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‘Gopa: Axon de Lourenge Projets Grateer Done Dota Editoragto Eetronice: Rerore Gi Fotalto'e mpresaio: Sogras Fua Gand, 191 Cai 81230070. Bao Hovasaaa “elton # Fe (0) c609598 Ta “eters ole pear ‘2 Soma Teo dc ‘sr rar, 1982 4, Uratura Toot Pauino, Grea, ‘co 901 too Tine cn refacio Freqleotemente, 0 profestor se deronts com o problema de idurit ove tata bture habhoaldostoxos tras, numa vida do prazer Sree arena. Manel de humancaro8 estes, em contexto sod Je ‘ropramedaiatig par com a mara exc Fal pereando no adequado aust 8 Te SEs ce qucsibesatinatos ao desompenho textual na socedade mas ‘Steade, Ge ntenss voc & polos. Desilem enaaioa a maior elevinciaparaodebatee a avatzagsoda ‘Teose Ge Lieratura, on ace do ensin besler “Assn, Maria Helena Campos propée a qusaue professor ncaa do vasarpara a sui de aula o regres grifons om aU 0 also s0 v8 eitaat, come ae banote dojomals, os earns as as de desenhos. ‘Sogore queso sora porte, janelasoparedes, afin do que a sla poses ‘SePhatade poto mundo das tras que vigors 20 rode vet aly rerabaha cs mtes das convongesiteréis, captando aloha opie!mesme ao ser mantesiado om texto no expecico, com wreittetShetonco v0 centhen.Promove uma busca slots do Yea! ee opto! Nancy Maria Modes condvso tcl fgo da ntertextualdagee sabe oncinfarse saves daorlaoss via do aspecoetemament [ico com $LETaasadee'o presente clogam na clcha do palmpsesto verbal. raga Pavino, veto Waty © Vera Casa Nove se juntam para. & trav tb se suv prance costs 20 ansno contempordnee: 8 cont. ‘apbo dos gSneros Wrsros. Sua pesause epanha desde os oreges & Tree ee corde. passando pel iio, pela Ht © pols nara Aeanda Repasaem os caminhoe da pees, do drama, da rapéaa ca Coméda, avo & more leo potencial de hae Cada cena é a causa de uma préxima, efeito da cona anterior. Tempo futuro desconhecido que nasce com a agéo. ( passado é, com o flash-back, recurso tipco do cinema e da literatura, que possibilta uma maior mobildade no trato do po junto ao enredo e agdo de personagens. ‘Quem vé uma cena de TV ndo imagina a construgio das Imagens que ali estdo. O poder magico da cona de telenovela 4 de outro cardter que o da cona teatral ou da cena iteréra Cémera, carte, redugio de vocabuléro, primazia da imagem, tipo de lluminacéo, maqulagem, alteram as caracteristicas do drama na TV, Os teledramaturgos tom formulas para manipular palxdo, terror, pledade,riso, Ads, novas formas dramaticas refazem também no teatro, apés 0 advento da TV. ‘A representagio guarda, assim, a sua magia, sous sen- tidos, mesmo dentro do um aparetho que faz e desfaz imagens ‘a todo momento. No reina da disperséo, com efeitos zaping @ nosso dispor, o drama apresentado pela telenovela nega 0 percurso do pensamento, da meméria eda histéria encenada. Séo hisiérias, tramas que se repetem intencionalmen Parti do senso-comum. ‘Ambigéo, artogancia, dlagdo, édio, vinganga, cidme, co- ‘medo, violencia, O drama vive desses temas e se nutro dda emogdo do espectador a cada representacdo. Na telenove- la, porém, como a repeticio & uma t6nica, o drama deixa marcas mais fortes no cotidiano do espectador, uma forma ‘contemporanea de catarse. ‘Sintese da forma narratwa do cinema, da cena teatrale radionovela, a telenovela se mostra como uma nova espécio dramética, © deve ser vista com um olhar astuto, porque, a0 representa possiblidades do ser humano se ver, podord estar propondo modelos ideolégicos para serem reproduzidos, edu- ‘eando-nos, via imaginério. i aaa i el a MARIA ZILDA FERREIRA CURY historiografia literaria em questao “(.) educar & reproduzi, ou transformar, repetir seri- ‘mente aquilo que fo, optar pela seguranca do confor- ‘mismo, pela fidelidade & tradieao ou, ao contro, fazer ented ordem estabelecida e correro isco da (..)" (Introdugéo & Pedagogia do Contlito - Moacir Gadott) |. Introdugéo. Sobretudo no Ambito do ensino superior, pare sistimos a um descrédito crescente da historograt (u pelo menos de algumas de suas concepeées. Cada vez ‘mais ver ela sendo subsituida por cursos monograticos que s privilegiam os trabalhos ensaisticos de andlise vertical, muitas vezes abrindo mio das visées horizontals mals amplas. Em contrapartida, no ensino médio, aliteratura é estudada predominantemente sob oenfoque quase exclusivodos estos de época, multas vezes desprezando trabalhos com 0s pré- pros textos.e um juizo estético sobre eles.) Como professora de literatura angustio-me com questées que a contradiedo entre as duas tendéncias registradas acima ‘me coloca: 0 que privilegiarno ensino da literatura? Se o texto, deve brilhar como espaco discursivo, como articulé-lo a outras manifestagdes de sua época? Que valor atrbuir ao gosto pessoal do alu, tantas vezes em contlito com a selegao do, obras elaborada pelo professor? Como fazé-to perceber que a literatura é uma atividade viva? De que forma valorizar a sua interpretagio como constitutive, entre outras, da vida da obra {que analisa? Como - preservando, embora com questionamentos, a totalidade histérica -ndo construir uma viséo mecanicsta dos ‘movimentos litérios que simplesmente classifica as obras a Parti de caracteristicas pré-estabelecidas? Tals questdes, para as quais ndo se pretende respostas. fechadas ou detinitvas, seréo aqui delineadas, Parece-me que ‘a valorizagao do debate om torno delas, sobretudo se levado para interior das salas de aula, pode ser instrumento it para uma reflexdo sobre o lugar ocupado pela literatura e a func social que desempenha, bem como sobre 0 papel eepecitica do s0u professor. Muitas vezes som o perceber, pode ele estar lmpondo ao estudante intorprotagdes do determinada época ‘somente porque jd codiicadas pela tradiglo, impedindo-o de articular uma visdo prépria dos textos propostos para letura Por outro lado, nao pode o professor prescindir de condigBes ‘mais seguras para a andlse e reflexdo tedrica sobre o fazer IMordrio a fim de que a tareta interpretaiva da literatura ndo se transtorme numa aventura apenas intutva, sa 1. Uma atividade precéria ed “Meu amigo, os séculos sdo para nés o livro dos sete solos: 6 que se chama 0 espirlto dos tempos ‘no 6 no fundo sendo o préprioespirito dos autores, ‘em que os tempos se retletem. (Fausto - Goethe) ‘Aepigratetanscita acima aponta para um dos problemas centrals da historografia’ sua impossibiidade de, enquanto ciéncia, ser uma eal, dos fatos como realmente aconteceram. Semelhantemente a todo discurso, 0 histérico também 6 uma répresentagao. Embora tentando firmar com 0 sevleltor um pactodeealdde, o que ofistariador he apresen- ta 6 uma versdo dos fatos. Sua fala & moldada, entre outras coisas, por sua stuagdo Indviual ede classe, por va visio ‘de mundo, plas njungBes de sua época ou da sua formagéo ‘cadémlca. por seu gosta pessoal. Como todos os homens também o hietrador nasce num mundo de alguma forma J interpretado sujet a constrangimentos. Mas 0 homem ndo vive apenas; também revela a capacidade do rtlatr discur ‘ar sobre 0 seu vver, sobre o seu fazer Ea visio que toré do passado inevtavelmente se mesclaré do seu presente e & forma que este para ele adauir tempo sobre mim abate/sua mao pesada". No ‘aconsciénciadapassagem inexordvel do tempo, Simultaneamente, aqu se encanta pro- tente a necessidade imprescindivel de recuporslo, ao tempo passado, através da rflexdo inerente & alvidade human “entre idolos de rosto cartegado Jicaste, expicagdo de minha wee Este movimento de recuperacio do vvido xpressameta- forieamenteo trabatho do historador. Expressa esse trabalho indo como tentativa de apreensdo totazadora de fatos con: ‘sumados, mas como corte necessério bara a busca de repre- ‘sentago de uma realidade em movimento, da articulagéo que estabelece com a vida social, com a natureza’, com outras ‘modalidades discursvas. ‘fala que o homem profere para dizer o real nfo €, entéo, ‘absoluta, Antes, ola $0 consiréi através de vis6os e interpre tagdee necessariamente parciais - por mais abrangentes que pprocurem ser - uma vez que proferidas de um lugar social- ‘mente determinado, com as limitagdes por ele impostas. ‘Ao se falar er histéria {ou em histéria da iteratura que é (© que particularmente aqui nos interessa), ha de se ter a ‘consciéncia de que ela 6 uma atividade até certo ponto preca- ria porque aberta permanentemente a novas formulagées @ Interpretapbes. O historador vé-se na contingéncia de cons- tantemente ter de rever, ndo apenas o seu objeto de estudo, ‘mas a si mesmo enquanto sujeito implicado no processo de ‘conhecimento Barthes? nos diz que o esciter sempre Imprime sus ‘marcas em sua produce como aquele que, modelando a argila ou 0 barro, deixa 0 vestigio de seus dedos no objeto ‘riado. O svelte do conhecimento desempenha um papelative dlante de seu objeto, néo é um mero registrador diante do re ‘que busca captar. isto ocorre devido aos inevitavels con- dicionamentos influéncias que sofre. Assim, estabelece com ‘© objeto de estudo uma gama de interagdes mituas que uma Visdo cionifiistainutimentetenta camular. Alluséo do discur- ‘30 cientifico Isento expressa a tentatva de colocar a ciéncia {ora das injungées socials que atingem a todos. Tals colocag6es sdo igualmente vilidas para a historiadot, \Vivendo em sociedade, ¢ ole parte ava da histéria que esta, também como intelectual, construindo. Como os outros ho- ‘mens, 6 historicamente situado e tem seu trabalho condicio- nado quer pelo estagio do conhecimento jé existente, quer BORGES, Vay Pacheco, 0 un hisria Sto Pa: Brasnse, 1862 2 BARTHES, Roland. Ces #Vrdade Sto Pau Perspect, 1070. polos interesses que, multas vezes até inconscientemente, expressa e defende, ‘Mesmo, também, quando ohistoriador tem aimpressao de haver esgotad 0 estudo de determinada época, seu conheci- mento, porque em processo, sera sempre parcial e, cons Wentementa, a verdade histérica dele decorrente também o 4, Percabe-se um movimento de re-escritura da histéria em todas as épocas, porque cada uma pretende sua particular feleltura do vivido. E se 0 historiador quer que sua atividade seja fecunda, dave sensiblizar-se diante de uma constante inquletagdo metodoldgica que o obrigue permanentemente a ‘elletr sobre sua prética. Ill Historiografialiteréria: um problema, um desatio *0 historador fol inventado por t, homem culto letrado, humanista; 0 contador de histriasfotinven- tado pelo povo, que nunca leu Tito Livio,e entende {que contaro que se passou és6 fantasiar. (Macha- do de Assis) ‘A precariedade da historiografa como representagao dian to do real ace no caso da histosiografia teria, prin Cipalmente pala rlurezaespectca de seu objeto. ‘Octavio Paz, em seu livro O Arco @ a Lira’, salienta a aiiculdade de classiticagso desse objeto estranto a que se ‘convencionou chamar literatura. Esse ente, quo julgamos dni ‘co, metamorfosela-se em mullos outros quando voltamos 08 ‘olhos para a produgéo iteréria na sua ndividualidade. Se, com faciidade, sem reluténcia, falamos em literatura, 0 fazemos, ‘em certa medida, obscurecendo o cardter especifico e nclas- sifiedvel de cada produgao literéia Individual. Principalmento {quando ge fala daquelas obras que Togem mais radicalmento {40s esquemas estéticos padronizados de sua épocs, ou da- PAE. owt, 0 aoe ar, lod ana: Nova Foner, 182 {uelas que revelam uma percepedo mais aguda e radical do ‘seu momento histérleo, Entéo, como classficaro inséito, o marginal ou 0 incuto? ‘Como compreendero protético presente em tantas obras? Em {que forma encabxar Lautréamont? Em que molde serviréa obra de Joyce ou de Virginia Woolt? Onde localizar Guimaries Foosa, Sgusandrade? Por outro lado, saliente-se que as obras de uma mesma 6poca ressentem-se de contiguragées ideoldgicas semathan- tes; gue, por mals clspares quo sejam, as une de alguna Ha também, por exemplo, uma tradigdo ierdriajé acumu- Jada na qual a obra se inclui cu contra a qual se insurge @ que ‘cumnpre avalir. O-litor, multas vezes até sem se'dar cont 20 contrapor a obra a outrasleituras que jé f2, dialoga com a tradigdo 0 assim classifica o que IB, esse modo, necessariamente, por mais individualizadas {que sojam, e efetivamente so, as obras iterdrias podem ser E este 6 um recurso fencaradas debaixo de classiticacée: ecessério ¢ ail & compr mente, contudo, que o pardmeto da tradicéo é sempre praca fio. Nao existe nem obra que nele se encaixe completament nem obra alguma que conteste totalmente as normas es: tabilizadoras dos eitéris iterdros ou estéticos, beolégicos ou politicos, mara, ete. de seu tompo. Se as consideragdes desonvolvidas anteriormente apon- tam para a limitagdo inerente a toda classiicagdo, o esludo da literatura néo pode prescindir da hstorogratia. Também a literatura precisa de um discurso que a legltme no interior do sistema cultural, uma ciéncia que consiga apreender as dif ‘entes transformagdes discursivas ¢ a sua evolugao como sistema especitico, ‘Como todos os bens humanos -materais ou culturais-que ‘sio produzidos num tompo © espaco defnidos, também a leratura faz parte da e constiul a histéria, nela exercendo fungdo especitica. O seu papel formador partcularmente afr 'ma-se porque a parti dela pode-se encenar 0 saber de deter- minada sociedade peroeber o que esta iiltima considera ‘como valores importantes, ‘Aliteratura assume muitos saberes' nos ensina Barthes, na sua Aula ‘Num romance como lobson Crusoe, ha um saber histérco, geogrdtico, social (colonial) técnion, bo- tnico, antropolégico (Robson passa da natureza & cultura). Se, por ndo sel que excesso do socialismo ou da barbatie, todas as nossas disciplinas deves- ‘sem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a dis Ciplina iterdria que devia ser salva, pols todas as cléncias estdo presentes no monumento iterério". Se 6 uma produgéo historcizada,hé que sr historicizdvel ‘as dlassifcagbos razidas pela histoviografia podem servis de varias modes. Por exemplo, para a criagao de balizas na vastissima produgéo erérla, ou para. fellzar a rellexdo teérica de carder mals abrangente, ariculando-se manifes- tagBes no campo laigo da cultura. As disdes © marcos, as eatacterizagSes de époce, no ertanto, nfo podem ser ab- solutizadas ou encaradas como categoras estangues. aqu gostaria de colocar alguns problemas reterentes 20 ensino da iteratura, notadamente no ensino médlo. ~ Boa parte das istorogratias iterérias, principalmente as que aparecem deforma reduzida nos livros cidatcos, toma a | classiticagao das obras como esséncia do trabalho interpreta- | tivo e citico, A classiticagéo v8, assim, travestido 0 sou papel Instrumental - © de Instrumento importante - em papel em si ‘mesmo suficente para o estudo da literatura: Se, de um lado, ‘a classiicagdes sao indispensavels ao historiador da Iteratu- +a, Imitar-se a elas significa paralisar a historiografia toman- T BARTHES, Roland. Aula. So Pao: Cute, 8p. 18 : s a ddo-a como um grande escaninho onde sao afiadas as dteren- tes obras, desprezando-se 0 que ndo se encalxa, tormando hhomogéneo o que 6 dispar e contrastante, Por motivos didati- ‘os oU para simpiticar 0 programa, recorre-se advises em poriodos @ a caracterisicas especiticas de cada movimento literdrio, muitas vezes camuflanco diferengas e antagonismos profundos entre as obras. Fazendo convergir para o mesmo “balaio"nivelador gatos do sacos diferentes, perdem-se, mul- tas vezes, as contradigdes que marcam ainsercdo orginal das diferentes produgdes no Interior da tradicéo e, assim, a r- queza de determinado periods. Sobre o caréter empobrecedor da classificagdo fala Harol- 40 de Campos: "*Folha -Como o sr. lida, hoje, com orétulo de poeta concrete? Haroldo- Isso 6 uma coisa que eu aceito até como fatal. E como o rétulo de futurist. Os nossos moder- nistas eram chamados de futurstas. Na verdac no s4o futurstas nem modernisas, 98 brasileires, renovadores de sua lingua e de sua leratura. Moderista e concretista so rétulos para livia didatico, Agora, em nosso caso, a insisténcia no termo nao é sempre um modo répido de desig- nnagdo, para uso didético ou de neticidro de impren- sa, O rétulo tom sido usado ardilosamente para rasurar nosso trabalho, anterior e posterior, ao da {ase concreta propriamente dit Isso permite que Tepitam sobre nés sempre os mesmo |uiz0s. Jestereotipados, que apenas uma pequena parte de VInossa produgio seja posta em foco’." Uma mesma obra, ou conjunto de obras, podem suscitar classticagdes e interpretagdes diferentes por parte dos his- 1 Caos, Harte de, Enno cence & Fahad Sto Pal toriadores. Isso ocorre conforme estes pertengam a diversas ‘épocas ou mesmo.se.contempordneos - segundo os diverso8 sistemas de valores nos quais se basclam 0 cuja expresso denota posturas intelectuals e posicionamentos di dos iante da sociedade, A histérla da Iteratura fornece uma telagdo copiosa de-exemplos. Sé recentemente valorizou-so ‘2 obra da Sousindrado cuja extrema riginalidade perdeu-se entre os esoritores romanticos; ahistria das letras na Prim Republica diminuiu a contibulgéo de Lima Barreto, de Pagu: acitca ferina que Machado de Assis fez & socied tempo - foco de atengéo da-analise Tterdria de hoje - ni fol tio valorizada pelos ertcos seus contemporaneas, mals inle- ressados em outros aspectos da obra de Machado, como seu humor de raizes sternianas ou seu portugues castigo. ‘Como oulras formas de conhecimento da realidade, a IMeratura esta sempre em constituigao. »» Enearar a historiogratiaiteréria apenas como_o_levan- Tamento de um arquivo morte pode sigificar uma manipuiagio dda produgéo do-passado'e uma negagdo & literatura de sou aco de atuagao modificadora do presente que ela produz fondo, simultaneamente, 6 produzida. Em_outras palavras ‘ig hd valor no estudo do pasado por ele mesma. passado ‘seu estudo podem e devem ser fecuperados como elemen- tes de iluminagao © modificagao do presente. © inverso 6 igualmente valido, A leitura das produgdes ierérias atuals permite, via calogo, a releitura da tradigéo cultural, modicando-a, E igualmente crticével, ainda que bastante comum, uma concepeéo metatisica da iterstura quo organiza a sua his- ‘priogratia a parirde enidades atemporais como Romantismo, Classicismo passiveis de varlagdes que seriam as virtuals ‘concretizagdes histéricas de um espirto romantica ou cldssico Em muitos vros aparece a imagem da historiogratia. cor jondendo a-um suposto movimento pendular da. ‘que ora privleglaia.a razAo, ora o coragao, Uma ta ilustra bem como #@ elimina o devir inerente & histor ‘vez que jé se sabe, de anieméo, o que, na verdade, ainda por vit Despreza-se o inesperado que 6 essencial&histéria © o ae Sl OU Oe a | 3 — a Se a ee a | «que rogistaaexstncia, tas vezessimutinea de endéncias ® caracterstcas oposias, das vras escolas earas, Por auto lado, igada a uma vio postvista da historografia, esperar sempre progressivamente que osscritorsupere seuanteces- sor equivale @ desprezar a inevtével insergdo das produgoes ‘na tradi¢So terri. Elot nos diz que é no relacionamento com a tradi¢do que, muitas vezes, um talent indvidual revela-se em toda sua originalidade’, dimenséo que $0 perde ao valork~ zéslo apenas na sua dforonga com relagao ao passado. a outra visto da histrograia teria quo. busca. en- tender seu objetaattavés da relagdo mecanica com os acon- tecimentos politicos e socais. E uma visio empobrecedora porave transtormacatazeriterério om epitendmeno dos atores Socials, om um espelho sem autonamia ou especiidade, Nao hd uma tal relagdo mectnica entre a historiografaiterdriae a historiografa.geral, Nao se pode impor a primeira expicages asi quo valorizem somente aspectosexternos & obra. As Wezes, mesmo quando ha mudaneas no panorama s6co- polico, pode haver permanéncia de valores atstics @ Wer Hos. Ou vice-versa. O poder protético da arto expresso pela sua estranha capacidade de anuneiar o futuro pode fazer ‘amadurecor mais rapidamente no artista manifestagdes configuragdes s6 potencaimente presentes no corpo soci E evidente, contudo, que existe a interagéo calética entre leratura ¢ sociedade. 0 escritoré um homem de seu tempo; ‘fo patra, portanto, acima das transtormagdes socials, O aler-se estrta ou exclusivamente, no entanto, & uma cronol Gia rigida ou ao citéio de Iteraturanacionalimpicaa negagdo da possiblidade comparativa entre abras de épocas e mesmo de lugares diferentes. Deve-se mostrar ao aluno que a toriogratia permite véras formas de entrada: por exemplo, 0 estudo da evolugio dos gtneros s6 aparentemente crstalza dos om formas txas oT Ts. “Wadi andthe ni Ta: a Sette Prose Harmonde ‘wor Pengun Boodsimte, 165 Uma outra negagdo da histéria é aquela que busca cons- ttuira histoviograia iterdria através do estudo dos grandes ‘autores arrancando a literatura do panorama cultural amplo a 18, com se histia'e fzess@ pola ago indi de génios predestinados. Se é importante desenvolver no ‘aluno 0 desejo de conhecer, através da liturae interpretacao, ‘a produgdo lteréria das varias épocas de nossa vida cultural, 6 importante levé-o & consciéncia critica daquil que l8. Seha ‘umatiteratura dominante, ¢ porque deve existirumadominada, ‘Se ha 08 "grandes" nomes que marcaram uma época e que ‘cumpre conhiecer, 6 igualmente important le erticamente os “pequenos”. Muitas vezes, valorizando-se somente os pri- ‘meiros - como se a produgéo artistica pudesse ser julgada com fita métrica - esquece-se de vinculé-os a uma realidde mais ampla onde, no contronto de discursos, se constréi contradl- toriamente a cultura de uma época. Decorrente de um enviesamento na concepedo de cultura, muito se perde em sala deaula de produgses que, embora fora do circulo da cultura erudita, nele agem como forgas atuantes ‘em constants interago mitua: 0 jornal, o humor das russ, a ‘novela de televisdo, a misica popular, a propaganda, 0 foleo- fe, ete. O espago do ensino de iteratura deve voltar-se para 0 ceruclto, sem esquecer 0 popular, sem esquecer que as fron- teiras enireolterdro @ ndoriterrio cada vez se esgargam mais. Cabo, igualmente, ao professor de teratura ressaltar para ‘0 aluno a importincia da pesquisa em fontes primérias - Jornal, revistas,lterérias ou no, manuscritos, correspondén- ‘dla e rascunhos dos escrtores - um material até bem pouco tempo desvalorizado pela critica o tooriaItordrias, mas que hoje jé se revela indispensdvel para ropensar a historiografia, por estabelecer-Ihe novos dados e novas possibilidades con- Celtuais. Sobretudo para uma historografia teria brasileira @ importante o levantamento ¢ andlse critica das fontes pri- ‘marias, do material terdro ou relacionado a iteratura que se fencontra ainda intocado nos arquivos.. ‘Outro panto a saliontar é que na historlogratla ndo existe fatos neutros. A prépria escolha do material a ser estudado & o ‘motivada por juizos de valor. Desse modo, pode-se explicar a valorizagdo de determinados autores ou periodos em detr- mento de outios, o maior ou menor espago dedicado a um ddeterminade autor ou @ uma obra, aligagao entre detorminada tendéncia no interior da literatura @ a erica eteoraiterérias. Por ‘exemplo, quando fago a ligago de infiudncia entre a chamada, Goragao de 45 e os poetas concretistas pressupde-se que eu Selecione - através de juizos de valor - 08 dois polos de ‘comparagio, no interior de tantas outras possibildades. Ideolo- ‘Sicaments & marcado o que escolho para comparar e contrapor. AAs rellexdes trazidas pola estética da recepeao sdo outra senda, hoje, indispensével para a historografa iterdla. Isto 32 da em fungao mesmo da natureza da producto lterdia, ‘aberta & multplicidade das leituras.@ ganhando existéncia efetiva somente através delas.A estética da recepea0 propée pparametros diferentes para a classifioagdo historiogralica, va: lonizando o receptor na cadeia comunicativa e as reagdes do pdblicoleitr. Sua postura desloca, subvertendo, a concepeao, linear de histéria, A estética da recepefo alirma a existéncia da obraa partir de sua concretzapio varidvel,aravésdaletura que ‘ela imprimem os diferentes lettres, das diferantes épocas. Estd claro que aise exige uma aitude eiddtica mals aberta porque prescinde-se de uma signiicagao imutével dos textos. Sobretudo relaiviza-so a interpretagdo do professor, desea: racterizando-o como aquele que, em titima insténcia, detém a ‘have da signicagio. Colocam-soas interpretagées, todas elas, incluindo a que ¢ feita no momento pelo professor ou pelo aluno, no universe varidvel da contingéncia histérica. ‘Se, porque é uma estrutura, o texto Iterdro restinge, de certo ‘modo, a3 possiblidades de interpretago, e demanda uma anélise que o respeite na sua imanénela, como estrutura aberta, solicta, para exist, « contibuigao do leitor. Este, por sua vez também historicamente situado, no_ato da leitura Fecupera sua experiéncia e seu universe de leitura anteriores, Fecorre a sua emogéo pessoal, veicula ou nega valores que incorporou a tradieao cultural, etc, atrelando a significagao da ‘obra a seu ato de leitura, Deste modo, enriquecende-se 0 trabalho interpretative, destaz-se 0 mito de um valor final @ objetivo do texto, assumindo-o na sua etetva hisloricidad ‘As assim chamadas obras clissicas 0 so néo porque ppermanegam iguais através dos tempos, mas porque podem ‘er reatualizadas em diferentes leturas, em 6pocas diferentes, criando padrées sempre novos: “Minha profissao & escrever, como todos sabem. Nao preciso dizer 0 tipo de literatura que fago. Sou lum escritor que os protessores de letras, numa dessas convengdes arbirérias que Impingem aos alunos, chamam de clissico, E isso nunca me Incomadou. Uma obra é considerada cldssica por tor, aravés dos tempos, captado a atencdo inintr ‘upta dos leitores. Que mais pode um autor querer? ‘Que me chamem, pois, de cléssico, ou mesmo de acadimico".! © leltor também introjeta cédigos que imprimem caracte- risticas especificas a maneira como Ié as obras. Estes oscigos: ‘suas formas de introjegdo tem de ser levados em conta para ‘a construgo do horizonte histérico da literatura. O valor de ‘uma obra, entéo, néo ¢ imutével. Ela pode perder sua ‘capacidade de impacto ©, om funcdo das leturas que for ‘suscitando através dos tempos, transformar-se em valor con- ‘sagrado. O leitor transforma a obra que se atualiza como resutado darloturss Pee ‘Assim, para a construgao de uma historiogratia mais segu- +a, pode-se examinar as relacdes da obra com a época de seu aparecimento ©, ao mesmo tempo, lovantar a hist6ra de suas diferentes recepgdes. Cada obra, cumulativamente, incorpora as diferentes leituras que dela se fazem. O leitor nunca se detronta com um texto puro, mas jé 0 18 marcado pelas 1 FONSECA. item Ohar(ero nso qua In-Faage Sao Pau, 29031062 FonaresNepe Interpretagées acumuladas através dos tempos. O erica, embora especializado, sempre & um leitor que também nos seus textos vai imprimir suas lelturas anteriores, tanto das obras literdrias, como das obras tedricas que consistem 0 referencial de seu campo de trabalho Estas diferentes leituras formam a histéria da tteratura Nao o fazem near ou harmonicamente mas no campo contra- ditério do embate dos discursos @ da constituigdo da cultura {de um pove. IV, Conelusses. ‘Como finaiza¢do, retro que esses problemas aqui leva tados podem ser trazidos para a sala de aula no sentido labord-os 0 clared-los na relago pedagégica, que deve ser ‘marcada pela tensao e interpelacdo constants. O espaco do ensino da historia iterdria deve abrigar @ trabalnar a crise. Voltando-se para 0 erudito, nfo pode esque cer o popular, inclusive problematizando arigida colocagdo de fronteiras entre eles. Podo ser 0 espago onde se diecuta a formagdo do universo cultural que ételta de manifestagées que se harmonizam, mas que também se opdem. Pode iqualmente sero lugar onde o rigor metodolégico @ a pesquisa se dispam do eruditismo de um saber muitas vezes esti. Lugar onde ossa reescrever a historia iterdria, mudando-the o estatut Fearticulando-a tambiém com a incorporago do olhar do aluno, No seu sentido mais entranhado e radical (do latim racix = ralz) cise (do sanscrto cri = puricar) designa etimologica mente a chance de purificagio, de separacdo, deruptura. Esse 6 seu aspecto dramatico, © memento do crise somonte superado quando uma decisio eticaz abre 0 caminho de solugio para uma costura da cisio, apontando para um pro- ‘ces80 positive - embora nde linear - de entrentamento, Crise: sentido simultineo de ruptura, mas também mo- ‘mento critico em que a relagio educativa questiona seus pressupostos. HAYDEE RIBEIRO COELHO m olhar em movimento: 0 ensino da literatura nos livros didaticos A discussiio dos manuals e livros didéticos destinados a0 éensino da literatura ndo é nova,conforme se pode constatarno conhecido lvrode Ligla Chiappini Moraes Leite. Apropésitodo ‘sesunto, a autora di que: sm sido frequente, nos iltimos anos, dentro fora do Brasil, que os manuais escolares sojam sub: metidos 20 crivo da andlisee da critica, geralmonte por parte de protessores universitiios, como objeto ‘de teses académicas."" 1” LETTE, iia Chap Moras. nasto dt Cte nereuraonsino wm ‘debe Pon Aepehatesd ero, 1988.13,

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