a educação destes. A todos busca
favorecer o processo de desenvolvimento pedagógico dos estudantes nas salas
regulares das instituições de ensino, com ênfase na autonomia, assim como
auxiliar na interação familiar, cultural e social desses alunos.

Aos alunos de inclusão Surdos, o AEE deve assegurar o ensino da


Libras, sendo de responsabilidade do professor especializado promover
atividades para serem desenvolvidas nas salas de ensino regular, de modo a
orientar e informar ao corpo docente e aos outros alunos as características e
distinções linguísticas desse aluno surdo, buscando remover as barreiras que
às vezes são impostas por conceitos pré-concebidos provindos da falta de
informações reais.

Dentre os espaços ofertados pelo atendimento educacional especializado


há a Sala de Recursos Multifuncional (SRM), espaço que serve como um
instrumento para atender aos alunos de inclusão em suas especificidades.
Esses ambientes são contemplados com mobiliário, equipamento multimídia,
materiais pedagógicos e didáticos. Esse espaço é destinado aos alunos de
inclusão e aos alunos das salas especiais que, devido às suas necessidades
educacionais e sociais, requerem um atendimento especializado mais focado
nas suas dificuldades e peculiaridades. No caso do surdo, o desenvolvimento da
Libras, da língua portuguesa e do contato com outros surdos.

O AEE é oferecido em contra turno, ou seja, no horário inverso ao


que o aluno de inclusão encontra-se na sala de aula, e não deverá substituir o
ensino comum. Esse serviço pode ser prestado tanto dentro da Unidade Escolar
quanto em instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins
lucrativos, desde que estejam conveniadas com o Poder Executivo.
72 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

O aluno de inclusão é de responsabilidade pedagógica do professor do


ensino regular, ou seja, do professor que administra aquela sala de aula. O aluno
da sala especial é de responsabilidade do professor especialista. O professor
da sala regular ou da sala especial poderá, em parceria com o professor do
AEE, buscar meios para que esses alunos tenham as suas distinções respeitadas
de modo a encontrar formas para que as práticas pedagógicas se efetivem da
melhor maneira, sempre tendo por objetivo o desenvolvimento do aluno de
inclusão.

Os atendimentos educacionais especializados podem ser individuais


ou em grupos de até cinco alunos que apresentem os mesmos déficits; no caso,
surdos. Para a seleção dos grupos, deve-se fazer uma minuciosa avaliação, que
deve englobar os aspectos social, educacional, familiar e clínico desses alunos.
Após os levantamentos das informações, o professor do AEE deverá elaborar
um plano de atendimento individual, que poderá ser flexível e mutável.

AEE para Surdos

Os alunos surdos têm por direito a educação em um espaço


bilíngue, ou seja, um ambiente em que se faça uso da língua de sinais e da
língua portuguesa. O momento para o aprendizado da Libras ocorre em um
período adicional de horas diárias nos ambientes do atendimento educacional
especializado. Segundo as diretrizes do MEC, esse espaço deverá estar dividido
em três momentos didático-pedagógicos:

1. AEE em Libras: apresentação de todos os conteúdos curriculares


em Libras, explicitados por um professor preferencialmente Surdo.
Esse trabalho deverá ser vivenciado todos os dias, tendo por objetivo
que o aluno surdo reveja os conteúdos apresentados durante as aulas
na sala regular na sua língua primeira, ou seja, na língua de sinais
brasileira;

2. AEE para o ensino da Libras: momento para o desenvolvimento da


Libras e, no caso dos alunos surdos que não a utilizam, de adquiri-la.
Esse trabalho deve enfocar uma maior abrangência do vocabulário,
assim como o seu significado, principalmente no que se refere a
Surdo e Educação | 73

termos técnicos e científicos, não muito usuais na comunicação do


dia a dia. Desenvolvidos por um instrutor e/ou professor de Libras,
preferencialmente Surdo, tais encontros devem ser planejados para
surdos agrupados de acordo com o conhecimento que esses alunos
têm em relação à Libras; para tal, faz-se necessário um diagnóstico a
respeito desse conhecimento;

3. AEE para o ensino da língua portuguesa: ambiente onde se


trabalham as características da língua portuguesa para os surdos.
Por estes serem usuários da língua de sinais, a língua portuguesa é
adquirida de maneira artificial, devendo ser apreendida e assimilada
em sua estrutura gramatical. Prioritariamente, esse momento deve
ocorrer todos os dias, com um professor de língua portuguesa,
preferencialmente.

Problemas Atuais Relacionados ao AEE de Surdos

Como dissemos, o AEE ocorre em contraturno, ou seja, em horário


contrário àquele em que o aluno surdo está na sala de aula regular. Se o
aluno está matriculado no período da manhã na sua sala de ensino regular,
frequentará a sala de AEE no período da tarde. Devido a essa característica,
muitos têm sido os problemas apresentados em relação ao atendimento
educacional especializado para o surdo:

• A frequência dos alunos surdos: por se tratar de um atendimento


de contraturno, há uma grande dificuldade na frequência de
estudantes surdos ao atendimento. Algumas vezes, a alegação dada
pelos pais é a de que eles trabalham ou não moram perto da escola,
o que dificulta o retorno no contraturno;

• Poucas salas de AEE: em algumas escolas ainda não foram


implantadas as salas para o AEE, tendo os alunos de inclusão
que migrar para a unidade escolar mais próxima que oferece esse
atendimento, mais uma vez dificultando a frequência do aluno
surdo a essa modalidade de atendimento;
74 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• Falta de profissionais especializados na área da surdez: não


há, atualmente, muitos instrutores e professores surdos com
comprovação qualificativa para atuar nas salas de AEE, ficando
defasados os atendimentos que envolvem o uso da língua de sinais
(AEE em Libras e ensino da Libras). Também é pequeno o número
de ouvintes com qualificação de proficiência em língua de sinais
para poder atuar nesses segmentos;

• Pouco espaço físico: nas unidades escolares, falta espaço físico para
a implementação das salas de AEE, não só para os surdos, mas para
abranger a necessidade de todas as modalidades de AEE (intelectual,
visual, altas habilidades e transtornos globais do desenvolvimento).
O que acaba ocorrendo, em alguns casos, é que a escola disponibiliza
um único espaço para o AEE, com um único professor especialista
responsável pelo atendimento de toda a demanda daquela unidade
escolar;

• Sala de AEE com um único professor: devido à falta de espaço


físico, em alguns municípios há apenas um professor para a sala
de AEE, que atende a toda a demanda daquela unidade escolar e,
às vezes, a de outras escolas próximas que não têm sala de AEE.
Esse professor por vezes tem a sua formação superior em apenas
uma área da educação especial, sendo assim também um professor
em formação. Além do mais, alguns professores especialistas não
conhecem ou não fazem uso da Libras, o que dificulta ainda mais o
atendimento do aluno surdo nos ambientes que deveriam oferecer
um atendimento específico;

• Impossibilidade de atendimento diário: como já dito anteriormente,


devido à falta de profissionais específicos, espaços físicos e faltas
frequentes dos alunos, o atendimento especializado para surdos,
que se espera seja feito diariamente, fica impossibilitado. Sendo
assim, em algumas cidades, tem sido ofertado de uma a três vezes
na semana, dependendo da característica ou da necessidade da
demanda escolar.
Surdo e Educação | 75

Adequações Curriculares

O Ministério da Educação elaborou alguns documentos para informar


acerca das adaptações curriculares que podem ocorrer no âmbito educacional.
Divididas em dois tipos, são conhecidas como adaptações curriculares de
grande e pequeno porte. Neste capítulo daremos ênfase para as adaptações de
pequeno porte, visto que essas são implementadas pelo docente em sala de aula
sendo de sua responsabilidade e ação exclusivas.

1. Adaptações curriculares de grande porte: alterações implementadas


pelas instâncias político-administrativas superiores, denominadas
como adaptações significativas. Elas podem ser estruturais e
documentais e envolver desde o Projeto Pedagógico da Escola até
o Plano Municipal de Educação. Tais modificações dependem
de decisões e ações técnico-político-administrativas, envolvendo
órgãos superiores da administração educacional pública.

2. Adaptações curriculares de pequeno porte: denominadas como


adaptações não significativas, por não envolverem a legislação
vigente e nem a estrutura física e documental da unidade escolar. São
elaboradas pelos professores e estão mais diretamente relacionadas
a modificações curriculares. Buscam permitir e promover a atuação
mais efetiva dos alunos de inclusão no processo de ensino e
aprendizagem. Não requerem autorização e independem de outras
instâncias superiores da área da educação, seja ela política, técnica
ou administrativa. É de suma importância, porém, que sejam levadas
ao conhecimento da equipe técnica administrativa da unidade de
ensino em que serão aplicadas, no caso a coordenação/direção da
escola. As adaptações curriculares de pequeno porte podem estar
relacionadas ao acesso curricular, objetivos, conteúdos, métodos
e à avaliação da aprendizagem. Priorizam que o professor tenha
condições de favorecer a experiência do aluno de inclusão na sala de
aula, constatando assim a diversidade presente no seu grupo escolar.
Considerando a multiculturalidade, o docente deverá elaborar o seu
planejamento envolvendo:

• a organização física e espacial de sua sala de aula, fazendo uso de


equipamentos e mobiliários que favoreçam a aprendizagem;

• o planejamento das estratégias de ensino que serão adotadas em


função dos objetivos e conteúdos pedagógicos;

• a flexibilização do tempo de aprendizagem de cada aluno;

• a diversidade metodológica para o ensino e a avaliação dos


conteúdos curriculares.
Dispositivos Auditivos | 77

8 Dispositivos Auditivos

A amplificação sonora que os dispositivos de audição oferecem


é utilizada por pessoas que apresentam uma perda auditiva condutiva ou
sensorioneural, com perda auditiva predominantemente neurossensorial de
alta frequência e para quem tenha perdido a audição em um só ouvido.

AASI
Aparelho de Amplificação Sonora Individual

O AASI, aparelho de amplificação sonora individual, tem por função


ampliar os sons (ondas sonoras) para as pessoas que apresentam perda auditiva.
Trata-se de uma prótese auditiva pessoal e individual, utilizada na orelha ou
nas orelhas que apresentam perda auditiva. Quando presente em ambas as
orelhas, funciona de maneira individual, sendo regulada especificamente para
o indivíduo e as características relacionadas a sua perda auditiva.

O AASI é composto de um microfone que capta as ondas sonoras


(sons) e as transforma em ondas eletromagnéticas que, após amplificadas, são
convertidas novamente em ondas sonoras para o receptor, para que ele receba
esses sons de maneira amplificada. Existem vários tipos de aparelhos auditivos
e a sua indicação só poderá ser feita por um médico especialista com base em
exames audiométricos realizados com um fonoaudiólogo.

Tipos de AASI

Microcanal. Tipo de aparelho que fica totalmente dentro do


canal auditivo. Esses aparelhos podem ser adaptados em
pessoas que apresentam perda auditiva de grau leve a
moderadamente severo, cujos canais auditivos estejam em
perfeito estado. Não são indicados para pessoas que tenham
dificuldades visuais, pelo fato de que a bateria utilizada para
seu funcionamento é muito pequena.
78 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Intracanal. Aparelho que, como o nome já diz, fica dentro do


canal auditivo e pode ser utilizado por pessoas com perdas
auditivas de grau leve a severo; no entanto, o conduto auditivo
deve estar em perfeito estado, pois é difícil de ser adaptado
em pessoas que fizeram cirurgias que comprometeram o
canal auditivo.

Intra-auricular. Aparelho que fica posicionado dentro do


ouvido, ocupando toda a parte da concha auricular, sendo
utilizado por pessoas que apresentam perdas leves a severas.

Retro-auricular. Aparelho que fica atrás da orelha, é o mais


comumente utilizado. Pode ser adaptado em pessoas com
perdas auditivas de todos os graus (leve, moderado, severo e
profundo).

(Informações constantes no Portal de Informações sobre Aparelhos Auditivos e Cia.


www.aparelhosauditivosbrasil.com.br)

Existe uma falsa crença de que o aparelho de amplificação sonora


individual (AASI) pode restabelecer a audição de pessoas com surdez profunda.
O que acontece na verdade é a amplificação do som, e o surdo usuário de
AASI, na maioria das vezes, relata um aumento de ruídos que vibram em sua
orelha, causando grande desconforto, sem que haja detecção, discriminação e
reconhecimento dos sons até a compreensão da linguagem.

Muitas variações devem ser consideradas; a mais importante se refere


à perda auditiva da pessoa que fará uso do AASI. Em caso de perda auditiva
leve a moderada (pessoa com déficit auditivo), o uso do AASI pode auxiliar no
reconhecimento da fala e da maioria dos sons ambientais. Se a perda auditiva
for de severa a profunda (Surdo), o uso do AASI se restringe a sons ambientes
de alta intensidade, mas não há a capacidade de amplificação do som suficiente
para o reconhecimento da voz humana, fazendo com que o aparelho sirva
para chamar a atenção aos sons de alerta, tais como o de uma buzina, alarmes,
sirenes ou batidas fortes.
Dispositivos Auditivos | 79

IC
Implante Coclear

Assunto extremamente polêmico, por tratar-se de método com


intervenção cirúrgica. Enquanto um grupo o apoia incondicionalmente, há
quem seja totalmente contra, por considerá-lo invasivo e, ainda, outros que
buscam formar uma opinião sobre esse tipo de implante.

Defensores do implante coclear abordam o tema através de uma


visão médico-patológica, tendo a surdez como a experiência do "não ouvir",
enquanto outros defendem a visão socioantropológica, que percebe a surdez
não como uma deficiência ou patologia que deve ser "curada", mas como uma
experiência do "ver".

Para aqueles que defendem o IC, há uma tentativa de "consertar" o


surdo, passando pelo discurso normalizador da cura, de modo a aproximá-lo
do ideal de indivíduo que fala e ouve. No entanto, vale ressaltar que sucesso
com respostas auditivas depende de muitos fatores, como a idade da pessoa
ao receber o implante coclear, situação da cóclea e do nervo auditivo, trabalho
fisioterápico, fonoaudiológico, acompanhamento periódico e manutenção,
entre outros.

O implante coclear é um dispositivo eletrônico, também conhecido


como "ouvido biônico", indicado para algumas pessoas que possuem perda
auditiva profunda que não apresentam nenhum tipo de ganho com o uso do
AASI.

Trata-se de um dispositivo inserido cirurgicamente na cóclea, o


órgão responsável pelo recebimento do estímulo auditivo e transmissão
desta informação ao nervo auditivo e estruturas corticais. Esses dispositivos
implantados cirurgicamente são conectados aos ossos na orelha média, criando
vibrações no crânio e transmitindo essas vibrações diretamente até a cóclea
através de um processo chamado condução óssea direta.
80 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

(Fonte: www.aparelhosauditivosbrasil.com.br)

Para que o implante coclear funcione, é necessário proceder à ativação,


mapeamentos, e retornos para acompanhamento. É imprescindível o trabalho
de terapia fonoaudiológica para que a criança desenvolva as habilidades
auditivas e linguísticas. A idade e a preservação de alguns componentes (nervo
e canal auditivo) são imprescindíveis para a indicação e realização do IC.

Os resultados pretendidos nem sempre se aproximam das expectativas


do surdo e sobretudo de sua família, 95% composta por pais ouvintes. Por
buscar a proximidade com a "cura" da perda auditiva, o IC cria expectativas
que quase nunca são reais, e mesmo que ocorram bons resultados em alguns
casos, devemos reforçar que essas pessoas sempre serão surdas ou terão uma
perda auditiva quando não estiverem com o aparelho externo em uso.

Além do mais, a manutenção ainda é cara e uma estimulação


auditiva e sonora contínua se faz necessária, envolvendo não só as terapias
fonoaudiológicas como também, e principalmente, a participação e a
estimulação constante dos pais.
81

9 Curiosidades

Perda Auditiva

Alguns estudos apontam que todos nós vamos experimentar


algum grau de perda auditiva durante nossa vida, visto que isso faz parte
do envelhecimento natural humano. Entre os 30 e 40 anos, há uma perda
considerável da audição, que vai variar de pessoa a pessoa em relação às suas
vivências sonoras. A partir dessa idade, as células ciliadas, encontradas dentro
da cóclea, começam a morrer e não se regeneram. Uma a cada dez pessoas pode
necessitar de uso de aparelho de amplificação sonora individual (ASSI).

Recomendações e Prevenções das Otites

• Utilizar protetores macios e adequados para evitar a entrada de água


durante a prática da natação;

• Evitar o uso de hastes de algodão (cotonete), pois tiram a cera que


tem por função proteger a orelha. Com o uso das hastes de algodão,
pode-se retirar a cera por completo ou empurrá-la para dentro do
canal auditivo;

• Limpar, com frequência, as secreções nasais ocasionadas por


resfriados e gripes, evitando assim que a secreção ou catarro se
acumulem no nariz e na garganta. Esta recomendação é válida
especialmente para bebês e crianças, grupos de maior incidência de
otites;

• Não coçar ou limpar o canal auditivo com nenhum objeto que não
seja com a ponta de uma toalha ou com hastes de algodão. Tampas
de caneta, grampos de cabelo, palitos de unha podem ferir a pele do
conduto auditivo, deixando o ambiente propício para a entrada de
fungos e bactérias;
82 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• Não se automedicar e nem seguir "conselhos" e sugestões caseiras


para aliviar a dor de ouvido, tais como leite materno, azeite morno,
ervas, que não devem ser de maneira nenhuma introduzidos na
orelha;

• Nunca amamentar um bebê deitado, pois esta posição facilita a


entrada de líquidos na Tuba Auditiva (Trompa de Eustáquio),
predispondo-a a infecções.

Rubéola

A rubéola é atualmente a maior causa de incidência de surdez no


período pré-natal. Para preveni-la, a indicação é a vacinação, que deve ocorrer
principalmente nas mulheres em idade fértil. A validade imunológica da vacina
é de cerca de 10 anos.

Bebês Prematuros

Os bebês que nascem entre a 20ª e a 37ª semana de gestação são


considerados prematuros. Os avanços tecnológicos atuais permitem que cada
vez mais esses recém-nascidos tenham suas chances de sobreviver aumentadas,
assim como é possível observar a idade gestacional dos bebês cada vez menores.
Atualmente é comum o relato das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal que
atendem recém-nascidos prematuros de 800g. Vale observar que essa sobrevida
está, às vezes, relacionada a recém-nascidos com doenças e problemas graves
de saúde.

A alta tecnologia contribui para a sobrevida de prematuros de


baixíssimo peso e de idade gestacional extrema. No entanto, um dos
maiores desafios para esse intervencionismo é garantir qualidade de vida
no desenvolvimento futuro desses bebês, visto que muitos deles terão o seu
desenvolvimento neuropsicomotor comprometido.
Curiosidades | 83

Traumas Acústicos

Estudos recentes indicam que tem crescido muito o número de


crianças e de adolescentes que apresentam queixas de algum tipo de perda
auditiva. Muitos especialistas alertam para o uso excessivo de fones de ouvido
e aparelhos de som portátil. Uma das queixas mais comuns é o zumbido na
orelha. Fazer exercícios físicos, como correr, fazendo uso de fones de ouvido
pode até dobrar o risco de dano auditivo, assim como ouvir música muito alta
ou ir constantemente a shows de música.

Surdo-Mudo

A denominação de surdo-mudo é largamente usada e difundida há


muitos anos, sendo tão antiga quanto incorreta. O fato de a pessoa ser surda em
nada lhe caracteriza a mudez, são déficits diferentes que envolvem processos
completamente diferenciados. Ser surdo-mudo significa que a pessoa, além
de ter uma perda auditiva ou uma surdez, também apresenta mudez, ou seja,
ausência de fala ou vocalização, o que não se aplica aos surdos. Estes têm a
surdez ou o déficit auditivo localizado no sistema auditivo que, como vimos nos
capítulos 1 e 2, está diretamente relacionado à audição, seja no nível condutivo,
sensorial ou de processamento. Para que fossem mudos, teriam que apresentar
algum problema no aparelho fonador, ou seja, alguns surdos não desenvolvem
a fala ou a fazem de maneira diferenciada por não ouvirem corretamente, o
que não significa que sejam mudos. Bebês surdos balbuciam igual aos bebês
ouvintes e produzem sons quando mais velhos. O fato de produzirem qualquer
tipo de vocalização já é um indício de que não são mudos.
84 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Hemisférios Cerebrais

O cérebro humano é constituído por dois hemisférios: esquerdo e


direito.

hemisfério esquerdo hemisfério direito


Escrita a mão Emoções e sentimentos
Língua Cálculo
Leitura Relações espaciais
Símbolos Identificação de figuras
Fonética Reconhecimento das cores
Raciocínio lógico e matemático Música e canto
Associação auditiva Criatividade
Localização de fatos e detalhes Espacial
Nomeação, descrição Intuitivo
Sentido de tempo Concreto
Racional Não verbal: mímica
Verbal: língua Prosódia

Cálculos
matemáticos Prosódia
Escrita Compreensão
Fala musical
Preferências Compreensão
motoras prosódica
lateralizadas
Leitura Reconhecimento de
categoria de pessoas
Identificação de
objetos e animais Reconhecimento de
categoria de objetos
Compreensão
linguística Relações
espaciais
Relações quantitativas
espaciais
quantitativas
Curiosidades | 85

Atendimento Educacional Especializado – AEE

O AEE requer que todos os envolvidos com a educação estejam ativos


nesse processo. A escola, o professor da sala regular e o professor do AEE
formam os três pilares que oferecem a estrutura educacional para os alunos
inclusos. Estes têm competências que devem ser respeitadas para o sucesso da
proposta educacional inclusiva.

Competências Atribuídas à Escola

• Reconhecimento das necessidades educacionais especiais do


alunado da unidade escolar;

• Adaptação estrutural para o recebimento do aluno de inclusão, que


pode ser desde rampas de acesso e banheiros adaptados até materiais
pedagógicos e itens de sinalização e segurança;

• Encaminhamento, quando necessário, para avaliações e orientações


técnicas e clínicas especializadas;

• Orientação às famílias, para que todos estejam envolvidos no


processo de escolarização dos alunos de inclusão;

• Elaboração de estratégias para garantir a participação dos alunos de


inclusão em todas as atividades escolares, sejam elas de classe ou
extracurriculares;

• Oferecimento de suporte teórico e prático ao professor de classe


regular e de AEE.

Competências do Professor do Ensino Regular

• Conhecer os direitos e deveres do aluno de inclusão na sala de


ensino regular;
86 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• Receber informações para que o professor regular possa identificar


as necessidades educacionais especiais do seu aluno de inclusão;

• Participar das reuniões de estudos de caso e buscar informações com


especialistas quanto às distinções do seu aluno surdo de inclusão;

• Solicitar à equipe pedagógica técnica e ao professor do AEE


informações e orientações de como trabalhar com o seu aluno de
inclusão e com ele em relação aos outros alunos da sala de ensino
regular;

• Informar a equipe técnica pedagógica dados sobre as condições de


aprendizagem de seu aluno, assim como o seu desenvolvimento;

• Levar os encaminhamentos para avaliações e atendimentos


complementares a fim de se analisar, junto com a coordenação, a
real necessidade para tais procedimentos e as suas benfeitorias para
o desenvolvimento pedagógico do aluno de inclusão;

• Elaborar relatórios referentes às condições de aprendizagem do


aluno e os seus ganhos no decorrer do ano letivo;

• Utilizar os materiais e os recursos pedagógicos adaptados, seguindo


as orientações de outros profissionais especialistas;

• Fazer avaliações e registros sistemáticos para o acompanhamento do


desenvolvimento do aluno surdo de inclusão;

• Organizar o espaço físico da sala de aula, se necessário, para atender


às necessidades do aluno de inclusão;

• Fazer adaptações de pequeno porte em relação aos conteúdos,


metodologia, estratégias de ensino e instrumentos de avaliação,
garantindo a participação efetiva do aluno surdo nas atividades de
sala de aula;
Curiosidades | 87

• Orientar os familiares dos alunos surdos, para que estes se envolvam


no processo de escolarização de seu filho;

• Solicitar auxílio quanto às distinções referentes à Libras e a sua


estrutura, para melhor entender o processo de aprendizagem do
surdo e a sua escrita;

• Buscar, junto ao tradutor intérprete de Libras, meios de melhorar


a sua comunicação com o aluno surdo, assim como elaborar as
atividades pedagógicas oferecidas na sala de aula e nas formas
avaliativas desses alunos.

Competências do Professor do AEE

• Avaliar as condições de aprendizagem do aluno surdo, observando


as suas dificuldades e as suas habilidades;

• Identificar os recursos e materiais adaptados necessários para


atender às necessidades do aluno surdo;

• Dar abertura para a discussão de estudos de caso realizados na


escola, trazendo também informações referentes à surdez e suas
peculiaridades;

• Comunicar a direção e a coordenação sobre as condições de


aprendizagem do aluno surdo e as suas necessidades avaliativas, ou
até mesmo da necessidade de atendimentos complementares;

• Elaborar relatórios das condições de aprendizagem do aluno surdo,


assim como os seus avanços pedagógicos;

• Acompanhar o desempenho do aluno surdo em sala de aula regular,


orientando sistematicamente os professores envolvidos no processo
de escolarização;

• Orientar as famílias dos alunos surdos atendidos no AEE;


88 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• Produzir materiais e recursos didáticos, em Libras ou não, para


serem utilizados pelo aluno surdo, pelo grupo em sala de aula
regular ou nos atendimentos na sala de recursos multifuncionais;

• Orientar a equipe técnica e os professores da escola de maneira a


garantir a participação do aluno de inclusão em todas as atividades
escolares propostas, sejam elas disciplinares ou extracurriculares,
tais como festas, passeios, jogos ou gincanas.

Dia do Surdo

Conforme a Lei 11.796 de 2008, no dia 26 de setembro comemora-se


o Dia Nacional do Surdo. No Brasil, essa data específica é celebrada na mesma
data da inauguração da primeira escola para surdos no país em 1857, atual
INES (Instituto Nacional de Educação para Surdos, originalmente chamada de
Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro).

A Federação Mundial dos Surdos celebra internacionalmente o Dia do


Surdo na data de 30 de setembro.

Símbolo Internacional de Surdez

A Lei Nº 8.160, de 8 de Janeiro de 1991, dispõe sobre a caracterização


de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência
auditiva.
Curiosidades | 89

O Presidente da República: Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Artigo 1º É obrigatória a colocação, de forma visível, do "Símbolo


Internacional de Surdez" em todos os locais que possibilitem
acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência
auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou
que possibilitem o seu uso.

Artigo 2º O "Símbolo Internacional de Surdez" deverá ser colocado,


obrigatoriamente, em local visível ao público, não sendo permitida
nenhuma modificação ou adição ao desenho reproduzido no anexo
a esta Lei.

Artigo 3º É proibida a utilização do "Símbolo Internacional de


Surdez" para finalidade outra que não seja a de identificar, assinalar
ou indicar local ou serviço habilitado ao uso de pessoas portadoras
de deficiência auditiva.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica


à reprodução do símbolo em publicações e outros meios de
comunicação relevantes para os interesses do deficiente auditivo, a
exemplo de adesivos específicos para veículos por ele conduzidos.

Artigo 4º O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de


noventa dias, a contar de sua vigência.

Artigo 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 6º Revogam-se as disposições em contrário.

Orientações para uma boa Comunicação


com Surdo ou Pessoa com Déficit Auditivo
• O primeiro contato com o surdo é fundamental, zele por ele;

• Sinta-se à vontade para pedir ao surdo que repita o que falou, caso não
o tenha entendido; no entanto, não o faça repetir incansavelmente;
90 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

• Prometer o que não se pode cumprir causa prejuízos para o


relacionamento surdo x ouvinte;

• Tocar o surdo sem antes colocar-se no seu campo de visão pode


causar-lhe uma reação emocional delicada: susto, medo, até cólera,
porque ele, na maioria das vezes, pode não perceber a aproximação
de pessoas;

• Evite o excesso de censura aos sons involuntários do sistema vocal


produzido pelo surdo;

• Valorize o surdo, dando-lhe possibilidade de reconhecer e pôr em


prática suas capacidades;

• Seja claro, direto e simples na transmissão e formulação de frases;

• Fale com voz clara, e um pouco mais devagar do que o usual,


empregando articulação normal e não exagerada;

• Use a voz com intensidade normal. Falar alto faz com que a voz se
torne ininteligível e a articulação, forçada;

• Use voz interessante e animada. Os padrões de entonação, ritmo,


duração e intensidade dos sons de palavras e frases podem ser
percebidos auditivamente, trazendo muitas informações de caráter
emocional;

• Trate o surdo com naturalidade;

• Utilize linguagem corporal simples;

• Procure falar pausadamente, mantendo contato visual, pois se você


desviar o olhar o surdo poderá entender que a conversa acabou;

• Pessoas surdas comunicam-se de maneira essencialmente visual e


pela Língua de Sinais. Para iniciar uma conversa com uma pessoa
surda, acene ou toque levemente em seu ombro ou braço;
Curiosidades | 91

• Quando o surdo estiver acompanhado de intérprete, fale diretamente


com a pessoa surda, não com o intérprete;

• Se necessário, comunique-se por meio de escrita, ou faça mímicas e


gestos que possam identificar o que você quer dizer. (Obviamente só
irá funcionar na comunicação de surdos que dominam a escrita.);

• Fale articuladamente, movimentando bem os lábios, evitando


colocar objetos ou a própria mão na boca, para não atrapalhar a
leitura labial;

• Sempre que quiser ajudar, pergunte qual é a melhor maneira de


proceder. Não se ofenda se a oferta for recusada, pois nem sempre
ela é necessária;

• Trate as pessoas conforme sua idade.

(Fonte: Algumas informações constantes na Publicação da Secretaria Municipal da


Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida – Dicas de Relacionamento com as Pessoas com
Deficiência – Prefeitura de São Paulo)
93

10 Quem Pergunta quer Respostas

Neste capítulo abordaremos dúvidas comuns relacionadas ao surdo.


Questionamentos que por vezes parecem simples, mas fazem parte da
curiosidade de muitas pessoas.

As perguntas foram selecionadas da comunidade Surdez, Educação


e Libras. Algumas questões foram reformuladas ou complementadas, pois
por vezes apareceu mais de uma pergunta que, embora escrita de maneira
diferenciada, tratava da mesma questão.

1. Qual é o significado de Libras? Observo que às vezes está definida


como língua de sinais brasileira, mas muito comumente lemos a
definição do termo como língua brasileira de sinais. Afinal qual é
termo certo?

O termo certo é língua de sinais brasileira. Língua de sinais é


uma palavra composta e deve ser mantida junta, não podendo
ser separada pelo termo brasileira, que é a origem da língua. O
MEC tem advertido quanto à observação desta nomenclatura.
Na verdade, nos últimos anos tem havido uma reformulação das
nomenclaturas relacionadas aos déficits e aos grupos minoritários,
largamente defendida e vinculada pelo filósofo Romeu Sassaki que,
através de vários textos, tem disseminado a ideia de um novo olhar
em relação às nomenclaturas existentes. Também vale ressaltar que
o termo Libras deve ser escrito apenas com a primeira letra em
maiúscula, tendo a sua representação como Li (língua de sinais) e
bras (brasileira).

2. A Língua de Sinais é universal, ou seja, quando eu a aprender


poderei usá-la em qualquer parte do mundo?

A Libras não é universal. Trata-se da língua de sinais brasileira,


logo, faz parte da língua de sinais do Brasil. O alfabeto em Libras,
conhecido como dactologia ou datilologia, é aplicado apenas à
Libras, ou seja, a sua configuração é utilizada apenas no Brasil, sendo
94 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

diferente dos alfabetos manuais das outras línguas de sinais de outros


países. Vale lembrar que a Libras tem sua base linguística na Língua
de sinais francesa, o que faz com que vários de seus sinais sejam
de influência da Língua de sinais francesa. Isso ocorre em qualquer
língua: na língua portuguesa, temos palavras de empréstimos de
outras línguas, tais como hot-dog, abajur, hambúrguer, Piracicaba.
Denominamos empréstimos linguísticos essa apropriação de um
sinal ou de uma palavra oriunda de outra língua.

3. Aprendendo a Libras posso conversar com qualquer surdo?

Sim e não. Parece estranha essa possibilidade ambígua mas, para


melhor entender, devemos saber que a Libras é uma língua de sinais
do Brasil, e por ser língua é composta por elementos linguísticos
que a caracterizam como tal. Um surdo de outro país fará uso da
língua de sinais de seu país de origem. Embora haja os empréstimos
linguísticos, eles são insuficientes para se dizer que a comunicação
entre duas pessoas de países diferentes flua com naturalidade,
processo esse dificultado pelo alfabeto, que também varia de país
a país. Todavia, alguns sinais são icônicos, ou seja, elaborados de
maneira a não deixar dúvidas quanto a seu significado. Esses sinais
icônicos são encontrados em todas as línguas de sinais. Por se tratar
de uma língua de representação visual, em alguns casos ela consegue
representar exatamente a ação que dá significado à palavra. Como
exemplo, temos:

lavar a roupa escovar os dentes

Como se pode observar, esses sinais são a representação fiel da ação,


tornando-os icônicos. Sinais como esses fazem com que usuários
Quem Pergunta Quer Respostas | 95

da Libras possam se comunicar com surdos de outros países.


Não de forma fluente, mas o necessário para se estabelecer uma
comunicação e trocar experiências linguísticas.

4. Qual é o termo certo, língua ou linguagem de sinais? A Libras ou


O Libras?

O termo correto a ser utilizado é língua, fato comprovado


cientificamente. A Libras é compreendida pelo hemisfério esquerdo
do cérebro, área responsável pela compreensão da língua; além do
mais, a língua de sinais brasileira tem uma composição linguística,
caracterizando-se pela existência de regras gramaticais e estruturais
que devem ser seguidas e respeitadas. Tudo isso a diferencia de
uma linguagem, que tem a sua origem mais abstrata. Vejamos
um exemplo simples para a diferenciação das duas nomeações. Se
solicitássemos que algumas pessoas pegassem uma caneta e um
papel e desenhassem uma cadeira, em alguns instantes teríamos uma
infinidade de cadeiras nos mais diferentes tamanhos e formatos.
Ao fazerem uma referência gráfica à solicitação de uma cadeira, as
pessoas teriam utilizado, dentro das suas vivências e perspectivas,
aquela que identificaram como a melhor representação do objeto
cadeira. Se pedíssemos para essas mesmas pessoas escreverem
a palavra cadeira, todas que fossem alfabetizadas escreveriam
CADEIRA, respeitando a sequência das letras e a nomeação correta
do termo. O primeiro exemplo refere-se à linguagem, e o segundo,
à língua.

cadeira
cadeira cadeira
cadeira
cadeira
cadeira cadeira
Linguagem: abstrata, Língua: existência de regras,
representação pessoal, representação específica,
livre escolha, hemisfério hemisfério esquerdo do cérebro
direito do cérebro
96 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

5. Para me comunicar com o surdo, basta aprender a soletrar com as


mãos e ele vai lendo?

Não. A soletração digital serve para a nomeação em português dos


sinais quando necessário e para a nomeação de pessoas, lugares e
localidades. Para a comunicação em Libras existe um sinal para cada
palavra; se fosse feita a digitação de cada palavra a comunicação
ficaria longa e cansativa, perdendo a sua característica funcional e
dinâmica. Além do mais, se as palavras fossem soletradas para se
comunicar com o surdo, estaríamos utilizando um código como
o Braille (utilizado com cegos), e não uma língua como a Libras
que, como já vimos anteriormente, tem uma base linguística a ser
considerada. As línguas de sinais são a representação visual de uma
língua e não uma adaptação ou codificação da língua predominante
em que o surdo encontra-se inserido; no caso do surdo no Brasil, a
língua portuguesa. Por esse motivo, não têm equiparação à língua de
origem do país, trata-se de línguas distintas e específicas.

6. Todo surdo usa a língua de sinais?

Não. Embora as línguas de sinais sejam o que há de mais funcional


para a comunicação dos surdos, há diversos fatores que devem ser
considerados para o aprendizado da língua de sinais e, embora a
Libras seja uma língua considerada natural para o surdo, como
qualquer outra língua, necessita ser vivenciada e apreendida. Para tal,
se faz necessário que o surdo esteja em contato com outros surdos,
preferencialmente adultos, usuários da Libras, para que esta seja
assimilada e apreendida. No entanto, por vezes a opção familiar pesa
nessa decisão: se os pais não aceitarem a Libras como uma forma
de comunicação, não incluirão seus filhos surdos em ambientes
em que se faça uso da Libras. Logo, essa criança não aprenderá a se
comunicar por sinais no período mais propício para ela. Em alguns
casos, esses surdos virão a ter contato com outros surdos em um
período posterior, por vezes na adolescência, e irão adquirir a Libras
e fazer uso dela em um segundo momento. Isso permitirá que sejam
usuários fluentes em Libras, mas não com a mesma dinâmica que
Quem Pergunta Quer Respostas | 97

se adquirissem a língua em seu período de aquisição, ou seja, antes


dos seis anos.

Há também os surdos oralizados, ou seja, que fazem uso da


leitura labial como referência comunicativa; estes, em sua maioria,
preconizam o uso da fala e da comunicação oral, não acreditando
ser necessário o uso da Libras.

Estudos apontam que a falta de contato com os grupos de surdos


ou com as comunidades de Surdos, por parte das crianças nascidas
surdas, se dá pelo fato de que a maioria das crianças que nasceram
surdas ou que ficaram surdas na sua fase pré-lingual, ou seja, antes
da aquisição da fala, são em sua maioria filhos de pais ouvintes.
Sendo assim, a compreensão da distinção linguística que caracteriza
o seu filho surdo e as suas necessidades são lentamente, quando
ocorrem, assimiladas por seus pais, visto que se trata de um
aspecto completamente à parte da realidade conhecida por eles.
Isso causa por vezes certo distanciamento, e até uma negação dessa
realidade que acomete a família como um todo, visto que se buscam
incansavelmente outras formas de "solucionar o problema" da
surdez, antes da opção pela língua de sinais. Esta escolha por muitas
vezes acaba ficando a cargo da própria criança, em uma idade em que
possa optar por isso. Essa escolha tardia traz imensuráveis prejuízos
ao desenvolvimento linguístico, emocional, social e pedagógico do
surdo.

7. O surdo é mudo, está certo dizer surdo-mudo?

O termo surdo-mudo é tão errôneo quanto é largamente difundido.


É muito comum vermos esses termos sendo utilizado na literatura,
mas principalmente em redes de informação de massa, tais como
na televisão, na internet e nos jornais. O não uso desses termos faz
parte de uma campanha que já ocorre há muitos anos, assim como
a utilização de termos como mudinho, quando relacionados a um
surdo. É muito comum ouvirmos relatos de pessoas que identificam
um aluno, parente ou vizinho surdo como "o mudinho". Para
98 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

esclarecer a questão, vale ressaltar que os surdos não são mudos, o


grande problema é que relacionamos o fato de não se comunicarem
através da fala como uma mudez. Em nenhum momento há uma
relação direta da fala com a audição nos termos de potencialidade,
ou seja, o surdo, por não ouvir funcionalmente os sons da fala,
apresenta muita dificuldade em reproduzi-la, no entanto ele emite
sons, o que já o descaracteriza como mudo. Além do mais, não há
nenhuma alteração em seu aparelho fonador que o impeça de emitir
sons, apenas uma grande dificuldade em falar. Um surdo, para ser
mudo, deve apresentar, além da perda auditiva, que caracterizaria
a surdez, também um comprometimento no seu aparelho fonador
(cavidade nasal, fossa nasal, boca, laringe, traqueia, pulmões e
diafragma), sendo assim, apresentaria dois déficits.

8. Por que, quando o surdo escreve, sua escrita é estranha?

A escrita dos surdos não segue as mesmas construções dos ouvintes


que se apoiam na linguagem oral para produzir o texto. O surdo
baseia sua escrita na língua de sinais, e esta não apresenta registro
escrito.

Como a língua de sinais tem estrutura gramatical diferente da língua


portuguesa (não há uso de conectivos, preposições, conjugação
verbal, concordância nominal etc), é natural que pareça estranho
para uma pessoa não usuária da língua de sinais.

Também devemos considerar que, na maioria das vezes, o surdo


escreve em português, mas mantém a elaboração do seu pensamento
em Libras, ou seja, faz uso do código alfabético da língua portuguesa
para "escrever" em Libras.

Exemplo: Uma aluna surda, do 5º ano do Ensino Fundamental,


responde à seguinte pergunta: qual é a importância de uma
alimentação saudável?
Quem Pergunta Quer Respostas | 99

COMER CERTO BOM ERRADO GORDO FEIO COMER SALADA


CERTO TOMATE CERTO GOSTAR MAGRO BONITO EU
GOSTOSA MODELO FUTURO AMENDOIM ÓLEO GORDO
PODER NÃO COMER ERRADO SALADA BOM SEMPRE.

O professor dessa aluna considerou a resposta errada. Ao ser


questionado quanto aos motivos que o fizeram invalidar a questão,
ele respondeu que não foi isso que ele ensinou na sala de aula e que
não era adequado utilizar a palavra /gostosa/ na resposta, pois ele a
considerava ofensiva para a seriedade da questão da prova.

A aluna ficou muito decepcionada por sua questão ter sido anulada
e considerada errada, pois tinha a convicção de que respondera de
maneira correta.

Explicação: A aluna escreveu fazendo uso apenas do seu pensamento


em Libras, ignorando as regras ortográficas e gramaticais da língua
portuguesa. Por outro lado, ela respondeu com coerência à questão,
o que ela não tinha era um vocabulário em português para poder
expressar o seu pensamento com as palavras que poderiam ser
consideradas mais "adequadas". Daí a justificativa da decepção da
aluna, que se desinteressou por aquela matéria. O professor deveria
ter ao menos respeitado a sua resposta, levando em consideração
todos os pontos descritos acima. A escrita correta do português
ainda está em fase de assimilação pela aluna, o que ainda vai requerer
certo tempo, demandando que lhe seja mostrada a maneira correta
em português, explicando a diferença entre as duas escritas.

9. Se o surdo aprender Libras, ele vai saber escrever?

Não necessariamente. Partindo do pressuposto de que a língua de


sinais é a língua natural dos surdos, para o usuário da língua de
sinais aprender a ler e a escrever em língua portuguesa é aprender
uma segunda língua. O surdo desenvolverá essas habilidades se for
exposto a metodologias de aprendizagem de um segundo idioma;
caso contrário, é possível que aprenda a transcrever palavras que
sabe de memória e não necessariamente adquira as competências
necessárias para escrever.
100 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

Outro problema é que, quando falamos do aprendizado da língua


portuguesa como uma segunda língua, não podemos comparar com
o aprendizado de uma segunda língua oral para os ouvintes, como,
por exemplo, o aprendizado do inglês ou do francês, pois para os
ouvintes existe a questão da sonoridade destas línguas, que facilita o
seu aprendizado. Com o aprendizado da língua portuguesa para os
surdos, o processo é completamente diferente. A língua portuguesa
para eles, além de ser artificial, é assimilada de maneira visual,
dificultando em muito a assimilação e a acomodação do seu léxico e
sua semântica, mais ainda das suas regras gramaticais.

10. Por que todo surdo tem preguiça de escrever e ler?

Pessoas têm características particulares sejam elas surdas ou


ouvintes, apresentam determinados comportamentos. Não se
pode generalizar. É necessário refletir sobre a interpretação que
se dá ao comportamento da pessoa com surdez, e respeitar sua
singularidade. O que parece preguiça pode, na verdade, ser reflexo
de uma dificuldade na construção de sentidos devida a metodologias
inadequadas no ensino da língua portuguesa, entre muitos outros
fatores.

Não se pode afirmar que o surdo tem preguiça de escrever e ler. O


que podemos afirmar é que, para eles, esse processo requer uma alta
habilidade e exige uma conexão com vários processos que devem ser
considerados.

11. Se o problema está na audição é só colocar o aparelho que ele ouve,


não é?

Não. Fazer uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual


(AASI) não significa que o surdo irá ouvir. Há muitas variações
que devem ser consideradas, sendo a mais importante referente à
perda auditiva da pessoa que fará uso do AASI. Se a perda auditiva
for de leve a moderada (pessoa com déficit auditivo), o uso do
AASI auxilia o reconhecimento da fala e da maioria dos sons
Quem Pergunta Quer Respostas | 101

ambientais. Se a perda auditiva for de severa a profunda (surdo),


o uso do AASI se restringe a sons ambientes de alta intensidade,
mas não há capacidade de amplificação do som suficiente para o
reconhecimento da voz humana, fazendo com que o aparelho sirva
para atenção aos sons de alerta.

12. Não seria mais fácil aprender a leitura labial, sendo possível assim
conversar com todo mundo?

Seria mais fácil para quem? Para os ouvintes que se comunicam com
os surdos, com certeza. Mas e para o surdo?

Ser oralizado ou usuário da Libras é uma opção que a família


e o próprio surdo têm o direito de fazer, não cabe à sociedade
determinar padrões de adequação para a pessoa com surdez. A
leitura labial para o surdo requer que ele seja capaz de identificar, de
maneira visual através da posição dos lábios, os sons de quem está
falando, traduzindo em palavras que formarão frases no contexto de
determinado assunto. Pesquisas indicam que menos de 50% do que
está sendo dito é entendido por quem está fazendo a leitura labial, o
restante é adivinhação, isso quando nos referimos a ouvintes fazendo
leitura labial. Vale lembrar que muitos sons são invisíveis, como /c/
e /g/, e outros podem ser confundidos: /s/ e /z/, /p/ e /b/, /t/ e /d/.
Para o surdo, fazer leitura labial requer um amplo conhecimento
da língua portuguesa. Se o surdo apresentar um conhecimento
restrito, a compreensão da comunicação por leitura labial ficará
também restrita às palavras soltas sem contexto; ele tentará fazer o
reconhecimento de sons que nunca ouviu antes. Um surdo que faz
uso da leitura labial não apenas tem um amplo conhecimento do
léxico da língua portuguesa como também consegue identificá-lo
por reconhecimento orofacial.
102 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

13. A Libras é só para surdo. Eles não deveriam aprender a falar?


Afinal a maioria das pessoas fala.

Fazer o surdo falar é impor a prática oralista, que é o nome dado


àquelas abordagens que enfatizam a fala e a amplificação da audição e
que rejeitam, de maneira explícita e rígida, qualquer uso da língua de
sinais. Assim, "o oralismo tanto é uma ideologia quanto um método"
(Wrigley, 1996, p. 15). Decidir qual a abordagem de comunicação e
ensino a ser adotada cabe à família e ao próprio surdo.

Tente o seguinte teste, ligue a televisão e coloque em um canal


aleatoriamente. Não valem canais com legenda ou programas já
assistidos por você. Tire completamente o som da televisão e tente
ficar por mais ou menos 10 minutos tentando entender o que está
sendo dito. Se for um noticiário, talvez as imagens apresentadas lhe
tragam alguma referência sobre o assunto discutido, mas se for um
diálogo entre duas ou mais pessoas, ficará muito difícil entender o
que elas estão dizendo. Além do que, 10 minutos iriam parecer uma
eternidade. Sempre devemos relembrar que, como ouvintes, temos a
língua portuguesa acomodada em nossa memória visual e auditiva.
Ofereça a um surdo, que não optou por ser oralizado, a viver sempre
nessa situação, diariamente, tendo que, como dito na questão 12,
identificar um som que nunca foi ouvido.

14. Para o surdo ser incluso na escola é só ter um tradutor na sala com
ele. Esta não seria uma solução muito mais fácil?

As políticas públicas de inclusão preveem a presença de intérprete de


Libras na sala de aula, o que não garante, em absoluto, que o aluno
surdo tenha suas necessidades educacionais especiais atendidas.

O tradutor/intérprete fará a mediação da comunicação entre os


alunos surdos e os ouvintes (sejam professores ou alunos), mas a
responsabilidade pedagógica ainda será do professor titular da sala.
Outra questão pouco discutida refere-se ao fato de que o surdo
precisa conviver em ambientes que façam uso da Libras para poder
Quem Pergunta Quer Respostas | 103

adquiri-la; sendo assim, não é porque o aluno é surdo que ele conhece
a língua de sinais (assunto discutido na questão 6). Seria como uma
apresentação ministrada em português para um grupo de franceses:
para facilitar as diferenças das duas línguas, contrata-se um tradutor
para mediar a compreensão da língua portuguesa para o grupo de
franceses, o qual é constituído por crianças com cerca de um ano
e meio de idade. Sendo assim, o tradutor faria a mediação, mas o
público-alvo (crianças francesas) ainda não teria conhecimento
suficiente da própria língua francesa para compreender o que estava
sendo dito. É isso o que tem ocorrido com alguns surdos na inclusão
que são atendidos por tradutores. Embora a função do tradutor seja
a mediação das línguas (portuguesa e Libras), o aluno por vezes não
tem conhecimento suficiente em Libras para compreender o que
está sendo dito. O conteúdo pedagógico é transmitido para o aluno
por meio do tradutor, mas não é abarcado pelo aluno surdo.

Exemplo: Aluno surdo de inclusão com tradutor na sala de aula,


em uma aula de geografia, em que o assunto tratado é o continente
asiático.

A professora titular passa o conteúdo para a sala e concomitantemente


o tradutor media o conteúdo em Libras, mas o aluno desconhece
os sinais apresentados pelo tradutor, tais como Ásia, continente,
território etc. Sendo assim, a informação fica fragmentada para o
aluno. Como fazer? De quem é a responsabilidade em apresentar
estes novos sinais que se referem ao conteúdo escolar a ser aprendido?
Segundo as normativas da inclusão, esse trabalho fica a cargo da
sala de Atendimento Educacional Especializado e, se possível, do
material visual que será utilizado na sala de aula, desenvolvido
previamente pelo professor regular. Mas, ainda não é esta a realidade.
Por fim, ou o tradutor e o professor, em um trabalho conjunto,
tentam minimizar esse prejuízo para o surdo, ou o tradutor toma
para si essa responsabilidade (o que seria um erro), ou ainda o aluno
surdo acaba ficando prejudicado e defasado, deixando de adquirir o
conhecimento necessário da matéria e os sinais correspondentes a
esse conhecimento.
104 | Michelle Marques Carmozine | Samanta C. C. Noronha

15. O tradutor intérprete de Libras na sala de aula serve para auxiliar


o surdo nas atividades escolares?

Não. O tradutor intérprete de Libras serve para mediar a


comunicação entre o aluno surdo e o professor. No caso da não
compreensão dos conteúdos, o ideal é que o aluno solicite ao
professor que explique de outra maneira, enquanto o intérprete
prossegue com a tradução. A responsabilidade sobre o sucesso da
educação do surdo é do professor. O intérprete pode trabalhar de
maneira colaborativa, visando auxiliar nessa ponte comunicativa.
O tradutor não deve tutoriar o aluno surdo em sala de aula, pois
cabe ao professor regular encontrar meios para atingir esse aluno,
como todos os outros alunos pertencentes a sua sala. No entanto,
como já tratado na questão anterior, há uma grande diferença entre
o que se deve fazer e o que realmente ocorre nas salas de aula com
os alunos surdos de inclusão. Em muitos casos, o professor transfere
a responsabilidade ao tradutor, que se sente responsável por auxiliar
pedagogicamente o aluno, situação que leva a uma dependência do
aluno. Às vezes, se o tradutor não assumir essa responsabilidade,
o aluno surdo acaba ficando sem as orientações necessárias; por
outro lado, também devemos considerar que para o professor
titular da sala há uma sobrecarga de atividades a serem cumpridas
(diversidade de alunos, outras inclusões em sala de aula, falta de
orientação adequada, excesso de atividades, mais de dois turnos de
trabalho). Então, como resolver esse impasse? Parece utópico, mas é
necessário que se definam os papéis e que a dinâmica aconteça como
se prescreve, para que assim possamos discutir com verdadeiras
realidades e buscar outras soluções para tentar resolver esses
problemas. Caso contrário, tudo parece estar funcionando, quando
a realidade na verdade está mascarada pela boa intenção daqueles
que pertencem a esse sistema.
105

Glossário

anacusia
Ausência total da percepção dos sons, sem resíduos auditivos.

bilinguismo
Uso de duas ou mais línguas. Em relação às pessoas com surdez, pode-se
afirmar que estas devem fazer uso de duas línguas, sendo a Libras sua L1,
ou seja, sua língua primeira, e a língua portuguesa sua L2, ou seja, a língua
pertencente a um grupo majoritário e que será apreendida de maneira
artificial. Para se tornar bilíngue, a pessoa deve fazer uso das experiências
culturais e sociais pertencentes a línguas por ela adquiridas.

cultura
Com a existência de uma língua, que permeia a comunicação, há também
uma série se comportamentos que devem ser aprendidos pelo grupo de
pessoas usuárias dessa língua. Tal conjunto de comportamentos engloba a
própria língua, regras de comportamento, valores e tradições.

cultura surda
Caracteriza-se pela compreensão que o Surdo adquire do "mundo",
ajustada às suas percepções visuais, visto que tem privadas suas percepções
auditivas. A Cultura Surda contribui para a formação da Identidade Surda,
abrangendo ideias, crenças, costumes e hábitos dos surdos.

datilologia/dactologia
Representação das letras do alfabeto com o uso das mãos, sistema
representativo encontrado nas línguas de sinais. Conhecido também como
soletração manual ou alfabeto datilológico.

deficiência/déficit auditivo
Categoria que se refere aos graus de perda auditiva, que pode variar de
perda leve (25 a 40 db) à anacusia. Oficialmente, "deficiência auditiva"
e "surdez" significam a mesma coisa. (Inciso II do art. 4o do Decreto no
3.298, de 20/12/99, que regulamenta a Lei no 7.853, de 24/10/89). (Sassaki)
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disacusia
É um distúrbio da audição, onde há perda na qualidade sonora e não na
intensidade do som. Aumentar a intensidade da fonte sonora não garante
o entendimento do significado das palavras.

hipoacusia
Redução da sensibilidade auditiva, sem alterar a qualidade da audição. A
amplificação da fonte sonora possibilita uma audição adequada.

implante coclear
É um dispositivo eletrônico, que tem por função estimular eletricamente as
fibras nervosas remanescentes da orelha interna, permitindo a transmissão
do sinal elétrico para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo
córtex cerebral. Conhecido como ouvido biônico, o implante é colocado
na cóclea (orelha interna) e busca facilitar o reconhecimento dos sons de
maneira eletrônica.

inclusão
É a inserção total e incondicional da pessoa com déficit auditivo,
intelectual, físico e visual, assim como das pessoas com atraso global do
desenvolvimento ou superdotação, em qualquer ambiente, seja ele escolar,
cultural, social ou familiar. Para que a inclusão aconteça, deve haver
uma readequação nos sistemas já existentes. Não é a pessoa com déficit
que deve se adequar ao ambiente e sim o ambiente que deve adaptar-se à
nova realidade. A inclusão exige ruptura dos sistemas atuais existentes e
transformações sociais, para que haja uma realidade que atenda a todos.

intérprete
Pessoa que traduz da forma oral, escrita ou sinalizada, as palavras de uma
língua para outra língua, interpretando de uma língua (língua fonte) para
outra (língua alvo). O intérprete serve de mediador comunicativo quando
duas ou mais línguas são utilizadas dentro de um grupo, sendo que as
pessoas pertencentes a esse grupo não conhecem a língua utilizada pelo
outro falante ou sinalizante.
Glossário | 107

intérprete em língua de sinais


Profissional que interpreta da língua de sinais para outra língua (oral ou
escrita), ou vice-versa.

libras
Sigla que representa a Língua de sinais brasileira (LI- língua de sinais e
BRAS- brasileira), utilizada pela comunidade surda brasileira. Trata-
-se de uma modalidade linguística "quiroarticulatória-visual e não
oroarticulatória-auditiva" (Capovilla).

língua
É o conjunto de signos compartilhados por uma comunidade linguística
comum, um sistema coletivo de uma determinada comunidade linguística.

língua de sinais
É a língua utilizada pelas comunidades surdas. É uma língua natural,
conhecida pelo surdo como L1, reconhecida como língua por suas
características linguísticas. É visuoespacial e capta as experiências visuais
dos surdos.

língua majoritária
Utilizada pelos grupos maiores de uma sociedade, é a língua de uso oficial
de um país.

linguagem
Habilidade natural de comunicação que o ser humano tem. Apresenta-se
de forma livre e pode se dar por meio de palavras, gestos, imagens, sons,
cores, expressões, etc. É universal e abstrata.

minorias linguísticas
Grupos menores que fazem uso de uma língua comum, língua esta
diferenciada daquela utilizada por um grupo linguístico maior, considerada
oficial e utilizada por uma maioria.
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oralismo
Método de ensino utilizado com surdos, priorizando o uso da língua oral,
a leitura labial e o uso de aparelho de amplificação sonora. Aqueles surdos
que vivenciam esse método e dele fazem uso são denominados como
surdos oralizados.

ouvinte
Termo que designa as pessoas que ouvem dentro de um padrão considerado
normal.

português sinalizado
É uma forma de comunicação utilizada com os surdos. Faz uso de gestos,
Libras e do alfabeto dactológico como forma de comunicação. Sua estrutura
gramatical é da língua portuguesa e não da Libras, tornando-se artificial.

surdez
Termo que indica perda auditiva, que pode ser desde uma diminuição na
capacidade de escutar ou identificar os sons até uma perda total de audição.

surdo
Surdo (com "s" minúsculo) refere-se ao termo denominado para identificar
a pessoa com surdez (perda auditiva de severa a profunda). Surdo (com
"S" maiúsculo) é o indivíduo que se reconhece como pertencente a um
grupo linguístico minoritário e não como uma pessoa que tem uma
perda auditiva, defende o uso da língua de sinais e compartilha a ideia
de ser pertencente a uma Cultura Surda constituída por normas, valores e
atitudes distintos daqueles dos ouvintes.

tradutor
Profissional especializado que transpõe os signos linguísticos de uma
língua para a outra, podendo ser na modalidade oral, escrita ou na língua
de sinais. O tradutor pode fazer esse arranjo combinando qualquer uma
dessas modalidades.
109

Referências

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inciso III, da Constituição, arts. 58 a 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, art. 9o, § 2o, da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, art. 24 da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
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http://www.aparelhosauditivosecia.com.br
Surdez e Libras: conhecimento em suas mãos
© HUB Editorial 2012
Edição Digital: 2012

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ISBN 978-85-8076-097-2

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Carmozine, Michelle M. Surdez e libras [livro eletrônico] : conhecimento em suas
mãos / Michelle M. Carmozine, Samanta C. C. Noronha. -- São Paulo : Hub Editorial, 2012.
4 Mb ; PDF.

1. Educação inclusiva 2. Educação de surdos 3. Língua Brasileira de Sinais 4. Língua de sinais


5. Surdez I. Noronha, Samanta C. C.. II. Título.

1. Surdos : Língua de sinais ............................................................................................................ 419

CDD-419
SURDEZ
E LIBRAS Michelle M. Carmozine • Samanta C. C. Noronha
conhecimento em suas mãos
Surdez e Libras: Conhecimento em suas mãos surgiu pela
necessidade de um material com uma linguagem direta
e simplificada que tratasse o tema da surdez com clareza
e ao mesmo tempo com leveza. O tema é sempre
delicado por envolver muitas opiniões e contradições. Michelle M. Carmozine
Especialista em Psicopedagogia Clínica e
Este livro busca apresentar um pouco de cada uma

SURDEZ E LIBRAS: CONHECIMENTO EM SUAS MÃOS


Institucional (2003) e Deficiência Visual e
delas, pois o objetivo é a reflexão, não a formação de Surdez (1999). Possui graduação em
uma visão única. Em vez disso, a intenção é abrir as Educação Especial pelo Centro
possibilidades e principalmente esclarecer que quando Universitário Lusíada (Unilus) (1997) e em
Orientação Educacional pela Universidade

SURDEZ
se trata de surdez e da pessoa com surdez devem ser Católica de Santos (Unisantos) (1999).
considerados os diversos fatores (familiares, Possui certificado da Prolibras em profi‐
econômicos e culturais) para se compreender sua ciência para o ensino e o uso da Libras em
nível superior. Atualmente é professora
constituição e suas escolhas.

E LIBRAS
dos cursos de licenciatura da Universidade
Samanta C. C. Noronha Santa Cecília de Santos e do curso de
Pedagoga pela Universidade Metropolita‐
O leitor encontrará aqui um livro instrucional de fácil
pedagogia e de medicina da Unilus,
na de Santos (Unimes), em especialização acesso e compreensão para ser lido sequencial ou psicopedagoga clínica institucional e
em Libras e Educação de Surdos pela aleatoriamente; foi pensado para todos que têm tradutora intérprete em Libras na
Unibem, certificada em Libras pela Con‐ Prefeitura de São Vicente, atuando como
curiosidade ou precisam entender e compreender o
gregação Santista de Surdos e pela Associ‐
ação Assistencial Cáritas, professora de “mundo” dos surdos. Não há a pretensão de este ser um conhecimento em suas mãos a s s e s s o ra t é c n i c a p e d a g ó g i c a d o
Departamento de Educação Inclusiva e no
Libras no curso de Medicina da Unilus, material que inicia e termina em si mesmo. Mais do que projeto “Oficina de Leitura e Escrita” com
participando há mais de quatro anos de isso, este é apenas o início para que se possa refletir surdos. Tem experiência na área de
projetos de Educação Inclusiva junto à Psicopedagogia, com ênfase em diagnósti‐
Secretaria de Educação da Prefeitura de
sobre as questões abordadas para se ir além desses
co clínico, tratamento psicopedagógico:
Santos, na instrução de crianças com conceitos, criando sua própria opinião a respeito do TDAH, dislexia, dificuldades de aprendiza‐
diversos tipos de deficiências e necessida‐ surdo. gem, educação especial e na área de
des educacionais diferenciadas, notada‐ educação especial com surdos e surdoce‐
mente crianças surdas e com síndromes gos, há mais de 18 anos; desde 2009 é
associadas. Atua como educadora de estagiária em Psicologia Experimental no
surdos e tradutora e intérprete de Libras Instituto de Psicologia da Universidade de
Educacional. São Paulo (IPq‐USP).
hubeditorial.com.br

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