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A LIBERDADE
“Charut (gravado) nas pedras”; não pronuncie Charut (gravado), mas ao invés
Cherut (liberdade), para nos ensinar que eles atingiram liberdade do
Anjo da Morte.”
–Midrash Shemot Raba, 41:7
Estas palavras precisam ser clarificadas, porque como a recepção da Torá tem relação
com a libertação da humanidade da morte? E além disso, uma vez que eles tenham
atingido, através da recepção da Torá, um corpo eterno, onde a morte não se aplica,
como eles o perderam novamente? Pode algo eterno se tornar ausente?
LIVRE ARBÍTRIO
Para entender o conceito sublime da “liberdade do Anjo da Morte”, precisamos
primeiro entender o conceito de liberdade como é normalmente entendido pela
humanidade.
De um modo geral, a liberdade é considerada uma lei natural que se aplica à
todos os viventes, como podemos ver com os animais que estão em nosso cuidado
que morrem quando nós os privamos de sua liberdade. E esta é uma prova clara que
a Providência não permite a escravidão de qualquer ser vivente. Não é por nada que
a humanidade tem lutado há centenas de anos pela liberdade do indivíduo em certos
níveis.
Porém, este conceito, que é expresso pela palavra “liberdade”, permanece
obscuro, e se nós nos aprofundarmos no significado mais profundo desta palavra,
quase nada permanecerá dela. Porque antes de você poder entender a liberdade do
indivíduo, você precisa assumir que todo indivíduo tem a característica chamada
“liberdade, isto é, ele pode agir de acordo com seu próprio livre arbítrio.
397
398 CABALÁ PARA O ESTUDANTE
PRAZER E DOR
Quando observamos as ações de um indivíduo, e encontramos que elas são uma
obrigação e são impostas sobre o indivíduo, e que ele não tem escolha a não ser fazê-
las. Isto é como um alimento em uma panela no fogão que não tem escolha a não
ser cozinhas, já que a Providência atrelou todos os viventes com duas rédeas: prazer
e dor.
Os animais não têm livre arbítrio para escolher a dor ou rejeitar o prazer. E
a superioridade da humanidade sobre os Animais é que a humanidade pode olhar
em direção à uma meta distante. Ele pode escolher aceitar um certo nível de
sofrimento através de sua escolha do prazer ou benefício que virá para si no futuro.
Mas a verdade é que isto é nada mais que mera contabilidade, que parece ser
comercial. Nós estimamos o prazer ou benefício futuro para saber se há vantagem
sobre a dor e sofrimento que passamos, para que concordemos em assumir sobre
nós para percorrer nesse meio tempo. Isto é apenas uma questão de subtrair a dor e
sofrimento do prazer esperado, e algo extra é deixado.
Afinal, nós somos atraídos apenas pelo prazer. E assim ocorre que algumas
vezes nós causamos o nosso sofrimento quando o prazer esperado não é maior do
que a dor que sofremos por ele. Portanto, nós estamos “em déficit”, assim como os
mercadores.
Em última análise, não há diferença entre a humanidade e os animais, e
portanto não há livre arbítrio consciente. Pelo contrário, há uma força que atrai a
pessoa para um prazer disponível em qualquer forma e repele a pessoa da dor. E
através do poder destas duas forças, a Providência nos guia por onde quer que ela
queira sem pedir nossa permissão.
Além disso, mesmo a natureza do prazer ou o benefício não é inteiramente
determinada pelo livre arbítrio do indivíduo, mas, pelo contrário, pela vontade dos
outros: como eles querem, e não ele. Por exemplo, eu me sento, eu me visto, eu falo,
eu como. Eu faço todas estas coisas não porque eu quero sentar desta maneira, me
vestir desta maneira, falar desta maneira ou comer desta maneira. Mas porque os
outros querem que eu sente, me vista, fale ou coma desta maneira.
Tudo isto é determinado pela vontade e gosto da sociedade, não pelo meu
próprio livre arbítrio. Além disso, eu normalmente faço estas coisas contra minha
vontade, porque eu preferiria me comportar em simplicidade, sem fardos ou
limitações, mas eu estou escravizado em grilhões de ferro em todas as minhas ações,
através dos gostos e condutas dos outros, que são a sociedade.
Se isto é assim, então me diga onde está meu livre arbítrio? E por outro lado,
se nós assumirmos que não há livre arbítrio, então todos nós somos nada mais que
um tipo de máquina que é controlada pelas forças externas que nos obriga a agir de
certa maneira. Isto significa que cada um de nós está aprisionado na prisão da
A LIBERDADE 399
Providência, que através de seus dois grilhões do prazer e dor, nos empurra e puxa
para onde quer que ela queira de acordo com a sua vontade, para que não haja
egoísmo no mundo.
Isto é porque não há ninguém que é livre e seja proprietário de si mesmo –
eu não sou responsável por minhas ações e eu não sou aquele que as faz porque eu
quero, pelo contrário eu sou forçado a fazê-las contra a minha vontade. A conclusão
é que recompensa e punição deixam de existir.
Isto é muito peculiar, não só para os ortodoxos, que acreditam na Divina
Providência e que de qualquer maneira tem certeza e confiança que Deus faz tudo
isto pelo propósito bom e desejado. Mas é ainda mais estranho para aqueles que
acreditam na Natureza, onde cada um de nós é aprisionado pelos grilhões da
Natureza cega, onde não há consciência e nem plano apurado. E nós, os mais
elevados dos seres, que têm sabedoria e conhecimento, somos como brinquedos nas
mãos da Natureza cega que nos leva cativos, para quem sabe onde?
A LEI DA CAUSALIDADE
Nós devemos tomar tempo para entender este conceito importante. Isto é, como nós
existimos neste mundo como uma entidade de egoísmo enquanto que cada um de
nós sente que é um ser especial que age de acordo com sua própria vontade,
independente de forças externas e desconhecidas, e como esta entidade de egoísmo
se revela em nossa mente?
É verdade que existe uma conexão geral entre todos os detalhes da realidade
que é posta diante de nós, que vai de acordo com a Lei da Causalidade, através da
Causa e Efeito. Assim como isto é verdade ao geral, é também verdade para cada
indivíduo em particular. Isto é, toda Criação no mundo, de todos os tipos –
Inanimado, Vegetativo, Animado e Falante – é sujeito à Lei da Causalidade, através
da Causa e Efeito.
Além disso, cada forma individual e tipo de comportamento da Criação,
enquanto exista, é motivado pelas causas precedentes que o compelem a se
comportar desta forma e não de outra. E isto é óbvio para qualquer um que observe
os sistemas da natureza puramente cientificamente sem qualquer envolvimento
pessoal. Nós precisamos analisar isto cuidadosamente para examiná-lo de todos os
aspectos e ângulos.
QUATRO FATORES
Saiba que tudo que vem a existir às Criações do mundo é um resultado não da
“existência a partir da ausência”, mas da “existência a partir da existência”. Isto é,
através de uma entidade real que foi removida de sua forma anterior e vestida em
sua forma atual.
400 CABALÁ PARA O ESTUDANTE
Assim, nós precisamos entender que tudo no mundo possui Quatro Causas até vir
a existir. Todas quatro juntas determinam seu ser, e elas são chamadas:
a) A Fundação.
b) As condutas de Causa e Efeito que são associadas com as características da
Fundação e que não mudam.
c) Suas condutas internas de Causa e Efeito, que mudam através do contato
com forças externas.
d) As condutas de Causa e Efeito através das forças externas que influenciam
de fora.
E eu as explicarei uma por uma.
Por exemplo, se nós descrevermos o estado mental de uma pessoa, tal como
uma pessoa religiosa, ou uma pessoa secular, seja ela extremamente religiosa ou
extremamente secular, ou medíocre, nós entendemos também que este estado é
determinado pelas Quatro Causas acima mencionadas.
POSSESSÕES HEREDITÁRIAS
A Primeira Causa é a Fundação, que é a Primeira Substância. Já que uma pessoa é
criada como “existência a partir da existência” isto é, do fruto das mentes de seus
pais, nós encontramos um certo nível de similaridade ou duplicação, como a
duplicação de um livro. Isto é dizer que quase todas as características encontradas
nos pais e dos pais dos seus pais é duplicada no filho.
Porém, a diferença está no despir da forma. Assim como o grão de trigo não
está pronto para brotar até que se decomponha no chão e seja despido de sua forma
anterior, também a gota de sêmen da qual uma pessoa nasce não tem nada da forma
de seus pais – apenas forças potenciais ocultas.
Os traços mentais dos pais se tornam meras tendências, que são chamados
instintos, ou hábitos, e a pessoa nem mesmo sabe porque ela se comporta da forma
que faz, porque estes são, de fato, forças ocultas que ela herdou de seus pais. Não
apenas nossas propriedades físicas são herdadas de nossos pais, nós também
herdamos propriedades espirituais deles. Nós herdamos as ideias espirituais e
intelectuais de nossos pais, que passam de geração a geração.
Disto surgem todos os tipos de tendências que são encontradas entre as
pessoas, tais como a tendência de acreditar ou criticar, a tendência de estar satisfeito
com uma vida materialista ou ser atraído a ideias espirituais e rejeitar a vida que não
é desejada, ser avarento ou indulgente, corajoso ou tímido.
Todas estas características vistas nas pessoas não são propriedades que elas
adquiriram por si mesmas – elas são simplesmente características que foi herdade de
seus pais e ancestrais. Como os psicólogos sabem, há um lugar especial na mente
humana que guardam estas características inerentes, e é chamado de Môach
HaMeoréch (medula alongada), ou o subconsciente, onde todas estas tendências são
reveladas.
No entanto, como a consciência de nossos pais, que foi adquirida através de
suas experiências, se tornaram meras tendências em nós, elas são como o grão de
trigo que se despiu de sua forma anterior e foi deixado nu, e apenas suas forças
potenciais estão prontas para assumir novas formas. Em nosso caso, as características
podem tomar a forma de consciência, que são consideradas como a Primeira
Substância e a Primeira Causa que nós chamamos de a Fundação, contendo todas
as tendências que são herdadas dos pais. Isto é chamado de “herança parental”.
A LIBERDADE 403
Saiba que todas estas tendências, algumas vêm em uma forma negativa. Isto
é, o oposto de sua manifestação em seus pais. Por esta razão, é dito que o que está
oculto no coração do pai é revelado no filho abertamente.
E a razão para isto é que a Fundação se despe de sua forma anterior para
tomar uma nova forma. Portanto, ela pode estar muito próxima de perder as formas
da consciência dos pais, como o grão de trigo que se decompõe no solo e se despe
de toda a forma que ele tinha como um grão de trigo. Porém tudo isto depende das
outras Três Causas, como eu mencionei acima.
INFLUÊNCIA DO AMBIENTE
A Segunda Causa é a conduta de Causa e Efeito que se relaciona diretamente com
as propriedades da própria Fundação e que não mudam. Ou seja, retornando à nossa
analogia do grão de trigo que se decompõe no solo, a Fundação está sujeita a forças
ambientais tais como a terra, minerais, chuva, o ar e o Sol, como nós explicamos
acima. Todas estas agem sobre a semente através de uma longa cadeia de Causa e
Efeito, estado após estado, até que o trigo amadureça.
Então a Fundação retoma sua forma anterior, a do trigo, embora diferindo
em qualidade e quantidade. Em um aspecto geral, não há mudança, o trigo não se
torna aveia ou centeio. Mas certas mudanças individuais ocorrem em quantidade,
isto é, de um grão de trigo crescem dez ou vinte grãos, e também em qualidade, o
trigo pode ser melhor ou pior do que o grão-mãe do trigo.
Da mesma forma, o indivíduo como uma Fundação é determinado pelo
ambiente, isto é, a sociedade, e ele é necessariamente influenciado por ela assim
como o grão de trigo é influenciado por seu ambiente. A Fundação está apenas em
sua forma básica, e portanto, através de um contato contínuo com seu ambiente e
sociedade, ele é influenciado por eles gradualmente, através de uma série de
situações, uma após a outra por ordem de Causa e Efeito.
Neste momento, as tendências que são parte de sua Fundação mudam e
assumem aspectos conceituais. Por exemplo, se ele herda a tendência de ser
mesquinho dos seus pais, quando ele crescer ele constrói para si mesmo um sistema
de pensamentos e ideias que o permitem tirar a conclusão que é bom ser mesquinho.
Nós já sabemos que mesmo se seu pai for generoso, ele pode ainda herdar a
tendência oposta e se tornar mesquinho, já que o oposto é também herdado assim
como a própria característica.
Ou ele pode herdar a tendência de ser mente aberta, e construir para si
mesmo um sistema de pensamentos através dos quais ele atraia a conclusão que é
bom para a pessoa ser livre.
404 CABALÁ PARA O ESTUDANTE
Então de onde ela tira suas declarações e formas de discussão e debate? Ela
tira todas elas de seu ambiente involuntariamente, já que eles influenciam suas
opiniões e sabores através de uma série gradual de Causa e Efeito de tal forma que a
pessoa pensa que elas são suas próprias inclinações que ela adquiriu através de seu
livre pensamento.
Mas isto é também como o grão de trigo. Há uma parte geral dele que não
deixa de ser a Fundação, isto é, no fim ele mantém as tendências que ele herdou.
Eles são os mesmos como eram em seus pais, e isto é chamado a Segunda Causa.
FATORES EXTERNOS
A Quarta Causa é a conduta de Causa e Efeito que afeta a Fundação através de coisas
completamente estranhas e age sobre ela de fora. Isto significa que estas coisas não
tem nada a ver com o sistema de crescimento da Fundação diretamente e afeta ele
apenas indiretamente. Por exemplo, questões monetárias, encargos ou os ventos etc.,
que têm dentro de si mesmos uma série gradual de estados de Causa e Efeito, que
fazem com que as ideias de uma pessoa mudem para melhor ou para pior.
Assim, eu estabeleci Quatro Causas Naturais que todo pensamento e ideia
de cada ser humano é meramente um resultado. E mesmo se uma pessoa sentar e
estudar algo por um dia inteiro, ela não pode adicionar ou mudar ao que estas
A LIBERDADE 405
LIVRE ESCOLHA
No entanto, quando examinamos estas Quatro Causas, nós encontramos que
embora nós sejamos muito fracos para desafiar a Primeira Causa, que é a Fundação,
nós ainda temos a capacidade e a livre escolha de nos proteger das outras Três
Causas, através das quais a Fundação muda em termos de detalhe particular e
algumas vezes também em geral. Ou seja, pelo hábito através do qual nós adquirimos
uma segunda natureza, como explicado acima.
mais abundantes e disponíveis. Através disto, ideias más e ruins são forças sobre nós
nos levando a pecar e cometer más ações pelas quais seremos certamente punidos,
não devido aos nossos pensamentos e ações ruins, sobre as quais não temos escolha,
mas devido a não termos escolhido um bom ambiente, já que nós certamente
temos uma escolha sobre isto, como nós explicamos.
Portanto aquele que faz um esforço para sempre escolher um bom
ambiente é digno de louvor e recompensa. Aqui também, isto não é devido aos
pensamentos e ações da pessoa, sobre os quais ela não tem escolha, mas devido aos
seus esforços em adquirir um bom ambiente que lhe leve aos bons pensamentos e
ações. É por isto que o Rabi Yehoshua Ben Perachia disse, “Faça para ti um Rav e
compre um amigo” (Avot, Capítulo 1, Mishná 6).
A LIBERDADE DO INDIVÍDUO
Agora chegamos a um entendimento completo e preciso da liberdade do indivíduo.
No entanto, isto se aplica apenas à Primeira Causa, a “Fundação”, que é a Primeira
Substância de cada pessoa. Isto é, em termos das tendências que nós herdamos de
nossos pais e ancestrais, que distingue uma pessoa da outra.
Você pode ver que mesmo entre as milhares de pessoas que vivem no mesmo
ambiente em que as Três outras Causas as afetam no mesmo nível, você não
encontrará duas que compartilhem o mesmo atributo.
O motivo para isto é que cada uma delas tem sua própria Fundação única,
de acordo com sua própria essência, que é como a Fundação do grão de trigo,
embora ela seja afetada significantemente pelas Três últimas Causas, ela ainda retém
sua forma anterior de trigo e nunca pode assumir a forma de outras espécies.
A LIBERDADE 409
assumem a forma da verdadeira consciência. Isto será explicado nos próximos artigos
com os devidos fundamentos e argumentos.
Disto, nós entendemos o terrível dano que as nações causam quando elas
forçam seu domínio sobre as minorias, privando-as da liberdade sem as permitir
exercer a sua forma de vida de acordo com suas tendências que elas herdaram de
seus pais, elas são consideradas como assassinos de almas.
E mesmo aqueles que não acreditam na religião e na Providência proposital
podem entender o imperativo de proteger a liberdade do indivíduo através de seu
entendimento dos sistemas da natureza. Isto é porque nós vimos como cada nação
que caiu à ruína ao longo das gerações, caíram através de sua imposição sobre as
minorias e os indivíduos. Fazendo isto, elas lhes superaram e destruíram. Assim, é
claro para todos que não há como atingir a paz no mundo se nós não levarmos em
conta a liberdade do indivíduo, pois sem isso, a paz não duraria e a destruição só
pioraria.
Assim, nós claramente explicamos e definimos precisamente a entidade do
indivíduo, excluindo tudo que vem da comunidade. Agora a questão é, onde está o
próprio indivíduo? Porque tudo que nós dissemos até agora em termos do indivíduo
só pode ser entendido em termos das propriedades do indivíduo que é o legado
herdado pelos seus ancestrais.
Quem é que herda e possui estas possessões? Aquele que exige preservar suas
possessões? Porque após todas as coisas que nós já explicamos, nós ainda não
encontramos o ponto do “eu” do ser humano, aquele ponto do qual nós podemos
examinar como uma unidade independente. E qual é o significado da Primeira
Causa, que é uma longa série de milhares de pessoas, uma após a outra, de geração
a geração, que se combina para determinar o caráter do indivíduo como um
herdeiro?
E qual é o significado das outras Três Causas, que são as milhares de pessoas
existindo próximas uma da outra em uma única geração, quando no fim cada
indivíduo será julgado em termos de uma única máquina comunitária que está
sempre pronta para servir as necessidades e desejos da comunidade?
Isto significa que o indivíduo está sujeito aos dois tipos de comunidade:
A. Em termos da Primeira Causa, a pessoa está sujeita à comunidade
massiva das gerações anteriores que vieram uma após a outra.
B. E em termos das outras Três Causas, a pessoa está sujeita à comunidade
em que ela vive com aquela geração em particular.
Esta é verdadeiramente uma questão universal, e por esta razão existem
tantas pessoas que se opõem à aproximação mencionada acima, embora elas
reconheçam completamente sua validade. E elas escolhem as aproximações
A LIBERDADE 411
A. A força de atração.
B. A força de repulsão.
A razão para isto é que cada vaso ou objeto que é definido pelo Desejo de
Receber é limitado em termos de quantidade e qualidade do que ele pode receber.
Portanto, vemos que tudo que está além do objeto ou da capacidade do vaso receber
em termos de quantidade ou qualidade é considerado sendo contra sua natureza, e
por causa disto ele as repele. Por definição ele é Desejo de Receber. Embora isto seja
considerado força de atração, neste caso, necessariamente, ele também se torna força
de repulsão, entenda isto bem.
E todos os outros aspectos em que encontramos mais do que este pode não
têm nada a ver com esta partícula ou grupo de partículas em termos da
individualidade, exceto em geral, que é a Shefá (abundância) que se estende à elas do
Criador. Isto é o que todas as partes da Criação têm em comum, e esta não é uma
questão de corpos individuais, como nós explicamos.
Agora nós podemos entender o conceito da liberdade do indivíduo, de
acordo com a definição incluída na Primeira Causa, que nós chamamos a
“Fundação”, em que todas as gerações anteriores, que são os ancestrais deste
indivíduo, foram imbuídas em sua natureza, como discutimos anteriormente. De
acordo com esta explicação a definição da palavra “indivíduo” é nada mais que a
limitação do Desejo de Receber inerente neste grupo de partículas.
Assim, vemos que todas as tendências que o indivíduo herdou de seus
ancestrais não são nada além da limitação de seu Desejo de Receber, em termos da
força de atração dentro dele ou da força de repulsão nele. Nós vemos que estas
tendências à mesquinhez ou generosidade, se misturar com os outros ou ficar
sozinho, e assim por diante.
Por isso, eles são manifestados como o ego, que luta por seu direito de existir.
Assim, se nós destruirmos alguma tendência de um dado indivíduo, é como se nós
tivéssemos cortado um de seus membros, e isto é verdadeiramente uma perda para
toda Criação, pois não há nada e nunca haverá outro como ele, como explicamos
acima.
Agora que nós claramente explicamos o direito justificável do indivíduo à
liberdade de acordo com as Leis da Natureza, vamos ver como é possível manter isto
na prática, sem violar as Leis da Ética ou diplomacia, e o mais importante, como nós
o manteremos de acordo com nossa Santa Torá.
Assim, vemos que nos assuntos espirituais, o direito da maioria se torna sua
obrigação. Disto deriva a Regra de Seguir o Indivíduo, que se refere ao indivíduo
avançado. Pois é fácil ver que as pessoas avançadas e educadas são sempre uma
pequena minoria dentro da sociedade. E encontramos que o sucesso e a felicidade
espiritual da sociedade dependem desta minoria, entenda isto bem.
Logo, a maioria é obrigada a guardar cuidadosamente as opiniões destes
indivíduos para que elas nunca sejam violadas. Eles precisam saber por certo, com
certeza absoluta, que estas opiniões mais avançadas e verdadeiras nunca estão nas
mãos pela maioria dominante, mas pelo setor mais fraco da sociedade, que é a
minoria invisível. A natureza de toda sabedoria e tudo que é precioso vem ao mundo
em pequenas quantidades. Assim, somos instruídos a preservar as opiniões dos
indivíduos, pois a maioria não é capaz de distinguir entre eles.
HERANÇA ANCESTRAL
Isto também é verdade para todos os componentes, que são incluídos no Desejo de
Receber, onde nós os definimos pelo termo “Fundação” ou “Primeira Causa”, que se
refere à todas as tendências e hábitos etc. que alguém herda de seus pais e ancestrais.
Nós vemos isto como uma longa cadeia de milhares de pessoas que viveram em seu
próprio tempo e que ficam uma abaixo da outra. Cada uma delas é a essência de
seus pais, e através desta essência todos herdam as propriedades espirituais de seus
ancestrais através de seu “Môach HaMeoréch” (medula alongada), chamado
“subconsciente”, de tal forma que o dado indivíduo tem todas as milhares de
heranças espirituais de cada indivíduo na cadeia de pais e ancestrais que levaram a
elas.
Portanto, assim como a face de cada indivíduo difere, suas opiniões diferem.
Não existem duas pessoas no mundo que tenham as mesmas opiniões, visto que cada
uma possui sua própria grande e sublime propriedade que herdou de seus milhares
de ancestrais, e outros não têm nenhum pingo delas.
Portanto, todas estas propriedades são consideradas a propriedade do
indivíduo, que a sociedade é instruída a proteger para que eles não sejam distorcidos
pelo ambiente, mas pelo contrário cada indivíduo retém sua herança completa.
Então a oposição e contradição entre eles permanecerá para sempre, para assegurar
que o criticismo e o avanço de sabedoria permanecerão conosco para sempre. Isto é
tudo o que torna a humanidade superior com todos os seus anseios verdadeiros e
eternos.
E agora que nós reconhecemos a certa medida o conceito do egoísmo
humano, que nós definimos em termos do potencial e como o Desejo de Receber, e o
ponto da individualidade de todas as coisas vivas, nós também podemos entender
claramente em sua dimensão plena, o nível e as propriedades únicas de cada
indivíduo, que nós definimos como “herança ancestral”. Isto se refere à todas as
tendências e características que nós herdamos através de nossa “Fundação”, que é a
Primeira Substância de cada pessoa, isto é, a semente de seus pais. Nós explicaremos
agora os dois aspectos do Desejo de Receber.
A LIBERDADE 419
É por isto que dissemos: “...e Ele soprou em suas narinas o sopro (nishmat)
da vida”, que é a combinação das formas de recepção, que se aplicam ao ser humano.
A palavra nishmat (alma) vem da palavra “shamin” a terra, ou seja, avaliar ou estimar.
(A origem da palavra “neshamá” pode ser entendida do verso: “O espírito de Deus
me formou, e a alma do Todo Poderoso me deu vida” (Jó 33:4), veja o comentário
pelo Malbim). E a palavra “neshamá” é um verbo passivo como “falta” (Nifkad),
“acusado” (Ne’esham), e “acusada” (Ne’eshama – termo feminino de Ne’esham).
E esta passagem nos ensina que “...e Ele soprou em suas natinas” significa
que Deus injetou uma alma (Neshamá) dentro da internalidade de Adam a avaliação
e dimensionamento da “vida”, que significa a soma total de todas as formas que são
dignas de serem desejadas através de seu Desejo de Receber. E então esta força do Desejo
de Receber, que estava contida em suas moléculas, encontrou um lugar no qual se
vestir e agir, isto é, através das mesmas formas de recepção que o Criador lhe deu.
Esta ação é chamada “vida”, como explicamos acima.
É por isto que a passagem termina com: “...e Adam se tornou uma alma
vivente”. Então uma vez que o Desejo de Receber começou a agir dentro dele de acordo
com os níveis destas formas de recepção, imediatamente a vida se manifestou nele e
ele se tornou uma alma vivente. Isto não ocorreu antes de ele receber as formas de
recepção. Embora ele já estivesse imbuído com a força do Desejo de Receber, ele ainda
era considerado como um corpo morto inerte, pois ele não tinha lugar para ser visto
e vir dentro dele como uma manifestação de uma ação, como explicamos.
Como vimos acima, embora a essência do ser humano seja o Desejo de Receber,
esta é apenas metade dela, pois ela precisa de algo real para se vestir para que venha
desta forma, e portanto, o desejo e a imagem daquilo que deseja são literalmente
uma coisa. O desejo não pode existir nem mesmo por um momento sem a imagem
desejada, como nós explicamos.
Assim, quando o corpo está à altura de seus poderes, que é no meio do seu
tempo de vida, e seu ego está em sua altura total como inerente desde o nascimento,
é então quando ele sente o Desejo de Receber em sua completa medida e força. Em
outras palavras, ele anseia atingir muita riqueza, honra e tudo o que vê. Isto é devido
a completude do ego da pessoa, que atrai para si mesma as formas das estruturas e
conceitos em que se vestir e, portanto, existir.
Porém, conforme a meia idade passa, começam os dias de declínio, e sua
essência é os dias de morte, pois a pessoa não morre de uma vez, assim como não
adquire sua forma final de uma vez, mas pelo contrário sua “vela”, que é seu ego,
apaga gradualmente e juntamente com ela, as imagens das coisas que desejava
receber desvanecem.
422 CABALÁ PARA O ESTUDANTE
Ela começa a abrir mão das coisas que sonhava em sua juventude, e cada vez
mais abre mão da intensidade das coisas conforme se aproxima da velhice, até que
esteja muito velho e a sombra da morte paira sobre todo o seu ser. Neste momento,
ela se contra em “tempos sem apelo”, dado que o Desejo de Receber, que é seu ego,
gradualmente desvanece e desaparece até que é deixado sua centelha pequena e
oculta, isto é, na manifestação de algum objeto. E portanto, nestes dias não há apelo
ou esperança por qualquer imagem de recepção.
Assim, nós provamos que o Desejo de Receber e a imagem do objeto que a
pessoa deseja são a mesma coisa, onde a manifestação é a mesma, e o nível da vida é
o mesmo, e a medida é a mesma.
Porém, há uma distinção importante na medida da forma de concessão que
ocorre no fim da vida da pessoa. Esta concessão não é porque a pessoa está saciada
e está abrindo mão de qualquer desejo de comer, mas pelo contrário, pelo desespero.
Em outras palavras, que o ego, quando a pessoa começa a morrer nos dias de
declínio, sente sua própria fraqueza e morte se aproximando, e portanto a pessoa
aumenta seu desespero e desiste de seus sonhos e esperanças de sua juventude.
Examine cuidadosamente a diferença entre a concessão da saciedade, que
não causa dor e não pode ser chamada uma “morte parcial”, mas pelo contrário é
uma ação que foi completa. Mas a concessão pelo desespero é cheia de dor e
sofrimento, e portanto, pode ser chamada “morte parcial”, entenda isto bem.